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REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA — 215 Dr. Manoel do Nascimento Fernandes Tavora O SR. PAES DE ANDRADE Pronuncia o sequinte discurso — Sr. Presidente, Srs. Deputados, para um homem de oDosicdo, nada mais hon- roso do que, em nome de seu partido, Drestar as homenagens péstumas, que esta Casa deve, a quem, na dura caminhada da sua existéncia, rasgou 0s pés € Sangrou as méos, percorrendo a estrada da Oposi¢&o, pontithada de obstaculos, coberta de espinhos. ‘Ao procurer interpretar os sentimentos da Oposicdo, nesta homena- gem que rendemos ao sauidoso e ins{gne homem piblico que foi Manoel do Nascimento Fernandes Tavora, Pretendemos situar no tompo os lances maiores desta vida consagrada aos interesses superiores da Patria. Na trincheira da Oposico, nas horas mais incertas e dificeis, quando os timidos se omitem, os Coverdes se curvam ou desertam, os arrivistas ablaudem e aderem aos poderosos do dia, Fernandes Tévora alteava a sua voz e vinha para a luta gastar a vida, expondo-se a todos os riscos e des- confortos que @ hora adversa Ihe oferecia. Esta, Sr. Presidente e Srs. Deputados, a caracteristica maior e mais njtida do seu espjrito revolucionario. “A Oposi¢go, disse muito bem Alencar Araripe, fol o campo que ocupou, invariavelmente, na Reptiblica Velha. Enfrentou,’ por isso mesmo © ostracismo, o sistema das atas falsas, das eleicées a bico de pena. Travou disputa renhida © desiqual com os fraudadores e potentados que a ele © acs amigos negavam pgo e aqua.” "Ser politico da oposi¢éio em area seca, cercada de pauperismo, @ ser dentro dela, forte e altivo, 6 herojsmo frontal 4 desesPeranta, A escas- sez ali aguca esperteza através des negociacdes, Nao hé idéia politica que se firme, ngo ha bandeira que salve. Ngo ha fé que se cumpra. E aqui, Sr. Presidente e Srs. Deputados, o esboco de um retrospecto, para fixar bem a figura extraordindria do Dr. Fernandes Tavora. E, mals do que isto, 6 importante definir as linhas essenciais do seu pensamento, cujas caracteristicas, na expressgo do escritor Francisco Alves de Andrade, guardam as origens © preocupacdes sertaneias, a alma toda presa as aspiracdes da terra, cheia de sofrimento, assim como de esperanca, de sonho e sol”. 21 de marco de 1877. O sol dardeia fogo, as fontes est&o ressequidas. As estradés juncadas de sofrimento. A canjcula ardente do flagelo torrifica 0 poeiral das varzeas, e o vento que sopra é como o de mortos na vasta regigo abrasada de todo o Nordeste. Nasce na Fazenda Boa Altura, no Municipio de Jaguaribe, Manoel do Nascimento Fernandes Tavora. Deste quadro geografico, com as tonalidades da paisagem seca e cin- zenta, do relevo dos sentimentos que o emolduram, desabrochariam os Teflexos {ntimos da formacio do cardter e da personalidade do menino sertanejo, a quem o destino reservava os mais duros momentos nas pug- nas poljticas do seu Pais. Esta Daisagem que 0 cerca, em seus primeiros anos, haverla de acompanhar os seus passos, pela vida afora, nas ativi- dades do médico humanitario, do politico de boa témpera civica, habituado, desde tenra idade, a conviver com a adversidade. Fernandes Tévora bem poderia renetir, e deve ter repetido muitas vezes, aquele magnifico pensamento de Joaquim Nabuco, acalentado, quando distanie da terra nat verdade 6 que sinto cada vez mais forte 216 — REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA © arrocho do berco: cada vez sou mais servo da gleba brasileira, por essa lei singular do cora¢go que prende o homem 4 patria com tanto mais forca quando mais infeliz ela 6, @ quanto maiores sgo os riscos e incertezas que ele mesmo corre”, © SR. HILDEBRANDO GUIMARAES — Nobre Deputado Paes de An- drade, interrompo © brithante discurso que profere V. Exa., para transmitir- Ihe um aparte de saudade. Esta tarde poderia ser cognominada de “Tarde da Saudade", porque estamos homenageando a memoria de um grande homem, 0 ex-Senauor Fernandes Tavora. ilustre Deputado Paes de Andrade, homens da marca de.Fernandes Tavora ngo morrem, vive sempre. Hole, Fernandes Tavora esta mais vivo do que antes em nossos espjritos, Bois imortalizou-se. A vida 6 eiémera, passamos rapidamente por este mundo @ logo partimos para a Eternidade. Aqueles que souberam construir, aqueles que viveram para a humanidade, Dara a patria, aqueles que viveram com abnegac&o, sempre Bermanecem em nossas iembrancas, imortalizam-se, entram na Histéria. Peco permissgo a V. Exa. para citar aquela parte gran- diosa do Livro do Apocalipse, quando 0 velho Apdstolo do Amor, S40 Jogo, exilado na Ilha de Patmos, arrebatado em espjrito e vendo uma grande Parte aberta no céu, ouviu uma voz que dizia: “‘Sobe, Jogo, e mostrar-te-ei as coisas que depois disto devem acontecer”. E o velho Jogo, antes de Partir para a Eternidade, teve uma visio global da Vida Eterna, dessa vida além-mundo. Sim, nobre Deputado Paes de Andrade, estamos, nesta hora, homenageando um grande cearense, um grande brasileiro, que esta vivo Mm NMossos coracées € sempre Nermaneceré na nossa mente como um simbolo de vida herdica, de grande homem, de grande brasileiro, O SR. PAES DE ANDRADE — Acolho o anarie de V, Exa, com muito agrado. Realmente, Sr. Deputado, foi uma vida que ngo se perdeu. Ai estio 0s grandes exemplos de quem em todas as horas, com bravura c{vica, de- fendeu a democracia, apostolou o direito e a justica. Prossigo. Sr. Presidente, Srs. Deputados, com estes sentimentos, j4 no ano de 1904, conclujdo 0 curso médico, retorna ao Ceara @ Darticipa do movimen- to que derrubou, no Crato, 0 Prefeito Belém de Figueredo. Mas foge ao primeiro apelo da politica, deslocando-se para o Amazonas no mesmo ano. Reousa, desta forma, o sucesso, sengo na vida publica, pelo menos na clinica facil e rendosa da Capital do Estado. © idealista se deixava arrastar pelos encantos aparentes da mais aspera aventura, que o jogava, nos albores da mocidade, nos barrancos Inéspitos do alto Jurué. Durante anos subia e descia os afluentes do grande rio, no batelgo que se chamava Ambulgncia Tavora, prestando toda sorte do assisténcia, como farmacéutico © como médico, aos nossos Irmaos cearenses, empurrados para o deserto verde pelo espirito de aventura ou pela fome que os desalojava do torrjo natal. Em 1911, em paginas que revelam o mais alto teor humanista, que nascem do seu edificante sacerdécio, escreve Fernandes TAvora, em estilo spaixonado, harmonioso e forte, esta mensagem: “E que forca oculta e misteriosa os impelia para os confins da terra imensa que entso pisavam pela primeira vez; é que traziam no sangue o germe de espantosos herois- Mos, que precisavam de um cenario condiano Dara sua manifesta¢go. Eles haviam acumulado, em séculos de atrozes sofrimentos. através de calami- dades sem conta, essa reserva imensa de energie, que havia de manifestar- se um dia na mais assombrosa epopéia pacifica dos povos. Fol por isso REVISTA BO INSTITUTO DO CEARA — 217 que. a caudal itumana ngo parou um sé instante nas regiées vizinhas & Foz do Rio-Mar, e continuou na marcha encetada, gaigando a embocadura dos grandes afluentes para a verdadeira obra da conquista. Novos tantalos, eles sofreram as mais profundas misérias, es mais intoleraveis dores que 86 fol dado sofrer a ceres numanos, cin meio da mais rica e pujante na-~ tureza do globo. Subiram igarapés, vararam os furos, cruzaram os lagos, Tasgaram floresias, atravessaram cnavascais, vadezram os rios. Estava encetada a conquista e langado o primeiro desafio & natureza inimiga”. “A Historia erguerd um dia a sua voz de eternas resson4ncias, para, através das fiorestas, aguas e desertos, reintearar no convivio e na admiracao perpétua dos brasileiros esses [:dimos expoentes da raga e propiciar-Ihes Teparadora justiga, no regaco amoravel da Batra”. Mas, jé em 1916, a sua irvesistivel vocac&o para a vida pitblica final- mente o domina e o arrasta das maraens do Jurua, da longinqua cidade de ‘$0 Fellpe, para Fortaleza, onde se elege Deputado Estadual pelo Partido Democrata. Concedo o aparte ao nobre Deputado Florim Coutinho. © SR. FLORIM COUTINHO — Nobre Deputado Paes de Andrade, a Guanabara ngo pode ficar alheia _& homenagem que hoje se presta ao grande homem que foi Fernandes Tavora. Ngo conheci o Senador Fernandes Tévora, mas foi meu Comandante Juarez Tavora, que pertence a sua familia. Portanto, é com orgulho que venho a esta tribuna, como representante da Guanabara, para tambem hipotecar minha solidariedade a V. Exa., que, com tanto brilho, enaltece a memoria do grande e saudoso Fernandes Tavora. Quem conhece Juarez Tavora, uma das maiores reservas morais do nosso Pais, bem pode avaliar quem foi Fernandes Tavore. Apresento a minha solidariedade & homenagem péstuma a este grande vulto, a este grande brasileiro que foi Fernandes Tévora, © SR. PAES DE ANDRADE — Recolho as palavras de V. Exa. @ as incorporo ao meu discurso, porque elas refletem, na verdade, a homenagem merecida que o Movimento Democratic Brasileiro, Bancada da Guanabara, presta & meméria do grande cearense. Sr. Presidente, os sentimentos oposicionistas de Fernandes Tavora haveriam de acompanhé-lo, ao longo da sua existéncia, ditando sempre 0 comportamento altivo, onde 0 espjrito de rebeldia c{vica tonificaria a enfi- bratura moral do incansavel lutador. Abrira-se, antes, a campanha civilista que, na expressio de Jof0 Mah- gabeira, significava, na historia da democracia brasileira, um claro no fim de uma noite escura, “Assinala o comago da pratica da democracia pelo exerc(cio do voto conquistado nos comjcios populares. & 0 golDe ao abuso dos presidentes nomearem; Dor assim dizer, seus sucessores. & a morte do velho sistema de eleicgo nos bastidores e esconderiios dos corrilhos, transferindo o pleito para o dia pleno da praca pliblica, ao sol das grandes campanhas da palavra. Fascinado pelos princ{pios do grande embate civico, Fernandes Tavora abraca a causa civilista, e marcha para o pleito que |é sabia perdido. Facil teria‘sido agasalhar-se sob o largo mento protetor da candidatura imbativel do Marechal Hermes. Preferiu, no entanto, ficar exposto a toda sorte de Perigos e de restrigdes, protegido apenas, e tgo somente, pelos principios. Costumava lembrar Fernandes Tavora, nas conversas com os amigos, quando evocava o passado distante, e o fazia sempre com grande emoco, trechos da carta de 19 de maio, dirigida por Rui Barbosa a Azeredo e Glicério: 218 — REVISTA BO INSTITUTO DO CEARA “Vencidos, meu caro Azeredo, terjamos a consolacfo de o ser com honra, © que muito mais é do que vencer sem ela, de salvar os principios, que se devem salvar sempre, ainda quando se perca tudo 0 mais.” Voltemos, porém, as atividades de Fernandes Tavora na conturbada vida politica da Provincia nos idos de 1920, quando 0 cangaco, aliado de chefes politicos, ora do Partido Conservador, ora do Partide Democrata, escrevia uma pagina de luto, de morte e de sangue em todo o interior cea- rense. Florescia, em pleno sertio, 0 império do coronelismo, apoiado pela forga do trabuco. Nesta fase da sua vida, Fernandes Tavora era governo, pertencia ao Partido Democrata, apoiava 0 Governador Jogo Tomé. Incon- formado com certas atitudes politicas do Governador, n3o pensou duas vezes: rompe com 0 Partido Democrata e com Joao Tomé. Troca as ameni- dades do Palacio, e a paz politica em que vivia, pelos rigores de nova luta que haveria de sustentar contra as forgas situacionistas. Funda o Partido Republicano, lanca o ioral “A Tribuna”, e@ nela se entrincheira, travando drduo combate contra o Governo do Estado. Boa témpera de opo sicionista; provado quantas vezes na adversidade, Fernandes Tévora ngo se deprime, nem sucumbe nas lutas desiguais que sustenta, ao contrario, se eleva © se enrijece, no fragor das contendas civicas, Vitoriosa a Revoluc§o de 30, 0 povo cearense corria até a Chefatura do Policia para libertar o Ider civil do movimento democrético que ali se encontrava encarcerado, Abriram-se as grades da prisgo, e, na mesma hora, 98 portées do velho Palacio da Luz para receber o interventor Fernandes Tavora. : © SR. PARSIFAL BARROSO — Desejaria, nobre Deputado Paes de Andrade, a esta altura do seu formoso discurso, acrescentar algo que ndo me foi possivel esclarecer quando interpretava a mensagem da Alianca Renovadora Nacional. Assim como V. Exa. honrou com seu valioso aparie © meu discurso, desejaria, neste instante, acrescentar As consideragées por mim desenvoividas, que foi neste momento exato da vida pitblica do saudoso Fernandes Tavora que pude acompanhar mais de perto sua traje- toria politica. Ngo Poderel esquecer o fato, que considero revestido de historicidade, de 0 haver conhecido pessoalmente, subindo pela primeira vez aquela velha escadaria do Palacio da Luz, em companhia do meu professor — a probidade © a sabedoria feitas homem — Luiz de Morais Correia, para agradecer ao entéio Interventor federal minha nomeacao para Professor do Liceu do Ceara. Ngo posso esquecer, nobre Deputado Paes de Andrade, a associacgo que para sempre se firmou dentro em mim, daquela angelitude que émanava da personalidade de Luiz de Morais Correia e’ daquela: sisudez austera com que me defrontei para apenas ter a honra de’ abertar aquela mZo, nela depositando um sentimento de gratidgo. © SR. PAES DE ANDRADE — Realmente, Sr. Deputado, a austeridade e a rebeldia civica foram as caracteristica maiores que omavam a perso- nalidade desse incansavel lutador. N&o foi muito longe, porém, o seu convivio com o poder revoluclonério. Deixando companheiros da revoluc3o perplexos, rompia com Getiilio Vargas — e Droclamava: “Rompi com o Presidente Getiilio Vargas por motivos poderosos que ngo vém ao caso enumerar; e incompreendido por compa- nheiros da Revolucgo de 30, abandonei a interventoria do Gearé, con- tinuando a luta pelo ideal inatingido ... Compreendi que a batalha da liber- dade ngo € um episédio, nem uma vitéria que se ganhe de uma sé vez: mas, antes, 6 uma luta incessente que no termina com os triunfos e re- vezes": .Em 1934 Fernandes Tavora chega & Assembléia Nacional Consti- tuinte, ostentando, com certo orgulho, 2 diplomas: um outorgado pelo povo REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA — 219 cearense, outro conquistado sob a legenda da Legigo Autonomista Acreana. Fez a oped natural, que mais se compatibilizaria com os seus sentimentos, Pela representaggo do Ceara. © SR. MARCONDES GADELHA — Nobre Deputado Paes de Andrade, estava admirando a profundidade da andlise em que V. Exa. traca a perso- nalidade de Fernandes Tavora. Quando se presta homenagem como esta se faz Justica, num sentido amplo, 20 Proprio ser humano @ se acentua @ se reiiera o carater essencialmente humano da Historia. Nao sou daqueles que acreditam que as grandes correntes historicas sejam engendradas apenas por forcas geo-economicas. Acredito na forga criadora do homem; acredito que 0 itomem seja realmente a grande forca motriz que faz os fatos aconteceram. Mo que tange particularmente & figura de> Fernandes Tavora, esta homenagem se torna tanto mais justa e tanto mais humana quando consideramos que Fernandes Tavora arrostando dificuldades, con- tribuiu com o seu esforco, com a sau presenca, para plasmar a consciéncia civica do Ceara e do proprio Brasil, E digna a sua meméria de todo o nosso respeito e de toda a nossa admiraggo. A sua histérica precisa ser contada nesta tribuna, repetida nas ruas, nas escolas e estendida até as_universi- dades. Receba V. Exa. 0 aplauso e a solidariedade da Paraiba neste modesto aparte. O SR. PAES DE ANDRADE — Deputado Marcondes Gadelha, o aparte de V. Exa. me faz lembrar uma frase de Fernandes Tavora quando se des- Pedia do Senado da Reptiblica, em 1963, acasiao em que recebeu uma verdadeira consagrac§o de seus pares. Ao terminar seu memoravel dis- curso afirmava:. "“Srs. Senadores, roo a Deus que ngo me deixe morrer amaldigoando a meméria de brasilciros deserdados de civismo, que cons- piram insanamente contra a liberdade, contra a Patria. Continuo, Sr. Presidente. Por toda esta tormentosa legislatura, desejo apenas me referir a um episédio da atuac§o parlamentar de Fernandes Tavora, porque ele, em si, encerra um gesto de grandeza, imperecivel, qua serve de estimulo e de inspiracgo permanente, a quantos, neste Pajs, lutam pela restauraggo do primado do Direito, pela recuperacio das prer rogativas e da dignidade do Poder Legislative, pela restitui¢§o ao Poder Judiciério das garantias de independéncia e de seguranca nos seus julga- mentos, Em sesso agitada, noite adentro, discutia-se’o artigo 14 das Disposigges Transitérias da’ Constituicgo de 1934 — que determinav: “Ficam aprovados os atos do Governo Provisério, interventores federais nos Estados e mais delegados do mesmo Governo, excluida qualquer apre- ciaggo judicial dos mesmos atos e de seus efeitos”. No acesso dos deba- tes, ergue-se o velho revoluciondrio, @ com a autoridade da sua palavra, langa 0 seu protesto indignado: “Sinto-me, Srs. Deputados, na infugivel obrigacdo moral de declarar que voto contra esse dispositive do projeto da Constituicgo, hd pouco submetido & apreciacgo desta Assembléia. O meu siléncio equivaleria a julgar perfeitos ou indiscutiveis todos os atos que pratique! como interventor no Ceard, assumindo, inso facto, a fun¢go de juiz em causa prépria; e a consciéncia de cidadgo e de catdlico ngo me permite aceitar e, ainda menos, sancionar um prévio indulto aos meus Possjveis erros, privando de reparagao todos aqueles aos quals, por forca da contingéncia humana, eu haja lesado em seus direitos." Gesto altivo, Sr. Presidente e Srs. Deputados, testemunho elogiente de uma consciéncia politica voltada permanentemente para o respeito aos \direitos humanos. Nesta repulsa ao famigerado art. 14, que mandava excluir de apreciacgo judicial os atos praticados pelo Governo Provisérlo, Fernandes Tavora ngo sé conservava intacto © llmpo o relicérlo de sua 220 — REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA konra civica, como reafirmava perante a Nac§o a fé e a crenga de que “as constituigdes ngo se adotam para tiranizar, mas Para escudar a cons- ciéncia dos povos". A exiguidade de tempo ngo permite, Sr. Presidente, que alarguemos mais as nossas consideracées sobre as alividades parlamentares do grande brasileiro; mas, ndo poderia fechar esta pagina de saudade sem ressaltar a ingente luta que iravou em defesa dos interesses do Nordeste. Em todas as horas, condenava as providéncias paliativas, 0 gosto desastroso de administradores incompeterites pelas improvisacdes; mais do que isto, n3o se cansava de indicar aos governantes 0 planejamento global, como so- luggo racional para os dramas que afligiam 0 Nordeste brasileiro. : Bateu-se ardorosamente nas Constituintes de 1934 e 1946 pelo au mento das rendas municipais, pioneiro que foi do municipalismo. Nacionalista de boa formacgo e largo descort{nio, esquece, sengo su- foca os ressentimenios, que a’ politica de Artur Bernardes cavara-Ihe na alma, para, ao lado do ox-Presidente, desfechar memorével campanha contra as descabidas e criminosas pretenses da Itabira Iron. © SR. ANTONIO BRESOLIN — Atento & andlise profunda que V. Exa. esta fazendo sobre a vida e a obra do saudoso Senador Fernandes Tavora, senti e vivi — 0 mesmo santimento que me dominou em Fortaleza — a grande afinidade que existe entre o gaticho e o cearense. A.mesma bra- vura, 0 mesmo idealismo, a mesma fibra, a mesma tenacidade inquebran- tavel dos homens que mais projetaram os dois Estados. A liberdade ea independéncia sempre constitufram aDanagio dos dois Estados distantes. Os gatichos, que delimitaram as fronteiras do Rio Grande do Sul com @ ponta da lanca, © o eminente cearense, que V. Exa. tg0 bem descreve e que caracteriza a gente daquele grande Estado, tém afinidades comuns. Ha pouco tempo, visitando o Estado do Ceard, a convite do seu Gover- nador, quando tive oportunidade de estar com V. Exa., a grande apro} mac&o @ 0 espjrito de luta sempre aceso, pelos grandes ideais humanjs- ticos de liberdade, que animam e que unem os dois Estados longinquos. A mensagem que V. Exa. presta, em nome da nossa Bancada, & memoria daquele grande homem publico que tanto projetou o Estado do Ceara é uma das mais justas, Ao falar sobre um parlamentar que ngo pertenceu 20 nosso Partido, mas que prestou tgo assinalados servicos & nossa Patria, V. Exa. esti engrandecendo a nossa agremiaggo politica. Em meu nome pessoal e no da Bancada do Rio Grande do Sul, trago-ihe a nossa integral Solidariedade pela magnifica oracgo em homenagem & meméria de quem tantos servicos prestou ao Estado do Ceard e ao Brasil. O SR. PAES DE ANDRADE — O aparte de V. Exa., Deputado Anténio Bresolin, ilustra este pronunciamento. Vou concluir, Sr. Presidente, Com aquela’campanha, impedia-se a renovatgo de um contrato alta- mente lesivo aos interesses nacionais. Daf resultou o surgimento da Com- panhia do Vale do Rio Doce. Esta e outras posicdes nacionalistas nfio se perderam no tempo. Valem como alento aos que ‘hoje defendem.uma poli- tica econémica inspirada na justica social e na predominancia dos inte- resses nacionais, tantas vezes sacrificados & invasgo e dominio do capital internacional. Muito se poderia dizer, Sr. Presidente e Srs. Deputados, mais deveria ser dito ainda sobre a vida de Manoel do Nascimento Fernandes Tavora: “valente, rebelde, austero, incorrupt{vel homem de oposicgo na RePiblica Velha — vertical, sempre vertical na Reptiblica Nova” — dizendo NAO, mil vezes NAO aos que tentaram violar os direitos humanos neste Pajs. (0 orador é abracado)

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