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126 Dano Harvey Marx, ocapitalismo é muito mais problematico do que isso. Constitui uma forga em revolugo permanente, varrendo todas formas de vida mais antigas, desatrelando recursos imensos para expandir a produtividade do trabalho social. No entanto, ‘também contém dentro de si as sementes da sua propria negagdo, sementes que crescem ¢, no fim, racham as proprias bases em que esti enraizaéas, No capitalismo, as crises slo inerentes. Em tais momentos, a irracionalidade e o terrivel poder destrutivo proprios do modo capitalista de produglo ficam aparentes com mais {acilidade: o capital inaproveitado, de um lado, ea forga de trabalho desempregada, no outro. Em parte, no entanto, o recurso a0 juste espacial mascara airracionalidade do capitalismo, pois permite atribuir a desvalorizacao, por meio da destnuicio fisica ou da guerra global, fracassos puramente politicos. Uma teoria marxista adequadamente claborada das relagdes entre transformagiio interna e externa desnuda tal ilusdo, Ficam desnudas as raizes da formagio da crise no aspecto tanto nacional ‘quanto internacional, na dimensio geografica A questio de quem esta certo ouerrado é de grande e imediata importincia Se a teoria marxista do ajuste espacial estiver correta, entéo, no século XX, a perpetuago do capitalismo foi obtida & custa da morte, da devastagdo e da destruigao levadas a cabo em duas guerras mundiais. No entanto, cada guerra foi travada com armas de destruigdo sempre mais sofisticadas. Testemunhamos 0 crescimento da forga destrutiva que mais do que se iguala ao crescimento da forga produtiva que a bburguesia também deve eriar como condigio da sua sobrevivéncia. De fato, nossa condigdo presente deve dar o que pensar, ji que as tendéncias de crise do capitalismo ‘mais uma vez fogem do controle, as rivalidades interimperialstas se agucam e a ameaca de autarcia dentro de impérios comerciais fechados avulta. A batalha para exportar a desvalorizago assume o primeiro plano e as beligerdncias dominam 0 ‘om dos discursos politicos em todos os niveis. Com isso, chega a renovada ameaca de guerra global, dessa vez ravada com armas de tdo grande e insano poder destrutivo, que nem mesmo o mais apto permanecerd vivo. A menisagem que Marx hé muito tempo procurou fixar sobre nés parece mais premente do que nunca: A destruiglo violenta do capital aio por relagdes extemas a0 mesmo, mas como condigdo de sua autopreservagio, & a forma mais notivel pela qual o conselho & dado, dando espago a um estado superior de produgio social (Max, 1973: 749-50). CarituLo V A GEOPOLITICA DO CAPITALISMO Publicado pela primeira vez em Social relations and spatial structures, edigao de 1981. Desejo considerar as conseqiiéncias geopoliticas da existéncia sob o modo capitalista de produgdo, Elaborarei teoricamente meu argumento, mas sua relevancia historia serd evidente o suficiente para estimular o debate e talvez a agio politica, numa questo de profunda e forgosa urgéncia, As principais caracteristicas do modo capitalista de produgao A expresso “modo de produgdo” € controversa, mas para 0 propésito da minha argumentago proponho uma interpretagdo relativamente simples para la, Acredito que todos nés concordamos de modo aceitavel que a reprodusao da ‘vida cotidiana depende das mercadorias produzidas mediante o sistema de circulago de capital, que tem a busca do lucro como seu objetivo direto e socialmente aceito. Podemos considerar a circulagdo do capital um precesso continuo, no qual se usa ‘moeda para adquirir mercadorias (forga de trabalho e meios de producdo, como ‘matérias-primas, maquingrio, insumos de energia etc.), com o abjetivo de combind- los na produgio e fabricago de uma nova mercadoria, que pode ser vendida pela moeda gasta inicialmente mais o Ivero. Esquematicamente, representa-se esse Processo como um sistema do seguinte tipo: —M + Am, ete. A teoria apresentada a seguir se bascia na andlise de tal proceso de circulagio. Também assumirei uma forma atomistica com respeito & sociedade competitiva de mercado, na qual diversos agentes econdmicos se dedicam a essa forma de circulagao. Os desvios dessa hipétese, exceto sob condigdes especificadas posteriormente, nfo afetam a ldgica do meu argumento. Nao pretendo sugerir, no 130 Dawo Harve entanto, que tudo 0 que acontece sob o capitalismo pode se reduzir a uma manifestagdo direta ou mesmo indireta da citculagao do capital. Algumas ‘mercadorias sdo produzidas e comercializadas sem apelo ao estimulo do lucro, € diversas transagbes entre agentes econdmicos existem fora da circuiagdo do capita Contudo, sustento que a sobrevivéncia do capitalismo se funda na vitalidade permanente dessa forma de circulagdo. Se, por exemplo, houver interrupgdo dessa forma de circulayao pela impossibilidade da obtengao de lucro, entio a reproducdo a vida cotidiana que conhecemos se dissolverd no caos. Além disso, também sustentarei que, sob o capitalism, a fonte permanente de preocupacdo envolve a criagdo das infra-estruturas sociaisefisicas que sustentam a circulagio do capital "Nao significa que interpreto todos esses fendmenos como rigorosamente funcionais em relagioa cirevlaggo do capital. Porém, os sistemas legal, financeiro, educacional € da administrasZo pablica, além dos sistemas ambientais ndo-naturais, urbanos € de transportes, para mencionar algumas das organizagdes chave que tenho em mente, precisardo ser desenvolvidos para sustentar a circulagéo do capital se for para reproduzir a vida cotidiana efetivamente ‘A anise profunda erigorosa da citculacao do capital revela muitos aspectos importantes. Essa foi a tarefa analitica que Marx se impds em O capital, e seguirei a linha de pensamento por ele elaborada. Como, em outra obra (Haavev, 1982), investiguei, analiseie, a certo ponto, ampliei muito as conclusbes de Marx, sinto- ‘me vontade para sumarié-las sem demonstragdes e justficativas detalhadas. Correndo o risco de uma demasiada simplificagdo, reduzirei os aspectos importantes da circulagao do capital a dez pontos. Preciso fundamentar meu argumento, 1A continuidade da circulasdo do capital se baseia na expansio ininterrupta do valor das mercadorias produzidas. Isso ocorre porque 0 valor das mercadorias produzidas no final da seqiéncia (C’) é maior do que o valor das mercadorias absorvidas na produgdo (C). Esse aumento no valor & capturado sob a forma monetiria do lucro (Dm). Portanto, uma economia capitalista “sauddvel” é a que apresenta um indice de crescimento positivo. Quanto mais proxima do estado de estagnario (sem falar de declinio real), ‘mais ndo-saudével se considera a economia. Isso se traduz na ideologia do crescimento (“o crescimento é bom”), independentemente das conseqtiéncias ambiental, humana ou geopolitica 2. Naprodugio,o crescimento se realiza por meio da utiizagao de trabalho vivo. De fato, os capitalistas podem obter Iucros. comprando barato ¢ vendendo caro; no entanto, ao fazer iss0, 0 gatiho deles significa a perda de outros. A redistribuigio do poder social por meio da troca desigual Carre * Accconauck 06 capo 131 talvez seja importante para ascensfo € rearganizagio subseqliente do capitalismo (por exemplo, a concentracdo inicial de riqueza através do comércio mercantile a centralizagao subseqiiente do capital em empresas gigantescas). No entanto, a redistribuigéo no é base adequada para a circulagdo continua do capital. Uma economia capitalista saudivel €aquela «em que todos 0s capitaistas obtém rendimentos (Iucros) positivos, Isso cexige que valor real seja adicionado na produgao. O trabalho vive fem oposigaoa “trabalho morto”, personificado e pago com outras mercadorias) & portanto, a fonte exclusiva de valor agregado real na produsdo. 3. Na produgd0, 0 lucto se origina da exploracao do trabalho vivo. Nesse «aso, pode se despir otermo “exploracio” de suas conotagdes mais emotivas, © termo denota uma condigdo moral, pela qual se trata 0 trabalho vivo como “fator” reificado da produgdo e condigdo tésnica, pela qual épossivel ue a miio-de-obra gere mais na produsio do que obtenhe através da troca da sua forga de trabalbo como mercadoria. Isso nao significa que ‘cabathador recebe 0 minimo possivel. Surgem certas situagdes em que 0 trabalhador ganha mais, ao mesmo tempo que também aumenta adiferenga entre o ganho da mio-de-obra ea geragdo de producio, Em outras palavras, ‘um maior padro material de vida para otrabalhador nfo necessariamente incompativel com um aumento da taxa de exploracio. 4. Bm conseqiiéncia, a circulacio de capital se base 2e relagdo entre classes. (O termo “classe” também ¢ capioso, No entanto, nesse caso, posso dar 20 termo um significado restrito e muito simples. A circulagao de capital impose a compra e venda da forga de trabalho como mercadoria, A separagao entre ‘compradores e vendedores suscita uma relagdo de classe entre eles. Aqueles {que compram direitos relativos & forga de trabalho para obtengio de lucro (0s capitalistas) e aqueles que vendem direitos relativos &forga de trabalho para viver (os trabalhadores) existem em lados opostos concemente a essa divisio entre comprador e vendedor, A divisio dos papéis de classe que isso acarreta nio esgota todas as relagdes de classe possiveis ou importantes sob © capitalismo, A compra e venda da forga de trabalho também nfo estio cexclusivamente limitadas a0 dominin da circulagao de capital. No entanto, sem a relacio entre capital e trabalho, expressa por meio da compra e venda da forga de trabalho, ndo poderia haver nem exploragdo, nem Jucro e nem. ciroulagdo de capital. Como todos esses efementos sio fundamentais para a pprodugdo de mercadoria e reprodugao Social, a relagdo de classe entre capital ¢ trabalho é, indiscutivelmente, a relagao social mais importante dentro da complexa tecedura da sociedade burguesa. 132 Dawe Harvey 5. Esea relagto de classe signi oposigio, antagonismo € luta. Duas uestdes relacionadas estio em jogo. Quanto os capitalistas precisam Pagar para obter os direitos relativos a forga de trabalho, e 0 que, exatamente, esses direitos abrangem? As lutas sobre o indice salaral ¢ sobre as condicdes de trabalho (a extensio do dia itil, a intensidade do trabalho, © controle sobre o proceso laboral, a perpetuagio das habilidades etc.) so, em conseqiiéncia, endémicas com respeito a cireulagio do capital, E claro que ha diversas outras fontes de tensio, cconflitoe luta, nem todas podendo ser reduzidas, deta ou indiretamente, 4 uma expressio do antagonismo entre capital e trabalho. No entanto, a lta de classes entre capital e trabalho ¢ tio fundamental, que, de fato, influencia todos os outros aspectos da vida burguesa, 6. Necessariamente, 0 modo capitalista de produgdo ¢ teenologicamente dindmico. O impulso a revolusdo permanente do padro da produtividade social do trabalho se encontra, inicialmente, na forga dupla da competigao intercapitalista e da luta de classes. A mudanca tecnologica e organizacional 44 a0s capitalistas individuais vantagens sobre seus rivais e ajuda a obter lucro no mercado, Essa mudanga representa uma arma (nem sempre usada ‘com sucesso absoluto) para o controle da intensidade de trabalho e para a diminuigdo do poder dos trabalhadores na produgio, por meio da substituigdo das habilidades sob monopélio. Também permite que os capitalistas exergam influencia sobre a oferta de mio-de-obra (conseqiientemente, sobre o indice salarial) mediante a criagio do desemprego tecnologicamente induzido. A mudanga em uma esfera requer mudanga andloga em outra esfera, repercutindo de modo macigo por todo © tecido da sociedade burguese (especialmente na esfera militar). Desse ‘modo, 0 dinamismo tecnoldgico parece se perpetuar por si mesmo, N3o surpreende que a ideologia do progresso e sua inevitabilidade se enraizassem profundamente na vida e cultura burguesa. 7. Normalmente, a mudanga tecnol6gica e organizacional requer investimento de capital e forga de trabalho. Essa verdade simples esconde considerdveis implicagdes. Certos meios devem ser encontrados para produzir e reproduzir excedentes de capital trabalho, para alimentar 0 dinamismo tecnolégico tio necessirio para a sobrevivéncia do capitalismo, 8. A circulagdo do capital ¢ instivel. Incompora contradigdes poderosas € destrutivas, que conferem sua inclinagdo erénica para a crise. Sob o capitalismo, a teoria da formagio da crise & complexa € controverss nos detathes. No entanto, 0 exame dos sete pontos precedentes revela uma CCaPtruLoV + A ceoroutice 90 CAPTALISHO 133 contradigdo central. O sistema tem de se expandir mediante a utilizagio do trabalho vivo na produgio, enquanto a via principal da mudanga tecnolégica cenvolve substituiro trabalho vivo - oagente real da expansio— da produgio. crescimento € o progresso tecnolégico, ambos aspectos necessérios da circulagdo do capital, sio antagGnicos entre si. Periodicamente, antagonismo subjacenteirrompe como crise de acumulacao plenamente amadurecida; ou seja,rupturas totais do processo de circulagdo do capital 9. Habitualmente, a crise se manifesta como condigio em que os excedentes tanto de capital como de trabalho, que o capitalism precisa para sobreviver, nao podem mais ser absorvidos. Denomino isso de estado de superacumulacdo. O capital excedente e a forga de trabalho excedente existem lado a lado, sem aparentemente nenhum modo de uni-los na realizagdo das tarefas socialmente iteis. A imracionalidade que se oculta no Amago do modo supostamente racional de produgdo vem a tona para todos verem. Esse ¢ 0 tipo de irracionalidade, envolvendo grande capacidade produtiva ociosa e grande desemprego, em que a maioria das economias ocidentais mergulhou nos tltimos anos. 10, Os excedentes que ndo podem ser absorvidos sio desvalorizados;algumas vvezes, slo até destruido fisicamente, O capital pode ser desvalorizado como moeda (por meio da inflagdo ou da inadimpléncia sobre a divida), como mercadoria (estoques ndo vendidos, vendas abaixo do prego de custo, perda fisica) ou como capacidade produtiva (instalagdo fisica ociosa ou subutilizada). A renda real dos trabalkadores, seu padrio de vida, seguridade € até oportunidades de vida (expectativa de vida, mortalidade infantil et.) siio muito aviltados, especiaimente para aqueles jogados na categoria dos desempregados. A infra-estrutura fisica e social, que serve como suporte decisivo para a circxiagdo do capital e a reprodugdo da forga de trabalho, também talvezseja negligenciada. As crises de desvalorizasdo geram intensas ondas de chogue em todos os aspectos da sociedade capitalista. Freqiientemente, criam tensdes sociais e politicas agudas, Assim, com @ agitasio provocada, novas formas politicas ¢ ideologias podem emergir. Sob o capitalismo, considero inevitiveis as crises, independentemente das medidas adotadas para mitigé-las. Entre crescimento e progresso tecnoligico, a tensdo é grande demais para set contida dentro dos limites da circulagéo do capital, No entanto, para a engenhosidade humana e para a agdo politica, é possivel a alteragdo do ritmo, da extensdo espacial e da forma de manifestacdo da crise. A seguir, analisaremos algumas dessas possibilidades. Também € possivel para a 134 Dano Harver engenhosidade humana e para a ago politica a transformagio das crises em ‘momentos catalisadores, embora traumaticos, do progresso humano, nfo deixando as crises se dissolverem na barbérie, testemunho da fragilidade ¢ futilidade das aspiragdes humanas iluministas. Porém, aproveitar o momento de crise como oportunidade para uma criativa mudanga revoluciondria exige entendimento profundo de como as crises se formam e se desenvolvem. O excedente de capital e de forga de trabalho: o agente principal do desenvolvimento capitalista ‘A geografia historica do capitalismo pode ser mais bem considerada do ponto de vista do triplo imperativo da producio, mobilizagao ¢ absorgao do excedente de capital e da forga de trabalho. Sem a criagao prévia e a mobilizagio de tal excedente, a circulagao do capital nfo pode nem mesmo comegar, nem a expansio pode ser sustentada, Por outro lado, a produgao ininterrupta de excedentes de capital sob a forma de lucros, junto com revolugdes tecnolégicas que desempregam as pessoas, estabelecem continuamente o problema de como absorver tais excedentes sem desvalorizagio. De modo incessante, a probabilidade de crise fermenta dentro dessa tenso entre a nevessidade de produzir excedentes de capital € de forga de trabalho e a necessidade de absorvé-los. A acunmulagio original, de acordo com Marx, apoiava-se na expropriacdo violenta dos meios de produsdo, que punha excedentes de capital na mao de poucos, enguanto a maioria era forgada a se tomar trabalhador assalariado para viver. A migragdo da forga de trabalho excedente do campo para a cidade, a concentrago urbana da riqueza pelos negociantes (pilhando o mundo por meio da troca injusta) ¢ usurérios (solapando a propriedade fundiariae a convertendo em riqueza monetaria), além da extragdo do produto excedente do campo para 0 beneficio da cidade, facilitaram a concentragdo social e geogréfica dos excedentes. O ponto importante, no entanto, éreconhecer que os excedentes de capital e orga de trabalho podem ser gerados fora da circulaca0 do capital, e mobilizados mediante diversos processos de acumulacio primitiva ¢ concentrasio geografica Osexcedentes necessérios também podem ser produzidos dentro do proceso 4e cireulagao do capital. O luero & capaz de ser convertido em capital. De fato, uma condigdo necessria para a realizacio do Iucro no presente & a conversio de uma parte do lucro pasado em novo investimento de capital. Apenas desse modo pode se sustentar a expansio necesséria da qual depende a sobrevivencia do capitalismo (Harvey, 1982: cap. 3). A produsiio de excedentes de forga de trabalho representa ‘um problema maior. O desemprego pode ser criado pela mudanga tecnolégica, mas CCaPtTuLoV * A ceonoumca 00 CAPTALISMO 135 {a manutengio de um conjunto constante de trabalhadores excedentes por tal ‘mecanismo significa que a crise, desencadeada pela tensio entre mudanca tecnolégica cecrescimento, tert freqiientee profunda. A acumulagao primitiva, a mobilizago das reservas “latentes” (mulheres e crianyas,trabalhadores de setores nio-capitalistas) € 0 crescimento popuiacional proporcionam fontes altemativas de forga de trabalho cexcedente, Em uma sociedade inteiramente capitalist, @ taxa positiva de erescimento populacional é, aparentemente, a base mais segura a longo prazo para a acumulagao relativamente livre de problemas, embora, a curto prazo, também pode ser suficiente, por exemplo, 0 movimento massivo de mulheres rumo a forga de trabalho (HARVEY, 1982: cap. 6), No entanto, nesse caso, nos deparamos com um problema, pois a reprodusao da forga de trabalho nao esta sob o controle direto do capitalista. O capitalsta talvez pague um salério social suficiente para reproduzire expandir a forga de trabalho, inclusive para aprimorar suas qualidades. Talvez crie todos 0s tipos de mcios sociais para testar ¢ influenciar os trabalhadores a ter ov no filhos. Porém, a reagio dos trabalhadores nao € garantida. A forga de trabalho no é, portanto, uma mercadoria, ‘como outra qualquer. Nao se pode prever como a dinfmica da acumulacdo sé enreda ‘com o crescimento populacional, toda relacao entre circulacio do capital ereprodugio da forga de trabalho continua sendo um problema espinhoso, talvez insolivel (Os excedentes de capital e trabalho, nao obstante produzidos, precisam ser absorvidos. Sob condigées normais, ha @expectativa de que a tendéncia capitalista 4 acumulagio cuide do assunto, embora com grandes ritmos ciclicos e, por vezes, descontinuidades desconfortéveis. Ha duas circunstincias genéricas em que isso no ocorre, e ambas merecem discussio. Em primeiro lugar, desproporcionalidades grandes na razo entre excedentes de capital e forca de trabalho podem deixar um ou outro desvalorizados. Em segundo lugar, durante as crises, os excedentes produzidos tanto de capital quaato de forga de trabalho nao podem ser absorvidos, € ambos sao desvalorizados. Os processos pelos quais se produzem os excedentes de capital e forga de trabalho no garantem que esses excedentes possam ser reunidos no tempo € cespago na proporgio adequada para serem absorvidos em um determinado proceso de circulagio de capital. Até certo ponto, as tecnologias embutidas na circulagio do capital podem se ajustar para acomodar tais diferengas, embora, muitas vezes, Acusta de uma reestruturacio radical. A livre mobilidade geogrifica dos excedentes desigualmente distribuidos também pode ajudar. Todavia, certas situagées surgem € inclusive persistem, nas quais excedentes de determinado tipo nfo podem ser absorvidos, pois excedentes de outro tipo nio esto presentes na quantidade qualidade necessérias. Ou o capital ow a forga de trabalho so desvalorizados, mas ‘no ambos. Até 0 ponto que a relago do poder dominante favorega 0 capital, 136 Dave Harvey ;provavelmente a condigao mais persistente sera de escassez de capital ede excedente de forca de trabalho, com toda a devastacao social resultante associada a desvalorizagio da forca de trabalho. Contudo, a condigo que mais me interessa ¢ aquela em que os excedentes, inaproveitados de capital e forga de trabalho coexistem. Essa € a condigio de crise em que 0 capitalismo mergulha periédica ¢ inevitavelmente, pois sua dindmica tecnolégica solapa sua capacidade de sustentar 0 crescimento. Entio, tanto 0 capital quanto a forca de trabalho sio desvalorizados. Seré que nao ha alguma maneira de evitar tal desastre social, econémico até talvez politico? Formular essa questdo é, de fato, perguntar: seré que no hi alguma maneira de absorver os excedentes de modo produtivo por meio da abertura de novos canais e caminhos para a circulacdo do capital? A seguir, mostrarei que os deslocamentos espacial e temporal oferecem amplas oportunidades para a absorcdo dos excedentes, provocando, no entanto, cconseqiiéncias dramaticas para a dinémica da acumulacao. Depois, mostrarei que nenhum dos dois estratagemas oferece solucdo petmanente para as contradigBes internas do capitalismo, mas se valer de um ou outro (ou de ambos) altera fundamentalmente a maneira pela qual se manifesta a crise. O deslocamento temporal por intermédio de investimentos a longo prazo A cireulagdo do capital tem de ser completada em uma determinada cextensio de tempo, Denomino isso “tempo de rotacdo socialmente necessério”; isto 6,0 tempo médio necessério para girar certa quantidade de capital em relagdo & taxa édia de lucro sob condigdes normais de producao e circulagio. Os capitalistas individuais que giram seu capital mais répido do que a média social obtém lucros excedentes. Aqueles que ndo conseguem atingir a média ficam sujeitos &

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