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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Gabinete de Consultoria Legislativa LELN.” 13.694, DE 19 DE JANEIRO DE 2011. (publicada no DOE n° 015, de 20 de janeiro de 2011) Institui o Estatuto Estadual da Igualdade Racial © dé outras providéncias. © GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Fago saber, em cumprimento ao disposto no artigo 82, inciso IV, da Constituigio do Estado, que a Assembléia Legislativa aprovou e cu sanciono ¢ promulgo a Lei seguinte: Art. 1° - Esta Lei institui o Estatuto Estadual da Igualdade Racial e de Combate & Intolerancia Religiosa contra quaisquer religides, como agdo estadual de desenvolvimento do Rio Grande do Sul, objetivando a superacdo do preconceito, da discriminagdo ¢ das desigualdades raciais. § 1° - Para efeito deste Estatuto, considerar-se-a discriminago racial toda distingao, excluso ou restrigdo baseada em raga, cor, descendéncia, origem nacional ou étnica que tenha por objetivo cercear 0 reconhecimento, 0 goz0 ou o exercicio dos direitos humanos ¢ das liberdades fundamentais em qualquer campo da vida piblica ou privada, asseguradas as disposiges contidas nas legislagdes pertinentes & matéria. § 2° - Para efeito deste Estatuto, considerar-se-A desigualdade racial toda situagio injustificada de diferenciagdo de acesso ¢ fruigdo de bens, servigos ¢ oportunidades, nas esferas piblica e privada, em virtude de raga, cor, descendéncia ou origem nacional ou étnica. § 3° - Para beneficiar-se do amparo deste Estatuto, considerar-se-& negro aquele que se declare, expressamente, como negro, pardo, mestigo de ascendéncia africana, ou através de palavra ou expresso equivalente que 0 caracterize negro. § 4° - Para efeito deste Estatuto, sero consideradas agécs afirmativas os programas ¢ as medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a corregio das desigualdades raciais e para a promogao da igualdade de oportunidades. § 5° - O Poder Publico adotara as medidas necessérias para 0 combate a intolerdncia para com as religides, inclusive coibindo a utilizago dos meios de comunicagao social pa difusio de proposigées que exponham pessoa ou grupo ao ddio ou ao desprezo por motivos fundados na religiosidade, Art, 2° - O Estatuto Estadual da Igualdade Racial e de Combate a Intolerancia Religiosa orientard as politicas publicas, os programas e as aces implementadas no Estado, visando 1- medidas reparatérias e compensatérias para os negros pelas sequelas e consequéncias advindas do periodo da escravidéo ¢ das praticas institucionais ¢ sociais que contribuiram para aprofundar as desigualdades raciais presentes na sociedade; http://www alts gov.br/legis 11 ~ medidas inclusivas, nas esferas pliblica e privada, que assegurem a representagio equilibrada dos diversos segmentos raciais componentes da sociedade gaticha, solidificando a democracia e a participagao de todos. Art. 3° - A participago dos negros em igualdade de condigdes na vida social, econdmica e cultural do Estado do Rio Grande do Sul seré promovida através de medidas que assegurem: I - 0 reconhecimento ¢ a valorizagio da composigao pluriéinica da sociedade sul-rio- grandense, resgatando a contribuigdo dos negros na histria, na cultura, na pol economia do Rio Grande do Sul; II - as politicas pablicas, os programas ¢ as medidas de ago afirmativa, combatendo especificamente as desigualdades raciais que atingem as mulheres negras; IIL - 0 resgate, a preservagio e a manutengdo da meméria histérica legada A sociedade +ha pelas tradigdes e praticas socioculturais negras; IV - 0 adequado enfrentamento e superagdo das desigualdades raciais pelas estruturas institucionais do Estado, com a implementagiio de programas especiais de agdo afirmativa na esfera piblica, visando ao enfrentamento emergencial das desigualdades raciais; V - a promogao de ajustes normativos para aperfeigoar 0 combate ao racismo em todas as suas manifestagdes individuais, estruturais e institucionais; VI - 0 apoio as iniciativas oriundas da sociedade civil que promovam a igualdade de oportunidades e 0 combate as desigualdades raciais. gi CAPITULO I DO DIREITO A VIDA E A SAUDE Art. 4° - A saiide dos negros ser garantida mediante politicas sociais ¢ econdmicas que visem a prevengao ¢ ao tratamento de doengas geneticamente determinadas e seus agravos. Pardgrafo tinico - O acesso universal ¢ igualitério ao Sistema Unico de Satide — SUS — para a promocdo, protecdo e recuperagdo da satide da populacdo negra sera proporcionado através de agdes e de servicos focalizados nas peculiaridades dessa parcela da populasio. Art. 5° - Os drgaos de satide estadual monitorarao as condigées da populacao negra para subsidiar o planejamento mediante, dentre outras, as seguintes agSes: I~ a promogdo da sade integral da populagdo negra, priorizando a redugio das desigualdades étnicas e 0 combate a discriminagao nas instituigdes e servigos do SUS; 11 - a melhoria da qualidade dos sistemas de informagio do SUS no que tange a0 processamento ¢ & andlise dos dados pot cor, etnia e género; III - a incluso do contetido da satide da populagdo negra nos processos de formagiio e de educagdo permanente dos trabalhadores da saiide; IV - a inclusdo da tematica satide da populagdo negra nos processos de formagao das liderangas de movimentos sociais para o exercicio da participago e controle social no SUS coleta, Pardgrafo tinico - Os membros das comunidades remanescentes de quilombos serio beneficidrios de incentivos especificos para a garantia do direito a saiide, incluindo melhorias nas condigdes ambientais, no saneamento bésico, na seguranga alimentar € nutricional ¢ na atengao integral A saide, http://www alts gov.br/legis 2 Art. 6° - Serdo instituidas politicas piblicas de incentivo a pesquisa do processo de satide e doenga da populagdo negra nas instituigdes de ensino, com énfase: I- nas doengas geneticamente determinadas; I na contribuigdo das manifestagdes negras de promogao a saiide; III - na medicina popular de matriz africana; IV - na pereepeao popular do processo saiide/doenga; V - na escolha da terapéutica e eficécia dos tratamentos; ‘VI-no impacto do racismo sobre as doeng: Art. 7° - Poderao ser priorizadas pelo Poder Pablico iniciativas que visem a: 1 - criagdo de niicleos de estudos sobre a saiide da populagao negra; IL - implementagdo de cursos de pés-graduago com linhas de pesquisa e programas sobre a saiide da populagao negra no ambito das universidades; III - inclusio da questo da saide da populagdo negra como tema transversal nos curriculos dos ensinos Médio ¢ Superior; IV - incluso de matérias sobre ctiologia, diagnéstico ¢ tratamento das doengas prevalentes na populagdo negra ¢ medicina de matriz africana, nos cursos ¢ treinamentos dos profissionais do SUS; V - promogio de semindrios ¢ eventos para discutir ¢ divulgar os temas da satide da populagdo negra nos servigos de sade, Art. 8° - Os negros terdo politicas piblicas destinadas & redugo do risco de doengas que tém maior incidéneia, em especial, a doenga faleiforme, as hemoglobinopatias, 0 lipus, a hipertensao, o diabetes ¢ os miomas. . CAPITULO IL DO DIREITO A CULTURA, A EDUCACAO, AO ESPORTE E AO LAZER Art, 9” = O Poder Pablico promoverd politicas e programas de ago afirmativa que assegurem igualdade de acesso ao ensino publico para os negros, em todos os niveis de educago, proporcionalmente a sua parcela na composi¢go da populagdo do Estado, a0 mesmo tempo em que incentivard os estabelecimentos de ensino privado a adotarem tais politicas ¢ programas. Art. 10 - Estado deve promover o acesso dos negros ao ensino gratuito, as atividades esportivas e de lazer e apoiar a iniciativa de entidades que mantenham espago para promogao social desta parcela da popula: Art. 11 - Nas datas comemorativas de carater civico, as instituigdes de ensino piblicas deverdo inserir nas aulas, palestras, trabalhos atividades afins, dados histéricos sobre a patticipagdo dos negros nos fatos comemorados. Art. 12 - As instituigdes de ensino deverio respeitar a diversidade racial quando promoverem debates, palestras, cursos ou atividades afins, convidando negros, entre outros, para discorrer sobre os temas apresentados. Art. 13 - O Poder Publico deveré promover campanhas que divulguem a literatura produzida pelos negros e aquela que reproduza a histéria, as tradiges e a cultura do povo negro. http://www alts gov.br/legis 3 Art. 14 - Nas instituigdes de ensino, piblicas e privadas, deveré ser oportunizado 0 aprendizado e a pritica da capoeira, como atividade esportiva, cultural ¢ Iidica, sendo facultada ipagdo dos mestres tradicionais de capoeira para atuarem como instrutores desta arte- Art. 15 - 0 Estado devera promover programas de incentivo, incluso e permanéneia da populagdo negra nos ensinos Médio, Técnico e Superior, adotando medidas para: I - incentivar agdes que mobilizem e sensibilizem as instituigdes privadas de Ensino Superior para que adotem as politicas ¢ ages afirmativas; IL- incentivar e apoiar a criagdo de cursos de acesso ao Ensino Superior para estudantes negros, como mecanismo para viabilizar uma inclusio mais ampla e adequada destes nas instituigdes; IIL - dar cumprimento ao disposto na Lei Federal n.° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educagdo nacional, e na Lei Federal n° 12.288, de 20 de julho de 2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis n.* 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, ¢ 10.778, de 24 de novembro de 2003, no que tange a obrigatoriedade da incluso da Histéria e da Cultura Afro- brasileiras nos curriculos escolares dos ensinos Médio e Fundamental; IV - estabelecer programas de cooperagao téenica com as escolas de Educagio Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Técnico para a capacitago de professores para 0 ensino da Histéria e da Cultura Negras e para o desenvolvimento de uma educago baseada nos principios da equidade, tolerancia ¢ respeito as diferengas raciais; V - desenvolver, elaborar editar materiais diditicos e paradidaticos que subsidiem o ensino, a divulgagio, 0 debate e as atividades afins sobre a temitica da Historia e Cultura Negras; VI - estimular a implementagao de diretrizes curriculares que abordem as questies raciais em todos os niveis de ensino, apoiando projetos de pesquisa nas areas das relagdes raciais, das ages afirmativas, da Historia ¢ da Cultura Negras; VII - apoiar grupos, micleos e centros de pesquisa, nos diversos programas de pés- graduago, que desenvolvam temdticas de interesse da populacao negra; VIII - desenvolver programas de extenséo universitaria destinados a aproximar jovens negros de tecnologias avancadas, assegurado o principio da proporcionalidade de género entre os beneficiérios. Art. 16 - O Estado deverd promover politicas que valori suas manifestagdes de canto do “Rap”, da instrumentagao dos “DJ ¢ da pintura do grafite. ma cultura “Hip-Hop” em ", da danga do “break dance” CAPITULO IIL DO ACESSO AO MERCADO DE TRABALHO Art. 17 - © Poder Pablico deverd promover politicas afirmativas que assegurem igualdade de oportunidades aos negros no acesso aos cargos piblicos, proporcionalmente a sua parcela na composicdo da populagdo do Estado, ¢ incentivaré a uma maior equidade para os negros nos empregos oferecidos na iniciativa privada. http://www alts gov.brilegis 4 Pardgrafo tinico - Para enfrentar a situagdo de desigualdade de oportunidades, deverdo ser implementadas politicas e programas de formagao profissional, emprego e geragio de renda voltadas aos negros. Art. 18 - A incluso do quesito raga, a ser registrado segundo a autoclassificagio, sera obrigatéria em todos os registros administrativos direcionados a empregadores ¢ trabalhadores dos setores publico ¢ privado. CAPITULO IV DAS TERRAS QUILOMBOL, Art. 19 — Aos remanescentes das comunidades de quilombos que estejam ocupando terras quilombolas no Rio Grande do Sul, serd reconhecida a propriedade definitiva das mesmas, estando © Estado autorizado a emitir-lhes os titulos respectivos, em observancia ao direito assegurado no art, 68 do Ato das Disposigdes Constitucionais Transitérias da Constituigao Federal ¢ na Lei n.° 11,731, de 9 de janeiro de 2002, que dispde sobre a regularizagao fundidria de reas ocupadas por remanescentes de comunidades de quilombos. CAPITULO V DA COMUNICACAO SOCIAL Art. 20- A idealizacdo, a realizagio e a exibigdo das pegas publicitarias veiculadas pelo Poder Piblico deverdo observar percentual de artistas, modelos ¢ trabalhadores afro- descendentes em nimero equivalente ao resultante do censo do Instituto Brasileiro de Geografia ¢ Estatistica — IBGE — de afro-brasileiros na composigdo da populagao do Rio Grande do Sul. Art. 21 - A produgdo veiculada pelos érgios de comunicagao valorizaré a heranga cultural e a participagao da populagdo negra na historia do Estado, Art. 22 - Na produgdo de filmes, programas e pegas publicitérias destinados 3 veiculagdo pelas emissoras de televisdo e em salas cinematogrificas, devera ser adotada a prética de conferir oportunidades de emprego para atores, figurantes ¢ técnicos negros, sendo vedada toda ¢ qualquer discriminagdo de natureza politica, ideoldgica, étnica ou artistica Pardgrafo nico - A exigéncia disposta no “caput” nao se aplica aos filmes e aos programas que abordem especificidades de grupos étnicos determinados. Art. 23 - Os drgios e as entidades da Administragdo Piblica Estadual poderdo incluir cliusulas de participagao de artistas negros nos contratos de realizagao de filmes, programas ou quaisquer outras pecas de cardter publicitario nos termos da Lei Federal n.° 12.288/2010. § 1° - Os drgdos e as entidades de que trata este artigo incluirdo, nas especificagdes para contratagdo de servigos de consultoria, conceituagio, produgio ¢ realizagdo de filmes, programas ou pecas publicitarias, a obrigatoriedade da pratica de iguais oportunidades de emprego para as pessoas relacionadas com o projeto ou servigo contratado. § 2° - Entende-se por pritica de iguais oportunidades de emprego 0 conjunto de medidas sistemiéticas executadas com a finalidade de garantir a diversidade étnica, de sexo e de idade na equipe vinculada ao projeto ou servigo contratado. http://www alts gov.br/legis 5 § 3°- A autoridade contratante poder, se considerar necessirio para garantir a pritica de iguais oportunidades de emprego, requerer auditoria por érgdo do Poder Publico. § 4° A exigéncia disposta no “caput” nio se aplica as produgdes publicité abordarem especificidades de grupos étnicos determinados. s quando CAPITULO VI DAS DISPOSICOES FINAIS Art. 24 - Esta Lei entra em vigor 120 (cento e vinte) dias apés sua publicagao. PALACIO PIRATINI, em Porto Alegre, 19 de janeiro de 2011. FIM DO DOCUMENTO http://www alts gov.br/legis 6

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