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ALTAIR T'OGUN 2" EDICAO ALTAIR TOGUN ELEGUN Iniciagdo no Candomblé Feitura de lyaw6, Ogan e Ekéji 28 Edicao Rio de Janeiro 1998 Copyright © 1995, by Altair B. Oliveira (T'Ogin) Editor: Cristina Fernandes Warth Coordenagéo Editorial: Heloisa Brown Copydesk: Elisabeth Spaltemberg, Revisdo Tipogratica: Silvia Schwingel Dias Capa: Leonardo Carvalho Editoragao Eletr6nica: Cid Barros CIP-BRASIL. CATALOGACAO-NA-FONTE. SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RI. O45e Oliveira, Altair B.,1948- 20d. ELE GUN: iniciagao no candomble: feitura de lyaws, Ogdn e Ekeji / Altair B. Oliveira (T'Ogtin), -2. ed, = Rio de Janeiro: Pallas, 1998. 124p. Inclui bibliografia. ISBN 85-347-0137-7 1. Candomblés. 2. Cultos afro-brasileiros — o5-1020 SetimOnias e praticas. 1. Titulo. howe CDU— 299.6. Pallas Editora e Distribuidora Ltda. Rua Frederico de Albuquerque, 44 —- Higiendpolis WANS CEP 21050-840 - Rio de Janeiro - Rj CVS Tel: (021) 270-0186 Fax: (021) 590-6996 Homepage: http:/ /www.editoras.com/pallas/afrobrasil E-mail: pallas@ax.ape.org PALLAS Mo Diupé - Eu agradego Neste espago, presto agradecimentos aqueles que muito tém me auxiliado nesta jornada. Primeiramente, como nao poderia deixar de ser, mo dtipé Ol6érun at Orf mi (agradego a Deus € a minha cabeca) por ilu- minar minha mente para que eu pudesse realizar este novo tra- balho, e espero com suas ajudas que scja do agrado de todos que dele tomarem conhecimento, como © meu primeiro livre "Gan- tando para os Orixs — Nkorin s’awon Orisa", que foi clogiado pelos cem por cento de pessoas que o adquiriram € que se en- cantaram muito mais ainda com as fitas das gravagdes das canu- gas nele contidas. Isso nos Jevou, a mim ¢ a minha familia, para além das fronteiras do pafs, posto que o nosso trabalho através do livro ¢ das fitas j4 foi para outros paises como a Franga, Portu- gal, Estados Unidos e, uma grata surpresa, até para a Ucrania, adquitido por um estudante da Universidade de Kiev. E, mnito gratificante ter nosso trabalho reconhecido € valori- zado, € nesse aspecto sé tenho a agradecer a Olédrun ati Ori mi- Agradecgo-lhes também por este novo trabalho ora apresentado, no qual, pela experiéncia do anterior, seguirci a mesma linha de acio em esclarecer 0 maximo que me for possivel, até mesmo como no "Cantando para os Orixds", com as fitas gravadas das cantigas e rezas aqui contidas ¢ espero que tenha o mesmo éxito anterior. Mo diipé Qlédrun baba wa ati Ori mi ff gbogbo rere ki won sé flin wa (Agradego a Deus, nosso Pai, € a minha cabega por tudo de bom que eles tém feito por nés). Agradeco a minha familia, 4 esposa Wanderly (Ekéji de Omoli ati omg Qya), aos meus filhos Aline, Wagner e Altair Filho, que sdo os meus colaboradores diretos, de quem sem a ajuda eu nao teria aleancado 0 sucesso no trabalho anterior € com certeza também neste. Mo diipé peli ifé ghogbo ff iron- 16w6 si mi (Agradeco com todo carinho pela ajuda a mim). Agradego & Editora Pallas pela confianea em langar-me, um ilustre desconhecido, ¢ pelo apoio, incentive ¢ confianga em mim depositados, 0 que muito me tem estimulado a prosseguir. Mo dipé gbogbo yin bée fi l’'agbdra fin mi (Agradego a todos vocés também pela forga que me tém dado). Nao poderia jamais esquecer-me de agradecer aqui a todas as pessoas que adquiriram o nosso livro "Cantando para os Orixds" © nossas fitas, 0 que nos trouxe uma boa ajuda para a retomada da construgao do nosso [lé Ona (casa de Orixa). Essa esta, gragas a cles, sendo tocada devagar, mas com esperangas de que conseguiremos 0 nosso objetivo, pois o nosso trabalho encontra- se ainda no inicio e temos muito chao pela dianteira. Mo dtipé won ghogbo yin oré mi fi iranlgw6 wa ko ilé Orisa wa (Agradego a todos vocés, meus amigos, pela ajuda a nés concedida para construir nossa casa de Orisa). Quero agradecer também aos omg Orisa ilé ati won oré mi (aos filhos-de-santo da casa e aos meus amigos) que nos estio dando forgas, ajuda e incentive para que concretizemos nossos projetos. Dentre eles, eu gostaria de citar como uma homenagem especial o amigo Sr. Hélcio (Babdlégsdnyin), os omo Orisa ilé Al- berto de Oasaala, Jandira de Oya e Adelaide de ‘Omolu, 0 oré mi Ivanil Monteiro (Jorge)-e ainda o Ogan Mario de Ogin que foi para mim uma grata revelagio de amizade e carinho. Won gbogbo yin mo dipé, mo jiba péld ap4-ara kon an if€ papd oré yin CA todas voces ent agradcgo, apresenty os meus respertos com un abrage © muito carinho do amigo Altar de Ogtin). Altair T’Ogiin NOTA; As fitas com as cantigas € rezas contidas neste livro © no livro "Cantando para os Orixas" poderao ser encontradas com © antor no telefone (021) 76722669. VIL Prefacio Qualquer pessoa que se interesse por religido africana no Brasil encontrara, nos dias atuais, um vasto ¢ heterogéneo acervo @ sua disposigao. Sado obras das mais variadas temdaticas. Ha aquelas gerais, de cunho histérico ou antropolégico. Ha as que versam sobre casos mais especfficos, tais como hist6éria de uma casa-de-santo, depoimentos pessoais, usos das folhas, descrigao de itens, cantigas ¢ as que detalham partes dos antugos rituais. O Candomblé serviu, também, como pano de fundo para obras de ficgZo, como as de Zora e AntOnio Olinto, ¢ as antoldgicas, de Jorge Amado, De algum tempo para c4, vém surgindo as teses € monografias universitérias, principalmente na Bahia, no Rio de Janeiro ¢ em Sao Paulo, A varicdade, portanto, € grande. Acredito que o Brasil supere qualquer outro pais em obras sobre essa drea. Essa volumosa produgio Ievanta opiniécs antagénicas. Uns nao concordam com a revelagio de segredos da seita € outros acreditam que sua divulgacao tem um lado pedagégico que nao deve ser desprezado, O Candomblé, diferentemente do Cris- Ganismo, com a Biblia, c do Islamismo, com 0 Gordo, nao tem um livro sagrado revelado por Deus, para servir de guia aos seus fiéis. Esta diferenga é crucial, posto que sendo o Candomblé uma religiio de transmissao oral (até hoje), nado tem como im- pedir que, ao longo dos anos, aparegam dessemelhangas. Nor- malmente, as casas segucm preceitos deixados e ensinados por seus fundadores. Nos tempos mais antigos, havia troca de infor- mages entre os pais-de-santo e ajuda mitua. Hoje, tal pratica € mais rara, 0 que contribui para trilharem as casas, as vezes, eaminhos diversos, até mesmo entre as que tém uma origem comum. Para aumentar esta diaspora, ha a questo da forma de trans- mis o do conhecimento sagrado. Sendo oral, somente alguns detinham 0 dominio dos preceitos mais fundamentais, que pas- savam aos escolhidos por suas qualidades ou aos designados pelos Orixas. Nao era o fato de fazer santo que habilitava a pes- soa a ser pai ov mae-de-santo ou a ocupar um cargo na casa. Os segredos cram ensinados por quem os tinha para quem os mere- cia receber. Era, no entanto, um outro tempo. Tempo em que religido era caso de policia, tempo em que através do segredo ¢ da transmissao do saber a pessoas de confianga preservava-se a propria religido. Foi assim que ela atrayessou os séculos e che- gou até os tempos atuais. Atualmente, como os segredos sao apro- priados com mais facilidade, é de se prever que as divergéncias se acentuem. A contribuir, também, para diferengas esta a questao das in- terinfluéncias entre as varias nagdes africanas que vieram para o Brasil. Convivenda, as vezes, em espagos geograficos préximos, sacerdotes c¢ filhos de nagées distintas estabeleceram contatos, chegando a ocorrer, até mesmo, a incorporagio de cultos de Orix4s que nao faziam parte do pantedo orginal. Keru, Angola, Jeje, Grunci, Mina etc, forneceram, cada uma, parcelas do que hoje conhecemos no Brasil como Candomblé. Em algumas regides, uma nacio pode predominar, mas, s¢ olharmos bem, descobriremos tragos incorporados de outras que nao se tor- naram dominantes no universo religioso local. Percebe-se que ha grande heterogencidade ¢ modernismo cm algumas casas. Paralelamente, ha uma preocupagio em se registrar 0 conhecimento através dos livros, como forma de se compensar a diversidade, Cada livro publicado reflete a visio do seu autor, dentro do que ele aprendeu. E assim que vemos a obra do Sr. Altair B. Oliveira que ora publica a Editora Pallas. Sem entrar no mérito da polémica acerca do que deva ou nado ser publicado, saudamos mais esta contribuigao aos estudos da cul- tura ¢ religides africanas no Bra: Agenor Miranda Rocha Sumario Introdugio.... O Elég 0 Origen (be de © Omieyd (Ebé de agua salgada) tho Ighé (Eb6 das matas W Saida de Ogan ou B dos O: Ariage (Banho das folha kai On Introdugao Ao apresentar este novo trabalho, estou duplamente feliz. primeiro por ter recebide de Oldorum e€ dos Oris’ a intuigae para direcionar e apresentar um trabalho que, imodestamente, con- sidero bom. Segundo, porque sei que este trabalho vai ao encon- tro do descjo de intimeros individuos, a julgar pelas consultas e pedidos recebidos de outras pessoas, algumas até com, casa aberta ha alguns anos, mas que sofriam com diividas e até mesmo com 0 desconhecimento de grande parte dos rituais que aqui descrevo. um problema pelo qual eu também ja pass ci € sci 0 quanto é constrangedor vocé recorrer a ajuda de alguém mais velho, su- Postamente erudito no awo (culto), mas que, ou fica the cozinhando em "banho-maria", sem dar 0 que vocé neces- sita, mas que também nao nega, até que vocé "se manque" © parta para outra, Ou que de cara Ihe humilhe ¢ lhe ponha Para correr com “dois quentes € trés fervendo". Ou, ainda, que Ihe estorque levando 0 seu owé (dinheiro) fingindo Ihe ensinar ou ajudar em alguma coisa quando, na verdade, ajudam-se a si Préprios. Aqui, tive o cvidado de nao infringir 0 awo € passar segredos do culto, coloco tao-somente detalhes importantes das praticas Tituais as quais me reporto, que tém o objetivo de ilustrar € in- formar as pessoas que as executam mecanica ¢ automaticamente atos realizados, ou aquelas que, embora tendo tempo de iniciacaio ¢ obrigagdes, nao tém 0 conhecimento para executar aquilo que, em tese, estariam aptas a realizar, com o aval dos seus zeladores grande maioria, por motivos variados, resolvem entregar o "Deka" aos filhos, com direito a este ou nao, e o fazem ind criminadamente, enuegando uma paraferndlia nas maos de pes- soas cm sua miaioria inexperientes © sem o minimo de n, contudo, saber © porqué daquel Esses, em sua conhecimentos basicos para desincumbirem-se da tarefa para a qual esto se propondo, como ja disse, com o aval dos seus Jador cntrega a um filho um "Deka" significa que cle, o zelador, endossa tudo o que aquele adores. Pois quando um filho fizer doravante. Mas nao € bem isso que acontece. A Mmaioria que nado pode pagar, € muito bem pago, para obter a juda" no inicio, fica mesmo perdida "num mato sem cachorro!. A essus pes da religiao dos s descjosas de aprender ¢ entender os rituais risa, dedice este trabalho com todo aye. Abtair T’Ogin O Elégiin (o Médium) e a Iniciagaéo no Candomblé Dentro da liturgia do Candomblé brasileiro, como nés conhe- cemos, existem alguns homens € mulheres que se transformam possufdos pelos Orisa durante os rituais, esses sio chamados de Tyaw6 Orisa (filho do Orix4), (lyawé - csposa) ou Elégin Orisa (aquele que € montado pelo Orisa) ou ainda, simplesmente, por médium, na terminologia afro-brasileira. Essa possessao € bas- tante notdvel durante as festas ptiblicas nas casas de Candom- blé, quando se exibem os toques, as dangas € as cantigas rituais Para criar um clima que possa produzir um estado de éxtase quando os filhos sao possuidos ¢ acredita-se que as divindades incorporaram neles, quando entao elas se manifestam dire- tamente na pessoa incorporada. Nessas ocasides, as pessoas até dizem ou fazem coisas que normalmente nao diriam ou fariam, transformando-se assim numa outra "pessoa". Entao, clas cantam, dancam de maneira diferente, expressam-se verbalmente ¢ os fiéis recebem suas mensagens como vindas daquele Orisa, que agora esta personifi- cado no "médium". in Mas, para receber ou ter esta capacidade de incorporar o Ong, essas pessoas tém de passar por certos rituais de purifi- cagdo € iniciagdo para, ai sim, cumpridos os rituais, terem © privilégio de serem consideradas especiais, nao importando o sexo, a idade, ou o tempo de iniciagdo. Pois uma pessoa que pos- suir capacidade de incorporar o Orisa € vista como um escolhido ¢ nao existe honraria maior para um adepto do culte do que a ca- pacidade de incorporar um Orisa, emprestando seu Orf ati ara (sua cabega ¢ corpo) para tornar-se um meio de comunicagio di- reta do Orisa com os demais ficis do culto. Neste trabalho, pretendo apresentar e descrever alguns desses rituais pelos quais um Adésiiu (nome comumente usado para designar as pessoas iniciadas, muito embora tenha-se conhecimento de que csse termo somente é utilizado para os filhos de Sdng6 na Africa, segundo Pierre Verger, mas aqui no Brasil é do genericamente) torna-se apto a exercer este papel dentro da comunidade que cultua os Orisa. Nao posso € tampouco tenho pretensao de querer padronizar os rituais por mim descritos, mesmo porque cada casa tem o seu ase espeeffico ¢ descende de ase diferentes, onde certamente se en- contram intimeras variagdes ¢ nuances da forma de cultuar de uma Casa para outra ¢ que devem ser respeitadas as tradigoes de cada uma. Meu desejo é téo-somente colocar os rituais basicos para poder se processar a liturgia de uma maneira mais ou menos parecida, pois percebe-se uma discrepancia muito grande entre as casas de candomblé, inclusive da mesma nagao, € até entre casas de irmaos de um mesmo terrciro, cm termos de litur- gias internas ou ptiblicas. Essa idéia ocorreu-me porque cu mesmo ja tive grandes di- ficuldades em ter acesso a ensinamentos sobre a liturgia do Can- domblé, pois € muito dificil encontrar alguém que saiba e se disponha a ensinar espalhando o conhecimento necessdrio aos iniciados. Mas, ao contrario, negam-se ¢ levam para o timulo tudo o que aprenderam sem deixar 0 saber como heranga e, sim, aumentando a ignorfncia geral, 0 que gera invengdes e dis- torgGes das mais absurdas. Ademais, tenho conhecimento tam- bém de outras pessoas que, como cu, também tém vontade de aprender pelo menos o basico c encontram grandes dificuldades e obstiéculos por motivos diversos € alguns dos quais nao devo comentar pura nao suscitar pol€micas ¢ contrariar interesses, @ que me daria "pano para as mangas’. Portanto, quero deixar claro que nao sou doutor nem professor de nada, sou apenas um ¢g- bén (irm&o mais velho) que aprenden alguma coisa © quer vidir com os abtird (irmdos mais novos), porque eu também desejo © gosto de encontrar alguém que divida comigo seus gragas aos Orisa, sempre encentro alguém ‘a suprir alguma caréncia ou deficiéncia que tenho, c, como jue NEN tos: conhe: I cu gosto disso, qucro fazer o mesmo com outras pessoas tém também essas caréneias ¢ espero que realmente seja ‘itil ¢ do agrado dessa faixa de pessoas a quem me dirijo. Quando fui iniciado, no ano de 1966, ainda novo, ouvia con- versas de algumas pessoas mais velhas dizendo entre siz"... meu pai-de-santo sé assentou meu Exu na obrigagao de sete anos, por que iaé tem pressa em ter Exu assentada?” Isso me espan- tava, pois cu pensava que tode mundo tnha de ter loge o seu sentamento. Hoje, jd nado me espanta mais aquilo e tenho também outra idéia (maneira) de pensar, pois, conforme fui aprendendo, tomei conhecimento dos Ojtibo (assentamentos de culto colctivo, isto é, para uma famflia, vila, cidade, ete., onde todos da comunidade cultuavam juntos), 0 que me fez pensar questionando os assentamentos individuais, coisa que hoje eu assimilo tranqiiilamente. Mas, isso é coisa que demanda longa Conversa ¢ explicagdo para a sua compreensao. INICIAGAO DO NOVIGO ) recalher um abign, supde-se de antemao que o baba ou iyalédrisi jd saiba qual o Orisa do novigo, por jogos anteriores € por jé terem sido admitidos na casa, etc. Digo isso por achar que um abion, ao chegar numa casa, néo deva ser logo iniciado. Penso que deve freqiientar a casa por algum tempo, passar por rituais de limpeza ¢ propiciatérios, para ir verificando alguns tépicos importantes: tanto dentro dos rituais em si, bem como de adaptagao da pessoa a casa € vice-versa; pois a pessoa pode gostar muito da casa, mas no ser accita por incompatibilidade de idéias ou comportamento, também com a reciproca bem ver- dadeira, na qual a casa tem grande interesse naquela pessoa, que aos poucos vai descobrindo coisas que nao lhe agradam ec ter- mina indo embora. E, no caso, nao havendo empatia ¢ en- trosamento, a relacdo pode ser desfeita sem maiores problemas ‘ou traumas para ambas as partes. Mas, se hauver dtvidas quanto ao Orisa a ser iniciado por ainda nao estar definido, o procedimento antes do recolhimento deve ser: fazer um ebo para Esti na pessoa e despachar na rua, em seguida fazer um ebo ikt, despachd-lo e, dar um obi 4 ca- bega da pessoa com égbo (canjica cozida) ¢ &kasa brancos, ¢ co- brir a cabega com folhas de saiaio. Na manha seguinte, bem cedo, antes do desjejum, 0 baba ou iy deve retirar a obrigagao do ori do novigo, pegar as folhas de saiio que cobriram 0 orf, colocar sobre o ala € jogar os ow6 érd (cauris) para assegurar-se realmente de qual Orisa se apresentard no orf do novigo. Mas, caso nao tenha qualquer impedimento desta ordem, o procedi- mento € 0 scguinte: 1) Ebo Esti dndn (ebé de Exu no caminho). 2) Ebo iki (cbé para despachar a morte, doengas ¢ outras ne- gatividades), 3) Ebo Onilé (eb6 para o Senhor da Terra). 4) Igba Bsit (assentamento de Exu). 5) Ebo omidiin (cbs das aguas doces). 6) Ebo omi iyo (cbs das aguas salgadas). 7) Ebo igbé (cbé das matas com ofcrendas para Qs6nyin, si, Aginji e lyami Ajé). > (banho das folhas consagradas do Oris’ a ser ini- ciado). 9) Fri &kinnf (primeira raspagem da cabega). 10) Ebo Est (para o Exu da casa ¢ o Exu que esta sendo as- sentado). 11) Ebo Orisa (8) we on sundide, banho de éjé da iniciacgao do iyaw6). 12) Ebori (oferenda a cabega). oO abfon. antes de recolher-se, ji deve ter todas as coisas ne- cessdrias para a feitura, inclusive ow6 (dinheiro) para os animais dos sacrificios, muito embora algumas pessoas sejam do pen- samento de que primeiro recolhe-se o iyaw6, depois entéo é que io surgindo. Bu particularmente nao concordo com essa maneira de pensar, pois, assim sendo, ficara uma coisa im- provisada e ao sabor do acaso dos acontecimentos. Sou da opiniao de que tudo ja deve estar esquematizado c os materiais nec folhas, conta as Coisas ‘ios providenciados com antecedéncia: animai ete., ¢ de antemao saber quais os dias e quais obrigagdes serio. feit: nada de improviso, para fazer coisa séria ¢ bem- Como ja disse anteriormente, no sou professor de nada ¢ nao pretendo ensinar, ma sim dar algumas dicas aos que se in- teressarem. Para a relacio dos materiais necessdrios, cada um faré aquilo que € de costume do sen préprio age, mas algumas € nao podem faltar; nesse sentido, darci uma pequena relagdo de algumas coisas im- Portantes € 6 restante cada um completard de acordo com o da sua casa ou até mesmo retirar, se for o caso. Os materiais ne- cessarios numa obrigagio de orf coisas sido comuns a todos ¢ indispensavei Obi (varios) Orégbé (varios) Ataare (1 fava) Dandd-da-costa Aridon a—uma fava ou duas) Ikéodide Contas Ow6 eyo ptipa Palha-da-costa Saworo Adé Ori Ose did Efun Ostin Waji Abe A iimoengaji Saliba Oja A 0 funfun (uma para cada iniciado) (migangas do Orisa em ques r lke, mais algumas para os fies do Oris Onilé (dono da casa) e Orisa kéji (segundo Orixd) e para Oasaala (muitos cauris para os assentamentos € en- feites necessdrios) (para fazer os contreguns e para amarrar al- gu (se Orisa oktinrin (masculino),no tornozelo din ino), no tor~ nozclo esquerdo) (cabacinhas de pescogo na quantidade de acordo com a necessidade) (vegetal, verdadeiro) (sabao-da-costa) : apetrechos) 0, se Origa obinrin (femit (navalha, uma para cada iniciado) (tesoura, também uma para cada iniciado) (funfun (brancos)—chinelos) (faixas para amarrar o ort) (roupas brancas) (esteiras) (toalhas) (folhas de Esit) (folhas do Origa iniciado) (os animais para os sacrificios) (em caso de assentamentos individuais) (também em caso de assentamentos indi- viduais) (chapéu para usar apés a saida, no caso dos homens, ¢, se Ogdn, j4 vestide para o oniko) Aso odtin (roupas da festa). Todos os ingredients necessarios para as comidas (oferendas a serem feitas, as comidas secas ¢ comidas da festa). Estando ja tudo providenciade c @ mio, prepara-se a casa para receber o abfon, fazendo uma limpeza (sacudimento); tio logo cle scja recolhido nao ocupa o runko antes de scr sub- metido as limpezas rituais, a saber: Ebo Bsa dndn (ebé de Es do caminho). Ebg Ik (muito conhecido como 0 ebé ''de tudo que a boca come"). Algumas pessoas fazem o ¢bo iki com grandes quantidades dos diversos alimentos, mas isso nao € necess4rio; prepara-se sim uma boa variedade de alimentos, mas pouca quantidade de cada, porque é algo simbdlico e o importante é a qualidade e nao a quantidade das oferendas. E apés o bo ikd, entao, é que sera dado o banho de folhas que fora previamente preparado. S6 af entao € que o abion é recolhido. Em minha casa, mesmo antes do aparecimento da AIDS, adotei o costume de cada iniciado ter a sua mavalha e sua tesoura, porque s4o instrumentos particulares de cada orf (ca- bega); pois, assim como sao necessa4nios durante a feitura, tam- bém serio necessarios na ocasido do asésé de cada pessoa na preparagao do dk«i (corpo do defunto) para ser entregue a terra, entao cada um deve ter os seus, ¢ hoje cm dia, além de medida de higiene, serve como precaugio da contaminagao de doengas, inclusive a AIDS. Faremos aqui um paréntese para dizer que nos dias em que se vai fazer qualquer tipo de culto aos Orisa, jogo de caunis c, Ptincipalmente, quando se recolhe uma pessoa para obrigacdes E necessario que o baba ou iyalaase se levante bem ccdo, antes de o dia raiar, para fazer os OfO (cncantamentos) para pedir forgas, protegio © ajuda aos imonlé (espiritos). Comega-se com uma sauda¢ao a Onilé (o Senhor da Terra), que pode ser uma cantiga pequenina como esta: Iba Onile, Onilé mo jiiba awo. (Sua béngio Orix4, A béngao,Senhor da Terra, Senhor da Terra, apresento-vos meus respeitos cultuando-vos.) Apés a sandagio para Onilé, satida-se i sil OOta Orisa, Osétura Pordko tyd ré npé. Alégongon ija l'ordikg baba ré npé. Bst Odara, omokiinrin id 16 fi. OE séisé sorf, orf sé eléesé. O kaje, kasi cni je, Kini fje ghee ni. Aki l’6w6 Idi mu ’ Est karo, Aki Payd Idi mu CEsb kird. Ase 6 6 tun sé 6 si ni iti. Esti Apata séomo, oldomo |’Enun. O fi dkcita dipa iye Légémén Oran a Ald kéalii. Papa wara atu ka m: E3u miasé mi, masé won. omo mi, masé aya mi, (magé oko mi) Masé won dré mi, masé won omodrisa mi, ete. Agel j (Exu, oficial da guarda dos Orixés.) Como aquele que recebeu 0 axé ainda no ventre, sua mae Ihe chama, ‘Como aquele que tem grande velocidade nos pés dentro da briga, o seu pai Ihe chama. Exu Odara, filho homem, mas que também usa clitoris. E aquele que tem a cabeca pontiaguda ¢ que pode caminhar de ponta cabega (pés para o ar). sé sa. 10 E aquele que, se nao come, também ninguém come, E que, quem come € porque Ihe deu a sua parte. A quem nés cumprimentamos sempre pela ajuda cm trar- nas os males, A quem nés saudamos alegres sempre por livrar-nos dos males. E aqucle que tem © axé do tato, da percepgiio ¢ da sensibili- dade. b Exu, pedra que € 0 filho cujo pai mora dentro de si. Ele transforma a pedra em sal. Senhor poderoso e inflexfvel no céu, grande coletor de postos das cidades, ‘Também faz o leite virar queijo sem talha-lo. ‘xu niio me faga mal, nao faga mal aos meus filhos, 4 minha esposa (ao meu marido). Nao faga mal aos meus amigos, aos meus filhos-de-s anto, etc. Assim seja! Entao, apés 0 of Es , passamos ao ofd Egiingtin: Egan a ye, kil sé bod érun. Mo jiba ré Egtin mdnriwo Akfi dé wa 6, a kfic Egingin. Won gbogbo ard asiwajd awo, won ghogbo 0 mi, mo pe gbogbo ényin Si fain mi aabo ati ironlow6. Mo tumba baba Egqin, ase! (O espirito para nés sobrevive, € a quem nés saudamos e cul- tuamos no céu. Aprescnto-vos meus respeitos, 6 Espiritos,ao ouvir o som de VOSSaS VOZES. No6s vos saudamos quando chegais até nds, vos saudamos Espfritos. A todos os ancestrais do culto, a todos Os ancestrais da minha familia, eu chamo a todos vés Para virem dar-me protecao € ajuda. 11 Eu peco a béngao,Pais Espfritos, ¢ que assim seja!) Logoa seguir, faz-se 0 of lydmi Osdroigé: Mo jiiba ényin lyami Osdrongé O tondn & O tdgkdn ge Edd. Mo jiiba ényin lyami Osdroniga O tonén Ejé cnun O thokdn ee eda. Eje 6 ye ni kale 0 O yiye, yiye, yeyé koko, O yiye, yiyé, yeyé koko. (Meus respeitos a v6s,minha mae Oxoronga, Vs que seguicis os rastros do sangue interior. Vos que scguicis os rastros do coragao ¢ do sangue do figado. Meus respeitos a vés minha mac Oxoronga, V6s que seguicis os rastros do sangue interior. V6s que seguicis os rastros do coragao e do sangue do figado. O sangue vivo que € recolhido pela terra cobre-se de fungos, E ele sobrevive, sobrevive, 6 mac muito yelha. O sangue vivo que é recolhido pela terra cobre-se de fungos E ele sobrevive, sobrevive, 6 mae muito velha.) Por tiltimo,entao, faz-se 0 of Oléojé Ont: 1) Qld0j6 dni [f4, mo jiba re. 2) Oli dayé, mo juba ré. 3) Mo juba omodé, éjé enun 7) Kiiba mi sé. 8) Mo jiiba awon. . méérindinlégtin. 9) Mo jaiba baba mi (... Origa re). 10) Mo turh jiba awon Tya mi elgeye. 11) Mo jriba Oninmila, 6 gbdayd, 6 gb 12) Ohunti mo ba wi l60j6 oni 12 13) Ki 6 ri béé ftin mi. owd, majé ki $ndn mi di, 15) Niitorf yii Ondn kd di mon 9j6, 16) Ondn ko di mon odgin. 17) Ohuntf a bé ci wi fin Ogba, r ‘Ogba ngba. 18) Ti lldkase nf sé Kawijo Agbin, 19) Ti Ekese nis 20) Olsoj6 Oni ki 6 gba 6rd mi yewo, 21) Ase! 1) Senhor € dono do dia Ifa, apresento-vos meus respeitos. 2) Senhor da terra, apresento-vos meus respeitos. 3) Meus respeitos aos mais jovens (novos). 4) Meus respeitos aos mais velhos. laawijo Owti 5) Se a minhoca vai a terra respeitosamente, 6) A terra abre a boca aceitando-a, 7) Que a béngio me seja dada. 8) Meus respcitos aos dezesscis mais velhos (Odii agba). 9) Meus respeitos, meu pai... (seu Orixa). 10) Eu tomo a béngao as minhas maes Senhoras dos passaros. 11) Meus respeitos, Ordnmila, aquele que vive na terra € vive no céu. 12) Qualquer coisa que eu diga no dia de hoje, 13) Que eu possa vé-la acontecer para mim. 14) Por favor, ndo permita que meus caminhos se fechem, 15) Porque os caminhos nao se fecham para quem entende 0 dia, 16) Os caminhos nao se fecham para quem entende a magia. 17) Qualquer coisa que eu diga para Ogba, que Ogba aceite. 18) lakOse tornou-se 6 mais importante na assembléia dos es¢ tomou-se 0 mais importante na assembléia do al- godio, 20) Senhor e dono do dia, que vocé accite minhas palavras ¢ verifique. 21) Que assim sejal 13 Essex ofQ podem'ser feitos acendendo-se velas para cada en- tidade, para que 0 amanhecer do dia as encontre acesas, entao nesse dia vocé esté preparado para realizar qualquer culto on tra- balho ¢ principalmente para o jogo de cauris. De acordo com a tradigao Yoriiba, o jogo de cauris s6 pode ser feito enquanto houver a luz do dia, mas, durante o perfodo de recolhimento de um iyaw6, © jogo fica permanentemente aberto noite ¢ dia ¢ convém ser fechado durante esse periode para as pessoas de fora estranhas 4 casa, muito embora a maioria nao dé importaneia a isso. Mas deve ser feito para evitar quaisquer negatividades aquclas pessoas na casa, que venham a perturbar © proceso de iniciagio cm curso. Durante a noite, se houver necessidade de abrir 0 jogo num dos rituais, faz-se uma lamparina de dendé com pavios de algodio cru. omokiinrin id 16 fi" ( s"), nfo se quer dizer No of de Est, quando dizemos " filho homem. com isso que Egit seja andrégeno, mas sim a sua condigao de re- sexuais, tanto dos homens quanto mas que também usa clité gente dos 6rgaos ¢ prazere das mulheres, ¢ @ que rege a reproducao, portanto, comanda os Orgdos sexuais masculinos ¢ femininos. E, em outros t6pices, en- fatiza-se o poder infinito ¢ inesgotivel de Esit, com proezas que somente ele € capaz de realizar e 0 faz para mostrar a todos @ seu poder © sia magia © obter respeite por isso, Embora haja am- bigitidade, esta € uma caracteristica de Esti, ser ambiguo: ser bom, ser man, cxcitar o macho ou a fémea, fazer coisas possiveis Ic ¢ impossiveis € incrente a Esi. Retornando aos nossos primeiros rituais, temos ainda algo para complementélos, no caso do ebg Est Qndn (ebé para ext nos Caminhos), um dos que eu acho faceis € baytante cficientes para despachar negatividades, até mesmo aquelas com influén- cias do Odi Okonron, € 0 seguinte: 1 kg de farinha de mandioca (cria) 1 frango (de qualquer cor) 1/2 litre de epo pupa (dendé) 14 14 graos de ataare (pimenta-da-costa) 7 velas (brancas comuns) 7 moedas (correntes) 7 folhas de mamona (grandes) Com parte do ep6 (dendé) fazer num oberg (alguidar) pequeno uma vela africana com quatro pontas (pavios de al- godao embebides no cpo) que sao acesas. Acender um fogarciro de carvio c fazer uma farofa de dendé bem pupa (vermelha), tendo o cuidado de nao deixar queimar. O abjon fica de pé ¢ ao seu redor faz-se um semicirculo com as folhas de mamona de modo que as folhas se toquem nas pontas, ¢ ele fica de frente para a abertura entre a primeira € a tltima folha. Quando a farofa estiver bem quente, o baba ou ty4 pée sete graos de ataare na beca ¢ comega a mastigé-los. Entao, pega a pancla da farota quente ¢ divide mais ou menos igualmente pelas sete folhas de amona ja recitando o of Bsit sera dado a seguir). Ao terminar a divisao da farofa, o baba ou iya passa no iyaw6 o frange, que deve ser sacrificado sob os pés com o primeiro €jé escorrendo sobre a primeira felha com a farofa; em seguida, deve ser seguro ngo de modo que ele nao se debata e regar o restante do éjé 's outras folhas. Ao chegar a tiltima folha nao se retorna. Deve- esperar até o frango morrer (isso tudo recitando 0 of6 ¢ fazendo pedides para a seguranga c integridade do abfon), pedindo abertura de caminhos para iniciar os rituais © retirar as negatividades. Apés a morte do frango, coloque-o numa bacia Junto 4 primeira folha € comece a cortaé-lo em sete pedagos que Serao distribuidos um para cada folha com farofa (inclusive os Gr- te par 0 considerados uma das s “los internos com as tripas s > Pois o frango € cortade com penas e tudo pelas juntas nas 4sas Tente ao peito, sao duas partes; as Coxas junto a carcaga, sio mais duas; abrir o peito c retiré-lo inteiro com o pescogo c a ca- bega, com esta completam cinco, depois se retira tudo de den- tro, jd sao scis: por tiltimo a Garcaga inteira; € sempre recitando o of © fazendo pedidos). Logo apés, lavam-se as maos, entio pegam- 15 se as velas que devem ser passadas no corpo do abion, uma de cada vez, € acendidas junto as folhas, da primeira para a ildma na mesma ordem. Isso feito, pega-se um grao de ataare c dase para o abion mastigar, juntamente com uma moeda para que cle = por todo © corpo, da cabega aos pés. Quando terminar de passd-la, o baba ou iya levanta o pedago do frango da primeira folha ¢ 0 abion coloca a moeda enterrada na farofa € cospe a sa- iva acumulada pela mastigagao do ataare, € assim sucess pass vamente até a dltima folha. O of yi é 0 seguinte: ty Odara, 2) Onilé k6ngun-kéngun ade orun. 3) O ba obinrin je, 4) Oba 9 5) Onibodé run. 6) Baba 6! 7) Wa gbeemi 6! (no caso, Wa gh 8) Qga ki 6 ri j¢ mind idarn, 9) Est logémén orun. 10) M 11) Esit mayé mi, 12) Mase (lagbaja. 13) Agd london frin wa, 14) S’onon (ighaj }ni rere, 15) Ase! 1) Exu Odara, 2) Dono da ¢ (infinito) 3) Vocé que come com a mulher, 4) Voeé que bebe come homem. 5) Porteiro do céu 6) Pai! 7) Venha socorrer-me (no caso: venha socorrer... nome do iyawd) 8) O chefe que é visto sempre e esta dentro da confusao, nrin mu. .. nome do abfon) ) viet ija re a Cujas fronteirus estio acima de teto do céu 16 9) Exu, Senhor poderoso c inflexivel no drun (céu). 10) Nao permita que eu (ou fulano)... veja a sua briga. 11) Exu nao me faga mal, 12) Nao faga mal a (fulano...) 13) Dé-nos licenga nos caminhos, 14) Faga com que os caminhos de (fulano...) sejam bons, etc. 15) Assim seja! Ao terminar este cbo, se houver espace suficiente para fazer 6 ¢bg ikt, eruza-se o abfon com uma quartinha com Agua ¢ tira- se do semicirculo deixande as velas acesas enquanto faz-se o ebo ikti, também continuando acesas as velas africanas (o dendé do obero). Mas, se nfo houver espago suficiente, o préprio abfon, antes de ser retirado, apaga as velas com as pontas dos dedos uma a uma, da primeira para a tiltima. O cbo € recolhido folha por folha cuidadosamente para nao rasgar € entornar, ¢ colocado numa bolsa ou saco para ser despachado posteriormente junto com o outro ¢bo. Partindo-se da premissa de que o ¢bo ikt ja esteja todo preparado, tudo deve ser passado pelo corpo do abign enquanto se canta: re eb kts Ongn rd ré ebg ki Onon (Sacudo-Ihe com ebé para pér a morte no caminho (mandar embora) Sacudo-lhe com ebé para pér a morte no caminho!) Olya gbalé léri 6, 6 yd gale. Olya gbdlé léri 6, 6 iya gbdlé. Gbalé, gbdlé kint séri 6, Iki gbile léri 6, ikti gbalé ara nlo. (O mie, varra sobre a cabega dele, 6 mie varra. oO mie, varra sobre a cabega dele, 6 mae varra. Varra, varra 6 que estiver sobre a cabega dele, Varra iki de sobre a cabega dele, varra ik para que cle v4 embora do seu corpo.) 17 Essa € uma cantiga de Oya que € apropriada para desearre- gos, tendo ai ikii o significado de morte, insucessos, caminhos: fechados, ma sorte, doengas, etc. Ao terminar de passar tudo pelo corpo do abjon, rasga-se toda a sua ronpa (que deve ser velha € ter sido usada por todo 0 dia), que deve ser também despachada junto com 0 ebo. Bate-se o 11 corpo todo com as folhas escolhidas para o sacudimento, de~ pois ele € envolvido num lengol branco € levado para o banho, apos o que cle recebera as roupas novas ¢ sera recolhido ao runkg, s gnificando esse ato que ele esté trocando as roupas mundanas pelas vestimentas do culto, onde cle renasce: forga do Origa Uma coisa que deve ser ainda observada € que antes de preparar a eni (esteira), coloca-se sob ela as folhas importantes do Orisa do iniciando. Isso significa simbolicamente que ele se recolhe ao ighdé (mato) onde tera como cama as folhas do seu Orisa. Sabe-se que antigamente era costume tanto na Africa como aqui no Brasil recolherem os iyaw6 no, mato para os rituais de iniciagdo e, quando esse costume comegou a ser abolido, ainda persistiu a prdtica de libertar o tyaw6 "virado" no Ere (eri- anga) por alguns dias para recolher as folhas do seu Orisa e sobre- viver no igbé por um determinado perfode, 0 que era considerado uma grande prova de que se estava iniciando um: Origa verdadeiro ¢ nao um &ké (mentira, falsidade). Mas, hoje em dia, nao é mais possivel fazer isso, pclo menos aqui entre nés, por causa de uma série de dificuldades ocasionadas pelo sistema de vida modemo ¢ urbano vivido por nés; entao, ha que pela se fazer adaptacdes ao nosso tempo sem, contudo, mudar total- mente a tradigao, ficando pelo menos a representacio daquilo que se fazia antigamente. Outra coisa que também era feita anugamente era o costume de se fazerem os ebo em seus locais diretamente, ou seja, no proprio iyaw6, mas nos locais diretamente onde esses eb riam despachados; entao, safa-se para o caminho para fazer 0 cho 18 fist, ia-se a um local fechado do ighé para sc fazer o ebo ikea 0 cbg ighé era feito em local da mata diferente para os Orisa ighé (Igbé Ikti - floresta dos mortos; Igbé Orisa floresta dos Orixiis); os ebo omidin (agua doce) cram feitos diretamente nos mos, onde ‘logo apés j4 cram banhados os iyaw6 antes do ariase (banho das ervas). H4 pessoas que ainda gostam de fazé-lo as- sim, mas isso s6 € possivel quando se tem uma grande drea para a casa de candomblé, onde se encontram matas, nascentes de gua e se tem privacidade para cultuar sem olhos estranhos ob- servando, Como nem sempre se pode ter o ideal, temos de fazer © possivel no caso de quem nao tem a felicidade de ter uma grande 4rea para sua casa de culto, 0 mais aconselhavel, penso cu, € fazer os ebo em casa, passé-los todos no iyawé ¢ depois leva-los cada um ao seu Iugar de destino, evitando assim que cle acabe de passar pelas limpezas € ao retornar passe por coisas de- sagrad4veis, como por exemplo: aconteccr um acidente de es- trada com mortos, ou passar pela porta do cemitério, ou mesmo uma briga ¢ ainda outras coisas desagraddveis que podem vir a invalidar toda a limpeza jé feita. O individuo consciente, ao se deparar com uma dessas coisas, tem de tomar providéncias para afastar os efeitos que uma delas fatalmente tera sobre o iyawé futuramente. Agora, voltando ao nosso iyaw6 ja recolhido ao runko, limpinho ede banho tomado (ariase), a providéncia inicial em seguida € dar- lhe um obi a cabega, que € a primeira ¢ pequena obrigagao que 0 orf receberd € que necessita de: 1 obi id4rin (obf de quatro partes também conhecido como obi abata) 7 ou 10 Akasa brancos (de acorde com o odii que responder para Odsaala) Ezbo (canjica branca cozida) 1 quartinha de barro Ori vegetal Efun 19 Dand4-da-costa Folhas do Orisi (para cobrir 0 orf, o mais comum € usar o saido, uma das folhas de Odsaala para essa finalidade). Qj4 funfun (faixa branca para amarrar 0 ori). Esse ritual comega com as satdagoes ao orf do iyaw6: Aga fin mi Ori, ago fiin mi Origa. Ago fin mi OnisaAli Baba Oke. (Dé-me Ticenga cabega, dé-me licenga Orixd, Dé-me licenga Grande Orix4, Pai acima de todos!) Ori mo kil ¢ pe Ago yé Oléri, agd ye Elééda! (Cabega cu vos satido delicada € gentilmente! Com licenga, salve o Senhor da cabega, com licenga, Salve o Senhor da Criagao (Olédiimaré.) Essas saudagdes sfo feitas mastigando-sc o danda-da-costa. Apos as saudagées, pega-se um pouco de ori (manteiga vegetal) ¢ esfrega-se na parte dianteira do ori dizendo: Ago asiwaji ori! (Dé-me licenga frente da cabega!) Depois na nuca dizendo: Ago k (Dé-me licenga parte de urs da cabega!) A seguir, do lado direito dizendo: Ago 6uin ori! (Dé-me licenga lado direito da cabega! Depois do lado esquerdo dizendo: Aga as (Dé-me licenga lado esquerdo da cabega!) E por tiltime esfrega-se o ori vegetal no alto da cabega, dizendo: Aga dke orf! ou Aga aarin orf! (Dé-me licenga alto da cabega, ou dé-me licenca meio da ca- bega!) ‘hin ori! ori! 20 guida, repetem-se os gestos cas palavras na mesma or- aala so- Em dem, s6 que desta vez passando efun com o atin de Or bre os locais com ori vegetal. Em seqiiéncia, toma-se 0 obi com as duas maos, molhando-o na d4gua da quartinha, que deve ficar destampada por todo o Bn tempo, ¢ diz Ori 6, mo Apé ényin, wa gba obi, wa je obi! (O cabega, eu vos chamo, venha receber obi, venha comer obi!) Deve ser recitado segurando-se 0 obi sobre a parte superior do ori, onde jé se tinha passado o orf © atin ©, em seguida, cruzando o orf naqucle mesmo sentido de antes. O atin € o mesmo que a conhecida "pemba", s6 que o atin nao é simples- mente aquela pemba branca ralada ¢ que se compra nas casas. de ervas, mas um preparado com ervas ¢ raizes secas de Oasaala € outros ingredientes. Terminada a invocagao, parte-se 0 obi com os dentes ¢ retira-se aquele pequeno talo que fica no secu inte- rior, também com os dentes. Juntam-se as partes, molha-se no- vamente na 4gua da quartinha, ¢ entao se joga para saber se 0 orf respondeu e se pedemos continuar o ritual. Se cafrem duas partes convexas para cima, € Obi idéméji — significa sim. Se cairem trés, € Obi idéata—significa nao. Sc cairem quatro, € Obi iddarin (aléfia) — significa sim. Ou, se cair apenas uma, € Obi kon (OkOnron)— significa nao. Se cair uma das respostas negativas, deve-se rever o que foi feita © tornar a chamar 0 orf para entao jogar novamente o obi. Caindo alguma das respostas positivas, é sinal de ter sido aceito € consentir no prosseguimento. Toma-se, entao, uma das partes do obi, que deve ser dividida em um pedago para o babé ou iya © outro para o iyaw6, que deve mastigd-los sem, entretanto en- goli-los. Outra parte deve ser dividida entre as demais pessoas Presentes, 0 restante vai para a quartinha. Enquanto se mastiga © obi 9 baba ow iy4, que estava com o dand4-da-costa na boca, continua fazendo pedidos de felicidades ¢ tudo de bom para o 21

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