ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA d) Determinar a publicidade das decisões defini-
tivas que apliquem coima de montante igual ou Lei n.o 4/97 superior a 200 000$ ou decretem o encerra- mento do estabelecimento. de 10 de Fevereiro
Autoriza o Governo a rever o regime do ilícito de mera ordenação Artigo 3.o
social aplicável ao licenciamento e fiscalização dos estabe- Duração lecimentos que desenvolvem actividades de apoio social no âmbito da segurança social. A autorização concedida pela presente lei tem a dura- A Assembleia da República decreta, nos termos dos ção de 90 dias. artigos 164.o, alínea e), 168.o, n.o 1, alínea d), e 169.o, n.o 3, da Constituição, o seguinte: Aprovada em 19 de Dezembro de 1996. O Presidente da Assembleia da República, António Artigo 1.o de Almeida Santos. Objecto Promulgada em 24 de Janeiro de 1997. Fica o Governo autorizado a aprovar o regime do ilícito de mera ordenação social aplicável à violação de Publique-se. normas relativas ao licenciamento e fiscalização dos O Presidente da República, JORGE SAMPAIO. estabelecimentos que desenvolvam actividades de apoio social no âmbito da protecção social. Referendada em 27 de Janeiro de 1997.
Artigo 2.o O Primeiro-Ministro, António Manuel de Oliveira
Guterres. Sentido e extensão
A autorização referida no artigo anterior tem o Lei n.o 5/97
seguinte sentido e extensão: de 10 de Fevereiro a) Estabelecer contra-ordenações aplicáveis às pes- soas singulares, puníveis com coima cujo mon- Lei Quadro da Educação Pré-Escolar tante se poderá elevar até ao valor máximo de 2 000 000$, visando sancionar: A Assembleia da República decreta, nos termos dos artigos 164.o, alínea d), e 169.o, n.o 3, da Constituição, 1) A abertura e funcionamento dos estabe- o seguinte: lecimentos que não se encontrem licen- ciados nem disponham de autorização CAPÍTULO I provisória de funcionamento, de harmo- nia com a legislação aplicável; Objecto 2) A inadequação das instalações, bem como as deficientes condições de higiene e segu- Artigo 1.o rança, face aos requisitos legalmente Objecto estabelecidos; 3) A inexistência injustificada do pessoal A presente lei quadro, na sequência dos princípios técnico e auxiliar indicado no respectivo definidos na Lei de Bases do Sistema Educativo, con- mapa; sagra o ordenamento jurídico da educação pré-escolar. 4) A alimentação claramente deficiente para as necessidades dos utentes; 5) O excesso de lotação em relação à capa- CAPÍTULO II cidade autorizada para o estabeleci- Princípios gerais mento; 6) O impedimento das acções de fiscali- Artigo 2.o zação; 7) A violação de quaisquer outras normas Princípio geral ou exigências legais; A educação pré-escolar é a primeira etapa da edu- b) Punir os factos praticados com negligência, cação básica no processo de educação ao longo da vida, sendo em tais casos os limites mínimos e máxi- sendo complementar da acção educativa da família, com mos das coimas reduzidos a metade; a qual deve estabelecer estreita cooperação, favorecendo c) Estabelecer, simultaneamente com a coima, as a formação e o desenvolvimento equilibrado da criança, seguintes sanções acessórias: tendo em vista a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário. 1) Interdição do exercício da actividade em quaisquer estabelecimentos abrangidos pelo artigo 1.o; Artigo 3.o 2) Privação do direito a subsídio ou bene- Educação pré-escolar fício outorgado por entidade ou serviço público; 1 — A educação pré-escolar destina-se às crianças 3) Encerramento do estabelecimento; com idades compreendidas entre os 3 anos e a idade 4) Suspensão do alvará ou da autorização de ingresso no ensino básico e é ministrada em esta- provisória; belecimentos de educação pré-escolar. N.o 34 — 10-2-1997 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 671
2 — A frequência da educação pré-escolar é facul- b) Das instituições particulares de solidariedade
tativa, no reconhecimento de que cabe, primeiramente, social; à família a educação dos filhos, competindo, porém, c) De outras instituições sem fins lucrativos que ao Estado contribuir activamente para a universalização prossigam actividades nos domínios da educa- da oferta da educação pré-escolar, nos termos da pre- ção e do ensino. sente lei. 3 — Por estabelecimento de educação pré-escolar entende-se a instituição que presta serviços vocaciona- CAPÍTULO III dos para o desenvolvimento da criança, proporcionan- do-lhe actividades educativas, e actividades de apoio à Princípios de organização família. 4 — O número de crianças por cada sala deverá ter Artigo 8.o em conta as diferentes condições demográficas de cada localidade. Tutela pedagógica e técnica Artigo 4.o O Estado define as orientações gerais a que deve Participação da família subordinar-se a educação pré-escolar, nomeadamente nos seus aspectos pedagógico e técnico, competindo-lhe: No âmbito da educação pré-escolar, cabe, designa- damente, aos pais e encarregados de educação: a) Definir regras para o enquadramento da acti- vidade dos estabelecimentos de educação pré- a) Participar, através de representantes eleitos -escolar; para o efeito ou de associações representativas, na direcção dos estabelecimentos de educação b) Definir objectivos e linhas de orientação cur- pré-escolar; ricular; b) Desenvolver uma relação de cooperação com c) Definir os requisitos habilitacionais do pessoal os agentes educativos numa perspectiva for- que presta serviço nos estabelecimentos de edu- mativa; cação pré-escolar; c) Dar parecer sobre o horário de funcionamento d) Definir e assegurar a formação do pessoal; do estabelecimento de educação pré-escolar; e) Apoiar actividades de animação pedagógica; d) Participar, em regime de voluntariado, sob a f) Definir regras de avaliação da qualidade dos orientação da direcção pedagógica da institui- serviços; ção, em actividades educativas de animação e g) Realizar as actividades de fiscalização e ins- de atendimento. pecção.
Artigo 5.o Artigo 9.o
Papel estratégico do Estado Redes de educação pré-escolar
Incumbe ao Estado: As redes de educação pré-escolar são constituídas por
uma rede pública e uma rede privada, complementares a) Criar uma rede pública de educação pré-escolar, entre si, visando a oferta universal e a boa gestão dos generalizando a oferta dos respectivos serviços recursos públicos. de acordo com as necessidades; b) Apoiar a criação de estabelecimentos de edu- CAPÍTULO IV cação pré-escolar por outras entidades da socie- dade civil, na medida em que a oferta disponível Princípios gerais pedagógicos seja insuficiente; c) Definir as normas gerais da educação pré-es- Artigo 10.o colar, nomeadamente nos seus aspectos orga- nizativo, pedagógico e técnico, e assegurar o seu Objectivos da educação pré-escolar efectivo cumprimento e aplicação, designada- mente através do acompanhamento, da avalia- São objectivos da educação pré-escolar: ção e da fiscalização; a) Promover o desenvolvimento pessoal e social d) Prestar apoio especial às zonas carenciadas. da criança com base em experiências de vida democrática numa perspectiva de educação para Artigo 6.o a cidadania; Participação das autarquias locais b) Fomentar a inserção da criança em grupos sociais diversos, no respeito pela pluralidade das O Governo fixará, através de decreto-lei, as condições culturas, favorecendo uma progressiva consciên- de participação das autarquias locais na concretização cia do seu papel como membro da sociedade; dos objectivos previstos no presente diploma, assegu- c) Contribuir para a igualdade de oportunidades rando os correspondentes meios financeiros. no acesso à escola e para o sucesso da apren- dizagem; Artigo 7.o d) Estimular o desenvolvimento global de cada Iniciativa particular, cooperativa e social criança, no respeito pelas suas características individuais, incutindo comportamentos que Incumbe ao Estado apoiar as iniciativas da sociedade favoreçam aprendizagens significativas e diver- no domínio da educação pré-escolar, nomeadamente: sificadas; a) Dos estabelecimentos de ensino particular e e) Desenvolver a expressão e a comunicação atra- cooperativo; vés da utilização de linguagens múltiplas como 672 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 34 — 10-2-1997
meios de relação, de informação, de sensibili- Artigo 15.o
zação estética e de compreensão do mundo; Outras modalidades da educação pré-escolar f) Despertar a curiosidade e o pensamento crítico; g) Proporcionar a cada criança condições de bem- 1 — São modalidades, entre outras, da educação -estar e de segurança, designadamente no pré-escolar: âmbito da saúde individual e colectiva; a) A educação de infância itinerante; h) Proceder à despistagem de inadaptações, defi- b) A animação infantil comunitária. ciências e precocidades, promovendo a melhor orientação e encaminhamento da criança; 2 — A educação de infância itinerante consiste na i) Incentivar a participação das famílias no pro- prestação de serviços de educação pré-escolar mediante cesso educativo e estabelecer relações de efec- a deslocação regular de um educador de infância a zonas tiva colaboração com a comunidade. de difícil acesso ou a zonas com um número reduzido de crianças. Artigo 11.o 3 — A animação infantil comunitária consiste na rea- lização de actividades adequadas ao desenvolvimento Direcção pedagógica de crianças que vivem em zonas urbanas ou suburbanas carenciadas, a levar a cabo em instalações cedidas pela 1 — Cada estabelecimento de educação pré-escolar comunidade local, num determinado período do dia. dispõe, de entre outros órgãos, de uma direcção peda- gógica assegurada por quem detenha as habilitações legalmente exigíveis para o efeito, a qual garante a exe- Artigo 16.o cução das linhas de orientação curricular e a coorde- Gratuitidade nação da actividade educativa. 2 — Nos estabelecimentos de educação pré-escolar da 1 — A componente educativa da educação pré-esco- rede pública, a direcção pedagógica será eleita de entre lar é gratuita. os educadores, sempre que o seu número o permita. 2 — As restantes componentes da educação pré-es- colar são comparticipadas pelo Estado de acordo com as condições sócio-económicas das famílias, com o objec- Artigo 12.o tivo de promover a igualdade de oportunidades, em ter- mos a regulamentar pelo Governo. Horário de funcionamento
1 — Os estabelecimentos de educação pré-escolar CAPÍTULO VI
devem adoptar um horário adequado para o desenvol- vimento das actividades pedagógicas, no qual se pre- Administração, gestão e regime de pessoal vejam períodos específicos para actividades educativas, de animação e de apoio às famílias, tendo em conta Artigo 17.o as necessidades destas. Administração e gestão 2 — O horário dos estabelecimentos deve igualmente adequar-se à possibilidade de neles serem servidas refei- A administração e gestão dos estabelecimentos públicos ções às crianças. de educação pré-escolar serão definidas em decreto-lei. 3 — O horário de funcionamento do estabelecimento de educação pré-escolar é homologado pelo Ministério Artigo 18.o da Educação, sob proposta da direcção pedagógica, ouvi- Regime de pessoal dos os pais e encarregados de educação. 1 — Aos educadores de infância em exercício de fun- ções nos estabelecimentos de educação pré-escolar da CAPÍTULO V dependência directa da administração central, Regiões Autónomas e das autarquias locais aplica-se o Estatuto Redes de educação pré-escolar da Carreira dos Educadores de Infância e dos Profes- sores dos Ensinos Básico e Secundário. Artigo 13.o 2 — Aos educadores de infância que exerçam funções na rede privada devem ser, progressivamente, propor- Rede pública cionadas idênticas condições de exercício e de valori- Consideram-se integrados na rede pública os esta- zação profissionais. belecimentos de educação pré-escolar a funcionar na 3 — O Ministério da Educação definirá, mediante directa dependência da administração central, das diploma regulamentar, os requisitos de formação do pes- Regiões Autónomas e das autarquias locais. soal não docente que presta serviço nos estabelecimen- tos de educação pré-escolar. Artigo 14.o CAPÍTULO VII Rede privada Formação e animação A rede privada integra os estabelecimentos de edu- cação pré-escolar que funcionem no âmbito do ensino Artigo 19.o particular e cooperativo, em instituições particulares de Formação e animação solidariedade social e em instituições sem fins lucrativos que prossigam actividades no domínio da educação e O Estado, através do Ministério da Educação, incen- do ensino. tivará programas de formação e animação e o apoio N.o 34 — 10-2-1997 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 673
a actividades e projectos no respectivo estabelecimento colar e do alargamento da oferta de horários
de educação pré-escolar e celebrará protocolos de cola- adequados aos interesses das famílias. boração com redes de formação já existentes. Artigo 23.o CAPÍTULO VIII Norma transitória
Avaliação e inspecção 1 — Para efeito do disposto no artigo 12.o do presente
diploma, os estabelecimentos públicos de educação pré- Artigo 20.o -escolar assegurarão progressivamente complementos de horário que correspondam às necessidades das famí- Avaliação lias, desde a entrada em vigor da presente lei até ao O Estado definirá critérios de avaliação da qualidade início do ano lectivo de 2000-2001. dos serviços prestados em todas as modalidades de edu- 2 — A gratuitidade prevista no n.o 1 do artigo 16.o cação pré-escolar. do presente diploma tem início no ano lectivo de 1997-1998 para as crianças que tenham completado Artigo 21.o 5 anos de idade, alargando-se, progressivamente, às Inspecção demais crianças até ao ano lectivo de 2000-2001, de acordo com o artigo 3.o da presente lei. Cabe à Inspecção-Geral da Educação o controlo do 3 — A partir do ano lectivo de 1998-1999, apenas funcionamento pedagógico e técnico dos estabelecimen- serão apoiadas financeiramente as instituições que cum- tos de educação pré-escolar. pram os requisitos de equiparação previstos no n.o 2 do artigo 18.o, estabelecidos por contratação.
CAPÍTULO IX Artigo 24.o
Disposições finais e transitórias Revogação
Artigo 22.o 1 — É revogada a Lei n.o 5/77, de 1 de Fevereiro.
2 — Consideram-se igualmente revogadas as dispo- Financiamento sições do Decreto-Lei n.o 542/79, de 31 de Dezembro, que contrariem o disposto na presente lei. 1 — O Governo estabelecerá as normas gerais para o financiamento das modalidades da educação pré-es- Aprovada em 10 de Dezembro de 1996. colar, definidas na presente lei. 2 — As normas a que se refere o número anterior O Presidente da Assembleia da República, António devem prever: de Almeida Santos. a) O planeamento plurianual; Promulgada em 24 de Janeiro de 1997. b) A explicitação do investimento público directo e do apoio a iniciativas de outros sectores; Publique-se. c) Os critérios a adoptar visando a concretização O Presidente da República, JORGE SAMPAIO. da igualdade de oportunidades educativas, de acordo com o disposto no artigo 16.o do presente Referendada em 27 de Janeiro de 1997. diploma, e a melhoria da qualidade da educação, designadamente através de incentivos à valo- O Primeiro-Ministro, António Manuel de Oliveira rização dos profissionais da educação pré-es- Guterres.