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SOCIESC - Curso de Arquitetura e Urbanismo - PROJETO VI - Julho de 2009

TEXTO
MATHEUS, Zilda Maria. A Idéia de uma Cidade Hospitaleira. Páginas 57/67. In: DIAS,
Célia Maria de Moraes (Org.). Hospitalidade, Reflexões e Perspectivas. 1ª Edição.
Manole. Barueri, 2002.

A IDÉIA DE UMA CIDADE HOSPITALEIRA

Introdução
A cidade sempre foi o lugar de liberdade1, comunicação, criatividade e progresso. Para
que continuem a desempenhar esse papel, as cidades devem ser capazes de receber e
integrar seus moradores, sejam eles temporários ou não, desenvolvendo sentimentos
de identidade, orgulho e cidadania, garantindo assim o bem-estar social, apoiado na
segurança, na integração social, no desenvolvimento do emprego e no acesso
diversificado a bens culturais e econômicos.
É principalmente na acentuação das desigualdades que se fundamenta a exclusão
social, pois também é por falta de urbanidade2 e inexistência de políticas adequadas de
habitação e transportes – setores decisivos no ordenamento do território – que os
fenômenos negativos da vida urbana se acentuam. A urbanidade e a cidadania estão
histórica, etimológica e culturalmente ligadas à cidade e, portanto, à essência da
hospitalidade também.
O presente artigo procura apresentar uma visão histórica da formação das cidades,
levantando algumas preocupações sobre qualidade de vida e iniciando uma discussão
ainda embrionária a respeito da hospitalidade e de seu papel no âmbito urbano.

Tipos Fundamentais de Cidade


A primeira dificuldade que se encontra é definir o que é uma cidade. O estudo da
cidade é um tema amplo e difuso, não havendo um conceito abrangente que se
aplique satisfatoriamente a todas as manifestações decorrentes da evolução da cidade
e que cubra desde o núcleo social emergente até as complexas formas decorrentes do
ciclo de vida da cidade: desenvolvimento, maturidade e declínio.
Uma cidade é um certo número de cidadãos pelo que devemos considerar a quem
chamar de cidadãos e que é o cidadão (...) Chamamos pois cidadão de uma cidade
àquele que possui a faculdade de intervir nas funções deliberativas e judiciais da
mesma, e cidade em geral ao número total desses cidadãos, suficiente para as
necessidades da vida3.

1
Diz o provérbio alemão que o ar das cidades é livre e torna os homens livres (Die Stadlufi machi frei).
2
Segundo Jane Jacobs, o grau de urbanidade de uma cidade, de uma metrópole ou de um bairro depende
inteiramente do grau de vitalidade urbana. A autora, portanto, entende urbanidade como a relação
dinâmica que se estabelece entre as atividades urbanas cotidianas, que são maiores que as “funções
urbanas”, sempre renováveis e ampliáveis, e o espaço público adequado à sua realização. Segundo Borja
(1994), a cidade em que se vive e se projeta deverá ser sempre uma cidade em que tudo seja, pelo
menos teoricamente, possível: máxima informação e mobilidade, múltiplas ofertas culturais e de consumo,
infinitas possibilidades de relações sociais, grande diversidade de atividades e de oportunidades de
trabalho.
3
Aristóteles. Política, Livro III, Cap. 1.
Essa é uma definição que corresponde a um conceito político da cidade, e que se
adapta ao tipo de cidade-estado da Grécia. Porém, a cidade também foi definida com
todo lugar encerrado por muralhas. Trata-se da cidade medieval, que não se concebe
sem muros que a defendam de ameaças exteriores. Já Cantillon4, no século XVIII,
imagina a origem de uma cidade baseada no seguinte pressuposto: “Se um príncipe ou
um senhor fixa residência num lugar agradável, e se outros senhores aí acorrem para
se verem e conviverem em agradável sociedade, esse lugar converter-se-á numa
cidade” (apud Goitia, 1996:7). Observamos aqui o conceito da cidade barroca, de
caráter senhorial e eminentemente consumidora.
Em 1921, Max Weber vê a cidade no sentido econômico, quando a população local
satisfaz uma parte, economicamente essencial, de sua demanda diária do mercado
local e outra parte, também essencial, mediante produtos que os habitantes da
localidade e a população dos arredores produzem ou adquirem para colocá-los no
mercado. A cidade, para Weber, é um local de mercado; portanto, ela pode ser
entendida como sede do poder (Serra, 1987:11).
Para Ortega & Gasset (apud Goitia, 1996:9), “a cidade é uma tentativa de secessão
feita pelo homem para viver fora e frente ao cosmo, do qual aproveita porções
escolhidas e delimitadas”.5 Percebe-se uma diferenciação radical entre natureza e
cidade, considerando a cidade com uma criação abstrata do homem, o espaço natural
transformado.
Hoje a cidade contemporânea é caracterizada pela sua desintegração. É uma cidade
fragmentária, caótica, dispersa, constituída por áreas congestionadas, com zonas
diluídas pelo campo circundante. A dinâmica da integração social se ressente, pois o
homem em sua vida diária sofre estímulos tão contraditórios que ele próprio, à
semelhança da cidade em que habita, se desintegra e se desconstrói.

A Cidade na História
A cidade na Idade Média, surge como uma organização comunal. Uma das muitas
causas que influíram precisamente no nascimento das comunidades foi a necessidade
de organizar um sistema de contribuições voluntárias para as obras prementes de
construção e conservação das muralhas. O estatuto jurídico da casa e a terra que os
burgueses possuíam era determinado pela obrigação de vigiar e defender a fortaleza. A
cidade defendia não só os seus próprios habitantes, como geralmente também
constituía refúgio para as pessoas e gados dos campos circunvizinhos (Goitia, 1996:7).
Ainda segundo Goitia (1996), a necessidade de manutenção das muralhas, que
caracterizavam a cidade medieval, foi uma das causas da origem das finanças, pois,

4
Richard Cantillon, economista de origem irlandesa, nasceu em 1680 e morreu em Londres em 1734. Seu
trabalho mais relevante foi Essai sur la nature du commerce, publicado postumamente em 1755.
5
A monarquia de “Direito Divino”. No reinado de Luís XIII (1610/1643), o Estado absolutista francês
consolidou-se. Seu ministro, o cardeal Richelieu, adotou uma política interna que tinha por objetivo reduzir
a autonomia dos nobres e acabar com todas as limitações à autoridade do rei. Ele perseguiu os
protestantes, derrotando-os definitivamente; reforçou o exército e criou o cargo de intendente para
supervisionar e controlar os governadores das províncias. Do ponto de vista econômico incrementou as
práticas mercantilistas, com o objetivo de transformar a França na maior potência européia.
para preservar tais muralhas, houve a necessidade de contribuições dos citadinos que,
inicialmente voluntárias, adquiriram rapidamente um caráter obrigatório, Quem não se
submetia a essa contribuição era expulso da comunidade e perdia seus direitos. A
cidade, por conseguinte, acabou por adquirir uma personalidade legal que estava
acima de seus membros, Conservando desde então esse clima livre e independente
que constitui um dos aspectos de atração do homem por ela.
A muralha teve um papel psicológico muito importante, pois, quando a ponte elevadiça
era erguida e os portões fechados ao pôr-do-sol, a cidade ficava desligada do mundo.
O fato de se achar assim fechada ajudava a criar um sentimento de unidade, bem
como de segurança. O portão era muito mais que uma abertura: era também um
ponto de encontro entre dois mundos, o mundo rural e o mundo urbano, o mundo
interior e o mundo exterior. O portão principal apresentava as primeiras saudações ao
negociante, ao peregrino ou ao andarilho comum (Munford, 1998:331).
Na cidade medieval, as classes superiores e inferiores tinham se amontoado juntas, na
rua ou no mercado, tal como faziam na catedral: os ricos podiam andar a cavalo, mas
tinham de esperar que o pobre, com a sua trouxa, ou o mendigo cego, arrastando-se
com a bengala, saísse do cominho. Com o desenvolvimento da larga avenida do século
XVI, a dissociação entre as classes superiores e inferiores tomou forma na própria
cidade. O luxo se propagou, do vestuário e da diversão para a culinária. A demanda de
fundos ilimitados contagiou todas as camadas da sociedade e foi o princípio da política
econômica do Estado absolutista.
Portanto, a cidade barroca, no sentido formal, constituía uma personificação do drama
e do ritual; o prazer era um dever, o ócio, um serviço e o trabalho honesto, a mais
mesquinha forma de degradação. As próprias distrações da corte antecipavam o ritual
e a reação psíquica das metrópoles do século XX. “Opressão semelhante; tédio
semelhante; igual tentativa de busca de refúgio nas distrações da opressão tirânica,
que se transformara em rotina, e da rotina, que se tornara uma opressão insuportável”
(Munford, 1998:409).
A cidade como a conhecemos nasceu no século XVIII, quando passou definitivamente
a ser um território de intervenção sobre as possibilidades humanas. O grande
desenvolvimento das cidades e das formas de vida urbana é um fenômeno que melhor
caracteriza nossa civilização contemporânea. A cidade, como já vimos, não é um fato
novo; o fato novo é sua transformação, verificada ao longo do século passado. O que
“ontem” era uma população predominantemente rural, “hoje” está se convertendo em
outra predominantemente urbana.
Qual a origem dessa crescente urbanização que se dá em todo o planeta e mais
intensamente entre países em desenvolvimento? Para o filósofo alemão Jürgen
Habermas6, as estruturas tradicionais se submetem cada vez mais às condições da
chamada racionalidade instrumental ou estratégica: organização do trabalho e do

6
Jürgen Habermas, filósofo e teórico social alemão nascido em 1929, é o principal representante
contemporâneo da Escola de Frankfurt. O cerne do trabalho de Habermas é o conhecimento, com ênfase
na crítica das práticas e dos sistemas de crenças e valores capitalistas. Em seu livro Conhecimento e
interesse (1968), ele diz existir três formas fundamentais de conhecimento que correspondem aos três
interesses humanos centrais, o controle técnico da natureza, a comunicação e compreensão dos outros
seres humanos e a libertação do domínio alheio.
comércio, rede de transportes, informações e comunicações, instituições de direito
privado e burocracia estatal. Assim nasce a infra-estrutura de uma cidade obrigada à
modernização, em que o alcance de uma qualidade de vida passa a ser considerada
por alguns autores uma utopia.

Desenvolvimento das Funções Urbanas


Ao fazer um levantamento das atividades da cidade, é preciso distinguir entre dois
aspectos: as funções humanas comuns, desempenha em toda parte, e as funções
urbanas especiais, produtos de suas filiações históricas e de sua estrutura singular e
complexa desempenhadas apenas dentro da cidade. Entre essas funções e processos,
destaca-se uma capacidade superior de cooperação e uma ampliação da área de
comunicação e comunhão emocional; e, a partir dessas coisas, emergem novas
finalidades, não mais ligadas às necessidades originárias que acarretam a existência da
cidade (Munford, 1998:110).
Para satisfazer suas necessidades, os homens exercem uma série de ações sobre a
natureza, modificando seu ambiente e adaptando o espaço. Assim, no processo de
interação com o espaço natural, o homem insere-lhe construções humanas, criadas
com uma finalidade, uma função. São compartimentações do espaço em subconjuntos
mais ou menos permanentes e de dimensões variadas, porém interligados em rede,
caracterizando um sistema.
A produção de adaptações do espaço é feita pelo trabalho humano cooperativo, sendo,
portanto, um produto social.
Marx (1980:202) divide em três elementos o processo de trabalho: o trabalho
propriamente dito, o objeto de trabalho e os meios de trabalho. O instrumento é o
meio de trabalho e este
é uma coisa ou um complexo de coisas, que o trabalhador insere entre si e o objeto de
trabalho e lhe seve para dirigir sua atividade sobre esse objeto. Portanto, as
ferramentas, as máquinas e os edifícios, assim com outras adaptações promovidas no
espaço, são instrumentos, fazendo parte da força produtiva da sociedade (Serra,
1989:47).

Os homens não trabalham sozinhos; pelo contrário, cooperam para atingir um objetivo
comum, e durante esse processo de interação o homem introduz modificações fixas no
ambiente natural, destinadas ao atendimento das necessidades básicas de abrigo ou à
produção de outras coisas destinadas à satisfação das necessidades humanas.
À medida que o conjunto geral dos instrumentos se desenvolve, paralelamente ao
desenvolvimento da tecnologia e da cultura, durante o processo de acumulação e de
complexidade crescente na divisão do trabalho, maior é a capacidade do homem de
introduzir modificações no meio ambiente, construindo adaptações do espaço
conscientes e dirigidas para determinada finalidade; entretanto, tais modificações
resultantes dessas adaptações implicam, com freqüência, aspectos negativos
imprevistos (Serra, 1989:51).
Para Milton Santos, citado por Silva (1991:13), o espaço, portanto,
se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado
e do presente, e por uma estrutura representada por relações sociais que estão
acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e
funções. O espaço é um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual. Daí
porque a evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares.

A Idéia de uma Cidade Hospitaleira


A idéia de uma cidade hospitaleira está vinculada à construção da urbe, à tessitura
estrutural e social da cidade como conhecemos atualmente. A perda da unidade e a
autonomia das partes têm sido conseqüências constatáveis do processo normal de
evolução da cidade e da sociedade. As contradições de localização e a contraposição
de situações decididamente aposentam os projetos integrais,os planos oniscientes
onipresentes e totalitários. A cidade-máquina está descartada; ao invés disso
assistimos à necessidade de uma nova compreensão da cidade, agora destinada a
novos papéis: expressão de segmentos sociais, vínculo concreto dos tempos de uma
sociedade, narrativa cultural da trajetória da comunidade, lugar urbano, seqüência de
lugares de vida e de disputa.
Não se pode falar de comunidade, ou mesmo tratar dela, sem considerar os inúmeros
aspectos dos quais os indivíduos que vivem na cidade dependem, pois compõem essa
comunidade. É essa compreensão de cidade, em que todas as coisas e todos os
processos estão inseridos no espaço e no tempo (inseparáveis), que define os quadros
geoistóricos da ação humana, pois um movimento no espaço é também um movimento
no tempo. O espaço nos envia à nossa especialidade, ou seja, aos diferentes lugares
que constituem nossa geografia, ao mesmo tempo pessoal e social. Todo indivíduo é,
com efeito, originário de um determinado lugar, desenvolveu-se em um meio
particular, ocupa uma posição profissional, trabalha em determinada organização, vive
em determinado lugar e morre algum dia em algum lugar. Esses lugares estão
integrados a espaços mais amplos. Esse enraizamento espacial pode ser mais ou
menos forte, mas não se pode conceber um ser humano ou uma coletividade que não
tenha algum tipo de vinculação espacial. É por essa razão que os lugares e as posições
que ocupamos no âmbito individual ou coletivo são objetos de diversos investimentos:
afetivos, materiais, profissionais e outros (Fischer, 1989, apud Torres, 1992:31).
Fontes de enraizamentos, esses investimentos reafirmam uma identidade pessoal e
coletiva, ambas aliadas a uma nova compreensão de qualidade de vida, fornecendo
assim novos parâmetros para a construção de uma filosofia de Cidade Hospitaleira. A
união dessas duas concepções, cidade e hospitalidade, leva à formulação também da
idéia de Estado, que deixa de ser visto com elemento centralizador. As políticas
públicas, agora, não podem mais ser definidas nos gabinetes, mas dependem de
negociação com a sociedade. A idéia de Estado passa a admitir uma concepção de
mediação. A cidade, portanto, não é apenas um centro de produção, mas também um
lugar em que a sociabilidade se desenvolve e onde frui certa hospitalidade. E em
relação a essa dimensão que as idéias de bem-estar coletivo e de interesse público
parecem aplicar-se mais diretamente.
Para o pensador francês Michael Foucault7, a cidade nasce como um projeto de
disciplinar o espaço e as pessoas. Embora já existissem cidades que se encaixavam
nessa definição, fundamento da cidade moderna é a idéia grega de polis.

Qualidade de Vida no Espaço Urbano


A cidade constrói-se dia a dia, porém, toda a construção se processa a partir de uma
destruição, obedecendo um curso natural cujo fim é sempre a morte. Uma cidade que
se constrói é ao mesmo tempo uma cidade que se destrói; e é precisamente na
maneira de articular essa dupla operação de construção-destruição que reside a
possibilidade de as cidades se desenvolverem harmoniosamente, visto que o ideal é
que a construção se faça no mínimo de destruição possível e, sobretudo, que essa
destruição não seja nada além de uma readaptação inteligente às novas exigências
(Goitia, 1996:205).
O conceito de qualidade de vida no espaço urbano é de difícil mensuração; qualidade
no âmbito da cidade é o resultado que combina determinadas características gerais,
entre elas segurança, qualidade ambiental, mobilidade e oportunidade de lazer, com
sensibilização para as diferenças da população, especialmente as de faixa etária e
limitações físicas. Seu pressuposto básico é poder expressar conceitualmente as
condições ecológicas e sociais características de um espaço ocupado e explorado pelo
homem; um conceito normativo que envolve o qualitativo, mas se exprime
quantitativamente por seus componentes (Silva, 1997:202).
Ainda segundo Silva (1997), o processo de crescimento dos centros urbanos do
terceiro Mundo possui uma dinâmica própria, marcada por ajustes estruturais que
influenciam decisivamente a qualidade de vida da população. A incipiência da ação do
Estado, em suas diferentes esferas de governo, na proteção/prevenção de danos ao
meio ambiente nas grandes cidades, não assegurando um nível aceitável de condições
de vida às populações urbanas, tem causado impactos significativos nas condições de
sobrevivência, envolvendo tanto a produção como os serviços sociais, e as diversas
atividades da gestão do desenvolvimento, portanto da reprodução social destas
últimas. Esse contexto generalizado tem engendrado uma queda contínua da qualidade
de vida das populações.

Considerações Finais
O quadro caótico de violência nas metrópoles tem gerado um alto nível de medo e
tensão nos seus habitantes, restringindo a utilização dos ambientes domésticos e
outros produtos locais mais reservados em detrimento de outros espaços também
públicos. A carência de vida cultural e de atividades sociais e coletivas diminui o que se
entende por laço social, levando dessa forma à castração das forças de mobilização,
ação e reivindicação da coletividade em geral, além de causar a perda da
hospitalidade.

7
A obra de M. Foucault (1926-1984) se dirige para um esgotamento dos valores estabelecidos até o
século XX. Ela é destruidora de convicções problematizando o passado e perguntando pela atualidade,
segundo Eribon.
A hospitalidade representa, eminentemente, o sustentáculo do laço social pois ela tem
como princípio fundamental atar o indivíduo a um coletivo, contrapondo-se
inteiramente ao ato de exclusão. A qualidade de vida insere e reconstitui o tecido
social, em uma sociedade de “justos” cada um trabalha para incluir os outros (Lévy,
1998:58).
Sendo assim, entendemos que toda a identidade requer a existência do outro, “o outro
não existe enquanto existe apenas nós, o que significa que uma forma de
relacionamento – identificação, amor, solidariedade, hospitalidade – é indispensável
para construir o que quer que seja com o outro” (Enriquez, 1983 apud Torres, 1992).
O conceito de hospitalidade cuja qualidade pode ser entendida como categoria da
identidade, não pode ser estudada apenas no seu nível normativo; deve-se levar em
consideração as percepções influenciadas pela cultura e educação dos indivíduos.

Referências
 BORJA, J. A cidade conquistada. Manifesto, n. especial compacto, Lisboa, Ed. Rogério
Moreira e Patrícia Vieira (mimeo).
 ERIBON, D. Michael Foucault, de 1926-1984. São Paulo, Companhia das Letras,
1990.
 GOITIA, E. C. Breve história do urbanismo. Tradução de Emílio Campos Lima. Lisboa,
Editorial Presença, 1996.
 JACOBS, J. Morte e vida das grandes cidades. São Paulo, Martins Fontes, 2000.
 LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo, Editora 34, 1999,
260p.
 MUNFORD, L. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectiva.
Tradução de Neil R. da Silva. 4ª ed. São Paulo, Martins Fontes, 1988.
 SEMINÁRIO SOBRE DESENHO URBANO NO BRASIL, DF - DESENHO URBANO. Anais
do II SEDUR - Seminário sobre Desenho Urbano no Brasil. Editores Bernamy
Turkienicz, Maurício Mata - São Paulo, Pini. CNPA, Rio de Janeiro, FINEP, 1986.
 SERRA. G. O espaço natural e a forma urbana. São Paulo, Nobel, 1987.
 SILVA, L. R. da. A natureza contraditória do espaço geográfico. São Paulo, Contexto,
1991.
 TORRES, O. L. S. (org.). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas.
Tradução e adaptação de Arakcy Martins Rodrigues. Revisão técnica de Carlos A.
Bertero. São Paulo, Atlas, 1992.

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