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Comrré BRASILEIRO DE BARRAGENS XXXII - SEMINARIO NACIONAL OF GRANDES BARRAGENS - SNGB SALVADOR ~ BA, 20 A 28 DE MAIO DE 2019 RESERVADO AO CBDB ESTUDO SOBRE A POSSIBILIDADE DE OCORRENCIA DE CARREAMENTO DE SOLOS PELA FUNDAGAO DA BARRAGEM DO RIBEIRAO JOAO LEITE Juliano Augusto NIETIEDT Engenheiro Civil, Doutorando - The University of Western Australia. Diones BARBOZA Engenheiro Civil, Mestrando — Magna Engenharia Ltda. André Luiz HEBMULLER Engenheiro Civil, M.Sc. - Magna Engenharia Ltda. Wvaltemir Barros CARRIJO Engenheiro Civil, Ph.D. — Saneamento de Goias S.A. - SANEAGO. RESUMO Este trabalho consiste em um estudo sobre a possibilidade da ocorréncia de carreamento de finos pela fundacéio da Barragem do Ribeirao Joao Leite, o qual foi desenvolvido devido a identificagéo visual de materiais sdlidos depositados na galeria de drenagem associados a elevadas vazbes especificas em determinados drenos. O carreamento excessivo de finos em drenos de fundacao de barragens pode implicar na formagao de vazios e dar inicio ao processo de piping. Para tanto, ensaios que medem o teor de sdlidos nas aguas de drenagem e do reservatorio foram feitos e comparados entre si. Ensaios de microscopia eletrénica de varredura foram feitos a fim de identificar os compostos e minerais presentes nas amostras & sua origem. O estudo confirmou a importancia deste tipo de monitoramento, indicando normalidade para o caso da Barragem do Ribeirdo Joao Leite. ABSTRACT This paper consists of a case-study on the possibility of internal erosion occurring through the foundation of the Ribeirdo Jodo Leite dam. The study was conducted due to the visual identification of solid materials precipitated in the drainage system and the high specific flow rates measured in certain foundation drains. Excessive erosion in dam's foundations may start piping processes and monitoring is the key for preventing accidents. Laboratory tests that compare the solid contents in the waters from the reservoir and the drains were conducted. In addition, the samples were scanned in an electron microscope to identify the minerals, compounds and their origin. The study confirmed the importance of this type of monitoring and indicates normal condition for the Ribeirao Joao Leite dam 2X Sonn Nason ce Grandes Baagene “SNOB 1 14. INTRODUCAO, © adequado conhecimento e 0 controle do comportamento de barragens sao de fundamental importancia, ainda mais quando se tratarem de estruturas de grande porte. Em caso de ruptura o dano potencial associado engloba desde impactos socioambientais e econédmicos graves, de curto a longo prazo, até perda de vidas humanas. Nesse sentido, faz-se necessario a adocdo de certas medidas que possam diminuir as possibilidades de ocorréncia desses eventos, como, entre outras: (i) inspegdes visuais; (ii) acompanhamento periddico de monitoramento e avaliagao dos resultados dos instrumentos de auscultacdo; (iii) analises de estabilidade para diferentes cenarios, seguindo o Plano de Seguranea de Barragens conforme determinado pela Lei n® 12.884/2010 [1]. Acidentes com barragens muitas vezes est&o relacionados a uma sucessdéo de diferentes agentes causadores de danos a estrutura, especificamente no que tange a percolacdes indesejadas, instabilidades mecanicas de qualquer ordem, carregamentos nao previstos e erosdes. No caso da ocorréncia de eventos de grande magnitude as consequéncias s&o catastréficas, pois geralmente o mecanismo de ruptura antecede grandes deformagées, dificultando diagnésticos mais precisos [2]. Assim, entre as principais causas de rupturas de barragens no mundo pode-se destacar a erosao interna, também conhecida na literatura como piping. Neste contexto, so fundamentais estudos detalhados para a deciséo da melhor forma de mitigar as possibilidades de falhas, associando aspectos de carater técnico e de Viabilidade econémica. Os critérios de avaliacéio do risco de erosao interna devem levar em conta as particularidades associadas as diferentes possibilidades de ocorréncia desse fendmeno, gerando a necessidade da aplicagéo de varias abordagens ao estimar as condigdes de seguranca. E neste contexto que o estudo de materiais solidos em drenagens de barragens esta inserido, objetivando uma analise mais ampla sobre a possibilidade de ocorréncia de erosdo interna em fundagSes de barragens de concreto. O presente trabalho apresenta 0 estudo de materiais carreados e precipitados na galeria de drenagem da barragem do Ribeirao Jodo Leite, localizada na cidade de Goiania/GO, construida em concrete compactado a rolo (CCR) e fechamento junto as ombreiras em macigo de terra. O estudo foi motivado devido a presenca de materiais sOlidos, precipitados, com coloracdo avermelhada e preta, sendo tambem encontrado material coloidal de coloragao esbranquicada, depositados nas canaletas da galeria de drenagem. O objetivo do estudo é avaliar a tendéncia ao longo do tempo do teor de sélidos suspensos, sdlidos dissolvidos e sdlidos totais com base em analises de ensaios de laboratério com amostras coletadas nas aguas de dispositivos de drenagem e reservatorio, com a finalidade de investigar a possibilidade de haver o carreamento excessivo de sdlidos. Também sao realizado ensaios de microscopia eletrénica de varredura (MEV) para a identificagao quimica dos minerais e compostos presentes na porgao solida coletada, com 0 objetivo de se conhecer o tipo de material precipitado e, se possivel, determinar a sua origem 2X Sonn Nason ce Grandes Baagene “SNOB 2 2. CARACTERISTICAS DA BARRAGEM ESTUDADA A Barragem do Ribeiro Jodo Leite é do tipo gravidade construida em CCR em um conjunto de 22 blocos, e fechamento junto as ombreiras em macigo de terra com solo argiloso (figura 1). A barragem esta localizada na cidade de Goiania/GO, possuindo 50 m de altura e 451 m de comprimento, sendo operada pela Saneamento de Goias S.A. (SANEAGO), tendo como finalidade a acumulacao de agua para utilizacdo no abastecimento pblico. A batragem possui um conjunto de instrumentos de auscultacéo que so periodicamente monitorados pela equipe da SANEAGO e atualmente analisados por técnicos da empresa Magna Engenharia Lida., compreendendo piezémetros, marcos superficiais, prismas sticos de monitoramento, medidores triortogonais de juntas e medidores de vazao. Torre da NA=749,00m FIGURA 1: Estrufuras da barragem do Ribeirdio Joao Leite © mapeamento geolégico realizado em fase de obra constatou que a barragem esta assente sobre macigo rochoso de gnaisse com veios quariziticos arenizados, sendo a permeabilidade do macigo controlada principalmente pela presenga das fraturas 2X Sonn Nason ce Grandes Baagene “SNOB 3 desses veios. Os quartzitos, quando muito decompostos, resultam em trechos de solos arenosos finos e por vezes siltosos, enquanto saprolitos de gnaisses intercalados geram, por intensa decomposigao, siltes mais ou menos argilosos, suscetiveis a0 carreamento de finos. A fundagao da barragem foi tratada com cortinas de injegdes de calda de cimento para vedacdo, com as ombreiras recebendo linhas adicionais em virtude do padrao de intemperizacao e fraturamento mais pronunciados. Furos de drenagem foram executados em média a cada 3m a jusante da cortina de injegSes, com o objetivo de aliviar as subpressées. Esses furos interceptam o fluxo através da fundagao da barragem direcionando a agua drenada para a galeria de drenagem, onde acaba-se depositando os materiais finos carreados. As vaz6es nos drenos de fundacéo variam desde pequenos gotejamentos na poredo central da barragem, proxima ao vertedouro, até cerca de 0 min na regiéo da ombreira direita. As vazes especiticas (/min/m) s80, de maneira geral, menores do que 2,0 l/min/m, com excec&o dos blocos 2, 6, 7 e 9, conforme mostra a figura 2. A vazao global e especifica percoladas pela fundagao da poreéo em COR da barragem foram respectivamente 219,84 l/min e 0,63 /min/m em janeiro de 2019. O bloco 2, localizado na ombreira direita, € 0 local onde € encontrada a maior vaz&o especifica da barragem, tendo sido registrado 4,25 /min/m em janeiro de 2019 460 EF .00 E 5,50 S300 $250 § 2.00 E150 8 400 8 0.50 $000 tattle loc FIGURA 2: Vazées especificas por blocos registradas em janeiro de 2019 8. CONTROLE DE SOLIDOS CARREADOS EM DRENOS DE FUNDACAO 8.1, EMBASAMENTO TEORICO Em galerias de drenagem de barragens, 0 acompanhamento dos materiais solidos carreados e depositados em canaletas de drenagem é essencial para a seguranga de estruturas de barragens. O carreamento excessivo de finos pode implicar na formacao de vazios e dar inicio ao fenémeno de Erosao Interna (piping), que € a formacao de canais de eroséo que uma vez iniciados podem aumentar de tamanho, carreando cada vez mais material e até mesmo causar a ruina da estrutura em um caso extremo [8]. Esse monitoramento tem especial importancia em regides com solos suscetiveis ao carreamento e em locais com grandes infiltragdes devido a alta velocidade de escoamento [4]. Em qualquer contato entre dois materiais porosos, 2X Sonn Nason ce Grandes Baagene “SNOB 4 cujo fluxo de agua se da do material mais fino para o mais grosseiro, 0 transporte de particulas @ inevitavel [5] Segundo Terzaghi et ai. [3], dispositivos e estruturas destinados para o controle da infiltragao em barragem tém duas fungdes independentes: reduzir a perda de agua para quantidades compativeis com o projeto especifico e eliminar a possibilidade de falha da estrutura por piping, reduzindo em ambos os casos as pressées neutras. A possibilidade de falha por piping cresce com 0 aumento do gradiente hidraulico, nao estando necessariamente relacionado diretamente com a quantidade de agua que “perdida” Assim, 0 controle de carreamento de finos pelas fundagdes de barragens pode ser feito por meio de comparacao do teor de sélidos entre amostras coletadas no reservatério e drenos das galerias de drenagem. Espera-se que em condicao normal, isto €, em que n&o esta havendo o carreamento excessivo de finos, o teor de sdlidos suspensos no reservatério seja maior ou da mesma ordem de grandeza dos teores nas amostras provenientes das drenagens. Isso é devido ao processo natural de filtragéo que ocorre ao passo que a agua percola pelos vazios do maci¢o de fundagao. Todavia, o teor de sdlidos dissolvidos nas aguas drenadas podem ser maiores do que no reservatorio, devido ao processo natural de dissolucdo de substéncias que ocorre com a passagem da agua em contato com os solos e rochas da fundagao da barragem [4] Lindquist e Bonzegno [6] mediram os teores de materiais em suspenséo e dissolvidos nas aguas de reservatérios e drenagens de oito barragens da CESP. Os resultados mostram que os teores de s6lidos em suspensdo sao maiores nas aguas do reservatério do que nos drenos de fundacao. Esses teores estéio apresentados na tabela 1 e servem como balizadores para o presente estudo. Reservatorio Dreno Barragem (ppm oumg') | (ppm ou mgf) ‘Armando A. Laydner 7 6 | Armando de Salles Oliveira 12 5 | ‘Caconde 11 5 Euclides da Cunha 27 12 Ibitinga 15. 5 Jaguari 2 2 Paraibuna 14 16 Xavantes oO 1 TABELA 1: Teor de material solido para amostras de agua do reservatorio e sistema de drenagem (8 As particulas em suspensao podem ser téo pequenas que apesar de toda a filtragem que ocorre na fundagao e dispositivos de drenagem elas ainda aparecem na agua da saida dos drenos. Ainda que se possa dizer que as particulas presentes na agua coletada nas saidas das drenagens nao séo as mesmas que estavam na agua coletada do reservatorio, uma maior quantidade de particulas na saida pode indicar que esta ocorrendo o carreamento de material das fundagdes ou aterros da barragem e vazios est&o sendo formados [5]. 2X Sonn Nason ce Grandes Baagene “SNOB 5 3.2. INSPEQOES ViSUAIS As inspegdes visuais da galeria de drenagem mostram a presenca de 8 tipos de materiais: (i) de colorac&o branca e consisténcia coloidal (figura 3); (li) de coloragao avermelhada (figura 4), e (il) de coloracao preta, caracterizado como uma espécie de ‘tinta” que tinge as paredes nas saidas dos drenos (figura 5) Os drenos localizados nos blocos onde foi verificada a presenga de materiais com coloragao na regiao das canaletas apresentam vazées elevadas, passando do valor de referéncia estimado em projeto de 8,50 I/min para cada dreno. FIGURA 4: Material sdlido de coloracéo avermelhada 00H Semin Nasional de Ganda aragone -SNGE 6 FIGURA 5: Material solido de coloragao preta 4. ENSAIOS REALIZADOS 4.1, ENSAIO DE TEOR DE SOLIDOS EM SUSPENSAO E DiSSOLVIDO As coletas de amostras na galeria de drenagem foram realizadas em diversos drenos com elevadas vazdes (Q > 8,50 min), em que se observava a presenca de solidos através de uma coloragao diferenciada na regiéo das canaletas. No reservatério, as amostras foram coletadas proximas ao fundo com a utilizacéo de uma garrafa do tipo Van Dom, que é descida a partir da crista da barragem em locais proximos das segdes dos drenos para permitir a comparagao direta entre as medidas. A figura 6 apresenta os locais onde foram coletadas as amostras na galeria de drenagem e no reservatorio da barragem. O plano de coletas e ensaios contou com 15 coletas de amostras no total, sendo 10 amostras de agua coletadas em drenos de fundag&o da galeria de drenagem (amostras AM 01 a AM 10), e 5 amostras de gua coletadas no reservatério (amostras AM 11 a AM 15). A andlise dos resultados {oi feita por blocos, separadamente. Os ensaios de sélidos foram feitos seguindo os métodos 2540 B, C e D do Standard Methods for the Examination of Water and Waste Water [7] 2X Sonn Nason ce Grandes Baagene “SNOB 7 i FIGURA 6: Regides de coleta das amostras na galeria de drenagem e reservatério Os resultados dos ensaios foram analisados através de graficos de tendéncia que comparam os teores de solidos das aguas do reservatorio com as aguas coletadas nas drenagens. A partir da comparacao dos resultados foram feitas as seguintes avaliagdes (além do valor absoluto medido em ppm ou mg/l): * Enquanto 0 teor de s6lidos em suspensdo nas drenagens for menor, ou da mesma ordem de grandeza que os teores no reservatério, nao esta havendo indicativo de carreamento de materiais e esta condicéio é de normalidade; * Quando 0 teor de solidos em suspensdo nas drenagens for superior ao teor do reservatorio em uma das medidas, estara caracterizado 0 nivel de atengo. Como agao preventiva, para o monitoramento continuo da barragem, devera ser feito novos ensaios o mais breve possivel de modo a confirmar os resultados obtidos; * Quando 0 teor de sélides suspensos nas drenagens for superior aos do reservatorio por trés medidas consecutivas, estara caracterizado o nivel de alerta, em que estudos mais aprofundados deverao ser feitos a fim de avaliar as implicagdes € a necessidade ou nao de intervengdes. 4.2. ENSAIO DE MICROSCOPIA ELETRONICA DE VARREDURA Os ensaios de microscopia eletrénica de varredura foram realizados em trés amostras coletadas na galeria de drenagem da barragem com a finalidade de identificar os compostos e minerais presentes nos solidos precipitados. A primeira amostra é referente ao material de consisténcia coloidal de cor branca. A segunda amostra foi composta pela mistura das aguas coletadas em trés diferentes drenos, sendo referente ao material de coloragao avermelhada, encontrado em abundancia na galeria de drenagem. A terceira amostra ensaiada é um solido coletado no pogo de succdo da galeria, de cor escura. As amostras coletadas nas saidas dos drenos foram enviadas para a analise na forma de suspensdo, enquanto a amostra do poco de sucgdo foi enviada para a andlise na forma de po. 00H Semin Nasional de Ganda aragone -SNGE 8 Muito comum em galerias de drenagem de barragens, o material de coloragao vermelho-alaranjado pode estar associada a acao de ferrobactérias. Esse material € responsavel pela colmatagao de drenos e € proveniente da oxidagéo de ions fertosos dissolvidos no fluido percolante pela fundagao. O processo de precipitagao de Oxidos de ferro pode ser acelerado pela acdo de bacterias. Ja foram reportados tambem casos, ainda que menos comuns, de colmatagéo de drenos pela precipitagao de compostos de aluminio [8] [9], ¢ manganés [10]. Esse material € chamado na literatura de ocre. A grande maioria dos casos reporta a presenea de compostos de ferro, que dao origem a coloracao vermelho-alaranjada. Nao obstante, a presenca de compostos de aluminio e manganés, ao invés do ferro, garante coloragao esbranquicada e preta, respectivamente [8] [9] [10] Segundo Mendonca [11], 0 processo de precipitagdo do ocre ocorre devido a oxidagao de ions de ferro solubilizados na agua. A aeracéo é o principal fator que propicia a oxidacao, sendo também a variagéo do pH, importante nesse processo. Assim, nas saidas de drenos e nas aguas de jusante, em que a aeracdo é naturalmente aumentada, ¢ onde mais comumente ocorre a precipitacao do ocre. 5. RESULTADO DOS ENSAIOS 5.1. RESULTADO DO ENSAIO DE TEOR DE SOLIDOS EM SUSPENSAO E DISSOLVIDOS Neste trabalho, por brevidade, so apresentadas somente as curvas de tendéncia para os blocos 2 € 9, cujos resultados so representativos também para as demais regides estudadas da barragem (Figura 7). Sao justamente nesses blocos que sao registradas as maiores vaz6es especificas da barragem (figura 2) Os teores de sélidos suspensos obtidos na primeira bateria de ensaios tém ordem de grandeza compativel com a expectativa verificada na literatura. Em alguns blocos foram encontrados valores de teor de sdlidos suspensos acima de 50 mg/l, sendo que os valores indicados na literatura como normal sao abaixo de 50 mg/l para as aguas de drenagem. Os ensaios também mostraram maiores teores de solidos em suspensdo na drenagem em relagao as amostras coletadas no reservatorio para as regiées analisadas. Esse resultado indica que poderia estar havendo carreamento excessivo de finos. Entretanto, na mesma semana em que foi executada a coleta das amostras havia sido felta manutencdo e limpeza dos drenos, 0 que pode ter influenciado no elevado teor de solidos suspensos obtidos para as amostras coletadas nos drenos (figura 7, ponto 1). Ainda na primeira bateria, os teores de sdlidos suspensos no reservatério foram mais elevados do que nas outras coletas. Ressalta-se que nessa época foi observado o fendmeno de desestratificagdo e circulacao no reservatério, que pode tambem ter influenciado os resultados (figura 7, ponto 3). A partir da segunda bateria de ensaios, contrariando a primeira, os resultados mostraram a tendéncia de teores de sdlidos em suspensdo menores ou da mesma ordem de grandeza na drenagem em relacao daqueles obtidos para as amostras do reservatério, indicando comportamento normal. 2X Sonn Nason ce Grandes Baagene “SNOB 9 Bloco9 3-Epeca ge orotrencls ao fendmene ‘Se desestrationgee e ievlana0 no ‘eservatrio cs barracem Dezvie na tenance > 2-Deevio natendincis do tor de Ses ager i = ase ' ! P| Ne ar i ia a Bren = FIGURA 7: Curvas de tendéncia — Blocos 2 9 Entretanto, ainda na figura 7, observa-se particularmente dois pontos que fogem da tendéncia geral, com excecao da primeira bateria de ensaios, indicados como pontos 2e 4. No ponto 2, registrado no bloco 2, observa-se o desvio na tendéncia do teor de sdlidos suspensos na agua do reservatério, com uma reducéio em relag&o ao que vinha apresentando anteriormente, fazendo com que o teor de sdlidos suspensos dos drenos seja superior. No entanto, no ensaio de confirmagao, a tendéncia voitou ao comportamento normal, com teores da mesma ordem de grandeza. Embora tenha ocorrido a redug&o do teor de sdlidos suspensos na amostra do reservatorio na regiéo do bloco 2, néo houve o aumento do teor de sdlidos suspensos na amostra de agua coletada nos drenos, permanecendo com pequena magnitude (da ordem de 5 mg/l), mesmo com elevadas vaz6es na regio, nao sugerindo haver carreamento excessivo de finos pela drenagem. Salienta-se que um aumento brusco na tendéncia do teor de sdlidos suspensos pela drenagem nestas condigdes motivaria estudos mais aprofundados, condigao esta que n&o se confirma. Nao obstante, resultados de ensaios feitos em amostras com baixos teores de sdlidos s&o suscetiveis a erros analiticos em fung&o do proprio método de amostragem e ensaio empregado. No ponto 4, registrado no bloco 9, houve um desvio na tendéncia de sdlidos suspensos, com teor maior na drenagem do que no reservatorio. Todavia, no ensaio de confirmacao a tendéncia voltou @ normalidade, registrando teores de sélidos suspensos menores ou da mesma ordem de grandeza na drenagem em relaco ao reservatério, sugerindo nao estar havendo carreamento excessivo de finos. 2X Sonn Nason ce Grandes Baagene “SNOB 10 Os resultados de sdlidos dissolvidos foram mais variados. Alguns trechos apresentam tendéncia de solidos dissolvidos maior nas aguas do reservatério do que na drenagem, enquanto outros apresentam teores de solidos dissolvidos maiores nas drenagens do que no reservatério. De modo geral, os sdlidos dissolvidos séo maiores nas aguas do reservatorio do que nas drenagens (figura 7), sendo esse também o comportamento valido para as demais regides analisadas. Os sélidos totais seguiram a mesma tendéncia dos resultados dos solidos dissolvidos, devido a maior magnitude dos sdlidos dissolvidos em relacéo aos sdlidos suspensos. Isso de fato sugere que os sOlidos dissolvidos nas aguas do reservatério, ou adquiridos ao passo que a agua percola em contato com 0 solo e rocha de fundagdo, precipita na galeria de drenagem, dando origem aos materiais de coloracao avermelhada e preta. 5.2, RESULTADO DO ENSAIO DE MICROSCOPIA ELETRONICA DE VARREDURA A primeira amostra analisada, representada na figura 8, @ referente ao material branco de consisténcia coloidal. A analise feita sugere a presenga das seguintes fases minerais: + Aluminossilicato de Na e/ou Mg com tragos de Ca, K e/ou Cl; * Carbonato de Calcio; * Sulfato de Calcio Aluminossilicatos sao minerais que compdem as argilas. Esses minerais ocorrem de forma natural e sao comumente encontrados em rochas metamérficas, como 0 caso dos gnaisses da fundagao da barragem do Ribeiréo Joao Leite. Os carbonatos de calcio s40 muito comuns em estruturas de concreto e séo amplamente observados nas surgencias da galeria de drenagem da barragem. Associa-se assim esse material branco, sobrenadante, ao cimento utilizado no CCR e na calda utilizada nas injegdes de fundagao. Sendo assim, a presenca desses materiais na galeria de drenagem nao representa problemas para a estrutura da barragem, nao sendo associados ao carreamento de finos. FIGURA 8: a) Imagem da primeira amostra obtida no modo de elétrons tetroespalhados (BED-C); b) Resultado da analise qualitativa por EDS em um dos pontos medidos. 2X Sonn Nason ce Grandes Baagene “SNOB 4 A segunda amostra analisada (figura 9), referente ao material avermelhado abundante na galeria de drenagem, sugeriu a presenga das seguintes fases minerais: © Oxidos/hidréxidos de ferro; * Oxidos/hidroxidos de manganés; © Aluminossilicatos de Na e K e/ou Mg. Nessa amostra chama a atencdo a presenca dos Oxidos/hidroxidos de ferro e manganés. O primeiro tem por caracteristica a cor avermelhada, que explica a colorago do material observado. O segundo tem coloragdo preta, que explicaria a presenga do material de cor escura nas paredes e saidas das drenagens. A presenca desses materiais na galeria de drenagem nao representa problemas para a estrutura da barragem e nao pode ser associado a0 carreamento de finos. Possivelmente os sélidos dissolvides nas aguas do reservatorio precipitam ao oxidar em contato com 0 oxigénio na saida dos drenos, resultando no material fino depositado na canaleta e paredes. FIGURA 9: a) Imagem da segunda amostra obtida no modo de elétrons tetroespalhados (BED-C); b) Resultado da analise qualitativa por EDS em um dos pontos medidos. A terceira amostra analisada (figura 10), referente ao material solido preto coletado no poco de sucgao, sugeriu a presenga das seguintes fases: Oxidos/hidréxidos de ferro; Carbonato de calcio; Aluminossilicatos de K e Mg: Oxidos/hidroxidos de manganés com tragos de bario em alguns pontos. Essa amostra @ aparentemente uma mistura de todas as outras, predominando os 6xidos/hidroxidos de ferro e carbonatos de calcio. Da mesma forma que para as amostras anteriores, sua presenga na galeria de drenagem nao representa problemas para a estrutura da barragem, nao estando associada ao carreamento de finos. 00H Semin Nasional de Ganda aragone -SNGE 12 FIGURA 10: a) Imagem da terceira amostra obtida no modo de elétrons tetroespalhados (BED-C); b) Resultado da analise qualitativa por EDS em um dos pontos medidos 6. CONCLUSOES As curvas de tendéncia obtidas com os resultados dos ensaios de teor de solidos suspensos, solidos dissolvidos e sdlidos totais em relagéo ao tempo, indicam comportamento normal, ou seja, existe a tendéncia de que os teores de solidos encontrados na drenagem sejam menores ou da mesma ordem de grandeza em Telagdo aos teores encontrados no reservatorio, sugerindo que nao esta ocorrendo carreamento excessivo de finos por estes drenos. Sabendo que este tipo de estudo é feito com base em curvas de tendéncia e que fatores externos e erros analiticos decorrentes do proprio método de amostragem e ensaio empregado podem influenciar os resultados, é fundamental a continuidade do estudo, associando sempre com os resultados obtidos também em instrumentos de auscultacao e inspegdes visuais. Os ensaios de microscopia eletrénica de varredura indicaram que os materiais encontrados n&o representam problemas a estrutura da barragem. A primeira amostra indicou a presenca de aluminossilicatos, carbonato de calcio e sulfato de calcio, onde 0 primeiro composto é constituinte de argilominerais e abundante em rochas metamérficas como o gnaisse, enquanto o segundo é muito comum em estruturas de concreto e encontrado em abundancia na galeria de drenagem e surgéncias. A segunda amostra indicou a presenga de oxidos/hidroxidos de ferro e manganés, bem como os aluminossilicatos. Esses compostos, possivelmente ja presentes na agua do reservatério, precipitam devido a aeracao promovida na saida dos drenos, sendo o material de coloracao vermelha associado ao oxido de ferro, enquanto a coloragao preta ao Gxido de manganés. A terceira amostra, coletada no pogo de suegao, mostrou ser uma mistura dos compostos observados nas amostras anteriores. © resultado final sugere que os compostos encontrados na galeria de drenagem so predominantemente provenientes da propria agua do teservatorio (oxidos e hidroxidos de ferro e manganés) e do conereto (carbonato de calcio), havendo tambem a presenca de minerais provenientes da rocha de fundagao ou solo da 2X Sonn Nason ce Grandes Baagene “SNOB 13 regio (aluminossilicatos), nao representando problemas para a estrutura da barragem Os autores conoluem que o procedimento apresentado neste trabalho se mostrou como uma ferramenta oportuna no apoio da avaliagdo do carreamento de materiais finos na fundagdo de uma barragem de concreto. A comparagao de resultados de ensaios que determinam o teor de sdlidos em amostras de aguas coletadas em drenagens e reservatorio trouxe um conhecimento adicional do comportamento das fundagSes da barragem, o qual tem sido fundamental para a avaliacdo de eventual isco de ocorréncia de algum mecanismo de formacao de piping pela fundacao da barragem. Desta forma os autores sugerem a adocdio desta pratica em barragens similares no apoio ao monitoramento das estruturas. 7. AGRADECIMENTOS Os autores gostariam de expressar seus agradecimentos a Saneamento de Goias ‘A. (SANEAGO), pela possibilidade de divulgacdo do presente trabalho e pela disponibilidade de realizacao dos ensaios de sdlidos no laboratorio de esgotos e que foram fundamentais para a concretizacdo desse trabalho. Os autores gostariam de expressar seus agradecimentos tambem a quimica Andreia Gomes dos Santos Arantes, a bidloga Rosalmina Cipriano da Silva, a técnica em saneamento Wedeusleia Alves de Oliveira e aos agentes de sistemas Daniel de Jesus Teles, Gabriel Dias Aguiar, Gleidson Hemanne Ferreira Faria e Marcionilio de Morais Rodrigues da SANEAGO, pelo empenho nas coletadas de amostras, pela disponibilizagao dos resultados dos ensalos de sélidos e pela contribuicao fundamental no trabalho Finalmente, os autores expressam um agradecimento @ Engenheira Rosi Guedes Bernardes, pela coordenagao e gerenciamento dos servigos prestados pela Magna Engenharia a SANEAGO 8. PALAVRAS-CHAVE Barragens de COR, erosdo intema e piping, ensalo de teor de sélidos, microscopia eletronica de varredura, seguranca de barragens. 9. REFERENCIAS [1] Agéncia Nacional das Aguas. (2016) - ‘Diretrizes para a Elaborago do Plano de Operagéio, Manutengéo e Instrumentacaéo de Barragens’. 135 p. il. - (Manual do Empreendedor sobre Seguranga de Barragens, 7). Brasilia: ANA. [2] SANDRONI, S. S. (2006) - “Acidentes em obras de barramento”. Notas para o curso de geotecnia das barragens. [3] TERZAGHI, K.; PECK, R. B.; MERSI, @. (1996) — “Soil Mechanics in Engineering Practice”. Srd ed., John Wiley & Sons, New York, NY, 512 p. 2X Sonn Nason ce Grandes Baagene “SNOB 14 [4] SILVEIRA, J. F. A. (2006) —“instrumentagao e seguranga de barragens de terra e enrocamento”. 416 p. Oficina de Textos, 1° edigao [5] CRUZ, P. T. (2004) ~ “100 Barragens brasileiras: casos historicos, materiais de construgao, projeto”. Sao Paulo. 648 p. Oficina de Textos/FAPESP, 2° edigao. [6] LINDQUIST, L.N. € BONZEGNO, M.C. (1981) —‘Analise de sistemas drenantes de nove barragens de terra da CESP através da instrumentacao instalada”. Anais XIV SNGB, Tema II, Recife, 1981. v. |. [7] American Public Health Association; American Water Works Association; Water Environmental Federation. (2017) — “Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater’. 23th ed. American Public Health Association, Inc., Washington, D.C. [8] PETERSEN, L. (1966) ~ “Ochreous deposits in drain-pipes’. Acta agriculturae Scandinavica, 16, pp. 120-128. [9] SPENCER, W.F.; PATRICK, R.; FORD, H. W. (1963) - “The occurrence and cause of iron oxide deposits in tile drains”. Soll Science American. Proc., n.27, pp. 184-187. [10] GRASS, L.B. (1969) -"Tile clogging by iron and manganese in Imperial Valley, California”. Journal of Soil and Water Conservation, n. 24, pp. 185-188. [11] MENDONGA, M. B. de. (2000) — “Avaliagao da formagéo do ocre no desempenho de filtros geotéxtis”. $20 f. Tese (Doutorado em Ciéncias em Engenharia Civil). Coordenagéo de Pés-Graduagéo de Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2X Sonn Nason ce Grandes Baagene “SNOB 15

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