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4. Estrarécias & Dimensoes 00 Campo DA Sadpe MenTaL & ATENCAO PsrcossociAL YVimos que 0 modelo psiquidtrico, nascido do modelo biomédico, teve como uma de suas caractetisticas princi- pais um sistema ‘terapéutico’ baseado aa hospitelizacio. Como este modelo pressupde um paciente portador de um diseérbio que Ihe roubs a RazZo, um insano, insensato, inca- pa, isresponsivel Gaclusive a legislagio considera 0 louco il), o sistema hospitalar psiquiatrico se apro- bes carceritias, correcionais, peni- tencifrias, Portanto, um sistema fundado na vigiléncia, no controle, na disciplina, E como aio poderia deixar de ses, xum sistema com dispositivos de punicio e repressio. A este respeito, podemos constatar ao artigo 32 dos estarutos do Hospicio de Pedro II (Decreto 1.077, de 4 de dezembro de 1852) os meios “de repressio permitidos para obsigar os “alienados & obediéncia”: 1° A privacio de vistas, passcios ¢ quaisquer outros recreios; 2° A dimninuigio de alimentos, dentro dos limites presexitos pelo respectivo Facultativo; 3° - A reclusio solitiria, com a catma ¢ os alimentos que © espectivo Citnico prescrever, nlo excedendo a dois dias, cada vvez que for aplicadas 4° - O colete de forsa, com reclusio ou sem ela; sobre este proceso, com of objetivo exclusivamente di- Be Apenas com o intuito de possibiltar uma teflexio mais siste- atic Inicialmente, vejamos algo sobre a dimensio teético-conceitual (ou epistémica), Como nos refetimos anteriormente, as ciéncias ‘nasarais que fundamentaram 2 constimigdo de um saber psiquié- trico sobre a loucura estio em uma importante fase de casita O premponto de ques dtada em um aber ue, insuspeito, que, se munido de um bom método (a experimenta- ‘sio), produzitia somente a verdade, nadia mais que a verdade, jé aio € mais aceito universalmente, Ai esto vitios cientistas de renome mundial debatendo estas questées como Hiya Progogine, Edgar Morin, Isabelle Stengers, Fritjof Capra, Henry Atlan, Umberto Marurana, Francisco Varela, Boaventura de Sousa Saatos, ‘e muitos outros. | ais importante dos postivisias ea ege areca Para a definigio de uma iniciativa politica ou social acredita- ‘ya-se que apenas o conhecimento produzido pela ciéncia seria |. | pplenamente suficiente. Aspirava-se até mesmo uma sociedade lanejada e sdclinmnh Se Tone tino: Senos esteera fe i site esta atitude em que 2 agio/intervengio seria determinada cexclusivamente por principios e pressupostos cientificos. CIENCIA L ACAO/INTERVENCAO, Anualmenre sabe-se que 49 coisas silo sto mais assim. Ao contemplar um conjunto de aspectos que, embora alheios & ciéncia, interferem na formulagio de suas estratégias. Sto aspectos de or- dem ideolégica, de ordem politica, de omcem ética.. Estes aspectos so entrecortados por quests religiosas,culturais, moms... Enfimn ‘Vejamos como ficaria o esquema agora (que é sempre sem- pre insuficiente e sempre provisétio). CIENCIA 4 IDEOLOGIA —> AGAO/INTERVENGAO ¢ POLITICA t #TICA PIL ae Mas ninguém the atendia: 2 obsessio pelo pente seria um mero sintoma psic6tico? Para que uma louca necessitatia de um pente? transformatia em uma arma? O jogaria fora e pedisia um to, © 0 conceito de doenga mental na medida'em que provarem que niio contribufa em praticamente nada para entender e lidar com 6 sujeitos assim classificados: a resposta da psiquiatra foi criar asilos psiquistricos, Assim sendo, a psiquiatria passou a experimentar novas defini- ‘tzanstorno mental’, Nao nos dé a ideia de alguém carregando um fardo, um peso enorme e eterno, inseparivel e indistinguivel do sujeito? Se formos levar ao limite a ideia de portador, podesia- ‘mos considerar que todos nés caszegamos o fardo de nossa per- sonalidade e cafes, Por outro lado, uma pessoa com transtorno mental é uma pessoa transtomada, que é o mesmo que possessal Em inglés o tesmo mental disorder nos remete a pensar em n0- cotdem, quebra da ordem, sem ozdem, e af voltamaos 1o principio dda questio: qual 6a ordem mental? O que é normalidade mental? Por estas razbes no campo da satide mental eatengo psicossocial se tem utlizado falar de sujetos ‘em softimento psiquico oumen- tal, pois a ideia de softimento nos remete a pensar em um sujeito ue sofie, em uma experiéncia vivida de um sujeito, Enfim, se com « doenca entre partateses aos depacannos com 60 sujeito, com suas vicissitudes, seus problemas coneretos do co- ‘idiano, seu trabalho, su fami, seus parentes ¢ vizinkos, seus pro- jetos ¢ anseos, isto possibilta uma ampliagio da noc de inte- gulidade a0 campo da saiide mental e atencio pricossocial. Os servicos jf nfo serio locais de epressiio, exclusio, disciplina, con- twole¢ vigilincia panéptica Foucault, 19774). Dever sex entenc- dos-como dispostives esteatégicos, como lugares de acolhimen- +0, de cuidado € de trocas socinis. Enquanto servigos que lidam ‘com as pessoas, € nio com as doencas, devem sex Ingares de sociabilidade e producio de subjetividades. E aqui jé estamos na “dimensii tdcnico-assistencial’,¢ }é podemos perceber algumas de suas inter-relagdes com a dimenstio que acabamos de analisar. or outro lado, se 2 loucura/alienagio nifo é sindnimo de ol ‘uiculos significativos ao exetcicio da cidadania. A concessfio do ‘A questio dos direitos humanos assume aqui uma expressio singular, Trata-se de uma huta pela inclusio de novos sujeitos de ih ‘outros. Multiddes de fuuniias choram suas suinas lesta forma para o questionamento pritico das ssa destes desventurados enfermos, que dissipanim fortunas Jes € normas excludentes, construindo estratégias efeti- gs monde cine nave intents ox por | yas de cidadania e participagio social, que so, 20 mesmo tem- aoe Se ee po, fundamentos ¢ comprovagées materiais dos novos pressu- apes —— pee cama aie Fovtoe Een ttns inetinca, todo 0 © conjunto de transforma- 7 Os aanstomados de tmeate, (Ktaepein, 1988 20-25 | ges e inovagées anteriores contribuem para a construgio de tum novo imaginétio social em relagio & loucura e aos sujeitos Nio é de assustar? Ha quem diga, a0 contro, que aiio tem em softimento, que nio see de rejeigio ou tolertncia, mas de medo das pessoas que aio tém razfo, ¢ sim daquelas que se Inter coma nto Gemais! nesta medida que a nogio de pro- 0 social complexo é estratégica, pois é necessétio introduzit —{ tama ssc de tusformagées que perpesn vices clmens, i tio? ses aqui referidas Vimos que na dimensio teérico-conceitual, se adotadas estas nogdes de alienado, de periculosidade, de per- } A dimensio sociocultural é, portanto, uma dimensio estratégica, a da tazio, ¢ assim por diante, vamos constriir instimigdes de e uma das mais celativas e reconhecidas, nos ambitos nacional ¢ e disciplina, correcio moral, vigiléncia, custédia, puni¢io, Vamos internacional, do processo brasileiro de reforma psiquiétrica. Um ig consteuis, da mesma forma, eis restritivas, autoriticia, impediti- dos principios fundamentais adotados nesta dimensio é 0 en- wg vas, Vamos, enfim, construir reptesentagées socizis e sentidos volvimento da sociedade na discussio da sefoema psiquidtrica th 4 socinis de medio, de risco, de exclusio: estigmas, discriminagées, com o objetivo de provocar 0 imaginisio social a refletir sobre preconceitos. No méximo vamos perceber algumas atitudes de ‘© tema da loucura, da doenga mental, dos hospitais psiquidtr tolerincia. Mas, Franco Basaglia insistia que a questio nfo deve- 1 partir da propria produgio cultural ¢ artistica dos atores sociais a ser direcionada para a ideia da tolerincia. A “ideologia da * ” envolvidos (usuarios, familiares, técnicos, vol a tolenincia”, como ele se referia, € arrogante ¢ pretensiosa, pois tanto, foi institaido um Dia Nacional da Luta Antis ‘nmplica em suporiar (eoleras) 0 outro. dia 18 de maio, no qual (e mesmo nos dias peéxion Em contraposicio, se recuisarmos aqueles conceitos arcaicos todo o pais ocorrem atividades cultusais, politi procurarmos sentir ¢ nos relacionat com os sujeitos em sofi- esportivas, dentre outras, que promovem o del ‘mento, se n0s ditigitmos as pessoas e nfo as suas doengas, po- sociedade a participar ea refletic, demos vislumbrar espagos terapéuticos em que é possfvel escutat ‘Uma experiéacia marcante para mim foi o convite recebido « acolher suas angéstias ¢ experincias vividas; espagos de cuidado de Franco Rotelli para organizar uma escola de samba com c acolhimento, de produgio de subjetividades ¢ de sociabilidades. ususcios, técnicos, familiares e voluntirios no carnaval de Trieste que profetiza que “am dia os mutos do Juquery vio cait”. No Rio, foi ceiado 0 grupo musical Harmonia Enlouquece que gxa- ‘you “Sufoco da vida” com a voz de Hamilton Assungio: “es tou vivendo no mundo do hospital, tomando remédio de psi- quiatria mental. Haldol, diazepan, rohipnol, prometazina, me médico nfo sabe como me tornar um cara normal”. Ou Paulo de Tarso com ‘a gente semeou o sol... gente fez bsilhar 0 sol. a gente fez nascer o sol pra nio tomar haldol”. E muitas outras iniciadvas no campo da misica, como a dos MAgicos do Som (Wolta Redonda/R)), Lokonaboa (Assis/SP), Vigjar Santo An- Paulo 0 Coral Cénica, uma linda proposta de cantar, dangar, epresentas,significar. No Rio, a pastir do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, foi esiado o Grupo de Teatro Pirei na Cena, mas existem imimeras iniciativas como estas por todo o pais, O Teatro do Oprimido é um bom exemplo de como possivel produzie trabalhos orientados por psinefpios como emancipa- Go, utonomia, consciéncia crtca, dentre outros, que ilo sejam reduzicos a0 caniter terapéutico. E apenas teatro! (E no basta?) _ Nol senso asim ograpo de saso “Os )s nmades” © “Camisa de forsa”, intervengio cultural concebida por Lala Tiodeiey © que acompanha © “Sistema Nervoso Alterado”. ‘Com o objetivo de cra ua politica pablica de cultura no Cam- po da Snide Mental, « Secretaria Nacional da Identidade e da Diver- dade Cuitusal, do Ministécio da Caltura, ¢ a Escola Nacional de Saicie Piblica Sergio Arovea, da Fondagio Oswaldo Cruz (Ensp/ Diversidade, que homenageou Austregésilo Carano (autor do livro que inspitou o Sime Bic de 7 Cabeza), receben quase 400 inscriges de projeros. A solenidade de premiagio, presidida pelo ministo da Calta Juca Ferzeiz, ocosren na sede da Caixa Cultazal, onde 55 pprojeros foram contemplados com 0 pténio. Mas ezine um spect fundancatal atest dimeasto 1978, quando veio juntamente com Felix Guattari, Robert Castel, Ecving Goffman, Thomaz Szasz 20 I Congresso Brasileiro de P,acimanicomial quantos 0s encontros exclusivos de usuétios IV Conferéacia Nacional de Saide Mental, que foi fnalmente smascada para 27 de juno 2 01 de julho de 2010. Essa conieréa- cia teve como cariter inovador © fato de sez intersetotial, con- tando com a participagio das dceas de cultur, direitos hurt ‘00s, economia solidria,asiseEncia social e outa, Quudto 1 — Encontros Nacionais do Movimento da Luta Antimanicomial e das Associagtes de Usuitios e Familiaes Boom Nao eae Aanearl 199 v1 ecco Nac Lin Animaoi 2001 ‘venice Naor de Unies Paatee 22 ‘YUEecouse Naboo Anicaomid 200 SB do

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