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Titulo original: La psychanolyse — Son image et son public ‘Traduzido da segunda edigio francesa, publicada em 1976 pela rxesses ‘uwiveaseraes pe FRANCE, de Paris, Franga, na série BIBLIOTHEQUE DE PSYCHANALYSE, dicigida pot Jean LarLanci Copyright © 1961 by Presses Universitaires de France Enrico digo para o Brasil } Nao pode circular em outros palses ewhumo pare deste Horo poder se reroducéa ‘lan! orn ls empraga rnimeografia, xeroe,Walograta, prev, reprodurdo em disco on em li ‘ ita), sem a permissiio por escrito da editora. ‘Aos infrtoren ie aplam, ar tanger prove nos artiggs 122 ¢ 190 de Kei me 988 de Ft! derebro de" 973. i 1978 ss ie AT Diveiton para a eligdo brasileira adquridos por ZAMAR EDITORES Cann Postal 207, 2-00, Rio Wie We YeMetoaN 9 propricdade desta versio Hypregye 0 rot INDICE Preficio de Danie. Lacacse .... F oe Prologo da Segunda Edigfo . 3 Observagbes Preliminares 2... v7 PRIMEIRA PARTE * ‘A REPRESENTACAO SOCIAL DA PSICANALISE Resultados da Pesquisa de Opiniéo e Andlise Tedrica_, LO 1. A Representagio Social: Um Conceito Perdido ‘erv.. Cal) Miniaturas de Comportamento, Cépias da Realidade e Forsas de Conhecimento "=. ee ar a 2. As Filosofias da. ExeriGacia.Tndireta 3 » 3. Em Que Sentido uma Represeniacio Social? a Ciruto I. A Psieandlise, Tal como a Sociedade a Representa .. 82 1.“ Presenga da. Psicanlise : 2. Os Tabus da Comunicagao © © Atrativo da Ignorineia ..... 92 ivlipno IIL. Ax tdéias Que Se Converiem em Objetos do Semo § 1A" Objetivacso a ae 5 1. Da ‘Teoria a Sua ‘Representacio Social }. A Materializagio dos Conceites.« 110 110 14 1s 0 1V. “Homo Peychanalytious” 130 ‘Clasifiear e, Denominar z 130 }. A Frontera Interior do Normal e do Paiolésico 133 }. Quem Peecisa da Psicandlise? ii * NOPA DO EDITOR: A Segunda Paste de A Psicandlise, Sua Imagers Publica, que consisle numa snélise do conteddo e dos sistemas de Avo, Moicarse A “difusio dos conceitos © da linguagem psica- fayés dot canals de comunicaco © possivelmente seri objeto judo volume, por autorizagio expressa do Autor. yl evn 2 A REPRESENTACKO SOCIAL DA PSICANALISE problemas, uma seguranca técnica e uma elegdncia de es- critor que fazem dele um dos “jovens mestres” da Pst- cologia Social de lingua francesa. Para o “diretor da pes- ‘quisa”, é um prazer informar o leitor sobre a sua grande estima e 0 seu reconhecimento por aquele que a realizou. DANIEL LAGACHE Prélogo da Segunda Edi. ‘A primeira edigéo de La psychanalyse, son image et son public era uma tese. Esta segunda edigao é — assim espero — um Livro, Ve uma pura a oulra, modifiquet o estilo, 0 modo de exposigéo dos fatos ¢ das idéias, elim nei indicagées técnicas e tedricas que 86 interessariam @ um circulo restrito de especialistas ou que se converte- ram em moeda corrente, Esse trabalho de reformulacéo também corresponde, bem entendido, a uma evolucdo pessoal e intelectual em face dos ritos de iniciagio unt- Dersitéria e da ciéncia, Quando de seu aparecimento, a tese provocou certo matestar. Os psicanalistas, sobretu- do, viram com maus olhos a tentativa de tomar a Psica- ndlise como qualquer outro objeto de estudo ¢ situd- la no contesto da sociedade. ‘Impressionava-me, entéo, e continua a impressio- nar-me hoje, 0 fato de os detentores de um saber, cien- tifico ou nao, acreditarem ter o direito de tudo estudar —e, em definitivo, de tudo julgar —, mas considerarem intitit, até mesmo ‘pernicioso, explicar os determinismos de que eles sGo 0 locus, os efeitos que eles produzem, em suma, serem estudados, por sua vez, e olharem-se nO es- ‘pelho que, por conseguinte, thes é colocado. Véem isso ‘uma ingeréncia intolerdvel em seus proprios assuntos, uma profanagdo do sou eaber — pretenderiin que ele per- ‘maneca sagrado? — e reagem, segundo o temperamento de cada um, com desprezo ou mau humor. Isso € verda- deiro para a maioria dos homens de ciéncia... ¢ € verdadei- To mesmo no caso dos marzistas. B por isso que ndo pos- ‘suimos uma Sociologia da Ciéncia, nem do marzismo, ‘nem da Psicandlise. Percebi, entretanto, que num pertodo ty [A Repnesentagho Social. DA PsicANALSE de dea anos, pelo menos ne dr se refere a Psicandlise oe oe psicanalistas, a8, atitudes Me udaram muito mum sen Sn repel tw treOGO Cote este. ‘No centro deste Horo estd 0 yenomeno das represch tagées sociais. Depots a primeira eaigdo, numerosce Of fudos de campo @ de a Prratério foram consagrades ease fendmend. Pens0, ep oremente, nos de Chombare de Sse, Hertalich, Jodelet, damyenpor um lado, € nos ae Moric, Codol, Flament, Her Becheus e Poitou, por OW Abricsies permitiram a melhor ompreensio da sua gene Welidade e do seu papel na vor cmcageo © na genese OS Comportamentos socigis. ‘Contuiio, minha amibicto er com pasta, queria redefinir oe problemas @ 05 concct Tie aa Psicologia Social a partir desse fenomend, in- Getindo sobre sua funcde Pimpotien, e seu poder de, sietirugao do real, & tadionn ‘Ponaviorista, 0 aio Ue & comsmrogia Social ter-se Timitade ‘gstudar 0 individwo, 0 pequeno grupo, as relaccce Mrojormais, constitidam © eentinuam constituindo 1m Gideuo & esse respello, contimosofia positive que, Se aenjere importancia as revisbes verificavels pelo “saperimento @ aos fendmenos Pieetamente opservavets SOMES. fh lista dos obstdculos. tamemiraaicdo e ossa fiosola impede, em. rminha opinido, 0 desenvotoiment i ofa dos seus Tirnites atuais were atreverem. @ cruzar es608, imttes, as representacoes. « Siais, estou. conpencido disso, fomardo nessa ciencia 0 Jugar que tegitimamente Uves ‘portence. Por outro ado, Se lugar fn qator de renovagio dos ‘jroblemas € dos eoncet. Tae jilosdficos que devem ester sabentendidos no trabalho Gentifico. Tambem nessé estpecto, ainda hd muto Por fe Sor, Melhor dito, 7 muito © ojazer, a crise que @ Pst 2eFagia Social atravessa mostra. as le. mia tase do interesse de mulios ‘outros dominios dé pesquisa concernentes teratura, 2 arte, aos mitos, 28 Taeologias e a Unguagem, termerrados em quadros de, Te ferencia superados, ‘prisioneiros de preconceyos quanto % Feoking order* das eléncias, ros Cesquisadores nesses JO- pecsig onder (om ingles no Oina) seqitncia hierdrquica de “ommlo & priniésio etabelecida, 2 nal) ig, A. expressio: originoy se domingo. de. galinhas, mas aplicns Fatigemn, por generalizasSos,2, Nes Mo, eaige. ao homer. Tradtase aa re corse doe Prdtoco pA SEGUNDA Epicho 15 ‘minios privam-se dos ‘meios que, em seu estado i- 8 n , tual, a Psi- cotogia, Social se dot my sud diaposiedo. Na Francd, ce damente, ‘eles se prevalecem, sod a injiuéncia do estru- ture een de uma ortodozia saussuriana, esquecendo O oe rere 38 Saar discerniu com precisa “A i jua é sistema. signos que exprime! idéi é compari aor io, ber cre dow sro mutios, aos ritos ‘simbolicos,’ a3 formas de polidez, aos sinais mallores, le, Ela é apenas 0 principal desses sis- mas. Pode-se, entéo, eonceber uma cléncia que estuda 2 ee dos signos no seio da vida social; ela constituiria uma, parte ee Psicologia Social e, por conseguinte, da nace ia erat, ene de Semiologia (do gre osigno’). Ela nos ensinaré i ‘0s signos, que leis os regem.” oe ‘Mas 0 leitor nao tem que se preocupar com esse pas- sade’ com esse estado da oiéncia, com. os projetos due Fre @ mesma coisa. SERGE MOSCOVICI _ discurso, Por conseguinte, 0 seu destino, as suas evolu- Observagées Preliminares Contase que, ao desembarcar em Nova York, no co- mego deste século, Freud teria confidenciado a Jung: “Bles nem desconfiam que Ihes trazemos a peste.” De POs disso, a epidemia nao mais se deteve. A Psicanalise, ciéneia, terapia, visio do homem, passou a ocupar, de fato, um lugar consideravel em nossa cultura, O seu ca- iter cfentifico, 0 valor de sua terapla, a sua interpre- tagéio dos fendmenos psicoldgicos sio contestados por motivos extremamente diversos, tanto filosdficos como morais ou politicos. Somente 0 seu impacto ndo é con- testado por ninguém. Mas esse impacto s6 6 encarado no plano da literatura, da arte, da filosotia ou das ciéncias do homem, Atitude compreensivel, pois temse o hébito de considerar uma teoria exclusivamente na esfera de suias influéncias sobre uma outra teoria ou sobre outras atividades intelectuais. Encerrado no circulo estreito dos| que eserevem, assinalado sobretudo pelo didlogo e as con, trovérsias entre livros e autores, 0 advento de um sal parece dever interessar, em primeiro lugar, a9 mundo do| c6es, preocupam sobretudo aqueles que sabem: o ensais- ta, 0 filésofo ou o historiador das idéias. ‘Tal atitude, sob o abrigo da tradic&o, ignora, entre- tanto, os prolongamentos mais vastos de uma ciéncia, os quais’ representam uma do suas fungGes ecsonciais, a 6a ber, transformar a existéncia dos homens, Hla o conse- gue & forca de fazer gravitar sua experiéncia ordindria em torno de novos temas, de inculcar significados diferentes a seus atos e a suas falas, de transporté-los, por assim dizer, para um universo de relagdes e de eventos estra- nhos, até entio desconhecidos. Se tiver éxito, ela conver- \ \ 18 A REPRESENTAGKO SOCIAL DA PSICANALISE tida em material de que cada individuo se recompée e recompée subseqtientemente a historia individual e so. cial, parte integrante de sua vida afetiva e intelectual. Af trabalham e sfo trabalhados os seus elementos, passando Por estases até se fundirem na massa de materiais pas- sados ¢ perderem a sua individualidade. Uma ciéncia do real tornase, assim, uma ciéncia mo real, dimensio | quase fisica deste. Atingido esse estgio, sua evolugio é | assunto da Psicologia Social. Insidiosa ou bruscamente, segundo os paises, os re- gimes politicos ou as classes sociais, a Psicandlise aban. donou a esfera das idéias para ingressar na vida, nos pen- samentos, nas condutas, nos costumes e no universo das conversacées de grande ntimero de individuos. Nés a ve- mos Personificada pela fislonomia, os tracos sunostos da Pessoa e os pormenores da biografia de Frend. Para além Ga figura desse grande sabio, certas palavras — comple. | X0, repressio —, certos aspectos particulares da existén. | cla — a infancia, a sexualidade — on da atividade psiaui- ca — 0 sonho, o ato falho — conquistaram a imaginacio e afetaram profundamente a maneira de ver dos ho- | mens. Munidos dessas palavras ou apoiando-se nessa ma- | neira de ver, a maioria das pessoas interpreta o que thes | acontece, forma uma opinifio sobre a sua propria condu- ta ou a de familiares e pessoas mais chegadas, e atua nessa conformidade. Entre as categorias utilizadas na descricaio das qualidades ou na explicacio das intencdes ou dos motivos de uma pessoa ou de um grupo, as ca- tegorias derivadas da Psicandlise desempenham, sem di. vida, um papel importante. Elas compoem 0 Amago des sas teorlas implicitas, dessas “teorias profanas” da per- sonalidade de que somos portadores e que, & luz de nu- morosas pesquisas, determinam as impressées que forma- mos de Outrem, de suas atitudes no trato social. Os seus efeitos sio provavelmente mais extensos. A acreditar nas anélises antropoldgicas, as priticas educa- tivas modclam a estrutura da persunalidade dos membros de uma cultura definida. Um relance sobre a literatura | Pedagégica, sobre a mudanca nos comportamentos dos i pais em face de seus filhos, ciosos, a tal respeito, de evi- tar os conflitos afetivos e respeitar uma originalidade de desenvolvimento, 6 testemunho de uma influéncia difusa OnserVAgGES PRELIMINARES 19 os principios psicanalfticos, Apesar das adverténcias de humerosos psicanalistas, a crenca na possibilidade de uma “boa educacéo”, baseada nesses principios, ensinando claramente 0 que é preciso fazer e 0 que no se deve fa- ver com os tilhos, persiste de forma tenaz. As conseqiién- clas dossas condutas parentais inspiradas pela Psicau lise deveriam sor reencontredas na estrutura da persona- lidade decorrente de nossa cultura. Falar do Homo psychanalyticus: € um dito de espi- ito, Mas poderemos ter a certeza de que se trata apenas de um dito de espirito? A linguagem esté repleta de ex- press6es ou de vocdbulos que tém sua origem na Psica- se © que todos compreendem. A retorica religiosa, po- litica, até mesmo econdmica, no se dispensa de usar é abusar de tais expressOes e voedbulos. A historia em qua- drinhos, 0 filme, 0 romance e a anedota no se cansam de aifundi-os. Por outro lado, basta entrar num consul; torio médico para observar com que luxo de pormenc, es, 0s pacientes fazem o balanco de seu estado psiquico ou somitico, nele incluindo “complexos” e “traumas in- fantis” de toda a espécie, e esperam um diagnéstico for- mulado em termos andlogos. Por que, alids, os sintomas nao seriam distribuidos, combinados e decifrados com a ajuda das imagens e dos conhecimentos psicanaliticos ora popularizados? Hssas imagens e esses conhecimen- tos, Seja qual for a sua origem, sempre foram tendentes a eolorir 0 pano de fundo de ums cena ol{niea. Em ecus primeiros artigos, Freud?’estuda a diferenca entre a ps- r@isia organica e a paralisia histérica; esta ultima insta- large no individuo segundo os esquemas sociais da fisio- logia e da anatomia do sistema nervoso. O contraste com os esquemas cientificos tem, portanto, 0 seu papel a de- sempenhar no reconhecimento da doenga e na terapia, Por extrapolagéo, é fécil imaginar que as nogdes psicana- iticas animam, notadamente no domfnio das doongas funcionais, essa sintomatologia proliferante que uma so- ciedade reclama e renova desvairadamente, 1 JB, Pontalis, Aprés Freud, Paris, Iulliard, 1965, [Titulo da edigéo brasileira: A Psicandlise Depois de Freud, Editora Voces, 1972.1 2 S. Freud, “Some Points in a Comparative Study of Orgenic and Hiys- terical Paralysis", Collected Papers, Londres, Hogarth Press, Vol. I, pp. 42:59. 20 A Representagko Sociat. pa Psicankuse Essas comprovagdes semi-empiricas nos sdo preciosas, Hlas nos auiorizam a concluir que, ao nivel das relagdes ] interpessoais, depois das linguagens, depois da personal. | dade e, enfim, da sintomatologia, o conhecimento da Psi candlise refrata-se em graus diversos. No seu terreno se recorta um modelo que, assimilado, ensinado, comunica. do, repartido, da forma a nossa realidade. Entim, na ca. mada copossa das permutas correntes, misturado aos grandes debates, levado pelo caudal poderoso dos sim- bolos, esse modelo retorna regularmente A superficie ¢ apoderase da consciéncia coletiva, Sua influéncia confe- re cléncia de que provém as dimensdes de um importan. te fato social e implanta-a na vida cotidiana da sociedade. E esse importante fato social que me proponho esti. dar, pelo menos em parte. A Psicandlise esté envolvida, Por ser ela que me fomeceu a oporiunidade e porque ocupa um lugar central entre as correntes intelectuais da nossa €poca. Mais do que isso, o seu contetido relacianase de uma forma tao direta com os problemas que cada indi- Viduo ou coletividade deve resolver que podemos alimen. tar a esperanca de compreender, se estudarmos a sua Gifusdo, esses problemas e 0 seu modo de resolugio. Cumpre niio esquecer, entretanto, que 0 caso da Psica. nélise toca de perto um fendmeno mais geral e, diria eu, proprio das sociedades modernas. De que se trata? Até o presente, 0 vocabuldrio e as nogées indispensdveis para Gescrever e explicar a experiéncia ordindria, prever o comportamento ¢ os acontecimentos, incutirthes um sen. tide. provinham da linguagem o da’ sabedoria luugamen te acumuladas por comunidades regionais ou profissio. nais. As percepedes, os procedimentos légicos, os méto. dos praticos, a polifonia de seres meio pensados meio reais que constituem a evidéncia dos sentidos ou da razio tinham 2 mesma origem e proliferavam em seus limites Fortanto, 0 senso comum, com sua inocéncia, suas téc- nicas, suas ilusdes, seus arquétipos e estratagemas, era primordial. A’ciéncia e a filosofia dele extraiam seus ma, terlais mais preciosos e os destilavam no alambique de sucessivos sistemas, Apés varios devéntos, essa corrente foi invertida. As ciéncias inventam e propdem a maior parte dos objetos, Conceitos, analogias e formas I6gicas a que recorremos Para fazer face as nossas tarefas econémicas, politicas OnseRvagOrs PRELIMINARES an Ul intelectuais. © que se impée, a longo prazo, como ado imediato de nossos sentidos, de nosso entendimen- lo, 6, na verdade, um produto secundario, reelaborado, quisas cientificas. Esso estado de coisas é irre: Corresponde a um imperativo pratico, Por qué? Porque deixamos de esperar exercer dominio sobre a maloria dos conhecimentos que nos afotam. Prossupéc- @ que grupos Ou individuos competentes devam obié-los| © fornecé-los para nds, Uma quantidade crescente de| torias ¢ fendmenos tornase familiar por intermédio de outros homens, ¢ seria impossivel corroboré-la na expe-| riéncia pessoal de cada um. O volume inflacionado de ¢o-| nhecimentos e de realidades indiretas sobrepuja de todos) 5 lados volume cada vez mais limitado dos conhecimen- tos ¢ realidades diretas. Nessas condicdes, pensamos e ve-| mos por procuragio, interpretamos fendmenos sociais ¢| haturais que néio Observamos e observamos fendmenos que| nos dizem poder ser iulerpreladus, .. DOr OULTOS, entendar, se. O trabalho de elaboracéo de uma visio coerente das nossas agées e da nossa situacdo, a partir de elementos derivados e de origem to diversa, é psicoldgica e social- mente decisivo. Reencontramo-nos incessantemente peran- te 0 dilema do doente que, depois de ter consultado es. pecialistas que examinaram cada parte de seu corpo e identificado um distirbio local, depois de ter visto as radiografias, lido os resultados abstratos das anélises de laboratério, deve em definitive formular sozinho um diag- ndstico e um prognéstico para saber em que pé se encon- tra. No que tange & nossa sociedade, a questéo dos meios pelos quais se chega a formar uma concepgio concreta dos processos materiais, psiquicos, culturais, a fim de com- preender, de comunicar ou de agir,.é uma decorréncia da mudanca desorita. Em outras palavras, a génese do novo senso comum, doravante associado & ciéncia, ins- creve-se entre as suas preocupagées tedricas e préticas es- senciais. Esse fenémeno de penetracéo da ciéncia, a mudan- ¢a social que ele representa revelam a existéncia de nio pOucos preconeeitns. Quando se trata de analisé-los do perto, sob a camada desses preconceitos, produz-se a im- pressfio de uma degradagio do saber que circula de um grupo a outro, e gera-se a conviccdo de que a maioria dos homens nio esté apta a receber e utilizar correta-

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