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RPVEDAUEIO LBA SE PEGIOW AL, Rolo. Wa: Meira de Movies Sanbano— A CRISE DO PLANEJAMENTO URBANO Frame Visace Profesor Titular de Fucuidade de Arguiterura ¢ Urbunizmo do USP e oN fo que se pode chamar de “planejamen- . to urbana” tem dois componentes fundameniais, ’ ¢ bastante independentes um do outro. Um & 0 44 rancamento € 9 outro. 0 planejamento representado pela figura do plano diretar e seus equivalentes. Vamos tocar de leve no primeiro e centrar nossa atengo no segundo. Eniende-se par zoneamente a legislagao urhanistica que «varia no espago uebano. Em sua forma mais “completa”, {oda a rea urbana ¢ de expansio urbana ¢ dividida em zonas, sendo que para cada uma a lei define: 0 coeficien= «adem cima de-aproveitamenta dos. terrenos (relagdo entre a drea total consirufda e a 4rea do terreno); a taxa méti ma de ocupagio dos terrenos (relagdo entre a dtea ocupa~ ‘da por edificagaes ¢ a drea do terreno): €. Finalmente, os one us0s (alividades que vio ser desenvolvidas no terreno ou ina evihicayo) permitides € proibidos na zona, Esta for- ma completa de zoncamento foi utilizada pioneiramente ‘em Sin Bernardo do Campo (SP). através da Lei 1.183 7/9163) ¢ apenas foi aplicada no municipio de S30 Paulo quase uma década depois, através da Lei 7.805 de 1/1172. Antes disso houve, a partir do final do século passado, varias formas rudimentares e outras incomple- tas de zoneamento em varias capitais brasileiras ~ desde leis proibindo cortiges ou casas operrias nos centros das cidades, até zoneamento por ruas, Zoneamento apenas para + algumas partes das cidades (s6 bairros das classes de alta renda. por exemplo). zoneamento de toda 2 cidade mas para um uso exclusive (zoneamento industrial, em Sdo Paulo), entre outras © zoncamento é 2 forma mais tradicional de planeja- irbano € friuilos, até hoje, chamam-no de “plano iretor", ovtros 0 consideram parte indispensivel de um 8 plano diretor. Parsdoralmente, entretanto, 05 planos di- & Basen Pline Denil sano divest ls 0 a in wala ste foram of tespontdveis pela implontagio do zoneamenta nos fespectivaseidades, Este tem uma histria propria, fue patna a0 largo dos planos ditetors,sendo implonta Be mrevés do tts Intependews desses plank. Em Sac Foulo, pat canngle, d sqgtranads « pencto ds Lavy {1988-47} quando sugere que o toncaments plana na cidade em 1992 teri derivado do PUB (Plano Urbs. nistico Basico) ¢ do PDDI (Plano Diretor de Desenvolvi- mento Integrado). Na verdade, 0 “zoneamento comple- Tor implanado com a Let 7.805 deriva ante das wiriss teansfurmagbes (ou se quisetem,"aprimoramentos) 35 Asis anieriaces-de-zoncamenta parcial, que dos planos dos qua os vereadores amas tversm conhecimento (PUB) ou que aprovaram num perfodo de terror (PDDI). cerita he snd nevis 6 nla ada qq mos gui Ele tem ama Wot6it na qual mo é fel de Ieeat os intetessesenvelvides. embora mio tenha sido diode codods Expos pos vate foe. 4 pareve air oar que touommatin eosin ds caverta de ey serena a age conan faa gaerves ect és de leis agrovaase weamia et perTodDs Bomber dticos, [Dsanenmrsts lomeon, poten ot goes do py O plane eter to. plano diclor ett cm cite hd mus tends € dele que vamos aa No Beil oglano dite, entenido po sas preten ses mesmas dz "Eeneralidade",“plobligade" de “ple no getal” data de final do século passado. E claro que weieithus oe plobalidade vararam muito 30 longo das décadas (assim como 0 zoneamento também variou), mas sodeer contlare « pions ke ETS pena toeke fo an Ti caacie sve pence imenincs- due paces sce eee Soe eee ent ee eee eee tellin hn lec aS teeta Peductate See age deg ieee A Lg Bee gh Ra a je Pet Fount Pessare 21 8S mites oa. aoe Deter (deems nia) 1990. ~ Rt reso pais. embora esse nome ni existisse na época. Ele Rio de Janeiro, que tinha por incumbéncia “organizat um ao geral (srifo nosso) para 0 alargamento ¢ retifica- (Gi0 de s rias russ ¢ para a aberturade novas pragas e ruas Conn o fim de mellarar suas condigies higiénicas ¢ facili- (ar acireulagdo entce seus diversos pontos, dando ao mes- ‘mo tempo mais beleza ¢ hatmonia a suas construgdes™ Segundo Reis (1977:15-17). ess¢ foi “o primeiro plano de conjunto (grifo nosso) do Rio de Janeiro". E claro que © que Se entendia por “geval” ou “conjunto” em 1875 é diferente do que se entendia em 1975, mas a idéia jd esta- va presente. Qs planas de cnlia se peapunham a ser ~ ¢ cram ~ de “melhoramento.e embelezamenig™. these tips ds ccnepyte perlia at sles a 3, quando comeca a ser substituida pela idéia do “plano di- fetor".4 com erescentes ambigdes quanto a0 que viria a ser “conjunio" Tem inicio uma noxa-tase pa planejamento urbang no Brasil, com pretenses cada vex mais globalizantes, tan- to em relagao aos sclores ahocdadas (sade. educagio, desenvolvimento ccondmico, seguranga publica, sanca ‘mento, etc.) quanto aos niveis.de-goxerno aos quais eram ‘enderegadas suas “recomendag6es”. Com isso, o planejamento urbano, tal como aqui con- ccituado. comeca a entrar eat crise © que mais chama a aiengio nos antigos planos de ~melhoramento ¢ embclezamento” é que eles tinham con- sinuidade ¢ eram executados. © plano encomendado por Pereira Passos para 0 Rio de Janeiro, em 1903, nada mais foi que 2 consolidagao, o aprimoramento ¢ a atualizagéo do plano de 1875 (Needell, 1993:288). Aligs, 0 préprio Percira Passos integrara a Comissio que elaborou 0 Pla- no de 1875 (idem:53). Referindo-se a este plano, Reis (1977:17-18) declarou: “E realmente impressionante a coincidéncia, para nio dizer a exatidio, entce a obra efe- tivamente executada e o plano elaborado" Isso nunca mais vird a ovorter, Nio seria isto suficien- te para caracterizar o inicio de uma crise? Na verdade, os planos preservam as caracteristicas de ‘melhoramento, embelezamento ¢ remadelagio até 1930 € continuam sendo razoavelmente execulados ai€ 3 déea- da de 40, como os de Agache, para o Rio de Janeiro, ¢ 0 de Prestes Maia, para Sio Paulo. Os planos em execucio ‘nas décadas de 40 ¢ $0 ainda s3o remanescentes dos de 1930. Enireianto, jé na década de $0, a crise era visivel e © novo tina de plane que serd defendido a partir de entio est8 claramente caracterizado: € o plano que nunca atin- gird seus objetivos ¢ que passaré a er, como € ainda hoje, © plano-discursa, o plano inconseqiente. ‘Actise que tem inicio na décads de 30 pode ser caracte- rizada pelo crescente agravamento das seguintes situagdes: 20/00 1 More nepred ale ceulie SGD Pe ewe We é thne a wie [Bing -Dacewny = erescente deserédito entre os politicos quanto a esta novidade chamada “plano diretor"; ou + crescent complexidade, soisticagdo téenieae niveis de abrangéncia dos aspeciosurbanos abordades nos planos yt diretores, que atingem seu climax nos “superplanos”, cha- **™* rmados de "Planos Locais Integrados” do pertodo militar. Os requintados diagndsticos e prognésticos téenicos pas. sam a ter enorme destaque nos planos; PD sara in bin be + total incapacidade dos planos diretores de corresponde- tem ao discurso sobre si préprios. Os planos se revelam incapazes de ir além do discurso. O destino dos planos é a prateleira onde, na melhor das hipéteses, funcionam como obras de consulta académica; + dhiedidan obsia wit = adisc6rdia entre os urbanistas, quanto ao que seja plano diretor Nesendeses Assim,a questio do planejamento urbano ests a exigit de profunda reflexao e radical revisioem suas bases. O abis- wast du ‘mo que, no Brasil, separa o discurso sobre o plano dirctor bases de de sua prética é to imenso que nfo € possivel, a qualquer pessoa minimamente interessada na questi permanecer indiferente a ele. Essa crise representa of ra do plancjamen- Jouthanobasileio. Nest ponte seria ag rclativamente simples adotar uma atitude pseudo-inteletual, apenas Ric. repstindo as reflexdes que nos vém do Primeiro Mundo male, Je ¢, acomodadamente, sem filtrf-las para nossa realidade, “explicar" a crise e encerrar a questio, Poderfamos citar Harvey, por exemple, para quem o modeatienascsbou, dando inicio & era pés-moderna que representa, segundoMhisnn ¢ cle, “uma ruptura com a idéia modernista de que o plane jamento ¢ 0 desenvolvimento devem concentrar-se em planos urbanos de larga eseala, de alcance metropolita- © no, teenologieamentc racionais e eficientes” ev Mads 'O pés-modernismo”, diz Harvey, “cultiva, em vez. “ 0, um Fonceifo de tecido urbano como algo necessa. "*#! riamente fragmentado, um ‘palimpsesto" de formas pas." sadas superpostas e uma “colagem’ de usos correntes™ Ele faz referencia 20 artigo “Requiem for large-scale planning models”, que j6 em 1973 “previa corretamente a queda do que considerava os fateis esforgos dos anos 60 para descnvolver modelos de planejamento de larga escala, abrangentes ¢ integrados para regides metropoli tanas” (Harvey, 1993:69 ¢ 46) ‘Assumindo acrticamente essa tearia, seria possivel de- Quta de pve tm b Mets crelar a morte do planejamento urbano global e dz longo Wis 21220, dando-0 por “superado™. Aqueles que adotamuma (0, tal postura, comum entre nés, encaram o plano diretorem "Sf si, enquanto idéia, enquanio -adémica, sem cconsiderar que estes quase nunca levaram a decisées po- liticas € que raramente safram das prateleiras ov foram responsdveis por agdes concretas sobre nossas cidades. ane omega Ke Ceiede + anes: had contin side ac atl the aitiecg Se fssemos nos guiar por aquelas teorias, bastaria pas- sar do madernismo para 0 pés-modernismo, substituindo 6 planejamento global pelo planciamento fragmentado (pis: moderna). Comisto, estariamos, na melhor das hips teses, simplesmente substituindo uma ideologia por ou- tra, como oportunamente alerta Otilia Arantes (1993). Ela cchama a atengSo para o fato de a expressio “plancjamep- to_urban0" ter sido mesmo substituida por “deseahn-usba- no" (a expressio “urbanismo” nBo foi subsiitufda por “pla- nejamento urbano"?) ¢ manifesta sua divida “quanto as chances do desenho urbano se converter num instrumen- to eficiente de desenvolvimento da vida da cidade”. Sdbia dévida. Nio desprezamos as teorias que 0 Pri- meiro Mundo desenvolve sobre 0 pés-modernismo. Ape- nas achamos que elas precisam passar pelo teste de nossa realidade? (pois hi. no minimo uma diferenga de timing centre as transformagées econémicas ¢ sociais fundamen- tais no Primeiro Mundo e no Brasil), o que ainda ndo foi feito. Até prova em contririo, a crise do planejamento vrbano tem uma Jigag&o muito mais longingua do que se agin com a uanslaxmagbes do capitalism nacional € internacional associadas & acumulagdo MexTveTe 20 pés- fordismo, Partamos, entdo, para uma andlise de nossa re alidade conereta Nosso ponto de partida é exatamente a_concepgio modcrnista de plano dirctor, ainda hoje a mais difundida centre nossos intelectuais, urbanistas, escolas de arquite- ura e imprensa Trata-se de uma conceituagio tradicional, pedante ¢ pretenciosa, segundd a qual: © plano Uireior é um momento do proceso continuo de planejamento, envolvendo controle, revisioe atualizagso periddicos: © plano dirctor se funda num diagnéstico ¢ num pr ndstico cientificos da realidade urbana: \cteristica fundamental do plano diretor ~ € que 0 Uiferencia de outtos planos, particularmente os setorisis = & sua visto de conjunto e de longo prazo dos problemas urhanos. Nas cidades médias e grandes, o plano deve abor- dar de forma integrada um significative leque de proble- mas ~ de natureza fisico-territorial, social, administeati- ya ¢ econdmico-financeira; ‘como todo plano, ele deve conter metas ~ se possivel quantificadas - ¢ prazos, Dentre as metas, destacam-se aquelas referentes 8 fulura organizagio territorial da ci dade, o chamado Plano de Futura Estrutura Urbana. Com relag3o a este dltimo, os modelos matemsticos de larga escala, cujo “requiem” jé foi rezado em 1973, em uma importincia vital; = 0 plano tem de ser aprovado por lei e deve'ser elaborado ‘Y democraticamente, com ampla participagso popular. Sepp ee es ACum co weno Usiwe Isso nos parece suiciente para evitarmal-entendidos | E preciso deixar claro que no estamos falando nem de de zoneamento urbano, nem de plano de governe, nem de} planos transportes, saneamento ou energis, nem de pla- nos nacionais de desenvolvimento, etc. No caso do z0- neamento (controle ceupagdo dosalo), em pani- cular, € muito comum a confuséo com plano diretor Afirma-se, por exemplo, que Porto Alegre tem plano di relor desde os anos $0 quando, na verdade, 0 que existe, nna melhor das hipdleses, € um certo controle do uso do solo urbano. No caso de Curitiba, é altamente discutivel {que a cidade tena tido um plano diretor que minimamente se aproxime do conceito acima exposto, A esse respeilo, aids, cabe registrar que muitas das eriticas dirigidas 20 projeto de plano dirctor de Sio Pav: Jo, encaminhado pelo Executivo & Camara Municipal no final de 1992, estavam fundamentadas na alegagio de que rio se tratava de um “plano diretor” propriamente dito, ja que no atendia a alguns daqueles requisites. le Essa definigio € aproximada mas reflete satisfatoria-3 mente a conceituagio de plano diretor mais difundids no | Brasil entre certos profissionais, intelectuais ¢ a impren-» sa, Embora jé conhecida no exterior e mesmo no Brasil, ? por grandes urbanistas jé na década de 30, a idéia gana no pais nas décadas de 40 ¢ 50. s Vale chamar a atengio para um falo Go misterioso | ‘quanto intrigante relacionado a essa conceituagao. Por que elas formou e se arraigou tho profunda e vigorosamente rnas mentes da imprensa e da intelectualidade brasileiras, ‘de maneira a sobreviver e manter-se forte ainda hoje, ape-’ sar de estar morta na Europa ¢ na América do Norte?" 4 me Coup OPLANO DIRETOR E AS ELITES Essa concepgao de plano diretor € altamente ideol6gi: ‘eae tecnocralica, Ela Tot aceita e difundida por uma clas se dominante que procura veicular a ideologia de que a bboa técnica tem o poder migico de resolver os problemas urbanos. $6 assim é posstvel entender o inexplicével pres- Ligio de que o plano diretor ainda desfruta em certos meios, especialmente na imprensa, entre liderangas da alta classe média ¢ intelectuais organicos, que Ihe conferem oderes to mitolégicos quant 05, misteriosos € \explicados, A titulo de exemplo, tomemos a Folha de S. Paulo de 16 de margo de 1988, em que aparece uma avaliaclo da administrago Janio Quadros € um editorial sobre o mes- mo assunto. A (Snica da matéria € 0 planejamento ¢ = manchete (p.A16) é a Seguinte:ANIO ADMINISTRA BEM A CIDADE MAS NAO PLANEJA 0 FUTURO. Depois de compa- rar o entlo prefeito de Sio Paulo a um “competente ad- ministrador de empresas”, o jornal opina que isto no Coe 4. 9D Busine — adedeg dere 47 al eblatna gies dee becatect eee bee eee pede nundloos 1p pe trne —— ack fhe en ——— PD, pikigey te mprsne fle « Pera cre ‘sho Buna ws Pensracrs 92) 1998 suficicnte, Critica-o por no ter um “projeto para a cida- seg cuno, médio e longo prazos” ¢ prosseguc: “O pre asio nto dispde de unt instrumento preeioso: o plano di vetorcas tinhas mestras de sua administragSo, voltadas para quseionae problemas eriados pels expansdo permanente de Sio Paulo” Mais eurioso ainda & 0 editorial com o titulo PREFEI- una SEM PLANEAMENTO, que presereve: “Nada é mais neceasirio 8 administrago de S40 Paulo do que identi Toros problemas erSnicos da cidade e equacioné-les com preciso dentro de uma perspectiva que transcenda Os « horizentes do imediatismo ~ tarefa que pressupbe a for- mnulagio de um conjunto de dirctrizes ¢ agdes que. inte- trade a um imprescindivel planejamento do desenvolvi frento urbano, possa representar, 2 médio ¢ longo prazos, Joludes duradouras”, Note-se o tom tecnocrético ¢ apo- Togético com que se aborda as virtudes ¢ a racionalidade Jo plano: a sa2d0 ¢ a ciéncia identificariam “com preci- “to” os problemas erdnicos da cidade ~ como se estes no Tos seen mais do que conhecids, inclusive (e precisamente) por screm erénicos, O editorial prossegue afirmando que Jénio abandonou “as modernas préticas da administragio urbana ¢ qualquer preocupagao em ordenar as obras pi: blicas segundo as hieracquias estabclecidas por um plano direvor". NBo.temos conhecimento de, nenhum plana di- fetor que tenha proposto uma listagem hierarquizada de ‘obras pidblicas. A Gnica conclusio que se pode tirar dessa STirmagio € que o jornal imagina que tal hierarquia teria de ser, obrigatoriamente, seguida pelo prefeito, ou s¢ja. tle teria de adotar um plano do estilo “eamisa de forga”, Siolentando a autonomia do Executive, ainda que apro: Vado por lei, Segundo 0 editorial, em oposigio a essas vMrodernas priticas de administragao urbana", Jénio ado- ava "conduta antiquada e dispersiva ~ na qual se incluf- {seam atos ridiculos, provincianas e diseriminatérios come 4 proibigdo do ingresso de homossexuais na Escola Mu- cipal de Bailado ov a tentativa de desapropriar a ¢as3 do empresério Abram Szajman”, Conclusio: um plano diretor teria evitado esses disparates: um plano diretarsexia ..-qarma mais poderosa para combater.o arbitrioe a dems. ogia populista; nfo se combate a demagogia, 0 arbitrio EY atraso administrative com agbes politicas, mas com bboa técnica. ‘Vejamos agora o que diz outro porta-vor da alta clas: se média, A Gazeta de Pinkeiros, na edigao de 4 de se~ tembro de 1993. Uma matéria da primeira pagina, refe- tindorse A Vila Madalena, diz que "os moradores reclamam {que o comércio est invadindo éreas consideradas estri- tomente residenciais” para concluir que “a falta de um plano diretor e uma legislag¥o arcaica fazem com que haja Inuito desrespeito e confusto em torno da Lei de Zonea- mento”, © plang diretor teria, entho, ¢ poder méicn de tan oly share dota fie de nomen tine, a cobareh Tw Adige 6: ce anys fostencwims de TMawe Weaker ara 0 cumprimente daLei de Zon oma confusso em woo dela 2 Bal sis exenploséomado JOP cono'a plano ditelor ¢idealizado e como uma iddia € “ ) , doy Sento deamy es domiante ques sera | acabar descola da realidade, ocultando-a c, com isso, facilitando 1 dominacSo das classes populares ‘Como entender tio fervorosa convicgio nas qualida-) des desse instrumento mégico em uma cidade que nunca/ “= <¢* cee erimentou um plano diretor? Alid, diga-se de passa- lot 7 gemma absoluta maioria~ se nfo s totalidade ~ das cida- 4) \ ae pasilelras jamais experimentou um plano dirctor que jf, Se aproximasse minimamente dos termos jé definidos ou da linha tragada pela imprensa, Em Sio Paulo fala:se de plano diretor com umaami Jiaridade-e-uma.confianga surpreendentes, embora nenhum tenha sido jamais adotadoe utilizado. O Plano de Prestes Vly. I Maia de 1930, por exemplo, néo se enquadra em quase n.%. nenhum aspecto, nos requisitos convencionados: nunca /, i foi para a Camara Municipal, nunca foi debatido, no a nha programaglo de obras, nem prazos ¢ metas, nem 20- neamento. Alids, como jé destacamos, o conceito de pla- Pa 0 fo diretor estava ainda sendo gestado na époce. O PUB “Bsns ‘Encomendado por Faria Lima em 1968 nio tina uma pro- gramagdo unificada de obras, nem uma proposta clara de Joncamento e jamais foi enviado & Camara, O PDDI de 1971 também no tinha programa de obras, nem prazos cou metas ¢ nSo integrava os diversos aspectos da realida- Ge urbana, embora mencionasse quase todos: foi aprova- do pela Camara Municipal, mas nunca foi livremente de- ‘pauido nem dentro nem fora del, pois est4vamos sob (érrea ‘Giadura militar ¢ a Cémara fora expurgada de vrios ve- ccadores, VIGOTBu. ignorado pela sociedade paulistana, inclusive por téenicos e politicos, até ser substituido pelo plana ditetor de 1988, elaborado na gesi80J8nio Quadros. Este foi aprovado por decurso de prazo (expediente her- Gado do regime autoritério) ¢ continua em vigor até hoje; porém, tal como seu antecessor, € desconhecido pela Praloria absoluta dos arquitetos municipais, dos profissi ‘nals liberais e dos vereadores (para nfo dizer dos cida- @hos), Esse plano também nfo tinha prazos, metas, pro- grama de obras ou prioridades ¢ tampouco foi debatido: pela populagio ou pelos vereadores. Para completar, 2 Pestdo de Luiza Erundina elaborou seu préprio plano, sem melas, prazos ou programas de obras. Portanto, nem a populagdo paulistana, nem seus I/de~ res comunitdrios, politics, profissionais, religiosos, et. ‘jamais experimentaram um plano diretor. A maioris dos PD wehnoa food dt 11 { ine, a Ma 7D brine dl cdeed= Teh 20m: Lo politicos, entre os quais a quase totalidade dos vereado: res, nem mesmo na gestio Luiza Erundina, nunca discu: tiv um plano diretor. A méquina administrativa munici- pal sequer sabe como é trabalhar e administrar com um plano diretor (embora tenha décadas de experiéncia com zoneamento). Os partidos politicos nio sabem o que ¢ fazer politica com plano diretor. Finalmente no ha, nem mesmo entre os profissionais mais ligados ao planejamento urbano ~ particularmente engenheiros, arquitetos © geégrafos -, qualquer acordo quanto a0 que venha a ser um plano director. Uma das maiores polémicas travadas em torno do projeto elabora- do na administragao Luiza Erundina era se o plano deve- ‘ia ov nao limitar-se a um conjunto de objetivos e diretri- zes gerais. Nem quanto a esse rudimentar e fundamental aspecto havia consenso. Essa conclusio, note-se, no in- valida nossa hipétese inicial que propunha um conceito jdominante de plano diretor, pois s6 recentemente & que ravaram as divergéncias quanto aesse conceito, Além isso, embora 0 conceito tradicional de plano diretor te. tha sido contestado desde a primeira metade dos anos 90, ‘em Virias capilais ele continua predominando. O PLANO DIRETOR E OS POLITICOS Em contraste com @-clima racional, ideal e ideolégico due perpassa as idéias acerca do plano diretor entre a teleetualidade, as elites ea imprensa, destaca-se a atitude dos politicos. Estes pinacreditam em plano dieior nunca @-desejaram, NSo temos conhecimento de nenhum pre- {cito, liberal ov conservador, seja em periodos de demo- cracia, semidemocracia ou ditadura, de esquerda ou di reita, que se tenha esforgado ¢ batalhado por uma administrago com base em um plano diretor. Em Sto Paulo, hd mais de vinte anos, a Secretaria Municipal de Plancjamento elabora e reclabora, faze desfaz, ev e atu aliza planas diretores. mas nenhum prefeito jamais exi iu um plano diretor. Seguindo a regra geral, o prefeito conclui $eu plano, envia-o & Camara no final do mandato € seu sucessor retira 0 projeto para revisio. O que foi encaminhado a0 Legislative na administragao Luiza Erundina jd foi retirado pelo atual prefeito e esté sendo tevisto pela Secretaria Municipal de Planejamento que, por sua vez, provavelmente deixard para o final da gestdo © encaminhamento de seu préprio projeto A Cimara ‘A Folha de S. Paulo de 13 de (evereiro de 1989 (PC 5) apregoava: PLANO DIRETOR NKO € PRIORIDADE PARA AS PREFEITURAS PAULISTAS, lembrando que ele € obrigatério, pela Consttuigho de 88, para as cidades de sais de 20 mil habitantes Hoje, passados sete anos da promulgasio da atval Constituig 30, a maioria absoluta das cidades continua sem Cast 00 Reisen Unsun ter um plano dit i, Sto Paulo prova- velimente proteguir. ainda por alguns anon vacates de elaborar um plano a cada gestio sem aprovar nenhums ‘Como se explica isto? Para entender esse quadro, examinemos 0 j4 mencio! nado Plano de Prestes Maia. Como jé dissemor, ele nig) se enquadrava na concetuagto de plan ditetor que maiq tarde se tornaria tradicional (maderista), mas ers Une proposta de governo tal come nenhium prefeito que osu, cedeu jamais apresentou, A iniiativa de ea proposta coube 20 Executivo, ta sfedocmopttsio Ps do Ri: Pres Malu do mais tarde veio a ser prefeito,assumio tot plano. Nenhum prefeito paulisano, nas Ultimas tis Eades, apresenou e cumpris uma proposia de govern rae Pets Ma 4880 tradicional de plano dirtce wt a Tenta mas continua perda de ideranga credibi idade de nossas elites na esfera urbana, nim prt Toje Rat om TE tos ats, jf nto pode anunciar com antecedéncia, como fizeram Pereira Passos ¢ Prestes Maia, suas obras ou seu programs de govern9, com seus minhocdes, tUnels e vias expressas e muito menos um plano que inciva outros mandatos srs plesmente porgue se 0 fizesse enfrentaria uma enorme anignle para poder fazer obras GUeMEOTR. tam com.o apoio popular. eS Prestes Mala marca 0 fim de um perfodo histérico no do gvero urbane, sins Cia, esperando contar com os aplausos, se nio da maio- tia, pelo menos de uma minor gum resqutcio de eredibilidade. © Plano de Prestes Maia (Estudo de um Plano de Ave rnidas para a Cidade de Séo Paulo) & um legttimo repre sentante do pensamento urbanistico da burguesia paulis. ta da época, simbolizada nto s6 por Prestes Maia mas por vérios outros tEenicos (Leme, 1990). Significou um mo- mento de um processo, uma sintese da proposia de uma

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