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enotandu aoa, Pensando agir com 0 verdadeiro espirito dos canonis (can. 1389), procurei do meu_ proprio Ordi- nario a licenga para imprimir esta THESE em de- fesa do clero nacional, ive entretanto em resposta a seguinte carta: Collegio Antonio Vieira, 26-2-1927 » Bahia Exmo. Revmo. Snr. Governador e Vigario Geral do Arcebispado da Bahia. “Tenho a honra de devolver a V, Exa. Revma. ‘os Manuscriptos “que se dignou enviar-me para a censura. O menor d’elles—“Domingo perante a scien- cia—nihil obstat—a que se imprima. “O outro maior—“Parsekos Extravagantes os do Brasil—parece-me que se nio deve publicar nem sem censura, nem muito menos com ella, E’ um livro que nao pode senio fazer mal ao Clero, sobre tudo parochial. Eu nio me considero competente para censural-o nem pro nem contra: isto pertence s6 atodo o Venerando Episcopado Brasileifo:¢ a Elle se deve dirigir 0 Auctor para a Censura se quizer proceder com verdadeiro e prudente espirito ecclesiastico. ‘Tenho a honra de subscreyer-me com a mais subida consider De V. Ex. Revma. infimo servo em J. Chr. Joao Arraiano—Censor. Eeclesiastico 40 Pelo que, nio mandarei imprimir este meu trabalho, fazendo porem recolher apenas em algu- mas copias dactylographadas estes fragmentos da genuina doutrina canonica, para nao desapparecer de vez do nosso Brasil. (Sio Jomo, Cap. VI. 181) Bahia, 19 de Julho de 1927. 0 Autor 1, THESE PAROCHOS EXTRAVAGANTES OS DO BRASIL 1. Parte Porochos em geral A estabilidade illimitada ou vitalicia no titulo & essencial a0 parocho, 1. Argumentos intrinsecos: @) 9 et jures & commum b} 0 et fure elemento do beneficio e) 0 et jure fundido com o perpetuo d) 0 et jure perpetuo causa do beneficio €) © jus activum e passivum 7) 0 et jure © o titulo estayel g) © et fure perpetuo ¢ titulo colorado 2 Argumentos extrinsecos: a) 0 Codex juris canonici 2) 0s Canonistas e Doutores ¢) @ praxe brasileira por anno 3B Jurisdicdo perpetua 4 O parocho proprietario 5: O parocho amovivel 6 A Palestra e os parochos em geral 4) na definicdo do beneticio 3) na perpetuidade titular ©) na propriedade e posse & AL 2 Parte PAROCHOS EXTRAVAGANTES OS DO BRASIL a Exposed * Exposicao'do caso 3 Solugao A) E’ parochia a fundada por um anno? B) E’ paracho o nomeado por um anno? a) estabilidade e a provisio annual 2) estabilidade e a provisio annual ¢) estabilidade e a remogao @ estabilidade e propriedade @) estabilidade e posse U) Nao sendo parocho guid juris? a) alei da fundagao 2) © costume immemorial ©) oindulto peculiar D) & vigario encommendado ? E) Consequencias das provisoes annuaes 4) no parocho 2) na parochia ¢) nas yocacées sacerdotaes F) A provisio annual equivale a titulo colorado 4- Conclusées 5: Satisfagao OUTROS ASSUMPTOS fe © Domingo perante a Sciencia 1: Chronologia historica do domingo AQ 2+ O Domingo e a ordem physica 8: O Domingo e a ordem moral 4 O Domingo e a ordem social PAROCHOS EXTRAVAGANTES OS DO BRASIL Este titulo 6 juridico, obedece ao final do res- » pectivo artigo da A Palesira do Rio de Jantiro de Julho de 1925. de onde consta que os parochos brasileiros Vagam fora do Templo Canonico do pa- rochiato mundial. A proposito do que li agora nesta Revista dos mezes, Julho, Agosto, Outubro. No- yerbro e Dezembro p. findos (1925) sejam-me per- mittidos, tambem a mim quoque filius Abrahao (Luc. 19, 9) as seguintes ponderagées, com 0 protesto previo de reprovacdo 4 minima idea contraria a F% e a Moral catholicas; que sciente e consciente- mente professo. 1: Parte Parochos em geral © Codex juris canonis define o beneticio eccle- siastico “ens juridicum « competente ecclesiastica aucto- ritale in perpetuum constitutwn seu erectum constans officio sacro—et jure—percipiendi reditus ex dote officio annewos"’ (Can, 1409). “Uma entidade juridica eracta ou constituida perpetuamente pela competente auctoridade ecclesi- astica, constando do officio sagrado e do direito de receber os rendimentos do dote annexos ao oificio. Por nao ter o Canon pospdsto ao termo— et jure—o Guilificativo perpetuo dabi a controver- sia si é ou nao essencial ao parocho a perpetuidade ‘ou estabilidade. Espero pois ser tolerado na defesa da seguinte THESE |A Estabilidade illimitada ou vitalicia no titulo ou provisdo € essencial ao parocho, 43 ARGUMENTOS INTRINSECOS 3 a) O et jure percipiends & commum 20 beneficia- doe ao. beneficio e nao exclusivo ao. beneficiado; segundo A PALESTRA; porque entra na consti- tuigao do beneficio, o qual fica erigido e existindo como jure habil e émperpetuo antes de ser provido com 0 Seu beneficiado, que o tenha e 0 gose do jure. 4) O et jure se prende. primeiramente ao bene- ficio, que para ser, e s6 pode ser, constituido in pri- matum, si constar dos dous elementos essenciaes:.¢ perpetuos; simultanea e egualmente estaveis e inse+ paraveis, um espiritual e outro. temporal—officio sa= cro et jure (C. 721), Sem: a perpetuidade fundamen- tal nestes dous. blocos nao sera. perpetuo e edificio beneficial; e: si, ou na fundacdo .por erro do°fun+ dador, ou pela acedo'do: tempo ‘ou qualquer outro accidente, chegar a falhar. alguma daquella dupla perpetuidade, o beneficio ruit& com certeza; 0 effei= fo porquanto é insubsistente sem sua causa. Aquel- la. particula ef .da definicdo “ conjuge’ com tal sar bedoria e homogeneidade os dous elementos—offi- cio ef jure. sobre serem egualmente perpetuos de sua natureza para constituirem a. perpetuidade do, beneficio, vem ella—a particula et. servir de ar- gamassa ou -élo extrinseco a rejuntar e. fundir aquel- les dous elementos de modo t4o intimo, que “um sem © outro nao pode existir, mullo modo esse possit (Can. eit.) Ora, se no officio sacro, todos reconhecem..a perpetuidade, @ pari devem acceital-a. no.et jure; O qnal.o Codex nao adjectivou com o perpetuo “para evitar uma redundancia desneccessaria; a qual, ainda com muito acerto, soube evitar nao juntando aquelle mesmo perpetuo ao officiu :sacro, e nem an- tepondo ao constititum o vermo legitimo, apesar de ser, Como © perpetuo, intrinseco 4 natureza do bene- ficio. Entretanto por estas’ semelhantes ommissoes accidentaes do Codex ninguem ousa contestar a perpetuidade no’ officio sacro e¢ nem a Jegitimidade no. constitutum do beneficio, c) A definigdo de uma cousa deve abranger os seus elementos constitutivos. E’ elemento essencial 44 ao beneficio um *dote do qual sejam recebidos per- petuamente os seus rendimentos, reditos perpetuo pereipiantur”” (a Can. 1415). Ahi est pois o antece- dente perpetuo, da ereccio do beneficio, essencial- mente implicito no subsequente jure percipiundi da definigao. d) A perpetuidade, objectiva, do beneficio é : nao s6 de facto, por estar ligada ao permanente officio sacro, como tambem ef jure, entranhada nes- te pela juridica estabilidade do seu titulo de fun- dacdo; a qual estabilidade emquanto no benelicio, mesmo vago, como causa productora, 6 “uma ins tigao que tem vida e personalidade juridica inde- pendentemente da do titular’? (A Palestra de Out. 1925) ; e emquanto no beneficiado 0 et jure esta con- substanciado ao percipiendi pelo qual se propaga e completa ficando entao consummado 0 conjugioda ntidade juridica” ou do beneficio com seu esposo perpetuo—o beneficiado. e) No contracto solemne, com profissio de fé € juramento, do parocho com sua parochia, existe entre ambos 0 jus activum e o juspassivum. Ambos os tem (Schmalgi. tom, J, m: 19) O jus activum tem a parochia sobre o parocho em haver- Ihe 0 officio sacro, e tem o parocho sobre a paro- chia em hayer della o reditus pelo jure percipiendi. Por sua vez o jus passivwm recahe ‘viceversa sobre ambos. P Pelo titulo équeo beneficiado obtem ¢ entra na investidura ou posse des direitos ¢ deveres para como seu beneficio, Estes direitos e deveres, sao juridicamente correlatos e reciprocos desta. maneira que se_vacillarem os de um, necessariamente- hao de vacillar os de outro (can, 216, 727, 1472) Sendo a perpetuidade inherente ¢ intrinseca so manus pa- rochial, porque a parochia tem direitos perpetuos sobre © parocho 6 manifesto que este por sua vez tem a perpetuidade nos deveres para com ella. Ao passo que restricta ou limitada essa perpetuidade do parocho, jamais podera ser uma realidade essa justiga inutua de direitos e deyeres reciprocos e perpetuos por sua natureza e a jure. Neste caso o manus pi rochial tornar-se-ha uma funceao precaria, a variar a 4 AB de regimen e de pastor, arbitraria e annualmente contra a institui¢ao dos canones. g Tao juridica e perpetuamente 6 vinculado o parocho a sua parochia, que no caso de qualquer vicio substancial no seu titulo de nomeagao; 0 Di- reito, que institue o parocho de modo immediato na jurisdizao de cura de almas; zeloso em Ihe garantir a perpetuidade necessaria ao officio sacro de que o incumbiu e ao qual o parocho se sujeitou; fechan- do os olhos 4 irregularidade do titulo, 0 Direito, 0 Jus Commune ergue-se a manter no parocho a sua perpetuidade para o bem das almas; e da qual o parocho nao se pode divorciar sem que o permitta © mesmo Direito nos casos que estatuiu e o parocho acceitou, Por consequencia todos os argumentos intrin- secos bradam ab infus desde as entranhas da paro- chia e do manus parochial, que a estabilidade illi- mitada é essencial ao parocho desde o seu titulo; 86 querem para o seu complemento a perpetuidade do beneficiado ou parocho. 2 Parte Argumentos extrinsecos De tres fontes podemos tiral-os: 0 Codex Ju- vis, 08 Canonistas e a “praxe brasileira de conferir as parochias por tempo de um anno. a) O Codex quer ¢ manda a estabilidade (illimi- tada) pelo menos no titulo de parocho. Ha duas especies de estabilidade subjectiva ou do parocho— ade jure ea de Jacto, qual e quanta. A de quantidade ou de facto envolve a posse estavel; a de qualidade ou de jure encerra 0 direito perpetuo, Aquella—a de facto —nao & essencial ao parocho, sobretudo depois que o Codex declarou que amoviyeis ou inamoviyeis, todos podem ser remo- vidos omnes amoveri queant ad norman juris. (Can. 454). Legitimamente porquanto nomeado, é elle pa- rocho a jure, comquanto ainda nao de facto, no per- cipiendi; podendo assim deixar de o ser, apenas nomeado parocho. A perpetuidade que o faz paro- tw 46 cho, © que o Codexrestaura do antigo Direito, e ter» minante a prescreve 6 a de jure illimitada no. titulo Esta é essencial,e sem a qual elle nao é parocho, “Todos os beneficos seculares devem ser conferi- dos por toda vida do beneficiado, a nao ser... Este —a nao ser, nise—veremos adeante, “Todos—omnia’’, até os que nao tem deveres perpetuos, como, og temporarios sem cura de almas; até estes devem ser conferidos por toda a vida’? Mesmo no limiar da carreira sacerdotal na ordenacgao; si o clerigo se ordena a titulo de beneficio, esse ‘itulo deve ser e verdadeiramente seguro por toda vida do ordenado, e verdadeiramente sufficiente para o seu conyeni- ente sustento—hic titulos... et vere securus protota ordinati vita, et vere sofficiens””.: (Can. 919). + Eis a qualidade ou caracter juridico do titulo de um simples beneficiado, quantomais de um paro- cho. “Aquelles que sio, designados a reger uma parochia; como seus proprios reitores, devem ser estaveis nella~stabiles in ea esse debedt”? (Can. 404), Estabilidade esta, ndo s6 a que defendemos— a juri- dica no titulo do parocho; mais ainda a de facto estaveis nella parochia—in ¢a, segundo o canon, “Mas nem todos os parochos obtém a mesma esta- bilidade: os que gosam de maior echamam-se ina- moviveis: os de menor, amoviveis’’ (ibid) Ahi no- tamos' 0 ob¢inent 08 parochos. No. obtinent—o titulo ad estabilidade juridica para os inamoviveis ¢ amo- viveis; no gaudent—o goso da estabilidade do fact da posse mais ou menos longa, que differencia uns dos outros; os quaes todos estio equiparados nos mesmos direitos e deveres parochiaes e tém. egual- mente no direito 0 nome commum de. parochos. (can. 451), A intengdo dos canones é tio manifesta € incontestavel sobre a estabilidade do parocho nao s6.no titulo—de jure ou juridiea, como na. de facto—perpetuidade na parochia, én ea: que elles ordenam ao mesmo parocho o cumprimento de de- veres “todos os annos, no fim de cada anno, em tempos marcados, por toda vida etc.—) ingulis annis ia Fine cujus liberg em ni etc." —(can. 410 § 3°, 476 § 7, 1330, 1438, 1330, 1504 etc). E nao € 86 isto. Os ‘canones respeitam o parocho a mourejar na —S Aq cura das almas quetidas, Ao contemplarem-no ex- hausto @ examine no servic da parochia, delle com- padecidos os canones” por sua velhice, fraqueza mental, impericia, cegueira, ou outra causa perma- nente que mais nao lhe permitta o desempenho regular—rite—de seus deveres; mesmo que o pa- rocho ainda e apenas seja compos sui; mesmo neste estado os canones nio o removem nem o desam- param; pelo contrario Ihe garantem e mantém a perpetuidade na sua parochia, mandando , que o Or- dinario the dé um auxiliar. (Can, 473). B mais que eloquente 0 Codex; é até intransigente em firmar e exigir a perpetuidade do mesmo parocho na propria parochia para o bem das almas, e nao sé a juridi- €a no titulo, como jainda a de facto na parochia—_ stabilis inea ad vitam, por toda vida. 4) Os canonistas do antigo e novo direito pro- clamam esta mesma doutrina. “A concessio do be- neficio deve ser in perpetuwn: ou simplesmente tal, como nos beneficios propriamente ditos, que sao concedidos ad vifam do concessionario: ou pelo menos por nenhum tempo determinado, como nos beneficios propriamente ditos, que sio concedidos ad vitam do concessionario; ou pelo menos por nenhum tempo determinado, como nos beneficios annuaes (!), 0s quaes, posto que auferiveis ad nutum, todavia nunca sdo conferidos por tempo certo e de- terminado, e sim por indeterminado e incerto, e por isto de si perpetuos; porquanto o tempo incerto de algum modo 6 tido por perpetuo (Schmalg, de praeb. et dignit § 3° n, 74, 6°) “As parochias nao sa0 beneficios manuaes. Somente 0 Romano Ponti- fice pode conceder beneficios por tempo ad tempus, mas todos os outros concedentes sé podem confe- silos in perpetuum” (Ibid. n, 35 e 83;)Santi no mes- mo tit, n, 21 € 59; Deshayes Man. Jur. Can, 1854, citando na nota 7 auctores Com.) “Os parochos de- vem ser (semper sempre) estaveis em suas parochias (L. Fanfani—De jure paroch. tit. V. Cap. 1.n. 85; Verin- ces, epit. jur. can. pan. V. n. 169). Si mais canonistas eu nao Cito, é porque ‘nao os tenho, aqui em obscu- ro rincdo deste vasto Brasil, Jonge das biblio- theeas e dos cathedraticos para consultal-os. , eee c) A praxe brasileira, de nomear parochos por tempo de um anno, muito concorre intencionalmen- te ex abundancia cordis, para comproyacao da nossa THESE, ultrapassando—até a perpetuidade de facto. # assim que a Pastoral Collectivado Sul, n° 1206, em- quanto diz que , eno Cap. IX Os parochos, ella mesma ordena em diversos logares «ceveres annuaes, de cada anno, todos os annos etc». aos mes- missimos parochos por tempo de um anno de pa- rochiato. A provisio de cvigario encommendado por tempo de um anno» manda-lhe que . O can. 145 determina que até um simples officio ecclesiastico seja constituido de modo estavel. O can. 1415 obriga a s6 ser erecto com dote estavel. O can. 1417 prohibe terminantemente erigir os benefi- cis, addicionando-lhes condig6es contrarias 4 natu- resa do beneficio. Ora, a natureza do benelicio & ser de si perpetuo (cfr. exposita e Past. Collect.) Mas na eparochia em cuja erecgao est sempre inclusa a condi¢ao de ser conferida ad annum», falta a per- petuidade da sua natureza. E’ pois nulla pleno jure a fundacado ad annum da parochia; porquanto nés nao podemos fazer existit o que por lei nao o pode ser — quod lege non licet, id nec posse consemur (Schmalg. de Condicionib Apposit. n. 5) Mas si é nulla segundo os canones uma tal fundacdo, serd ella valida, porque “o intuito, a consciencia, a intencao do fundador 6 sempre com a condigao inclusa ad annum”, como pretende A Palestra de Out. ? Responda-nos A Palestra de Julho, 2 saber: «Evidentemente, 0 conceito e persuasio de perpetui- dade do munus parochial, quer da parte do nomeado, quer da parte do nomeante, nao constitue elemento essencial do mesmo munus parochial. O sentimento ¢ a persuacto da estabilidade nao sto elementos essenciaes’. Ainda a mestna A Pa- lestra: *E’ yerdade que, embora os Bispos julgassem: ter perdido esse direito... (0 ad annum) nao o perderam’’. Como entdo? Si estas modalidades do espirito nao valem ao parocho para provar a sua perpetuidade e nem aos Bispos para perderem o seu direito; tambem nao valem para provar a le- gitimidade da fundagao ad annum da parochia. E si valem para esta fundagdo, tambem valem 60 para a pertuidade do parocho e para a perdada- quelle direito dos Bispos. Alguma cousa sobre a in- fluencia dos sentimentos intimos da alma sobre os actos juridicos; © que equivale a condigdes appos- tas aos actos. Os actos moraes recebem todo o seu valor ¢ merito do sentimento interno, do qual so- Jus Deus; todavia por sua forma exterior estado su- jeitos ao foro externo. A consciencia, porem, sé por si néo lhes justifica 0 verdadeiro merito — wihél conscius, sed non in hoc justificatus, de S. Paulo. Os actos juridicos, porem, nao assim; elles témo seu valor @ 0 seu merito a jure, que os recebe e os avoca a si, dando-lhes a sagragio do Direito de modo tal que, pondo-se em duyida a legitimidade do acto juridico, o Direito levanta-se em sua defesa, sustentando-o ¢ mantendo-o como valido — in dubio standum est pro valore actus, ignorantia juris non prodest. Celebrado pois o acto externo com as formalidades legaes, o Direito presume nelle toda a legitimidade, emquanto nao se provar o contrario; salvo si for certo, e ainda melhor “ evi- dente’’ que o sentimento intimo ou “condigdo inclu- sa” & contraria 4 substancia ou natureza do mes- mo acto. Entao este acto é nullo (Santi de condit. Apposit. n. 18, e tit. de constitut.; Canonistas nestes titulos; e can. 1417), E’ nulla pois a fundagao da parochia ad annum, nao sé pelos canones, como pela inclusa condicdo do tempo Jimitado contra a natureza perpetua da parochi: B) E’ parocho 0 nomeado ad annum? A Pa- . letra de Outubro allega que «a nomeacao ad annum nio affecta em direito vigente nem a nogdo do beneficio, nem a do beneticiado”. Quanto ao beueficio, jé ficou demonstrado quanto aquella nomeacao 6 condemnada pelo direi- to vigente ¢ contra a propria natureza perpetua do beneficio. Passemos pois ao beneficiado. @) Continua A Palestra de Out.:“E’ claro que, si esta praxe brasileira ad annum destruisse a es- tabilidade juridica, tornaria nulla a collacao dos be- neficiados. Mas a estabilidade juridica nos parochos existe de jure et de facto. Os parochos portanto (A Palestra passa a provar) tém a consciencia dea 61 possuir e a exercem’’, Provar a estabilidade juridica pela consciencia! Nao percamos mais tempo em re- futar semelhante argumento, destruido pela mes- ma A Palestra de Out., como jd yimos ha pouco, Provar estabilidade juridica pela posse e exercicio! Dissertemos ligeiramente. O assumpto é a estabilidade subjectiva ou do beneficiado, a qual pode ser de jure et de facto. A de jure consiste no direito pelo titulo, e € a juridica, “a qual nao se pode chamar com A Palestra, de facto; porque esta j4 passa de juridica, a possessoria ou temporaria. Somente a es- tabilidade juridica é essencial ao parocho; a posses- soria lhe é accidental, Pela estabilidade juridica, que est ligada ou inherente ao titulo a the dar o jus ad rem, & que o parocho tem o poder espiritual, a faculdade, o di- reito para :o seu beneficio, Pela possessoria ou de fa- eto, elle entra no gozo e exercicio de suas funceaes remuneradas, Repetimos: a juridica nada tem’ de commum com a possessoria; tem existencia propria independente da posse (Santi tit. de causa, posses, et. prop. n.4, e Ulpiano cit.), e fica circumscripta ao do- minio puro, 4 propriedade niia, sendo apenas 0 jis habil para a estabilidade de facto. Esta, a de fax cto ow possessoria é uma consequencia eventual’da juridica, & 0 jis inre e comeca aexistir com a fun- sao, 0 exercicio do munus parochial. Era preciso tornarmos bem nitida e bem extremada esta distincgao de estabilidade juridica e possessoria, pata nos cer- tificarmos da preliminar, que nihil commune habet pro- prietas cum possessione. (1.¢.) Isto posto, 6 yerdade que a “praxe das nomeagoes ad annum nao atfecta @ estabilidade juridica do ‘beneficiado?’? Nao, aquella praxe affecta e destroe a estabili- dade juridica; porque esta consiste toda no titulo estavel ou indeterminado no tempo, e aquella praxe € possessoria, por um anno, é fatidica, 4) Ainda: nada tendo de commum o direito senhoril com o facto da posse, ou melhor, nada tendo de commum a estabilidade juridica com a possessoria, nao se pode dizer que *o parocho tem estabilidade juridica, porque possue e exerce esta mes- ma estabilidade”. E entao pelo facto da posse e 62 exercicio, € que 0 parocho tem 0 direito 4 estabili- dade juridica? Neste caso teriamos 0 direito gerado illegalmente pelo facto da posse, 0 titulo de parocho pelo exercicio na parochia, E como “a estabilidade juridica existe nos parochos, porque a possuem e a exercem”, o titulo que coniere esta posse e este exercicio — razio de ser daquella es- fabilidade — 6 um titulo temporario e nao estavel. Tal 6 a nomeagao ad annurt, que € titulo do: facto e nao do direito. Como tal, esta nomeagao affecta a estabilidade juridica e a destroe; portanto annulla a collagao dos parochos. Como tal, esta nomeagao, a0 contrario do que diz A Palestra de Out., nao affe- cta a estabilidade perpetua do beneficiado; pelo contrario a institue e incorpora ad annum, tornan- do um simples possuidor o beneficiado ¢ nao um proprietario indefinito ; e portanto nao yerdadeiro }eneficiado canonico (can. 1412). ¢) Emquanto a provisio nomeia ‘ad annum, tambem demitte ad annum no mesmo acto; e assim a estabilidade juridica aborta ao nascer ou in limine, na propria consciencia do nomeado. «Evidente- mente o Bispo pode notificar ao parocho a sua exoneracao até no mesmo dia da nomeagao, isto é, alguns minutos depois de feita a nomeagio. Ora... sia nomeacao e exoneracdo se incluem no mesmo documento, por venturaa nomeagao muda de natu- reza ou especie’? (A Palestra de Julho). Racioc’ nemos com o Codex, e vejamos a que fica reduzida assim a estabilidade da nomeagao € 0 mesmo paro- cho nomeado. Si evidentemente 0 Bispo pode notificar @ exoneracio minutos depois da nomeacdo, para que en- tio o Codex (Tit, XXVII a XXVIII) estabeleceu causas @ forma processual para a remogio ou ‘exo- neragdo dos parochos? A que ficam reduzidos os direitos @ jure e deveres perpetuos do parocho? Neste caso a parochia seria beneficio manual; 0 que 6 um hybridismo canonico, e uma tal nomeacao seria uma contradiccdo in terminis. Vimos que a consciencia ndo cria a estabilidade juridica nem o direito, ¢ quando assim o fosse no dizer d’A Pa- lestra, que consciencia de estabilidade pode ter 0 no- meado e notificado de sua exoneragao minutos de- g 3 63 pois? E ainda menos a de fvasuir © exercer essa es- tabilidade? Si pois nio existe no titulo, nem na consciencia, essa estabilidade juridica, ella 6 morta em si mesma; apesar @A Palestra cit. concluir gratuitamente que “a nomeagio do parocho feita Taquelle momento e naquelle documento é valida juridicamente!” «Tal nomeacao nao 6 contraria a lettra, mem ao espirito da lei!” (A Palestra de Out.) Pelo contrario, “muda de natureza e de es- pecie,”” sim, por n4o terem siquer a estabilidade juridica, @) “Si as parochias brasileiras forem conferi- das como propriedade, isto €, ix titulum, e © titus lar exerce 0 ollicio nomine proprio, e goza dos ren- dimentos; 0 titular de tal parochia 6 verdadeiro e propriamente beneficiado. Ao proprietario 6 neces- sario que: nao possa ser legalmente despojado do exercicio dos direitos de proprietario, é neces- sario que possa conservar e administrar a causa nomine proprio.” (A Palestra de Out.) E a mesma petitio principi?, que vimos momentos antes sobre a estabilidade juridica: “Os parochos tém a estabili- dade juridida por que a possuem e @ oxercem; a possuem e a exercem porque a tém». Com effeito, si as parochias fossem conferidas por titulo estavel, perpetuo, isto bastaria para que o seu titular fosse verdadeiro @ propriamente beneliciado; sem que the seja preciso 0 exercicio, o gozo etc. Mas con- feridas por um anno, nao; ja o yerifieamos. Isso de estar ou nao na posse e de conservar e adminis- trar a parochia, sem poder ser despojado legalmen- te desse exercicio, nio 6 direito de propriedade, nao € acgao petitoria; é mero facto temporario da posse. Provar a propriedade ou dominio pelo exer- cicio, é confundir o direito com o facto; nem vale dizer-se que tem a parochia nomine proprio © parocho ad auaum, porquanto sao termos que se repellem e se destroem—ad annum © nomine proprio. A condigao de restituir a parochia dentro de um anno desfaz toda idea de ater no proprio nome ou de propriedade; firma pelo contrario 0 conceito de encarregado de cousa alheia a ser deixada em breve. Ficamos entao no mesino circulo vicioso de antes: proprietario, porque tem a cousa até por “minutos” © a possue, e a tem e possue por ser proprietario, A pari: “0 parocho, ad annum, 6 pro- prietario e com estabilidade juridica, porque este prazo_nao(?) affecta 0 conceilo da propriedade e nem da estabilidade; e este prazo nao affecta o dito conceito, porque, si o affectasse nao se- ria parocho”. e) A Palestra de Nov. ¢ Dez, assevera * ser a relacao real da posse do beneficiado com o seu beneficio, a ultima ratio, o fundamento da legitima amovibilidade do beneficiado”, Assim, desapparece © conceito de proprietario até nos beneficiados per- petuos; porque estes, tambem removiveis pelo Ci dex (can, 454),s6deveriam ter com 0 seu beneficio “relagao real de posse—n/tima ratio de legitima amo- vibilidade". Entretanto somente aos parochos bra- sileiros, ¢ nfo “aos parochos em geral de todo o resto do mundo” ¢ que se pode adaptar aquella doutrina adrede a justilicar as nomeacdes ad annum, no proprio dizer d’A Palestra que “era preciso ficar bem esclarecida esta questiuncula, porque na natureza da posse é que estd a altima ratio da amovibilidade” dos parochos brasileiros, sobretudo das “remogées ” minutos depois das nomeagoes”. Nestas condigdes de relagio real de posse no pa. rocho brasileiro, nao sendo elle verdadeiro benefi ciado em razao do titulo de anno, tio pouco é mero possuidur do beneficio que, sobretudo hoje, € uma institui¢ao plasmada essencialmente de elemen- tos juridicos, uma entidade toda formada de princi- pios oriundos @ jure — ens juridicum, no qual nao consiste a posse; e direito non possidetur, j& 0 vimos. Nao sendo pois susceptivel de mera posse o ente juridico ou a parochia, desapparece aquella defesa das nomeagdes ad annum por motivo de * re- lagdo real da posse”. Accresce que ha casos nos canones em que o parocho fica privado dos fructos ou da parte temporal do beneficio, sem deixar de ser parocho; perde 0 gdzo material, e fica com o direito jurisdiccional na parochia, conservando-se parocho sem a posse dos fructos beneficiaes. Que 65 quer dizer? E’ 0 brado da ostabilidade juridica a perdurar pelo titulo no caracter do parocho. A ver- dadeira e ultima ratio da amovibilidade, mesmo dos inamoviveis, é a disciplina da Egreja, que, conferin- do aos parochos uma parcella de seu dominio nos bens ecclesiasticos sub sua auctoritate, ou in- terpretative sua(1. c.), faz as remogdes quando ellas sio previstas a jure, istoé, determinadas pelas cau- sas @ forma preestabelecidas nos canones. Nao 6 preciso pois recorrer 4 qualidade de mero possui- dor para justificar as nomeagdes e destituigdes an- nuaes, envolvendo até naquella categoria os paro- chos do mundo em geral sujeitos tambem 4 legiti- ma amovibilidade. Em todo 6 caso, como “os paro- cos brasileiros s4o diferentes dos do resto do mun- do,” transeat que, nomeados por um anno, elles se jam antes meros detentores temporarios do benefi- cio, do que verdadeiros parochos titulares,

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