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Quarta-feira, 28 de Fevereiro de 1996 | SERIE—Namero 9 BOLETIM DA REPUBLICA PUBLICAGAO OFICIAL DA REPUBLICA DE MOCAMBIOUE SUPLEMENTO SUMARIO Ferras parte do simples principio de que « terra & um dos tuts importantes recursos natirais lee 0 pa Conselho de Ministros dispoe. merecendo por isso ser vatorizala. Recolugao n> 10786: Aprova @ Politica Nacional de Terras © as respectivas Estra, tégas de Implementacd Riesolugio 117/95: Aprova Politica Agrivia © as respectivas Estrapépias de Tmplementagio, 2. O pais também enfrenta o desafiv da reconstrueio ¢ do desenvolvimento, depois de dois provessos que in Muiram negativamente” no aeesso e uso da terra a guerra « seeas, que assolaram o pais e destruiram 9 base produ tiva da’ economia, 5. Com o deelin'o da produgio ¢ das outras fontes de rendimento, Mocambique tornowse dependente da as sisténcia estema e da ajuda alimentar, © tem hoje mais, de 60% di populagio cm estado de pobreza absolut, CONSELHO DE MINISTROS F essencial agora. stim iment ccondmico equitative © sustentivel. Com abundantes recursos nile Resolucéo n.” 10/95 ra's um gronde potencial para restabelecer wma econo. a mia diversiticada, ser possivel eliminar a pobreza © me 0 17 do Outub Ihorar as condigdes de vida de grande pare da populayio. © Programa do Governo refere a necessidade do relur, Neste contexts. unit Politica Nacional de Terras € um go dos mecanismos que @ cindivel de uma mais ampla v abrangente seU_ uso © aproveitamento. de desenvolvimento econémico © social ‘Tomando-se necessério estabclecer, no ambito da im- 4. Porém, a problemética de terras & muito eomplexa. plementagio. do Programa Quinguenal do Governo, as Em algumas sirens cxistem reivindicagdes de direitos so- politicas sectoriais ¢ as respectivas Estratésias de tmple, bre a terra com hase em raizes histéricas. Noutias dress mentacao, 40 abrigo da alinea e) don 1 do antiga 153 o» direitos sobre terra 1ém origem mais recente. da Constituicdo da Reptiblica, © Consetho d: Ministros 5, Como consequéncia dos processo» aima referidos, determina: corre @ deslocagéo interna ou. para os paises vizinhos Unico, Sao aprovadas a Politica Nacional de Terras ¢ de 6.3 mithdes de pessoas. s maioria das quais das zonas as respectivas Estratégias de Implementagdo, em anexo, —rureis. Embo sscmtamenco da populacao hoje esteja ue fazem parte inmegrante da presente Resolugao. na su diltima fase. grandes dreas ainda no e180 reoct: jurem @ acesso 4 terra) oO pades, induzindo ® conclusio de vstarem vazias ow Aprovada pelo Conselho de Ministros, abandonadss, livres para ocupagio por outros grupos. Esta vonclasio © winds potenciada pela frace densidade popu- Publiquese. lacionsl em algumas regides do pats 6. Nas dreas ocupadas. ou que nines foram abandona. das, nao tem sido possivel restabelecer o» antigos sistemas produtivos, por falta de diversus meios de producao, de ymento dos «xeedentes produ: joes do pais, quando a. popu » meio para lancur neves getividades, © Primeiro-Ministro, Pascoul Manuel Mocumbi 1. Fundamenta terras ja ocupadas através de processos I. Mogambique atravessa uma nova fase de desenvol. — encontram as sun vimento econémeio ¢ social caracterizada por uma eco- — formais de concessao. nomia de mercado. F. pois, justifieada a concepe’o de 7. Mesmo onde os terrenos concedidus do ocupam wma nova politica de terras, diferente daquela que orien- toda a area reivindicada pela populagio local. pode tor tou a claboracio da actual legislagio. Esta Politica de narse invidvel o sistema de producio integrado do cam: 52-2) ponds, 0 qual depende do acess a varios tipos de teita para varias culturas ao longo do ano, numa estratégia de produgao adaptada as condivdes ugro evoldgicas exty tants, 8. A esta problemética s6cio-econdmica adiciona-se a inseguranga quanto & titularidade dos direitos de uso e aprovertamento da tetra, causada pela ambiguidade entice ispositivos legats que, por um lado, conferem prova plena sos titulares dos direttos de uso'e aproveitamento da (era enquanto, por outro lado, dispensam de licenga fos tcrrenos. para fins de agiiculturafamibar. Isto tem gerudo conllites nu gistio de tetas, dificuldades. admi istritivas de eadasta e registo, além de imbigao do in- sestimente produtive. 9 Isto ocorre apesar do pals ter grandes dimensdes teniiorias « densidade demogrifica lativamente baixa, allem de possut 1ecursos naturais abundantes. 10. Coren de 75% da populagdo vive nas 7onas rusts ce depende do uso da tetta para o seu sustento. Distaca se aqur © papel a nuddher na uulizagao € patticipacao na gestio de tetray para a produgio de «limentos de subst Tencia lamstiat bem como de produtos para o mercado, 11 As areas actualmente utitizadas para cultuvo, cobicm entie 12 a 16 milhoes de hectares, somente 15%. # 20% do wenntéiie nacional dos 36 milhdes de hectares suivers. Enistem 44 milhoes de hectaits de florestas (58% do terrtGuo nacional), além de pastagens e guar Intetiores. Do total de florestas, cerca de 20 milhoes de hectares (25¢ do terriGrio nacional) seo. florestas produ twas, a serem exploradas com técnicas de mancio racio- rise sustentavers, ¢ cerca de 8,8 milhdes de hectares (11% do tevrd6ii0 nacional) constitucm parquey nactonars ¢ areas de severvas de Jauna e flora. Existem também centenas de guildmetios de pratay belas, © outras dteas de alto potencial tuistico, reutsos minerans, © ainda ‘onas de grande importiincia ecoljgiva que meiecem umn thatamento” especial. I. Uma anélise de oportunidades e limitantes 12. O desenho da Politics Nacional de Terras apota-se fem aspectos estrutunais « conjunturais, ¢ leva_em conta vs faciores de forga ¢ de Traqueza ¢ as oportunidades que © pais apresenta, hoje, em relagdo ao aeesso, uso & spre: vertamento da terra Factores de Forca — guinde extensao terntorial do pais: = pouca populayio em relagio ao territéria (nao ha pressio demogréliew ainda) —telauva abundineia de reusisos de solo, fauna © Hora, cerca de 2500 quilm.tios de costa praias: —solos com boa fertilidade, temperaturas regimes de Chuvas Favoriveis & agricultuia ¢ florestas: lima, pratas, fora ¢ fauna lavordveis ao turismo, —recurses do’ subsolo aparentemente abundant. (falia snvestigagio) au Tactores de Praqueza —maioria da populacdo nfo tem acesso © uso da terra: = pobreza ¢ falta de educagao lormal da mavorta da populagdo: jllam capitals & tecnologia para explorar os recursos; seguranga de 1 Sf RIT — NUMTRO 9 —infracsirutura evondmica © social defveiente; —servigas de apoio a produgay so ausentes ou delicientes, sistemas de fitulacdo, cadastio © 1episto: da term slo deficientes: alta de detinigao de limites tsicos + conceptuars pura delimitagio dos terrenos; sistemas de planeumento do uso do solo melieaser, — degradaciio ambiental Oportundades —ehma de pac — economia de menudo; © compromisse do Fstado em preseryar oy tecur sos mata Prioridades nacionais 15 A politica de (erray tellecte © apota oy ebjectivos prinerpats da poltuica econdiaica e social de Guverno, no que se refere a necossidade de crescimento da produgao anteena. = ehminar a pobreza; promover o desenvolvimento evondimice e human aulosustentado. 14. No que se refere ao uso da terrae dos recursos natuvas, 0» pars deve alvancar os seguintes. objectivos rioritirios (0) recuperar a producao de alimentos, para que seiam aleancadhs nivers de seguranga tlt ment (u) cir condigdes para que a agricultura dose tur familiar se desenvolva e cresgd, tanto em volume de produgao como em indices de produtividade, sem que the Lalte v seu ‘eeurso principal, a terra; (a) promover 0 nnvestimento privado, utilizando de uma lorma ststentével © renlavel a teria © outros. recur: sem prcjudicar os interesses, locals, (i) conservar as dreds de unteresse ecotogico ¢ gerir 6s recursos naturals de uma forma sustent vel, que possa garantir a qualidade de vida da "presente ¢ Iuturas. gerayies (©) actuatizar ¢ aperfeigaar um sistema tributdivo baseado i ocupagio © nu use de tertas, {que poss apolar oS orgamentos plblicos sos diversos_niveis W. Politica de terras 15. De acoide com as prioridades aeimia im « Politica Nacional de Teiras sama em conta vs pt tisos da teria, ineluindo 0 use agritio, utb.ne, mineno, unisticu, © para infiaestiutura produtiva © social, tendo fem conta « proteegao ambiental To A politica de terras tem uma base consensual, © testabelcce us meeamismos pelos quals os recuIsos Natta podem ser explorados duma maneira equitiuva e susten- lavel 17. Os prineipios fundament Sao oy seguintes: is da politua de tenas =A manutenedo da tern come proprustade do Ps taelo, principio actualmente consagiado na Cons tnuigao da Repiblica Gurantia de acess ¢ uso da terra & populacio bem como aos investidores. Neste « mtexto revo nhecem-se os direitos costumeiras de weesso ¢ 28 DE FEVEREIRO DE 1996 ‘gestdo das terras das populagdes rurais residen- tes promovendo justiga social e econémica no campo; —Garantia’ do direito de acesso ¢ uso da terra pela ‘mulher; —Promogiio do investimesto prwado nacional e ¢s- trangeiro sem prejudicar a populacdo residente e assegurando beneficios para este ¢ para o exério piblico nacional; —Participagio activa dos nacionais como parceiros ‘em empreendimentos privados; —Dejinigio ¢ regulamentagio de principios bisicos orientadores para a transferéncia dos direitos de uso ¢ aproveitamento da terra, entre cidadios ‘ou empresas nacionais, sempre que investimen. {os houverem sido feitos no terreno; — Uso sustentével dos recursos naturais' de forma a garantir a qualidade de vida para as presentes e futuras geragdes, assegurando que as zunas de proteccao total ¢ parcial mantenham a qua- lidade ambiental © os fins especiais para que foram constituidas. Incluem-se aqui as zonas costeiras, zonas de alta biodiversidade e Faixas de terrenos ao longo das éguas interiores. 18. Estes prinefpios norteadores ¢ os objectives da Politica Nacional de Terras, contidos neste documento, podem ser resumidos na seguinte declaracao: « desenvolvi mento do pais. Isto permitiré aue terras de um determi- nado tipo possam passar de uma categoria para outra. 60. Nas areas classificadas como Tipo A, onde predo- minam 0 uso urbano ¢ o sector empresarial rural, regula- manter-seio os mecanismos que permititao @ transferén- cia onerosa de titulos de uso € aproveitamento da terra fenjre scus titulares, tanto entre nacionais como de estran- geiros para nacionais. sempre que investimentos tiverem Sido feitos no terreno. Nestas dreas, deverdo ser regula- ‘mentados também os tamanhos minimos dos terrenos, de acordo com as stxs finalidades. Serdo introduzidos outros mecanismos que impegam a especulagio ot acumulagio de terra mas que também incentivem 0 camponés familiar © 0 pequeno produtor, que ocupam terras do tipo A como meio de subsisténcia. 61. Nas dreas Tipo B, onde predomina o sector fami liar, prevalecera 0 consuetudinério na_ transmis so’ dos direitos de uso © aproveitamento da terra. O acesso do investidor a estas reas deverd ser negociado © acordado com a comunidade. Esta negociagéo com a comunidade deverd ser apoiada pelos Sraiios competentes do Estado, a varios niv 62. Nas reas Tipo C. por se tratar de éreas protegidas, seré vedada toda e qualquer transferéncia de ttulos, ex: 52-46) ceptuando as teas que venham a ser identificadas como, sendo para a implementago de projectos previstos nos planos dircetores do Governo 65. Finalmente, nas dreas Tipo D, de ditteit acesso, alem de scr possivel a transteréneia e titulos de uso ¢ aprovettamento da terra, serdo instituides mecanismos de Incentivos fiscars ¢ de mereado paia atrair investimentos, 64 O tegisto da transferéneva do titulo deveré ser perm odo somente apds © pagamento do imposto a0 érgio Fiscal competente 65. A. legisliyao deverd ser um instrumento exw. que permita « actualrzagao ao longo do tempo sem recor- rer a necessilade de fazer revisoes periddicas. Neste con- texto, a ler deve induzir & «formalizagéo do informal» 40 longo do tempo, puneipalmente no que respeita a0 cadastio das unidades do Sector Familia. 66. Resulta-se ainda a necessidade de harmonizar a revisio c regulamentagéo da Lei de ‘Terras com outras leis e politicas {4 em curso ou programadas: =-0 Programa de Retorma dos Orgios Locais (PROL) © a Lei dos Municipios: —a Lei das Finangas Locais =a Let do Trabalho, ~ legislagdes sectorivis sobre Florestas © Fauna Bravia, Aguas, Minas, ¢ Construcio, —4 Politica Nacional do Ambiente: 4 Politica Nacional de Turismo © a respectiva estratégia de desenvolvimento B. Desenvolvimento institucional () Cadasiro Nacional de Tertas 67. © Cudastro. Nacional deveré ser um sistema nico para todo o pais. de tipo multifuncional, que utilizaré um conjunio de metodologias cadastrais e serd interligado. por tuma tinica rede informatica, com padrées uniformes, pa- ra levar a cabo as suas fungbes 68 © Cadastio Nacional tend «1 competéncia adicional de titular os dircitus de uso © aproveitamento da terra, apse a respectiva demarcagao © ajudicagao do terreno 69 Esta entidade deve constituirse numa instituigao auténoma, independente da actual Direegio Nacional de Geogeatie ¢ Cadastro — DINAGECA, que se encarrega. rd das dreas de geografia e cartograt 70. Dada a limitagiio de recursos, deverio ser esco: Ihidas Areas Prioritérias de Acgio para cadastro e utili fcadas de acordo com os seguin: incidéncia actual ou potencial de conflitos; — alta pressto demogréfica/demanda da terra (mesmo reas aparentemente vazias) proximidade de areas urbanas: ial agricola, Florestal, mineiro c/ou turis- tico de uma ret 71 £m cada rea priorititia, deverio tomarse as seguintes medidas para a organizagho do cadastro © titulacdo, (i) as concessdes de terra ficum suspensas naquela firea, enquanto se realiza 0 cadastro: (i) © eadastro rural é preparado usando-se unt conjunto de metodologias cadastrais: (ili) dreas de terra so adjudicadas « unidades de producio (individuais. cooperativas. empresas ou agrupamentos de base etno cultural); 1 SERIE —NUMERO 9 (iv) titulos de uso da terra sao emitidos para aquelas uunidades cujos direitos nio sio contestados. Os casos de litigio serao resolvidos pela au totidade competente a ser especilicada: (») tntulos eujos direitos nao so contestados, ¢ que so portanto considerados como certos, si0 registados no Regisio Predial Nacional, em nome dos seus legitimos possuidores (W) Conservatéria do Registo Predial 72. A Conservatéria do Registo Predial necesita de um fotte apoio na area de procedimentos ope apacitagao de pessoal e methora dos seus ecuipamentos © infraestruturas, 75, Assim como © Cadastio Nacional, o sistema na sional de registo predial deve ser Gnico, muito embora desconcentrado fundamental que os procedimentos © ‘metodologias do cadastro ¢ di Conservatéria xejam com, pativels entre st (a) Trbunats 74 Pata a solugdo dos eveniuats contlites que possam surgir entre os titulares do direto de uso e aproveita: mento da tetra, apés a concessao dos respectivos titulo € necessitio apetrechar © capucitar oy Uribunais distrita © comunitéros, reforcando 1 fungio jurisdicional do Estado « nivel jocal 75 Além de smplicar numa visio da legislayo quan- to a competéncia jurisdicional desses tribunais. 0 sistema seri fortalecide tanto no que se refere as instalagdes. © equipamentos, quanto a um programa de capacitagao dos juizes ¢ auxiliares da Justiga, especialmente para questées de terras (iv) Comissio Inter Ministerial de Tetras 76. A Comissdo Inter-Minsterial de Terns serd os tabelecida a nivel do Conselhio de Ministros, pa panhar 0 processo de reviswo da legislagao. 77. Esta Comissio serd assessorada por um Secietatiado ‘Técnico, com representantes dos ministérios ¢ institui- «Ges apropriadas. (») Aues fundamen pelo Estado na implement de Terras c da sua estratégia. 78 Uma vex aprovada a Politica de Tetras o papel do Estado consistird no seguinte 1 © manter uma hase legal adequada a evo- Tugao da economia ¢ da sociedade; —fortalecer e mantet sistemas administrativos efi- ccazes para ordenar « ugilizar 0 cadastro © regis- to da terra, —lorialecer © maniei sistemas judiciais eficazes © cessiveis para a soluglo de eventuars cont —divulgagio da legislacdo sobre terras 3 popula Gao € eriagio das condigSes necessaries para a efectiva implantacde da politiea de terras: —actualizar © aperfeigoar um sistema tributério baseado na ocupugan v no uso ¢ aproveitamento de terras: —encorajar a participacio da sociedale civil no proceso de gestdo da terra: ~~ elaborar um plano de investimentos 79 Para a execugio das aces previstas a Politica Nacional de Terrase sua estratégia de implementacdo, serd claborado um programa detathado de acces € res pectivo plano de investimentos.

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