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TAYLORISMO § SEUD AKIIFEGIUD Adalberto Marsor aylorismo tem sido a designacao dada a uma transformago nos méto- capitliseas de Bea, ria faticular ambi ‘dade, Apesar de rechgado, desde o inicio, por exacerbar a exptoragio ‘a, | adimitindo-se uma selagdo itinseca ents sacionalizagto ¢ conte social (seja este exercido por vias “democraticas” ov “totalitérias"),’ € possivel falar de uma tradiedo historiogrfica,cujas abordagens tém ressaltado ma primazia de matte taylorista na exact de processos exsencias de controle. Eo que caracte- | da.mbaiho, sera o método inaugurador de um amplo e vitorioso sistema de, ri2a essas abordagens, aqui livremente entendidas dentro de uma tradigio? So- bretudo, a adocio de cértos pressupostos orientadores de uma concepeao de | historia da dominagzo burguesa, que se apéia em trés elementos principals de | analise: 1) a conistrugéo de modelos supostamente-comprovads por fatos ¢ de- claragdes de testemunhas, 2) a idéia de um pracesso histérico articulado mama |, sucessa0 cumulativa de formas, e 3) a demarcagao de lugares ¢ pontos de orf | gem, a partir dos quais as formas se toram exemplarés, consticuindo, eno, as \ matrizes hist6ricas dos modelos. Na busca de uma genéalogia das origens, os in- vvestigadores das formas burguesas de controle costusnam privilegiar dois mo- 153 menio$'é dois lugares de uth processo sucessive. Primeiro, 0 momento dg 'sis- tema de fébrica’, inicio mais remoto e fundador de um sistema abrangente, pes sistente até hoje, cujo Jocus classicus (no dizer de Marx) foi a Inglaterra. Depois, co momento da “fibrica racionalizada" ou taylorizada (ou que outro nome se the ae. grande empress, monopoly capital, corporations, produgao burocratizada etc), fase de intensificagio de priticas anteriores, instauragio de praticas no ¢ universlizacio (a parti dos Estados Unidos) de vendéncias até ent restr: Simbolo do segundo momento, o taylorismo é considerado a base formado- 18 das solugbes administrativas do século xx (Fayel, Bédaux, fordismo, Toyoliss a Tea tas) iseia Gus ss enham ruplotado oo abandoned as pre? osigges tipicas do metodo Taylor Em que pesem sua origem capaisae oc dental e sua vinculagao a um perfodo historico espeaifico, 20 taylorismo atribui- se uma grande vireude: ¢ plasticidade. £ 0 que ficou bem condensado na fala de tum dos organizadores do coléquio intermacional sobre taylorismo (Pati, 1983): © taylorismo reenconira aqui sua primeisa caracteristica, @ ambivaléncia, porque, assim como esté por toda a pane, ele também no esté em parte alguma, Nao ha setor, mesmo no automobilistico, onde os Prinefpios da Or- ‘ganizagao Cientifica do Trabalho tenham sido aplicados sem adaptacées im- porantes, £ justamente este o maior mécito de FW, Taylor: Ter definido\ reas susccivels de se adapter tanto a trabalho dos inforfticos quan-| 0 a0 dos operdrios bragais de canteifos'dé obras. E, poder- “tas, tanto no Brasil quanto em Detoit ou em Leningrado. Por (Torismo est em toda parte, iSio qué? diver também quie ele se difundiu pro- ‘gressivamente em tados os paises, desenvolvides ou néo3 ‘Tratar-se-ia, portanto, de uma unidade de poder que exerceria, uma vez im- plantada na minima parte, um efeito irradiador por todo © conjunto. Deliberadamente ou no, 08 criticos do taylorismo reprodkizem a concep- 20 anacquista de unidade de poder, que estava sendo muito valorizada na dé- cada de 1970, sobretudo pelos investigadores da *sciciedade disciplinar’. Para 0 flesofo nisso Kropotkin, as unidades de poder, assim como os compos celeste, rndo tinham um centro, pois, segundo @ mals recente teoria da gravitagto uot versal, o centro, 2 origem da forca, antigamente transferido da tesra para 0 sol, vol ta hoje a estar esparramado e disseminado. Esté em todas 45 partes ¢ em. nenhuma< 154 sgica dos que estabeleceram os dispositivos da *sociedade disciplinar* no gécu- to wml Desde entio, expe Foucault © poder dscipinar“organize-se como um = podér méluiplo, auomético:e anénimo”, 6 que the permite ser absohitamente indiscieto, pois esté em toda parte e sempre alerta, pois em. principio nao deixa rienhuma parte as escuras € controla continuamente os mesmos que esto encaregados de controlar € absolutamente “discreto*, pois funciona permanentemente ¢ ¢m grande parte em silencio. Inspirando-se em Foucault, Stella Bresciani observou algo cemelhsante 2 pro- pésito da vigiléncia no universo fabril: Acestratégia de um olhar andnimo que tudo vé é vitoriosa quando tal dis ‘pling intemalizada no corpo do trabalhador, produz uma vigitancia 2nd ‘nima que estd 40 mesmo tempo em toda a:parte e-em lugar nenhurn.s © amemate fol dado por E. De Decca: “Hoje podemos dizer inclusive que ‘ taylorismo esti em toda parte ¢ em lugar nenbum’7 Em outras palavras, por sun plasticidade e por sua logica calcada no dispositivo, o método propesto por Taylor teria conseguido vltrapassar os muros da Fabrica € preencher todos 08 paros de uma dominaco mais geral, individual ¢ coletiva. Ubiquo, anénimo e Panel, « poder que emana da organizagio tylerizada seria da mesma nato- reza que as unidades de forga de Kropotkin, ‘of micropoderes disciplinares de Foucault e a vigildncia intemalizada do opersrio fabri ‘De Decca, porém, acrescentou 2 perspectiva disciplinar as teses de histor adores marxistasa respeito do “controle operdrio”, visualizando na afsrnagao de projetos vitoriosos uma histéria subsumida de disputa de controle, Independen- te da origem, dos métodos com os quiais se combinou © da extensio com que fo aplicado, no taylorismo estaila embutida a dualidade dominage/resistencia, até os limites da confrontagio, Para esse “fato", assegurava De Decea, 0 histo- iador deveria dirgir suas atengdes: ‘onde’ quer que © taylorismo aparega como um discurso sobre 2 fibrica, deve estar acontecendo:concomitante ima luta.dos trabalhadores por mai- for controle ac imerior das:mesimas® Imergindo nele, 6 historiador teria acesso, no apenas 2 um mero discurso 155. indicador de una agio patronal, mas 2 inteligibilidade da histéria das socieda- des contemporineas, a uina bascola que the desveridaria uma dominagio Thais geral. Com esse instrumento em mos, o historiador poderia encontrar tanto as, formas de resistencia, embutidas na argomentacko taylosista, quanto 0 proprio espago real de conflitos em que o taylorismo exerce seus iresistveis apelos de uum difuso controle ttaitrio, Nesse sentido, concluis De Deces, Taylor fot mais arguto que muitos i esquerda,-pois-viu muitobem.o-po. der de decisio que os trabalhadores possuiam dentro das fabricas america. nas do firal do sécuio pasado? i © proprio discurso instimidor das classes dirigentes poderia ser utilizade como fiador de uma cronologia (periodos das formas de dominagio) e servivia como autodentincia de préticas instituidas. © historiador eritico da dominagao capitalista, dizendo seguir na contracorrente de uma instauracto progressiva, procura nos escritos disciplinadores (textos de economistas na Inglaterra, assim como as publicagdes de Taylor e de seus seguidores nos Estados Unidos) as pis- tas que evidenciariam lutas de trabalhadores pela preservacio do controle. Pos- to que 0 alvo declarado desses organizadores do trabalho era geralmente reti- rar um determinado controle de quem eles afiimam deter algum po de saber empirico ¢ algum tipo de poder informal, o seu discurso torna-se fiador de um, fato. © movimento disciplinador de cima suporia uma histéria real, embaixo, constituida de atos daqueles que detém e procuram defender algum meio de controle, Se hé um discurso propondo uma a¢20, identificando o antagonista e detalhando 0 que € necessério mudar, conclu 0 historiador critico, € porque deve haver uma ovtra ago que o ameaga Curiosamente, muitos desses historiacores eiitieas, qe incorporaram as vi 88es de Foucault dos processos de “disciplinarizagao", nfo deram ouvidos a uma adverténcia preliminar da autora de uma das primeias andlises hist6rias de inspiragdo foucaultiana na Franga, em 1979: sobre a disciplina, nossas principais fontes provém das élasses dominantes; discurso de cima, 4s vezes elas exprimem mais um projeto ou um progra- ma do que propsiamente uma operigio. Ora, € preciso lembrar que nunca ‘um sistema disciplinar chegou a se realizar plenamente..® Sempre as voltas com um pensamento em simetrias, parece que vivemos em ‘mundos sie moldados pela disciplina da fibriea ¢ to. regulados.pelas normas 156 dg taylorisino (eu, do taylorsmo/fordismo) que raramente paramos para per guilan final, o que nfo & taylorismo? Saber © que & exige pouico esforgo. Recomenda'se que o interessado ‘observe sua vida pessoal e de trabalho, as estratégias de disciplinarizagio da vida moderna. Em seguida, que percorra uma lista de autores que consolidart 0s dados da observagdo, Quanto a0 que Taylor pensava, nfo haveria com que se preocupar f raro o analista que no apresente um resumo pronto dos prin- cipios, das aplicagdes, das resisténcias @ das citcas. ‘Bem mais complicado € procurar © que ndo &. implica desafiar um grande consenso, inabalével apesar de algumas divergncias, ¢ reconhecer ngs escritos de Taylor um discusso que oferece algumas diffculdades, Denise as primeiras ex fncias, urna se impoe: ler sudo o que Taylor escrevev, diretamente. Quem se dis ppuser a essa viagem, deve precaver-se contra algumas ciladas no percuiso, Mul tos desisxem diante da aridez, da crueza verbal, do cinismo, dos uizos arogentes dos relatos de experiéncias meticulosamente montadas para obter ganhos de rendimento por meio da exploragdo de mais trabalho. Impacientes ¢iritados, re- \. comem aos comentadores e, com frequ@ncia, caem na aimadilha das versbes, ‘Daniel Nelson adverte-nos contra os artificios que foram sendo ¢riados na trajet6ria do taylorismo por um antagonismo formado entre duas versbes este- reotipadas: a herbica e 4 caricata, N4o obstante s¢ autonegassem, aimbas con- ‘uiam para um mesmo ponto: fixavam-se, por sua vez, em determinades vers6- ¢s, construidas e consagradas pelo tempo, cujos criadores estavam interessados, em imprimir a0 taylorismo um sentido um papel, determinados e escolhiddos." |AS fSiguas turvas das verses nasceram, em parte, de opgtes tomadas pelo proptio Taylor. Ble sempre defendeu, com clareza, que a administracto de pro Gugio (ou administragdo de oficinas) nao deveria confundir-se com adminis- tragdo de pessoal (ou administragao de empresas). Contudo, atrafds e vencide por apelos de popularidade, permittu que tal entendimento se desse naquela {que se tornaria sua obra mais ctlebre (Principios de administragdo clentifica) Por sais que ele tentasse, posteriormente, desfazer equivocos, os dois métodos mis turaram-se definiivamente, sobretudo apés algumas aplicagSes durante e ap6s a Primera Guerra, na organizago militar e na administragao de indistiias. Nessas alturas, seus discipulos trataram de aplainar as divergencias internas ¢ dissolvé-las ‘em nome de um movimento iniciado pelo mestre. Nelson reconstitui minuciosamente a feitura singular dos Principios, transcor- rida sob pressGes e circunstincias bem definidas. Cuidadosamente preparads, a ‘edigio sofreu nada menos que dez revistes antes de vir a publice. Nem casual, nem apressada, a publicacdo visava um duplo objetivo: fortalecer a corrente pro- 1"

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