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ddama como Dona Guiomar de Castro: “Se sois macho ¢ nfo sois dama, € ‘Confessti-nos que sois macho, e que outra da- ‘contuclo para as portuguesas ¢ luso-brasileiras residentes na nova, Coldnia do Brasil que dispoms de mais informagées sobre suas préticas St racas aoslivros das Dendincias Confssbes do Santo Orcio, pois a partir de 1591 a inqisiio esteve por diversas vezes devassando as princi~ tas Capitanias do Nordest, inguirindo eprendendo os acusadosem peta sobrettido na Bahia onde 0s Inq) ores encontraram maior nfmero ssar peranteo Visitador foi Paulade Sequeira, aos 20deagosto de ida om Lisboa, tina entfo 40 anos. Disse que h2 ‘anos vinha rece bend ‘amor de uma viva chamada Felipade Souza, ‘coma qual trocara alguns abragos beijs, chegando a ter “ajuntamentocar- diate, ajuntando seus vasos natura ‘modo com Paula Antunes, Maria de Peraltoe ‘mocas, altase balxas,e também dentro de um ‘muita murmuragso da muita convessagd0 acusoudoquese inculpou. ‘Como 0 “nefando © abomindvel erime de sodomia’ ‘emos © panico causado nestas mulheres denunciadas por cus abomindveis amores esta= ‘vam anotados nos temtidos cadernos dos Tnquisidores. Como o Santo Off- ‘io mostrava-se misericordioso com os pecadores que tomassem inciativa Ge ve acusarem, certamente sabendo da confssio-dentincia da primeira Iésbiea a abrir ¢ jogo com os Vi ‘outras safistas apresentam-S6" ‘espontineamente” perante 0 Licenciado Furtado de Mendons ‘avez de Maria Lourenco, 40 anos, easada. Disse 4 a Felipa de Souza “se fechou em tum quarto e the comegou .guebtos e amores e palavras last fe fora um sufigo com sua amante. E Ihe deu muitos abracos ¢ beljos “cama e estando ela confessante langada de. spre ela de brucos com as fraldas ambas arrezagi= ‘yasos dianteros ajuntados se estiveram ambas d= Pelo visto, apesar dos 6sculos ¢ amplexos ppetiam estas mulheres © mesmo costume & tou que sendo menina, aos 8 anos de idade, cade da vila de S. Jorge, Quitéria Sequa, “a tomou nos bragos © a langou ‘em cima de uma cama e Ihe alevantou a camisae se pos encima, ajuntando seu vaso natural com o dela, fazendo c tendo deleitaclo.” Um caso de pedot embrava apesar de ter avontecido cespaco de 1/4 de hora.” Esta mesma Maria Rangel laria Rangel contou que no Port sua cidade natal, fizera 0 rogadinko com vérias outras donzelas, suas des variando de 12 a 16 anos. J4-veio portanto escolada da terrinha, De Ihe curioso: hoje em dia, um dos ter somar Piscara:tinhe 12-13 anos quando o desonesta amizade com Mécia, negra zes em diferentes dias, se ajuntaram afastadas, abragando-se e 308 dianteiros um com 0 outro e assim se de- este pueril rogadinho, no mesmo iste 0 badalado Teatro Maria Betha- bicas ultradiseretas mas comentadtssi- ibém é a fama di primeira dama da tos? com sua vizinha Caterina Baroa, cinco anos mais velhs: chegando fambas tio torpe ajuntamento, fazendo exatamente 0 que inumeréveis imeninos © meninas sempre praticaram desde todo o sempre: “ajuntarart seus vasos dianteiros como se fora hiomem eom muller.” ‘Embora obsessivannente os Inquisidores indagassem a essastefbades se uiilizavam algum instrumento penetrante quando pecavam, nenhuma respondeu afirmativamente sequer mencionando a lingua ou 0 dedo como instrumento de prazer. Tudo nos leva a crer que tal sléncio relate verda- ddeira omissdo da prética de outro desempenho exético além dos beijos, lsbragos e fice das partes genitais, pois no eas0 dos sodomitas maseuli- -? tos, alm da riqueza de detalhes do uso do dedo e Kingua nos atos sexuais, héveferéncia a objetos penetrantes, como um nabo ¢ a mio de um almofa- riz (pequeno pildo de bronze), Segundo o historiador Michel sua Hin6ria da sexualidade, lnquisidores e Confessores deleitavam-se cles pr6pries ao ouvir 0s pecadores descreverem minuciosamente seus deletes peeaminosos, da insistirem que nenhum detalhe fosse omitido, tal como a posigéo do coito, 9 estavam vests ou nfo, quantas vezes transaram, 52 Ihouve deleitagSo, et ete» ‘Nao foi apenas na Bahia que as adeptas de Safo foram denunciadas 2 Inquisigfo: também em Pernambuco algumas mulheres foram incrimina= das por praticarem 0 “abomingvel pecado de sodomia”. Entre elas, outra tmameluca, Maria Lucena, que foi vista duas vezes deitada sobre as Sndias Vit6ria e Margarida, esoravas numa fazenda de Olinda, fazendo movi- ‘mentos tfpicos das safistas, Logo que se perceberam descobertas por jndisereta “voyeurista”, diz 0 documento “que rogaram que se calasse”. fvel, outra vex Maria Lucena foi denunciada, agora por uma fndia ‘sertangja, MGnica, que disse viver entre os brancos desde que aos 4 anos Ge idade foi pilhada em sua aldeia. Disse mais, que a mameluca era infamit= dda de “dormix carnalmente com as negras da casa” € que ela prépria, numa noite, foi espif-la, encontrando Maria Lucena com Margarida “no cho, “sobre a outa, fazendo movimentos ¢ sinais como faz um homem com sndo ela denunciante bem estarem-se ambas tendo ajunt= reacSo foi tipica de uma crists intolerante: “nfio po= ‘dendo softer torpeza, cuspiu nelas, dizendo-thes que nfo faziam aailo por falta de homens. E pela manhd the rogou Lucena que se cals- Jas As Iésbicas da Bahia ¢ Pernambuco nos f= fo de nossa histéria,eom outta dendneia de wm We - Geek afvus voyeur”. A 10 de novembro de 1593, © portugués Manuel Fernandes, la~ ‘vrador, 50 anos, disse que “fl espreitar por um buraco da porta da casa de seu vizinho, o preto Manoel Rey, ¢ viu estar Maria Rois, casada, deitada de ccostas ¢ sobre ela deitada de brugos Ana, moca parda, 11 ou 12 anos de ‘dade, filha de seu vizinho, ambas com as fraldas arregacadas, fazendo uma com a outra como se fossem homem com mulher.” ‘De todas estas mulheres incriminadas no pecado de sodomia, apenas ‘a supracitada Filipa de Souza chegou As barras do Tribunal do Santo Oft- io, Ao ser inquirida, acusou-se de fato deter transado com Maria Peralta, Maria Lourego e Ana Fiel, dizendo que “todas essas comunicagées the causavam grande amor ¢ afeigfo carnal.” Sua presenga na pequenina Sal~ vvador devia ser motivo de grande inguietagSo, como prova este epis6dio corcovado, por Iho dizer a dita moca sua mulher, andow para tomar Felipa em sua casa, por manha, para espancar, ¢ por the darem a ”* Bscapou Felipa do corcundinha mas nfo do Santo Officio: pro- WA Geek Of eu a 08 sodomitas masculines, poderemos io erradicaram de ver. as préti- pelo nefando pecado de sodomia, Entre elas, nada menos que dois rover adores, diversos sacerdotes, militares de alta ¢ baixa patente, comercian~ tenaz resisténcia do homossexuals agoites, os campos de concentracio, a Aids, prova que a homossexualidade ‘uma realidade imorredoura: “A universalidade absolutae a indestrutibli- dade obstinada do fendmeno provam que # homossexualidade deriva da prépria natureza.""* wre TH quase mil anos que a legislaco castiza o lesbianismo em Porta gal: segundo o Prof. Asdrdbal Aguiar, da Universidade de Lisboa, um dos precursores dos estudos sobre a homossexualidade na Lusitnia,jé no sé- culo tavacse af as Penitenciais de Angers ¢ Fleury, nos quais 5° preserevia trés anos de peniténcia para as mulheres convencidss no peeado dde sodomia: no caso de serem leigas, deviam permanccer um ano inteiro oranda mas Severo, ejuando a pio e gua, no caso das feiras, 0 castigo arma gr ind cna na masa Go pl, Aa coladas devia termi- ocias magras como as prisineias dos campos de concentia~ E contudo através da Leis xmravagantes de 1499 que s de~ ‘ate pela primeira vez,em Portugal: “a mulher que usa torpe~ ‘mente como home, haverd a mesma pena que o homem que tal pecado te: deve ser queimada viva, reduzida a p6, seus descendentes tornados indbeis para que no ficasse bens seqllestrados, dolas meméria.” 0 c sexos comesava por determinacio do Estado, proibindo ‘dimulo para os eulpados no pecado contra a natureza: na Fr si patses da Cristandade Ocidental era costume queimar-se junto com a ‘ca ou 0 sodomita 0 procesto que os inculpov, perdendo por inclusive o segistro da exeeugdo. Nas OrdenagGes Manuelina A mulher “compreendida no crime de sodomia”, subentendendo-se debaixo desta rubrica tanto a e6pula anal heterossexual quanto olesbismo propria- mente dito. 1646 representa uma dsta capital na hist6ria das lésbicas do mundo Iuso-brasieiro, pois neste ano, 20s 22 de marco, 0 Conselho Geral da In~ uisigfo de Lisboa decidiu que “o Santo Offcionifo devia tomar conheci- ‘mento dos atos sodomfticos entre mulheres”, Tal deliberacdo foi tomada ap6s um século de existéncia do Terrfvel Tribunal, numa quadra, a fogueira uma dezena de “fanchonos” s6 no ano de 1644, somos forcados a concluir que em Portugal a homossexualidade feminina sempre gozou de muito maior clem&ncia e folerfincia do que a homosse- xualidade masculina: antes de 1646 rarfssimos so os processos de mule res-sodomitas existentes na Torre do Tombo, nfo havendo registro de ne- ‘nhuma iésbica lusitana que tenha sido queimaada pelos tribunais rligiosos. A partir de 1646 a Inquisigfo deixa de porsoguir 0 tibadismo, apesar de ‘manter a pena de morte aos homossexuais masculinos eo degredo As raras ‘mulheres convencidas na prética da c6pula anal heterossexual, Com a alfortia do lesbianismo, ficaram as trfbades luso-t livres do medo da fogueirs, perdendo os historiadores as principais ‘documentais para o estudo do comportamento homoeréstico desta minoria, Ivo erro, a Gnica legislacdo especificamente da Bahia, editadas em 1707 por D, Sebastio Vikle, 5° Arcebispo de Salvador. Ao tratar do pecado de 10 Com que 0§ te6logos rotulavam antigamente tanto @ is ricos que nde fossem a c6pula anal igGes determinavam: “ também Néo encontramos na documentago do Arquivo da Cétria de Salva or nenhuma referéacia sobre se de fato tais punigdes chegaram a ser apli~ ‘cadas contra mulheres que tenbam praticado 0 pecado de molice. Ou tudo ‘acontecia “debaixo dos panos” e as autoridades eclesiésticas nfo chegavam ‘ater conhecimento dos pecados das safistas, ou tais documentos escanda~ wmprometedores foram destrufdos para salvaguardar a tradicGo ‘mpoluta das familias baianas. Nos conventos e recolhimentos de freras de Portugal i vérias refertncias de que as religiosas cultuavam a rem juntas tanto que hé registro do duas freirinhas queimadas na fos ‘mosteito de Santa Marta de Lisboa, Im Camila de [Espirito Santo, mantiveram por seis meses erética relagSo, a primeira di- ‘endo ter recebido numa visio celestial ordem para ser a mie espritual da segunda, ¢ sentindo “o peito cheio de grandezas e bens de Deus” acabou 1 filha espiritual, amamentagto mifstico-erétice que, sor, levou as duas amantes A barras do Tersivel Tri= Jo estudo sobre o Convento do Desterro das clarssas soriadora Susan Socio cita vérios epis6dios envolvendo ‘das monjas com amantes do outro sexo, 0s famosos saunciados por Gregério de Matos no século XVII: nada fala, por xe o Kesbianismo, Censura ou inexistencia de provas? NO recolhimento de MacaGbas, nas Minas Gerais, na Visita episcopal de 1733 34, denunciava-se que foram encontradas até 4 freirinhas dormindo mt ‘mesma cela, “algunas dormindo juntas com outras na mesma cama” Se faziam ou nfo o rogadinho ou amamentagbes misticas, 0s documentos nfo chegam a revelar. No Recolhimento de Nossa Senhora do Parto, no Rio de Janeiro, encontramos uma roferéneia a um “menage a trois", no ano de 1758, A denunciada foi a irma Rosa Maria Egipctaca da Vera Cruz, neg out, Rony & Manat, Nay Fras tics quando 0 nc Roe ype, Beaesellet, 1987, alberto Acre forms de comportapento sexual em, Portal no silt ado Boletim Cultural do Cinfso C. Vlzondensea® 6 1980, 4 (Gerais ¢ 08 prnbrdios do, Caracas So Paulo, Nadi a nacio Courana, ex-prosttuta nas Minas Gerais, que foi denunciada de ter ido para a cama do confessor do Recolhimento levando consigo outra, ‘menina de § anos. Tal escfindalo chegou aos castos ouvides do Bispo D. Antonio do Desterro, que ordenou a expulso da libidinosa recolhida.*° O polftica em que mandam recolher algumas das que pareceria escandaloso mandé-las Certamente entre as tais “dissolutas” contassem id eis e perigosos no mundo do nhecida Felipa de Sousa, a primeira Iésbiea a ser processada e sentenciada em Salvador, em 1592, inclufa em seu curriculum a passagem por um con- vento de religiosas em Portugal, de onde fora expulsa por sodomia. Nos anos 30 de nosso século haverd outra Késbica no Brasil, de origem espa~ terd seu perfodo de noviciado num Mosteiro —assunto aque veromos mais adiante. Para o século XIX vamos encontrar © amor entre mulheres envol~ ‘vendo nada menos que nossa Alteza Imperial D. Maria Leopoldina Josefa juidequesa de Austria e a primeira Imperatriz do Brasil ‘esposa de D. Pedro Te progenitora do II, apontada interna- ‘amante da vidva inglesa Maria Graham.” E através das «que platBnica “amizade particular”. Esta nfo foi a primeira vez que 0 lesbianismo penetrou palécio XVI, teve romances glamourosos com duas favorit balle e Mademoiselle Jules de Polignac ‘cumentadas em suas biografias, Destas, Howard, uma das esposas de Henrique «¢ professores de Eis como seu pris 1: “baixa, fornida de carmes, pele leitsa, fi Jo viril a dialogat com seus naturalists. Ao chegar assustoU 0 cspitito masculino, era inclinadi M de Janeiro ostentava ainda certa Val alcosticas. De longe parecia um homem. Enganchada no ginete, veil wva um chapéu redondo dando A sua fisionomia germfnici Barbara & Reid, Colt, Lesbian Lives, Baltimore, Dian 1976, 25€amon, Pedro. vida de D, Pedro. Rio de Faneito, Nacional 1943.» She Virildade grotesca” tal foi o retrato que deixou a posteridade, e que en~ contra-se até hoje na Ermida da Gléria. Bem educada, Leopoldina falava, ‘ydrios idiomas, revelando bons conhecimentos em ciéneias naturais, Ama- réplica germfnica das mulheres guerreiras. Por curiosa coincidéncia, nas comemoragGes de seu casamento com D. Pedro, na principal casa de espe~ vvé no marido o parceiro voltivel e subestima a arte de fix#-lo?" Quem sa berd a resposta? Maria Graham, por seu turn, igualmente ostentava certas peculiari= dads que por si $6 s ilag6es a respeito de sua inversfo sexual, In- ‘anos mais jovem que sua Imperial protetora, pro- Atica, tendo viajado pelos cinco mares até que veio como governanta da primogénita imperial, D. Maria da ‘a Viscondessa do Rio Seco quem aproximara-a da Imperatriz srmanéncia na corte nfo chegou a um més, pois a 10 de outu- 6 sumariamente despedida pelo Imperador. Em sou diftio a

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