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Luis Felipe Miguel » Flavia Biroli FEMINISMO E POLITICA Copyright desta edigio © Boitempo Editorial, 2014 Copyright © Flivia Millena Biroli Tokarsk e Luis Felipe Miguel, 2013 Preparagio Carla Mello Moreira ¢ Claudia Maietta Revisho Thais Rimkus Diagramagio Schr Edirial Capa Antonio Kebt sobre ato Aagela Davis (2013), de Edger Garcia Equipe da Boitempo Editorial Ana Yumi Kaji, Arour Renzo, Bibiana Leme, Elaine Rama, Fernanda Fantinel, Francisco dos Santos, Kim Doria, Marlene Baptista, ‘Mauricio Barbosa, Nanda Coelho ¢ Renato Soares CCIP-BRASIL. CATALOGACAO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS. RJ MS77¢ Miguel, Luis Felipe Feminism e politica: uma inroducso / Luis Felipe Miguel, Fivia Biol. - 1.ed.- Sto Palo "Boiempo, 2014. Incl bibiogaia ISBN 978-85.7559-396.7 1. Feminismo, 2. Mulheres condigbessocas. 3. Diseito das mulheres. I. Tico. 1415554 DD: 305.42, CDU: 330.85(09) E vedada a reprodugo de qualquer parte dest livro sem a expressa autorizacao da editora 1¥ edigo: novembro de 2014 1 reimpressio: margo de 2015; 2 reimpressio: julho de 2015, 3+ reimpressio: maio de 2016; 4 reimpressio: janeiro de 2017 5* reimpressio: outubro de 2017 BOITEMPO EDITORIAL Jinkings Editores Associados Ltda. Rua Pereira Leite, 373 0542-000 Sio Paulo SP ‘Tel /fax: (11) 3875-7250 | 3872-6869 editor@boitempoeditorial.com.br | www:boitempoeditorial.com.br ‘www.blogdaboitempo.com.br | ww facebook.com/boitempo ‘www.twitter.com/editoraboitempo | www-youtube.com/tvboitempo 6 GENERO E REPRESENTACAO POLITICA Luis Felipe Miguel conquista do direito de voto foi, por muitas décadas, 0 ponto focal do movimento de mulheres. Da metade do século XIX até as primeiras déca- das do século XX, 0 sufragismo foi a face publica das reivindicagées feministas. acesso a franquia eleitoral representava o reconhecimento, pela sociedade ¢ pelo Estado, de que as mulheres tinham condigées iguais as dos homens para gerir a vida coletiva ¢ também que elas possuiam visdes do mundo e interesses proprios, irredutiveis aos de seus familiares. Afinal, um dos argumentos centrais. para aexclusio politica dels era que seus interessesjéseriam protegidos pelo voto dos maridos ou dos pais'. Além desse efeito simbélico, havia a ideia de que o voto era a via de acesso aos espacos de tomada de decisio, que se tornariam mais permedveis 4 pre- senga das mulheres e mais sensiveis 4s suas demandas. No entanto, as décadas seguintes 4 obten¢ao do sufrégio feminino mostraram que era perfeitamente possivel a convivéncia entre o direito de voto das mulheres e uma elite politica formada quase exclusivamente por homens. Repetiu-se, com o sufragismo, 0 que ocorrera com a luta do movimento operério pelo voto universal masculi no. Seus apoiadores, entre eles o proprio Marx, tanto quanto seus adversdrios, julgavam que seria o preltidio de uma via cleitoral para o socialismo. Mas 0 fim das exigéncias censitdrias e a extensao do direito de voto aos trabalhadores nao abalaram a dominacio politica da classe burguesa. Abaixa proporcao de mulheres nas esferas do poder politico é uma realidade constatada ainda hoje em quase todos os paises do mundo. De acordo com os dados da Inter-Parliamentary Union, atualizados em julho de 2013, as mulheres ‘ocupam, em média, 21,3% das cadeiras nos parlamentos nacionais’. Em apenas James Mill, “On government”, em Political writings (Cambridge, Cambridge University Press, 1992), p. 27. A edigio original é de 1820. No caso de parlamentos bicamerais, os ntimeros se referem sempre As cimaras baixas. Disponivel em: ; acessado em: 26 set. 2014. is hd dads, elas respondem por um tergo ou ‘mais das vagas. O sinico pais em que as mulheres so mais numerosas do que 1s homens no parlamenco é Ruanda, 0 que éefeito tanto de uma lei de reserva de vagas quanto do esvaziamento da elite politica masculina apés o genocidio de 1994 e 0s julgamentos que se seguiram a ele, O Brasil, com menos de 9% de mulheres na Camara dos Deputados, esté entre os piores colocados no ranking. internacional, ateis de 154 paises. Desde que o acompanhamento comegou a ser feito, em 1997, ha uma tendéncia de ampliacio da presenca feminina nos parlamentos do mundo, mas em velocidade reduzida, com um aumento médio de meio ponto percentual por ano. claro que a abolicio das barreias legais no representout 0 acesso a condicées igualiirias de ingresso na arena politica. Entraves de diferentes na turezas 3 participagéo feminina continuam em vigor. O insulamento na vida doméstica retira delas a possibilidade de estabelecer a rede de contatos necesséria para se lancar na carreira politica. Aquelas que exercem trabalho remunerado permanccem em geral como responséveis pelo lar, no fendmeno conhecido como “dupla jornada de trabalho”, tendo reduzido seu tempo para outras ai- vidades, incluida aia agio politica. Os padroes diferenciados de socializagio de sgéneto ea construgio social da politica como esfera masculina inibem, entre as ‘mulheres, o surgimento da vontade de participar’. Em suma, como disse Anne Phillip, nao basta eliminar a barreiras formais 3 incluso, concedendo acesso 0 voro ou direitos iguais, E necessii incorporar expressamente os grupos rmarginalizados no corpo politico, “empurri-los’ para dentro, rompendo a inércia estrutural que os mantém afastados dos espagos decissrios", Nas décadas finais do século XX, 0 problema da sub-tepresentagio das mulheres nas esferas de exercicio do poder tomnou-se uma prioridade na agen- da feminista. E possivel observar uma revalorizagio das instincias do Estado, ‘comum a outros movimentos de esquerda. O 'feminismo comegou a “repensar stdosealizados nos Estados Unidos mostram que, nee profisionas de forma catia similares, as mulheres se sentem menos capazes de exereer cargos pablicos que os homens. Ao mesmo tempo, las, 20 contrrio dls, se dispem a concorrera um posto police quando tejulgam muito qualfiadas, Ver Jennifer L. Lawless c Richa L Fo, [tutes acandidate: why women dn rn for efce (Cambridge, Cambridge University Pres, 2005) Pra ma resensa ample da literatura sobre mulheres ecartciea politica cf. Luis Felipe Miguel e Flivia Bir Galeidedpo conse, cit cap. 3. + Anne Philips, Which equates mater cit. p. 3. —— omemnen a reticéncia em ‘fazer politica! ou agir sobre o ‘terreno institucional’, que foi ‘uma op¢io dominante da politica feminista até os anos 1970"®, Ha, assim, uma accitagio das estrucuras politicas vigentes € a redugio da aposta urépica em formas radicalmente novas de agio coletiva. ‘No Brasil, essa mudanga coincide com o processo de redemocratizagio. A partir dos anos finais do regime militar, foram criados conselhos estaduais dos dircitos das mulheres (sobretudo nos estados governados pelos partidos de ‘oposicio a ditadura); em seguida, jé no inicio do novo governo civil, surgiram as delegacias polciaisespecializadas no atendimento & mulher e 0 Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres. Em 2003, por fim, © governo federal criou a Secretaria de Politicas para as Mulheres, com status de ministério. Essas cexperiéncias marcam vitérias de um movimento ferinista que se empenhava em fizer o Estado trabalhar no sentido da igualdade de género. 0 FEMINISMO E 0 ESTADO : ‘Areflexio sobre o Estado s6 ingressou no pensamento feminist, partic da segunda metade do século XX. Antes disso, 0 fem nismo liberal tendia a considerarasestruruas do Estado como | dadas. Eo feminismo marxstajulgava que a percepgio classsta do Estado era suficiente para dar conta de seus problemas. Permanecia em vigor o entendimento de Engels, de que tanto a familia patriarcal quanto 0 Estado cram produtos do surgimento da propriedade prvada’. {A busca por uma compreensio especifcamente feminista do Eseado se liga a percepgio crescente de que a ortodoxia marxista no €capaz de dar conta, de manera adequada, das desigualdades de género. Surgem, entio, as correntes que enfatizam o duplo carite, patriarcal e capitalist, da sociedade ocidental, sem que "um adjetvo tenha primazia sobre o outro. Na visio de algumas auroras, o Estado exerceria um papel destacado na mediacio 7 len Varikas, “Une reprsentation en tant que Femme? Rflesonsetiques sur la demande de Ia pare des sexe", Nowelles Queions Feministe, v.16, 2.2, 1995, p85. riodich Engl, A origem efi, de propriedadeprivada edo Estado ce centre patriarcado ¢ capitalism, permitindo © funcionamento ‘concomitante de suas formas de opressio ¢exploragio feminismo adere & percepsio de que o Estado, mais do que ‘um aparato repressvo, deve ser compreendido como produtor de priticas sociais, Uma contribuigio particularmentesignifcativaé da jurist estadunidense Catharine MacKinnon, que anuncia ja ‘no titulo de sua obra mais importante a pretensio de contribuir ‘para gerar uma eoria feminista do Estado, A auséneia desateoria impediriao feminismo de entender como 0 aparato esata incor- pora © ponto de vista masculino e “consticu a ordem social no interese dos homens como género— por meio de normas, formas, telagio com a sociedade e politica substantivaslegitimadoras". Ea poipsias‘peuttalidade’ do Ensedo:que gatiace eculcantie, +4 ‘masculino, negando legitimidade is demandas, consttuidas como “particulares", das mulheres’. Mais recentemente, 0 chamado feminismo de Estado (State | _feminiom) passow a enfatizar a importincia de fazer com que as estruturas de exercicio do poder politico incorporem demandas vinculadas aos direitos das mulheres. A prioridade seria a advo- acy feminist, ito &, a sensibilizagto dos aparelhos de Estado". [A desconfianca inicial ¢ 0 relativo desinteesse em relagio 20 Estado cedem lugar, ness caso, ao extremo oposto, em que se deixam de lado o trabalho de base, a conscientizagao € 0 esforgo de transformagio da vi ‘movimento feminista ‘cotidiana, que sempre marcaram © Zillah Eisenstein, “Developing shor of aptalis patiarchy and socials feminism’ “Some notes onthe relations of capitals patriarchy”, ambos em idem (or.), Capital paraycy and ‘he case for scl fominom (Nova York, Monthly Review Press, 1979). (Catharine A. MacKinnon, Toward fein theory of th State, cit. 162 Tbidem,p. 162-3. Joni Lovendus, “Introduction: State feminism and he poll representation of women’, em ‘dem (1g), State feminism and political epsetaion (Carbide, Cambridge University Press, 203), ‘Como forma de vencer o problema da baixa presenga de mulheres no Poder Legislativo, em muitos paises foram adotadas agées afirmativas, em particular ‘coas eletorais por sexo. Dessa maneira, uma parcela das vagas de candidatos, ‘ou mesmo dos assentos no parlamento, fica reservada para as mulheres. A partir do final dos anos 1970, regras estabelecendo uma porcentagem minima de mu- heres, primeiro em diregGes partidrias e sindicais ou na administracao piiblica, ‘em seguida nas cleig6es, passaram a vigorar em paises da Europa. Logo foram adotadas em outras partes do mundo, sobretudo na América Latina e na Affica. Do ponto de vista da teoria politica, as cotas implicam uma ruptura com lum principio basilar da ordem politica liberal, a0 indicar que um grupo (as mulheres) deve ter preservado seu direito de se fazer ouvir nos espagos de re- presentacao. Para o liberalismo, o tinico sujeito de direito é 0 individuo. Se as mulheres, ou qualquer outro grupo, querem se fazer tepresentar, esse objetivo deve ser alcangado por meio das opsées individuais de seus diversos integran- tes, sem constrangimentos legais. Elas podem ingressar nos partidos, disputar conveng6es, disputar eleigées. Padem mesmo fazer campanhas pelo voto em ‘andidatas do sexo feminino, Mas devem conquistar seu espago sem vantagens consignadas em lei". Assim, no quadro do pensamento liberal, a conquista do direito de voto & ‘um ponto de chegada definitive. O sufrigio universal é necessério para impe- dir a tirania e para garantir que todos sejam levados em conta nas decisdes de governo porque se acredita que cada um & 0 melhor juiz do proprio interesse. Quando da luta pela conquista do voto feminino, este foi um dos argumentos utilizados: $6 as mulheres ~ ¢ nao seus pais ou maridos ~ podiam manifestar legitimamente seus interesses. No momento em que as mulheres conquistaram © dircito a voro, porém, o argumento se volta contra qualquer forma de aco afirmativa. Se as mulheres (como individuos) podem expressar suas preferéncias nnas cleig6es, entio as mulheres (como grupo) néo pedem se queixar se estio pouco ou mal representadas nas esferas decisérias. Essas esferas sio compos- tas como resultado da agregacio das escolhas individuais. Quando mulheres cleitoras preferem votar em homens ou, de maneira mais geral, privilegiam coutras formas de lealdade politica e outras facetas de sua identidade, em vez do pertencimento de género, suas escolhas devem ser respeitadas. "CE. Luis Felipe Miguel, “Tera pola feminist iberalismo caso das cots de epresentaio", Reva Brains de Ciécas Soci, 44, 2000. © questionamento desse racioeinio e a consequente defesa de agbes repa- radoras, como as cotas eleitoras, passam a colocar em primeito plano as desi: gualdades esteuturais presentes na sociedade, reconhecer que elas transbordam para a arena politica e também rejeitar a crenga de principio na autonomia dos individuos na produgio de suas preferéncias. Ou seja, rompet com 0s pressupos- tos que organizam a presungio de igualdade politica no ordenamento liberal As cotas sit possa ser formalmente correto, su resultado & injusto se grupos sociais im- izam que, ainda que o processo de escola de representantes portantes nio encontram presenca adequada. Trata-se de uma revalorizagio dda chamada “representagio descritiva”, a concepgao de que o parlamento deve cespelhara sociedade de onde nasce, considerada pela ciéncia politica, a0 longo do século XX, como ingénua c insatisfatéria, Em seu estudo que se tornou clis- sico, Hanna Pitkin apontou que a representagao descritiva se preocupa apenas com quem os representatites sio, ignorando 0 que eles fazem e os mecanismos que deveriam garantir que respondessem aos anscios de seus cleitores"” ‘Ao fazer a defesa daquilo que prefere nomear como “politica de presenga”, rebatendo as criticas de Pitkin ¢ de outros, Anne Phillips reconhece que ela nasce da desilusio com a responsividade esperada dos representantes, que se ‘mostrou incapaz de proteger os grupos mais frigeis!”. Nao importa que um parlamento exclusivamente ou quase exclusivamente masculino seja fruto de ‘uma cleigio.em que as mulheres formavam metade (ou, na verdade, um pouco ‘mais da metade) dos vorantes. Esse parlamento nao & capaz de representi-las de ‘modo adequado e, portanto, sio necessirias medidas corretivas, como as cotas. ‘Virios problemas vinculados as politicas de cotas io destacados pela propria ‘Anne Phillips. Elas possuem um elemento contraditério, pois fazem do sexo um critério para o acesso& elite politica (ou, para citar outro exemplo, da raga um ‘critério para o ingresso no ensino superior) quando tém como objetivo osten- sivo criar uma situagéo em que sexo (ou raca) sea irelevante para predizer se ‘uma pessoa alcangari 0 parlamento (ou a universidade). As cotas também podem motivar preconceito contra quem se beneficia delas. Em particular, deputados eletos por meio de coras podem ser considerados menos lei 2 Hanna Fenichel Pickin, Te concept of rpraenttion (Berkeley, University of California Press, 1967). "Ane Philips, The polite of presen, cit jf que representariam apenas grupo a0 qual estio vinculados, em ver. do ppovo em geral! ‘Um problema de resoluso particularmente dificil é a definigao de quais gru- pos socaisdevem ser benefciados por politicas de ago afirmativas. Se mulheres precisam estar presentes no Poder Legislativo, por que nio trabalhadores, negros, Indigenas, gays, pessoas com deficiéncia ou integrantes de grupos religiosos mi- norititios? De fato, todos os grupos aqui listados respondem ao crtério proposto por Williams, de que as g6es reparadoras sio merecdas pelos grupos que sofreram ‘exclusto e/ou violncia patrocinadas pelo Estado". Mas alguns problemas perma- rnecem, Existem grupos que continuam a ser legalmente excluidos da partcipacio politica, masa respeito dos quais, em geal, no surgem demandas por presena~ €. caso das criangas, por exemplo, bem como de pessoas que possucm outra na- onalidade, ainda que sejam habitantes do terrtério. Ou sea, nfo esti esgotada discuss sobre direitos e sobre as condig6es de acess a esses direitos. ‘Além disso, a aplicasso pritica das agbes afirmativas enfrenta dficuldades, Se 0 sexo bioldgico & aceito como uma variivel dicotémica e disereta, com a proporcao entre 0s grupos na populagso se mantendo mais ou menos estivel, 28 cotas por sexo sio de implementagio pouco controversa. Outras clivagens ssociais significativas nao possuem tais caracteristicas. E necessério discutir quem. pertence ao grupo beneficiado, quando as fronteiras nao sio evidentes — onde estéa linha diviséria entre negros e nfo negros? Que posigdes nas relagdes de produgio formam a classe tabalhadora? Quais manifestagbes de desejo ou de comportamento estabelecem alguém como gay? E é necessirio recalcular constantemente a presenga exigida, jé que, ao contrério do que ocorre com mulheres ¢ homens, a proporgio de negros, gays, trabalhadores ou pessoas com deficiéncia na populagio pode variar muito num intervalo relativamente pequeno de tempo. ‘Outro problema relevante & o “essencialismo” porencial subjacente'®. implicito que as mulheres, apenas por serem mulheres, responderio a interesses idénticos. No entanto, os individuos ocupam simultancamente idem, p. 153-6 Melisa S. Willams, Voice rat and memory: marginaliced groups and the failing of libra repreentation (Ptinceton, Princeton Univesity Press, 1998) ‘Clara Araijo,"Mulheres © representagdo politica: a expeiénca das cotas no Brasil, Reicr Estudos Femina, 6,0. 1, 1998, p77. 100 weMIsMo F PoLITICN diversas “posigées de sujeito”, cujas pressoes sio variadas ¢, muitas vezes, ‘contraditérias. Por exemplo, uma mulher negra, rabalhadora manual, evan- tic, consumidora de determinados bens ¢ moradora da periferia pode ter ites associados a cada uma dessas caracteristicas. Integrar ‘um grupo nio significa expressar suas demandas. Muitas mulheres candidatas eleitas no apresentam comprometimento com as questoes de género, E, de maneita mais profunda, é questiondvel mesmo a nogio de que existem interesses objetivamente identficaveis, ligados &s posigoes sociais. Mulheres podem discordar, e de fato discordam, sobre quais sio scus interesses ou quais ‘medidas politicas devem apoiar”. Devido a todos os problemas asociados as cotas, Phillips ¢ muito cuidadosa a0 insistir que nao prega a substituicio de uma politica de ideias, vinculadas, as propostas ¢ aos valores expressos pelos representantes, por uma politica de presenga. O que ela propdg éa correcio de alguns dos vieses da representacio ppolitica por meio da adogio de mecanismos descritivos. Nao é deixada de lado ‘a necessidade de supervisio dos representantes pelos representados, Phillips argumenta, entio, que a politica de presenca é um momento de transigio do, “pluralismo convencional”, preocupado com grupos de interesse, ao “plura- lismo radical”, atento aos grupos de identidade", Essa formulagio ja aponta a diferenciagéo entre interesses ¢ identidades, que é fundamental no debate. ‘© meu interesse é em tese, representivel por qualquer pessoa, que pode ver- balizé-Lo em meu lugar ¢ agir para promové-lo, Mas a minha identidade s6 se ‘torna visivel por meio de um igual. Eu posso néo estar presente no grupo de ‘governantes, mas minha identidade estaré lindo por meio de um representante, ‘esim corporificada em alguém que a possuii em comum. Em suas formulagées posteriores, porém, Anne Phillips prefer falar de perspectivas 50% ntidades. Menos fechado e com carer ‘mais relacional, 0 conceito de perspectiva social cumpre, na argumentagéo, ‘uma fungio similar a da identidade: 6 0 nao representével, aquilo que exige a presenga politica. Mas escaparia is suas dificuldades, sobretudo ao risco do ‘essencialismo potencial. © conceito ¢ mobilizado, entéo, para justificar de forma mais sofisticada as demandas por presenca, escapando tanto da nogio em ver de i ‘CE Ble Varies, “Une epesentaton en tan que ferme?" it % Anne Philips, Democracy and difirence (University Pat, The Fennsyvani Press, 1993), p17 ciaria& posigio de vetores de uma politica mais altruista ¢ humana, tal como apresentada pelas correntes maternalistas, discutidas em capitulos anteriores deste livro, quanto da visio de que elas precisam ocupar espacos de poder para defender seus interesses especifcos, 0 que pressupde a existéncia de incereses comuns definidos de antemao. © conceito de perspectiva social, apresentado no capitulo anterior, ga- hou curso sobretudo a partir, da obra de Iris Marion Young. Ele capraria a sensibilidade da experiéncia gerada pela posigio de grupo, sem reclamar para cla um conteiido unificado. Na visio da autora, a representagio politi- ca englobaria trés dimensées ~ interesses, opiniGes e perspectivas”. Ela nao recusa legitimidade & busca da satisfagio de interesses, entendidos como instrumentos para a realizagéo de fins individuais ou coletivos, por meio da ‘ado politica, tampouco ignora as opgdes politicas embasadas em opinides, isto é, em principios e valores que Fundam o jufzo. Essas duas facetas, porém, estariam bem definidas nas compreensées cortentes sobre a representagio politica, © esforco seria acrescentar a terceira faceta, a das perspectivas, que fundamenta a exigéncia de presenca direta dos integrantes dos grupos em posicio subalterna. ‘Ao deslocara centralidade do conflto de interesses na definigao da politica, Young corre o isco de incidir num entendimento idealista. A multiplicidade de perspectivas serviria para a ampliagio do conhecimento social presente nas cesferas decisrias, contribuindo para a produgio de consensos mais esclarecidos. Contra ese risco, énecessirio reforcar o vinculo entre interessese perspectivas™, Uns nio derivam automaticamente das outras, mas, sea perspectiva € a visio de mundo vinculada a.uma posigio social, os interesses politicos também se figam a essa posisao. E, numa sociedade marcada por relagées de exploracio, dominagio ¢ opressio, nao é possivel pensar a politica sendo sob o signo do conflito. (Os grupos sociais dominados nao possuem apenas experiéncias ¢ visbes de ‘mundo diversas dos grupos em posicio dominance. Eles possuem também in- teresses confltantes: Apesar das rssalvas que Young continuou fazendo, a perda iis Marion Young, Jnlason and democracy cit. p. 1346, "Las Felipe Miguel, Demaraciaeeprsentapo, cit ap. 8. de centralidade dos conceitos de dominacao e opressio em sua obra posterior 4 Justice and the politics of difference fer com que a ideia de perspectiva socal se dlistanciasse das injustigas sociais. A variedade de perspectivas foi se aproximando ‘mais da pluralidade prépria de uma sociedade multicultural, empalidecendo o foco na estruturagao das vivéncias de acordo com constrangimentos associados as desigualdades de poder, recursos materiais e prestigio social Mas nao se trata apenas de diversidade. Numa sociedade estrururada pela dominagio masculina, a posigio das mulheres nao é apenas “diferente” da dos homens. £ uma posi¢io social marcada pela subalternidade. Mulheres possuuem menos acesso as posigdes de poder e de controle dos bens matcriais, Estio mais sujeitas & violencia ¢ & humilhacio. O feminino transita na soci dade como inferior, frigil, pouco racional;é0 “outro” do universal masculino, ‘como a reflexio feminist aponta desde Simone de Beauvoir. A ruptura com ‘esse estatuto subalterno exige a revisio dos prvilégios masculinos. Ainda que ‘muitos homens sejam soliddrios as demandas feministas ~ e ainda mais mulhe- ‘es ocupem a posicio de guardiis da dominagao masculina -, hié um conflito entre a emancipacio delas ¢ a manutengio do papel social privilegiado dees. © recurso A categoria “perspectiva” também nio resolve 0 problema das diferengas internas ao grupo das mulheres. Tados os problemas vinculados & nogio da identidade feminina, discutidos no capitulo anterior, sio repostos ara as perspectivas sociais. £ discutivel se hd uma posigio na sociedade que abarque todas as mulheres, sedimento comum das posigées particulares de cada uma delas, ou se outros determinances (classe, raga, orientasio sexual, ‘getagio etc.) afetam de tal maneira as perspectivas que nio se pode abstrair tum ponto de vista unificado. Na pritica, as posigées de representantes politicas tendem a ser monopolizadas por aquelas em situacio privilegiada (profssionais bbrancas heterossexuais burguesas ou de classe média). Elas sio representantes ddas mulheres, em geral, ou de uma parcela das mulheres, com determinadas caracteriticasdistintivas? Ignorar essas questoes implica manter 2 estrutura de desigualdades dentro do grupo das mulheres, silenciando as vozes das negeas, das trabalhadoras ou das lésbicas, que permanecem sem presenga nos espagos decisérios. Por outro Jado, uma atengio exch as clivagens sociais sobrepostas leva, no limite, & “unten ements saris impossbilidade da representagio™. A soma dos pertencimentos particulares singulariza cada individuo. Nesse caso, voltamos a posigio liberal, em que ‘ada um se manifesta por si mesmo na arena publica © os grupos tornam a desaparecer como sujeitos politicos. A tensio entre 0 reconhecimento da dife- renga ca necessidade de alguma forma de unidade se apresenta, no ambito da representagio politica das mulheres, como uma questio de primeira grandeza, ‘que exige respostas mais priticas do que tedricas. ‘Um ponto central, relativo is reivindicagées das mulheres por maior presenga ‘nos corpos representativos, diz respeito 8 acomodacao com a institucionalidade ‘vigente. Nas vertentes mais interessantes, desde scus primérdios, o feminismo associou-se a uma critica abrangente dos padrées de dominagio social, que inclufa o entendimento de que as instituigSes jgnoravam muitas dessas formas de dominagio e, com isso, conteibutam para invisibilie-las e naturalizé-las. [A forga desse movimento resida precisamente na sua insisténcia sobre 0 carter ‘etrutural da dominagao que s exprime nas relagbes da vida coridiana, dominacao ‘cuja natureza politica tinha sido precisamente negada.” A acomodagio a ordem politica em vigor substituiu o impulso anterior de *refundar’ a democracia, dar-Ihe novos fundamentos, uma nova base moral ¢ politica’, para citar, uma ver mais, Eleni Varikas™. REPRESENTAGAO E ELEIGOES ‘A rigot, um represencante politico € qualquer pessoa que fala ‘em nome de outras nos xpagos de deliberagio. Nas democractas cleicoras, & considerado representante legitimo quem obteve «sa posigio por meio da autorizagio dos representados, con- cedida pelo voto. Representagio ¢eleigées, assim, rornaram-se ‘um par semantico. AA forma de escolha dos representantes (o sistema eleitora) possi impacto significaivo no resultado do processo. Sistemas ‘majoritiris ~chamados de “voto distal’, em vigor em paises “Rane Philips, Te pois of reene, cit. 2 en Varlas, "Uae représntation en tane que femme?” ep 86. idem, p. 120 104 resmaswo x pouICR " ‘como Estados Unidos ¢ Inglaterra —favorecem, por sua prépria lgica, a expressio de interesses de base territorial. Causas que ino estio vinculadas a um determinado local, como é0 caso do proprio feminismo, encontram maior difculdade para eleget representantes Dado que cada distritoelege apenas um representante, nfo héa possibilidade de adogio decotas. Nos Estados Unidos, por vezes foram desenhados distrtos que contemplavam uma maioria ne- 112, fim de garantir a escolha de deputados que representassem «ssa populagio. Como no caso das mulheres no ha segregagio | espacial esse estratagema no pode ser aplicado, ‘A representacio proporcional & em tese, mais favorivel 3s mi- noria permite a adogio de cotas. Quando acorre na forma de lisasfechadas,m que os candidatos sio preordenados, avulta © poder das dregées partidrias, tradicionalmente refatiias & presenga politica feminina. Mas é0 sistema que permite o melhor funcionamento das cota, que tém um impacto quase automtic 'No Brasil vigora epresentagio proporcional com lists aberas, ‘na qual os candidat disputam individualmente o voto popular. ‘Areserva de vagas de candidacura para mulheres, sem dara eas condligées para fazer campanha, alcanga pouca efetividade. Im- plantadas a partir das cleigbes de 1994, as cotas brasileiras tém tido feito modesto na ampliagéo do nero de mulheres eeitas. Ecevidente que a baixa representagao das mulheres nos poderes governamen- ‘ais indica uma forma de desigualdade incorporada no sistema politico. Mas no se pode perder de vista que, por si 6, a maior presenca dos integrantes de ‘grupos dominados nos espagos de poder no eliminaré nem reduziri de ma- neira substantiva a desigualdade politica. Ela apenas fard com que o conjunto de tomadores de decisio se torne mais diversificado ¢, portanto, similar a0 compo social. Nao é desafiada a diferenciacéo entre um pequeno contingente de pessoas que toma as decisbes ea grande massa daquelas que sio submetidas a clas. A concentracio do poder politico num grupo minoritirio permaneceri intacta, com a diferenga (que ndo é irrelevante) de que esse grupo espelhara melhor algumas das clivagens sociais fundamentais. —— ‘VERN EREFRIGRRINQAD FULIENR 10 “Aqui: é possivel evocar a distingio que Nancy Fraser fez entre estratégias afirmativas ¢ estratégias transformadoras. Enquanto as primeiras visam “cor- ‘igi resultados iniquos dos arranjos socias sem perturbar as estruturas sociais, subjacentes que os geram’, as segundas objetivam exatamente “reestruturar 0 quadro generativo subjacente”™. Como politica afirmativa, a busca por mais, ‘mulheres no poder mantém a divisio atual do trabalho politico. O elemento autonomista do feminismo, comprometido com a construgao de uma sociedade ‘com igualdade substantiva eem que cada pessoa possusse maior controle sobre 4 propria vida, deixa de ser prioridade. (O acesso a posigées formais na estrutura de poder néo significa que se esteja, ‘auromaticamente, em posigéo de igualdade em relacio a outros agentes que i se encontram. A politica se organiza na forma de um “campo”, no sentido atribuido ao termo pela sociologia de Pierre Bourdieu. E um espago social ‘struturado, que possui uma hierarquia interna propria eque exige, dos agentes ‘que nele ingressam, a aceitagio de determinada ligica e de certos padres de ‘comportamento, sob pena de serem marginalizados. Constituido historicamente ‘como um ambiente masculino, o campo politico trabalha contra as mulheres (bem como os integrantes de outros grupos em posicio de subalternidade), mpondo a elas maiores obsticulos para que cheguem As posig6es de maior pres- tigio e influéncia, mesmo depois de terem alcancado cargos por meio do voto. (Os grupos dominantes dispdem de mais bens materiais, que Ihes permitem agir de Forma eficaz na arena politica. Esté incluido af o tempo livre, primeiro recurso necessirio para a atividade politica. No caso das mulheres, essa é uma cxigéncia particularmente importante. A presenga no campo politico, sobretudo ocupagio de suas posigbes mais centrais, carrega exighncias de disponibilidade de tempo que trabalham de forma objetiva contra aqueles que estio presos a ‘outros tipos de compromisso. Como, dada a organizagao atual da sociedade, as uilheres sio as principais responsiveis pela gestio de suas unidades domésti- «as, o tempo se tomna uma barreira importante para o inicio ou o progresso de ‘uma carreira politica; com frequéncia,limitam sua ambigio devido a questoes 5” Nancy Fatt, “Socal justice in the age of identisy police: redistribution, recognition, and participation’, em Nancy Fraser eAxcl Honneth, Redisrbucion or receniion? A pli phil ‘ophiel ewhange (Londtes, Vers, 2003), p. 74 © Piere Bourdieu, “La représenaton polcque. Eléments pour une théorie du champ polsique”, Actes de a Recherche em Sciences Scie, n.36-7, 1981 como a necessidade de permanecer morando na mesma cidade, que sio bem menos presentes nos cilculos dos politicos homens", Os dados de diversos paises revelam que, entre ocupantes de cargos puiblicos, o percentual de viivas e solteiras € muito maior que o de vitivos e solteiros. A familia, que para eles pode representar uma retaguarda de apoio & carreira, para elas conta como um. fardo. Em outras palavras: mecanismos de incentivo & participacso politica podem ser meritérios, mas as condigbes para o exercicio paritirio do poder dependem ainda de medidas como creches, divisio das tarefas domésticas ¢ fim da discriminagio de género no mercado de trabalho. (Os integrantes dos grupos dominantes também séo mais bem t produsio do discurso adequado ~ ou, melhor 0 tipo de discurso considerado adequado no campo politico é mais préximo de seus padroes de fala, que sio ‘marcados positivamente, a0 contririo do que ocorre com a fala dos grupos dominados. A fala das mulheres carrega marcas de inferioridade, desde a dis- posigao afetiva associada a elas, julgada como excessivamente compassiva, até 0 prdprio timbre de voz, jé que o mais grave € vinculado socialmente ao exercicio daautoridade”. Por fim, os interesses do grupo dominante io mais facilmente apresentados como interesses universais, 0 que € outro efeito do “imperialismo cultural” ~ cultura ea vivéncia do grupo dominante sio universalizadase vistas como a norma”. A defesa dos direitos das mulheres & uma pauta “especifica’s ‘0s homens podem falar pela coletividade em geral. Assim, apesar dos avangos da presena das mulheres na politica nas iltimas décadas, o discurso politico delas continua carregando os signos de sua subal- ternidade social. A associagio convencional entre a mulher ¢ 0 cuidado reper- cate fortemente na a¢éo no campo politico, fizendo com que elas se dirijam cde maneira prioritéria para questOes vinculadas a asssténcia social, familia ou educagio. As mulheres na politica sio incentivadas a se mover em um circulo reduuzido de temiticas tidas como apropriadas e que, por mais relevantes que ‘scjam em si mesmas, sio consideradas menos importantes ¢ contribuem para segregi-las nas posigdes menos centrais do campo. As marcas da feminilidade no discurso reduzem a legitimidade da falante, mas a auséncia delas é denunciada 1ados na GE. Luis Felipe Miguel eFva Bir, Cleidspio come cit ap. 3 ” Susan Biclord, The disonenc of democracy litening, conflict, and ctizenp (Ithaca, Cornel University Pes, 1996). 97-8. ® Wis Marion Young, justice and the polis of diffrence, cc p59. SS ‘uenem enamine mtr oy como uma falha da mulher que nao as tem: a emotividade iva nao & pertinente num politico, masa frieza¢ a racionalidade nao cabem para 0 sexo feminino. Em suma, 0 campo politico impée as mulheres alternativas sempre ‘onerosas, de forma bem mais pesada do que fiz com seus competidores do sexo masculino. Com isso, surge uma tltima questio de fundo: 0 esforgo deve ser voltado para colocar mais mulheres em posigées de poder ou para fazer avangar uma agenda politica feminista? O impulso inicial na diregio do Estado, quando surgiram os drgios de defesa dos direitos das mulheres, era nessa segunda diregio, Mas a ampliagéo do mimero de representantes do sexo feminino nao sguarda relagio necessiria com uma maior centralidade da pauta do feminismo, ‘Torna-se preciso, entio, investigar a relagio entre a presenca de mulheres no poder ea “representacio substantiva” dos interesses delas, isto , “se as mulheres bbuscam e sio capazes de promover as questdes das mulheres”, {A possibilidade de fazer com que a agenda feminista avance, sobretudo num momento de ofensiva de tantos grupos opostos a ela, como a dircita religiosa, certamente se beneficia da presenga de mais mulheres nas esferas de poder. Mas nio pode se restringir a isso. A compreensio da importincia da disputa nas instituigées do Estado nao deve levar & desmobilizacio de outras formas de ago politica, que contribuam para pressionar essas instiruighes € superar os obsticulos que clas mesmas apresentam 4 promogio dos interesses dos grupos dominados. Tancachet, Mona Lee Krook¢ Jenifer M. Pscopo, “Concepalzing che impact of tender quota, em idem (orgs), The impact of gender qutar (Oxford, Oxford Univesity Press, 2012),p.8. FEMINISMO E POLITICA uma introducdo e que modo o machismo, ou 0 patriarcado como forma de organizagdo das relagées sociais, reduz as oportuni- Fle ieee intern reenter eet aera Geta ne canismos sociais limitam a participagéo delas nas esferas pibli- cas, fazendo com que mais de oitenta anos depois da conquista do sufragio feminino elas permanesam marginais na politica? Como a divisdo sexual do trabalho e os esteredtipos do feminino e do masculino que ela mobiliza marcam a socializagéo das criangas, colaborando para um futuro desigual da perspectiva do género? E em que dimensdes da vida as mulheres permane- cem como menos do que cidadas, tendo sua autonomia restrita e, em alguns casos, sendo ainda definidas como meios para a satisfagdo masculina? Como, enfim, as desigualdades de género se realizam em conexdes complexas com as de classe e de raga, compondo injustigas que obstruem a construgdo de sociedades mais democraticas e igualitarias? As respostas a quest6es como essas sdo discutidas e disputadas nos debates teéricos no femi- nismo, como se vera em todos os capitulos deste livro. Luis Felipe Miguel e Flavia Biroli 6 7885751593967 9

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