You are on page 1of 8
ENLOUQUECER O SUBJETIL JACQUES DERRIDA Lena BERGSTEIN pinturas, desenhos ¢ recortes textuais ‘GeRALDO Gerson DE SOUZA rradagéo ANAMARIA SKINNER tevisio tdenica Esra x om lB ENLOUQUECER O SUBJETIL CChamaria so de uma cen, 2 cen d subi, se nla fo encomtrase uma forga para subilizaro que sempre pe em cna: visiilidade,o elemento a represeagio, a presenga de um sito, até mesmo de um objeto Subj a palawa ova ois, pode tomar 0 agardosjeito ou do bj, ‘Rio é net um nem @ outro. Por tés vezes ao menos, 1és veves ao que eu siba, Antonin Artaud fila deo que échamad de subi” Hedi realmente ‘o gue & chamado” Nomeacdo inde, aspasinvsreis, lio ao dicuso do onto. Serves da palarra dos outros, mas tale ia dizer outa cose, calvez Ihe ordene que fayz our cis, ‘Nas 8s veaes é para falar de seus desenhos, em 1932, em 1946, em 1947. ‘Mas devese por isso acredicar que alguma ver ele flo a epeto de seus desenhos? E, principalmente, que nos seja posstvel ou permitido fixé-lo? Nao vamos conta ahistria do subj sim, de preferéncia, as lembrangas de sua incubagi, Na primera vez (mais adiante, ficaremas atentos ao que aconteceu apenas uma veza Artaud), em 23 de serembro de 1932, ele termina assim uma cataa André Rolland de Renévlle:“Incluo nesta um desenhoruim em que fo quesechamao subj me tau”. B Joucura mas também paixio ou por me" Inercescores, mediadores, porta-vones,figurants,fetiches? E por outro lado ésempre fad do subjél por “igurs”interposas, O que é aque seca? O que é que no diza nada? As figuras, “sobre a pégina ine” “wb minha ma, Grif sabre sob, Quanto ao subj cle se estende sobas figuras que si langadas sobre cle para af submeter-e 3 furioacrugia Conde, aha, raspas limar, cose, descser,efarapar,retlhar € cosurar.”), fariasa como se diz da loucura mas também da pao amore. ‘As figuras nio dizem nada, nem a pégina inette, co tinico queixoso ¢ Artaud. ‘Mada apaentemente sem vida, as figuras parecem no entanto chamer todos os goles, “elas se me ofeecian”, aus ela chamam enti sem inspirar 0 desenho, sem nee intoduzir 0 sopro ou oeapriv, Més ners, sem ida, mmoles, deumescente,sse pensar no que soci a mé ao monte informe e inorginico, ao acimalo de veges amontoados (madeira, plavre, a meda de esterco et), Mas ainda més, todas muda ners, cuja matraabrasiva, clindro de pera ou de metd, molar mesmo, tona-e corpo mesmo a csfrega,agudizar,limas, gata. E 0 papel da “pégina inerte” assemelharse-ia enti a papel de video contra o qual um lipis pontudo tia dese agudizar ras também de se adelgapar. Deimos esa plzvra me (uma playa uma ‘m6) com suas associagéesformais ou semanticas. Saibamos somente que ela ‘ver muitas vezes sob o ips de Artaud — que a ama, pos, ecultva uma pala, por exemplo, “subjé” para anes falar mal da coisa. _—_Asfigntas, portant, ¢ nfo 0 préprio subjétl, se pelo menos tal coisa exists. O subjil nunca éErerlmente o que é Fala-se dee sempre por figuras. Todos pensam tlver que forando” um pouco a coisa, hé muito tempo Thes conto a histia do subi, ede seu cardio em summa, com suas tuts estagdes. Nao, o subjétil nao tem histéria, Ble € 0 que néo tem histéria, mesmo que su nome tna uma, porque ele nfo existe com ese nome, Ele em todo caso o que € fia par, detnado aufo ter hisiria. A hisbria, outros diam o mito, recta apenas seus tropos, e a permutacio intermindvel dle suas igus. Sio “As figuras. que “eu pod.” 16 deseo de verdade Queer podiao qué CContentemo-nos para acabar com esta observacio. O que eu podia, ex mesmo, tem sempre o duplo valor, duplo enlo-dialtco, de uma opera, Operas cntrgica, come vim, abalho da mio, eda mf do homer Operas aritrtsca mila (omar ¢ multiplcar ao meno tempo subirando, acrescentar destruindo). Operas que, pensando bem, através da ambiveltncia do gst, obra deixa a testemunha marinade de wm opus resta o vesigo de uma operaséo que poderiacla mesma terse enfureido,¢ eslouquece, © louco permanece Cada gosto e antes de tudo cada vesbo tem esse duplo valor Sondar: 1. O golpe de sonda opera por penctracfo, caminha em profandidade, eventualmente através de uma perfuragio que tebentaa superficie e pasa para o outro lado, “Eu poi onda,” is significa eno: cu podia progredirnainimidade o transgredir um limite, soba pel, uma veo fiurada a piderme. O elemento em cuj fundo desce no mais das vezes uma sonda submersielapaentasa0lguid, elemento mainho ~ 2s “Aguas ines" — que oferece pouea ressténcia ao instrument de churmbo, Este pode meigulhar a como um ponte [mind, prestes a desea af ou explodit. ‘Mas en podiasondar também um terreno como que para ter acess a alguma rina, e sso condur 20 outro senido da sondagem, que vai menos para a intrusoagressva ou transgressva que par o dejo de verdade, 2. Bu pola sondar para procure sabe, para descobri a verdad sob o subj, ards do ‘véu ou da tela [én]. Eu podia com a poata de um instrument de apontar procurrinstuir-me, dciftaro sna ou osintoma de uma verdade, © golpe de sonda prepara assim o diagno, Sond as figuras no momento cm quc “els se ofeecan’, ecuande-se ou expondo a inca de um corpo doente & aprestarse para tratlos para seu bem a partir de ua verdad, Tidhar: 1. *Bu podia. raat” as figuasferindoas, eu era bem capa de entails, co-las, rnchélas, pars, recor as, pas em pedagos. 7 peaminho (Com auaio do excalpeo, de tesouras, de disecadors, faces, pnta epenas: talhe, entalhe, diminuigio, castragéo. Mas talhar, 2, & também regenerar, fortalecerdeshastando o que prejudica o crecimento,despoar, decotar, desbasar,rejuvenescer, devolver o vigor a uma drvore ou a um membro, salvar em suma, isicae simbolicamente, sai em socorro de um sueito ou de tum abjeto, Fazer com que ele possa, como a physis, medtare desabrochar em sua verdade, mostrarse em seu crescimento, Raspar: 1, “Bu poi. spat” porque podiainita asupefice, acackla por ato com a ajuda de um instrumento ma exemidade da mio, eso pode sera uns, Raspando coro o risco de fei, fo com que o corpo que ataco asim pera substncia. Queto mal pele, Mas 2. rspando, putfco, ppcificn, apago o que est escrito para escrever outra ver. Como os copistas da [dade Média, endo todo o pergaminho servindo-me de um instramento que ao mesmo tempo dt polimento, prepara e rasp a superficie na qual novasinscrigdes, que “raspo” também, poderiam dizer a verdad, a menos que 0 desnudamento do suporte ou do subj pla prdpria raspagem néo constcua ainda a operago de verdade. Em suma,rspando, poss também salar o subj em sua verdade, traces & outa superficie disimulada, asfcads,entesrada sb 0 depésito, ima. "Bu poia...ima", crtera figura mais uma verde uma mancira diferente, Sempre por ait, cetamente,eraspagem, mas des vr acompanhando a obligidade dos dents de metal, molares contra mds. Mas 2.2 agyesio que reduz dese modo a super €desinada a pol, aia, jus, enformay, embeleay, também svar 4 nedadedo corpo ao mesmo trapo em que o depure, puifcr-,subrai-’simpropridades ou exescnds init Asubragio do imprprio tem uma vide de tora vee de catase. Cos: 1, “Bu podia.. cote” paraiso prec realmente furar com uma agulba ou com wma ponta ponds, perfra, penetras, Fura a pele da figura, ‘mas pss coer, 2. para fechar a erida, suturar,cctiay,e mesmo a chaga que aro 20 cate. Tago pasar o fo que repar, reine, nantém juntos os tcidos; 118 sob a superficie pensar ajusto a vestimenta que, recobrindo a superficie do corpo, esposaa era sua forma natura, revelva 2 cobri-, Anda 2 verdad. Descoser: 1. “Fat podia... descoset”, desfazer, fazer a operacio anterior &s avessas, mas esa jena o inveso de si mesma. O préprio iame, como o lame ente esss dua operages que consistem exatamente num certo tatamenzo de ligamentoe de desligamento a obcgato dessa liguura é um double bind, ‘uma dupla conjuncura. sso porque, 2, desoser¢ também despr, também por a descoberto 0 corpo sob a superficie ona superficie da pele sob a vetimenta, coma carne soba ple. Sob o ato de guerra (sub-repticiamente lembrado pelo ato cde ir as vis de feta (en dude), desoset pode ainda servit ou salva 2 verdade,a verdade do compo préprio fois “os sres nunca tiveram compo préprioe foi o que sempre lhes enn _Efarapar: |. "Pss...estrapat, no curso da mesma prov de orga ede dejo, ino 6, conar em peas, pdr em podagos ou em bandas, reat inca, fei, malar o compo do inimigo com ajuda de um instrument coante Es vezeso gest indi de um cru. Banda [chp significa tabs a ela tela (o télé sempre, com o papel melhor paradigma do subj) do qual se dram fis ara com ees fie tadurs, gerdimentenaguerr. aco de guna sera ‘alex puament agresiv eo tra aootrparida reparadora sem esa slsio virtual o gto de pensar uma fea, Mas vtboexfapar [char encontra- se aqui prs diese cosdo, na tanga dos estos (cfanapay rela ¢ cosa). A gram do ¢ cove unto as dois primeitos que diem em ch (harper, decbigun) a rsgadara da cane eo texcet, casure, que ver logo em seguida pr pontos de suura para prepara ccarbaci. Corer parila com cfeto sua ambiralénca com coset (transpasar sas ambém manter juntos os tecids, ple, tela ou care) masa iso acresenta tarbém a sua. Certs diconsios indica dese verbo apenas 0 patticlpio passado, costunado, que conresponde com efeto a0 uso mais freqdente, quando no nica postbidade gramatial efetivamente utizade. Reorendo a infiniivo, posbilidade mencionada plo Lit ‘Artaud inventa ou descobre um uso ro para bem marcar uma atividade, um ny estos de reparagées suturas trabalho, um cuidado. Ocuparse em costar & no cesar de cobrir de ‘ieatrizes. Pois € esse 0 sentido desse verbo que rlacionao coset ou a costura apenas & came. Tero corpo costuado é poder mostélocoberto de vests, 28 cicaties de golpes e feridas. Mas “cbr deccatrze” pode quese dize 20 ‘mesmo tempo multipliar os goles efeimentas eos gests de reparagSes, suturas ¢ pensos que pertencem 20 tempo da cicarzacéo. A cicurga fix 08 dois, sucessiva ou simultaneemeate, Ela opera aqui, nfo o esquesemas, sobre 2s figuras que erecortem sobre ofando do subj, dtetamente no subj sas sem se confundir com ele. Bse continua sempre erm reoue.£ um fundo sem fundo, Exaspecao encamnigamento do cirurgiéo diate de um fundo também inacesstvel por trds de suas figuras, das figuras que séo as suas mas que no Ihe so prépras, Nese fundo indeterminad, o subi nose deixa nen toma, nem figurar, nem determina, nose dexa temuinar, Ele €in- finito mas enquanto matéiaindeterminada, € um “mau infinito”, ria dito ‘Hegel, um infinito negativo, um indefinido. Um infinico maw, waduciria ‘Arvaud, wm indefinido maligno, obsceno, trabalhado pelas forges do mal que cle repesenta, habitado pelos subpostos ¢ pelos sicubos que ele banaiza sob sua neutra superficie, No parece jamais ser ele mesmo, somente por figuras interpostas. Sub-repticiamente lgar de todo aparcer, ele desaparece, el, sob os endmenos, ¢a coisa em si ou ainda o objeto transcendental = X substtuindo a Ahora. Teologia negativa. Verdaderamente qualquer ois ‘© qualquct-coise como infinito mau. & preciso, portant, aabéclo, determind- lo paralivrarse dele. E preciso acabar com o subj E paraiso determind- lo, anasto farendo-o sit de si. Que se torne enfim alguma coisa ox alguém! Que ele porte seu nome, seu nome proprio! E preciso acabar com 0 julgamenco do deus de todas as tologiasnegativas, por fim a isso com suas préprias mos. Cirurgicamente, pctograicamente,

You might also like