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366 0 pRASUL “HisPANtco” (1580-1640) nia. E, para completar, a zona qui : ; 4 zona quilombola de Palmares experiment uma car situagio de extatertoriidade _oe ‘m suma, naquele momento, a integridade do atual terri - h territério bras sileiro ndo esta dada. Sua coneretizagio veri cra das décadas seguin- tes, isto 6, da segunda metade do séeulo XVI Capitulo 12 A CONSOLIDAGAO DA SOBERANIA PORTUGUESA NO BRASIL Eon 1640, quando Portugal retoma autonomia polities, eseé encerrando-se 0 “longo” sécul XVI. O perfado inicial de estruturagio da cconomia-mundo capitalista, inaugurado pela expansio maritima do final do Quatrocentos, esté se concluindo. Os Estados ibéricos, i- deres desse primeiro movimento expansivo estio sendo desalojados de seu posto por nagées emergentes (Inglaterra e, notadamente nes se momento, Holanda), que desentam uma nova hegemonia na Eu- ropa. A propria Restauragio portuguesa € parte desse processo de desmembramento do grande império dos Habsburgos, ¢ de migragio do poder para o nordeste europeu, que teve na Guerra dos ‘Ttinta Anos (1618-1645) seu principal evento. Depois de um continuo periodo de crescimento ininterrupto da ‘economia, o sistema mundial montado pelas metrépoles ibéricas co- mega aapresentar sinais de esgotamento e crise, Entra-se numa “fase BY, de estapnagio e depressio econémica, que atua desigualmente em cada parte do sistema, trazendo, contudo, uma tonica geral de re- tragio dos negécios.! Na Europa, como visto, a grande inflagio obset- {Tal processo [i foi abordado nos capftulos inicias deste ivro, porém vale rememo- rielo com a apreciagio sintética de Kristof Glamann acerea do erescimento eco- rnomico europeu: “Na primeira metade do seule XVILo ritmo diminuiv. Os pre- gos comeganim 4 cedet., a tendéncia evolutiva se inverteu primeiro ne Europa 30 368 4 CONSOLIDAGAO DA SOBERANIA PORTUGUESA NO BRAStL vada na fase anterior foi responsivel por ampla migrago da riqueza centre setores, regides, pafses e classes sociais. A faléncia de varias ca: sas baneérias, ¢ mesmo das finangas de alguns Estados, bem atesta a situagio reinante. Trata-se da primeira crise do protocapitalismo ji em seu centro, ¢ que teri desdobramentos tentaculares em todos os quadrantes do globo onde se encontrava instalada a economia-mun= do gerada por este modo de produgéo. Emerge nessa época um novo padrio de relacionamento com as petiferias ultramarinas, de menor énfase extrativa, mais assentado em estruturas produtivas que envolvem maiores investimentos de capi- tal e maior fixagao de valor. A par desse incremento da produgo co- lonial, as colfinias — agora mais povoadas de enropens — passam a ser mais avaliadas também como mercado para os produtos metropo= litanos, © que estimulou polfticas protecionistas que buscam torni-lo mais cativo do comércio da metrépole. Trata-se do “novo colonia lismo”, de que fala Bric Hobsbawm, o qual responde 3 reestruturagio das economias européias, agora organizadas em moldes mais expli tamente “nacionais” ? . No que importa mais direcamente ao tema em anilise, cabe assi- nalar que a conjuntura de erise apontada manifesta-se com pleno vigor na desorganizagio dos fluxos do comércio atlantico, A crise mostra, claramente, o esgotamento do monopiélio ibérico, implicando o acir- ramento da concorréncia no trifico com o além-mar. As colénias ame- ricanas, como visto, responderam de forma diferenciada a0 movimento ‘meridional. Na Iélia setentrional ¢ centr ela ocorreu: em relagSo cam a grande cise de 1619-22, Na Europa setentrional a mudanga teve ugar mais tarde, ilo ranifestande-se em alguns hgares até 1650”. Entim, « expanso fren © em “mets dos do século XVII deu lugar 0 um periodo de coniragio ou estagmagio que duo © resto do séeulo® (E! comersio europea (1500-1750), p. 336), No caso espanhol, & crise se expressa clarumente na desvalorizagfo da moeda em 1625, sendo a ints fo do velle um indicio forte de decadéncia (Pierro Vila, Crecimiento y desarrolly, p. 333 177). Como visto anteriormente, a manutengio de uma ética geopolitica imperial, em cermos eusropens, é apontda como ima das causas funclamenrais da derroeaa espanhola, Por outrs lado, a precoce definigfo de uma organizagto ecaatmies em roldes nacionais aparece como um liudlcap das expansées holancesa c inglesa no século XVIL A acentungto de tal carsccertcien 6 mesma uum dos motivos ds supte: rrucia inglesa no século seguinte, valendo lembrar que a Lei da Navepne%o desse pats, claremence protecionista, data de 1651 (ver Immanuel Wallerstein. EY mader no sistema muscle, vol. — Bl mereantlisma y la eontolicaeién de la econom\ae mundo eurapea, 1600-1750). ACONSOLIDACAO DA SOBERANIA PORTUGUESA NO BRASIL, 297% recessivo, virias delas crescendo num contrafluxo com a situago me- tropolitana.’ Foi o caso da economia brasileira que expande-se no pe- rfodo, apesar do fracionamento do tertitério, Como ja dito, durante @ unio ibérica, o império ultramerino portugués ocidentalizou-se, centrando-se mais no mundo atlantico. Nesse sentido, o Brasil adqui- te maior relevo na geopolitica colonial Lusitana, ; E foi exatamente o perigo de perda da soberania sobre a colénia brasileira um dos motivos alegados para a secessio portuguesa. Na verdade, gradativamente os governos filipinos vio cerecando os pri- vilégios pormgueses pactuados nas cortes de ‘Tomar, quando da acla- magio do monarca espanhol em 1581, os quais garantiam plena auto- nomia administrativa wo reino lusitano, notadamente em assuntos coloniais.* Todavia, cerca contralizagio madnlena vai impondo-se ws negécios de Portugal, proceso que se acentou no governo do conde de Olivares, de claro perfil absolutista (logo centralizador), De mo- narquia associada, Portugal foi tornando-se uma provincia dentro do amplo império espanhol.* - T.alégica imperial da geopolitica castelhana movia-se centrada em «GARI Haste promesido “conserva soberania plea de nagto na forma de ums Sa ee onatqineapantola (AH de Olive Masaues Misia de Pore ee slOhiveia Brung, Paral ne deca da Restourate, p- 263 Segue este 370 A CONSOLIDAGAO DA SOBERANIA PORTUGUESA NO BRASIL interesses préprios, divididos entre © sonho de um império co nental europeu ¢ a defesa das fontes metélicas americanas. Ein dessa orientacao basica, 0 mundo ultramarino portugués tomavy secundatio, situagio agravada pelo fato de o Iucro de sua explora ficar, em grande parte, restrito na érbita da economia lusitana. Pode se mesmo aventar que as colénias portuguesas transformaram-se eM) zonas de manobra nas estratégias da diplomacia filipina, Cabe relems brar que o comércio oriental comega a sair do exclusivo dominio lush tano jd na tiltima década do século XVI, e, em meados do Seiscentoy, os portugueses estavam desalojados de boa parte de suas pragas i oceano Indico,’ sem que agdes ou recursos mais expressivos tenham) sido mobilizados pela corte de Madri para reverter tal prncesso. O progressive dominio naval holandés sobre 0 trifico atlintico, a0 longo do século XVII, foi ainda mais sentido pelo comércio e pehiy finangas de Portugal, pois desorganizava 0 fluxo com as 4reas colo» niais para as quais se voltavam as esperancas de recuperaco eco: némica do reino, ancorada na expansio da produgio agucareira,’ As dispucas maritimas afctavam (e encareciam) notadamente o trifico ne= greiro, este em si mesmo um dos principais negécios portugueses, além de constituir insumo fundamental para a fabricago do acticar. Enfim, a inseguranga no trafego atldntico envolvia vulroso dano para a cco nomia portuguesa. Isto para ndo mencionar a perda de dominio sobre tettitérios coloniais, Mesmo sem ser a tinica ou principal motivago, 0 quadro deserito Vale leusbiar que os holandeses ji trafegavam pela rota do Cabo em 1597, ¢ 08 ingleses navegam no Indico no infeio do século XVIL. Oliveira Marques identifica orcugueses tiveram de a cadas, durante 0 qual os pi cemat po apo i i ico — para consolidar sua soberan militar ¢ diplomatieo — pa sua i LB cesso que envolveu grandes esforgos e signifieativos jeesrsasy a de tino politico considexivel, visto que « emaneipacio de era parte de uma conturbada conjuncura content 8 ep eau i sar de seus problemas, ‘A economia brasileira, ape: meige nese c damental para a reto uaden como esteio financeiro fundan a nda au senomia metropolitans, Eram as partidas de scieas ies wane ’ i io de cet i ‘os, assim como era o domini aval dos empréstimos contratdos, m certs freas ¢ produtos que dava a Portugal munigio para negociar ac com as poténcias européias, 08 du 's invariavelmente envolviam clé- io." ira Marques: (jeulas de licenga de livre-comércio."® Como observa Oliveira Mara ere part o ideal emarcipacionista, E também a gritante ear eisai ne ee -s que o pactum fora rompide pelos teis espanheis” pois ee fan eg pn Fo eget n on ine. chen stelhann.... contrariande as promes~ ria deer dca” pc PEO a, wean gm ne aa on ales acaso. O primeiro, foi assins ce pin ema eee eee cbrado 0 acordo com a Holanda, ¢ em 1667 com a O14 vs vA ‘@ A CONSGLIDACAO DA SOBERANIA PORTUGUESA NO BRASIL, “Dos finais do sé 1 jeans onl xv Hy 2 1822, o Brasil constituiu a esséncia [pbitle Poreagues. Com algum exager,atése poderia dizer que cons Cra aessenci do prdprio Portugal. Feo Basil que, em grande pat Fe jetou 8 separaeio da Espanha, em 1640, Foi o Brasil que d egal os mein de se conservar independente depois”.!! 7 we odo Brasil, como posto, encontrava-se fragmentado cand et Restauraio porcuguess, E a principal frura observa 2 eben bre = ols na, €poca, advinha de conflitos otigi= Cados as disputes pels hegemonit ra Europa, que repereatiain ny ongunizagio pina do comercio baste implicou noes le on Nf eomércio brasileico implicou a introdu Sate reece ee 3 pea plas de ‘exclusivo”.'* Antes do dominio espanhol, como i Vigo a presenga osttagsia ent numerosa e comum em todo ol tana prs re rmando uma “longa tradigio em Portugal an- sterido 0 estarem ests teas pata sie da erent a orbita ies Habsburgs scostumad @almentnds)com 0 conde mel anda, principal economia ascendente em meados do século Fa promt Cavan ae inte em Portugal, é ‘ he Milled a ae 2 *Companhin do Brasil”, criada em 1649, sera qu el "oi esends do Dale wiehusoupussrenssceeeees raat conse:var 0 reino, restaurar Pernes ” wap 312), Ent outta pacer amr a =e Perembuco” (op. cit, p. 312). Em outa pass / ‘cabs: “Edo impétio colonial sfram os recursos com os quis Por pial cane © preservou a indepeadéncia” (p, 388). " — tusion dono pert doin nnn eae “Fp mss ades pare se comerciar com o Brasil” Irasit filig pera ar eeis ee brasileira (p. 105). Ce ea sev XV. 5. Spin » i, spon cxtanga so sn ome seat rel re ome einen ano cece tugueses sento na ciltim iiooto du Can patage nfm hin Sos ai nao da a auto zo Br sobre po ingleses em 1585 alent ede 4 Coton portuguesa nio cer adot xeon lotado na eol6nia 0 sistema hispanico de “porto tini- A CONSOLIDAGAO DA SOBFRANIA PORTUGUESA NO BRASIL, 979 vercantil da €poca), havia sentido 0 fecha- do agiicar brasileiro imposto pelo gover passufa relevante presenga, sedi- mmentada no periodo de erégua entre 1609 ¢ 1628,'* Osataques 20 Brasil ca tomada de Pernambuco inserevem-se no duplo propésito butave: de expansio colonial e de combate a Espanha. Nesse contexto, ‘emancipagio de Portugal levava a uma simag3o geopolitica conerachi- toria: no cendrio enropeu, os interesses dos dois paises aproximavam- se na oposicio a0 inimigo comum espanhol; no ultramar, contudo, dis- puravam diretemente a hegemonia em vétias zonas coloniais ‘Apesar de todo o esforgo portugues por estabelecer um acordo de paz rapido ¢ amplo,'* a saida do paradoxo deu-se pela assinatura de vim armisticio vilido apenas para 0 hemisfério norte, pelo qual Porcu: gale Holanda tornavam-se aliados eireunstanciais em solo europe" “Tal postura entregava o Brasil a sua pr6pria sorte, ¢ Mauricio de Nassau aproveitou a conjuntura ambfgua para expandit ao méximo a area de domfnio da Nova Holanda, empreendendo a campanta de conquista {lo Maranhdo em 1641. Nesse mesmo ano, realiza a conquista de An- senhorando-se das principais zonas de abastecimento de es 1." Tal ago agugou sobremaneira o temor XVIT (dona da maior frota mi mento do rendoso comércio no espanhol, no qual como visto gol, as cravos da Africa ocidental fo considera que, em 1621, entre metade e dois tergos do ‘eapitais holendeses (Olinda resteurada, vente guesras Uo agti- 1 Byakdo Cabral de Mell trifico aguearelzo era movimentado por p_ 35). E coneluit “As guesras holandesas foram inegavelm ear” (p. 12). 6 Como observa Oliveira Marques, coma Holanda tio depressa quant A politica externa portuguesa visava fazer a paz to possivel € conseguir apoio miliar e diplomati= fo dos inimigos da Espanha” (op cit, p. 178). Herman Wasjen porsua bem diffe Sttunglo de monarea portugues em fice de favasto holancesa do Brasil: “Portage! para aman ytengio de suaindependénci,precsavacontarcom oapoioda Hclandx” {0 domivia colonial folandés no Brasil, p. 230). vs Sequndy Charles Boxer, nas discussdes do seordo de MOnstes, 0 monaroa Portus ines chega propor aaceitasio da presenga holandesa no Brasil nas posgGes que amoncontrwam em) 1640, proposta recusada pela Holanda (Os holendaes wo Beast 269), Sobre a ciegua de der anos, petuad em 16th, ver ‘idem, ps 149 & Warjen, Op. eit, p. 191, Sabre « proposta de D. Jodo IV, ver também E, C. Mello Op. cit, p. 93. Os holandeses haviam tomado a Mina ew 16: dominando as principais fontes escravistas do Atlantica africano ( tques Opel, p. 268). 56 de Luanda, na época, emibacavaese para 0 Brasil cera de $5,000 exeravos por ano (C. Boxer. Salvador de Sé ea luta pelo Brasil « Antola, ) escravos er a eee sie Fantenite am Araéiica de Suh vale 137 ¢ Sto ‘Tomé também em 1641, Oliveira Mar- 374 A. CONSOLIDACAO DA SOBERANIA PORTUGUESA No BRASIL. dos colones brasileiros, sendo um estopim de reavivamento da rei local, consciente dos siscos para sua sobrevivencia da perce de: fontes de mio-de-obra.* a \alerelembrat que o process de instal do holandesex cm fe 1s sukamercassemveveu um perodo de ums aros, do aa Bahia em 1624 2 rendio do Recife em 1654, senéo mediado pel stauracio lusitana. A etapa hispnica, como visto, encerrou-se «maxima expansio teritoal da Nova Holanda. A nova fase de ret ‘mada da soberania portuguesa do Brasil vai ses marcada pelo movie mento de expulsio do invasor, caimpanha levada a cabo fundame tamente pelas fo:cas locais da colonia.” ‘ _ Tal movimento, aposar de algumas oscilagties, apresencou tendén- cia geral de progressive desalojamento dos batavos, que se in a retomada do Maranhto jé em 1642, e adquive mpeto em Pemname buco a partir de 1645. ae 7 As ada els og lusrbnslis, desde oni da oo AGO, 1 ler uerra lenta”, com objeti “ma © impasse militar”, com “controle do intkrior... mide al deses& posse das pracas fortes". Tal estratégi atingiaoinimigo (par ticularmente a Companhia das Indias Ocidentais, que it a invasio) por dois fancos: de um lado, desorganizava a produgio nas zonas invadidas; por outro, elevava o custo de defesa, onan call preendimento holandes exiremamente defiitirio. Do ponto de vista lembrar o ataque ae Chile em 1642, ¢1 ic Aires (C. Boxer. Os holandleses... p. 206). ° ee ‘exis hinds dy None oo Nous um to ste ‘Tanto que 0 rei de Portugal se assustou ao receber, em meio aa proc és & Bahia (C. Boxer. Os dadandeses.... p. 248-9 ¢ 256-7). ea Evaldo C.de Mello. Op. cit., p. 24. C, Boxer salienta o uso de uma escretégia dk ties amet ete toc ls A CONSOLIDAGRO DA SOBERANIA PORTUGUESA NO BRASIL 375 econdmico, a construczo da Nova Holanda mostrava-se um desastre financeiro.”' Fato que constituiu a base de sua derrocada, 'A pactir de 1649, 0 desfecho dos combaces pendiia claramence a favor das Forgas luso-brasileiras, com os holandeses adocando postura ‘cada vez mais defensiva, acabando por ficarcm sitiados apenas na area de Recife, onde — como visto— permaneceram até 1654.” A capitu- lagio do iltimo baluarte batavo nas terras do Brasil ndo significou, contudo, o completo término da disputa, tanto que voltam a ocorrer ataques 2 Bahia em 1656 ¢ 1658. Ao contritio, no contexto europe, as relagdes entre Portugal ¢ Holanda haviam-se detcriorado a ponto de uma armada holandesa fazer 0 bloqueio do estuério do Tejo em 1657 Entim, o cuullico s6 se cncerrou plenamente em 1662, com o pagamento de polpuda indenizagdo & Holanda, a qual nto impedin a faléncia da Companhia das Indias Ocidencais doze anos depois.” ‘Com a retomada do litoral nordestino foi recomposts a soberania portuguesa sobre a fachada atlintica do atual territério brasileiro, fin- Sando seu fracionamento de maior envergadura. Com a capitulagio holandesa restaurou-se a unidade territorial da colénia sul-americana, coldnia de uma metropole também recém-restavrada como um Esta- do independent. A partir dessa época, 0 Brasil colonial nao conhece- 4 mais amieagas externas de monta & soberania lusitana, ¢ observa-se ho proceso descrito a sedimentagio mesma de lagos de unidade 2) Hi, Warjen aponra ¢ alta dependéneia do Brasil holandés para com a metrépole ‘como uma de suas fragilidades (op. cit, p-4H2.¢ 48), c argumenta que # Comps- fhhua nao vslombrare quc “s conquises da toera agueareira havin ee: see to ponds, tio eustesa e causadots de canta pera de homens e material” (p. 436). Mario Neme considera que a WIC jése encontrs insolvemte por volta de L645 (Fératlas pol as do Brasil landés, p. 57). 2 Pyaldo ©. de Mella estabelece o petiodo 1645-1654 como o da “germ: ca restau tagic®, osalienta a perda do poder naval da Holanda a0 longo du déeads de qua- ents op. cit, p. 13 44). O ano de 1649 matea, todavia, o movimento restaurador, pola gande viira lasitana na segunds baralha de Guararapes (C. Boxer. Os lan distin 9. 32D. 2 Yer, Boxer, Os Rolandestinn p. 954. A progressive apreximagto Tusitana da drbica _geopolitica da Inglaterra (com os tratados de 1642, 1654 ¢ 1661), sem divida acir Tou 2 zelagfo com 2 Holanda, uma vex que nesta época as duas nayoes menciona- das disputavam abertamente a hegemonia na Europa, chegando a guerra em 1652 €¢ 1667 (E, Wallerstein, Op. cit, p. 255 ¢ 107). +H, Warjen. Op. et, p. 283. Segundo C. Boxer, a indenizagio page foi de 4 milhies de enuaades, Para este autor, « perds de Pernambuen marca inicio do declinio da Holanda (Os halendest.n p- 358 € 346), 376 A. CONSOLIDAGAO DA SOBERANIA PORTUG $A. NO BRAS territorial. Nesse sentido, a vitéria sobre os invasores, notadamente: em fungzo das circunstancias locais de sua realizagao," atuou ni solidificagao de dominio portugués sobre as terras brasileiras. O tetri- rio colonial, apesar da dilapidagao de parte substancial do valor acl mulado, saiu mais consolidado desse processo.* Foi mencionada, no final do capitulo anterior, outra fratura na 90° berania lusitana, associada & invasfo bolandesa, constituida pela extraterritorialidade do quilombo de Palmares, a qual atravessou quase todo 0 século XVII. Cabe de inicio assinalar que a fuga de escravos afficanos seu ajuntamento em bandos ndmades ou em povoagées em freas semi-isoladas ou de dificil acesso, no constitui fenémeno dccorrente Ua instalagav da Nova Holauds, Av couusio, como jé men- cionado, trata-se de um componente da colonizagao americana, que ocorren por toda parte e durante todo 0 periodo em que vigorou a escravidio, apresentando-se portanto como desdobramento da vigén- cia de tal relagio de trabalho, que — quand sedenvarizou as popu- lagdes fugidas — resultou num tipo especifico de ocupagia colonial do solo” - No caso brasileiro, as refer€ncias 4 fuga de negros e a formacio de bandos datam j4 de meados do século XVI, entreranto a mengao a agrapamentos mais signifieativas ¢ estaveis s6 aparecem no final do século, Sao conhecidas alusdes a existéncia de mocambes nas imedia- ges do Rio de Janciro, de Iihéus ¢ de Salvador nas primeitas déca- das do Sciscentos. As fugas para o sertio cambém ocorriam smii- % Come enfstiza Oliveica Marquet, na expuleto doe holandsees do Nenteste “o ee forgo principal coube, indubitavelmente, aos eolonos loeis” (op. cit, p. 236). E. C. Mello adicions que o custo da tessauragio foi areado pela sociedade colonial, assim come @ de reconstrucso, levado-aeabo mim ‘perfodo de retragte dx eeane- mia européia” (op. cit, . 13) EvaldoC. de Mellocomenta que « eapscidade ue auto-abestecimento intesno itu {rou em muito a esmégia holandesa de bloqueio naval da elinin (op. cit, 9. 36) aca uma visdo de conjunco da formagho de comunidades livtes de eseravos atica- 105 em vérias partes da América, ver Richasd Price (comp.). Socndades imarronas ‘Stuart Schwartz assinala a existéncia dos seguintes mocambos aa Bahia: Jaguaripe (1591), Rio Vermetho (1629), Itapicuru (1636), Rio Real (1640) e Cairu (1663). E conclui: “O discrita sulista de Gaira e Camamu foi uma regio que teve ut incidéncia particularmente alta de fugitives e de formagto de quilombos” (El mocambo: resistencia esclava en la Bahia colonial, p. 168 e 169). Clovis Mou ‘comenta, além dos quilombos baianos, os existentes na serra dos Orgios, no Rio de Janeiro, por volea de 1669 (Redelides de serzala, p. 106 90), Finalmente, Roger Bastide lista 0 ntimero de lugares ainda hoje denominados de “quilombo” A.CONSOLIDAGO DA SOBERANIA PORTUGUESA NO BRASIL 377 de, sendo a presenga negra nessa regifio em geral pouco nian, Contudo, existem referencias sobre a cxisténcia deena ri tanas no vale do Sio Francisco € mesmo no sul do Maranhio jé no perfodo analisado.” Nao raro sflo também identif dos aca i zidos imiscufdos nas tropes de indios sublevados. Enfim, 0 Brasil 30 foge a regra geral de ter nas comunidades cinarronas ou qunlombelas a contraface da fazenda escravista, relagio que se alimenta de for ma miticua: quanto maior o nlimero de escravos, maior © niimero de gas. . " ‘Gane dito anteriormente, estes nvicleos de povoamento “rebel- des” (na 6tica das autoridades coloniais) vo buscar zonas onde a eo jtufia atuc como elemento de defesa, isto 6 lugares de dificil acessi- bilidade ‘¢ de facil camuflagem, fora das rotas habituais de cransito dos fluxos coloniais, porém, ndo to distantes que impossibilitem o estabelecimento de relagdes com 0s colonos. Pode-se dizer que os quilombos tenderam a se Jocalizar em Areas marginais da colonizagao européia, nos interticios dos espacos ocupados pelos colonizadores ™prancos", nas zonas de froaeira do povoamento por eles consolidar do. Hoje € corrente entre os historiadores a critica ao erro de considers- Jos como comunidades isoladas, pois se sabe que entabulavam trocas, notadamente de géneros de abastecimento.? nt is lic {fustlo no passado (Las otros: wy sibtty eitando os dados de um espccialista afficano, que © Brasil rece- 378 4 CONSOLIDAGKO DA SOBERANIA PORTUGUESA NO BRASIL. Em face destas preferéncias locacionais, nao é difitil enter Proliferagao de quilombos ¢ mocambos na area de fronteira entry. movimentos de expansao baiano ¢ pemambucano, constituida pel terras de Alagoas ¢ Sergipe. Como analisado om capitulos anterio) tal zona no inicio do XVI era recém-visitada pela pecusria da Bahil a0 mesmo tempo que alocava o limite meridional dos canaviais de Pernambuco. Apresentava portanto, especialmente nas areas sermany de sua hinterlandia imediata, as condigdes ideais de habitacdo pari op eseravos fugidos das duas regides de colonizacio aludidas. E a relies réncia a existéncia af de agrupamentos de afticanos € bem anterioe | chegada dos holandeses.* ‘Todavia, © papel da invasdo batava na intensificagio do ritmo ¢ volume das fugas também nito pode ser minimizado, Sua influéneia na desorganizagio da produgio agucarcira esti dirctamente relacio- nada com 0 ineremento populacional do reduto quilombole da serra da Barriga.** Ja os ataques d Bahia repercutem na densidade palmari- na, contudo foi a tomada de Pernambuco que possibilitow o grande adensamento no quilombo, tanto que vitrios autores datam o infecio de sua formagio no ano de 1630. A situagtio de guerra propiciou lon= g0 perfodo de relativa tranquiidade para sua consolidagao, alimen- iio © em volta das plantagées” (EI mocumbo... p. 170) FS. Gomes adiciona: “A base da producto agzicola de meioria des quilombos do Brasil era a mandioss ¢ o millo” (op. cit, p. 273). Especifieamente sobre o comér. cio palmarino, ver Decie Frew, Palmares. | guerra dos exraces,p. 66. Segundo R. K. Kent ja em 1597 hi reclamagtes de ajuntamentas de eseravos fugis dos ne regio, com as primeinas referencias 20 redato palmasino datancio de 1612 (Palmares: un Estado afticano en Brasil, p. 136-7), Pedro P. de Abreu Funati fala de uma expedigéo contra o quilombo no an geima eitada (A arqueologia de Palmares, p.3D. Nes palavas de J. A. Gongalves de Mello: "A guerra empreendida petos holande= Ses no perfodo 1630-1635 desorpanizou completamente a vida da caldinis, Mui tos negros aproveicatsm a oportunidade para fugir, Pek leitura dos documentos vé-se que parow quase complecamence o trabalho nos engenhios”, © que ocasionoy “o répido desenvolvimento de visivs uilombes". Gongalves de Meila actescenca: 1638 um dos quilombos do Palmares jé era terrivel” (Tempo dos flamengee p 177 © 178) Diz Edison Cemeizo em sua ola clissica sobre @ tema: “O ano de 1630 deve ter sido 0 do nascimento do quilombo dos Palmares”, o qual segundo 0 autor possuia ‘¢m 1645 ecrea de 11.000 habitamtes (O guilombo dos Palmares, , 35.74). D. Freizas concord, lembrands que em 1630 a populagio negra cia serra da Barriga era de cerea de 1.000 individuos (op. ci, p. 56 € 44). ‘ads centtos de popul [A CONSOLIDAGAO DA SOBERANTA PORTUGUESA NO BRASIL 379 it a de tando-o continuamente de novos habitantes evadides das éreas a conflito. . : ‘a cor sso redundou numa organizagéo social singular bem smu, is 40 econdmiva que permitia mest m um sistema de reprodugio e« ae vide exceddentes agricolas tanto para os pOstUgUescs quanta pat holandeses. Tal sistema exercitava-se num ample rari He ae i sados: Jeos populacionais, polarize dos por uma rede de nite consis, polarizades pels alone, 3 ital do “Estado” palmatino. ragdo urbana de Macaco, capital do atic ds une sustentagdo atingido no supria contudo a necessiade alguns progutos externas, com destaque para os afmamentos,€ sss er c olonos e, mais comumente, ‘obtidos no escambo com os & nents, ed pilhagem dos ‘engenhos, das vilas, das tezendas —_ ed as Do ponto de vista pormgues, ai aes — quando exes is ts ji ‘3 estrarsgia de guerti s invadidas — somavam-se ade aad i Towagto da Nova Holand, dai inexisténeia de uma oreatgto ae om é si co. combate contra Palmares até a plena restauragiio ie Pernambuco. AS expedigdes punisvas holandesas, em 1644 ¢ L645, revelan est, causado por essas incirsées nas reas de produgto sob dom fs: “Fo! nesse concexto das guerms husoflamen gas © Ae arin ge ei pra Pemunbuco. ave Peres coro Ce ah tt nce ne crac pi re nn jee tn on un es ra Renn i cele 1 Se ete aetna i we 60 idm da capital, com populagdc 6,000 habicances em 1643, Para ss ato nn en lon A 1 EI stu eine dy er fon mig ° ers wlagfes temente cortavam as priscipais viss de Spr Ss ee pean ratte tn ee oe aca ence Bap! Soa ” su outras expedigbes de monta, agor epee a Ta gobo qb fs seed pele Te 380 A CONSOLIDAGAD DA SOBERANIA PORTUGUESA NO BRASH. Porém, uma vez expulsos os holandeses e reorganizada a economia pernambucana, 0 perigo representado pelo quilombo de Palmares —0 inimigo “das portas a dentro” — tornou sua destruiga0 uma prioridade para a geopolitica da col6nia brasileira.®? O ano de 1670 marea 0 periodo da guerra palmarina, que se arras- tard por vinte © cinco anos, até a eliminagio total do quilombo em 1694. A sua destruigiio concorrem bandeirantes paulistas, homens da Gasa da ‘Torte, ¢ remanescentes das tropas de libertacio de Pernam- buco, compondo um exército que reproduz. em muito o utilizado no exterminio indigena na “Guerra dos Bérbaros”.*" A historia do ani- quilamento do grande quilombo é conhecida,"* cabendo apenas res- sultar certos aspectos geogrificos do processo. O primeiro deles diz respeito ao proprio crescimento demogrifico do quilombo ¢ as alteragdes trazidas pelo aumento populacional a sua estrutura interna, Como aponta Clovis Moura, 0 peso numérico dos quilombolas diminuiu muito sua flexibilidade espacial, impondo a sedentarizagio ¢ a agriculeura. Em termos estratégicos, passou-se de Henriques, Decio Freitas lists quinze expedigées, todas sem éxito, até 1670, ¢ também sponte 05 contcrateques palmarinas de 1667 até este hime ano (op. cit, p69, 71¢ Wel). Desics resulcando a unio das viles da regio e 0 propésito de ‘contrucar os paulistas pare “pzcificar” a drea (p. 84 ¢ 85). S, Schwartz lemibra que, 2 partir Geste momento, as agdes punitivas governamentais se somam as iniciati- vvas de particuleres (El moearabo..., p. 176). Conforme Silvia Hunold Lara, ciando um memorialista da campanha ondenada por D. Pedio de Almeida (Do singular ao plural, Palmares, eapittes-do-meto e o governs dos esecavos. p. 87). A antors tamhérs ets 9 grvernaclor de Pernambuco, Femdo do Costa Coutinho, que em 1671 diz que a capitania “nfo estava menos perigosin. com 0 atrevimento destes negios do que esteve com os hokandeses” (p. 83) Opréprio Domingos Jorge Velho, que comanda os dertadelios axaques ao quilombo, encontrava-se ances combaiendo 0 levante indigena no Rio Grande do Norte (C. Moura. Op. cit. p. 195). Tanto que, contracado em 1687 para tal tarefa, s6 assume © posto em 1693 (Silvia H. Lara. Op. cit, p. 86). Decio Freitas lembra que a crise da econounis pernambucana ra época anima o alistamento, ¢ conclui: “A perspec tiva de cagar negros nos Palmares era tanto mais alicianze quanto que nesse tempo 4 prostragéo da economia da capitania nfo coasentiaa imediata impormed de gran- des contingentes de escravos” (op. cits p. 156 @ 68). Entre 1672 ¢ 1694 tem-se um perfodo de “guerra continua” contra 0 redut0. pulmarino (R. K. Kent. Op. cit, p. 140). A expedicao de Ferao Carrilho em 1677 Jilgs haver destrufda o quilombo, porém isso 56 acoree com a conquisia de Macaco em 1694, apés cerco que dimou 22 dias (C. Moura. Op. cit, p. 183 e 195). Nese ataque sto empregados 3.000 homens, catre os quais tropas indigenas, contes 1.000 quilombolas (E. Caimeito, Op. cit, p. 145 e 147). Destes, duzentos sto mortot na ‘hatalha e cerca de quinhenmea eanturados. 8 AGRO DA SORERANIA PORTUGUESA NO FRASIL 381 ONSOL ma organizagio umgposigio ofensiva de grande mobilidade (com uma og semindmade), para uma postura defensiva consoante c ez, 2 eriagao A necessidade continua de defesa levou, por sua vez, 2 criac: me ‘oi esse seg de una casta militar especializada dentro do quilombo, Ef} esse SO resto que insurgin contra oseordo celebrado por Ganga Zuma com 2 ainstragio colonial em 1678, assumindo o pode em Petre’ ° transformando sua organizagzo politica federativa numa 8 Ye parte dos portugueses, um eonhecimento progressi¥0 do eee. no, fruto das sucessivas expedigSes, atuou como um clemet se Basle para vitGra final das forgas husitanas. A situacio onde "a natinc™A prtegia os palmatinos”, lor sendo graéarvarmeate supesiee De was e visitagéo cada ver.maisintensas da regifo, A tities emPreet® eampla destruicio das rogas € assentamentos palmarines e7> Set envada punitiva também mostrou sha eficdcia a longo ° sO terese pela apropriagio das fércels cerras do quilombe ajudarar & animar sua destruicio.*° E esta, na verdade, ancorou-se mult an ae gresiva construgto de wma estrada, a quel pesmitin o 26650 4 hala pesada que derrubou as muralhas da cidadela quile @ Opa p eee, . % Seen Da ican bo ware ue “eae Sea ripunt una forma de orpnizagao esata, consti une Gee Fama (1670-1687) como ura Tn Oi ca ie a serrostame sco ssinado peo colee no pode Zumbh nsando Sede de pont data (op. ci, p41, 93,95 18). Este ver conaden, ac omodce plo alten ie “cig a a gal “un ae se feo, por naa storie spor ue os palmarios fen reariao spins de ase ones navs” (p96) K. Kent alma quo “stoma pT are oud un modclo particular de Abies Cencrl, mis de visi” (op. ts «Batson Carocio, Op. itp. 38.48. Ver tmbém Clovis Moun. OP. it 242. ‘Nas pales de E, Carcio: A partir ce 1677 pee, a campanha omoe ocasier sepals pone a era do lars" ue se expen er ue ons 1 se sincea op, cep. 19, 167 « 170, Kent Tembra que a3 ess foram dvr tan lognap6saaainatura do acon com Gangs Zumba em 1678 € a4 Cabo f Je sesmaria (op. cit,p. 1 “fhe fl eontemplado com wma grande sesmatia( p . a rena expedigies a longo de sa existénea, © lembr® 9 rr scenes naquene Pore em 1625, mas & expr © moro em sida (> Tiec167,C Moura sinala qo es fugvs de Palmares seeps oF Tee set exerci dviderse em peguenos grupos gverihcis Re a ee Wiel cribal”; a0 contrisio, Pelmares indo-se no seinado de Ganga 382 A CONSOLIDAGRO DA SOBERANIA PORTUGUESA NO BRASIL Enfim, ao findar o século XVII repée-se a soberania portuguesa mi regio, com o aniquilamento do territorio rebelde que durante quase sete décadas manteve perigoso Estado africano encravado no noridess te brasileiro; experiéncia singular que nfo conheceu outra manifest iio na histéria da colénia.* Expulsos os holandeses e subjugedos os negros, restava controliy 6s levantes dos indios para consotidar o pleno dominio portugues so» bre esta vasta porgio do tertitério colonial: 0 nordeste oriental, A rebelidio indfgena nesta zona também pode ser entendida como desdobramento do processo de expulsio dos batavos, pois uma dit ‘preocupagdes constantes da politica dos invasores holandeses do Bras sil Oricntal foi, scm diivida, a alianga das tribos indigcnas do pais, alianga que procuraram angatiar e manter por todos os meios”.” Seji pelo aldeamento dos tupis, que viviam nos entomnos dos nticleos co- loniais, sa no estabelecimento de relagdes umigiveis com os tapi mais distances (que permaneciam em suas terras, e eram usados como ‘opas auxilieres em campanhas), a organiza¢ao da Nova Holanda in= corporou os indios de forma oposta & pritica habitual do colonizador lusitano. Portanto, nao é estranho que as tribos guerreiras aliciaday * pes du exc de nus umn, Pats “oo qe mas tempo do org catpot-—e ceypn defo mir lool eo gue mae ak 1c. tees pus set eterna (© ours Op. hep. 185. em sein ns ante de rt us ant Pi nsf suauado cm seit ste fp 19) Segue. ‘apl ngefa “apnde reei acaa do melenia™ peso po so am cps mpn pms oe en joe em man Ge ccaves ds oan flats de Carl. Apu) A. Gogalee de Meo, Op. sit 197. Bats ar Si an Maus do Noam aus das" anne destin ep om pane soso es conse da colaa de Sra (p20, Nese tena flees pen re topes tres pb sia cavitgio on quer cormedoca Enfin, cal Mel" ol Gonpnta fade wanted anes amie dines 200. 2G: Danas} Sunputs eM B Cova vakanco a pre verde de toot ings do medors un K Named que ents aa fs sini er oli) ena ee as Matin reo aniam ts roposeuaelecr sans certs hans (©. pO} ingens do Norv bau. Unesboo hates p02¢ 48), Cong de Mel is de dpia sug bra com eo es inion coment exper sero ps nr vei pesctanto th tech SCiettnando 21 deancmssiyie Nove Hola pce paMEOVC A. CONSOLIDAGAO DA SOBERANIA PORTUGUESA NO BRASIL, 383 pelos holandeses tenham rcagido a0 desalojamento de seus aliados, insurgindo contra o inimigo comum. ‘Como visto, a preseaga holandesa havia afetado bastante a organi- zagio da economia brasileira. O ataque de 1624 a Bahia jé havia cau- ‘sado confusio nos niicleos coloniais do Recdncavo, com a destruiglo de cngenhos, a fuga de escravos e — no que importa diretamente a0 tema tatado — a desorginizacio dos aldeamentos indigenas, como mencionado, de grande imporsincia no funcionamento da vida local. A guerra de restauragto de Pernambuco, por sua vez, canalizara todas 1s energias e recursos da colénia no objetivo central de expulsar os batavos, adiando a adogiio de medidas de reordenamento da relagio com os indios. E, do mesmo mode que os quilombos, os espagos re~ beldes indigenas vao constituir objeto de expedigdes punitivas quan- do se completou o processo de reafirmagio da soberania portuguesa na regio. Com o afastamento do perigo da ameaga externa, @ agio colonial volta-se para a consolidagio do dominio interno, atuando nos lugares onde o relaxamento do controle havia possibilicado a insurrcigio das populagdes autéctones, A primeira dessas drcas circunserevis 0 entor- no imediato da regio de ocupacio baiana, isto é, seu espago de ex- pans contiguo. O disciplinamento dessa area inaugurou o ciclo de ‘exterminio das tribos nordestinas, conhecido como a Guerra dos Bar- baros.* A primeira etapa do conflito, entre 1657 e 1659, envolveu © sertio de Orobé e marca a introdugiio de tropas paulistas no processo de repressio as tribos “rebeldes”. A segunda etapa, conhe como, Guerra do Aporé, vai de 1669 a 1673, tendo sido motivada pelos ata~ ques ind{genas na zona de Jnqniriga © de Tacobina € pela invasto da vila de Cairu.® 5) “Thales de Azevedo menciona a demanda bsiana de indios para © Rio de Jancivo na Epoca, ucusionada pela desapregacio dos aldeamentos locals. Este autor aponts, Glém do agio holandese, os saques praticados pela guarniglo de mil soldadas fastethanos estacionados na Bahia (Pocaamento da cidade do Sakvader, p. 163) st “Dade as primeiras décadas do século XVIL, 03 indios bravos do sertio resistiam to avango da fronteira pasiorl, causando problemas aos moradores Gas freguesias ido Recdacavo Baiano” P Puntoni, A guerra des bdrhares, Povas indigenas colon ‘santo do sertdo nordise do Brasil 1656-1720, p. 73). Segundo Puntoni, jé em 1627 eorrersm ataques de "tapuise” nas zonas do Jaguaribe ¢ do Pamguagu, porém foi fan 1651 que se eegiscrou um Ievante de maior porce no sul do Reebncava (p77). 5 O tesgo paulista “pacifica” a regio, fazendo cerca de 3.500 eserves, parte dos “quais fo: enviada pars Sto Vicente (P, Puntoni. Op. eit. p. 92). Vale mencionas que A Guerra do Agu, entre 1687 € 1704, também se inscreve nesse intuito de restaurar 0 controle territorial portugués, submetendo as tribos que atuaram como explicitos aliados dos holandeses, Como aponta Pedro Puntoni, uma de suas caracteristicas principais “era que virias das nagdes tarairitis, janduis, icds, peiacus ete, tinham grande arte dos seus guerreiros adestrada para as técnicas ocidentais de guer a ¢, notadamente, possufam armas de fogo e habilidade para utilizé- las”. O epicentro do conflito era o interior do Rio Grande do Norte €azona do Ceard-Micim, porém as tropas indigenas mostravam gran- de mobilidade espacial, homiziando-se na serra de Ibiapaba quando acuadas.** Tal fato ensejou uma estratégia repressiva com uma fora também maével, inicialmente estruturada em tes colunas que fariam arredusa do sertio, e depois unificadas num tinico podcroso exti- cito de exterminio: Esse conflito bem exemplifica uma nova orientagio adotada pelos colonizadores em face das populagdes autéctones: nao mais a es- cravizagio ou a centativa de integracao como meta, mas a eliminagao como objetivo explicito das agdes.*” O mével basico das expedighes as terras “liberadas” foram donde we para ocupé-as (p. 95). " jones le Palmares, para soco:ter 0 Rio Grande do Norte), substituido por Matias Cardo- tice di colonizador por “uma nova orientago polit ic er era liberagdo da terra, que em Sua maior parte foi doada aos préprios expedicionitios, faro que gerou conflitos com os pioneiros colonos assentados na orla nordestina, que as tinham como sua érea de expan- so imediata.* De todo modo, com o findar da Guerra do Agu, no comeco do século XVII, 0 “‘serto de fora” estava liberado para a ocupagio lusitana. Com isso, consolidava-se um vasto espago conti- nuo de colonizagéo que abrangia o litoral ¢ a hinterlandia contigua desde a Bahia até o Ceard, conformando a zona core do territétio colo- nial brasileiro de entao, ‘No entanto, a Guerra dos Bisbaros ultrapassou tal espago, avan- endo também na conquista do “sertio de dentro”, notadamente na ona do alto Sao Francisco ¢ na do sertio do Piaut. A Confederagio dos Cariris nomeia esse ciclo de levantamento das tribos da ¢: ating contra a ocupacio lusitana de seus territérios.” Aqui, a orientagio de exterminio e devassa acima mencionada fez-se presente com toda enfase, dando certa unidade ao movimento enfocudo, abviamente na perspectiva do colonizador, Nessas zonas, a tividade pastoril animou 1 interiorizacZo, estinmulando um ritmo veloz de adentramenco da fren- te pioneira, a qual demandava a liberagio das verzas e # manutengio da seguranga dos itinerérios percorridos pelas boiadas. Nao por ou- gies indigenas do serto norte... Estxs guerras objetivaram o exterminio toral € ao a inteprgiio ou submissio" (op. cit. p.5 © 8) 2B Puntoni salicata o contlito entre os colonos e o tere cos paulistas pelo eoncrole ‘da ietra © dos indios, € conelui que esta disputa ancecipa 0 tipo de conflico da Guerm dos Emboabas, contude no caso do Rio Grande “os emboabas (os de Fora] ceram os paulistes” Gbidem, p. 172, 197 € 202). 5 Carini €a denominagiia genética dada aos diferentes povos “tapuias” da caacings, ‘em geval expulsos da ora litorinea pelo avango dos empis, que guerreavem entse si ‘e-vendiam os cativos aos beancos (B. G. Dantas ct ail. Op. city p. 439 ¢ 457). Tal diversidade trax dificuldade para nomear os distinvos levantes ocortidos no scrtio tino, Os autores citedos, por exemplo, consideram o “Levante ‘Tapuia", a ““Confederagio dos Casiis” como o mesmo movimento norde: “Guerra das Barbaros” © a (p. 442). Aqui, optou-se por manter a titima denominagio para 0 processo que syassamento das areas mais interiorizadas do “sereio de dentro”, inseressou 0 de’ imento, na comparagio com Um caricer mais expansivo parece muangar esse movi ccortaténica defensiva que marce as expedigbes punitivas nas éreas mais proximas © Capitrano de Abreu considera que 0 texreno ds caatinga feelicou # penetra ds ppeeusria, que teve por eixo a8 virzeas dos ris, notadamente 0 Sido Francisco © 0 Parnaiba (Comiukos antigos ¢ 0 poooamerto do Brasil, p. 270 a 273), Para andlise etilhada do avango dos rebenbos baiznos, consultar Pedro Calmon, Histéria da 386 A CONSOLIDACAO DA SOBERANIA PORTUGUESA NO DRASI. tra razio algumas das prineipais ages punitivas na regio foram rea- lizadas por Francisco Dias D’Avila, 0 maior pecuarista baiano da época.™ Com a represso A Confederagao dos Cariris abriu-se ampla area para a expansio da colonizagio, que serd objeto de ocupagio ao longo do século XVIII. O cixo desse processo ocorreu com a abertura do “caminho do Brasil” ligando a Bahia ao Maranho através de uma rota interior de ciroulagio, que do sertio baiano demandava 0 Pian. O ro- teiro do Maranhio perenizou a ocupagio de certos lugares nesse iti- neririo ¢ contribuiut para o assentamento de fazendas, estabelecidas por membros das tropas de exterm{nio do gentio, agregadas ao amplo circuite comandado pela Casa da Torre. Tal proceso de fixagio, como acentuou Capistrano de Abreu, transformou os itinerantes paulistas de “despovoadores” em agentes de povoamento.* Vale fazer uma pausa na exposicio da matéria uratada, para salien- tar a importincia desse encontro de paulistas e baianos no serio do Sao Francisco para 0 processo de conformasio territorial do Brasil. ‘Trata-se da articulagdo terrestre de dois fluxos de expansdo, que con- Gata da Torre, Este autor eponta 0 avango no sertio do Piaut na déeads de 1670, relacionando-o com 1 Confederagio do Carris(p. 76, 80, 81 € 84). “Pedro Puntoni destaca @ entrada de Dias D'Avila nas guetras do Sido Francisco, ‘cote 1674 © 1679, que parte de Rio Real com 120 homens a cavalo e dizima os aanaios, € conclu: “A guetta deixara de ameacar o sistema produtive do RecOncavo « passava a moverse pelo interesse consolidado na caprura, comércio ¢ utilizacio da mito-de-obra indigena” (op. cit, p. 99). Ver também B, G, Dantas ¢¢ alii, Op. cit, p. At, P Calran. Op cit, p AA Conforme Luiz R. B. Mott, o devassamento do Pieut, atipicamente eferuado do rior para o litorl,inicia-se por volta de 1674, com as entradas de Domingos ‘Afonso Sertio, o Mafrense, e Domingos Jorge Velho, ambos agregados da Casa da “Torre. “Desde o info... forma de ocupagio do solo piguiense se faz através das fazcndas de gado”, aur padslo disperso de grandes propriedades onde se pratica ‘va—com 0 uso majoritirio de escravos fndias ou negtos — uma pecufria extensi- va, voltada parao abastecimento da Buhia e do Maranhdo, Em 1697 jf somam 129 fazendas na cegito, niémero que se cleva pare quatrocensas em 1730 (Pian coloe nial, p. 4S, 49, 52.6 52). De scordo com o autor, as bandeitas “concosseram antes para despavear que pars po-voat nossa tetra", pois os bandeirances “nfo se fixavam munca nos cerrcézios percor-ridos” (op. ci, p. 264); porém, no scrtio do So Francisco, os paulistas "de bandeirances, isto é, despovoadores, passaram 2 conguistadores formando estabe- Tecimentos fixos” (Gaptales de histéria colonial, p. 128). Cabe ilustrar com Domin- pos A, Sereio que em wstamnento deixa pazu os jesuftus winta I sali tony sailed $0.00 eubsceas ode wads (Laide R. B. Matt, Do. 'p. 50 ¢ 64). A. CONSOLIDAGAO DA SOBERANIA PORTUGUESA NO BRASIL 387 lciro ao efe- solidam 0 dominio da heartland do territério colonial brasi tivar a conquista dessa zona com seu povoamento, envolvendo pela hinterkindia toda a érea de ocupagio nordestina, ¢ a0 abrir a possibili dade de relagdo estéivel com o Estado do Maranhao associando-o & érbita cla colonizagao portuguesa. Tal juizo, se verdadeiro, acrescen- ta clementos interpretagao de ter sido a segunda metade do século XVII um periodo de consofidarda da ocupagio lusitana na América do Sul. A presenea dos paulistes nestas paragens, por sua vez, decorre em muito das vicissitudes por eles vividas, na primeira metade do Seis- centos, no avango da fronteira de ocupacio meridional da coldnia. Esta, como visto no capftulo anrerins, defrontava-se com os territ6rios mis- sionérios, onde os jesuitas instalaram grandes aldeamentos semi-iso- Jados dotados de estrutura econémica bastante autarquizada, Trata- va-se, como jf posto, de outra frea de extraterritorialidade da col6nia, onde a soberania portuguesa era sombreada pela geopolftica do Vaticano. As misses jesuiticas adensavam-se num arco sul-sudoeste- este que conformava a vizinhanca imediata dos colonos de Sao Pau lonessas diregdes, que passaram a té-las como os reservat6rios de miio~ de-obra da florescente witicultura planaltina.* ‘A historiografia mais recente rejeita a tese de que foi a pobreza “Uma das dificuldades para a ligaglo destas capitanias do norte com a Bahia as correntes marftimas que arastavam os barecs na diregéo das Antithas. Era mais fic ir do Maranhso 3s AntiThas, data Lisboa, ¢ de la a Bahio, do que do Maranhio 3 Rehia Tero expliea a importincia que teve na historia aordestina o eaminko pelo sersdo de Pernambuco ¢ da Bahia ao Piauf, Tentava-se por erra, a ligayto que & rat ado permicia” José Oscar Beazzo. Leis ¢ rgimentos das misses, p. 26). Também C. Boxer: “ss comunicagdes entre Maranbio-Pari e Portugal eam mols ficsis de este ¢ a costa norte-sul da América que as que se estabeleciam entre a costa lest portuguesa” (Os halanidesti. p- 259). «6 Nevse sentido o Brasil acompanheria a vendéneia americana, apontada por Ruzeieto Romano, de escapar da crise do século XVIT, basicamente por um dinamismo in- teio que sustenta @ colonizagio quando da retragao do comésclo atkintice (op. tit), C. Boxer eonclui que este século foi para o Brasil “uma era de consolidagio © progresso" (Salvador... p. 405). Diz John Manuel Monteire: “Ao longo do sécule XVI, colonos de Sio Paulo ¢ de 3s viles circunvizinhas essalearam contenas de aldeias indigenas em vérias re- tides, eazendo milhares de indios de diversas socicdades para suas fazendas e af- tios"; pormanco, a expansto efetuada reve seu “motivo bisico: a necessicads crdni- ‘cade nfowde-sbra indigena para tocar os empzeendimentos agricolss dos paulistas” ‘tineuride rove, p52: 388 A CONSOLIDAGAO DA SOBERANTA PORTUGUFSA NO BRASIL, que impulsionou 0 avango territorial dos paulistas em busea dos me- tais preciosos, ao contisio, credita ao desenvolvimento de uma agti- cultura comercial de abastecimento 0 mével de uma expansiv que visava a captura de escravos para uma lavoura que, em meados do XVI, jd extrapolava a bacia paulistana, adentrando-se pelos vales circunvizinhos." ‘Tal proceso, que teve o trige como produto basi- co," fundamentava-se no duplo espélio da conquista: a liberago de terras € a aquisigio de bragos. A histéria da formagio de $a0 Paulo pode ser vista como um movimento expansive que avanga em cit Culos concéatricos tendo por estimulo o3 objetivos expestos, como conclui John Manuel Monteiro: “a expansio territorial na capitania, portanto, deu-se em fungo do acesso pleno a terras € mao-de-obri abundantes”.” As expedigées regulares de apresamento indfgena comecam na década de 1580, envolvendo as érees contiguas aos campos de Pira- tininga. No final do séeulo XVI, a maior parte dos territérios tupi- niquizn ¢ guaiang jé estava conquistada, e 0s paulistas avangavam para > Acxpanato patio dios no incertor como uma mane de le em ad Giese vis noes no val de Ted (anand Pama em 1625, em 16h alas no vale do Puno (Mo das Cues om 61, Tbe S64 Guantingoett em 1681, jst em 163), 2 nate a casino dat Minas Gud em 39)emesne ool olonizundo ona de Cur, findeda pelos paula fm 1888 5 don bi paslnpna, inde pus condo, exe Sansa cevpne kno nl do fete XVI (er Pasquale Petrone damon pula Sette maa dese pose, iJon Monte: sugested un tereul comer no plana, obra com produto de thie pate exh Sar mut da comida sodas cloial na ego” (op. cp 99 [EM Moncioeponta qu ete prods era venddo prio Rio Bahia, Perm buco e mesmo pam Angle afi que“ ade do outa de proto de ign na ego de io Palo abinges ox anos 163021660 (op. ci, p13) Seg Bourque de Holand lembra queer 1616 hava vies meiabos em apes ne ile plsana, Segundo ete aur, alg da eouleura vide pcp, {amin «produto do agat ed fias desig) parce con ctw ele nacapitunne inde a caupo ovica 6 fabian de chap (Camaro ran p28, 25,2066 2778) Op. ep 189 Em outa passage, Monteiro feforg “Ao longo do sculo XX, tsotdade cconbncs dos once da ei de So Pao sent numa top e slida bie de excrvos fis, aprisonados va froqdenes expedite Sc pulse no sudo. stn clap cmercial ent mo-deobr abundant tgpealtra comercel dain ox contnos da vosedade paint a alo XVI cFeeacomiuntoment, iregion Sto Pal ue quod da cconca eclnia (p. 209), A CONSOLIDAGAO DA SORERANIA PORTUGUESA NO BRASIL, 389 lo meri- ovale do Paranapanema, centrando as expedig6es aum sen dional que demandava os sertéies dos carijés (Parana) ¢ dos patos (Ganta Catarina), sendo 0s cativos da Gitima zona enviados de navio para Sio Vicente.” Foi nesse transito que as bandeiras defrontaram-se com as populosas areas missiontias distribuidas ao longo da bacia do Prata, que apresentavam aa alta densidade demogréfica o grande trative na 6tica do conquistador.” ‘As redugies jesuiticas se haviam instalado na regio a partir de 1608, tendo por centro difusor 0 colégio de Assuncio, que comandava 0 tr3- balho da ordem na provincia eclesidstica do Paraguai.” Vale assina- lar que as missbes adensaram-se nas dreas a leste dos rios Parand & Uruguai, cxatamente pam se afastarem dos niiclens de colonizagio cespanhola, que cobigavam os bragos indfgenas.” Por essa fungio pro- tetora, os empreendimentos missionirios atrafram rapidamente sig inificativo contingente populacional distribuido numa rede articulada de redugées, todas construfdas dentro do mesmo pad:fo de ocupagio do espace.” Para se ter idéia do ritmo desse processo, s6 a zona do Pars rasuscamento desse movimento, ver John M, Monteiro. Op. city 9. +8 64 Pees sincesecronolégica ds prineipais expedigées, ver Alfredo Elis Jc 0 dandairiona pula 0 reco do meridian 1 Romo diz Sie B, de Holanda: “Durante a maior parce do séeulo XVII as sexes ‘Cooste do cio Parand foram consideradas grandes reservatérios de {ndios domest- tacos ou brabos que os palistas jam prear pam suts kavouras” (Camrnkat.» 165). © comentitio & valida também as drecs a este deste to 2 es foi desmembrada en: 1607 da provincia do Pent. A Compania de Jesus se fina instato 0 Paruguni ei 1507, fundando o oolégie de Accungia em 1594 Dende o into de sua presenga n ‘ea, os jesus crtieam « escravizag30 © & trabalho pessoal dos indios, pregando aberramente conta a putea das encomiendas fuer Clovs Lugon. A repébia *comaniuia” crs das uarans, 2610-1708, p. 29) Sar a elaborngto do projeto das missBes, 0 qual *pelo isolamento, protendia-se proteyer com a moralidade, a iberdade das ribos ainda nio submetides” (30). ANeungio aiogava em seu eurorna.em 1855 cerea de quatrocentos encomendci0s, oe submetisim um contingent de cem mil aos J, M. Menteire. Os Guananie a vstoia do Brasil meridional, séeslos XVI-XVIL, p. 484), Segundo este autor, a ida para a8 misfes aparece como um “acordo polio” dos indi, pos “dentro do Sonvovto cada vee mais restriive da eneoricnda paragusia¢ das expedigBes de Ghrosamento dos paulistas, 5 reduces tornaram-s¢espayos pura iberdade, ware lugar mais alequado parte retrtieulagio da identidede guorani”(p.490). Ver também C, Lugon. Op. ct, p- 36) vhs redugbesjesuftcas da bacia do Pease foram estrucuradas paso serem unidades ‘rorivas auto-suficientes, por isso pratieavam ums poleuleta de abastecimeno Frendendo ot excedentcs), favam seus cecidos,exaram gndo bevino € eqino, 390 A CONSOLIDAGAO DA SOBERANIA PORTUGUESA NO BRASIL. Guaird (no atual estado do Paran4) contava, em 1623, com treze re- dugées, nimero que se eleva para 26 em 1630, congregando uma populacao estimada entre 70.000 e 100,000 babicances.” O acaque de Raposo ‘Tavares as missées do Guairi em 1628 inau- gurou um novo ciclo de apresamento dos paulistas, marcado pelo au- mento significative na escala da populacio aprisionada, estimada no caso entre 33,000 € 55.000 Indios escravizados.** O butim obtido ani- mou a atividade de apresamento em Sio Paulo, estimulando a espe cializag2o dos paulistas que armam verdadciros exércitos mamelucos para cal finalidade. Em 1632, foram devastadas as misses do Tiatim, na borda pantaneira.”” Na seqiéncia, entre 1635 e 1641, so atacadas as missdes do Tape, no acual estado do Rio Grande do Sul.”* Nessas paragens, as tropas escravagistas defrontaram-se com um elemento novo no processo: a resistencia indigena. Diante do quadro de exter- mfnio praticado no Guairé, os jesuftas ¢laboram uma estratégia de- fensiva, fazendo até mesmo gesties para municiar os indios com armas de fogo.” desenvolviam o artesanato ¢ os diversos oficios necessirios, © chegarain mesmo a produzir em ferro. ‘Todas sezuiam um plano urbantstico eomum iver G. Lugon. Op. cit, p. 73 € 3+ Parte). Conforme Lugon, Op. cit, p. 40. Segunda o autor, na zona do Tape em 1620 havia cerea de doze redugdes em instalagio, ¢ no Parang em £625 mais quatro unidades imissionirias (p. 41). J. M, Monteiro fala em 35.000 indios no Guairi em 1628, © ‘outtos 50.000 no Tape na mesia data (Os Guasattny p. 492). % Ver}. M, Monteiro, Negron pT Batts missbes, no acual estado do Maco Grosso do Su, se haviam edensado nesae poca pelo transiado de virias redugbes fugidas do Guaied. Atacadas em 1622, s10 reconsinufdas e novamente atucadas em 1647, pela bandeira de Raposo Tavares, Na época congregavam cerea de 7.500 indios (ver Regina M. A. F. Gadelha. as mises jsutticas do Latin, p. 241, 269 e 289). Ape o segundo atague, ess re passou a ser dominada pelos guaicurus, que chegam a atacar Assungda em vérias Deasites (p. 172). Ver cambém: S. B. de Holanda. 0 exirema cee, 9. 61 70. Ver Walcer F Piazza, Sante Catarina: sua histéria, p. 104. Guithermino Cesar lista dezoito reduges fundades na regito entre 1626 e 1638 (Hisrdria de Rie Grande do ‘Sub, Periodo colonia, p. 61-2), Fai esse 0 objetivo bisico da viagem do padre Moncoya a Madri em 1639, de ‘convencimento co rei que os guaranis das redugdes poderiam eonstituir uma po- derose tropa auailiar na contengio do avango dos pavlistas, com as misses sendo uma barre & expansdo “portuguesa” (Clovis Lugon, Op. cit, p, 60-1). De wda fouma, os jesuftes no Tape haviam organizado milicas nas redugées, que rapida- mente possibilitavam o ageupamento de um exercite cuumerieamente signifieativo (de roais de 2.000 homens). A GONSOLIDAGAO DA SOBERANTA PORTUGUESA NO BRASIL 391 A primeira derrova paulista ocorreu em Caagapaguagu, no vale do Tui, em 1639. Uma expedigiio punitiva, sob comando de Jeronimo de Barros, é armada para revidar esse revés, sendo contudo também der- rotada na grande batalha de Mbororé, nas margens do rio Uraguai." ‘Ap6s essa expressiva vitbria, os jesuftas decidiram resguardarse em ter ras espanholas,transferindo as misses para a zona de Entre Rios, sain- {Jo do espaco que posteriormente se definiria como territsto brasileiro, frontcita que de certo modo estavam a construir nesse proceso. ‘A permissio real para o armamento dos indios das redugies, con trariando um principio bisico da agdo colonizadora, s6 pode ser en- tendida no marco da geopolitica subjacente ao processo da Restaura- cao portuguesa. Jaime Cortesao salienta v faro de Raposo ‘Tavares fer um preposto do conde de Monsanto, donatirio das capitanias me~ dionais (Sio Vicente ¢ Sant’Ana), o qual desempenhou relevance papel no movimento que Ievou ao trono a Casa de Braganga, tendo vreamo sido o representante lusitano na assinatura do Acordo de Munster Mesmo sem se concordar ix fofwm com a interpretaglo Towa Lajon ia de uma tna siocenes pul acompanaos de se Ce gunn ce mumora nos Sedo auc cpt a anand aba op, p62) Gest lade qusoreze ae Naga sais pc p70) Wale Pea xr ban aa gn paragescs cen 2800 «3000 il iis, conserdndo aa rans Burnie alonando Ge ees coma cm trerenn esopetin (St 103) , " aoe ee rent tain cmeyato anes, com un princi Se ey indo do Gua om To31, © odesknanento do Tape sorsie- aa espe 23) Dine eon “Apr as gamdes mize depos A os panda on exelent d0 Gus edo Tapa Re Se ea te efoto nh mages do Psnd Ue aoa candor queagus ‘edu fon inal 90 ox sa os Rls Ge esl em 707 (p70) Dara ia das ees ee pn). ali eat irs oan let enn een a vigor em 144, ran an oa de sepangto {arn ens ig om tr fas oa de or Ne aa Tai cama ines, Sobre ete process, conse Se Mate fornia vat do Dr. 130 © 198 Sab 3 coe dezmmments intone ot Opes 222 1 Tae er 105 Sendo Cares, okies ge” soto uma caer Maus, ef sobernia albedo consi de Toes no seen sane got 13. Osu lea qv ua cael de 1658 Tie ee intan deretande a pn de Ran Tavares oem ai sane compa (. 49 6239),

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