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FERRARA,L. A. Os significados urbanos, So Paulo:EDUSP, 200.185 p. Capitulo 6: Arquitetura como signo do es} spaco. P 153-161, Capitulo 8: Redesenho de uma ideia. P 175-185. A ARQUITETURA COMO SIGNO DO ESPAGO! A LINGUAGEM DA ARQUITETURA, A arquitetura tem sido definida como uma maneira de organizar 0 espa- 0; dessa defini¢ao decorrem os conceitos de organizacao ¢ de espago €, sobre- tudo, as conseqiténcias das relacdes entre eles. Organizar supée estabelecer um sistema de ordem entre elementos que, naturalmente, apresentamsse dispessos, desordenados. Mas, organizase “por meio de", ou seja, toda organizagao exige uma mediacio, um elemento, forma ou modo pelo qual se ordena; exige um signo que demonstra ¢ indicia o modo de organizar: portanto, toda organizacéo é légica, & Tinguagem produzida por sig: nos que, por sua vez, sdo representacdes dessa especifica maneira de organizar Essa Logica ow linguagem é to maltipla, variada e complexa quantos ¢ como forem os sistemas pelos quais se organiza, Cabe & semidtica estudar essa Logica. ‘Assim sendo, quando se define que arquitetura & organizagio do espaco, estamos no terreno da semiética e necessitamos dessa logica para entender a dimensio que esti implicita nessa definicio. Sintetizando © pensamento de Le Corbusier para o programa modernis: ta, assim se expressa Giulio Carlo Argan: 1. Gom o titulo de “Arquiterura Linguagem: Invetgacio Continun” este trabalho fot parcatmente publ uu con Ana Cliudia Oliveira e Yuna Fechine (orgs), Mowaidady, Urbanidade Inervabidads, Sto Pav, Backer, 198, 154% Os Significados Urbanos ‘A forma actistica é 0 resultado légico do “prébiema bom formulado": os nuvios a ‘vapor; os vides cuja forma corresponde exatamente & func, Sip belos como © Partenon. Evidentemente, o problema bem formulado é o que traz todos os dados em orclem € cuja solugao ado deixa incdgnitas nem residuos, Reduzindo os dados a um denomina- dor comum, restam apenas dois: de um lado, a natureza, de outro,.a historia ou a civ lizagio. His a equacio que & ne ser uma contradicao. Como no dominio da razéo pura no subsister contradicées, nao pode haver oposicto entre 0 objeto-edificio e 0 objetonatureza, entre coisa © espaco. Sao emtidades semelhantes, redutiveis uma a outra com simples: relagdes de proporgses. Le Corbusier encontrara a formula pitagérica: 0 homem como medicla de todas as cot sas, a medida humana, 0 Maduior O edificio nao atrapalhara a natureza aberta colocan- dose como um bioco hermético; a natureza nao se deterd A soleifa, entrara na casa, O espaco & continuo, a forma cleve se inserir como =spago da civilizag4o, no espago da natureza [Argan, 1992, pp. 265-266]. cessirio resolver, convertendo em simetria 0 que parece Essa longa citagdo nos permite observar que, para Corbusier, a organizagao do espago por meio do projeto &, no melhor estilo da Carta de Atenas, a mediagio da razio ¢ da orem como pares incontestes de uma sociedade democratica. Para wise i leparceocdd a aaacaaN onganizat 0 espago, utiliza-se o projeto que se confunde com os elementos que se ‘emprega para aquela organizagao e com os quiais ela é traduzida; a simetria, a niio contradi¢ao, 0 espaco pitagérico, o antropocentrismo do Modulor. Em conseqit arquitetura submissa aos vei para.a comunicagéo das solugdes projetivas; assim, passase do croquis ao % ncia, essa traduc&o faz com que se entenda a linguagém da :los expressivos usados, no presente € no passado, nho téenico, da maquete aos recursos infogrificos. Entende-se que o espaco é manipulado tecnicamente para adequarse a uma estabilidade funcional que 0 submete a um cédigo projetivo absohuto e imutivel, O espago que a arquitetura organiza é bidimensional ¢ seu signo é 0 desenho (Perrone, 1992] que ata como elemento especifico que caracteriza sua sintaxe; tal como a visibilidade do traco eda cor para a pintura, o volume para a escultura, 0 som e o ritmo para a mtisica, a excitacio entre o som ¢ 0 sentido para a literatura, conforme a antolégica defi- io de Paul Valéry, Reduzida ao espaco bidimensional, a arquitetura confun- el, sua dese com © projeto arquiterdnico € o desenho € seu signo incontest representacao, Enquanto signo da arquitetura, o desenho a circunscreve ao espaco bidi- to que caracterizam o espaco tridimensional e, muito menos, da mobilidade dindmica do espaco social construido e habitado, Peter Bisenman, em artigo cé- mensional de uma pagina c jamais podera dar conta do volume ¢ do movimen- | lebre, observa e analisa esse conflito: } A percepedo espacial historicamente condicionada pela visio, pela perspectiva renascentista, pela greta tridimensional cartesiana e pela hierarquia entre interior ¢ A Anquitetare como Signo do Espazo + 1 exterior, opdese enquanto possibilidade' virtual um espago arquiteténico de outra or dem {..]. Nao foi por acaso que a invengio de Brnelleschi, a perspectiva de um ponto de fuga corvespondeu a urna época onde o paradigima teolbgico € teocénttico foi subst tuido por unta visio do mundo antropomérfica # antropocéntrica, No rastro desta smudanga, a perspectiva passou a ser © meio através do qual a visio antropocéntrica se cristalizou na arquitetura Contudo, o sistema de projecio de Brunelleschi era mais profundo em sua efici- cia do que toda 4 mudanga estilistica subseqiiente, pois atificou a visio como o diseur so dominante na arquitetura, desde o século XVI até hoje, Deste modo, nao obstante as repetidas mudangas de estilo desde a Renascenga até 0 PosModernissno, © apesar de tantas rentativas no sentido conttario, o sujeito umano que “vé" — uaiocular ¢ antropo- céntrico ainda € o termo discursivo primordial da arquitetura, A wadicio planimétri ca na arquitenura persistin incontestada porque permisit a projecso €, portanto, a com preensio do espaco tridimensional em duas dimensSes (Eisenman, 1995, pp. 1415] Peter Eisenman, em aguda reflexio sobre a natureza da arquitetura e do projeto a partir do impacto dos processos eletrOnicos, assinala as modificagses introduzidas em relagéo ao sistema mecdnico de pensar ¢ projetar a organiza gio do espago. O impacto da eletrOnica sobre a arquitenura ultrapassa o simples recurso expressivo da infografia para resgatar as notaveis transformacGes intro duzidas no processo de reflexio quando se torna tecnologicamente possivel a simulacdio das intervengdes no cenario contextual, além da possibilidade de operar, simultanenmente, com a experimentacio, ainda que virtual, das idéias desenvolvidas no ato projetivo, Esse simulténeo pensar e produzir as possibilida- des de intervenco da arquitetura acaba por estiraular a propria reflexdo; traba- Iha-se com um simulacro “total” do projeto ¢, interativamente, esse exercicio 44, ao arquiteto, a informacao que Ihe permite pensar sobre a namureza funcional ¢ estrutural do espaco. Revelase a arquizetura como dominio de linguagem; como produtora de cultura enquanto propde, por meio do projeto, outros usos, Ou iras informagdes no espace. A ARQUITETURA COMO UNIDADE Nao ha como confundir arquitetura e projeto arquitetdnico; se 0 projeto articulase no espaco bidimensional © o desenho € 0 seu signo, a arquitetura instala-se no espaco social do edificio ou da cidade e sex universo de represen tagio esti voltado paca a necessidade de construis, no espaco, o projeto de waa sociedade ou de uma escala de valores, ideologicamente marcados no tempo, Isto 6, quando socialmente vivenciada, a funcionalidade utilitaria do projeto como organizacio do espago mostra sua insuficiéneia ¢ ostenta a relatividade da sua mediagao como organizacio. A essa altura, & insuficiente a commnicacao expres: 156 + 0s Significadas Urbanes siva, pois 0 desenho jé nde é signo da arquitetura, mas ao contririo, ela mesma, a arquitetura, é signo de uma concepe’ sociedade industrial, livre » urbana; esse era o valor da ideologia modernista que niio podia ser resolvido n pratica do projeto e ainda perdura como desafio {Silveira, 1993] Nessa perspectiva, ja no cabe falar em linguagem da arquitetura, mas € necessirio estudéta como linguagem que estrutura ura conhecimento transmis: cle espaco para 6 novo homem de uma sivel tedrica € metodologicanente, Como linguagem, a arquitetura é represen- taco, é signo da relacéo de conhecimento que se processa entre 0 espaco ¢ 0 homem que sobre ele interv'm, por meio do projeto ou do uso cotidiano. Um. signo complexo que se compée da mistura de outros signos parciais que incidem sobre as relagdes sociais no espaco e no tempo € interferem na produgao/cria- plo da instabilidade dessas reiagdes. Um signo polissensorial feito de icones ou Ac indices utilitérios pelos quais as relacdes ¢ valores sociais se concretizam. icones f indices que esto presentes nas escolhas individuais e coletivas, locais ¢ globais, que direcionam a vida de todos os dias: nosso modo de habitar, de trabalbar, de consumir, de locomogio, de todas as representagdes da nossa individualidade. Esse signo compl xo é de baixa definigio porque ndo possui cédigo que agilize © garanta a informacdo que processa, porém, sugere grande riqueza informati- va, embora de dificil percepeao. | Ao se perguntar 0 que é céncia e construir “Una Classificacdo Detalhada das Ciéncias", Charles Sande:s Peirce [1978, vol. 5, $§ 371-373] investe contra os conceitos estabelecidos € desenvolve “uma nogio de ciéncia come coisa viva endo uma mera definigao abstrata". Como coisa viva supée a ciéncia em estado permanente cle metabolismo e crescimento. ‘Transformagio, metabolismo ou cres- especiais. Nessa classificacio interesse-nos, de um lado, as ciéncias especiais, &s cimento atingem a ciéncia da descoberta: a matemitica, a filosofia e as ciéncias | i quais cabe estudar as manifestagdes da realidade , de outro, a propria semist- i ca que, como ciéncia normativa, ocupase das caracteristicas da experiéncia como. possibilidade de aprendizagem instalada no fluxo cognitivo do viver € elemento Como cigncia especial, a arquitetura tem uma dupla caracteristica: de wm lado, ocupase da construcio/transformacao do abrigo do homem; da habita- imprescindivel para a mudanga de comportamento. | 40 4 cidade, pela composi¢io de formas em materiais que revelam suas virta lidades ao concretizarem aquelas formas; de outro, é uma experiéncia que tem como cenario os ambientes construidos. O conjunto de formas/materiais consolidados historicamente constitui o ] | panorama da arquitetura como ciéneia especial diretamente vinculada arte. Una : etinica em cada exemplar, impée-se pela propria qualidade de produzir formas cm matcriais, mas nao se submete a andlises ou desafios de reconhecimento. Ela 4 A Anquitera como Signo do Espaco * 157 € ese impée na sua unicidade intraduzivel. Como arte, a arquitetura é icone a competir, no espaco, com os volumes da escultura, o que faz com que ambas sejam préximas ¢ comunicantes, isto é, a arquitetura, como arte, é a manifesta- cho escultérica da cidade, um patriménio da cultura material. Porém, enquanto experiéncia, ela é chiplice e se déscobre como desafio que o homem responde a medida que p-ocura, utilitaria e fencionalmente, encontrar a melhor alternate vva para satisfazer stias necessidades individuais ¢ coletivas de abrigo € de prote- so didrios. Da habitagao A cidade, a arquitetura como experiéncia impée, & sua mani- festagio artistica, a ambigdidade de uma representagao que, por meio de formas e materieis, é funcionalmente reconhecicla. Um signo icbnico/utilitirio no qual forma e fun¢do compdem um bindmio de forgas, as vezes, antagénicas com 0 qual o homem aprende a transformer seu comportamento a fim de encontrar, no espaco cont#ruido, as melhores alternativas para a vida cotidiana, Ao mesmo tempo arte ¢ experiéncia, 2 arquitetura assinala, para a humanidade, as marcas culturais das transformagées historicas. Marca artistica no espago ¢ mudanca de vida no fuxo do tempo. Um signo ambiguo: icone ¢ fungio, a0 mesmo te1npo; ais, essas entidades opostas, mas Gnicas ¢ in- na realidade das intervencdes espac dissokaveis na sua concretude, fazem da arquitetura um conjunto harménics. ‘A diivida sobre a dualidade forma/fungtio em arquitetura abre um pro- blema que se amplia na seguinte série de elementos relacionais: arte/ciéucia, expressao/representacio, imagem/significado, imagem/imaginirio, Ou seja, a compreensio dicotémica subjacente a hierarquia forma e funcio nao é, sendo, una tadugao de outra dualidade ‘jue tem dificultado a leitura da imagem ur bana. Refiro-me & divisio entre imagem ¢ sentido, ou radicalizando, entre for ma e contetdo, entre sintaxe e serwantica [Prado Jiinior, 1990, pp. 18 € ss.] ‘Ao tratar de entender a natureza da imagem urbana, somos levados a dla como marca do descrevé-la na sua manifestacio formal capaz de identifi: poder politico e institucionalmente reconhecido, porque assim é eodificado, De caréter communicativo, essa imagem identificase com a eficacia sintética do sim bolo, pociendo ser reduzida a alguns tragos bésicos de forte apelo visual ¢ repre- sentativo desse valor. Porém, essa imagem explora exatamente aquela dicotomia vista antes, na medida em que concentra 0 apelo formal visual da imagem para atender a urna fangao wtilitariamente fixada, Ou seja, essa imagem transformase num habito perceptivo de ver a cidade. Para alcangar 0 significado da arquitetura, quando nos leva ao comhecimento do espaco, é necessario superar a dimensio utilité- ria/funcional da imagem, a fm de poder perceber a relacéo dinimica ¢ simul tinea entre imagem e sentido irmanados num todo harménico que desafia a per copgio e define a natureza da arquiterura como signo do espaco 158 + Os Significaas Urbanos A ARQUITETURA GOMO SIGNO DO ESPAGO A arquitetora € signo do espaco € sua instabilidace esta representada pelo proprio ciclo vital que © atinge; intervengao, vida til, degenerescéncia sio eta- pas arquiteténicas do espago e caracterizam seu dindmico process de repre- sentacio [Rowe © Koetter, s.d. ¢ Krier, 1981]. Como bnguagem, a arquitetura € representacio, é signo da relacdo de conhecimento que se processa entre 0 bomem, 0 espaco e o tempo. Em relaao ao espaco, esse conhecimento se da sempre que 0 homem intervém transformando o espaco por meio do projeto ou do uso cotidiano. Em relagdo ao tempo, esse conhecimento se dé como de- corténcia da intervengao anterior capaz de assinalar as diferencas dos tempos ¢ criando as dimensoes da histéria que narra a mais rica experiéncia informa- cional que jé foi dada 20 homem viver. Redimensionase a definigio inicial e entende-se a arquiteura como organizacio do espaco nos tempos hist6ricos. Essa relacdo escreve uma histéria do ambiente construfdo pelo proceso de comunicacéo que se estabelece entre a intervencao cultural do arquiteto ¢ 0 modo como atinge usos ¢ valores do espaco, Considerar a arquitetura como guagem sugere 0 estudo do espago construido e habitado nas suas representa: ces € no didlogo histérico que estabelece entre as maneiras de pensar ¢ trans- formar 0 espaco e, ao mesmo tempo, construir os significados da arquitetitra Superase a hegemonia de edificio isolado para reencontrar a arquitetu- ra na dindmica ambiental urbana e no didlogo que estabelece com 0 contexto econdmico, social ¢ cultural do espago; redesco’ se a relacio entre arquitetu- rac urbanismo, em parte esquecida nas tiltimas décadas. A arquitetura estuda- da como linguagom é fluida e mutante como a cidade, ¢ essa mutacéo caracte- viza 0 vepertério cultural que transita do emissor arquiteto ao receptor usuario para fazer conviver qualidade ¢ quantidade de informagio e, sobretudo, para ambos, uma constante exigéncia de escolha entre alternativas. Estudar a arquitetura como produtora de conhecimento do espaco su- poe enfrentar o desafio de compreender 0 projeto como elemento de ressig- nificagio da cidade e, por meio dela, dos valores culturais de um povo, de uma coletividade. Ambos, arquitetura e cidade projetados. Nessa dimensio, descon- sidera-se a monumentalidade do edificio, visto que sc assume que os ambicn- tes urbanos so, na esséncia, provisérios, se envelhecem ou degradam é por- que transformaram:se 0 espaco, sta fungio ou qualificacio, Nessa insercao da arquitetura na cidade, 0 desafio € criar espacos para novos usos c outros sig- nificados; arquicetura como intervencdo cultural por meio da forma e da qua- lidade do espago, algo que vai muito além do simples desempenho projetivo. Entender a arquitetura como linguagem ¢ assumita como instrumento de in- tervencio cultural; interagem arquiteto e usurio, espago € uso. cases A Anquitetura como Signo do Espace * 159 Essa dimensio de estudo coloca duas questdes basicas € complementares: uma é funcional ¢ polissensorial, ao resgatar os estimulos sensiveis dispersos no espaco; a outra é inteligivel e refere-se & capacidade humana de produzir conhe- cimento por meio dos signos. Essa produgio é inerente a qualquer estudo de linguagem ¢ envolve a escolha entre informagdes que se apresentam como al ternativas para tornar possfvel a experiéncia da vida cotidiana, responsavel pela caracterizacao de um modo de comportamento, uma mentalidade cultural ¢ sua possivel mudanca. Entretanto, € necessirio no confundir o estudo da arquitetura como line guagem com a estética, a histérie ou a teoria da arquitetura, ainda que, por ve- es, seja necessdrio resgatar a informagio do prssado para entender a historia de um uso ou a interferéncia de materiais na producio do espaco ou no modo de habitar ou, ¢ talvez com mais freqiténcia, aprender, na longa duragao hist6- rica, os signos que, lidos em sincronia, permitem aproximar espacos diversos em tempos distantes (Le Goff Vovelle, 1990] E com a riqueza dessa dinammica que o estudo da arquitetura como signo do espaco nos faz interagir. Por um lado, ele nos ensina a operar com um ripi- do processo de inferéncia que corresponde a uma realidade cotidiana mais fle- xivel e instivel, por outro, levanos a constatar que 0 espaco social organizado pela arquitetura nao possui uma linguagem A qual corresponde um cédigo de- finitivo, ao contrario, temos um processo que se desfaz ¢ se refaz ante cada es- paco e cada leitura; & riqueza de sua produgéo, corresponde analogo desatio per- ceptivo que acentua o processo inferencial, visto anteriormer A ARQUITETURA COMO CONHECIMENTO DO ESPACO Esse processo dle conhecimento se enconua na produce, perceprao ¢ leitura da cadeia signica inscrita na dindmica social do espaco urbano construi- do pela arquitetura, mas desdobrase na maneira como interfere na investiga cao entendida extensivamente, ou seja, da atividade projetiva & receptiva da in- tervencio arquitet6nica, Enquanto pesquisa, a linguagem da arquitetura desenvolvese sem teorias ou métodos estabelecidos a priori. Contréria a toda postura dedutiva, nfo pre- tence explicar o ambiente construido, mas atenta & realidade ambiental, obser vae indaga, a fim de ler os clementos que caracterizam cada realidade contextual ‘Ao indagar, levanta hipsteses possiveis, pois suas categorias de anilise no sao explicativas e necessérias, mas tendem @ leitura da experiéncia cotidiana que se desenvolve no espaco uthano. Um exercicio que soma sensibilidade perceptiva e agilidade intelectiva; ata entre sentido ¢ razio para produrir uma inteligibili- il 160 * Os Significadas Urbenas dade, sem padrdes determinades. Eliminase a certeza porque se supera a ne- cossidade explicativa das catssas estabelecidas em cadeia linear; a0 contrério, in- vse 0 dificil didlogo entre a contradis espaco e do conhecimento que produz, Es- io, a auséncia da légica explicativa, corpo! a incerteza, a evolucao continua # tabelece-se a dificil conversagao ntre simetria e assimetria, entre o linear ¢ 0 contraditério que se procurava evitar desde a Renascenca. A nnecessidade de desenvolves uma criativa associagdo de espacos, formas, cores, volumes faz com que o projeto arquiteténico assuma um eficiente dialo- go contextual que the permite dar origem aos lugares urbanos; os reconhecidos pontos de referéncia que dependera, claramente, da interveneo arquitetonica. Nessa dimensio, a arquitetura é pratica de organizagao do espago no tempo que, continuo, transformase e se evolui relativizando as intervengdes, seus lugares ¢, sobretudo, 0 proprio ato projetivo, Descaracterizase a arquitetura como aura artistica do objeto tinico submetido ao ritual fruitivo da simples visibilidade monumental. Porém, essa relatividade nao autoriza uma omissio ou descuido do proje- to arquitetdnico na produgéo dos valores ambientais, ao contrério, a arquitetu- ra compae o ambiente construido, é parte ativa do intenso processo informati- | vo que caracteriza © cotidiano urbano. Supde um carter de intervengio que | redimensiona o espaco com outra taxa informativa e possibilita outras experién- 4 cias vitais; 0 projeto arquitetdnico nasce integrado ambientalmente, ou apenas se desgasta no monélogo da esculrura, Esse compromisso entze arquitetura € espaco urbano supée uma ética da atividade projetiva que nao autoriza brutais | impuctos ambientais, mosmo ante a argumentagio ou justificativa que realgam. 7 possiveis solucées de thuxo vidrio, necessidades de transporte ou valorizacdo do solo urbano. Sendo necessariamente contextualizada € compativel com uma elei¢o de valores iocalizados, a arquitetura como Tinguagem enfrenta um complexo pro- cesso de recepeao. Enquanto forma de organizagio do espaco no tempo, a ar | quitetura enfrenta, nos dias atuais, urn tempo continuo ¢ evolutivo na carac- terizagio de um espaco global, ou seja, relativizam-se 0 tempo € 0 espaco tio rapidamente quanto mais globais forem a imagem € as condi¢des urbanas: to- | dos os lugares esto e se repetem num s6 lugar para um homem que, agora, | 6 um cidadkio do mundo, mais apto a processar novas informagées, porque mais | intensamente atingido por elas. Esse quadro nos dé a exata dimensio da com- | plexidade desse processo de recepgao e nele esti claro que a arquitetura s6 sera informacio adequada se for capaz de responder a rapidez de transformagio do | | cotidiano urbano global. | Para tanto, talvez seja necessdrio pensar em im projeto que, ousadamente, encontre novas safdas ao redesenhar 0 projeto de ontem ¢ se propenka incom- A Anguitetura como Signo do Espage * 161 pleto, inacabado, aberto para absorvér e estimular novos usos decorrentes ds transformacdes contextuais Para isso, nie ha padres, estilos ou tendéncias es téticas locals om globais mas, sem modismnos, € necessario criar e experiments Para a arquitetura como conhecimento do espago, observagio, experiencia ee périmentagao constituem um todo continuo. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ‘Ancay, Giulio Carlo, 1992. rte Moderna, Séo Paulo, Companhia das Letras, pp. 265-266. Fisenan, Peter 199% “Visdes que se Desdobram”, Oculem 3, Campinas, FAU/PUSCAMP. 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