You are on page 1of 18
2002 syodoned SAZOA WaOLiGa oehpal wz eueqm ospo v ered seaneMIoY saavalo “Tisvad oyeore! TUTULIG, onbeztreq! coumstuegin : sourqin seway ‘ouegm oyusunfouRy ‘eurqan 29 ‘owsegin : S9pEpID : ‘oangmaysis oBoyey¥9 waed seoypuy ig60%'114 a9, ciepi0 orrauy Tpsea, eoRATINGIN,'s [UI — eUEGM HOROA “p UsEIG —[SAO:BEIGE °€ [S81 — ouEgM exuaUsefeve|g HSE SAPEDID | S-£097 92658 NASI ayer 1007 S220 : py 'syodoned “ores ney ‘roung y euegan asio @ wind seanewinye: opepls eran “owe, (qseag ‘as ‘ouar7 op expsysesq vxeuryD) (aio) ovseonqng wu opSeSopey2— op syeuo;seusoyuT sopedl te o fp wre feréncia de Istambul tende a embotar os sentides dos participantes. Apenas apés um periodo de afastamento e leitura da abundante literatura 1a distribuida, foi possivel encontrar alguns eixos claros de analise do evento. Esse ensaio foi publicado pela Universidade Federal da Bahia em coletanea organizada pela pro- fessora Maria Angela Gordilho de Souza, sob o titulo Habitar contempordneo, em 1997. © conjunto dos textos pretende contribuir com 0 de- senvolvimento de um urbanismo critico que, embora pos- sa ser radical em suas constatacées, recusa a paralisia da acdo propositiva. Sustenta-se a viabilidade de uma postura que ndo deve esperar o fim do capitalismo para entdo ganhar vida e nem reproduzir o status quo, como ocorre atualmente, Erminia Maricato Sao Paulo, 21 de abril de 2001 Na periferia do mundo globalizado: metropoles brasileiras Introdugao A urbanizagao da sociedade brasileira tem consti- tuido, sem diivida, um caminho para a modernizago mas, ao mesmo tempo, tem contrariado aqueles que esperavam ver, nesse processo, a superacao do Brasil arcaico, que, muitos supunham, estava vinculado & hegemonia da economia agroexportadora. O processo de urbanizacao recria 0 atraso através de novas for- mas, como contraponto a dindmica de modernizagao. As caracteristicas do Brasil urbano impéem tare- fas desafiadoras, ¢ os arquitetos e planejadores urba- nos nao tém conhecimento acumtulado nem experién- cia para lidar com elas. A dimensdo da tragédia urbana brasileira esta a exigir o desenvolvimento de respostas que, acreditamos, devem partir do conhecimento da rea- lidade empirica respaldado pelas informagées cie cas sobre o ambiente construido para evitar a formu- lacdo das “idéias fora do lugar” tao caracteristicas do planejamento urbano no Brasil (Maricato, 2000). objetivo deste texto é contribuir para um maior conhecimento da realidade brasileira e para o desmon- te das construgées ideolégicas presentes tanto nas re- presentagdes sobre as nossas cidades quanto nos pla- nos magicos que nos propdem outros saltos para o fu- 15 ut -u1 vorgnday eum 9 [Ise1g 0 auOMTTEULIO; opuENd “KK omaas ouard ura e11090 aja wroquia ‘jeruToo apepa1o0s vp sazpex se w09 ogSezquegin ap ossac0id 0 preoreur ‘erpqiseiq apeparos eu esuepnur ap sorauiou: sred ~fourd so sopo} wo wpeoytiea ‘apepmunuos a eanydns anua epepmaiqure wssq ‘soptoojqeiso sootuqwiod -9yj SassaraiUr $0 woo winydna wun asseoytIOA 98 aN was apepapos eu eonyod eruoua¥oy v sumsse [EE -snpuy vison8ing y ‘seodeiiodui ap ogdimnsqns & op -ups1a [eEnsnpur oyawAjoauosap o Wied eIMyNLQSS-eNUT we syUsurepIpoep AMseauT v ogWUD essed opeIs O “pseag ou vsanBng o¥SnyOAar e eUTUIOUSp sopuBUag ue3s2i0[q4 nb 0 211020 opuenb ‘o¢g1 912 Jopy}iodxa o1reide 0308 ou onuaoida nas anayuteur ermoUDD9 y ‘opourad assou ‘Terrort3e1 opSuBasBas 2 ouaurez -ojaquia ‘TeyweIqure oyusUEUES UTEFeZnfu0o nb sed -wepnut sod urezessed anb sopepio ovs oniaues ap ony © ayuampersedsa a oneg ovg ‘opooy ‘soiureg ‘eqHEm ‘eiBaly 0104 “WaIoq ‘sneMEy “appro vp seftresy 9 sor -10ur so ered wsjndxa via ossav0ld assap epmyoxe ov5 zemndod y ~eistpey1deo 23109 ap o1reitqoun opeosour wn vred sre¥oy saseq se sepenredu ureza 2 consiBested oiueurezajequia o viaowioid as anb wo odutar owsau ov ‘seruropide sep ovdeurum ered ootseq oyuoureaues 2p Seigo as-treawzipeoy “elrayLiad wp ,epour vw, oUIOp ow owsjueqin um ap saseq se wereduE] xX OMDNS op ODN 2 XIX ONags op [eUY o oNUA seNOTIsesq sop ~eplo seszaaip wre sepezifeal ‘seuregin seuLIoo1 Sy sourezur opeo ~Jout op seoIsyq sopeprssaoau se a eMYNDIgF y SupeS ~f] sepeplane sep wxraisa eu efostiasap as anb ajuaidyo ~ur epure eINsnpUr BUM 9 voTQndey ep oxdeure[oord v ‘ozai] JopeyTeqEs Op vouaSioure eyed opeuorstndut ‘repyosuoo 9s » ayusuTear vSoul0D 9peparoos wp ovd ~eziueqm op ossadord 0 anb Xx ojno9s op sepeoap sex ~ourd sep 9 XIX omnogs op epEsia ep sed v ayuowOS 9 SBur ‘TeTUO}O9 opoyrad o apsap ays0d apues# op sapep or ~j9 eavjuasaide vf seg 0 ‘seorigury sep osioatun o optrexepisuo9 “(e66T ‘soues) sopepro seu ovdomndod ep HOT ojuoUepeuNxosde WOO XTX O[ND9s O NoxTO TIS -B1g O “ouegM ojtISUNOSaI9 O8s9 SOPELOTDHIaI SOIT -1STY sooreur sungfe aquouTepides rexquis| scureA “sapeplo uro urexour sajreyqUy ap sagutUr get So Sopor ‘gu no opestaorduxt ‘opour umdje ap ‘Teut no wag “03 -edsa assou santa ered sagSrpuoo se sepmunstuoo tno 2 opednso 10} op19 311101 0 ‘sapepIssagau Sessa S2p0} ¥ a -uaureporssies oprpuodsas eytiey opt ouegin osu -saxo ojad opeuroy ous o anb epury ‘O19 wendy “wou ‘opnes ‘soyodsuen ‘ojusumosyseqe ‘oyreqen op sop ~eptssooatr sens ap ouros wag oeSemndod wssap yeouep -{S01 OJUoUTEWTOSSe 0 ered OLTeSsazaU ‘epepD ap o¥d -1uysuoo op oyaurAOUT oosa}uEH um ap as-eTes], einer ep ogdendod ep oda) umn # no ypeueg op oesemndod ep ap -eyaut ep steur e apeambo oss] ‘seossad go6'gTL'Tz Wa urerequaume senaqseig Sepeplo se “xX OTND9s OP UPLO -9p PUNT e setiade opusapIsucg “svossad ap s20uT “Tur ¢ZT op sTeur reduiqe v vuLi0; ap sopeydure ures0} soueqin sojyoureyuasse So soe wyrosses we onb ‘o} -ueyrod ‘soureyeysuog ‘sagutu geT aitaurepeumxoide ap 2 2 QO0g We 2 saqUB]qEY op SeOUTTU g‘gT ap B19 sopepp seu erpisar anb ogSejndod & gp6T wa somos: -qe soraumu so soutrerqura] as epUTe aytreuorssadurt sTeur emsour as oytawTTOSaID assg "%Z'TS OP 2 E12 OOOT, urg “TeI02 Op %6'97 ap wIO VEG oBdEINdod ¥ “OPEL Wa “XX o[ogs op apejour epungas eu ayteueDed -s9 ‘opSeztuegmn ap ossac0rd osusyuE noyosaide “eu “eq eoLiguy ep sasted speurep so ou0o Tiseag ou opdezqueqm op ossa20:d 0 ‘aqueisox ovderndod wp ayred soreut ep ounsap 0 opueiougs; 2 soursie opueosng ‘nap vf ex1a]Is =21q apepa1sos vp vjsored wum anb sajanbep ware ‘0x74 dependente. A questo fundiaria, que ocupou um lu- ger central nos conflitos vividos pelo pais, no século XIX, se referia fundamentalmente ao campo. A cres- cente generalizagao da propriedade privada da terra, a partir de 1850, com a confirmagao do poder politico dos grandes proprietarios nas décadas seguintes, e a emergéncia do trabalho livre, a partir de 1888 (aconte- cimentos que esto interligados como ja foi demonstra- do por muitos autores), se deram antes da urbanizacéo da sociedade. No entanto, a urbaniza¢do foi fortemen- te influenciada por esses fatores: a importancia do tra- balho escravo (inclusive para a constru¢ao e manuten- go dos edificios e das cidades), a pouca importancia dada a reproducao da forca de trabalho mesmo com a emergéncia do trabalhador livre, e 0 poder politico re- lacionado ao patriménio pessoal. Mesmo assim, nao ha como néo reconhecer que a in- dustrializecdo que se afirma a partir de 1930 e vai até o fim da Segunda Guerra Mundial constituiu um caminho: de avanco relativo de iniciativas endégenas e de fortaleci- mento do mercado interno, com grande desenvolvimento das forcas produtivas, diversificagao, assalariamento crescente e modemnizagao da sociedade, como nota Caio Prado. Ele é um dos pensadores que enfatizam a relagdo entre a consolidacao do mercado interno e a construgio da nagao, relagdo essa que, entretanto, era fortemente constrangida pela desigualdade regional. Mas essa “cons- trugdo auténoma da na¢éo” seria interrompida pelo rear- ranjo por que passa o processo de industrializacao brasi- Ieiro apés o fim da Segunda Guerra, quando se verifica sobre ele um significativo e crescente controle do capital internacional.! Em 1950, 0 processo de industrializagao entra em nova etapa. O pais passa a produzir bens duraveis e Sampaio Jinior analna, em sua tege de doutocado, as sino da nap bran apa da rlexben de ts he rejeltam interpretagbes doe cantros hegemérices ~ ® fovestin esnandcac Cee Putas SamnpaoJt 1599) 18 até mesmo bens de produgao. No entanto, segundo Cel- so Furtado, com essa “nova dependéncia” o centro das decisdes é cada ver mais externo ao pais ¢ seu epicen- tro se distancia cada vez mais das necessidades inter- nas. A dependéncia se aprofunda em relagdo & fase anterior, ¢ se amplia a insercao subalterna do pais na divisdo internacional do trabalho. Alem dos intimeros eletrodomésticos e bens eletrd- nicos, 0 automével, produzido por essa grande indis- tria fordista, a partir dos anos 50, iria promover mu- dangas significativas no modo de vida dos consumido- res (que inicialmente eram restritos as faixas de maior renda) e também na habitagdo e nas cidades. Com a massificagdo do consumo dos bens modernos, especial- mente os eletro-eletronicos, e também do automével, mudaram radicalmente 0 modo de vida, os valores, a cultura. ¢ 0 conjunto do ambiente construido. Da ocu- pac&o do solo urbano até o interior da moradia, a transformagao foi profunda, 0 que nao significa que tenha sido homogeneamente moderna, Ao contrario, os bens modernos passaram a integrar um cenério onde a pré-modernidade sempre foi muito marcante, especialmente na moradia ou no padrao de urbaniza- do dos bairros da periferia (Maricato, 1996). O grau de dependéncia externa sempre interferiu decisivamente na producdo do ambiente construido no Brasil. Caio Prado Jr. tem, entre muitas virtudes, a de chamar ateneao, de forma pioneira, sobre a predacdo ambiental que acompanha cada ciclo econémico brasi- leiro. Cada ciclo utiliza os melhores esforcos e a ener- gia do pais, mas estes so imobilizados e abandonados quando o produto que é objeto desse movimento deixa de ser demandado pelo mercado externo, Mas resta ar- rasado, também, o territorio como aconteceu com a cana, © ouro, 0 café etc. (Prado Jr., 1990). Celso Furtado destaca o carater predatério dessa industrializagdo que, diante do infraconsumo da maior 19 Ww ~ona v anb woo opuazey ‘gid Op oIioumIosa10 op sv wrezez ~adns ooypZowiop ojwauTosaro ap sexe] se opuend ‘06 2 08 Soue sou nines as onb oessacas y ‘sonno anua ‘ousureoues 2 eIpezour ‘Tes wougpraaid “eystyTeqUT ovSe[siaq :sooiseq S{alo 2 sfeIDOs soyrartp v ossaoe UES sequafunuos sapuei® opuayew seu ‘exeqm empout assepp EAou BUM OpueLD ,NOUOTOUMY, ofapour 6 opez9] -208 anayueUr 9s comouODs oytisMMTOSaID O cyNENbUY (4861 ‘o1woLreW +9) ovdez9]208sop ap seurs waep vf anb ‘gid op o3uaUMDSIz0 oanvogqusis 0 1oqreu & urerepnie pap ovdnnsucd e seped “11 Sepeplane se ‘02 Sou sop aperour wpunos ey ‘sted ~prumur 2 srenpeysa sojusuredio soped aquompediounrd ‘sepearsno wresoy syeuorfar a sTe90] seiqo se amb we odwiay ouseur ov ‘eperen enZy ap oStars op ogs ~vorxe B aquswremonted ~ oywaureaues ap (sesqovBaut No} seiqo sep ovsuarxe w wrOquTE) NoWAUTTE HAS O “Ueg6r ‘oveoirey) emynnse-eyut wp oysu0} ~#9 8 Woo swore anb urexaay anb saqUMgUNIUOD so Sopoy waqure; 9 sosopezour snes opuezifeued ‘Teuorer oweq “1 oyweunAjoAuasap ov sepenbapeur syuourmejduro searg te oeSemdod v reBof ered (sosopoxre sou $0} “19 sopearad 9 sooqnd soywatumsaatr so to wreztoTeA as ‘oqus 98 outoa ‘anb) soueg.n sorzea sop ovSuaze ens urezelasep srenpe}s9 9 sredporunut soussao$ 80 “(8661 “eaqis) opesoinop ap asaq ens wis wag wNsOLT Wog ows eueqm eirerpury ogisanb & urerejuayjua oBU w2q que) ‘soremndod sreuoroeyqey soxtm|uoo soprosyt09 so ‘eoyjqnd ogsoword ap seaneronn se ‘opel onno Jog “opeztiotid 10} suite 2 sempaur sassepo sep ossaoe O‘nugE as Ogu opeoraur o sapepio seu vypezour eavoeng aonb opsemndod ep ayred soreur & ereg “owsyeyideo op stezjueo sasred sou nez1090 our ‘seaneinoadse sapep Tape se nogn{qns oyu sestopseiq sapepio seu rq our eannpord apepiane y “E961 OP AVI Op ossexBU09, ou sojeimbie sojad epeztuosard eueqm vuuosor ep wisodoid & vio wssg ‘opepauidord ep pemos ozsury ep 08d 07 -INaNSUT eIA wx79} ¥ Ossade Op oRdeZTFEIDOUIAP NOUOIS -indur ogu opegtqoun oyaureroueuy o ayuaurrTapUT (2661 ‘on 9) (out -eqen ap ossasoid oe ovSejar wa osene ap seonstiajoez -29 Sens nouopueqe ogtr ossip sesade anb) eanmpozd viapeo wp sojadse sompa a oLrerpuny opeos9ur 0 weg -ure} uresepnx ‘sopepio sep wioSeuyy ep Way -EHETIG -ou ogsojdxa eum ap oraur sod nopyostioo as ‘soyueures -rede op oroytpo ou opeaseg ‘epealid wuremiqour odour -oxd ap opeosaur o anb 961 Wa ‘Has op oedeyuauioyd “AUT B Wod 19} Sep ‘oMTOLEL ap ony ou ‘euEquoedoD We “Ob6T ap epeogp Bu PIU] ana} eTpaU assEp ep eIpEIOUT ap euxoy Tedpourrd owoo oyxoure;rede op oxsnponut y ‘sojuaureyrede ap sorytpa sojed eprrourosd osezt| “eopiaa ¥ i090 “sapepio sapueia sep tiHied ou vouepnut 8 noworseo0 ‘sped ou ¥ysta eounu Epeosa we ‘euOIERG -ey opeosour o ered somsoureuy sosmmoas op wafeuezp vy ovSnpoid ap ogsped nas sepnur e epeunsap eo1 ‘eum ep onuiao o rednoo v uresessed sestojiseiq sapep ~19 se anb ‘p96 ap sred e sey aunBax ojad sopepo (Hus) ovdenqeH ep oxounuTT eurstg oF opwsiies (HING) ovSenqeH ep TeuoeN coueg 0 WHo9 Tod sopepp seu sapepmr -nqiodo sozoyjeur opuzosng odures o nouopueqe anb vjonbe ayuaupproadse ‘opdemndod & wpoy ap epia ap BuOYjoU BU OPMYUr ey ooTUIQUOda O;UAUIIDSIID op neal oye o ‘epuas ep ogSe.nuadu0d & UIOD OSaUT *exoqura ‘sourasan owoD ‘wpeNuacUOD ayuEIseq Nad -sueursad ossao01d assou eperad ezanbir y ‘opouad ou opuntr op saxoreur sop wn ‘our ov %J ¥ sa1oadns S90IDU! B NeISaID OMTATISPIG Id 0 ‘OBI B OFT PC “(2161 ‘opering) soprajoauasap ayuourerTe sosred sop vuidoid 9 onb sompoid ap ovSinyysqns eu ‘orpiedsep ou ‘epewesZord vlouzosajosqo Bu opEas: -eq ojspour um sted ou wurejdunt ‘opseindod ep ayred Iugdo do PIB per capita fosse negativa na década de 1980, trouxe um forte impacto social e ambiental, ampliando o universo de desigualdade social. Nessas décadas, conhecidas como “décadas perdi- das”, a concentragdo da pobreza é urbana?. Pela pri- meira vez em sua histéria, o Brasil tem multidées, que assumem ntimeros inéditos, concentradas em vastas regides ~ morros, alagados, varzeas ou mesmo planicies - marcadas pela pobreza homogénea. Segundo estudo do IPEA, 33% dos pobres brasileiros se concentram no Sudeste, predominantemente nas metrépoles. Nos anos 80 a sociedade brasileira conheceu também, pela pri- meira vez, um fenémeno que ficarié conhecido como violéncia urbana: 0 inicio de uma escalada de cresci- mento dé ntimero de homicidios, sem precedentes na histéria do pais. As décadas perdidas ndo so as unicas a registra- rem as origens do que podemos chamar de tragédia ur- bana brasileira - enchentes, desmoronamentos, po- luigdo dos recursos hidricos, poluicdo do ar, impermea- bilizagao da superficie do solo, desmatamento, conges- tionamento habitacional, reincidéncia de epidemias, violéncia etc. © crescimento urbano sempre se deu com exchusdo social, desde a emergéncia do trabalha- dor livre na sociedade brasileira, que 6 quando as cida- des tendem a ganhar nova dimensao e tem inicio o problema da habitacdo. Quando o trabalho se torna mercadoria, a reproducdo do trabalhador deveria, su- postamente, se dar pelo mercado. Mas isso n&o aconte- ceu no comego do século XX, como nao acontece até o ‘eu final. Como previu Joaquim Nabuco, 0 peso do escra~ mo estaria presente, na sociedade brasileira, muito apos sua abolicao. No s6 grande parte dos trabalhadores 2. Bstamos classificando as duas décadas ~ 1980. 1990 - como *perdidas” bbaseados em-nos anos 80, especialmente no declinio econsmics, nos anos ‘90, no impacto social do desemprego e no erescimento economia eatico, 22 atua fora do mercado formal como, mesmo aqueles re~ gularmente empregados na moderna industria fordis- ta, apelam para expedientes de subsisténcia para se prover de moradia na cidade. Isso significa que grande parte da populagao, inclusive parte daquela regular- mente empregada, constréi sua propria casa em areas irrcgulares ou simplesmente invadidas. Isto é, ela nao participa do mercado hegeménico. O modo de vida da maior parte da populacao urba- na, ao evidenciar a convivéncia dos bens modernos e até mesmo do automével particular (de segunda ou ter- mao) com o ambiente de um casebre cuja cons- parece remontar a uma era pré-moderna, nos leva & conclusao de que ndo da para dissociar esse ur- bano e essa moradia dessa sociedade, desse modelo de industrializacdo e desenvolvimento.3 A tragédia urbana brasileira ndo é produto das dé- cadas perdidas, portanto. Tem suas raizes muito fir- mes em cinco séculos de formagao da sociedade brasi- leira, em especial a partir da privatizacdo da terra (1850) e da emergéncia do trabalho livre (1888) Uma vasta bibliografia trata da caracteristica espaci- almente concentradora da urbanizagdo no Brasil bem como em toca a América Latina. O inchamento das ci- dades que nao desenvolveram suficientemente sua ca- pacidade produtiva para atender com emprego a popula~ 0 imigrante que acaba relegada ao terciario informal, a “desarticulagdo da rede urbana” com a formacao de me- gapélos “desproporcionalmente grandes”, 0 “tecido ur- bano truncado” sao teses e conceitos que nao disfargam amatriz em relacdo a qual o desvio é apontado (Castells, 2. Ver, esse respaito, o relatirlo de penguisa “A apotecee dos contrastes", {de Telino Pamplona, Yvonne Mavtaner e Erminia Marieato eobre o consumo de objetos © a moradia em favelas, corticos e loteamentos slegais de So Paulo. FAUUSP, 2000. 2B st ~s0jsuBN sozua Sop CJUaUTTOSAD op ogdmnUTUNP e sajod -onaw seumBye wg (6661 ‘VadI) (%E'91) oINed CES a (%T‘gT) topeares ‘(%6‘0z) ayuozuOH [ag ‘(%z‘gz) eqn -LNY '(%6' LST) Wala !reIOJ ‘oporiad ou ‘wempuredxe as sreur and seuaytiod sv ‘sajodonau: sessoq *9%4/'bT wrer208019 sooty sordionmur so onb oyeniu 9661 8 1661 AUS %T‘E PIpoUE WO UeI9SOs0 STEN unur so ‘seuejyodonaut saowar ZT seq “S9zq -od soojar sep oanyyes ojusume um wa vorjdumy anb © sresjuso soajonu so anb op sfeur uressosaz9 sajodon -our sep seraytied se anb epure rexeprstico ostoard y ‘opdezntmeqin ap ossaooid op apeprooy -2A ep SoyUaIIO.ap sTeyUATqUTEOIOOS sIoUaNbasuOD se opisop ovduaze ‘aytoulo;epras ‘aBpKo ‘Toso opow wn ap ‘svougiony Sepepro sep a ‘orpaur ajiod ap sopepro Sep OWTOUTIOSeI0 Op vLTPUTPIOBKD ORSEIETIIV v ‘OBSEA -Josqo wssop resady ‘seyssp oe JoLadns oynur oyeur ~198039 ureyuasaide ‘sted op 91890-onu99 op 9 AION Op ose0 0 9 owOD ‘osuaytT stew! ooreATTUI Oxy Op aed -dooar ap saoifor seu sepenuis sejanbe auauperoodsa ‘gjoqei vu wodarede opt anb sepepr senng ‘errerop, 9 BqHEMO “eIISeIg ‘eUNSe vjoqel v eNSOU OWIOD SEITE sexe] B Woose0 BpuTe sajodoneur seins ‘o1INO ap ‘9 sted op ovdemndod wp %0z ‘sausurepeunxosde ‘seuade ‘uretiqe orpaut oj10d op sopepro se ‘opey um ap ‘sjod ‘opu epury ¢eueyodonaut ogsenusou0s ap ovrped ou Teotpes wouepnur vum wrefosar sopep saisa “(%e'T BI -%09 %8"b) 06 2 O8 SUE SoU ‘sofodonaw sep se anb op ‘SOLOTPUT SEXE} B UTBOSAIO ‘Sa]UEIwY [TUT OOS > [A OOT ‘axque opdeindod wos ‘orpaur aod ap sapepro sy ‘nm {UA OUNL Nas ‘opo} um ood syed op o anb op s0Teur oquourosaxo wayuasaide sojodonour se wroquig ‘onbey -Sop umye wooosour onb ‘og soue sop inred v ‘seduep -nu viuiasaide onapiserq ovdeztuegin op ovsped O 08 sour sou Tisvag ou ovdvzyuvqin op oy:ped ou sopupraon, % aon 3 onuen 9 ainsuamae sera soe ‘eseap sspod ap opumsyenou wey te aera] “NY o1R098) SHOTS 9 Ao sep sisidea sujad openussoda odd Ov WELT HT] ZStT SHRRA, ET HOE e| %LT Ee) Zit VERO] ZT Here] HEE SST DPS] atT Eee Tare CET] __SeuTEROL OT were UeEOe Gaakd FANT] 6| FETE) Hee) WET wRea| a) VERT MIs e| Bee PATRAS 2 EST %60'F| ouze TopaATeS| 9) OTT] SORT wee SPE Ss Fev HOSE} eee] RIV HOTT | Hoe} HET] eee] OAC OPa| | %LLO} HEOT| SEF OT) OMPUEP op OR] C| TT ERT, LF OT ‘oeE OES] oT soqumnBos @ 9 sejop ogdefar y ‘soueyiqey ap oy un, ap Sieur Wg] SePEpIO ET ap [eIO} Wi “(Saou L‘9T) OF ned OFS 2 (sarTeyqeY ap saQuTTu S‘OT) OMTSUEL ap ORT ‘opunur op sapepio sezoreut sv ants o8)se Sejap Sen -sojodoxjau daou wa urexoU OE ayUaUTepeUTIxoIde “0007 we somaTserq saITENqUY ap Ebb"Phs'6OT SOC -joedereduios 1od eyeuroue eum orH09 wpeoydxa 19s anap ,eypwjaoews, e euLioy eumspe ap ‘cougyiiad oursrpioy “erougpuadap ‘oursyeraduy “(EZ61 mou-se em crescimento negativo dos bairros centrais. HA estudos que evidenciam essa dindmica em Sao Paulo e Rio de Janeiro (Silva, 1998). Em Belém, é o municipio central que apresenta crescimento negativo em contraposigao ao gigantesco crescimento dos municipios periféricos. Outra mudanga importante da dinamica demogra- fica, que afeta o padro de urbanizacdo, diz respeito a diminuicao do crescimento populacional devido, prin- cipalmente, a diminuicdo da taxa de natalidade, ou seja, a diminuigao do numero de filhos das mulheres em idade fértil. Poucos paises apresentaram uma que- da tao grande da taxa de natalidade em tao curto pe- Hodo histérico, Entre 1940 © 2000 ela passa de 44,4 para 22,2, Isto significa uma variacdo da média de 4,4 para 2,2 filhos para a mulher em idade fértil. No grafi- coe tabela abaixo, sAo mostrados a evolucdo da taxa de natalidade entre 1940 e 2000 e a evolugdo da taxa de incremento populacional entre 1960 e 2000. ‘Taxa de natalidade ~ Brasil 1940-2000 1940-00 Fonte: IBGE, 26 a | | 06 uals a 29 | a6) [ne Fonte: IBGE, A urbanizacio e a evolugao de indicadores sociais Dentre os indicadores que evolutram positivamente nos tltimos cingtienta anos, no Brasil, estdo o da mor- talidade infantil e o da esperanga de vida ao nascer. Em 1940, o pais apresentava uma taxa de 149,0 mortes entre 1.000 nascidos vivos, antes de atingir um ano de idade. Em 1999, essa taxa era de 34,6. A significativa diminuicdo do indice num periodo relativamente curto, que pode ser verificada no grafico seguinte, esta relaciona~ da, especialmente, a extenséo da rede publica de gua, as campanhas de vacinagao, atendimento as gestantes e melhoria do nivel de escolaridade da mae. Mortalidade infantil - Brasil 1940-1999 1040 1955 1065 1675 1995 1900 1908 eel aNocoe mSucers Fonte: IBGE, 27 ot “omyrenss ou ~BUINY oy AUTA[OAUOSOp UM we OJURIaNUE NooNduN ceu ‘srepunur sqid so aNue oedus0|0o wUNIDEp v IseIg OF mmgute onb ‘oonouoss oywaunOsat9 TRI, ‘Sopep so ure sour owoo ‘opopiad oursour ou sazan onenb nassas9p ‘eopseaq oesminsuog vu oystaard ‘ogSemdod vp oanis ye J9pod op oormotos90!08 JopeOIpUT uM ‘OMTUTUE © ‘ooRuIUOIS OPUOUNDSeID aSS9 LOD aySeRUOD wa ‘(6661 ‘asaaiq) ,sepiprad sepeogp, se Te souxmnyo. ~ as outsour ‘(ggp) Joeur sazaa dour asenb zopeorpUur um euequesaide g661 ap our o ‘nydvo wad gig o ered 00T eq op so1puT ouOD QYET ap ou o opuEUIO], “(8661 2 0661 enue Ore oF %T‘Z 9 Og SotTe SoU OUT OF %E'T Op eIpat) oytAUNTOSaID Op waNwoyTUsIs eponb eum. noyeystt09 as opuenb ‘96 9 0g sour ‘,sepipiad sepeosp, sepeureyo sep opmsas (our ov %1 ap eIpaLT) Og SOB Ob SoUe Sop BTUIOUODa vp [eABIOU O;ISUNOSEIO UM vjOAaL “xx omns9s op sou ejuassas B eNbuT sou sou ‘onsTsezq (Id) omg OUZAIU] O|Nporg op ONSIBI1 OQ Tet00s ovsnpoxe v nopunjoide fenfisap ¥f apepowos PUM dq0s OGST 9 OB6T AP SUpeoap seu coruIOUODA orUTO ep op oj9edut Q ‘opearasqo ‘OUrOD ‘9]UNISTKO [EDOS apeprengisap a1oy & ajuaureaeoytusis reayrpout ‘o} ~tejarque “Was 0861 ¥ Ob6T ap oporied o aytremmp opex -2]08 coMotODe oJUDUNTOSAID NoyUAsaIde T1SeIE O soayurquooz0yo0s soped “0}X9} Op orotur ou seprpnye sagdipex;uoo sv rerouspise ¥ opow ap ‘soonsjueqin ‘sueureuy ‘9 sooturguCo9 -01008 Sopep ap ovSnIona ¥ Warajar as anb saxopworput soxyno rayuasezde sourea seutfed sewmxoud sen “e1f9} yas opod ovu ovseunye wssg ‘ouN copdezruqm op os -saooid ov wpe yysa eroyjaur Beso onb 9 ‘Tera8 opout um ap ‘nozoyjour exayserq opSemdod ep epra v anb ‘sopep sessap qred © ‘reuse opiue soureprapod “oueqm orour ur9 stontssaoe steur ops onb ‘saodip -woo senno aque ‘apepiEjoose wp OVLUSUN ‘ayUEISAT ed cured ov corpaut oquaumpuare ‘soongiqnue ® ossaoe ‘seu. 87 -Jowa ap Sodtax0s sop ovstayxo ‘jaamod ene ap odia198 op ovstayxe ‘sageutiojut ap OpSeZTTEIOOS :ops POULT essap sazopetiaiio sa107gy Stediaunid sop suriiyy ‘opSezitt =eqm ap odpeur osseoord ce saropeorpuT sassap oBsnyOs9 v reuopEpaE ered soyyaUmBze SoBSs90ou OBS OBN -(qgueyuy apepreriow: ep oseo ou) pia ap ome um ap spews Jasin ap ajuswisajdums no sowe Sfeur JaA1A op apepriqissod wp as-eyer ‘voLguad wroypeut pum B Wol9jor 98 1908eu OB BPIA ap BSurasadsa wp O}LOUE apeprentisep vp “(0301109 9 onb o} wzexqod ep erouaIO1A + symmourasop Uxe]U3 amb svL09} se OBS SMI 9 OSS aiqos O3LI9S9 OPIS wa} ONY “apepfensisap o oBaid -wrasop ‘se8orp ap oo “eIOUsTOIA aNIUA SaQdwIas SEP ouadsaz v ‘mbe ‘souzreduope sou ap osvo 0 2 O8N ‘waV-oud forndd 'S Op BO ‘IUEL L661-096T / one OFS OP oydyoyunut ~ sorpyoruoy op exe, ~ viowgTO}A vp oyuoMTY we ‘oyun ap sasour sow soyuarajos sagSeurroqu “(Z661] 25091q/peag ‘oquOg pegseessas ‘L86T-S86T / oTmvd Ovg Op eueyodonout over - ofexduresep op oyuowrpasax9 “olnvg 08g ap apepro wu ~ sorpromoy op oxowmgu ojad eprpaut - BrsuaTorA ep opSnyoaa v 2 odard -urasap op ogSnyoaa & ureNsou oxreqe Sooyer SQ) omeg ovg op opepyo eu vjougoya 0 oFordmrosog “serroserq sopeplo sopuesd se stoavonde sterol sviougpus} ap sasazgdny ouroo sopeut0} Jos Warap Sa[g ‘OMe OBS ap ordjorunut ov warajar as ‘anb sagsnjouco sep opdeziTeraue 9 sopep sop ose -fueu vu Blames o81Ka [TswIE] OU SoUGM sopeDUIO[IE no sajodoxjou se aque eSuarayp y segdeuzzoyur seo anuap ‘aquefea op soommguoovorses soyadse ‘waiera ep opour o ‘ounsap ‘uafuo ‘apepifeuy ens opueyyeyep vip Um wo seyay (SoyUOUTEOO[sap) sUOSeTA se sepoy 9p seonstojsereo sv wjuosaide wsinbsod y ‘sepeoap san aquemp ‘omeg ogg ap oueygodonayy op “21D vlad epezt] “pox OUNS9q-WaBLIO wsmMbsag v 9 OTL OBS op ordiorE “nur ou yeatuodsrp oyreyodun oyrourestreaay Onn ‘voug|o 9 oSudsa meu aruntad opsepari09 sq ‘ome Og ap odppmur op epneg ap wLTI=:09g PRO-AIM, analisados por Marcos Drumond Junior, mostram uma relagao direta entre espacialidade e vio. lencia. As areas mais violentas so aquelas em que pre- domina uma conjungao de determinados indicadores: baixa renda, baixa taxa de escolaridade, maior pro- porcao de negros entre os moradores, maior taxa de desemprego, maior ntimero de moradores de favelas, piores condigdes de moradia e urbanisticas. Drumond elaborou um grafico que relaciona o mi- mero mensal ¢ a tendéncia dos homicidios com o terri- t6rio urbano dividido em quatro areas socioambientais hhomogéneas. Na drea de padrdo de vida mais alto, 0 nimero de homicidios, que ja era baixo em 1991, evo- lui para um declinio até 1999. Na area socioambiental homogénea caracterizada pelas piores condigses de vida, © numero de homicidios inicia alto em 1991 e apresenta uma linha acentuada de aumento conforme mostra 0 grafico a seguir. Ou seja, o aumento da violéncia em Sao Paulo entre 1991 ¢ 1999, medido pelo namero de homi- cidios, se da em alguns bairros e nao em outros, eviden- ciando um quadro muito desigual. Um bairro de alto nivel socioeconémico—o Morum- constitui uma excecao, aparecendo entre os mais ntos no periodo. Mas 0 estudo mostra também que os assassinatos, neste bairro, se concentram em trés fa- velas. Aliés, os dados mostram uma forte correlagao entre favelas e homicidios. Cinco regiées concentram 52% dos homicidios entre 1994 e 1998. Nelas a maior parte das mortes se deram em favelas, No Jardim Elisa Maria foram mortas 165 pessoas nesse periodo (Dru- mond, 1999). Essa evidéncia nos permite afirmar que Sao Paulo, como outras metrépoles latino-americanas, cresce produzindo verdadeiras bombas socioecolégicas no seu interior. Nelas nao hé lei ou qualquer regulacao, seja urban seja nas relacdes sociais. 34 92 | 93 | 94 | 95 | 96 | 97 | 98] 99 Fonte: Pro-Aim. Uma pesquisa do LABHAB-FAUUSP em favelas si- tuadas em cinco cidades brasileiras evidencia um nui- mero significativo de pessoas que permanecem ociosas a maior parte do tempo no interior desses nticleos resi- denciais®, Ai, em geral, o desemprego é maior. O mime- ro de pessoas por de também. Nao estamos longe da configuracao de gueto que é reforgada pelo alto custo ¢ baixa qualidade dos transportes. A Cia. do Metré de Sao Paulo re: mento que retrata a condicao de m pole paulistana, pela terceira década consecutiva~ 1977, 1987 ¢ 1997. Ele ajuda a consolidar a tese de que a vida na periferia urbana constitui um exilio, tal como a enunciou Milton Santos (Santos, 1990). Cruzando o numero de viagens a pé com a faixa de renda familiar, em 1997, verifica-se que, quanto maior a renda, menor € ontimero de viagens a pé. Nas faixas de renda inferio- res (até R$ 250,00) mais da metade das viagens sao 35 Le ‘0002 ‘o:varrey 9 eepjafonuosap ure; wonos anb seHRDE SV + onb soajanu panes ouz0 wztTiqeyu0s OBE OAT O*L86T no SoaNU ZEST 9 ‘OBET Wo ¥f soapoNU €9Z ap BIOUA -s1x0 B WEAC[OAaS “EfaAB] ap O9TONU BpED ap OBdEZITBDO| 2 8 opdentis w opueoyisseyo ‘oMEd Ovg ap BINITOFOIG ‘ep oueqip ouoUNATOAUIASAG 9 OBSeIqeH ep BEM }aIN9g jad sopezreer soqtoureyueasy ‘oWTEIUS ON “QOOT We Z19 Tiuasarde e essed ‘sufaauy CRS 166T Wo vARUOS “aide aonb ‘omneg ogg ap ojdionmur o ‘oiaureytreaa] our -sour 0 opunBag ‘soajanu So6'e ap Tei01 UM opudune ‘useag 0 opor wa %¢z OpeltauMe IIa} SE[aALs 9p OF -sUMNU 6 O0Z 9 TE6T A149 aN sopuayue B BP 000T 9P ADE OSUaD Op sTeIOTU sopeyINsa Sop OBSeZ|NAIP Y ‘srenquod sopep svuode wosattoy ‘ommeranu ‘onb stenpeyso sooygnd soustreaio no sompysiaarun, sonueo ‘svormgpeoe Sasa} ‘stedrorunur seamyrajerd seu -n8[e B znpuoo sou Sosos081i sfeur soreumu ap vOSNG, y ‘sopeuoisuaurpgns ajtreseq sopep eiteserde enue coweiBourop osus0 ojad jaapsuodsar ovBx0 ‘ANE 0 ‘Urey =ajsut 88 SeTeAvs sv Ton B asgos w1IN vp apepHEININ ¥ Jeosyuoo ap IAGO apepfnoyD eum 10d epurE No seo -ojopojaur swUTEY 10g “T[seIE| 0 OPO} wr SE|oAeJ Ip eID 4911000 B 91G08 ‘S!oAVUOD ‘sTero8 SOISUIMU By OBN “Teur1o} opeorsur op P10y ‘seoReoTe Seon -99} t09 opmnystios 9 opezreydeosap ayuwiseq ‘orUsUE “1puaaidwe osusunt um ap as-eren ‘efas NO “sae -g1uBjs someoueuy 9 sooTHo9] Sosmnoal was ‘souseN03 sop ogSedronred & ures ‘eSort vuxt0; op v7193 Vjap ayred ‘sapepro op ogdnNsuos osaquESiS vm ap ‘03103 -U19 ‘98-ByeA], “OpedeYSOP 104 ¥f OWNED “KX OTMO2s 0 OPO} aquemp opSeziueqin 9p vorureUIp ep ORsUOLTp B [oA -gjou 9 ‘opeprfereu ap exe} ep a ooypzBourap oywaUTD -saxo op ovSmutunp ap seoys}rajerEo sep resady opEprendysop up erfozoos & :syeyuelqure 9 soopspream sozoedsy % "BIOUQIOIA Bp @ seoTUIOUICOROII08 saQdmpUuCD sep OLOIELIAY oO reIDOssIp Jaarssoduzt 4 ‘seorBo] -cop01D0s sBqUIOg Sep EINUIEIOS v9 Bss9 ‘sted sop opepuOINE. 8 soonbesyua 2 sarerrurey soaranu reztueBuosap v apuoy ‘sepuaybosuco seqno anua ‘anb aqusosor9 ofasdurosop © ‘sepor seonsirajoeseo sessap urgfe ‘9 ‘oxmteq ov vy -sex apepriqout ‘vonstueqm apeparreoard ‘Teyuarqure 3 TePos opSeyniaz ap vrougsne ‘seansodso 9 sremyjno sap -epIAR ap vlougsne 2 apupisorso ‘(ferpedss opdeHaia5, no} a:god syuoweatiaZoutoy PeuOyLO} oSRUBOUOD "2961 @p ouqnano.p sreor mg ‘epudy ‘omeg oBg ap ONeW :aIUO (661) xerures expour vpuos op ‘wayyy sod 94 & suoiera op waSejusoz0g “suoBejuwa sessa ureyuasaide opu onb soxreq sou anb op ad & suaSeia souaur py ‘SoStares 9 soyuaU -edinbo op opiates uraq ‘emegin 9 pejuarqure apepy -enb voq ap sonreq son “enburSuoy eyastiod vu sopeny “Is “epuox exreq ap sasopesow sop ows opepmiqou zord 2p soxsteq so ‘stex]U90 Svar ure sodni09 sop saz0p =B10U Sop ov590x9 HOD ‘anb roztp soNb 039] ‘adv SILO} possuam menos de cingiienta unidades. Mas a dife- renca nao se deve, simplesmente, a essa questéo me- todolégica, embora algumas pesquisas mostrem que 0 niimero de nuicleos que contém menos de cingtienta do- micilios € expressivo. Cremos que a maior dificuldade € identificar a situagao fimdiaria dos assentamentos, jé que nem mesmo muitos dos governos municipais tém esse comhecimento, que permitiria fazer uma classifi- cagao rigorosa. Segundo dados do Censo/IBGE de 1991, Porto Ale- gre teria 7,89% da populacdo morando em favelas. No entanto, segundo dados dle um senso realizado pela pre- feitura municipal (Demhab), esse total era de 22,11% da populacdo em 1996. Desses, 4,81% moravam em fa~ velas com menos de 51 domicilios. Seguramente a di- ferenga entre 0s dados do IBGE e da PMPA nao se deve apenas ao crescimento de favelas nos cinco anos que separam os dois censos. Hé incoeréncia entre os dois levantamentos. Consultando diversas fontes, o LABHAB/FAUUSP reuniu alguns dados estimados para a populagao mo- radora de favelas em algumas cidades brasileiras: Rio de Janeiro, 20%; Sao Paulo, 22%; Belo Horizonte, 20%; Goinia 13,3%; Salvador 30%; Recife, 46%; Fortaleza, 31%. Os dados mostram um quadro que é impressio- nante sob qualquer critério, Mesmo considerando a pre- cariedade da medi¢ao das moradias e populagao residen- te em favelas feita pelo IBGE, comparando os censos de 1980 ¢ 1991 verificamos que seu crescimento foi supe- rior a 7% a0 ano, Mas o universo das favelas nao esgota a ilegalidade na ocupagao do solo. Se somarmos a ele 0 universo dos loteamentos ilegais estaremos nos referindo & maior parte da populagao dos municipios de Sao Paulo e Rio de Janeiro. Os ntimeros a respeito séo, novamente, imprecisos e mesmo inexistentes na maior parte das, 38 cidades brasileiras. A falta de rigor nos dados, que mos- tra 0 pouco interesse no conhecimento do tema, ja é, por si, reveladora. O processo de urbanizaco se apresenta como uma maquina de produzir favelas e agredir 0 meio ambiente. O numero de iméveis itegais na maior parte das grandes cidaces é tao grande que, inspirados na interpretacdo de Arantes e Schwarz sobre Brecht, podemos repetir que “a regra se tornou excegao € a excecdo regra”. A cidade le- gal (cuja produgao é hegeménica e capitalista) caminha para ser, cada vez mais, espaco da minoria. O direito a invasao é até admitido, mas néo o direi- to a cidade. A auséncia do controle urbanistico (fisca- lizagdo das construgées e do uso/ocupagao do solo) ou flexibilizagao radical da regulacao nas periferias convi- ve com a relativa “flexibilidade”, dada pela pequena corrupcao, na cidade legal. Legislacao urbana deta- Ihista e abundante, aplicacdo discriminatéria da lei, gigantesca ilegalidade e predacao ambiental constitu em um circulo que se fecha em si mesmo. Mas de todas as mazelas decorrentes desse proces- so de urbanizac&o, no qual uma parte da populagao esta excluida do mercado residencial privado legal e da producdo formal da cidade, uma das mais graves talvez. possa ser identificada na area de saneamento. Uma bem-sucedida politica de expansio do acesso & rede de agua tratada transformou positivamente, como vimos anteriormente, os ntimeros relatives 4 mortali- dade infantil. Mas na década de 1980 e especialmente nos anos 90, houve um recuo nos investimentos em saneamento, quando o ciclo indispensavel para uni- versalizar 0 atendimento da populagéo com agua tra~ tada no foi atingido e menos ainda 0 adequado destino do esgoto, Em 1998, 55% dos domicilios no pais ndo tinham acesso a agua potdvel. Destes, 11,4.% 39

You might also like