José Luiz Fiorin (org.)
Introdu¢do a LingUistica
ll. Principios de andlise
Manco Ondénie Kore
18/03/2003
2902A semaniica lexical
Antonio Vicente Seraphim Pietroforte
Iva Carlos Lopes
Conta-se que um determinado professor explicava 0 conceito saussuria-
no de signo escrevendo, com uma das mios, no quadro negro, a palavra “nariz”
e apontando, com a outra, para o seu proprio nariz. Ensinava que a palavra
escrita é 0 significante e o 6rgao para o qual apontava, o significado. Recolhida
durante uma aula, essa historia é engracada porque mostra um equivoco a res-
peito do ponto de vista saussuriano, pois a personagem do relato propaga um
conceito de lingua ha algum tempo colocado sob suspeita por muitas correntes
da ciéncia da linguagem.
O signo é uma relagao entre um significante e um significado, e nao entre
uma palavra e uma coisa, como entendeu o professor acima mencionado. Ao apon-
tar para seu narize para a palavra escrita no quadro negro, ele entendeu, erronea-
mente, que significante é o mesmo que “palavra” e, significado, o mesmo que “coisa”.
Saussure, no entanto, nao diz isso. Ao definir uma relagao entre um significante, a
imagem acistica do signo, e um significado, 0 seu conceito, o sentido do signo
deixa de depender de um referente fora da lingua, como é 0 caso do nariz, e passa a
ser determinado por uma relag&o entre duas grandezas lingijisticas: uma imagem
aciistica, de ordem fonolégica, e um conceito, de ordem semantica.
‘A idéia de que o significado é a coisa é bastante antiga. Na mitologia judai-
co-crista ela aparece logo depois da cena da criagao:112 Introdugéo & Lingtistica II
Javé Deus disse: “Nao & bom que o homem esteja s6, vou fazer-lhe um auxiliar que Ihe
convenha”. Javé Deus plasmou do solo todos os animais e todas as aves do céu. Condu-
ziu-os a presenga do homem, para ver que nome Ihes daria: todo ser teria 0 nome que 0
homem Ihe desse. E 0 homem deu nome a todos os animais domésticos, as aves do céue
a todos os animais do campo.
(Gén, II, 18-20)
Nessa passagem, a relagtio estabelecida ¢ entre nomes e coisas, ou seja,
entre os nomes dos animais e seus referentes, apresentados diretamente ao
homem por seu criador. Séculos depois, o Sata do poeta inglés Milton, em seu
Paraiso perdido, tem um ponto de vista diferente. Ao cair no inferno, declama
o anjo rebelde:
Adeus, felizes campos, onde mora
Nunca interrupta paz, jibilo eterno!
Salve, perene horror! Inferno, salve!
Recebe 0 novo rei cujo intelecto
Mudar no podem tempos, nem lugares:
Nesse intelecto seu, todo ele existe;
Nesse intelecto seu, ele até pode
Do Inferno Céu fazer, do Céu Inferno.
Milton ~ O paraiso perdido. (s. d.) Sao Paulo, Edigraf, p. 15.
Para Sati, tanto o inferno quanto 0 céu sao definidos no discurso que ele,
em seu intelecto, é capaz de articular. Os conceitos de ambos os signos, portanto,
so determinados pelo discurso, ¢ nao por meio de um referente externo a lingua-
gem dado previamente, como ocorre no capitulo citado do Génesis, em que o
homem da nome aos animais. Sem uma referéncia fora da lingua, cabe ao discurso
determinar os conceitos de céu e 0 de inferno e, por isso um pode ser tomado pelo
outro, dependendo do ponto de vista.
A fim de formar uma primeira idéia da distingéio entre essa tradicional con-
cepgao de linguagem-nomenclatura e a perspectiva saussuriana, que data do inicio
do século XX, precisamos de algumas nogées elementares a seu respeito. Uma e
outra concep¢ao dao origem a modos contrastantes de edificar a semantica.
1. Concep¢ées de linguagem, signo, sentido
Um trecho de um conhecido poema de Jotio Cabral de Melo Neto, “Paisa-
gem do Capibaribe”, vai nos ajudar a introduzir questdes de ampla abrangéncia
acerca das concepgdes de linguagem nos estudos da lingitistica e campos afins.
[ol
Na paisagem do rio
dificil é saberAsem€nticalexical 113
‘onde comega o rio;
onde a lama
comega do rio;
onde a Terra
comega da lama;
‘onde o homem,
onde a pele
comega da lama;
onde comeca o homem
naquele homem,
Dificil é saber
se aquele homem
Jando esta
mais aquém do homem;
mais aquém do homem
ao menos capaz. de roer
08 ossos do oficio;
capaz, de sangrar
na praga;
capaz. de gritar
se a moenda lhe mastiga o brago;
capaz
de ter a vida mastigada
e nfio apenas
dissolvida
(naquela gua macia
que amolece seus ossos
como amoleceu as pedras),
Jotio Cabral de Melo Neto ~ O cao sem plumas, “Paisagem do Capibaribe, II”.
In: Serial ¢ antes. (1997) Rio de Janeiro, Nova Fronteira, p. 79-80.
A par da contundente dentincia de condi¢ées de vida e trabalho aviltantes
de populagées situadas num tempo (anos 1940) e num espago (Pernambuco) de-
terminados, esse trecho traz um questionamento sobre os limites entre as coisas
postas em cena: onde a fronteira entre o rio e a lama? Entre a lama ea terra, entre
a terra e o homem?... Esse recuo para aquém do evidente, essa problematizagao
daquilo que parecia ponto pacifico — trago marcante do refletir — pode ser encara-
do, nesse caso, como algo mais do que a mera caracterizagéio de uma certa terra e
uma certa gente. Aponta para uma discussio decisiva nos estudos da linguagem e
que formularemos nos seguintes termos: devemos tomar a segmentagao do mundo
em classes como qualquer coisa da ordem do “ja dado” ou do “construido”? Em ~
outras palavras, seria a estruturacdo do mundo em categorias algo previamente
constituido nas préprias coisas ou dependeria ela das diferentes maneiras de olhar
para o mundo? Se aderirmos 4 primeira hipdtese, levantaremos uma teoria escora-
da no referente externo a linguagem, ou seja, nas “préprias coisas”, supondo por-
tanto que 0 homem tem acesso direto a elas, independentemente de quaisquer
filtros interpostos pela sua inser¢&o sécio-histérica ou cultural. Para essa visio, as114 Introdugéo & Lingtistica II
linguas naturais seriam como que nomenclaturas apensas as coisas de um mundo
preliminarmente discretizado, recortado. A segunda dessas hipoteses nos leva, a0
contrario, a uma teoria da linguagem que privilegia os diferentes modos de mirar
as coisas, concedendo prioridade ao ponto de vista, nao ao objeto. Isso implica,
por exemplo, que dois observadores pertencentes a comunidades lingiiisticas dis-
tintas nio véem nunca exatamente o mesmo mundo. Sendo a semantica o estudo
sistematico do sentido nas linguas naturais, cada uma dessas maneiras de construir
a teoria da linguagem resultaré numa semAntica peculiar.
Ultimo capitulo a integrar a historia da lingiiistica no Ocidente, a seman-
tica, cujos desenvolvimentos mais notaveis sao obra do século XX, assumiu dife-
rentes faces na dependéncia das tradigdes a que se filia esta ou aquela de suas
tendéncias. A questio do significado daquilo que se diz constituiu uma interro-
gaciio permanente dos estudos sobre a linguagem desde seus primérdios. Essa
reflexio pode ser vista historicamente sob a forma de oscilagdes entre os trés vér-
tices de um triangulo assim constituido (Rastier, 1990: 7):
CONCEPTUS
(conceito)
VOX RES
(palavra) (coisa)
Um dos destacados comentadores de Aristételes durante a Idade Média,
Sao Tomas de Aquino, assim se manifestava sobre esse problema: “As palavras
so os signos dos pensamentos, ¢ os pensamentos, similitudes das coisas. [...] as
palavras referem-se as coisas designadas mediante os conceitos” (Suma teoldgica,
apud Rastier, 1990: 7). Consideragdes semelhantes pontuam a histéria dos estudos
ocidentais sobre a linguagem, o signo e o sentido, e contam também com seus
adeptos em nossos dias. H4 hoje toda uma semAntica do referente, desenvolvida
na esteira de nomes como Carnap e Frege, na qual se reconhece a heranga da
tradig&o légico-gramatical dominante no mundo ocidental, desde os antigos gregos,
passando pela escoldstica na Idade Média, pela légica de Port-Royal na Idade
Moderna ¢ por seus inimeros desdobramentos nos séculos XVIII e XIX. Nessa
concepgao, os estudiosos sempre acreditaram, com alguma variagao terminolégi-
ca de um autor para outro, que as palavras remetem aos conceitos e que estes, por
sua vez, representam as coisas. Uma outra vertente, tributaria por sua vez da no
menos ilustre heranga retérico-hermenéutica, pode ser caracterizada como um ponto
de vista que, em vez das relagdes linguagem-coisas, prefere examinar 0 que se
passa entre o fazer persuasivo de um locutor e o fazer interpretativo de um inter-
locutor; j4 ndio se trata das relagdes linguagem-coisas ou linguagem-mundo, e sim
das relagdes entre o que se diz e como se diz, ou, em termos mais modernos, entreAsemanticalexical 115
significantes e significados. A lingiiistica inaugurada ao raiar do século XX no
Curso de Saussure liga-se muito mais profundamente a segunda dessas tradigdes,
a que estamos chamando, com Frangois Rastier, de tradi¢o retérico-hermenéuti-
ca. A expressio é por certo muito ampla, mas diz respeito A postulagdo de um
estudo da linguagem humana orientado pelo que se passa em seu interior, e nao
numa instancia qualquer situada fora dela.
De fato, fazer das coisas do mundo a pedra angular da semantica, tal como
0 caso na tradigao légica, é instaurar a semAntica com base em certos pressupos-
tos filos6ficos. Se as expressdes das linguas humanas apontam para conceitos situa-
dos fora delas e concebidos como independentes desta ou daquela lingua natural,
isso quer dizer que tais conceitos sao universais, logo imutaveis para todo e qualquer
ser humano, pouco importando em que cultura este tenha nascido e sido criado.
Além disso, se os conceitos, por sua vez, sio garantidos pelas coisas do mundo,
também chamadas de referentes, é preciso ent&o assumir que o mundo é 0 mesmo
para todos. Nesse raciocinio, diz Rastier, “as palavras teriam um sentido porque as
coisas tém um ser (como afirma Aristételes em sua Metafisica)” (Rastier s/d: 18).
Essa concepcao da linguagem nos levaria, assim, a admitir que, s6 havendo um
mundo “real”, a verdade, que é garantida por esse mundo, é conseqiientemente
uma coisa nica. Eis a principal razaio, prossegue o lingiiista, pela qual a semantica
do referente nao costuma trabalhar com essas “porgdes de significados”, com es-
ses “fragmentos” de cdisas que so os semas da semantica componencial —a nogiio
de sema sera definida adiante, no item “Seméntica e léxico” emantica do
referente trabalha, no fundo, com esséncias. Encarada como esséncia, a coisa nao
admite cisdo. No triéngulo acima reproduzido, aquele vértice Res significa, em
Ultima andlise, 0 Ser. Se o sentido do que dizemos é fundamentado no préprio ser
e se 0 verdadeiro ser s6 pode ser visto como uno — tendo em vista que, se fosse
miiltiplo, estaria colocada a questao de saber qual deles seria o real —, entiio 0
problema da interpretagao pode ficar relegado a segundo plano ou até mesmo
negligenciado. Qualquer um tem 0 direito, entretanto, de questionar essa idéia de
unicidade necessaria.
A tradigao retorico-interpretativa, por seu turno, prefere transferir 0 eixo da
produgio do sentido para o que se passa, nao entre linguagem humana e mundo,
mas sim “de homens para homens”, ou seja, prefere enxergar a produgao do senti-
do como fenémeno humano, de uma ponta a outra. Diante daquele triangulo a que
acabamos de aludir (palavra-conceito-coisa), ela faz suas proprias escolhas, car-
regadas de conseqiiéncias: (i) pde entre parénteses 0 plo do referente, evitando
decidir sobre a natureza tiltima do real, problema que lhe aparece como desprovi-
do de pertinéncia para a compreensio do sentido e, mais ainda, como uma aderén-
cia metafisica, que a teoria da linguagem pode abandonar sem hesitagao; (ii) con-
cebe de outra maneira 0 pdlo do conceito e, por conseguinte, (iii) também o vértice
da “palavra” é interpretado de modo diverso daquele da tradigdo légica. Contra a
idéia de que as coisas do mundo seriam as mesmas para todo observador e de que116 Introdugdo & Lingiistica II
ja viriam previamente discretizadas, bastando As linguas naturais colar-lhes rétu-
los designativos, insurgiu-se Saussure, na virada entre os séculos XIX e XX. O
vértice do “conceito” seré visto de preferéncia, a partir de seus ensinamentos,
como o que ele denomina “significado”, em ligago com o vértice da “palavra”,
posi¢do ocupada pela idéia saussuriana de “significante”. A distingéo mais rele-
vante entre o tradicional “conceito” e o “significado” saussuriano reside no carater
especifico e relacional deste tiltimo: ao contrario dos “conceitos” da tradi¢Ao légi-
ca, encarados como universais, os “significados” saussurianos (i) s6 valem, a ri-
got, no interior de uma determinada lingua, e (ii) s6 se definem na sua relagéo com
08 seus significantes, por um lado, e com os demais significados de sua classe, por
outro, Ora, tanto significado quanto significante fazem parte da linguagem huma-
na: so as duas faces do signo lingiiistico, tal como essa nogao se define no Curso.
Uma das caracteristicas do signo freqiientemente evocadas pela lingliistica de fi-
liago saussuriana é o fato de as diversas Ifnguas naturais estabelecerem, cada qual
para uso proprio, diferentes estruturagdes do “mundo” por elas concebido. Por
isso, nessa perspectiva, tanto 0 polo da “palavra” quanto o do “conceito” so
varidveis segundo a insergio sécio-hist6rica das express6es que estejam em pauta;
conseqiiéncia disso, entre outras, é ter de admitir que nao existem jamais tradugdes
exatas entre duas linguas.
Tlustrando: em 1973, o grupo de rock britanico Pink Floyd gravou um dos
discos mais célebres da sua longa carreira, intitulado The dark side of the moon. A
capa mostrava, contra um fundo negro, um raio de luz branca que vinha do lado
esquerdo, atravessava, no centro do quadro, um prisma e saia decomposto, a direi-
ta, nas cores do arco-iris. Entre nds, brasileiros, s6 quem deteve um pouco o olhar
se deu conta de que o espectro a direita do prisma compreendia seis cores, em vez
das sete que esperariamos. A razio muito simples para isso ¢ que, em inglés, 0
arco-iris de fato sé conta com seis cores: na regio superior do espectro, onde
temos em portugués 0 roxo e o anilado, a lingua inglesa junta tudo em um s6
purple. Na lingua bassa, falada na Libéria, o mesmo conjunto do arco-iris se di-
vide em nao mais que duas faixas, uma compreendendo o que conhecemos como
cores “frias” e outra, as cores “quentes”. Ninguém imaginaria tratar-se de diferen-
gas nos fenémenos naturais observados, nem tampouco na acuidade visual de uns
€ outros povos. A estruturagao do mundo em classes, ou seja, a maneira de ver
que varia, de uma cultura para outra, sem que se possa apontar quem € que esté
com a razo nessa historia.
Outra mudanca de perspectiva relevante, trazida pelo olhar ndo-referencia-
lista, é na concepgao de “verdade”: j4 no se trata de invocar, como garantia final
da verdade, o “mundo real” idéntico para todos, mas sim de admitir que a verdade
é sempre uma construgao dos homens e que por isso é necessdrio acolher seu
carter miltiplo, problematico, varidvel em fun¢&o dos pontos de vista humanos.
Alguma garantia de verdade, quando se admita, sera decorrente nao de uma obje-Asemantica lexical 117
tividade invaridvel e absoluta, mas de uma assungo intersubjetiva, que é por vo-
cago algo mais cambiante, mais instavel e sujeito a controvérsias. Todo consenso
€ provisério. Dito isso, é necessario ressalvar, a bem da justica, que foi a existén-
cia de uma antiga tradigdo presa ao referente, nos estudos da linguagem, que tor-
nou possivel a emergéncia de um ponto de vista no-referencialista; se este ocupa
algum lugar nos estudos da linguagem hoje, isso de certa forma deve ser creditado
aquela, contra a qual ele péde se erguer.
O lingitista dinamarqués Louis Hjelmslev, em uma das paginas mais belas
da lingiifstica, formula assim a idéia de que o sentido emana da linguagem:
‘A linguagem -a fala humana - é uma inesgotavel riqueza de miltiplos valores. A linguagem
€ insepardvel do homem e segue-o em todos os seus atos. A linguagem é o instrumento
gracas ao qual o homem modela o seu pensamento, seus sentimentos, suas emogdes, seus
esforgos, sua vontade e seus atos, o instrumento gracas ao qual ele influencia e ¢ influencia-
do, a base diltima e mais profunda da sociedade humana. Mas é também o recurso tiltimo ¢
indispensdvel do homem, seu refiigio nas horas solitarias em que o espirito luta com a exis-
téncia, e quando 0 conflito se resolve no monélogo do poeta e na meditag&o do pensador.
Antes mesmo do primeiro despertar de nossa consciéneia, as palavras jé ressoavam a nossa
volta, prontas para envolver os primeiros germes frdgeis de nosso pensamento e a nos acom-
panhar inseparavelmente através da vida, desde as mais humildes ocupagdes da vida coti-
diana aos momentos mais sublimes ¢ mais intimos dos quais a vida de todos os dias retira,
gragas as lembrancas encarnadas pela linguagem, forca e calor. A linguagem nfo é um
simples acompanhante, mas sim um fio profundamente tecido na trama do pensamento;
para o individuo, ela é 0 tesouro da memoria e a consciéncia vigilante transmitida de pai
para filho, Para o bem e para o mal, a fala é a marca da personalidade, da terra natal da
nagio, o titulo de nobreza da humanidade. O desenvolvimento da linguagem esté tio inex-
tricavelmente ligado ao da personalidade de cada individuo, da terra natal, da nago, da
humanidade, da propria vida, que é possivel indagar-se se ela no passa de um simples
reflexo ou se ela ndo é tudo isso: a propria fonte do desenvolvimento dessas coisas.
(Hjelmslev, 1975: 1-2)
Com essas consideragées, Hjelmslev contraria a opiniaio comum de que ha
um mundo objetivo, dotado de referentes e de acontecimentos, que sao refletidos
pela linguagem, Para ele, na mesma linha de pensamento de Saussure, dé-se justa-
mente 0 contrario. Jé que a linguagem esta presente em todas as atividades hu-
manas, é possivel indagar se ela pode ser considerada como fonte, e nao como um
reflexo dessas “coisas”. E em torno dessa indagagdo que afirmamos ha pouco que
0 ponto de vista contrario, das coisas para a linguagem, é posto sob suspeita.
Nao se quer dizer com isso que 0 mundo fisico nao exista fora da lingua-
gem. Simplesmente, segundo a concep¢ao ndo-referencialista, ao estudioso da lin-
guagem nao compete pronunciar-se sobre a verdade ou falsidade absolutas, assim
como ele deve abster-se de tentar explicar por que é que existe alguma coisa, em
vez de coisa alguma. Saussure, Hjelmslev e aqueles que compartilham sua visio
sobre a linguagem nao se referem ao mundo fisico em suas consideragdes, mas a0
mundo de sentido construido pelo homem. Para eles, nao é pertinente, portanto,
estudar o mundo material, mas estudar como as linguas o interpretam e categori-