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• LICC
Tal lei trata de matérias como a vigência da norma jurídica (obrigatoriedade e eficácia global do ordenamento jurídico nacional), a
sua aplicação no tempo (direito intertemporal), o direito internacional privado, os mecanismos de integração das normas (quando
houver lacunas), os critérios de interpretação das leis e os atos civis praticados pelas autoridades consulares brasileiras no
estrangeiro
Vigência da lei
• Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente
publicada.
§ 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de
oficialmente publicada. (Vide Lei 2.145, de 1953)
§ 2o A vigência das leis, que os Governos Estaduais elaborem por autorização do Governo Federal, depende da
aprovação deste e começa no prazo que a legislação estadual fixar.
§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e
dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
Conceito de lei
• Lei é manifestação legislativa da União, dos Estados-membros, do DF e dos municípios; não são considerados leis os atos
normativos de caráter administrativo (portarias, regulamentos)
• Ver artigo 61, Constituição Federal
• Promulgação: ato pelo qual se afirma que o projeto de leis se transformou em lei
Processo legislativo em âmbito federal
♦ Apresentação do projeto iniciativa e emendas
♦ Votação: LO – maioria simples; LC – maioria absoluta; EC – maioria de 3/5
♦ Sanção e veto: sanção pode ser expressa e tácita; veto por dois motivos: inconstitucionalidade ou inconveniência –
pode ser total ou parcial; 48 horas após ter ocorrido a sanção ou a publicação do veto, o presidente da república
deverá proceder à promulgação
♦ Promulgação: promulgar significa atestar a existência; indica que a lei é válida e obrigatória
♦ Publicação
• Apenas com a publicação a lei se torna vigente; só válida feita pelo D.O.
Vacatio Legis
• Prazo entre a data da publicação da lei e a data de sua entrada em vigor (pode entrar em vigor imediatamente, se determinado
expressamente, ou em prazo maior de 45 dias)
Necessidade de tempo para conhecimento e adequação
Lei existe desde sua publicação, mas só vigora depois de certo tempo (no 46º dia, se não for definido outro prazo)
Tal regra é valida para todas as leis, qualquer que seja sua natureza (penal, processual....)
♦ Não se aplica à Constituição Federal
Aplica-se às EC
♦ Aplicam-se às MP's, que têm força de lei
♦ Aplicam-se aos tratados em convenções internacionais
Vigência da lei brasileira nos Estados estrangeiros para fins de aplicação do direito pátrio
• § 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente
publicada. (Vide Lei 2.145, de 1953)
Vacatio legis no estrangeiro: três meses
Duração da lei
• A simples alteração da realidade social não autoriza, automaticamente, a revogação de determinada lei (segurança jurídica)
Critério objetivo que regula a vida das leis: “não se destinando a lei à vigência temporária, terá vigor até que outra
a modifique ou revogue”
♦ Lei temporária: própria lei traz seu prazo (lei orçamentária)
Perde sua vigência com o simples transcurso do tempo
♦ Leis excepcionais: vigência durante determinada situação (lei de tabelamento de preços)
Perde sua força com a consumação do fato ou do evento excepcional que determinou seu nascimento
♦ Leis temporárias e excepcionais são dotadas do atributo da ultratividade: embora decorrido o período de sua
duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência
Lei só pode ser revogada por outra lei
• Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.
• A lei se modifica ou se revoga por outra lei supremacia incontestável sobre o costume
Revogação tácita
• Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando
regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.
Revogação pode ser expressa ou tácita
Não há necessidade de fórmula (revogam-se todas as disposições em contrário) revogação expressa
Para a revogação tácita não se requer o conflito entre todas as disposições legais, bastando a mera incompatibilidade
parcial; qualquer incompatibilidade verificada é suficiente para legitimar a revogação da lei anterior
♦ Também ocorre quando lei nova regula toda a matéria, mesmo que não haja incompatibilidade
♦ As leis sobre determinadas matérias podem ter revogadas por um código superveniente apenas algumas de suas
partes (derrogação)
Revogação de tratados
• Lei não pode revogar um tratado internacional ratificado pelo Estado
• Ato do governo princípio da separação dos poderes
• O inverso NÂO é verdadeiro: um tratado pode modificar uma lei anterior
O tratado somente perde sua força quando for incompatível com a Constituição Federal
• POSIÇÃO DO STF: tratado, ao ser incorporado ao direito interno, equivale à lei ordinária e, por isso, pode ser revogado por lei
posterior. Exceção para tratados equivalentes a EC.
Repristinação
• Fenômeno pelo qual uma lei revogada volta a ter vigência em face da revogação da lei que a tinha eliminado do mundo jurídico
Em nosso sistema jurídico, é uma exceção, só ocorre em caso de expressa disposição da nova lei
Obrigatoriedade da lei
• Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
• Segurança jurídica consagração do art. 3º
• Apenas a própria lei pode abrir exceção a essa regra
• Erro de direito (errônea interpretação da lei): pode dar causa à anulação do Negócio Jurídico, desde que não caracterize recusa
à aplicação da lei
Nunca haverá espaço jurídico vazio, mas sim um espaço regulado por normas de caráter geral. Dessa forma, tudo aquilo
que não estiver regulado por uma norma particular cairá sob o domínio de uma norma geral
Pode ocorrer, entretanto, que um determinado caso não esteja regulamentado e, ao mesmo tempo, não caia no domínio
da regra geral de que tudo o que não é proibido pela norma específica é permitido. Em tal hipótese, dever ser aplicado o
disposto no § 4º da LICC, segundo o qual o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito.
No caso de lacuna no ordenamento jurídico, há duas soluções jurídicas:
♦ A consideração do caso não regulamentado e a conseqüente aplicação da norma geral exclusiva
♦ A consideração do caso não regulamentado como semelhante ao regulamentado e a conseqüente aplicação da
analogia, costumes e princípios gerais de direito
Método da heterointegração: usar como recurso para combater o vazio jurídico outros ordenamentos ou fontes diversas
daquela que é dominante (v.g., costume, direito comparado)
Na falta de norma escrita, jurista usa fontes diversas: costume e direito comparado, por exemplo
♦ Costume: é uma norma jurídica secundária que deriva da longa prática uniforme ou da geral e constante repetição de
um determinado comportamento, sob a convicção de que corresponde a uma necessidade jurídica. Para que
constitua um costume, o comportamento deve ser uniforme, contínuo, público e resultar da convicção de que é
necessário e justo
Encontra-se abaixo da lei: só é usado quando se esgotarem todos os recursos legais para o preenchimento da
lacuna não há lei semelhante a ser aplicada
Reconhecido de ofício ou por prova
Três espécies de costume:
a) secundum legem: previsto na lei, que reconhece sua eficácia obrigatória e que determina a sua aplicação
em determinadas circunstâncias
b) praeter legem: pode ser invocado quando não puder ser aplicada a analogia caráter supletivo,
suprindo a lei nos casos omissos
c) contra legem: uso uniforme e constante que viola a letra da norma legal não admitido na ordem
jurídica brasileira
Método da auto-integração: consiste na integração realizada por meio do mesmo ordenamento, no âmbito da mesma
fonte dominante, sem recorrer a outros ordenamentos e com o mínimo de consulta a fontes diversas da dominante. O
jurista deve, como uso de tal método, encontrar um dispositivo da própria lei e que seja apto a suprir a lacuna. Quanto a
este último método, podem ser utilizados dois instrumentos
♦ Analogia: procedimento que consiste em aplicar a um caso não previsto em lei, de modo direto ou específico, outro
dispositivo de lei previsto para hipótese distinta, mas semelhante ao caso não regulamentado
Necessidade de identificar semelhança entre fatos tipo diferentes e um juízo de valor que mostra a relevância
das semelhanças sobre as diferenças
Dois requisitos para a aplicação da analogia:
Não previsão do caso sub judice em norma legal
Relação de semelhança entre o caso não contemplado em lei e o previsto[
• A semelhança deve ser de tal modo essencial que justifique idêntico tratamento jurídico para ambos os
casos
♦ Princípios gerais do direito: nada mais são do que normas de valor genérico que, por se encontrarem na
consciência dos povos e, por isso, serem universalmente aceitas, acabam por orientar a compreensão do sistema
jurídico, ainda que estejam positivadas. São a base sobre as quais se assenta o ordenamento jurídico, que
compreendem valores básicos de justiça, como o princípio que veda o enriquecimento sem causa; o princípio da
igualdade; o princípio da solidariedade; o princípio da boa-fé; a equidade
Juiz, com o auxílio de induções, valores e máximas, deve pesquisar e aplicar os princípios basilares do instituto
sub judice busca dos princípios mais gerais
♦ Eqüidade: Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem
comum.
Dar a cada um o que é seu
Aplicação da lei
• A aplicação da norma jurídica no caso concreto não é uma operação automática, pois o operador do direito deve proceder à
análise da sociedade na sua historicidade local e universal, de maneira a permitir a individualização do papel e do significado da
regra legal na unidade e na complexidade do fenômeno social
• O direito positivo
Como conjunto de princípios e regras destinadas a ordenar a coexistência, o direito constitui um sistema unitário e
hierarquicamente predisposto. Essas normas geralmente são expressas por meio de fontes predeterminadas e
reconhecidas, predominantemente por escrito, o que se denomina direito positivo
♦ Dupla função: conservar situações presentes ou modificar a realidade social
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 4
• O papel do jurista
É aquele que interpreta, individualiza e aplica a lei
Não existe significado interno do texto jurídico que prescinde de sua relação com o mundo exterior
Interpretação é atividade ligada às escolhas e aos valores definidos pelo legislador, expressos no ordenamento
♦ Regra de hermenêutica jurídica: Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.
• O bem comum
Princípio superior e presumido
Conceito aberto (existência digna, desenvolvimento social, cooperação, solidariedade)
Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. O magistrado não é
um autômato, não podendo aplicar friamente a letra da lei a um determinado caso concreto. Cabe a ele aferir o espírito da
norma, o motivo de sua existência, à finalidade social nela incorporada. Havendo dois interesses em jogo, o juiz deve
aplicar a lei sempre de modo a fazer preponderar o interesse da sociedade, ainda que em prejuízo do interesse individual
O art. 5º, da LICC, portanto, contém uma regra de hermenêutica jurídica e, ao fixar como regra basilar de interpretação o
fim social, colocou em segundo plano outros métodos de exegese, como a interpretação gramatical, a interpretação lógica
e a intenção do legislador. Ao interpretar e aplicar a norma legal, o juiz deve escolher, dentre os possíveis entendimentos,
qual deles se mostra mais útil ou reflete melhor o interesse da sociedade
Ao aplicar a lei, o juiz deve interpretá-la de forma sistemática, ou seja, de acordo com o ordenamento jurídico e jamais
como algo isolado, estanque, divorciado do sistema normativo. Ele deve, ainda, descobrir a utilidade da norma, o que
implica não só a apreciação dos fatos e valores que, originalmente, a constituíram, mas também daqueles que lhes são
supervenientes
O ordenamento globalmente considerado é composto de normas diversas que têm a sua origem nos poderes mais distintos constituindo-se em
um sistema dotado de hierarquia. No ápice desse sistema está a norma constitucional. A harmonização entre as normas exige por parte do
jurista um grande esforço e um amplo conhecimento do ordenamento como um todo
Constituição Federal: normas para emanar normas (constitucionalidade formal); valores constitucionais
(constitucionalidade material/substancial)
Constituição Federal: regra de hermenêutica e de comportamento
Ao interpretar a lei, o jurista deve considerar o ordenamento jurídico como um todo unitário, e jamais olvidar que o sujeito
do direito é o ser humano
As normas, qualquer que seja sua hierarquia, podem e devem ser aplicadas diretamente para a solução de determinado
problema concreto
Regras da LICC aplicam-se a todas as áreas, pois o direito é um só
♦ O nº de situações jurídicas não conhece limites, e cabe a cada área do direito determiná-las
♦ Essas situações jurídicas não se constroem necessariamente em um único momento. Elas têm um desenvolvimento
no tempo, de tal forma que a lei nova pode intervir em um certo momento. Dessa forma, se ela atingir as partes
anteriores, a lei terá um efeito retroativo; caso contrário, ela terá um efeito imediato.
♦ É evidente que uma lei cujo objeto é a regulamentação das condições de constituição ou de extinção de uma situação
jurídica, não pode levar em consideração fatos anteriores a sua entrada em vigor. Portanto, as leis relativas ao modo
de constituição e extinção de uma situação jurídica não podem, sem retroatividade, questionar a eficácia ou ineficácia
jurídica de um fato passado
• Da pessoa natural
Introdução
• Personalidade é qualidade inerente à pessoa, é a condição de pessoa, ou seja, é uma situação jurídica subjetiva, uma
qualidade reconhecida pelo direito ao ser humano (pessoa física ou natural) e a certas organizações humanas, como a
sociedade, as organizações, as fundações e as entidades políticas
• Conceito de personalidade: aptidão para ser sujeito de relações jurídicas
Pessoa é, no sentido jurídico, o sujeito capaz de contrair obrigações e gozar direitos
• Duas espécies de sujeitos de direito:
Físicas ou naturais
Jurídicas ou morais
Começo da personalidade
• Nascimento com vida
Código Civil não exige requisitos da viabilidade da forma humana
Recém nascido não precisa viver por 24 horas
• Legislador impôs registro do nascimento mesmo no caso de a criança ter nascido morta ou de ter morrido por ocasião do parto
A personalidade civil se extingue pela morte da pessoa
Do nascituro
• Lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro e tutela os direitos da personalidade para além da morte do
indivíduo (direito à honra, direitos do autor)
• Nascituro ainda não é pessoa
TJSP reconheceu o direito do nascituro a alimentos
• Pode ser herdeiro e também beneficiado por doação, devendo ser aceita por seu representante legal
Condição suspensiva: nascimento com vida
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão;
♦ Só pode suceder se filho de pessoa indicada pelo testador; caso contrário não têm vocação hereditária as pessoas
ainda não concebidas
Os direitos da personalidade
• Introdução
LIVRO I: DAS PESSOAS; TÍTULO I: DAS PESSOAS NATURAIS; CAPÍTULO I: DA PERSONALIDADE E DA
CAPACIDADE
Vida, honra, integridade física e moral estão contidos na personalidade e são direitos subjetivos ou autônomos capazes de
constituir uma figura à parte ao lado dos direitos patrimoniais
Os direitos de personalidade, também chamados de direitos personalíssimos, são as prerrogativas de conteúdo
extrapatrimonial, inalienáveis, perpétuas e oponíveis erga omnes, que correspondem a toda pessoa por sua condição de
tal, desde antes de seu nascimento e até depois de sua morte, e das quais não pode ser privada por ação do Estado nem
de outros particulares porque isso implicaria menoscabo da personalidade
Os direitos personalíssimos constituem uma inconfundível categoria dos direitos subjetivos essenciais, que pertencem à
pessoa por sua só condição humana e que se encontram umbilicalmente ligados ao indivíduo
O direito ao corpo
• Corpo não pertence ao mundo dos objetos: não é considerado uma coisa
• Corpo e suas partes não são bens comercializáveis
• Princípio da intangibilidade tem dois aspectos:
Ninguém pode ser obrigado a fazer um atentado contra o próprio corpo, mesmo que por interesse alheio legítimo (perícia
ou retirada de sangue) (Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá aproveitar-se
de sua recusa.)
Havendo supremacia do interesse do Estado, pessoa pode ser compelida a, por exemplo, vacinação obrigatória
• Triplamente protegido, contra
Atentados de terceiros (Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou
a intervenção cirúrgica.) para salvaguardar um direito mais relevante de outrem, ou por razão de saúde pública, pode
haver exceção
Poder de disposição do próprio indivíduo (Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio
corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.)
mas não é todo indisponível; fins altruísticos ou científicos e transplantes
Curiosidade de terceiros (intimidade e imagem)
• Três requisitos para disposição
Morte do disponente
Gratuidade do ato
Finalidade altruística ou científica
Direito ao nome
• Nome permite que a pessoa tenha reconhecida e protegida sua individualidade, como membro da família e da comunidade
onde vive
Atributo da personalidade que individualiza o ser humano
O direito à privacidade
• Função é fornecer um espaço no qual a individualidade pode se desenvolver
• Cabe ao Estado proteger a privacidade e estimular o convício social
• Extinção da personalidade
Morte
• Enquanto viva, a pessoa exerce direitos pessoais, intransmissíveis, e direitos patrimoniais, transmissíveis
• Com a morte, desaparecem os direitos pessoais (com exceções)
• Morte é fato material e também jurídico
• A vontade do indivíduo pode produzir efeitos póstumos (casamento póstumo na França, e paternidade post mortem no Brasil
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: II - nascidos nos trezentos dias subseqüentes à
dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;)
• Testamento: realização da vontade do indivíduo post mortem
V.g. fundação
Cláusulas que restringem o poder de disposição dos herdeiros não podem passar de uma geração, e podem ser
suprimidas pelo juiz, quando sua execução for extremamente difícil ou onerosa
O afastamento do domicílio
• Afastamento (não-presença corporal) é diferente de ausência (desaparecimento sem deixar notícia e sem nomear quem o
represente nos atos da vida civil)
• O afastamento ou a não-presença da pessoa não a impede de manifestar sua vontade (contratos por correspondência, por
mensageiro – núncio – ou representante)
Representante atua em nome do representado, mas atua de acordo com sua própria vontade; núncio é mero instrumento
de transmissão da vontade da parte
Morte presumida
• Diferença da ausência: nesta não há certeza quanto a sua morte; mas quando o desaparecimento de pessoas for cercado por
circunstâncias tais que gerem uma certeza da morte, há morte presumida
Ausência: incerteza da vida ou da morte, em razão da falta de notícias
• Produz os mesmos efeitos sucessórios da morte natural
• Lei 9.140/95 (alterada pela Lei 10.875/2004) – pessoas desaparecidas em razão de participação ou acusação de participação
em atividades políticas
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 12
Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágio,
inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e
não for possível encontrar-se o cadáver para exame. (Renumerado do art. 89 pela Lei nº 6.216, de 1975).
Da ausência
• Desaparecimento sem deixar notícia e sem nomear quem o represente nos atos da vida civil
• Pouco importa se é voluntária ou involuntária: não havendo notícias pelo prazo previsto em lei, poderá, a pedido do interessado,
ser declarada a ausência
Proteção do patrimônio e preservação dos interesses do ausente e de seus herdeiros
♦ Juiz pode nomear curador
Do curador e do ausente
• Qualquer pessoa pode requerer ao juiz a declaração de ausência
• Juiz deve nomear como curador seu cônjuge ou companheiro (não separado judicialmente ou de fato por mais de dois anos,
antes da declaração)
• Na falta dele, o juiz pode nomear um parente, preferindo o mais próximo
• Sem parente, pode ser qualquer pessoa
Sucessão definitiva
• Depois de dez anos do trânsito em julgado da sentença que concede abertura da sucessão provisória, poderão os
interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das garantias prestadas
• Podem alienar os bens
Em caso de retorno ou de aparecimento de herdeiro nos dez anos seguintes à decretação da sucessão provisória, só pode
reclamar bens que estiverem ainda nas mãos dos sucessores ou os substituírem (ou sub-rogados)
Não pode reclamar a venda, mas pode reclamar o preço obtido
• Depois de dez anos do trânsito em julgado da sentença que concede abertura da sucessão provisória, o ausente não pode
exigir mais nada
• Sucessão definitiva não requerida: bens passam ao Município ou Território Federal
Do nome
• É um atributo da personalidade que individualiza a pessoa na sociedade mesmo após sua morte
Nascimento
Adoção (1618 a 1629 Código Civil)
Casamento (1565, §1º, Código Civil)
• Em caso de separação, a mulher ainda pode usar o nome do marido quando houver
Evidente prejuízo à sua identificação
Manifesta distinção entre o nome da mãe e dos filhos
Dano grave reconhecido em decisão judicial
Alteração do nome
• A princípio, o prenome é imutável, por ser princípio de ordem pública (art. 58, LRP)
• Exceções:
Nome que expuser ao ridículo
Apresentação de erro gráfico evidente
Nome que causar embaraço no setor comercial e na vida pública da pessoa, por causa de homonímia
Apelido público e notório que venha a substituir o nome no ambiente em que vive a pessoa, salvo proibido por lei
Necessidade de proteção de vítimas e testemunhas de crimes
♦ Requerimento ao juiz para os registros públicos, ouvido o Ministério Público, podendo o registro ser revertido após a
cessação da ameaça; segredo de justiça
Tradução de nome estrangeiro
• Próprio interessado pode alterar o nome desde que não prejudique os apelidos de família, após completar a maioridade, no
prazo decadencial de um ano; depois, só por ação judicial
Proteção do nome
• Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao
desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.
• Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.
• O titular do nome pode exigir que cesse a lesão ao seu direito de personalidade e ainda reclamar perdas e danos. Em caso de
uso indevido do nome em propaganda, p. ex., o interessado pode mover ação em que demande ao juiz fixação de multa diária
para evitar a lesão ou sua intensificação, sem prejuízo de perdas e danos
• Pseudônimo goza da mesma proteção legal conferida ao nome
Domicílio
• Também é elemento identificador da pessoa e ponto de conexão para as relações jurídicas
Todo indivíduo tem um nome e uma “sede legal”, na qual há de se considerar sempre presente, ainda quando se encontra
momentaneamente afastado dela
• O domicílio é escolhido e constituído livremente pelo indivíduo, como manifestação de sua vontade e resultado da sua
autodeterminação
• É o lugar onde a pessoa natural se estabelece habitualmente. Diferencia-se da moradia e da residência por apresentar, além de
um elemento objetivo (o local físico onde a pessoa se encontra), um elemento subjetivo (intenção de permanência duradoura).
Portanto, dois são os requisitos para caracterização do domicílio: residência e o ânimo de permanência
Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu
qualquer delas.
♦ Necessário o ânimo de permanecer em cada uma das residências
Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.
♦ Alguém que mora com ânimo definitivo em SP, e trabalha em Porto Alegre, têm dois domicílios
• Código de Processo Civil: Art. 94. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão
propostas, em regra, no foro do domicílio do réu.
§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.
§ 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio
do autor.
§ 3o Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será proposta no foro do domicílio do autor. Se
este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.
§ 4o Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do
autor.
• Pessoa jurídica também tem domicílio
Domicílio da União é o DF, e dos Estados e Territórios é a capital; dos municípios, onde funcione a administração
municipal
Pessoa jurídica: lugar onde funcione a administração, mas pode estabelecer no estatuto ou ato constitutivo outro local
Pessoa jurídica estrangeira: lugar de estabelecimento no Brasil vários estabelecimentos, cada um é domicílio para os
atos nele praticados
• Pessoa errante: domicílio onde for encontrada
• Domicílio pode ser alterado: Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para
onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.
• Domicílio:
Legal: recém-nascido, incapaz, funcionário público, militares
Voluntário: local escolhido
Legitimação
• Capacidade não se confunde com legitimação: para que a pessoa passa, validamente, celebrar um negócio jurídico, além da
capacidade, ela deve ter legitimação
Conceito de legitimação: exigência da lei, imposta a certas pessoas capazes, de preenchimento de determinados
requisitos para a celebração de negócio jurídico
♦ Positiva: quando não veda a prática do ato, mas impõem observância de requisitos especiais e pessoais que
extrapolem os genericamente exigidos (ex. cônjuge vender imóvel)
♦ Negativa: quando a lei declara a inabilitação de certas pessoas para a prática de certos atos devido a uma situação
irremovível em que eles se acham (ex.: juiz não pode adquirir bens alienados em hasta pública derivada de processo
judicial em que atua)
• Tutor tem capacidade para negócio jurídico em geral, mas não tem legitimação para adquirir bens do tutelado (idem ao curador)
Da emancipação
• É o ato que tem por objetivo conferir a um menor o governo de sua pessoa e o gozo e administração de seus bens. Em outros
termos, com a emancipação, o menor adquire capacidade para a realização de atos da vida civil, sem necessidade de
representação ou assistência
• Pode ser consensual (concessão dos pais) ou legal (imposição da lei)
• Consensual: necessária a anuência de ambos os pais, ou de um deles, na falta do outro; por escritura pública ou sentença
judicial
• Legal: casamento, colação de grau em curso de ensino superior, estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de
relação de emprego, desde que o menor tenha economia própria
• Com a inscrição no órgão competente: Registro Público de Empresas Mercantis (Juntas Comerciais) ou Registro Civil das
Pessoas Jurídicas (Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato
constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-
se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.)
• Apenas entidades que possuem objeto lícito é que poderão ser registradas e adquirir personalidade jurídica
• Fundação intervenção do Ministério Público
• Sociedade ou associação rubrica de advogado
• Todos os atos relevantes também devem ser registrados
Fim não econômico, embora possa ela exercer atividade econômica para atingir a finalidade prevista no estatuto
Qualquer finalidade – econômica
Necessária autorização para representação quando do caso concreto (contradição com Alexandre de Moraes)
• Instituição da associação
O ato que institui a associação é o estatuto que, uma vez registrado no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, conferirá
personalidade jurídica a este ente. O registro confere ainda legitimidade à associação para representar os interesses de
seus associados em juízo ou fora dele e, inclusive, para a impetração de mandado de segurança coletivo para tutela de
direitos coletivos difusos. Neste caso, o registro deve ter sido realizado a pelo menos um ano.
Para que seja valido, e possa ser registrado, o estatuto deve conter:
♦ A denominação, os fins e a sede da associação
♦ Os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados
♦ Os direitos e deveres dos associados
♦ As fontes de recursos para sua manutenção
♦ O modo de constituição e funcionamento dos órgãos deliberativos
♦ As condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução
♦ A forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas (incluída pela lei 11.127/2005)
• Do órgão deliberativo
É a assembléia geral, à qual compete privativamente destituir os administradores e alterar o estatuto
♦ Código Civil: Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral: I – destituir os administradores; II – alterar o
estatuto. Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da
assembléia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os
critérios de eleição dos administradores.
O estatuto estabelece o quorum da assembléia e os critérios de eleição dos administradores
• Da extinção da associação
Constituição Federal: Art. 5º - XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades
suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
É possível a suspensão cautelar
Pode ser extinta por vontade dos associados ou por decisão judicial transitada em julgado
Associados só têm direito à restituição do valor atualizado da contribuição que fizeram; não têm direito à repartição do
patrimônio líquido
• Sindicatos e cooperativas
Sindicatos e cooperativas são formas de associações. A Constituição inclui, expressamente, as cooperativas entre as
associações. Nesse sentido, dispõe o art. 5º, XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
A cooperativa é a associação sob a forma de sociedade com número aberto de membros, que tem por objetivo estimular a
poupança, a aquisição ou a economia de seus associados, mediante atividade econômica comum. Trata-se de uma forma
de organização da atividade econômica, tendo por finalidade a produção agrícola, industrial ou mercantil.
Também é inscrita no Registro Civil das Pessoas Jurídicas
O sindicato, por sua vez, é uma associação constituída para a defesa dos interesses de pessoas que exercem a mesma
profissão ou o mesmo gênero de atividades. A associação profissional está regida, de modo geral, pelas mesmas regras
de organização das demais associações, embora sua criação seja disciplinada por lei especial
• Da fundação
Não é reunião de pessoas, mas um conglomerado de bens livres que são destinados, pelo instituidor, à realização de um
determinado fim religioso, moral, cultural ou assistencial não é possível fim diverso, conforme Código Civil
Bem coletivo, uma universalidade de bens
Não se confunde mais com o patrimônio do instituidor
Fundações antigas continuam válidas, mas quanto ao funcionamento obedecem ao Código Civil de 2002 (Art. 2.032. As
fundações, instituídas segundo a legislação anterior, inclusive as de fins diversos dos previstos no parágrafo único do art.
62, subordinam-se, quanto ao seu funcionamento, ao disposto neste Código.)
♦ Modificação dos estatutos das fundações e associações: quorum da lei nova: 2/3 dos administradores ou associados
♦ Pode ser pessoa jurídica de direito privado (deve ser registrada) ou de direito público (disciplinada pelo direito
administrativo Art. 4° A Administração Federal compreende: I - A Administração Direta, que se constitui dos
serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios. II - A Administração
Indireta, que compreende as seguintes categorias de entidades, dotadas de personalidade jurídica própria: a)
Autarquias; b) Empresas Públicas; c) Sociedades de Economia Mista. d) fundações públicas. (Incluído pela Lei nº
7.596, de 1987)
• Extinção da fundação
Tornar-se sua finalidade ilícita, impossível ou inútil, ou quando vencido o prazo de sua existência
Patrimônio vai para outra fundação
PARTEGERAL
LIVRO I
DAS PESSOAS
TÍTULO I
DAS PESSOAS NATURAIS
CAPÍTULO I
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE
Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 18
Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.
Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou
por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis
anos completos tenha economia própria.
Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura
de sucessão definitiva.
Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e
averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.
Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros,
presumir-se-ão simultaneamente mortos.
Art. 9o Serão registrados em registro público:
I - os nascimentos, casamentos e óbitos;
II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;
III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.
Art. 10. Far-se-á averbação em registro público:
I - das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabelecimento da sociedade
conjugal;
II - dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação;
III - dos atos judiciais ou extrajudiciais de adoção.
CAPÍTULO II
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu
exercício sofrer limitação voluntária.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras
sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer
parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade
física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público,
ainda quando não haja intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e
sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os
descendentes.
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para
impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
CAPÍTULO III
DA AUSÊNCIA
Seção I
Da Curadoria dos Bens do Ausente
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem
caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á
curador.
Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer
ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes.
Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme as circunstâncias, observando, no que for aplicável, o
disposto a respeito dos tutores e curadores.
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da
ausência, será o seu legítimo curador.
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 19
§ 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento
que os iniba de exercer o cargo.
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador.
Seção II
Da Sucessão Provisória
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos,
poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.
Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados:
I - o cônjuge não separado judicialmente;
II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;
IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.
Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela
imprensa; mas, logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o
ausente fosse falecido.
§ 1o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao
juízo competente.
§ 2o Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta dias depois de passar em julgado a sentença que mandar
abrir a sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.
Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em
imóveis ou em títulos garantidos pela União.
Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas
equivalentes aos quinhões respectivos.
§ 1o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que
lhe deviam caber sob a administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa garantia.
§ 2o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia,
entrar na posse dos bens do ausente.
Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a
ruína.
Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão representando ativa e passivamente o ausente, de modo que contra eles
correrão as ações pendentes e as que de futuro àquele forem movidas.
Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que
a este couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de
acordo com o representante do Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz competente.
Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua
parte nos frutos e rendimentos.
Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá, justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue metade dos
rendimentos do quinhão que lhe tocaria.
Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata do falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão em
favor dos herdeiros, que o eram àquele tempo.
Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos
sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono.
Seção III
Da Sucessão Definitiva
Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer
a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas.
Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as
últimas notícias dele.
Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes,
aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e
demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo.
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e nenhum interessado promover a sucessão definitiva,
os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se
ao domínio da União, quando situados em território federal.
TÍTULO II
DAS PESSOAS JURÍDICAS
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado.
Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:
I - a União;
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada pela Lei nº 11.107, de 2005)
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado,
regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código.
Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito
internacional público.
Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem
danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações.
IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)
V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 20
§ 1o São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público
negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)
§ 2o As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial
deste Código. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)
§ 3o Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida,
quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato
constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo,
contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.
Art. 46. O registro declarará:
I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver;
II - o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores;
III - o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente;
IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo;
V - se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais;
VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso.
Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo.
Art. 48. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões se tomarão pela maioria de votos dos presentes, salvo se o ato
constitutivo dispuser de modo diverso.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular as decisões a que se refere este artigo, quando violarem a lei ou estatuto, ou forem
eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude.
Art. 49. Se a administração da pessoa jurídica vier a faltar, o juiz, a requerimento de qualquer interessado, nomear-lhe-á administrador
provisório.
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir,
a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.
Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de
liquidação, até que esta se conclua.
§ 1o Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução.
§ 2o As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às demais pessoas jurídicas de direito privado.
§ 3o Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica.
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.
CAPÍTULO II
DAS ASSOCIAÇÕES
Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.
Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:
I - a denominação, os fins e a sede da associação;
II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;
III - os direitos e deveres dos associados;
IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução.
VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. (Incluído pela Lei nº 11.127, de 2005)
Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais.
Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário.
Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação, a transferência daquela não importará, de per
si, na atribuição da qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto.
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e
de recurso, nos termos previstos no estatuto. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
Parágrafo único.(Revogado pela Lei nº 11.127, de 2005)
Art. 58. Nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou função que lhe tenha sido legitimamente conferido, a não ser nos casos
e pela forma previstos na lei ou no estatuto.
Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral: (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
I – destituir os administradores; (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
II – alterar o estatuto. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da assembléia especialmente
convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores. (Redação dada
pela Lei nº 11.127, de 2005)
Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantido a 1/5 (um quinto) dos associados o direito de promovê-
la. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais
referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por
deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes.
§ 1o Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, podem estes, antes da destinação do remanescente referida
neste artigo, receber em restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado ao patrimônio da associação.
§ 2o Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a associação tiver sede, instituição nas condições
indicadas neste artigo, o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União.
CAPÍTULO III
DAS FUNDAÇÕES
Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o
fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.
Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão, se de outro modo não dispuser o instituidor,
incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.
Art. 64. Constituída a fundação por negócio jurídico entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe a propriedade, ou outro direito real,
sobre os bens dotados, e, se não o fizer, serão registrados, em nome dela, por mandado judicial.
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 21
Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas
bases (art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da autoridade competente, com recurso ao juiz.
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a
incumbência caberá ao Ministério Público.
Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.
§ 1o Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público Federal. (Vide ADIN nº 2.794-8)
§ 2o Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo Ministério Público.
Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma:
I - seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação;
II - não contrarie ou desvirtue o fim desta;
III - seja aprovada pelo órgão do Ministério Público, e, caso este a denegue, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado.
Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao
órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência à minoria vencida para impugná-la, se quiser, em dez dias.
Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério
Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato
constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.
TÍTULO III
Do Domicílio
Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.
Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe
corresponderem.
Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada.
Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se
tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.
Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
I - da União, o Distrito Federal;
II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial
no seu estatuto ou atos constitutivos.
§ 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele
praticados.
§ 2o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações
contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer
permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar
imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.
Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, o seu domicílio,
poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve.
Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles
resultantes.
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 22
Da representação
• A representação é uma espécie de cooperação jurídica pela qual pode intervir no negócio alguém que nele seja interessado,
mas intervenha em nome e no interesse de outrem. Em outros termos, a representação é a atuação jurídica em nome de
outrem, sobre quem irão recair as conseqüências negociais
Ativa ou passiva
Lei ou vontade
Anulável o negócio jurídico que o representante celebrar consigo mesmo
Pode haver cláusula em causa própria
• Representante deve agir no interesse do representado. Se concluir o negócio em conflito com o interesse deste, o ato é
anulável desde que o terceiro tenha ou deva ter conhecimento de tal fato. prazo decadencial de 180 dias
• Representante deve provar sua condição, sob pena de arcar com as conseqüências do ato
• Na representação legal, o representado não pode se opor à atuação do representante, ainda que dela discorde
• Representação é diferente de mandato
• Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem
alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade.
• Representação aparente simulador responde pelo negócio jurídico
• Elementos essenciais
Genéricos: determinam a validade de qualquer negócio jurídico agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou
determinável, e forma prescrita ou não defesa em lei
Específicos: referem-se a um negócio jurídico determinado (preço na compra e venda)
Pode-se situar o negócio jurídico nos planos da existência, da validade e da eficácia
• Se falta elemento estrutural, não existe
• Se falta elemento essencial, existe, mas não é válido
• Pode existir e ser válido, mas com efeitos postergados para o futuro (testamento)
Essenciais: vontade humana; idoneidade do objeto em relação ao negócio que se tem em vista (hipoteca só de bem imóvel); forma
A inobservância dos pressupostos e requisitos pode conduzir, conforme o caso, à inexistência ou à invalidade do negócio jurídico. A
invalidade, por sua vez, é divida em nulidade ou anulabilidade, conforme o vulto do interesse atingido: social ou individual
• Da vontade
Precisa observar limites e não ser viciada, além de existir
Legitimação
• Capacidade é aptidão intrínseca da pessoa para realização de atos da vida civil; enquanto legitimação é a aptidão para atuar
em negócios jurídicos que tenham determinado objeto, em virtude de uma relação em que se encontra ou se coloca o
interessado em face do objeto do ato
• Na legitimação, importa a posição da pessoa em determinada situação negocial, quanto à outra pessoa, certos bens ou certos
interesses (curador, juiz, notário)
Pode ocorrer, ainda, que a vontade seja viciada: a pessoa está no gozo de suas faculdades mentais, é um agente capaz, mas um
fator interno ou externo influencia o processo de formação da vontade, levando o agente a realizar um negócio jurídico que não
corresponde ao efetivamente querido
Forma e prova
• Forma e prova não são sinônimos
Escritura pública
• Fixa materialmente e de modo permanente a declaração de vontade
Vontade das partes e não do notário
Erro ou ignorância
• Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia
ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.
• Art. 139. O erro é substancial quando:I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das
qualidades a ele essenciais;II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de
vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
• “Erro” é idéia falsa da realidade, que leva a uma manifestação da vontade diversa daquela que existiria se a pessoa
conhecesse melhor a realidade
Discrepância entre vontade interna e declaradas por erro substancial e escusável negócio jurídico anulável
♦ Substancial: importante (parte não realizaria o negócio jurídico)
Ele é substancial quando: art. 139, acima
Natureza: parte pensa estar celebrando um contrato, mas está assumindo um contrato de outra natureza
Objeto: diferença do objeto principal que motivou a declaração de vontade e do objeto de fato
Pessoa: Pode ser concernente à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração
de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante. Pode ocorrer que o doador transfira determinado
bem de seu patrimônio para premiar o donatário, por acreditar que este lhe salvou a vida, mas quem o fez foi
outra pessoa. Nesse caso, o negócio jurídico é anulável
Direito: desde que não implique recusa à aplicação da lei for motivo único ou principal do negócio jurídico,
também é suscetível de causar invalidade do ato. É o caso, p. ex., de uma parte que compra um terreno para
construir um edifício, desconhecendo a existência de lei municipal que proíbe tal tipo de construção. Ainda que o
vendedor desconheça a restrição legal, o contrato poderá ser anulado por erro de direito do comprador
♦ Acidental: secundário (parte ainda realizaria)
O falso motivo também pode dar causa à anulação do ato, se ele é causa essencial da realização do negócio. É o caso da
venda de estabelecimento comercial em que a razão determinante é o grande movimento de negócios: neste caso o erro é
substancial e não meramente acidental
Erro deve ser sempre escusável (não pode haver negligência, imperícia ou imprudência)
♦ Juiz deve adotar como parâmetro as condições pessoais do declarante e as circunstâncias concretas do negócio
jurídico: grau de instrução, idade, conhecimento do objeto, comportamentos das partes, etc.
♦ Pessoa que manifestou vontade viciada deve comprovar que a outra parte sabia do erro, ou ao menos saberia, se
tivesse atuado com diligência normal (art. 138, Código Civil)
♦ Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se
dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.
Dolo
• É o expediente astucioso empregado para induzir alguém à prática de um ato, que o prejudica, e aproveita ao autor do dolo ou
a terceiro. Ao contrário do que ocorre na figura do erro, em que o declarante se engana sozinho, no dolo a falsa percepção da
realidade é induzida por outrem
• Só dolo principal ou essencial é causa de anulabilidade do ato (não tem efeito se, por outro modo, a parte também teria
anuído)
• Dolus bônus (mero exagero) é diferente de dolus malus (embuste; contrário à moral)
• Comissivo (conduta positiva da parte) é diferente de passivo (silêncio sobre informação relevante) Art. 147. Nos negócios
jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado,
constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.
Coação
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 26
• É todo ato ou conduta que incuta na parte fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos
seus bens, levando-a a manifestar vontade que não expressaria se não fosse coagida
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano
iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
• Apenas o dano psicológico caracteriza a coação. Considera-se coação a ameaça ou pressão séria exercida sobre a pessoa
para forçá-la a praticar um ato, contrariamente à sua vontade
Coação absoluta = violência física inexiste vontade (negócio jurídico inexistente)
Coação moral: escolha entre a possibilidade do mal e a declaração
• Ameaça deve ser verdadeira e séria
Mal deve ser iminente e atual, e não futuro
Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial
Deve haver relação de causalidade com o negócio jurídico
• Pode estender-se a ameaça a pessoa dileta
• Juiz deve avaliar o caso concreto
Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e
todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.
• Coação vicia o ato ainda que praticada por terceiro, desde que dela tenha ou deva ter conhecimento a parte a quem aproveite.
Ao contrário, se a parte não tiver conhecimento da coação, o negócio jurídico subsiste, podendo o paciente pleitear perdas e
danos contra o autor da coação
Estado de perigo
• A lei não se preocupa que o contrato seja objetivamente “justo” ou “equitativo”, vale dizer, que as prestações sejam exatamente
iguais ou possuam um mesmo valor econômico. A lei não fixa critérios objetivos que assegurem a troca justa, a equitativa
proporção entre a prestação e a contraprestação (a não ser no caso de setores do mercado submetidos a preço controlado) e,
com maior razão, não permite ao juiz modificar o equilíbrio econômico fixado pelo contrato, retificando a proporção entre os
valores trocados ainda que, porventura, lhe pareça econômica, social ou moralmente injustificada
Pessoa deve estar livre de influência externa que a leve a celebrar um contrato que sabe ser desvantajoso
♦ Quando estas regras são violadas, pode haver controle de mérito da adequação entre a prestação e a
contraprestação
• É o que ocorre nos casos de estado de perigo e de lesão. No estado de perigo, por exemplo, a parte, premida pela necessidade
de salvar-se, ou pessoa de sua família, do grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação extremamente onerosa
Dois elementos:
♦ De natureza processual: que o contrato tenha se concluído sob pressão de circunstâncias extremamente graves
♦ De natureza substancial: é preciso que os termos de troca sejam iníquos ou gravemente desproporcionais,
prejudicando a parte que sofre aquelas circunstâncias
Lesão
• Ocorre quando uma pessoa, sob premente necessidade ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente
desproporcional ao valor da pretensão proposta
Código Civil
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente
desproporcional ao valor da prestação oposta.
§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do
proveito.
• Ela governa o contrato bilateral oneroso. O remédio alcança a toda convenção que reúna essas exigências, inclusive o contrato
de trabalho, e compreende também o contrato preliminar
• Mera desigualdade entre as obrigações, por si só, não demonstra a lesão: para ser configurada a lesão é preciso que exista
algo além da manifesta ou chocante desigualdade das obrigações, que é justamente a exploração de um dos
contratantes pelo outro, que se aproveita da situação de necessidade ou inexperiência do primeiro
• Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente
onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor
pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. lesão superveniente não
anula o contrato
Só se pode falar em lesão quando existe contraprestação e for possível exigir a equivalência entre as prestações
• Aplica-se a contrato comutativo e aleatório
Elementos da lesão
• Requisito
Contrato só pode ser anulado por lesão se houver a existência de um contratante cuja situação de necessidade ou
inexperiência seja aproveitada pelo autor da lesão, que exige uma prestação equivalente. A lesão deve existir no momento
da ação e não devem ter transcorrido mais de quatro anos da data em que foi celebrado o contrato
• Elemento objetivo: vantagem patrimonial evidentemente desproporcional e sem justificação deve ser manifesta, induvidosa,
chocante e exagerada
• Cabe ao juiz a análise, à luz do caso concreto
Equação benefício-sacrifício
• Parte prejudicada deve se encontrar ainda em uma situação de necessidade ou apresenta inexperiência.
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 27
Necessidade: penúria falta ou carência das coisas, notadamente daquelas que são importantes para a sobrevivência digna
da pessoa (diferente do estado de perigo)
♦ Também inclui estado de espírito, traduzido por situação de angústia ou desespero
♦ Exclui bens de luxou ou que não sejam de extrema necessidade
Inexperiência: esta definição aproxima a lesão da definição conceitual de erro ou ignorância. Mas, no caso da lesão, ao
contrário do ocorre na figura do erro, esta inexperiência é aproveitada pelo contratante mais forte, capaz ou conhecedor,
em detrimento do débil ou inexperiente, sem que se configure o erro ou mesmo o dolo. Haveria lesão, por exemplo, na
venda de um computador com configuração ultrapassada a um camponês que, embora anunciado corretamente (modelo,
capacidade de memória, periféricos, etc.), é vendido por um preço exorbitante, aproveitando-se da inexperiência do
comprador
• A figura da lesão procura tutelar pessoas de escassa cultura ou de pouca idade, podendo ocorrer também em determinados
tipos de contratos que exigem conhecimentos técnicos ou de costumes e usos locais, que não são acessíveis a um dos
contratantes
• Deve haver um sujeito ativo que se aproveite da situação
Não há necessidade da vontade de prejudicar ou que proceda de modo abusivo; basta que tenha conhecimento da
situação de necessidade ou inexperiência basta o mero aproveitamento de um pelo outro
• A ocorrência de lesão autoriza a parte prejudicada a pleitear a anulação do negócio jurídico. Não será, entretanto, anulado, se a
parte beneficiada oferecer suplemento suficiente ou, quando for o caso, redução do proveito. Em suma, quando com a anuência
da parte favorecida, for possível reequilibrar o negócio jurídico, ele não será anulado
• Para evitar a anulação do contrato, o adquirente, se ainda não tiver pago o preço, poderá depositá-lo em juízo, citando os
interessados, vale dizer, o credor ou credores e o devedor alienante. Se o preço for inferior ao corrente no mercado, o
adquirente somente poderá conservar o bem adquirido se depositar o preço correspondente ao valor real da coisa
• Também há fraude quando o devedor insolvente pagar o credor quirografário (É o credor que não possui direito real de
garantia, seus créditos estão representados por títulos advindos das relações obrigacionais. Ex: os cheques, as duplicatas, as
promissórias.) dívida ainda não vencida
• Também há fraude no caso de o devedor já insolvente conceder garantia real a algum credor
Código Civil
Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum
credor.
• Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento
mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família.
Também os destinados à subsistência do devedor e sua família
• Se o devedor conceder, fraudulentamente, garantia de dívida ou remissão desta, a sentença desconstitui por si só o ato. Se
houve transmissão de direito real, ou ainda pagamento de dívida não vencida, a restituição da coisa ou do dinheiro é
implicitamente cumulada. A coisa será restituída, quer se encontre em poder de terceiro, contra o qual se poderá executar a
sentença, uma vez que esta contém o elemento condenatório à restituição
• Eficácia erga omnes restituição ao estado anterior ao negócio jurídico fraudulento
• Legitimidade ativa – credor quirografário e também credor com privilégio (art. 158, Código Civil)
• Legitimidade passiva – devedor e também quem celebrou o contrato fraudulento, bem como terceiros que agiram com má-fé
ambos são réus e devem ser citados
Código de Processo Civil
Art. 94. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do
domicílio do réu.
§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.
§ 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor.
§ 3o Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será proposta no foro do domicílio do autor. Se este também
residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.
§ 4o Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.
Simulação
Código Civil
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.
• Simulação é declaração falsa, enganosa, da vontade, visando dar ao negócio jurídico efetivamente desejado ou realizado uma
aparência diversa, com o fito de prejudicar terceiro ou violar a lei. Os contratantes, usando de expedientes de má-fé, visam
obter efeito diverso daquele que o negócio jurídico aparenta conferir
• Simulação caracteriza-se pelo intencional desacordo entre a vontade interna e a vontade declarada, no sentido de criar,
aparentemente, um ato jurídico que, de fato, não existe, ou então oculta, sob determinada aparência, o ato realmente querido
• É conhecida pela outra parte só terceiros a desconhecem
• Pode ser:
Absoluta: partes não praticam nenhum negócio jurídico, apenas fingem (completa ausência de qualquer realidade)
Relativa: partes pretendem, de fato, realizar um negócio jurídico prejudicial a terceiro ou fraudatório à lei, mas visando
escondê-lo ou dar-lhe aparência diversa, realizam outro negócio jurídico. Assim, existem dois negócios jurídicos, um dele é
o simulado, o outro é o dissimulado, oculto sobre a casa do primeiro, mas efetivamente desejado pelas partes. Neste
caso, é nulo o negócio jurídico simulado, mas é considerado válido o dissimulado, se atender os requisitos de substância e
de forma
Negócio jurídico dissimulado é diferente de negócio jurídico simulado
• O rol do art. 167 é de numerus apertus, podendo surgir outros casos de simulação, desde que incluídos no conceito doutrinário
e que tenham por objetivo prejudicar terceiros ou fraudar a lei
Podem surgir outros casos
• Se não há intenção de prejudicar terceiros ou burlar a lei, não há simulação
• Negócio jurídico é nulo
Condição
• É o evento futuro e incerto a que se subordina o efeito do negócio jurídico, podendo impedir a produção de efeitos antes de seu
advento (condição suspensiva) ou tornar sem efeito o ajuste em virtude de seu advento (condição resolutiva)
Declaração acessória de vontade, oposta à principal
• São lícitas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes. A lei proíbe as condições:
Contrárias à lei ou de fazer coisa ilícita
Que privarem o ato de todos os efeitos
Que sujeitarem o ato ao arbítrio de uma das partes (condição puramente potestativa (só a puramente potestativa é ilícita)
Que forem física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas
Que forem incompreensíveis ou contraditórias
• Condição suspensiva juridicamente impossível torna o negócio jurídico nulo; a resolutiva considera-se não escrita
• Não são ilícitas as condições simplesmente potestativas: embora sujeitas à manifestação de vontade de uma das partes,
dependem, ainda, de um acontecimento exterior, que independe do querer dos contratantes
• Também não são ilícitas com as condições mistas, que dependem da vontade de uma das partes e da vontade de um terceiro
determinado
• Só é ilícita a condição que depende exclusivamente do arbítrio da parte, equivalente ao capricho
• Condição juridicamente impossível só causa a nulidade se for suspensiva; a resolutiva considera-se não escrita, como a de não
fazer coisa impossível; a de fazer coisa impossível considera-se não escrita
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 29
Termo
• É o dia em que começa ou se extingue a eficácia de um negócio jurídico, isto é, trata-se de um evento futuro e certo. O termo
suspende o efeito de uma obrigação, até o momento determinado, ou seja, até o advento de um evento futuro e certo. O termo
inicial (dies a quo) suspende o exercício mas não a aquisição de um direito, e o termo final (dies a quem) extingue um direito
previsto no contrato, até então vigente
Encargo
• Encargo ou modo é uma limitação trazida a uma liberalidade. É um ônus imposto a outrem nos negócios jurídicos que envolvem
atos de liberalidade (v.g., doação e testamento), e consiste na assunção de determinado comportamento a favor do disponente,
do beneficiário, de terceiro ou da sociedade. Nada impede que o doador, portanto, transfira gratuitamente a propriedade de uma
fazenda para o donatário, desde que este, por sua vez, doe o apartamento de sua propriedade a uma determinada pessoa
Determinação acessória que restringe a vantagem criada pelo negócio jurídico
• Não se confunde com a condição. Esta atua sobre a eficácia do negócio jurídico, suspendendo ou extinguindo seus efeitos. O
encargo, ao contrário, não suspende os efeitos do ato, que se torna perfeito e acabado, a não ser que o contratante
expressamente diga o contrário, quando então o modo se equipara à condição suspensiva
• O negócio jurídico sob encargo produz, desde logo, os efeitos que lhe são próprios, vale dizer, sua eficácia não fica
condicionada à realização do modo ou encargo. Não obstante, o descumprimento do encargo pode dar ensejo à revogação da
liberalidade, se não preferir o disponente executá-lo
• Simples: mero voto, recomendação ou conselho
• Qualificado: imposição de uma obrigação jurídica, pecuniária, moral ou mista
• Inadimplemento pode acarretar a revogação do negócio jurídico
• O cumprimento dos encargos nas doações modais pode ser exigido por via judicial, pelo doador, por terceiro ou pelo Ministério
Público
Da nulidade absoluta
• A nulidade de pleno direito é imediata; ela golpeia mortalmente o ato logo que ele é praticado e não permite em momento algum
os seus efeitos
• Partes encontram-se na mesma situação anterior, como se nunca tivesse existido o negócio jurídico; ato nulo não pode ser
ratificado
• Nulidade não prescreve
Da nulidade relativa
• Não produz efeitos imediatos. O ato, apesar de viciado, existe e produz efeitos. A sentença que o anula modifica o estado
anterior das coisas
• Apenas a parte prejudicada pode alegar a nulidade relativa
• Só pode ser pronunciada em ação competente, salvo casos em que a lei admite seja oposta em defesa
• Partes podem saná-la, ratificando expressa ou tacitamente efeito retroativo, salvo convenção ou direito de terceiro
Tácita: quando a parte cumpre parcialmente a obrigação, embora conhecendo o vício
Código Civil
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
Assim, é nulo o ato praticado por incapaz, aquele cujo objeto é ilícito ou impossível, o que não observa a forma prescrita
em lei ou que não se reveste da solenidade que a lei considera essencial. Também é nulo o negócio jurídico quando a lei
taxativamente o declarar como tal, ou lhe negar efeito, o ato que frauda a lei. Finalmente, o novo Código Civil considera
nulo de pleno direito o negócio simulado
Por outro lado, é anulável o negócio jurídico praticado por pessoa relativamente incapaz sem estar devidamente assistida
e quando se observa algum vício de vontade, como o erro, dolo, coação, fraude contra credores, estado de perigo e lesão.
A simulação – considerada um vício social como a fraude contra credores – é causa de nulidade absoluta do negócio
jurídico
Nulidade parcial
• Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se
esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da
obrigação principal.
• Quando o negócio jurídico for passível de desdobramento, o defeito de uma de suas partes não contamina o todo
• Parte principal invalida acessória, mas a acessória não invalida a principal
Ação e vontade
• Para caracterizar o ato ilícito deve haver uma ação ou omissão voluntária (vontade)
• No caso de coação física irresistível, inexiste ação
• Tratando-se de coação moral, há conduta voluntária
• A voluntariedade da conduta não se confunde com a projeção da vontade sobre o resultado. O querer intencional de produzir o
resultado caracteriza o dolo, que é um elemento subjetivo do ato ilícito. No primeiro caso, a vontade é suporte físico do ato e
não do resultado
• Dolo: intenção deliberada de causar dano a outrem pleno conhecimento da ação contrária à ordem jurídica e intenção do
dano
• Culpa: é a violação do dever de cuidado que todos os indivíduos devem observar na vida em sociedade, para não prejudicarem
a pessoa e bens alheios. Quem age com culpa, embora não querendo e prevendo o resultado danoso, deixa de observar o
dever de cuidado e, com isso, causa dano a outrem
Negligência: descuido, desídia, inércia
Imprudência: conduta arriscada e irresponsável
Imperícia: falta de destreza no exercício da profissão ou inobservância de regra técnica
• Padrão para aferição da culpa: é considerado como parâmetro a pessoa mediana
• Pouco importa o grau de culpa
• Outras modalidades de culpa:
In eligendo: má escolha daquele a quem se confia a prática de um ato
In vigilando: falta de atenção com o procedimento de outrem
In custodiendo: violação do dever de cuidado em razão da falta de cautela ou atenção em relação a uma pessoa, animal
ou objeto que esteja sob os cuidados do agente (v.g., dono responde pelos danos causados por seus cães)
Culpa concorrente
• Há compensação de culpas
Cada parte arca com seus prejuízos, ou eles são somados e divididos entre eles
Essa regra não se aplica à relações de consumo regidas pelo CDC
Dano
• Para que ocorra o ato ilícito é necessária a existência de um dano
Material ou moral
Sem ele, não cabe ação de indenização
Exclusão de ilicitude
Código Civil
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não
excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.
Estado de necessidade
♦ Tem como substractum uma situação de perigo para determinado bem jurídico, que somente pode ser salvo mediante
o sacrifício de outro bem de menor relevância. Sempre dois bens sob perigo, de forma que é impossível salvar ambas
as coisas
♦ Requisitos: a) perigo atual ou iminente; b) ameaça a direito próprio ou alheio; c) situação não provocada
voluntariamente pelo agente; d) conduta exercida dentro dos limites do indispensável para a remoção do perigo
Código Civil
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à
indenização do prejuízo que sofreram.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver
a importância que tiver ressarcido ao lesado.
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I).
Se o dono não for o responsável pela situação de perigo, o autor do dano deve repará-lo
♦ Quem age em estado de necessidade pode entrar com ação regressiva contra o causador
♦ Se o proprietário do bem sacrificado é o causador do perigo, não há então dever de indenizar
• Do abuso do direito
Noção
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 32
• Teoria da relatividade: à concepção implacável e ilimitada dos direitos individuais se opõe a teoria da relatividade, que admite
a possibilidade de abusos no exercício dos direitos, ainda que se trate de direitos fundamentais da pessoa humana. Direitos
possuem finalidade social. O exercício do direito de forma contrária a seu espírito não constitui uso, mas sim abuso, e aquele
que sofrer algum dano pode responsabilizar o titular do direito subjetivo
Equidade x direito estrito
Móvel e fins devem ser analisados
• Novo Código Civil – é abusivo todo exercício do direito que vá contra a sua função social, ou ainda quando o agente é movido
pela intenção de prejudicar terceiros ou age com má-fé
Responsabilidade civil
• No abuso do direito, respeita-se a letra da lei, mas se ilude seu espírito, recorrendo a atos aparentemente lícitos, mas que em
si, ou sem sua combinação, perseguem um resultado proibido. O ato abusivo é executado dentro dos limites do direito, mas,
como seu objetivo não é concordante com a finalidade social ou econômica da norma, deixa de ser amparado pelo
ordenamento jurídico
• Direito subjetivo não é absoluto
• Pode-se definir o abuso de direito como a ação ou omissão que, a partir de um direito subjetivo, viola ou agride um
interesse existencial ainda não tutelado por uma norma jurídica expressa. Tal ação ou omissão se caracteriza sempre
que há exercício abusivo de um direito subjetivo
• Da prescrição e da decadência
Prescrição
• É a extinção da pretensão pelo seu não-exercício no prazo fixado em lei
• É a extinção da pretensão, e não da ação ou do direito
Código Civil
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.
Art. 206. Prescreve:
§ 1o Em um ano:
I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da
hospedagem ou dos alimentos;
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo
terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador;
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;
III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e
honorários;
IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do capital de sociedade anônima, contado da
publicação da ata da assembléia que aprovar o laudo;
V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de
encerramento da liquidação da sociedade.
§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem.
§ 3o Em três anos:
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias;
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 33
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com
capitalização ou sem ela;
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
V - a pretensão de reparação civil;
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição;
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto, contado o prazo:
a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima;
b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada,
ou da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar conhecimento;
c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação;
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial;
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.
§ 4o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.
§ 5o Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;
II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da
conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato;
III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.
• Arts. 205 e 206 são todos de prescrição: todos os outros são decadenciais
• A decadência, ao contrário, é a extinção do direito material pelo seu não-exercício no prazo legal ou convencional. Não
se confundem os institutos, já que na prescrição o que se extingue é a pretensão e não o direito, embora não possa o
titular invocar esse direito nem a título de exceção, ou seja, de defesa, contra a pretensão que lhe seja oposta
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a
interromper.
Uma vez interrompida a prescrição por um dos motivos acima elencados, ela recomeça a correr da data do ato que a
interrompeu, ou do último ato do processo que a interromper. A interrupção da prescrição tem efeitos diversos, quer ser
trate de obrigação solidária ou não-solidária
♦ Não-solidária: não aproveita outros credores
♦ Solidárias: interrompendo-se contra um, interrompe-se contra todos
Objeto da prova
• São objeto da prova os fatos que não sejam reconhecidos e notórios
• Lei não é objeto de prova, exceto lei municipal e estrangeira
• Confissão
Declaração, por uma parte, da verdade dos fatos afirmados pela outra parte e contrários ao confitente
♦ Deve ser considerada com reservas no âmbito do processo penal
Eficácia da confissão se subordina a condições de capacidade e legitimidade: só pode confessar pessoa capaz de se
obrigar
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 35
Pode ser feita por representante legal ou convencional, respeitados os limites em que possa vincular o representado
Código Civil: Art. 214 - A confissão é irrevogável, mas pode ser anulada se decorreu de erro de fato ou de coação
Pode ser:
♦ Judicial: feita perante o juiz
♦ Extrajudicial: realizada fora do juízo perante a outra parte ou terceiros pode ser provada por testemunhas, salvo
nos casos em que a lei não admite prova testemunhal
• Testemunhas
Pessoa diversa dos partícipes em determinado fato ou negócio jurídico e que tem conhecimento do ocorrido
♦ Observações são expostas como fatos subjetivos
Há casos em que não é admitida prova exclusivamente testemunhal, mas ela pode ser usada subsidiariamente em
qualquer caso
Testemunha: maior de 16 anos e discernimento para prática dos atos da vida civil
♦ Pródigo pode ser
♦ Cegas e surdas podem ser, desde que o conhecimento do fato não dependa dos sentidos faltantes
Testemunha não pode ter interesse no litígio
♦ Não pode ser amigo íntimo ou inimigo capital das partes, cônjuges, parentes em linha reta e colaterais até terceiro
grau, por consangüinidade ou afinidade podem ser ouvidas como informantes
Segredo profissional ou por estado deve ser respeitado
Código Civil: Art. 229. Ninguém pode ser obrigado a depor sobre fato: I - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva
guardar segredo; II - a que não possa responder sem desonra própria, de seu cônjuge, parente em grau sucessível
(ascendente, descendente, colateral até o quarto grau, ou amigo íntimo; III - que o exponha, ou às pessoas referidas no
inciso antecedente, a perigo de vida, de demanda, ou de dano patrimonial imediato.
♦ Recusa de depor pode se dar em qualquer esfera
• Presunção
É um tipo de raciocínio, uma conclusão a respeito de um fato não diretamente demonstrado, que se obtém a partir de outro
fato comprovado prova indireta, ou circunstancial
Pode ser:
♦ Legal: decorre de norma constante no direito positivo (v.g., posse é exteriorização da propriedade)
♦ Comum: fundam-se no que ordinariamente acontece; só admitidas nos casos em que a lei torna possível a prova
testemunhal (v.g., S. 301 do STJ: recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção relativa
de paternidade)
♦ Absoluta (juris et de jure): estabelecida por lei como verdade indestrutível
♦ Relativa (juris tantum): a lei estabelece um fato como verdadeiro, até prova em contrário
• Perícia
Prova técnica e demanda do perito um perfeito conhecimento técnico da questão submetida a juízo
Pode constituir na declaração de ciência (quando relata as percepções colhidas, quando se apresenta como prova
representativa de fatos verificados ou constatados) ou na afirmação de um juízo (quando constitui parecer que auxilia o juiz
na interpretação ou apreciação dos fatos da causa)
Ninguém pode ser constrangido a se submeter a perícia Código Civil: Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo
juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame.
• Documento
É coisa em que se fixa materialmente, e de modo permanente, a manifestação de vontade, ou seja, é o instrumento que
serve como suporte para uma declaração de vontade
Nem sempre tem como suporte o papel, tal como o CD, o DVD
As declarações de vontade constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiras em relação aos signatários,
seja qual for o suporte utilizado
Pode ser público ou particular
♦ O particular pode ter sua autoria e conteúdo confirmados pelas partes perante um notário, tornando-se um documento
autenticado
• Escritura pública
É o documento público escrito por tabelião, em suas notas
Notário é dotado de fé pública autenticidade aos documentos
Documento particular
♦ Art. 221. O instrumento particular, feito e assinado, ou somente assinado por quem esteja na livre disposição e
administração de seus bens, prova as obrigações convencionais de qualquer valor; mas os seus efeitos, bem como
os da cessão, não se operam, a respeito de terceiros, antes de registrado no registro público
Princípio da relatividade do contrato instrumento contratual vale apenas entre as partes e não vincula
terceiros
♦ Contratos com valor superior ao décuplo do salário mínimo só admitem prova documental
♦ Código Civil: Art. 224. Os documentos redigidos em língua estrangeira serão traduzidos para o português para ter
efeitos legais no País; tradução por tradutor juramentado e também registro para ter efeito no país
♦ Código Civil Art. 225. As reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos e, em geral, quaisquer
outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova plena destes, se a parte, contra
quem forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão. considerados documentos particulares
♦ Cópia autenticada por tabelião tem o mesmo valor do original, mas a parte deve exibir o original se a autenticidade for
impugnada
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 38
Elementos da obrigação
• Sujeito, objeto, causa ou fonte da obrigação. Não existe relação obrigacional que não possua sujeito, objeto ou fonte
Sujeito da obrigação
• Os sujeitos da obrigação são as pessoas vinculadas pela relação jurídica a que ela se refere – obrigatoriamente há um ativo
(titular) e um passivo
• Somente podem ser credores ou devedores as entidades dotadas de personalidade; entidades despersonalizadas, como o
espólio, a massa falida, o condomínio, a princípio, não podem ser sujeitos ativos ou passivos de obrigações, salvo aquelas
previstas em lei
• Sujeito deve ser agente capaz
• Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele
efetivamente reverteu. – Código Civil
• Art. 335. A consignação tem lugar: III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em
lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; (depósito em juízo)
• Sujeito deve ser determinado ou determinável
• Obrigações propter rem - sujeito determinável, mas individualizável no momento da exigência da obrigação, apenas
Objeto
• É aquilo que o devedor deve satisfazer em favor do credor, ou seja, é a prestação
• Coisa ou fato ou abstenção de algo que o devedor poderia executar, se não fosse a existência da obrigação
• Dar, fazer ou não fazer
• Não há obrigação sem objeto
• Falta de objeto pode resultar: a) de sua indeterminação; b) de sua impossibilidade; c) de sua falta de significação pecuniária
• Deve ser física e juridicamente possível
• Direito das obrigações tem conteúdo eminentemente patrimonial: deve ser estimada em dinheiro, pouco importando que se trate
de obrigação contratual ou extracontratual
• Objeto também deve ser legítimo: é ilegítimo quando for contrário à ordem pública, à moral e aos bons costumes
• Em princípio, as obrigações não são contaminadas por vícios que recaem em outras obrigações, mas excepcionalmente se
verifica a interdependência das obrigações. As obrigações podem ser vinculadas, de tal forma que uma não pode existir sem a
outra
• Obrigação que tem independência própria é denominada “obrigação principal”, enquanto a dependente é denominada
“acessória”
• Relação de acessoriedade pode surgir da lei ou da vontade das partes
• Relação de interdependência das obrigações implica os seguintes efeitos:
Extinção da principal implica a nulidade da acessória, mas o inverso não é verdadeiro
A nulidade da principal contamina a acessória
Regime jurídico da principal abrange, em princípio, a obrigação acessória
♦ Prescrição, formalidades, provas
Efeitos da obrigação
• Podem ser normais (necessários) ou anormais
• Normais consistem nos meios que o ordenamento jurídico confere ao credor para que obtenha o cumprimento específico da
obrigação: em espécie ou in natura
Cumprimento forçado da obrigação
• Limitações ao cumprimento forçado da obrigação dependem da sua natureza, sendo mais ou menos amplas se se tratar de
obrigação de dar, fazer ou não fazer
• Quando a prestação é exeqüível apenas pelo devedor, a prestação é substituída pela obrigação de indenizar as perdas e danos
• Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele
exeqüível. – Código Civil
• Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa
ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível. – Código Civil
Mediante autorização judicial
• Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica
da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do
adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 1994) – Código de Processo Civil
Obrigação natural
• Civis ou naturais
• Civis: tuteladas pelo ordenamento jurídico
• Naturais: não previstas no ordenamento positivo, mas apenas no direito natural (mero dever moral); o credor não tem meios
jurídicos para exigir seu cumprimento, v.g., dívida de jogo
Obrigação de dar
• Consiste na entrega de alguma coisa pelo devedor ao credor
Dar coisa certa: credor não é obrigado a receber outra (válido para acessórios)
Se o objeto a ser entregue for destruído ou deteriorado, em caso de culpa ou dolo, aplica-se a regra da responsabilidade
civil
♦ Ver p. 270
No caso de perda ou deterioração sem culpa, quem arca com o prejuízo é sempre o proprietário – res perit dominio
Se a obrigação era de restituir, quem arca com o prejuízo é o credor – res perit dominio
Obrigação de fazer
• Quando envolve transferência de domínio, é de dar; em todos os outros casos, é de fazer
• Na obrigação de dar, é sempre possível a execução compulsória; já na de fazer, a execução específica é impossível
• Inadimplemento da obrigação de fazer enseja reparação por perdas e danos
• Se o devedor tem que confeccionar a coisa antes, a obrigação é de fazer
• Credor não é obrigado a aceitá-la de terceiro, quando convencionado o oposto
Credor executa ou repara por meio de perdas e danos, em caso de culpa
• Em caso de inadimplemento, cabe verificar se é fungível ou infungível (podendo ser realizada apenas pelo devedor)
• É possível execução por meio de título extrajudicial
• Art. 645. Na execução de obrigação de fazer ou não fazer, fundada em título extrajudicial, o juiz, ao despachar a inicial, fixará
multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação e a data a partir da qual será devida.
• Quando fungível, o credor pode optar por perdas e danos ou mandar executar por terceiro, à custa do devedor
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 41
Obrigações alternativas
• É alternativa quando, embora múltiplo o seu objeto, o devedor se exonera cumprindo uma das prestações; difere da cumulativa,
em que o devedor deve cumprir todas as obrigações previstas
• Salvo disposição em contrário, cabe ao devedor a escolha
• Mesmo em caso de culpa do devedor quanto a uma, pode ele exonerar-se cumprindo a outra, se a ele couber a escolha
• Se todos tornarem-se impossíveis, deve-se averiguar se houve culpa – indenização ou extinção pura e simples da obrigação
Se couber a escolha ao devedor, deve pagar a que por último se impossibilitou; se for ao credor, pode exigir o valor de
qualquer uma delas, além de perdas e dano
Obrigações solidárias
• Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com
direito, ou obrigado, à dívida toda. – Código Civil
• Pode ser ativa ou passiva
• É uma exceção à regra
• Diferente de obrigação indivisível
• Fontes da solidariedade
Sempre resulta ou da lei, ou da vontade das partes
• Solidariedade passiva
Credor pode exigir a dívida em sua totalidade de qualquer um dos devedores
♦ Pode ser observada sob duas faces:
Externamente: conjunto dos devedores se apresenta como se fosse um único devedor
Internamente: devedores obrigam-se entre si
Devedor só pode opor ao credor suas exceções pessoais ou as comuns a todos os devedores
Aquele que paga a dívida por inteiro tem direito de exigir dos co-devedores suas cotas
No caso de devedores insolventes, suas cotas são rateadas pelos solventes
No caso de apenas uma das partes ser interessada na dívida (avalizado, p.ex.) não há rateio
• Renúncia à solidariedade
O credor pode renunciar à solidariedade, seja em relação a um, alguns ou a todos os credores
É diferente de remissão de dívida
Em caso de culpa de um dos coobrigados, o credor tem direito a receber o equivalente à prestação, além de perdas e
danos
A solidariedade não se extingue com a insolvência, ao contrário da obrigação indivisível
Pelas perdas e danos só responde o culpado pelo descumprimento (Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de
um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só
responde o culpado. – Código Civil)
Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, estes estão obrigados a pagar apenas a quota correspondente
ao seu quinhão hereditário
Da assunção de dívida
• Também a dívida pode ser transferida a terceiro, desde que haja consentimento expresso do credor
• Na cessão de crédito, não há necessidade de anuência do devedor, bastando que este seja notificado da existência do contrato
• Devedor primitivo fica exonerado, salvo se o terceiro era insolvente, e isso era ignorado pelo credor
• Não se admite consentimento tácito
• Assunção de dívida implica na extinção das garantias primitivas prestadas
• O novo devedor não pode opor exceções pessoais que caberiam ao devedor primitivo
• Prova do pagamento
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 43
• Presunções de pagamento
Lei estabelece uma série de presunções:
♦ Quando feito em quotas periódicas, o pagamento da última
♦ Entrega do título ao devedor
♦ Quitação do capital sem reserva dos juros
São relativas
• Consignação em pagamento
Constitui forma de extinção da obrigação, que se dá com depósito judicial ou depósito em estabelecimento bancário
Não só o dinheiro, mas qualquer outro bem corpóreo, objeto da obrigação, pode ser depositado
Código de Processo Civil - Art. 890. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de
pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida. § 1o Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o devedor
ou terceiro optar pelo depósito da quantia devida, em estabelecimento bancário, oficial onde houver, situado no lugar do
pagamento, em conta com correção monetária, cientificando-se o credor por carta com aviso de recepção, assinado o
prazo de 10 (dez) dias para a manifestação de recusa. § 2o Decorrido o prazo referido no parágrafo anterior, sem a
manifestação de recusa, reputar-se-á o devedor liberado da obrigação, ficando à disposição do credor a quantia
depositada.§ 3o Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, o devedor ou terceiro poderá
propor, dentro de 30 (trinta) dias, a ação de consignação, instruindo a inicial com a prova do depósito e da
recusa. § 4o Não proposta a ação no prazo do parágrafo anterior, ficará sem efeito o depósito, podendo levantá-lo o
depositante.
Sub-rogação legal
♦ Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor: I - do credor que paga a dívida do devedor comum;II - do
adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para
não ser privado de direito sobre imóvel;III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser
obrigado, no todo ou em parte.
Sub-rogação convencional
♦ Art. 347. A sub-rogação é convencional:I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe
transfere todos os seus direitos;II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a
dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.
♦ Art. 348. Na hipótese do inciso I do artigo antecedente, vigorará o disposto quanto à cessão do crédito.
♦ Não pode ser presumida; deve haver expressa menção à transferência dos direitos do credor satisfeito para a
pessoa que faz o pagamento ou empresta o dinheiro necessário para tanto
• Imputação do pagamento
É a operação pela qual – na hipótese de vários débitos da mesma natureza – o devedor, o credor ou a lei determina quão
ou quais deles será extinto pelo pagamento insuficiente para solver todos
♦ Várias obrigações, da mesma natureza, que vinculam os mesmos credores e devedores
Cinco requisitos:
♦ Várias obrigações
♦ Mesmo credor e devedor
♦ Prestações de mesma natureza
♦ Líquidas e vencidas
♦ Pagamento insuficiente para cobrir todas
Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual
deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos. – Código Civil
O direito de imputar o pagamento cabe, em primeiro lugar, ao devedor; em seguida, ao credor
Havendo capital e juros, o pagamento é, primeiro, imputado aos juros vencidos, e depois ao capital
O pagamento é imputado às dívidas vencidas em primeiro lugar; se forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, far-
se-á na mais onerosa, ou seja, a que tiver juros mais altos
Critério da maior onerosidade
Dação em pagamento
• O credor não é obrigado a receber prestação diversa da combinada, ainda que tenha maior valor, mas pode consentir em
receber prestação diversa da que lhe é devida
• Há dação em pagamento quando houver qualquer substituição do objeto devido
Novação
• É um acordo pelo qual se extingue uma obrigação, com a imediata criação de outra que substitui a primeira transformação
de uma em outra
• Há novação quando o novo devedor sucede o antigo, ficando este quite como credor; também quando, em virtude de obrigação
nova, outro credor substitui o antigo
• Cessão de crédito e débito substituem a novação
• Espécies de novação
Objetiva: resulta de uma mudança no objeto devido ou na causa da obrigação primitiva substituição da prestação, ou
mudança da causa no momento em que se decide inovar o título
Subjetiva: provém da mudança do pólo passivou ou ativo da obrigação, que produz a extinção da obrigação antiga (na
cessão de crédito ou débito a obrigação continua a mesma)
♦ Novação subjetiva por substituição do devedor independe do consentimento deste – não cabe ação regressiva
• Elementos da novação
São necessários os seguintes elementos: a) existência de uma obrigação anterior; b) criação de uma nova; c) ânimo de
novar
• Ânimo de novar
Deve haver vontade de substituir uma obrigação pela outra, caso contrário subsiste a original
Deve ser cristalina, livre de qualquer dúvida
Prova da existência do animus novandi deve ser efetuada pela parte interessada na extinção da obrigação anterior
Simples prorrogação de prazo não constitui novação, nem a confissão de dívida
Compensação
• Forma de extinção da obrigação que se configura quando duas pessoas forem, ao mesmo tempo, credor e devedor uma da
outra. Obrigação extingue-se até onde se compensarem
• Para que se caracterize, é necessário que as dívidas sejam líquidas, vencidas e de coisas fungíveis: quem é titular de crédito
ainda não vencido não pode alegá-la
• Pode ser alegada nos embargos à execução, desde que o título a compensar esteja revestido das mesmas características de
liquidez e certeza do título executivo, cabendo o ônus da prova a quem desejar valer-se dela
• Não é admissível quando a obrigação vier de esbulho, furto ou roubo; quando uma das obrigações se originar de comodato,
depósito ou alimentos; ou quando uma das obrigações tiver por objeto uma coisa insuscetível de penhora
• Código Civil - Art. 380. Não se admite a compensação em prejuízo de direito de terceiro. O devedor que se torne credor do seu
credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exeqüente a compensação, de que contra o próprio credor
disporia.
Confusão
• Há confusão quando a pessoa se torna, ao mesmo tempo, credora e devedora de si mesma não existe obrigação com um
só sujeito
• Havendo a confusão, extingue-se a obrigação; se for parcial, extingue-se parcialmente
• Cessada a confusão, é restabelecida a dívida e todos os seus acessórios
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 46
Remissão de dívidas
• É o perdão de dívida; uma vez aceito pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro
• No penhor, a devolução do bem não extingue a dívida, mas a garantia apenas
• Nas obrigações solidárias, a remissão feita a um devedor não exime os demais; mas o credor só pode cobrar o débito deduzida
a dívida remida
Da mora
• É a inadimplência relativa de uma obrigação (mesmo conceito e requisitos)
• Código Civil - Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no
tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.
• Nas obrigações de não fazer, há mora quando o ato é praticado
• Mora é o cumprimento defeituoso da prestação, de forma que o credor pode exigir a execução da obrigação, mais perdas e
danos. Pode ser do devedor ou do credor
Do devedor requer dois elementos:
♦ Atraso
♦ Dolo ou culpa
Terceiro elemento pode ser requerido: a interpelação do devedor pelo credor
Mora do devedor caracteriza-se pela simples recusa em receber o pagamento no tempo, lugar e forma fixados em lei ou
em contrato
• Efeitos da mora
O principal efeito da mora é tornar juridicamente relevante o descumprimento da obrigação pelo devedor: a mora implica a
responsabilidade do devedor pelos danos e prejuízos derivados do atraso no cumprimento da obrigação
♦ Devedor incorre em juros, mesmo que a prestação não sejam em dinheiro
Código Civil - Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando
provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de
impostos devidos à Fazenda Nacional.Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora
que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o
valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes.
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 47
Devedor em mora responde pelos riscos que a coisa vier a sofrer, mesmo em caso fortuito ou força maior; só não
responderá pelos danos se provar que não agiu com culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse
oportunamente executada
Exclui a possibilidade de constituir em mora a parte contrária
Autoriza a parte a resolver o contrato, ainda que não conste cláusula resolutiva expressa
Mora do credor: devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa; obriga o credor a ressarcir
despesas de conservação
• Extinção da mora
Pelas seguintes causas: a) pagamento ou consignação em pagamento; b) renúncia do credor; c) impossibilidade de
pagamento superveniente
Renúncia pode ser total ou parcial, conforme compreenda todos os efeitos da mora ou apenas alguns deles
Mora accipiendi: extinta por decisão do credor ou do devedor
• Correção monetária
Apenas recompõem o poder de compra da moeda, tendo por fundamento a equidade
Código Civil - Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
Código Civil - Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem
prejuízo da pena convencional.
Código Civil - Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas.
♦ Autorização legal para atualização monetária
♦ Vedado reajuste com periodicidade inferior a um ano
Não é devida no curso de contrato que não a prevê, mas incide sobre dívida por ato ilícito a partir da data do
efetivo prejuízo (s. 43 do STJ)
• Multa moratória
É a punição pelo atraso no cumprimento a obrigação máximo 2%
Pode ser cumulada com atualização monetária e juros moratórios
Espécie de cláusula penal
• Da cláusula penal
Noção
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 48
• Também chamada de multa contratual ou pena convencional, é o dispositivo pelo qual os contratantes estipulam, de forma
prévia, o valor da indenização a ser paga em caso de descumprimento da obrigação ajustada em caso de descumprimento
culposo
• Obrigação acessória que impõe uma sanção econômica (em dinheiro ou outro bem) para a parte inadimplente
Sua nulidade não implica a nulidade do contrato
• Cláusula penal também pode ser independente: multa no caso de a obrigação ser inválida ou de o contrato ser rompido por fato
fortuito
• Pode ser prevista para o caso de inadimplemento da obrigação principal, de obrigação prevista em determinada cláusula do
contrato ou ainda na hipótese de mora
• Em caso fortuito ou força maior não há incidência da cláusula penal
• Arras ou sinal
Noção
• Soma em dinheiro ou coisa móvel fungível entregue por uma parte a outra, por ocasião da conclusão do contrato, com a
finalidade de firmar a presunção de acordo final e tornar obrigatória a avença termo deriva do latim “arrha”, que significa
penhor, garantia
• Podem ser:
Confirmatórias: confirmam o acordo e constituem princípio de pagamento, se a coisa dada for do mesmo gênero da
obrigação principal; se for diversa, deverá ser restituída depois de cumprida a obrigação
Penitenciais: admite que a parte se arrependa e volte atrás no negócio entabulado, perdendo em favor do outro
contratante o bem ou valor que deu
• Estipulação acessória ao contrato
• É necessário que haja a efetiva entrega principal diferença quanto à cláusula penal
Confirmatórias
• No silêncio do contrato, são sempre confirmatórias as arras
• Neste caso, inadimplemento sujeita a parte a indenização por perdas e danos
• Arras valem apenas como taxa mínima de indenização
Luiz Guilherme Loureiro – Curso Completo de Direito Civil 49
Penitenciais
• Se no contrato foi estipulado que as partes terão direito de arrependimento, as arras ou sinal terão função unicamente
indenizatória
• Não há indenização suplementar
• Só são penitenciais se houver no contrato cláusula que faculte o arrependimento
• Da responsabilidade civil
Introdução
• É a obrigação que pode recair sobre uma pessoa de reparar o prejuízo causado a outrem por conduta própria ou de pessoas,
animais ou coisas que dele dependam
• Princípio básico: direito neminem laedere os indivíduos podem fazer tudo o que não é vedado por lei e deixar de fazer tudo
aquilo que a lei não exige, desde que não causem danos a terceiros
• Lei exige de todos um dever de cuidado, de forma que todo aquele que, por ato ilícito, causar dano a outro, tem o dever de
indenizar
• Responsabilidade nem sempre decorre de culpa
Responsabilidade civil objetiva
Código Civil - Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas
respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.
• Ato praticado com abuso de direito também é ilícito
Espécies de responsabilidade
• Pode ser classificada quanto ao tipo de culpa, em responsabilidade contratual ou extracontratual, também chamada de
aquiliana
Na culpa ocorre sempre a violação de um dever preexistente se for originário de um contrato, ela é contratual; caso
contrário, é extracontratual
• Culpa aquiliana: violação de um dever de cuidado que a todos se impõem
• Pode se classificada, ainda, em objetiva e subjetiva
Subjetiva é baseada na culpa, considerada um elemento subjetivo que anima a conduta do agente
Objetiva independe de culpa, bastando a conduta voluntária, o dano e o nexo causal entre um e outro
♦ Teoria do risco: se alguém exerce uma atividade potencialmente danosa, responde pelos eventos danosos que ela
gera para os indivíduos, independentemente de culpa
Teoria da culpa ainda impera no Código Civil
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não
dispuserem de meios suficientes.
• Dano
Não há responsabilidade sem prejuízo
Mesmo que o dano for pequeno, deve ser reparado
Para ser ressarcível, deve ser atual e certo não há reparação de dano futuro
♦ No entanto, a reparação de danos por um prejuízo futuro é possível quando este é decorrente de um dano já
existente
Dano dever ser certo, fundado sobre fato preciso e não sobre uma hipótese
• Culpa
Não basta que o agente realize uma conduta contrária ao direito e cause dano a outrem. É preciso ainda que sua ação
seja faltosa, que tenha agido com culpa
Na culpa ocorre sempre a violação de um dever preexistente
Culpa é a falta do dever de cuidado, que se exige do homem médio
♦ Culpa strictu sensu: imprudência, negligência ou imperícia
♦ Culpa lato sensu: inclui também o dolo, que é a intenção de causar dano
O agente quer voluntariamente o ato praticado, sem pretender o resultado prejudicial a terceiro, com a violação do seu
direito
Não importa a intensidade da culpa
Código Civil - Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva
desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.
Quando se trata de dano moral, a doutrina e a jurisprudência consideram que o grau de culpa, ou a existência do dolo,
deve ser levada em conta na fixação da indenização
Pode haver responsabilidade civil no estado de necessidade
Ação em legítima defesa não gera responsabilidade civil
• Culpa concorrente
É a culpa do agente e da vítima, concomitantemente
♦ Responsabilidade é dividida
CDC: culpa concorrente do consumidor não atenua responsabilidade do fornecedor
Apenas quando a culpa for igual, cada um arca com seus danos
• Teoria do risco
Responsabilidade sem culpa
• Nexo causal
Dano só pode gerar responsabilidade quando for possível estabelecer uma relação de causalidade entre ele e o seu autor
Fato só contribui para o resultado quando, sem ele, o dano não teria ocorrido
Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano
causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação. Parágrafo único. São
solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932.
Só é indenizável o dano direto e imediato
Principais excludentes do vínculo de causalidade são
♦ Legítima defesa
♦ Culpa da vítima
♦ Fato de terceiro
♦ Cláusula de não indenizar
♦ Caso fortuito ou força maior
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