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SQWOTI@HLNSnS TUNSIGWH OA og iAyt ey M514 Meio ambiente e sustentabilidade / Organizadores, André Henrique Rosa, Leonardo Fernandes Fraceto, Viviane Moschini-Carlos, - Porto Alegre : Bookman, 2012 412 p. ils 25 em. ISBN 978-85-407-0196-0 1, Meio ambiente. 2. Sustentabilidade. I. Rosa, André Henrique. II. Fraceto, Leonardo Fernandes. IIL, Moschini-Carlos, Viviane. CDU 502-022.316 Catalogagao na publicagao: Natascha Helena Franz Hoppen CRB10/215 lade 163 Meio ambiente e sustentabi de determinadas populagées, na realizaga0 de avaliagées do impacto de mudangas am- bientais produzidas por projetos econémi- cos e sociais, no préprio ecossistema local ¢ na satide das populagdes humanas para a tomada de decisdo sobre o desenvolvimen- to de projetos. Essas avaliacdes tém como fi- nalidade oferecer informacoes sobre os pro- vaveis impactos e as possiveis medidas para reduzir ¢ ou prevenir cssas situacdes de risco. MUDANCA DE PARADIGMA NA AREA DE SAUDE E MEIO AMBIENTE As iltimas décadas registraram varios even- tos na area tanto de meio ambiente como da satide, documentando a mudanga de ma série de paradigmas nessas areas. A mudanga de valores se reflete na atualizagao do conceito de satide que reconhece que, para enfatizar 0 viés profilatico, deve ser re- conhecida a relevancia da interferéncia di- reta ow indireta dos fatores ambientais na prevengio de doengas e agravos a satide hu- mana. A Declaragao da Conferéncia sobre cuidados Primarios de Satide da OMS- -UNICEE, que ocorreu em 1978 em Alme- Ata, no Cazaquistao, enfatiza a satide como um direito humano fundamental, Permitiu que a satide, como um bem pablico, se in- corporasse & legislagio nacional e interne- cional como instrumento de ages que ob- jetivassem a reducao das desigualdades do estado de satide dos povos, principalmente entre os de paises desenvolvidos ¢ em de- senvolvimento. Portanto, a satide nao mais se explica exclusivamente pela auséncia de doeng: apoiada principalmente em intervengdes inico-cirirgicas ou em medidas preventi- vas tradicionais, mas sim como resultado de ages de carater intersetorial, que a conside- rem um produto e, ao mesmo tempo, um insumo do desenvolvimento. Em 1986, ocorreu no Canada a Primeira Conferéncia Internacional sobre a Promogio da Satide, na qual foi promulgada, pela Organizagao Mundial da Saide, a “Carta de Ottawa para promocio da Satide” atendendo a demanda de uma nova concepeao de satide publica. Nesse contexto, delineou-se um cendrio no qual a importincia da qualidade do meio ambiente era redimensionada para um espa- 0 ecossacial. Definiram-se linhas de agao ho sentido de se criarem ambientes favors vcis A satide, os chamados ambientes saudd- veis. Intimeras conferéncias internacionais sobre o tema se sucederam e vém influen- Giando politicas de satide coletiva dos mais diversos paises. O texto da Constituicao Federal Brasi- leira, promulgada em 1988, ja reflete essa concepsao de relacaa intrinseca entre meio ambiente € satide. Em seu Artigo 196, a satide ¢ definida como direito de todos ¢ dever do Estado, garantido mediante politi- cas sociais e econdmicas que visem a redu- ao do risco de doenga e de outros agravos € a0 acesso universal ¢ igualitério as agdes ¢ servicos para sua promogao, protegao e re- cuperacao. Jé em seu Art. 225, prevé que todos tém direito a meio ambiente ecologica~ mente equilibrado, bem de uso comum do povo ¢ essencial 2 sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Puiblico e 4 coletivi- dade o dever de defendé-lo, preservi-lo para as presentes e futuras geragoes. Em 1990 a Organizagao Mundial da Satide cria uma Comissio de Saiide e Meio Ambiente, Durante essa mesma década, 0 Brasil deu inicio a elaboragio da Politica Nacional de Saude Ambiental, possibilitan- do posteriormente a implantagao do Siste- ma de Vigilancia em Satide Ambiental com © objetivo de compreender as relagdes entre os elementos ambientais e de satide sobre os quais cabe a satide publica intervir, 164 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) De acordo com o documento “Subsi- ios para construgao da Politica Nacional de Satide Ambiental’, divulgado em 2007 pelo Ministério da Satide, o campo da Saude Am- biental compreende a rea da satide public: afeita ao conhecimento cientifico ¢ a for- mulagio de politicas puiblicas as corres pondentes intervengées (aco) relacionadas a interagao entre a satide humana e os fato- res do meio ambiente natural ¢ antrépico que a determinam, condicionam e influen- ciam, com vistas a melhorar a qualidade de vida do ser humano sob o ponto de vista da sustentabilidade. Nesse sentido, a articulacao ¢ a visio de indissociabilidade entre as reas de meio ambiente ¢ satide aponta para a necessidade de agdes preventivas, tanto relacionadas & protesao do meio ambiente como & promo- 80 de satide, No caso particular da vigilan- cia em satide, a Fundacao Nacional de Satide (FUNASA) estruturou o Sistema Na- cional de Vigilancia Ambiental em Saide (SINVAS). Sua regulamentagao através da Instrugao Normativa N° | do Ministério da Satide, de 25 de setembro de 2001, definiu competéncias no ambito federal dos Esta- dos, do Distrito Federal e dos Municipios e, para esses fins, apontou também como prioridades para intervencao 0s fatores bio- logicos representados pelos vetores, hospe- deiros, reservatérios ¢ animais peconhen- tos; € 08 fatores nao biologicos, que incluem. a qualidade da agua para consumo huma- no, ar, solo, contaminantes ambientais, de- sastres naturais ¢ acidentes com produtos perigosos. A Vigilancia Ambiental em Satide & definida pela Fundagao Nacional da Satide como um conjunto de agdes que proporciona o conhecimento e a detecgio de qualquer nu- danga nos fatores determinantes ¢ condicio- nantes do meio arnbiente que interferem na saiide humana, com a finalidade de identifi- car as medidas de prevenga e controle dos fa- tores de risco ambientais relacionados as do- engas ou outros agravos a saide, Compete ao sistema produzir, integrar, process terpretar informagées que sirvam de trumentos para que o Sistema Unificado de Satide possa planejar e executar agoes relati- ‘as 4 promosao de satide e de prevengio e controle de doengas relacionadas ao am- biente A Vigilancia em Satide Ambiental foi estruturada por meio do Subsistema Nacio- nal de Vigilancia em Satide Ambiental, re- gulamentado pela Instrugio Normativa MS/SVS Ne 1, de 7 de margo de 2005. O Subsistema Nacional de Vigilancia em Satide Ambiental - SINVSA compreende o conjunto de ages e servicos prestados por Orgaos ¢ entidades publicas ¢ privadas, rela- tivos a vigilancia em satide ambiental, vi- sando ao conhecimento ea detecgao ou pre- vengao de qualquer mudanca nos fatores determinantes ¢ condicionantes do meio ambiente que interferem na satide humana, com a finalidade de recomendar e adotar medidas de promogao da satide ambiental, prevencao ¢ controle dos fatores de risco re lacionados as doengas e outros agravos & satide, em especial: 1, gua para consumo humano; I ar; Ill. solo; TV. contaminantes ambientais e substan- cias quimicas; desastres naturais; acidentes com produtos perigosos; VIL fatores fisicos; e VIII. ambiente de trabalho. Pardgrafo Unico — Os procedimentos de vi- gilancia epidemiologica das doencas e agra- vos a satide humana associados a contami- nantes ambientais, especialmente os rela- mados com a exposigao a agrotoxicos, amianto, merciirio, benzeno € chumbo sera de responsabilidade da Coordenagao Geral de Vigilancia Ambiental em Satide - CGVAM. © conceito ampliado de exposicao, tratado nao como um atributo da pessoa, 165 Meio ambiente e sustentabilidade ‘mas como conjunto de relagdes complexas entre a sociedade ¢ © ambiente, & central para a definigéo de indicadores ¢ para a orientacio da pratica de vigilancia ambien- tal. Entre as dificuldades encontradas para sua efetivagao no Sistema Unico de Saide no Brasil, estao a necessidade de reestrutu- ragao das agdes de vigilancia em saide ¢ a formas de equipes multidisciplinares, com capacidade de didlogo com outros se- tores, além da construgao de sistemas de in- formagio capazes de auxiliar a andlise de si- tuagdes de saiide € a tomada de decisoes. Por exemplo, a Figura 7.5 mostra o poten- 72280004 72280004 7228000-| 72280005 7228000] 72280004 Incidéncia de risco Ato rsco 72280004 A ks Baivorisco —= 7220000, : : Q 1062000 moves 232000 «23400036000 «238000 ©» 240000 Figura 7.5 Mapa da distribuicao espacial do Risco Relative da incidéncia de tuberculose em Rio Claro, Sao Paulo, Brasi 166 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) cial do uso de indicadores de risco para ges tao e planejamento em vigilancia ambiental que, muitas vezes, nao sio incorporados aos meétodos de analise, Como tentativa de articular as esferas governamentais ¢ demais atores envolvidos esse processo e consolidar a Politica Na~ cional de Satide Ambiental, 0 Ministerio de Meio Ambiente programou para dezembro de 2009, em Brasilia, a I Conferéncia Nacio- nal de Satide Ambiental. INTEGRACAO DAS ACOES DE PROMOCAO DE SAUDE E PROTECAO DO MEIO AMBIENTE Agoes de integrasao dos varios setores en- volvidos sao sempre bem-vindas e necessé- rias. A complexidade das questoes socioam- bientais exige cada ver mais preparo para seu enfrentamento, pois muitas vezes a apa~ rente resolugao de um problema pode agra~ var outro, © equacionamento dessas situa des € um grande desafio. Geralmente, a promogao a sade € a protecao ao meio am- biente sao vistas como valores que intera~ gem sempre em harmonia. No entanto, em- bora a interface e a interdependéncia dessas duas questdes seja inquestionavel, as ages voltadas para promogio da satide, se conce- bidas de forma desarticulada da protesao a0 meio ambiente, podem gerar um cendrio. muito negativo. Por exemplo, a produsio de alimento em larga escala, como agao de combate a foe, normalmente representa a ocupagao de extensas areas de vegetagao natural substituidas pelas culturas ut das como alimentos. Isso tem representado desmatamento, destruicao de habitats natu- rais e também pode significar a introdugto local de intimeros contaminantes no ar, na Agua e no solo com a justificativa de manter a produtividade e combater as pragas, 0 que fa ao final, também se reverte em comprome- timento da saiide humana, O combate a vetores de intimeras do- engas como a febre amarela, a dengue e a maliria pode resultar na intensificagio da contaminagao ambiental. Isso s6 reforga a jidade de implementagao de ages de impacto ecossistémico positivo, integradas a dinamica ambiental e nao mais apenas pontuais e de emergéncia como a aplicagao de inseticidas, A propria atengao a satide gera int- meros residuos bioldgicos, quimicos, fisi- cos, inclusive radioativos, Além d ampla gama de medicamentos gera sobras que podem ser descartadas no ambiente, bem como residuos desses, contidos nas ex- cretas humanas e podem se dispersar cau- sando contaminacao ambiental. Os dados divulgados em 2009, refe- rentes 20 ano de 2007, pelo Sistema Nacio- nal de Informagoes Téxico-Farmacolégicas (Sinitox) da Fiocruz, registraram mais de 100 mil casos de intoxicagio humana ¢ quase 500 dbitos registrados pelos centros de Informagio ¢ Asistencia Toxicolégica em todo © pais. Esses dados apontam as criangas menores de cinco anos como as mais atingidas, representando 25% dos casos, Os principais agentes desses quadros de intoxicagao sao justamente os medica mentos (30,7%), seguidos pelos animais pe- gonhentos (20,19) ¢ produtos de limpeza domiciliar (11,4%). Portanto, mais de 42,1% dos casos sao provocados por produtos que deveriam ser utilizados na promogio da satide humana. Segundo a Organizagao Mundial da Saide, a quantidade de antimicrobianos utilizados em animais ¢ 0 seu padrao de uti- lizagao nao so conhecidos. Embora os ni meros variem, ¢ a maioria dos paises nao tenha essas estatisticas, dados atuais indi- cam que praticamente metade dos antibio- ticos produzidos sao utilizados na medicina humana e a outra parte na produgao ani- neces 0, a lade 167 Meio ambiente e sustentabi mal, seja como elemento profilatico ou te~ rapéutico, seja como fator de crescimento. A liberagao desses compostos no am- biente pode causar desequilibrios nas m crobiotas do solo e da agua e também disse~ minar fatores de resisténcia antimicrobiana em locais que nao deveriam apresentar essas ocorréncias, agravando, assim, a disse- minagao de cepas resistentes aos tratamen- tos. Esse fato relevante principalmente quando consideramos a disseminagao de pa- tégenos agentes de DTAs (Doencas Trans- mitidas por Alimentos), como as bactérias, Campylobacter jejuni, Escherichia coli, Sal- monella ¢ Enterococcus. Esses microrganis- mos se encontram associados aos animais ¢ seus produtos, podendo atingir os seres hu manos que consomem estes como alimen- tos. O combate a um proceso infeccioso humano, causado por um microrganismo cuja resisténcia aos antimicrobianos ja se deu no ambiente, € cada ver mais dificil oneroso. Além disso, 0s elementos genéticos que determinam a resisténcia aos antimi- crobianos podem ser disseminados no or ganismo do hospedeiro humano e transmi tidos as bactérias que jé colonizam esses in- dividuos acelerando e amplificando 0 problema da resistencia microbiana aos an- timicrobianos. Na tentativa de melhorar a aborda- gem dessas questées, a propria legislagao jé esboga a tentativa de articular as normas le- gais contemplando ambos os setores, com aspectos enfatizados pelas Resolugdes do Ministério da Satide articuladas as do Meio ambiente, como no caso dos Residuos Soli dos de Servigos de Saiide, mas h4 necessida- de ainda de disseminar essa cultura entre os distintos setores, envolvendo varias outras esferas, Esses pontos apenas ilustram e refor~ gam a necessidade de ages integradas, que nao visem a resolugao focada apenas em tum setor, pois o resultado de uma ago, seja voltada exclusivamente para a satide ou para o meio ambiente, representaré um risco potencial para a outra area se nao for planejada e executada de forma ampla e in- tegrada. A QUALIDADE DA AGUA E A SAUDE Globalmente, 1 bilhao de pessoas esta atual- mente sem acesso a abastecimento de agua ¢ 2,6 bilhdes nao contam com nenhuma forma de servigos de saneamento basico. A maioria dessas pessoas vive na Asia e na Africa ‘O consumo de agua contaminada, seja por agentes biolégicos ou quimicos, é uma importante causa de ageavos a saide, cau- sando principalmente diarreia, Essa ocor- réncia é, de modo geral, causada por infec- Ges gastrointestinais que matam cerca de 2,2 milhoes de pessoas no mundo a cada ano, sendo 1,3 milhao de criangas, a maio- ria em paises em desenvolvimento. O uso da Agua na higiene ¢ uma medida preventi- va importante. ‘A diarreia pode durar varios dias pode deixar o corpo sem a agua e sais que so necessirios para a sobrevivencia, A maioria das pessoas que morrem de diar- reia, na verdade, morrem de desidratagao grave e perda de liquido. C que se alimentam mal ou tém deficiéncia de imu- nidade so mais suscetiveis a0 risco de vida pela ocorréncia da diarreia. A degradaco ambiental vem amea- gando 0 acesso a esse recurso vital, compro metendo a qualidade e a quantidade de Agua disponivel para consumo. No Brasil, embora haja a ideia de abundancia de agua, a distribuigao € muito irregular pelo terri- t6rio nacional, ¢ as fontes de contaminagio representam um fator limitante para 0 for- necimento de agua para a populagao. Os reservat6rios préximos aos gran- des centros urbanos encontram-se eutrofi- zados. Esse fato pode favorecer a ocorrencia 168 Rosa, Fraceto e Mosc! i-Carlos Orgs.) de fendmenos como as “floragdes” de algas unicelulares e de cianobactérias, jé que esses organismos sio abundantes em nossas Aguas. A proliferagao excessiva desses mi- crorganismos compromete a qualidade da gua, pois esses so produtores de imimeras toxinas que podem ter efeitos neurotéxicos, hepatot6xicos e dermatotoxicos. Essas toxi- nas sio liberadas pela lise das células produ- toras, portanto o problema pode ser agrava- do sea agua for submetida a cloracao. Em 1996, em Caruaru, no estado de Pernambu- co, 0 fornecimento de égua contaminada por cianotoxinas hepatot6xicas a um hospi- tal vitimou mais de uma centena de pacien- tes do servigo de hemodidlise. Atwalmente, esse é um risco eminente que deve ser con- tinuamente monitorado. A Figura 7.6 mos- tra 0 monitoramento da Represa de Guara~ piranga, um importante reservatorio que tem servido de manancial para o abasteci- mento da égua da populagao da cidade de Sao Paulo. Na figura, é possivel observar que, em dois diferentes pontos de monito- ramento, os valores de coliformes ultrapas- sam os valores sugeridos segundo 0 Conse- Iho Nacional do Meio Ambiente (CONA- MA) que regulamenta os valores maximos permitidos. Coliformes termotolerantes (UFC/100mI) Ss — GuAROo100 Figura 7.6 Evolugao coliformes termotolerantes e es se & € GUARO0900 A CONTAMINACAO ATMOSFERICA E SEUS EFEITOS NA SAUDE HUMANA ‘A interpretagao dos efeitos das condigoes ambientais sobre a satide humana é um processo complexo, principalmente por ser, na maioria das vezes, de natureza muiltipla. Além disso, ficam mais evidentes e menos dificeis de correlacionar os efeitos agudos, ja que se trata de manifestagées intensas e proximas ao momento da exposigao. No entanto, varios efeitos adversos se apresen- tam de forma créniea, ¢ ainda necessitamos de muitos estudos para esclarecer a nature- zaeaextensio desses efeitos ¢ correlaciona- -los com dados epidemiolégicos que conso- lidem essas informagies. Durante a evolugio humana na Terra, ohomem desenvolveu mecanismos de inte- ragao e defesa contra as agressdes sofridas por agentes infecciosos, no entanto, até hoje © contato com esses organismos patogéni- cos pode trazer prejuizos a satide, ea ciéncia ainda tenta desvendar os mecanismos en- volvidos nessa interacao parasita-hospedei- ro, No tocante & contaminagao quimica do ambiente, intensificada a partir da Revolu- 5 So & —— CONAMA 357/05 Tendéncia de aumento de coliformes termotolerantes (linhas cinzas continuas e pontilhadas) em relacdo aos valores padrao CONAMA (linha continua preta). 169 Meio ambiente e sustentabilidade 40 Industrial em meados do século XVIII, podemos considerar essa interagao relativa- mente recente, principalmente pelo fato de a introdugio e diversificagao de agentes ser crescente. Nesse sentido, 0 organismo hu- mano sofre de uma extensa gama de efeitos adversos dessa interagao, ¢ a ciéncia ainda tenta compreender os mecanismos envolvi- dos nessas manifestacoes. Cerca de 800 mil dbitos sao atribuidos 8 poluigio do ar ambiental, 1,6 milhao a poluicao do ar no interior dos domicilios ¢ 154 mil ébitos as alteraces climiaticas. Sao, portanto, cerca de 2,5 milhdes de mortes evitiveis a cada ano, Esses niimeros tendem a uma elevagao continua se forem mantidos 5 niveis atuais de emissoes e demais aspec- tos de degradacao ambiental como a devas- tagdo da vegetacao natural. A Figura 7.7 mostra a intensa relagao entre poluentes a mosféricos ¢ internagdes por doencas respi- ratérias em uma cidade do interior do esta- do de Sao Paulo. Por exemple, as pessoas de areas urba- nas industrializadas ja tém a percepgao da agao da poluicao atmostérica sobre sua satide. Porém, esses’ mecanismos nao esto clara- mente descritos, ¢ intimeras pesquisas esto sendo realizadas com essa finalidade. Relatos recentes tém demonstrado que os efeitos da exposigao aos elevados niveis de poluigao at- mosférica, nos grandes centros urbanos, con- tribuem tanto para o aparecimento de agra- vos crénicos & satide, como alergias irritaga0 das mucosas ¢ da pele, problemas respiraté- rios ¢ até mesmo cancer de pulmio como para a ocorréncia de efeitos agudos, como a hipertensio e paradas cardfacas. Pesquisas com gestantes demonstra- ram que a exposisao poluigao atmosféri- ca, principalmente no primeiro trimestre de gravidez, resulta em recém-nascidos com baixo peso, podendo também elevar o risco de morte perinatal em 50%. Além disso, ha indicagao de que, nos dias de maior concen- tracdo de poluentes na atmosfera na cidade de Sio Paulo, principalmente de CO, ha ele- vagio do niimero de abortos. A poluisao atmosférica também seria responsavel por 5% das mortes por proble- 3 Internagdes i j 3 il 2 : : = Internagdas — Material paniculado Didxide de Nitoganio_—— Ozénio Figura 7.7 Grafico de uma série historica dos niveis de poluentes atmosféricos e internagdes por doengas respiratérias na cidade de Sorocaba, Séo Paulo de 2004 a 2007. 170 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) mas respirat6rios tanto em criangas como em idosos em sete capitais brasileiras (Sio Paulo, Rio de Janciro, Belo Horizonte, Vité- ria, Curitiba, Fortaleza e Porto Alegre). Experimentos com camundongos ex- postos ao ar poluido de Séo Paulo mostra~ ram redugio de fertilidade. As fémeas pro- duziram 36% menos células germinativas e sofreram abortos espontineos mais fre- quentes que fémeas mantidas em ambiente abastecido com ar filtrado. Além disso, os filhotes das fémeas mantidas em atmosfera poluida nasceram com peso inferior e foram observadas alteragdes da placenta, com estreitamento dos vasos sanguincos. A capacidade respiratéria dos filhotes de pais expostos ao ar poluido, e também mantidos nesse tipo de ambiente, também foi reduzi- da. Os pesquisadores do Laboratério de Po- luigdo Atmosférica Experimental da Uni- versidade de Sao Paulo, autores desses estu- dos, chamam a atengo para o fato de a inalagao de particulas menores que 2,5 mi- crémetros, que atravessam as primeiras barreiras do sistema respiratorio, afetar 0 desenvolvimento dos alvéolos. Essa consta- tagao ¢ particularmente importante para a espécie humana porque cerca de 85% dos alvéolos se forma na fase entre a infancia e a puberdade. Essa formacio estaria com- prometida em pessoas que vivem em am- bientes poluidos, consequentemente, com- prometendo a capacidade respiratoria no adulto, Os efeitos marcados na satide pela po- luigdo oriunda do trafego sao agora relativa- mente conhecidos. Estudos nos EUA mos- traram que pessoas que moram a até 100m de estradas movimentadas estio mais pro- pensas a asma e a doengas cardiovasculares. Aq@es de redugio de trafego, como as ado- tadas em torno dos estédios nas Olimpiadas em Pequim e Atlanta, repercutiram na re- dugao de internagGes locais por doengas respiratorias ¢ cardiovasculares. Estratégias de monitoramento conti- uo da poluigao do ar ao longo das vias de tréfego intenso nos grandes centros urha- nos podem auxiliar no mapeamento desses poluentes ¢ subsidiar ages para escoar 0 transito em locais com concentragoes © cas decorrentes da concentragéo de auto- moveis, Por um lado, temos a intensificagao da poluicéo atmosférica pela queima de com- bustiveis fosseis nas vias de trafego das éreas urbanizadas € nas estradas; no entanto, a proposta de substituigo por outras matri- zes energgticas deve ter seus impactos no ambiente e na satide avaliados. Nao s6 nos ambientes densamente ur banizados sio detectados problemas de satide decorrentes da exposigao a poluentes atmosféricos. Na regiao rural, as queimadas sto tradicionalmente realizadas como forma de remogao da vegetagio para ocu- pagao do solo com outras atividades como o plantio da cana-de-agiicar. O Brasil 6 0 maior produtor e expor- tador mundial de Alcool, considerado com- bustivel limpo, pois provem de fontes reno vaveis. No entanto, se analisado todo o pro- cesso produtivo da cana, podemos verificar importantes impactos ambientais com con- sequéncias satide da populagao que reside préximo a area de plantio e dos trabalhado- res que atuam no corte da cana Estudos epidemiolégicos apontam para o agravamento de problemas respira~ torios pela exposigao ao ar contaminado pela queima da cana, No entanto, as doen- sas cardiovasculares também vém senda associadas a esse tipo de poluigao, em espe-

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