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\y/ Ms Muto, alen ganda POR UM ENSINO DE LINGUAS SEM PEDRAS NO CAMINHO rr] Fenton Marcos M, lareloniie Caen t Prony Gran a an Gn Aes tt An Mat Ze Wnt jas Mero tarot (iin te tes Hagel i 0 Hearique Monieagude Ween anavit ngntetde (Universidade de Santiago de Compose ian tinea Mascon Bagno (Unb) | its Mart Rachel Cn de dade POS i 4 Tannus Muc hail (PUC-SP) ” fella Maris Bortons Ricardo (Unb) CAP-BRASIL, CATALOGAGAO. ° . NA FONTE INDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Mrm Ate ante, 997 ate : panic: pon nin elas Pedant handAnunes SPase Po Editorial, 2007, (Estratéquas de ensina ; 5 . Incl bibiogratia 1980978 85 BAS 61-7 |. Lingua portuguesa studoeensna.2. Lingua poraguesa Gramitica stud eensino, 3. Linguagem ¢linguas | Titulo sétie or0nst couse ua 22 ————— Direitos reservados a PARABOLA EDITORIAL Rua Sussuarana, 216 | Ipiranga 04281-070 S40 Paulo, SP Fone: [11] 5061-9262 | Fax: {11} 5061-8075 parabolaeditorial.com.br home page: www. e-mail: parabola@parabolaeditorial.com-br jos. 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Implicagées para 0 ensino \0.A MESMA COISA .ssssssseeseose © Capiruto 5 NAO BASTA SABER GRAMATICA PARA FALAR, LER E ESCRE\ COM SU eaten seeeeeeeenee 5:1. 0s recursos a outros tipos de conhecimento, além do conhecimento gramalical. Z 5.1.1. O conhecimento do real ou do mundo . 1.2. O conhecimento dos recursos de textuali 5.1.3. O conhecimento das normas sociais de uso dit lingua. 5.2. Implicagdes para o ensino .. .0 6 EXPLORAR NOMENCILATURAS FE CLASSIFICACOES NAO E ESTUDAR REGRAS DE GRAMATICN ees gras de graumsitica? Jaluras gramaticais © Capir 6.1, O que 6.2. O que sio nomenc 6.3. Implicagoes para o ensino .. CapiTuLo 7 A NORMA SOCIALMENTE PRESTIGIADA NAO EA UNICA, NORMA LINGUISTICAMENTE VALIDA 7.1. Norma como regularidade e norma como pres 7.2. Norma cult : : 7.3. Norma culta ideal e norma culta real 74. Norma padrio.. O. 7.5. Implicagies para o ensino CapiruLo 8 NEM Topo USO DE LINGUA ‘TE NORMA 8.1. O fendmeno da variagao linguisti 8.2. Implicagdes para o ensino .... 1 QUE SE PAUTAR PELA, CapiruLo 9 UM Novo PADRAO GRAMATICAL NAO SE JUSTIFICA PRIORITARIAMENTE PEI As normas dos manu As normas do uso 9.3. Implicagées para o ensino ... © Caputo 10 Para MELUOR ENTENDER A-TRAMA DE 1 10.1, De onde vém os equivocos 10.2. Quem os mantém? 10.3. A quem ou a que ervem esses equivocos’ © CapiruLo 11 Uma ANduise DE GRAMA » MUITO AQUEM DO TENTO .., © CaprruLo 12 UMA SUGESTAO DE PROGRAMA MUTTO AL DA GRAMAT ¢ CapiruLo 13 Novas concePGOrs DE LINGUA REPERCUSSOES, © Capfruto 14 LINGUA F GRAMATICA NAO SAO UMA RIMAvee PODEM SER UMA SOLU BiogRaria . 69. 70 81 85, 86 a7 m1 4 100 103 103. 107 MW M2 15 16 9 119) eT 122 125 133 M5 159 163 PREFACIO Agua mole em pedra dura Marcos BacNo Universidade de Brasilia No caso da lingua, é bastante claro que o que se diz sobre ela no senso comum 6, de fato, muito pouco. Mas — temos de reconhecer — 6 também muito pouco o que temas realizado em termos do estudo e da compreensio dessas articulagdes discursivas do senso comum, Continua pouco claro, por exemplo, o porqué de tais enunciados nunca perderem sua vitalidade (esto sempre ai, incélumes e disponiveis para 0 eterno retorno). Do mesmo modo, permanecem obscuros os processos que, a cada vez, motivam o reemergir daqueles raros enunciados. Ha portanto, muito ainda a se fazer no destringamento dos dizeres sociais sobre a lingua, Carlos Alberto Faraco! O TELEFONE toca na tarde azul de domingo brasiliense e, quando atendo, recebo a saudacao gostosa da minha amiga Irandé — antincio de mais uma conversa divertida, afetuosa e cheia de observacées perspicazes e originais. Irandé, afinal, é uma das pessoas 1. Carlos Alberto Faraco,“Norma padrio br em Bagno, M. (org.), Linguistica da norma (: sileira: desembaragando alguns nés io Paulo, Loyola, 2002, p. 37). u MUITO ALEA DA GRAMATICA mais inteligentes que conhego e, para melhorar, usa essa inteligéncia um senso de humor imbativel. Ela consegue fazer rir com uma el — me Jembro de uma ocasiao em que, teatralmente de pé, arrancou kigrimas de umas vinte pessoas sentadas 4 mesa de um igrimas suscitadas pelo riso intenso e quase incontrokive] que ela provocou em nés ao fazer uma andlise engracadissima de uma tinica frase escrita nas chaves dos quartos do hotel em que estavamos fem que ser uma pessoa profundamente intima da todos hospedados. u linguagem e de suas filigranas para fazer algo assim. Pois nessa conversa que livemos por telefone, em meio a um e outro ) divertido que ela narrava, Irandé também me confessava uma inquietacao, Tinha escrito um novo livro, mas receava que de“novo” e. final, ela argumentava, essas ideias sobre o que é eo ica, 0 que deve ou nao deve ser ensinado, em que consisle a tarefa do professor de portugués etc. j4 vém sendo repetidas ha pelo menos vinte e cinco anos por linguistas e educadores. Sera que vale a pena insistir? Tanta gente boa vem debatendo isso, tantos documentos oficiais, tantos materiais elaborados para a formacéo se acumulam em torno dessas este livro? ele nada livess que nao é gram docente, Lantos livros e artigos questées... De que pode servir mi Respondi argumentando que, sim, valia a pena publicar aquele trabalho. Antes de mais nada porque (como eu previamente ja sabia, por ser dela, e pude confirmar ao ler mais tarde os originais) se trata de um livro bom de ler, deliciosamente bem escrito, sustentado nao sé porum conhecimento tedrico sdlido, mas também por um desejo sincero de comunicagao direta com o leitor. (Por mais paradoxal que isso possa parecer, s40 poucos os linguistas que conseguem escrever de um modo minimamente interessante e agradavel, como se o trato cientifico com a linguagem nao implicasse também um bom uso dela. Sé isso justificaria a publicacao.) Mas 0 livro também merece vir a puiblico (ou melhor, o publico também merece este livro) porque aborda assuntos decerto jé debatidos, mas enfrentados aqui em nova chave, na perspectiva de alguém que exerce a atividade docente h4 algumas décadas e conhece de perto a situacdo potencialmente catastréfica das salas de aula do AGUA MOLE EM PEDRA DURA. Brasil em geral e, mais especificamente, da regifio Nordeste, onde Irandé nasceu, se formou e vem atuando mais intensamente (privilégio de poucos, fui aluno dela na Universidade Federal de Pernambuco). & uma professora que dialoga em pé de igualdade com outras professoras e professores, e nao uma auloridade académica que vem crilicar 0 que existe sem oferecer nada em troca. O que Irandé oferece aqui é a riqueza de sua vida, um tesouro de saberes ¢ fazeres com 0 qual nenhuma erudicao livresca pode competir. Com Irandé, entre outras pessoas, compartilho a militancia em favor de uma educagao linguistica que transforme para melhor a vida das pessoas — discentes e docentes —, uma educacao linguistica que se concentre no que é relevante para a formacao humana e intelectual dessas pessoas, uma educacdo que seja honesta no que propée, sem esconder a realidade sociocultural intrinsecamente excludente que 6a nossa, sem fazer a propaganda enganosa dle que basla“saber graméatica” para ser capaz de ler e escrever produtivamente nem de que “saber porlugués” é garantia de“ascensao social”, Esta educaco linguistica que opera com as nocées de relevancia e honestidade nao pode, sob pena de contradicao, insistir no ensino (isto é, na inculcacéo) de contetidos inécuos, de praticas de anélise estéreis e centradas em si mesmas, de construtos tedricos elaborados antes de Cristo e repudiados ha bom tempo pelos empreendimentos cientificos, de uma metalinguagem falha e inconsistente, quando nao francamente errdnea. E um crime, em todos os sentidos da palavra, desperdicar 0 espaco- tempo da sala de aula — rarefeilo e, porlanto, precioso num pais de tradicdo educacional paupérrima como 0 nosso — com “aulas de gramética”, “andlise sintatica”, “classificagao dos termos da ora com questdes bizantinas e surrealistas como a da suposta distingéo entre “adjunto adnominal” e “complemento nominal”, com a perpeluagao de um mito como o da existéncia da“passiva sintética”, com a transmissao de nocées nebulosas como a de uma“norma culta” rigidamente fixada pelos séculos amém. Quando, em trabalho com professoras e professores em formagao ou jd em atuagao, apontamos os defeitos, as ineongruéncias ¢ a franca 13 MUITO ALEM DA GRAMATICA 14 radicionais de ensino, a questig a ensinar graimdlica, € para fa , nos imobilizar, nos fazer desig chuteiras € jrcuidar do nosso jardim. Muity ravelmente), aquela pergunla emerge es docentes, como se Ludo y contrade as t inulilidade daquelas prauic ‘Enlao, se nao € par ue poderia inevitavel ¢: qué?” Essa éa pergunta ¢ da profissao, pendurar as frequentemente (quase jnexor no final de encontros que temos com es eet s, no curso ou na palestra, nao Lives: que dissemos antes, ’ ae eco em suas mentes, nao tivesse provocado ondas na superficie de sguas inleriores — & 6 grande a nossa perplexidade, a de nao ; asemente de moslarda que, guido fazer germinar sequer. Ne 4 nos daria alguma boa sensacao de dever cumprido, est4em toda parte — decerto suas termos conse; fnfima embora, j Onde esta o problema? O problema em nés mesmos, naquilo que dizemos-fazemos, no modo como dizemos-fazemos, e sem diivida também naquilo que esta de tal modo arraigado nas mentalidades que somente por meio da repeticao incessante, insistente, paciente sera possivel fazer questionar para, mais tarde ainda, transformar. £0 que diz nosso velho provérbio: “Agua mole em pedra dura, tanto bate até que fura...” E nao é por acaso que o subtitulo deste livro fala justamente das pedras no caminho do ensino de linguas — as pedras em que € preciso bater até se transformarem em Agua fresca e saudavel. Por isso, Irandé querida, este livro tem que ser publicado, para que ele sirva como mais uma etapa no “destringamento dos dizeres sociais sobre a lingua”, como escreveu brilhantemente nosso colega Carlos Alberto Faraco. Assim, é com enorme alegria que escrevo estas palavras de introdugao a ele e de agradecimento a ti. Ja aprendi muito contigo quando fui teu aluno, e aprendo ainda mais agora quando sou teu leitor privilegiado e companheiro de luta. Introdu¢ao O QUE PRETENDO com este livro é trazer para o debate ptiblico a questo da gramatica e de seu ensino na escola. Na verdade, isso tem sido feito na midia impressa e televisiva. S6 que, em geral, nessas situagdes, tem-se adotado uma perspectiva baseada na correcéo de erros ou em questées muito pontuais, que se resolvem facilmente, com explicagées gerais, simplistas, simplificadoras e pouco fundamentadas. Minha pretensao aqui é outra: quero que as pessoas possam ter acesso a um olhar diferente sobre a gramatica, um olhar respaldado pela investigacao das ciéncias da linguagem. Infelizmente, os avancos conseguidos pelos estudos linguisticos ainda nao chegaram ao grande ptiblico, nem mesmo aquele piblico que teve acesso ao estudo de linguas na escola. Pelo contrario, 0 contato com esse estudo tem repercutido de forma pouco positiva nas pessoas, no que se refere as perspectivas com que se veem a linguagem, a lingua, a gramitica, o vocabulario etc. Tudo se mistura numa imensa confusao, agravada pelas pressdes sociais em torno do jdeal de um falar correto, supostamente mais perfeito e prova de superioridade intelectual e cognitiva. E 0 resultado € que, quando se sai da escola, se sai muito mais confuso, com uma visdo de lingua MOTTO ALEAT Da GRANMATICN fF dae falseada, terreno muito propicio a gestagzio de preeonceitos ¢ de simplismos incabiveis. deturpada, reduzi \ dlificuldade de se propor para o grande pablico (e mesmo para © publice letrado) o debate sobre a gramética reside aoa no falo de, em geral, as pessoas acreditarem que as questdes Tinguisticas no Thes dizem respeito, “nao tém nada a ver” com suas alividades jares, com suas interagdes nos is em que aluam. Questoes linguistic “sao questoes para profe profissionais, com suas relagdes fami diferentes UUpos sc cas, dizem, ores de linguas ou para gramaticos. Nao hos pertencem”, Paradoxalmente, em muitas siluacdes, essas mesmas Pessoas nite muito & vontade para emilir opinides sobre a lingua, e, Dior. sobre seu ensino, sobretucdo quando o assunto é ensino de grar se muito mélica, Pretendo, portanto, desfazer aqui Iguns dos equivocos que se criaram em torno da gramétic: a fim de que se possa enxergar a lingua com uma visio cientifica, livre de suposicdes infundadas, livre da ingenuidade dos “achismos” faceis, que, embora sedimentados historic: mente, nao deixam de ser individualmente ‘levantes e redutor ¢, socialmente, discriminatérios, inconsistentes ¢ excludente O fato de eu me cent rar nos equivocos tem uma molivas metodolégica. Quero partir da — ponto onde se situ: CaO apenas roncepcdes do que nao é gramiatica «1M OS enganos, as falsas percepgdes —, para chegar 4 compreensio do que ela & de fato, e, Consequentemente, dos desdobramentos que pode ler o seu ensino, Se meu Propésito é, assim, alacaros eauivocos, quero comecar por aponté-los e, a seguir, ‘presentar, com fundamentos Cientificos, as razées por que podem ser considerados, exalamente, equivocos, Embala-me, bois, um si Parcialmente, no cientifica & mais relevante Vida das pessoas, | deseobert Goes de acesso a uma compreensao mais ampla, mais sejam os usos da linguagem na «mentavelmente, a escola nao tem propiciado a a dessa amplitude e dessa relevaneia, E a linguagem, as do que inTRODUGAO questoes linguisticas despe M apenas muito poucos i es ‘ini cos interesses e quase nenhum fascinio, poucos interesses Esta fora de meu : . Propositos apontar aqui os culpados. Mas me interessa (e muito) focalizar os pontos onde tém origem esses equivocos, para mais facilmente podermos refazer as veredas por onde viemos construindo nossa percepcao da linguagem e de seu ensino. Para quem falo neste livro? Para os professores de linguas? Para os professores de portugu *? Para o puiblico em geral, ou seja, para qualquer pessoa que se preocupa (ou se inquieta) com questées de gramatica e de seu ensino na escola? I. E para esse puiblico em geral. Seja professor ou nao; seja um profissional que lida diretamente com a linguagem (como os profissionais que escrevem, que leem, que fazem da palavra seu instrumento de trabalho) ou nao; seja estudante ou nao. Nao importa. Queria que qualquer pessoa pudesse parar um pouco para pensar, com olhos de amplidao, nessas coisas da linguagem, da lingua, da gramatica. Marcos Bagno, em nossas conversas sobre o tratamento que a linguagem recebe na escola e na midia, muitas vezes, me sugeriu: —Irandé, escreve um livro para os pais dos alunos! Pode ter chegado a hora: e eu estou escrevendo para os pais, para os filhos, para os professores, para qualquer um que queira entender um pouco mais das coisas da linguagem, da lingua e da gramatica. Ja 6 tempo de as descobertas da linguistica deixarem de estar confinadas a contextos especializados; ja é tempo de... ganharem a rua. Se este trabalho tem alguma coisa de demincia, espero que tenha também muito de antncio. Anincio do que pode ser visto noutros horizontes, do que pode ser feito por outras vias... As reflexes que faco aqui tém raizes em todos os meus encontros com professores; de muitos Estados deste Brasil. Encontros em que 7 MUITO ALEM DA GRAMATICA, tenho tido oportunidade de ouvir suas diividas, de sentir i Teceios, de avaliar suas esperancas, de confirmar suas adesdes. neontros im, para ambos os lados, terrenos de sementeira. .. que tém sido, a: Como inspiragao e forga para esses encontros, existe também a “presenca” de muitos colegas e amigos que, de diferentes formas, e em diferentes Ingares, vao também realizando outros encontros, noutras sementeiras, embalados pelos mesmos ideais. Entre essas presencas, merecem uma referéncia muito especial os amigos Carlos Alberto Faraco, Marcos Bagno, Marcos Marcionilo, Egon de Oliveira Rangel, Ana Lima, Auxiliadora Lustosa, Izabel Pinheiro, Regina Pinheiro. Com eles, em momentos diferentes, troquei ideias e colhi Alfredo Antunes foi o leitor particular de cada dia, uma espécie de personal trainer de minha gindstica reflexiva e verbal. Como imagens de fundo, dando sentido a tudo, podem ser vistos meus alunos do mestrado na UECE [Universidade Estadual do Ceara]; podem ser vistos os professores e as professoras que vivem & procura de“boas sementes” para novos terrenos. Talvez, algumas possam ser encontradas aqu A cada um, meus agradecimentos ea vontade de dividir a iltima versao desse falar que eles me ajudaram a expressar, CAPITULO Gramatica: uma area de muitos conflitos UMA DAS CONSTANTES universais é a estreita relagao que as pessoas mantém coma linguagem, diante da qual alimentam crengas, fazem conjeluras, assumem posturas e atitudes. Muitas vezes, sob a inspiragéio de mitos e suposicoes fantas' Poue: s,cerlamente, sob 0 controle da observacao e da investigagao cientifica. Dat poder- se reconhecer uma preocupacao reincidente, de todas as comunidades linguisticas, com a preservagao da lingua, seja pelo fato de ela representar um fator de identidade cultural, seja pela condigao de ela constituir o meio privilegiado de garantir a necessaria interacao social. FE que, de fato, o que esta em jogo, numa situagao de fala qualquer, é mais que a pura e simples emissao de uns sons, mesmo de uns sons. que expressam significados'. Na verdade, por tras das vozes que falamos ilular a leitura do livro Portos de p em, do Prof, amo a atencao, em particular, para 0 capitulo em que o autor 1. Por muitas Wanderley Geraldi . ( 19 MUITO ALENT OA GRANUTICA e ouvimos, existe um mundo de centirios, de figuras, de intengdes, de valores, de historias, De agora, de ontem: do mais proximo ao mais remoto, Como diz o poeta Ferreira Gullar, em nossas vozes, pode-se ouvir fodo"um tumulto”, um"alarido”, pois somos, especialmente pela linguagem. centelha de uma grande e ininterrup) chama, que confere sentido a tudo o que existe, A atividades que implicam o uso da lingua representam, portanto, o campo em que, mais especificamente, se a constituigdo mesma da espécie humana. exer’ Ganha sentido, pois, o empenho de todas as ulluras por garantir politicas sociais de preservagao da lingua, como forma de assegurar a identidade cultural das comunidades e, até mesmo, 2 identidade politica de certos dominios. Fazer concessdes linguisticas, no sentido de se aceilar, oficialmente, a presenca de outras Tinguas em um territério demarcado, pode significar o comego da perda de um dominio politico. mente, ha provas de que os exércitos, ao lado das fronteiras geograficas, defendem a identidade linguistica dos territérios. Ou, por outras palavras, ao lado da conquista de novas terras se instala a imposigao de uma nova lingua. Nao por acaso, Histor’ Em seu livro Portugués ou brasileiro: um convite 4 pesquisa, Marcos Bagno alude a essa aproximagao e diz: A relacdo entre descobertas maritimas e elaboragao das primeiras gramaticas fica nitida nesta coincidéncia de datas: no mesmo ano de 1.492, em que Colombo descobriu a América, foi publicada a primeira gramatica da lingua espanhola, de autoria de Antonio Nebr Nebrija assume sem rodeios a relagao entre gramatica e conquisla colonial sendo suas as famosas palavras: “A lingua sempre foi companheira do Império” (p. 46). . Como se pode concluir, o uso de determinada lingua constitui mais que um fato isolado. E mais que um fato especificamente linguistico, vocal ou grafico. E mais que um exercicio pratico de emissao de sinais. fala das“agdes que se fazem coma linguagem”. A obra de José Carlos Cunha, Pi linguistica e didzitica das linguas, também traz vaio 0 dimento da dimensao pragmiatica da lingua. Na mesma linha de consideragao, sug também a leitura de Suassuna (1995), GRAMATICA: UMA AREA DE MUITOS CONFLITOS... um ato humano, social, politico, historic, ideolégico, que tem consequéncias, que tem repercussées na vida de todas as pessoas. um falo pelo qual passa a historia de todos, o sentido de tudo. Parece oportuno trazer aqui as palavras de Perini (2006, p. 52), quando dit Cada lingua é um retrato do mundo, tomado de um ponto de vista diferente, e que revela algo nao tanto sobre o préprio mundo, mas sobre a mente do ser humano. Cada lingua ilustra uma das infinitas maneiras que o homem pode encontrar de entender a realidade, Nesse quadro tao amplo, em que a lingua aparece como um constitutivo da espécie humana, como recurso para o sentido que as pessoas atribuem a si mesmas, a0 mundo, as coisas toda: s dro, em que circunstancias sociopoliticas da vida humana estao atre- Jadas as atividades da interagao verbal; nesse quadro, repito, tenta- mos identificar a 6tica com que a lingua tem sido vista na escola e entre o comum das pessoas. Surpreende reconhecer quanto diferem os olhares observadores dos que fazem da lingua um objeto de ciéncia, ¢ os olhares miticos dos que cristalizaram verdades irrefutaveis, entre os quais, por vezes, se incluem, até mesmo os olhares daqueles que assumem a tarefa pedagdgica de orientar o ensino. Essa diferenca de olhares se percebe, sobretudo, pelo Angulo da redugao, da simplificagao que os fatos linguisticos sofrem na escola quando so submelidos as atividades de um suposto ensino. Dessa redugao provém os muitos equivocos que forlalecem os preconceitos lingufsticos, que alimentam os programas irrelevantes eas praticas inadequadas de ensino, sobretudo quando se desembar- cana plataforma da gramatica. Pois, se sao tortos os olhos com que se vé a lingua, em geral, muitos mais tortos so eles quando se vé a gramatica, em particular. Os equivocos logo acima referidos cobrem uma area extensa, p vao desde a crenca ingénua de que, para se garantir eficiéncia nas atividades de falar, de ler e de escrever, basta estudar gramética (qua- se sempre nomenclatura gramatical), até a crenga, também ingénua, de que nao é para se ensinar gramélica. A servigo de um e de outro 21 MUTTO ALLA O& CRAMATIR extremo, encontramos politicas de ensino, programas de intervengig ou de orientacao. Basta ver, por exemplo, a agao “vigilante © Zelosa” da midia, a qual, reforcando a crenga de que“as dificuldades verbais das pessoas sao dificuldades de gramiitic + promove uma série de flashes e de colunas (até mesmo na televisao e na internet), onde as “duividas sao inteiramente esclarecidas”, sem qualquer resquicio de impreciso ou de fluidez. Em ume outro caso — o da gramatica onipotente e o da gramatica simplificada e exata — a populacao parece ficar acalmada, em paz com a lingua, embora cega perante a imensa heterogeneidade e flexibilidade dos usos. Num faz de conta tranquilizador, mas estéril e pernicioso, pois, na hora de entender ou de escrever um texto mais complexo, “o saber se mostra, irremediavelmente, insuficiente. gramati Esta evidente, pois, o carater da gramatica como uma area de grandes conflitos. Conflitos internos, oriundos da prépria natureza dos fatos linguisticos. Conflitos externos, oriundos de fatores histéri- cos que concorrem para a constituicdo dos fatos sociais (a lingua é um deles; nao esquecgamos). Dessa forma, a lingua nao pode ser vista tao simplistamente, como uma questo, apenas, de certo e errado, ou como um conjunto de palavras que pertencem a determinada classe e que se juntam para formar frases, 4 volta de um sujeito e de um predicado. A lingua é muito mais que isso tudo. E parte de nés mesmos, de nossa identidade cultural, historica, social. E por meio dela que nos socializamos, que interagimos, que desenvolvemos nosso sentimento de pertencimento a um grupo, a uma comunidade. Ea lingua que nos faz sentir pertencendo a um espaco. E ela que confirma nossa decla- ragao: Eu sou daqui. Falar, escutar, ler, escrever reafirma, cada vez, nossa condi¢ao de gente, de pessoa histérica, situada em um tempoe em um espaco. Além disso, a lingua mexe com valores. Mobiliza cren- ¢as. Institui e reforca poderes. : Por isso, anima-me, nesse momento, o interesse Por enfocar o que é Preocupante, no que concerne & compreensao do que éa lingua, do que é a gramatica. Minha Pretensao, portanto, é, nos capitulos que se GRAMATICA: UMA AREA DE MUITOS CONFLITOS. seguirao, desfazer alguns dos equivocos com que a gramatica tem sido vista, trazendo, para isso, a contraparte dos prinefpios cientifi- podem sustentar outras visdes, e, em consequéncia, inspirar outro tratamento escolar para os fatos gramaticais. cos que A partir dessas novas visées, tentarei indicar outros pontos de muito maior relevancia para a eficdcia discursiva do que o simples estudo da gramitica e de suas nomenclaturas. E preciso reprogramar a mente de professores, pais e alunos em geral, para enxergarmos na lingua muito mais elementos do que sim- plesmente erros e acertos de gramatica e de sua terminologia. De fato, qualquer coisa que foge um pouco do uso mais ou menos estipu- lado é vista como erro. As mudangas nio so percebidas como“mu- dancas”, sao percebidas como erros. A titulo de exemplo, gostaria de referir a experiéncia de uma pro- fessora que, analisando com seus alunos textos em portugués do sé- culo XVI, ficou surpresa ao ouvir deles que“aqueles textos estavam de erros”. Mais ainda: pela internet, circulou um texto com ta de expressdes que “todos nés dizemos de forma errada”: como“Batatinha, quando nasce, se esparrama pelo chao”; segundo 0 comentario, o certo deveria ser “Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chao”. Isto é, tudo é imediata e sumariamente tachado como erro; de nds, uns“descuidados contumazes e incuraveis”, quan- do se trata das questées linguisticas. uma | Diante desse quadro, lembro-me de uns versos de Fernando Pes- soa, que, embora de poemas diferentes, se aplicam perfeitamente ao sem sentido de como muitas vezes a linguagem é vista na escola: “No piano anénimo da praia Tocam nenhuma melodia” “Pobre dria fora de miisica e de voz Tao cheia de nao ser nada”. 23 CAPITULO Que Qramaticas existem? a NORMALMENTE, quando as pessoas falam em graméatica, desconhecem que podem estar falando nao de uma coisa s6, mas de coisas bem diferentes. Essa falsa impressao é também decorrente daquela ja referida redugao que os fatos linguisticos tém sofrido. Na verdade, quando se fala em gramatica, pode-se estar falando: a) das regras que definem o funcionamento de determinada lingua, como em: “a gramatica do portugués”; nessa acep¢ao, a gramatica corresponde ao saber intuitivo que todo falante tem de sua propria lingua, a qual tem sido chamada de“gramatica internalizada”; b) das regras que definem o funcionamento de determinada norma, como em:“a graméatica da norma culta”, por exemplo; c) deuma perspectiva de estudo, como em:“a gramatica gerativ: “a gramatica estruturalista”, “a gramatica funcionalist MUITO ALOM DA GRAMAATICA abordagem, como em: “a de uma tendéncia historica de gramatica tradicional”, por exemplo; d) de uma disciplina escolar, com? em:" ¢) de um livro, como em:"a Gramitica : . a coisa di Cada uma dessas acepgoes S¢ refere a uma COP : ; plemas, mas precisam ser percebidas na verdade, coexistem. Sem pro! ser perce” jes, nas suas fungoes e 0S seus limites. Vamos ’ naquelas que mais da uma, demoran' ‘ferente. Todas, nas suas particularidad ver um pouquinho de ca nos interessam neste momento. CONJUNTO DE REGRAS QUE DE UMA LINGUA 2.1. Gran NEM 0. FUNCIONAMENTO rramatica abarca todas as regras de uso de Nesse sentido, g! ss sde os padrdes de formacao das uma lingua. Envolve, portanto, de: sflabas, passando por aqueles outros de formagao de palavras e de suas flexdes, até aqueles niveis mais complexos de distribuigao as unidades para a constituicéo das frases e dos em nenhuma lingua, escapa a essa Por isso é que se diz que nao existe lingua sem gra- matica. Nem existe gramatica fora da lingua. Ou, ninguém aprende uma lingua para depois aprender a sua gramatica. Qualquer pessoa que fala uma lingua fala essa lingua porque sabe a sua gramatica, mesmo que nao tenha consciéncia disso. e arranjo d periodos. Nada na lingua, gramatica. Como ilustragao, analisemos o seguinte fato. Uma crianga de 2 anos e quatro meses, ao ser interrogada se queria falar pelo telef com a avo, respondeu prontamente: ene — Quero. we eemes que essa crianca nao disse “queremos juis” bie: pei out fis qualquer que nao fizesse ee ear Ay ontrario, sou verbo nas flexées de t ero adequadas, omitiu 0 pronome sujeito, : nitive , omitiu o DARLENE complemento do verbo, uma vez que esses elementos estavain conligas no contexto da interagao, Certamente, se a pergusita tivesse oida: — Quem quer falar com a vov6? — 0 garolo pio teria omitiso 0 pronome € teria respondido: — Eu quero! — ou, simplesmente: — Eu. 0 propésito dessa simples andlise é apenas tentar demonstrat como a gramalica da lingua, nesse sentido de “gramalica interiorizada”, de conhecimento das particularidades da gyal da lingua naliva, faz parte do conjunto de saberes que a» pews desenvolvem desde a mais tenra idade, Se uma crianca diz “minhas colegas e meus eolegos”,“umn algodio” e“um algodinho”, 6 porque j4 domina as regras morlowsiniéticss de indicacao do masculino e do feminino, bem como as regras de indicagio do aumentativo e do diminutivo em portugues. Ou seja, 4 vabe exer pontos da gramatica. Da gramatica geral que regula 0 funcionamento da sua lingua: por exemplo, sea lingua tem artigos, se tern preposige seadota flexdes (de ntimero, de género, de grau, de tempo ee, © pare qe lipos de palavras), que posigoes as palavras poder ocupar na Irae, que funcdes podem ser atribufdas a esas posiges etc, Como lembra Scherre (2005, p.9),“com 3anos de idade, qualquer erianga de qualquer parte-do mundo se comunica com estruturas linguisticas complexas”. Mas existe a ideia simplista ¢ ingénua de que apenas 4 norina culla segue uma gramdtica. As oulras normas funcionam sem gramatica. Movem-se a deriva. Ora, toda lingua — em qualquer condicao de uso — é regulada por uma graméatica, Quando um professor se queixa de que“os alunos ch série e nao conhecem as regras de gramalica”, evidentemente, se referindo a uma outra gramiatica, fora dessa primeira acep pois esta j4 se encontra consolidada. pelo resto da vida, Quando outro professor fala na“obrigaltori ade do uso da gramftica"ambem estd falando de outra gramdlica. FE. que, nesse primeiro sentido, no MUITO ALEM DA GRAMATICA se trata de obrigatoriedade. A gramética ¢ constitutiva da lingua, quer dizer: faz a lingua ser o que é. Nunca pode ser uma questao de escolha, algo que pode ser ou deixar de ser obrigatério. Simplesmente, 6, faz parte. Nem requer ensino formal. ‘Também quando alguém fala em*“regras gramaticais complicadas” tem em mente outra gramatica. Nao existe lingua complicada para 0s falantes nativos de qualquer lingua. Todos sabem dizer 0 que querem dizer, o que precisam dizer. Quando um professor pergunta:“O que fazer para ajudar os alunos a produzzir textos, quando eles nao tém conhecimento de gramatica?”, demonstra que ainda nao entendeu que existe uma gramatica ja internalizada. Certamente, a essa altura, o que ais os alunos sabem. éa gramatica da lingua: nesse sentido dos seus USOS reais. 1 Acredito que valeria a pena dizer essas coisas para os alunos; pelo menos, eles se sentiriam mais encorajados a empreender a tarefa de ampliar suas habilidades comunicativas. Seria timo se nés, professores, de vez em quando disséssemos: “Vocés sabiam que j4 sabem a gramatica da nossa lingua?”, & demonstrassemos isso por meio de exemplos simples e ricos! E curioso perceber que, entre a populaciio analfabeta ou pouco letrada, nao se ouve a queixa de que “lingua é dificil” ou a“gramatica é complicada”. S6 na escola é que vao nos convencer de que“a lingua é dificil”e, pior ainda, de que“ndo sabemos empregé-labem”'. Meespanta constatar que essa jdeia de que“nao sabemos falar portugués; so uns muito poucos é que sabem!” é uma das mais arraigadas, das mais inculcadas, que resiste a toda e qualquer argumentagao em contrario. (Funciona como um dogma: é intocdvel.) Por outro lado, talvez,nem me devesse espantar, reconhecendo o lugar de origem dessa cantilena. 1. Vale a pena ler o livro O portugués so dois..., da autoria da professora Rosa Virginia Mattos e Silva (ver ‘ndicagdes completas na bibliografia), onde, sob enfoques diversos, sio tratados problemas relativos & diversidade linguistica do ‘portugues € seu ensino. QUE GRAMATICAS Basten Um menino, em tenra idade, apr studante, 20 contrario, tem difi te ensinam. Por qué? Vale a p Em sintese, a gramitica da lingua vai sendo quer dizer, na propria experiencia de seirf e falando. Nao ha um momento especial nem uma Pessoa especifi destinados a0 ensino dessa gramatica, Ela vai sendo ae 7 conhecimento intuitivo, pelo simples fato de @ pessoa estar ee : gramatica esta inerentemente ligada 4 » ssa ex] da lingua. A escola vira depois; para ‘Posigao da Pessoa aos usos ampliar, 866 Todas essas consideracdes nos Drummond, Aula de Portugués, no qual aparece expressa a perplexidade de quem, na escola, se encontra frente a frente com uma lingua que parece outra; bem diferente daquela que fala nas situacOes mais triviais do cotidiano, fazem lembrar 0 Poema de Uma pausa para 0 poema: Aula de ‘Portugués A linguagem Na ponta da lingua Tao facil de falar Ede entender A linguagem na superficie estrelada das letras Sabe ld 0 que ela quer dizer? Professor Carlos Géis, ele 6 quem sabe E vai desmatando O amazonas da minha ignorancia. Figuras de gramiatica, esquipaticas Atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. 29 i MUITO ALEM DA GRAMATICA Jé esqueci a lingua em que comia Em que pedia para irla fora, Em que levava € dava pontape. A lingua, breve lingua entrecortada Do namoro com a prima. O portugués s40 dois; 0 outro, mistério. raneiro: Re 079). (G. Drummond de Andrade, Esquecer para Iembrar. Rio de Janeiro: Record, 1979) o enleio do poema, passemos a& segunda Sem perder de todo acepgao do termo gramati 5°5, Gramarica 2: CONJUNTO DE NORMAS QUE REGULAM 0 USO DA NORMA CULTA 30 ntido, a gramatica € particularizada, ou seja, nao abarca toda a realidade da lingua, pois contempla apenas aqueles usos considerados aceitaveis na ética da lingua prestigiada socialmente, Enquadra-se, portanto, no domfnio do normativo, no qual define 9 certo, o como deve ser da lingua e, por oposi¢ao, aponta 0 errado, 0 como néo deve ser dito. Nesse segundo sel Tais definigdes nao sao feitas por razées propriamente linguisticas, quer dizer, por razoes internas 4 propria lingua. Sao feitas por razoes historicas, por convengoes sociais, que determinam o que representa ou nao o falar social mais aceito, Dai por que nao existem usos linguisticamente melhores ou mais certos que outros; existem usos que ganharam mais aceilagao, mais prestigio que outros, por razoes puramente sociais, advindas, inclusive, do poder econdmico e politico unidade que adota esses usos. Dessa forma, nao é por acaso da com que a fala errada seja exatamente a fala da classe social que nao tem prestigio nem poder politico e econdmico. Esse cruzamento de dominios torna, portanto, a questo da norma culta um saco de muitos gatos, um ponto bastante complexo, que exige estudo, andlise, reflexao e debate consistentes, dentro e fora da QUE GRAMATICAS EXISTE? escola, para que as inimeras incompreensdes que rondam sua conceituacgao possam ser ultrapassadas. No percurso deste livro, o tema da norma culta e de seu ensino sera retomado no capitulo 7 e, de certa forma, ao final de cada capitulo, no L6pico que intitulei de Implicagdes para o ensino, coma pretensao de analisar as repercussdes que novas concepgdes de gramatica podem ter nas atividades de ensino. Portanto, intencionalmente, nao me alongo aqui com a discussao sobre norma culta e suas relagdes com a gramatica e 0 ensino, uma vez que a esses tdpicos dedico mais adiante capitulos e segmentos especificos. Uma terceira acepgao para o termo gramdtica pode ser vista a seguir. 2.3. GRAMATICA 3: UMA PERSPECTIVA DE ESTUDO DOS FATOS DA LINGUAGEM O termo graméatica também é usado para designar uma perspectiva cientifica ou um método de investigacao sobre as linguas. ‘Ao longo dos estudos sobre a linguagem, diferentes perspectivas se sucederam, umas mais centradas na lingua como sistema em potencial, como conjunto de signos 4 disposicao dos falantes, outras mais voltadas para os usos reais que os interlocutores fazem da lingua, nas diferentes situagdes sociais de interacao verbal. E por essas perspectivas que se fala, por exemplo, em“gramatica estruturalista”, “gramatica gerativa”, “gramatica funcionalista”, “gramatica tradicional” etc. Cada uma apresenta um corpo de teorias, que justificam um tipo de apreensio, observagao e andlise do fendmeno linguistico. Representam, assim, visOes histéricas da percepgao que se tem acerca da linguagem e da lingua, visdes que, em geral, retratam a dtica comum a outros setores da vida humana. MUITO ALEM DA GRAMATICA, — 32 Ou seja, a ciéncia da linguagem também esta em sintonia com as correntes de pensamento mais significativas em cada ora, de maneira que se pode ver, por tras de qualquer estudo da Tinguagem, um aparato tedrico que se conjuga com as visdes de mundo a partir das quais as coisas so observadas e, consequentemente, exploradas e tratadas, Numa quarta acep¢do, o termo gramatica diminui de alcance, pois corresponde a uma especifica matéria de ensino escolar. 2.4, Gramitica 4: UMA DISCIPLINA DE ESTUDO Possivelmente, o termo gramatica tem, nessa acep¢aio, o maior indice deuso, pelo menos nos meios escolares. F ele que esta por trés das famosas aulas de gramatica e que constitui, em geral, a grande dor de cabeca da comunidade escolar, dos professores e técnicos, da comunidade extra- escolar (pais, sobretudo) e, até mesmo, dos préprios alunos mais adiantados, que“aprenderam muito bem as liges de anos anteriores”, Pois 86 acreditam que esto estudando a lingua sea disciplina gramatica estiver no comego, no meio e no fim de todos os programas de estudo. Etala énfase nessa disciplina que, de uns anos para cA, alé mereceu uma carga horaria especial, separada das aulas de redai pao e de literatura, como se redigir um texto ou ler literatura fosse coisa que se pudesse fazer sem gramatica; ou como se saber gramiatica tivesse alguma serventia fora das atividades de comunicagao. Essas inconsisténcias parecem pouco significativas, mas tém Tepercussoes miiltiplas nas concepcSes sobre gramatica e nas priticas de seu ensino, Todas perniciosas. Assim, é urgente discutir os pontos cruciais que sustentam sua improcedéncia teorica ou conceitual. Por isso, oportunamente, vamos voltar, muitas vezes, a esse nd da graméatica como disciplina escolar — 6 0 tema deste livro. Interessa a todos, acredito. Uma ultima acepcao de gramética pode ser vista a seguir: QUE GRAMATICAS EXISTEM? 2.5. GRAMATICA 5: UM COMPENDIO DESCRITIVO- NORMATIVO SOBRE A LINGUA Em principio, a descrigéo do funcionamento da lingua — da fonética a estilistica — toma corpo em um livro, em um compéndio que conhecemos como Gramatica. Em geral, essa gramatica pode adotar uma perspectiva mais descritiva ou mais prescritiva. No primeiro caso, temos uma gramatica que focaliza elementos da estrutura da lingua, descrevendo-os apenas ou apresentando-os em suas especificidades. No segundo caso, temos uma gramatica que focaliza as hipoteses do uso considerado padrao, fixando-se, assim, no conjunto de regras que marcam o que se considera como USO correto da lingua. Mas um compéndio de gramatica também pode focalizar a lingua como sistema em potencial, descontextualizado, como pode focalizar a lingua nos seus usos reais, testemunhados pelas situagdes da interacaio social. Pode ainda ressaltar os aspectos de flexibilidade, de heterogeneidade da lingua, como pode enfatizar a rigidez de algumas de suas regras ou formas. Pode concentrar-se no escrito como pode concentrar-se no oral ou em ambas as modalidades. De maneira geral, aqui no Brasil, as gramaticas do portugués tém concedido uma énfase especial 4 modalidade escrita da lingua, sobretudo da escrita literaria e, mais ultimamente, da escrita usada na imprensa*. De qualquer forma, as gramaticas nunca sao neutras, inocentes; nunca sao apoliticas, portanto. Optar por uma delas é, sempre, optar por determinada visao de lingua. As gramaticas também (é bom Jembrar) so produtos intelectuais, sao livros escritos por seres humanos, sujeitos, portanto, a falhas, imprecis6es, esquecimentos além, éclaro, de vinculados a crencas e ideologias. Por isso, nao faz sentido s do portugués, de Maria ce grande destaque a obra Gramilica de sa de Moura Neves, a qual tem como refe "ou, concretamente, 68 usos atuais da lingua portuguesa no Brasi es Sos, a autora Vail deserevendo e analisando as regras que regem seu funcionamento 33 MUITO ALEM DA GRAMATICA reverenciar as gramaticas como se nelas estivesse alguma espécie de verdade absoluta e eterna sobre a lingua — sao produtos humanos, como outros quaisquer*, ed 4. Varios conceitos de gramati ; bem como as relagdes entre tas concen Podem ser vistos em Travaglia (1996) arlacio linguistca e suas implicagdes ng scott: © QUe Propiciou a consideracao da uero jd adiantar que essa obra de Tree mito do ensino da lingua materna Ali, valiosas indicagdes de muitas atividades © Outta publicada em 2008 oferecem™ evidenciando-se, assim, 0 cuidado dos pat Podem ser realizadas em sala de aula, como encontrar saic que, aos professor CAPITULO [Ey A urgéncia de explorar a gramatica | sem equivocos OS FATOS LINGUISTICOS sempre estiveram misturados & hist6ria dos povos, a seus esforcos de expansao e dominacao territorial e politica, a suas lutas pela hegemonia cultural, a seus intentos proselitistas, a suas necessidades retdricas; enfim, as lin- guas foram recebendo tratamentos diversos, conforme as também diversas condigées sociais e politicas dos grupos, que as tinham como marca de sua identidade. Nao estranha, portanto, que, historicamente, as questdes linguisticas tenham servido a interesses muito diversos e, de acordo com esses interesses, tenham sido vistas em Glicas bastante diferentes.“ Toda lin- gua sao rastros de velhos mistérios”, lembra Guimaraes Rosa. Se isso é verdade, considerando-se a lingua como um todo, é mais verdade ainda entre nds, ocidentais, em relacao 4 gramatica, em ge- ita MUITO ALEM DA GRAMATICA, ral. De fato, herdamos dos gregos a concepcao da gramatica, em todas as acepgdes, como uma forga controladora que reserva alin, gua contra as possiveis ameagas de desaparecimento ou alé Mesmo de declinio, seja pela agdo de invasores, seja pela acdo dos PrSprigg membros da comunidade de falantes. Na verdade, as pessoas sempre sentiram certa compulsio D defender a integridade de sua lingua. Ou, de acordo com cey soes, sua pureza ou seu poder de argumentacao. Nada mais do para esses intentos do que a compilacao de gramaticas, helecessem paradigmas, modelos, normas, manutengao da identidade linguistica. Tlas vi. propria. due esta. capazes de garantiy a Noutras palavras, se fez necessdrio, lantes, um instrumento de controle — a dis Para as comunidades de fa. gramatica normativa — que plinasse o fluxo da propria lingua, garantindo sua Sobrevivencia ou aperfeicoando suas potencialidades de uso em funcao dos efeitos retoricos pretendidos. Nesse quadro, a criagao de Paradigmas e m ticas foi assumindo feigdes proprias e constitui de vida e de sucesso para as linguas, sem nunca se ter ausentado totalmente. Nem mesmo quando ja nao erat M tao evidentes as ameagas de desaparecimento ou de descaracterizacaio de seus usos mais modelares. odelos em gramé- indo uma garantia afar qualquer outra concep¢ao menos diretiva, como aquela da gramatica internalizada por to- dos os falantes, Mas nio foi apenas a funcao de controle atribuida A gramitica que fez com que os estudiosos — filésofos e fildlogos — se interessas- sem por ela, Sob Angulos bem diferentes, as pessoas sempre se mos- uivocos ‘A URGENCIA DE EXPLORAR A GRAMATICA SEM EQ S Por entenderem a Suprema prerrogativa da Tingua- A. € isso. também Motivou o interesse pelo aparecimento Nas quai: Atividade ve A encruzilhad: lidos Se tentasse explicitar os mecanismos thal, n a de fatores tio Complexos, historicamente subme- A interesses Politicos, ae econdmicos e sociais diferentes, resultou “ne de concepgdes e, com © passar dos séculos, deu ensejo & to de alguns equivocos acerca do que éa gramdtica e, conse- quentemente, daquilo que dey e constituir seu ensino. Com uma form: : wlacdo mais ou menos igual, muitos outros pesqui- sadores tam Teconhecido a existéncia desses equivocos, como Possenti (1996, pp. 32. 3): No dia em que as esco! se dessem conta de que esto ensinando aos ‘bem, ¢ que & em grande parte por isso que falta Sar o que eles ndo sabem, poderia ocorrer uma verdad ‘0. Para verificar © quanto ensinamos coisas que os alunos sabem, poderiamos fazer o seguinte teste: ouvir o meiro ano dizem nos Tecreios alunos o que eles que os alunos do pri- (ou durante nossas aulas), para verificar se J4 sabem ou no fazer frases completas (e entao nao precisariamos fazer exercicios de completar), se ja dizem ou nao perfodos compostos (e ndo Precisariamos mais imaginar que temos que comecar a ensiné-los ler apenas com frases curtas e idiotas), se eles sabem brincar na lingua do pe (Lalvez entio nao seja necessirio fazer tantos exercicios de divisio silabica), se ja fazem perguntas, afirmacdes, negagies e exclamagies (en- to, no precisamos mais ensinar isso a eles) e assim quase ao infinite, Sobrariam apenas coisas inteligentes para fazer na aula, como ler ¢ es, crever, discutir e reescrever, reler e reescrever mais, para escrever e ler de forma sempre mais sofisticada ete. De fato, os equivocos em torno das questies gramaticais ede sen ensino sao muitos. Mas seria muita pretensao de minha parte aera dar conta aqui de todos eles. Vou restringir-me, assim, aqueles que me parecem mais aaa ‘ol repercussdes mais sérias para as atividades de ensino, tais tese com s : rren como as crengas de que: 37 arurTo ALEM DA GRAMATICA lingua e gramatica sao a mesma coisa; basta saber gramatica para falar, ler e escrever cg, > > S as ™ sucesso, » explorar nomenclaturas e classificagdes 6 estudar e > > > Stamatica, lida; 2 Prestigiaga. 90 Gramaticg, a norma prestigiada é a Gnica linguisticamente val toda atuacao verbal tem que se pautar pela norm: o respaldo para a aceitacao de um novo Padr: esta prioritariamente nos manuais de gramatica Na intencao de contribuir para que se des! equivocos e se possa, assim, definir objetivos de ensino mais relevant e consistentes, passo a comentar cada um deles, nos capitulos ques: seguem, € a apresentar raz6es que justificam seu cardter de concepgio reducionista e deturpada, mesmo assim, tAo teimosamente acatado. facam alguns desss A medida que tento desfazer cada equivoco, focalizo o ensino especifico da lingua, a fim de mostrar como, de outras concepsies, podem resultar praticas pedagégicas bem mais relevantes e produtivas tanto do ponto de vista do desenvolvimento das capacidades de cad um, como do ponto de vista da inserc4o do sujeito no grupo soi onde ele exerce sua condicaio Politica de pessoa e de cidadao. CAPITULO Lingua e Gramatica ndo sao a mesma coisa es 39 A CONCEPCAO de que lingua e gramatica sdo uma coisa sé deriva to de, ingenuamente, se acreditar quea lingua é constituida de um‘tinico componente: a gramatica. Por essa 6tica, saber uma lingua equivale a saber sua gramatica; ou, por outro lado, saber a gramatica de uma lingua equivale a dominar totalmente essa lingua. E o que se revela, por exemplo, na fala das pessoas quando dizem quealguém nao sabe falar”. Na verdade, essas Pessoas esto querendo dizer que esse alguém“ndo sabe falar de acordo coma gramatica da suposta norma culta”. Para essas pessoas, lingua e gramatica se equivalem. Uma esgota totalmente a outra. Uma preenche intei- Tamente a outra. Nenhuma é mais que a outra. Na mesma linha de raciocinio, consolida-se a crenca de que o estudo de uma lingua é 0 estudo de sua gramatica. Cecilia Meireles descreve, numa crénica, toda a sua ansiedade por entrar em um curso de inglés, para logo poder ler as obras de Anyi ALEN DA GRAMATICA Ja tiversa 2cesso- Essa ansiedade foi duplaneyy , quando, per duas vezes sucessivas le foram professoras solicits sa a srbo to be. E 0 acesso a linguy quee poelas ingleses Ja, conta Cec encontrou em ensinar ay grupo de? para ler os poel Ora, a lingua, por ser uma atividade interativa, direcionada pary 1 0 outros componente om da grams 9 social, SUpOe constitutive uma lingua 6t egram ¢ Se interdependen aAsua maneira e em inter mia entidade complexa, acomunic todos, relevant ys outros. De man subsis Se nao, vejamos. es, cada um com ¢ eira que um conjunto de emas que Se int avelmente. irremedia mponentes: Uma lingua é constituida de dois cor 1, um léxico — que inclui 0 conjunto de palavias, ou, em termos mais correntes, 0 vocabulério da lingua; — que inclui as regras para se construir 2. uma gramatica palavras e sentengas da lingua. estdo em intima inter-rela- anto que 0 compo accriagao de novis Ocorre que esses dois componentes cdo; estao em permanente entrecruzamento; | nente da gramatica inclui regras que especificam unidades do léxico ou sua adaptacao as especificid gicas da lingua, pela mobilizagao de seu estoque de radicais, pre fixos e sufixos. ades morfold- istema em Mas ocorre, ainda, qi a ms a i la, que uma lingua é mais que alizagi potencia isponibili sain “m oo Supée um uso, supoe 2 alui ela — datada e si i 0 = jae situada — em interagdes complexas ques Nie sariamente, compreendem: LUNGUA E GRAMATICA NAO SKO A MESMA coisa, Dessa forma, a lingua apresenta mais de um componente (léxico e gramitica), € seu uso esta sujeito a diferentes tipos de Tegras e normas (regras de textualizagao e normas sociais de atuaciio). Restrin- girse, pois, 4 sua gramitica é limitar-se a um de seus componentes apenas. E perder de vista sua totalidade e, portanto, falsear a compreensio de suas miltiplas determinacées. ‘4.1. Lincua E GRAMATICA Por esse conjunto de consideracées, fica claro que a gramatica da lingua tem fungées. A ela cabe especificar, desde a formacao de palavras até a formagiio de frases, determinando quais as combinagSes de palavras impostas ou opcionais, qual a ordem Possivel para cada fungao dos termos. Enfim, toda a cadeia de itens que constrdéi uma frase ou um periodo esta prevista pelas regras da gramatica da lingua (aquela gramatica 1 de que falei no capitulo 2), No entanto, se a gramatica tem essa funcdo Tegularizadora, tem também limites, como se pode depreender do esquema apresentado acima. Quer dizer, a gramética regula muito, mas nao regula tudo. Nem todas as Prescricdes cabem no seu dominio. Muitas das normas que definem 0 uso adequado e relevante da linguagem extrapolam seu conjunto de regras. Para ser eficaz comunicativamente, nao basta, portanto, saber apenas as regras especificas da gramatica, das diferentes classes de Palavras, suas flexGes, suas combinacies possiveis, a ordem de sua Colocagao nas frases, seus casos de concordancia, entre outras. Tudo isso é necessrio, mas ndo é suficiente. 4 sit’ pamaricd eM DAC sf atrihas , eee eclestal e se atrib fea ggramilica foi posta a in eprecisarnos ou el, amente, a gran eaquilo saber Ingenuam’ Je gnipoléncla frente aquné E dai vieram as dj Para aumpapel quase de interac eficaz. dai vieram ISloreieg, ape ‘ontar os cesaios um jo no estudo io para Ja gramalica, como s¢ ela bastasse, como se Nad da gramalee ser eficazZ nas atividades de linguagem Verh ent fosse neces i 7 ade, esse equivoco ainda se toma mais sério, quando se sup, Naverdade, ¢ -amatica apenas para a lingua toda. Numa Derspectiyg afi ; i” a ividade sociointerativa, essa aes cc miei os mi forma e em muitos aspeclos, ee arg cada tipo de siluagao, para cada me esis caf . ae portanto, que, se lingua € gramatica a0 se — mM, ea menos se equivalem lingua e gramatica normativa, pois est corresponde apenas ama parte daquela gramética de base, internalizada por todo falante, 4.2, LiNGUA E LEXICO Na pratica, nés nos esquecemos de que uma lingua, além de uma gramitica, tem também um Jéxico, quer dizer, um conjunio relativamente extenso de palavras, 4 disposigao dos falantes, as quais constituem as unidades de base com que construimos o sentido de nossos enunciados, Fundamental, tanto quanto a gramdtica de uma lingua, léxico. Nele esto expressas, para cada €poca, as marcas das visbes de mundo que os falantes alimentam, ou os ‘tracos que indicam seus Angulos de percepgéio das coisas. Nao A toa a historia do percurso das palavras de uma Ingua se confunde com a histéria do percurso dessa lingua. Nenhuma palavra nova se forma ou é introduzida aleatoriamente em qualquer lingua. Dessa forma, ganha sentido afir uma lista de palavras 4 disposicao repertorio de unidades, um depos’ comunidade véo mundo, as coisas Por isso 6 que 0 léxico expressa, m: rmar que 0 léxico é mais do que dos falantes. E mais do que u itrio dos recortes com que cada que a ceream, o sentido de tudo. agistralmente, a funcao da lingu

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