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JEAN STAROBINSKI As mascaras da civilizagao Ensaios ategso ‘Maria Leia Machado 1.A palavra “civilizacao” 1 Asprincipaisreferéncia da histéria sobreapalavracvlizagao ‘to hoje conhecidas com uma aproximagio satisfat6ria, Em freneds, civil (século xt), civlidade (sécuto x1v) justifi- ‘am: facilmente por seus antecedentes latinos. Civilizar € ates tado mais tardiamente, Ele é encontrado no século XVI em das eepgoes: |-Levar a cilidade,tornar cvise bandos os costumes eas manei- rasdosindivduos. Montaigne: "Os da reno da México eram absoatamente mals ivilzadose maisengenhosos do ques outrasnagoes de Amétics 2. Em jurispradénci:tomnar civil uma causa criminal? sta itima acepeao sobreviverépelomenosatéofim do sécu- xvi (Littréaassinala como utilizada“outrora”).elaque forne- cea bate do substance qv o Dion unter Creo de 174 dened sone modeTemo dears enc Fam atdjust. am lganento ier unpre ce cima Aine converendo inormadesem Smetgnnes os detaranets Umer par aa? Mens do que se apoia formato nolgia do giant é om Ioment import. © pereinent um pou masta da tesa plano seid moderne doe consti Umeoogae lec doquewenradnemcna dum igi do encrent logo rte Aco faca de eno ‘eh deaparecdo do Dona da Acoma de 198? © primi dicntro que sila plea caso em seaside to Diario unveal Tran) e171 Tansereoo verte (1 ermodejurspradnia Segue sea init de 174) [2}Qamigodeshomensempregoacisapatiaporsocaica: Ke) Ae Voecs pala. eligi inontestarelenteoprimeio eo amit co damaiade;€oprimeio moved a nosadvere en embra consnuameeaconfatrnidade, aban da poss corso, Em 1798,0 Diciondrio da Academia, 5+ digo, seté mais pre= «iso: "“Agio de civlizar ou estado do que é cvilizad”. Mas, jé em 1795, encontrava-se em L. Snetlage (Novo diciondriofraneds con: tendo novas riagbes do povo francs, Gottingen, 1795): Esse palavea, que esteve em uso apenas na pric, para dizer que tua causa criminal rornada civil, €empregads pata exprimira aciode civilizar ou a tendéoca de uma povoa pole ou, antesacoe rig seus costumes seus ws prodindo na saciedade civil uma ‘moralidade luminoss, aia, afetvosa ¢sbundants ema boas bras, {Cada Cidadio da Europa css hoje empenhiadonesseikimo om: bate de civliasso,Civlzacio dos costumes.) Como observa J. Moras, a palavra civilizagao conheceu tal impulso durante o periodo revluciondrio queerafiilatribuirao cexpirito da Revolugio um neologismo que Ihe era anterior." Mas nfo deixa de ser verdade que a palara civilzasao podia se tanto mais facilmenceadotada edfundida quanto o perfodo revolucio- niério, segundo M. Frey, vu formarem-se insimeros substantivos ‘em -agto a partir de verbos em -izar:centralizagto, democratira- ‘fo, federalizagto,alrancesamento,*fraternizacao, municipaliza- (20, nacionalizagdo, panteonizacao, utilizacao..” E civilizagto Jmpoe-se tanto que Sébastien Mercier, em 1801, nio a considera ‘mais como um neologismo.”A palavra,entdo, com muita rapidez deixou de aparecer como nova, [Nada, nesse moment, parece invalid o que | Mors de- pois E. Benveniste avangavam: em 1756, Mirabeau em Ami des Fommes(p 136,176 257 opine ne Fang ial EY 2agao no sentido no jurdico que devia rapidarnentefaer carte ra! Lite, queatribui essa pateenidadeaTurgo, qu teria criado a palavraem um fragmento de seu Diseours sur Thistoire universal em 1731, deixou-seprenderna armaditha de Dupont de Nemours, comentadoreeditor muito live das Obrasde Targot (1811). Osautores de Trévoux no ecoheram seu exemple 30 aca. [Av encontravam um argumento oportuno pata sta lita contra a filosofia das Luzese contra os Encilopedistas. rligito,longede serexcluida pelas"virtudes socias" ou pela" moral natural” éeon- sidetada por Mirabeau como o"principal mével”da cvilizagto.ela resma assimilad tsocabiidade. A palavra cvszacho aparece portanto, por ocasito de um elogio da religito, ao mesmo tempo ‘como poder de repressio ("feio"), de reunio fraterna (“confta- ternidade") edeabrandamento, Diderot, por volta de 1775, redige para e Histoire des deux Indes do abade Raynal,consideragSessobrea Réssiaem quea pala va ciilzagno eaparece vires vezes:“A emancipacio, ouequeea ‘mesma coisa sob um outro nome, éuma obra demorada edificl™™ ‘Comega-seaadivinhar queer uma data posterior, a civiliza- «0 poders tornar-se um substituto lacizado da religifo, uma parusiadarazio, a {A palavracivilizaeo pode seradotada tanto mais rapidamen- te quanto condita um vocabulo sinc parsum cone pret xisteate, frmitlado anteriormente de maneira miltipla evariad albrandamento dos costumes, educagdo dos esptritos, desenvolvi- ‘mento da polidez, cultura das artes e das ciencias,crescimento do comércio eda indiistria,aquisicao dascomodidades materiaisedo oxo. Para os individnos,os povos,ahumanidadeinteira,ea desig- racem primeiro lugar 0 processo que faz deles civilizados (termo preexistente),e depois o resultado cumulativo desse processo. tum conceito unificador. [Naoserdsurpresaque,depoisdesehaver imposto por sua vir- tude de sintese, ese termo tenha sido imediatamente objeto de teflexbes analiticas: desde o fim do século xv se esforgardo em discriminar as condigbes ¢ os constituintes — rte, moras — da cviaago. Entre este ann ma das sas importates continua asera de Guiaot (1828): Doisfto esto comprendidor nese grande ft clesubsis Ke] teem duas condos ese revels por dis sintomasodeenvol- mento da atviade sci oda atividade individual, o progzesso dh sociedde eo progreso da umanidade Por toda parte onde a condo exterior do homem se anpla,wvvifa, se apercgo, porta parte onde ater atm do homem se mostra com brio, com grandezs por ese dois sina emvtas vezesadspe- toda profindsimpereigto do extado sei, 0 gene humane aplaude eprodamaa cilizato" A palva aa, que designs um proceso sorevém na histrindasidasomesmo tempo quesacepeao moderna de pro- res, Ciao e progress so terms dewinados a mane as estreitaerelabes. Mas exes term, bora possim se tempregados de maneit global e vag, nto tardam a exigir uma reflexdo genetic, preocupadaem dstnguiros moments ses vos importa determina com preidoas etpas do proceso ci zadorsosegisdo progrestodassocedads Ahisériaarefexdo Ge historador,conjturais ou emplicas, pm mos obra para chara um “quadro dos progesos do esprit homano uma tepresenago da marcha da clr por mi de divest dos de aprfioamento sucesso, ‘Benveniste dia excelememen Dabrbivie original 8 condigdo presented homem em socedade, escabri-te uma grado universal, um lento proceso de educa ‘so de depuragio,em suma,um progressoconstantenaordem que a cvldade, erm esttico jf so bastava pari exprimir que era peciso chamar de cvilizagaopara dfinir-thesimultaneamente ‘sent ea continuidade, Nao era apens uma visio hstrica da sociedad ea também uma interpretaao otimistaedecdidamen- 5 ‘emo toldgica de sua evolugd que ce afirmava, por vezesmesmo ‘evelia daquelesquea proclamavam.* Ferguson, influenciado pelas aulas dads em 1752 por Adam Smith, parece tr sido o primeito na Inglaterra a empregara pala- va cil tambon quer expésmaisdrmete atta des(C] ‘quatro estigios de organizacio das sociedades humanas, em fon- ‘glo de sua atividade economica e de seus mados de subsistencia selvagens(vivendo de coletae de casa),pastoresnémades,agricl- tores sedentarizadas, nagoes industriaise comerciantes. Millar seguitd seu exemplo.” Rousseau, Goguet, san recorret & palavra ‘ghéncias ndo atinge somente a palavra cvilizagao com um valor pejorativo; tem como resultado, além disso, reservar-Ihe un campo temporal limitado:a cvlizagdo no €coextensiva ahistr ‘humana inteira. Representa apenas sua fase presente, com sen sis- * tema de coersdesimpostasspaixdeshumanas (monogemiaet) (O mesmo se darénovocabulso de Engels. Para el, com base nas tsorisde Lewis H. Morgan, acivlzasio€ posterior ac extad se sagem es bachris ea lags que inventaa Esta, proprie 3) dade,adivist do trabalho, a exploraio das dasesinferiores.O momento wlterir da dileicahistica nascera da supressio desse modadorganiragisocala sociedad sem classes femque Estado teré declinado) aboiré os males ds cvilzagosredesco- briréem umplano superiona comunidad dosbens de que goza- va. amanidade préciviiada Esc omprego, cr sumafourie- Fist, dapalavacvilizago no prevalecerd na itratura marist doseculoxe. ‘Demaneiramuitomalsgerulsemimplicaio poltico-revo- ln eto mundo gi eas deseo ney

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