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EDIJUR ae (© Copyright by CL Baijur Raitarae Distribuidora Diacramacao = ComrosicAo: Roselene Cristiani Santos Indice Conseueiixo Eprroriat: Benedito Claudio de Oliveira CAPITULO 1 A Toga .. Ficka Caraocraric CAPITULO 1 arnelutti, Francesco ; ae a eats Momo elas Cr CAPITULO I 7 paginas. O Advogado . 23 1. Titulo: As miséitas do Processo Penal CAPITULO IV Dizoto Fen] ISaNw7e0s7794-0688 | OJuizo as Partes te Poiidaareprodio too parcial desta br, por quale elec, CAPITULO y _odinicoinclusive por rosa eros, ara dea atoricaodo Ein al 91) Todos iro deste pblicacio so resevadas Parcialidade do Defensor CAPETULO vI CL EDIUR - Bditora o Distrbuidora Jurfdica As Provas 44 Rua Carmem Lica, 205 - J Casaréo : Leme/ SP - CEP 13617-364 caPfruto via Telefax: (19) 3573-7349 j E-mail: roedijur@ig.com.br © Juiz ¢ 0 Imputado St www.edljurcom.be caPiruto vin © passado ¢ 6 futuro no Processo Penal 58 CAPITULO 1x A Sentonga Penal 65 CAPITULO X © Gumprimento da Sentenga na CAPITULO XI A Liberagio 78 CAPITULO XI Fim: Além do Di 85 PREFACIO A voz de San Giorgio é comunicagao do centro de cultura ¢ civilizacdo da fundagio Giorgio Cini, que tom sede em Veneza, cidade maravilhosa, naquela ilha situada defronte a praca de San Marco ¢ ao Palécio Ducal, que a arquitotura de Buoro, de Pallédio e de Longnena hoje ressuscita ao esplendor antigo, estando circunfuso de outras tantas maravilhas, © centro se propée fazer servir a cultura a civilizagéo, ou soja, om palavras pobres, o saber & bondade. Deveria ser este 0 dostino do saber; nem sempre as coisas acontecem como deveriam acontecer. ‘Também o saber, como, para dar um exemplo, aenergia atmica, pode servir ao bem ou ac mal, para tornar os homens piores ou melhores, fazondo-os erguer a cabeca em ato de soberba ou fazendo-os inclinar em ato de humildade, Este ano devia-se fazer tal objetivo éraciocinar tanto quanto em tomo ao processo ponal, Um argumento cientifico, a primeira vista pouco dado para uma mudanga com grande piblico, o qual, especialmente ao radio, tom vontade de divertir-se. Mas est — Francesco Carnelutt justamente aqui oné da questéo, em tema decivilizagao, Divertir-se quer dizer fugir da vida cotidiane, a qual ¢ assim monétona, assim dificil, assim emargs, tornando indispensavel a necessidade. Mas aqui hé outra saide para a fuga além daquela da diverséo, E a seida aposta; mas diz.a provérbio que opostos se tocam. Esta safda 6 © recolhimento, Depois de tudo néo hé evasdo mais completa que @ prece, que é a forma Ideal de recolhimento. Muitas pessoas nao o sébem porque nio experimentaram; mas aqueles que experimentam o conforto da oragio sabem o que pensar do divertimento e do recolhimento, ‘Um pouco em todos os tempos, mas no tempo moderno sempre mais, 0 proceso penal interessa & opinio pablica. Os jornais ocupam boi parte das suas paginas para a crdnica dos delitos ¢ dos processos. Quam as 16, alias, tom a impressao de que tenha muito mais delitos que néo boas agées neste mundo, A ele é os delitos essemelham-se ds papoulas que, quando se tem uma em um campo, todos desta se apercebom; eas boas agdes se escondem, como as violetas entre as ervas daninhas. Se os delitos ¢ os processos penais os jornais se ocupam com tanta assiduidade, é que as pessoas por estes se interessam muito, sobre os processos penis assim ditos célebres a curlosidade do piblico se proteja avidamente. E é também esta uma forma de diverstio; fugisse da prépria vide ocupando-se com a dos outros; a ocupagio nao 6 a Ginica tao intensa como a vida dos Guiros assume o aspecto do drama. O problema 6 que assistem ao proceso do mesmo modo com que se deliciam os espetéculos cinematogréficos, que de resto, As Misérias do Proceso Petal 7 simula com muita frequéncia assim, 0 delito como o relative processo. Assim como « atitude do pablico voltado aos protagonists do drama penal 6 a mesma que tinha, uma vez, a multidio para como os gladiadores que combatiam no circo,e tem ainda, em alguns patses do mundo, para a corrida de touros, 0 processo penal nao 6, infelizmente, mais que uma escola de civilizacao. O que se deseje ¢ fazer, com estes coléquios, do proceso penal um motivo de recolhimento, em vez de divertimento, Néo satisiaz argumentar que em torno disso moditam os homens da ciéncia; e néo tém aquilo © que fazer os homens comuns, Os jurista, certamente, © estudam ou, ainda melhor o deveriam estudar para fazer assim com que seu mecenismo, delicado quantos outros mais, se aperfeicoe; este é um problema mais semolhante aquele que se acredita sejam de mecanica, que resolvem os engenheiros; e também de tal somelhanga as pessoas deveriam se dar conta. Mas porque também os homens comuns se interessem pelo proceso penel é nevessério que ele néo 0 troquem por uum espetéculo cinematogréfico, ao qual se assiste para procurar emogGes. Poucos aspectos da vida social interessam, como este, a civilizacéo. Néo 6 a primeira vez que me acontece de perceber que a civilidade, com aquelas palavra simples que se 1é assim raramente nos livros porque os homens infelizmente s4o, e mais amam ser, ao contrério, terrivelmente complicados, nao é outra coisa sendo a capacidade dos homens de quererem serbem e, por isto, de viverem paz. Ora, © procosso penal é um banco de prova da civilizagéio nao sé porque o delito, com tintas mais ou menos fortes, 6 0 drama da inimizade e da discordia, mas por aquilo queé a correlagéo entre quem 0 cometeu ou se diz que 0 tenba cometido e aqueles que a ele assistem, A propésito dos exemplos, referido pouco faz, cumpre refletir em torno daquilo que acontecia sobre o espaldar do Circo Massimo, aos tempos de Roma ou ainda acontece sobre equeles das “Plazas” de touros na Espanha, México # Peru. Eu pensava ~ em um doa de setembro passado, durante a projegéo de um filme mexicano no qual era admiravelmente descrito 0 estado de Animo do puiblico bestificado contra o toureiro, porque nao demonstrava um desprezo suficiente ao perigo - quera era mais bestial, 0 piiblico ou o touro? Aquele comportamento nao pode se explicar senéo com um destaque entre quem assiste e quem age, tal qual o gladiador, antes que um homem, é considerado uma coisa. Considerar o homem como uma coisa; pode-se ter uma forma mais expressive da incivilidade? Mas 6 aquilo que acontece, infelizmente, nove entre dez vezes no proceso penal. Na melhor das hipéteses aqueles que se vao ver, fechados nas jaulas como os animeis do jardim zoolégico, parecem homens de mentira ao invés de homens de verdade. E se, todavia, alguém percebe que séo homens de vordade, parece-Ihe que sio homens de uma outra raga ou, quase de um outro mundo. Este no. Jembra, quando sente assim, a parébola do publicano e do fariseu, nem suspeita que a sua é justamente @ mentalidade do fariseu: eu nao sou como este. 0 que precisa, ao contrario, para merecer 0 titulo de homem civilizado, ¢ derrubar este comportamento; somente quando conseguirmos dizer sinceramente, “eu sou como este”, entéo verdadeiramente seremos dignos da clvilizagao, Para tentar provocar esta mudanga de mentalidade, procurarems juntos compreender o que é um proceso penal. Assim fazendo, eu nao fago, depois de tudo, mais que recuperar o meu caminho, Também eu, como a maior parte de vooss, desde crianga, era curioso, sonio mesmo apaixonado, por este espotdculo. Relatar-lhes, a propésito, um episédio dentro de instantes. Na universidade, por uma série de circunstancias, as quals eu compreendi mais tarde, o providencial designo me desviou do penal para o direito civil. Fui assim, por longos anos, mais um civilista que um penalista; também a minha atividade cientifica foi voltada Jongamente sobre o terreno do direito civil. Restara- me, porém, para com o direito e o processo penal uma atragdo secreta. Estava em mim uma espécie de corrente subterranea, a qual a um certo ponto emergiu & superficie da terra. Seria fora de lugar recordar com dotalhes as ocasiées quo a vida me ofereceu; o fato gue, um dia da cétedra de processo civil fui passado aquela do direito e depois & do processo penal. E aconteceu como acontece na montanhe quando, depois de uma longa estrada encravada de rocha entre as rochas, se alcanga o topo e finalmente se abre defronte © panorama, ihuminado pelo sol. Qualquer um se maravilha por esta comperagéo? O que o direito penal nao esté no vale antes que sobre o cume? Nao 6 0 direito da sobra antes que o direito do sol? a verdade € que, segundo Uta admir4vel intuicdode Sao Paulo, nés olhamos as coisas no espelho ¢ por isso as vemtos de cabega para baixo. 0 direito penal, sim, 6 0 direito da sombra; mas precisa atravessar a somibra para chegar a luz, Ao menos para mim aconteceu assim, Cada um faz 0 sou caminho; e 0 caminho, como osomblante de cada um, 6 diferente do caminho dos outros. Eu, todas as vezes que me relacionei com os assim chamados homens de bem, acteditei-me um homem de bem; ¢ néo dei um passo acima, Foi o conhecimento dos velhacos que me fez reconhecer que néo sou de fato melhor queeles ou que estes néo sio de fato piores que eu; e era iste que queria, para um homem como eu, mais inclinado ao oxgulho, senéo propriamente A soberba. Também eu, quero dizer, estive por muito tempo sobre o espaldar da arena a olhar do alto os gladiadores, como se nao fossern meus irmaas. Se aquele que estao 14 no meio arriscando a ‘vida fosse nossos irmAos. Se aqueles que estao 14 no meio arriscando a vida fosse nossos irméos,correriamos para eles, ndo? Para separa-los e para salva-los. Como ocorreu que, pouco a pouco, de estranho se tornaram. jirméos com precisio nao sei. Em suma aconteceu; e é isto quo importa. Daquele dia se abriti diante de mim ‘um magnifico panorama, iluminado pelo sol. Eu néo fago, certamente, ilusio 2m torno da eficiéncia das minhas palavras. Porém, segundo os ensinamentos daquele magnifico filésofo, que todos dovoriam ver em Cristo, ainda que queiram considera- Jo somente como filho do homem, nao esqueco que as palavras sfio sementes. Porquanto com o meu trigo se ee Cee ee ser capaz de germinar, Por isso, sem presungéo mas com. devocio, o semeio. Nao pretendo que a colboita me remunere com cem, nem com sessenta, nem com trinta por cento. Se, talvez, um s6 dos meus graos germinasse, nao teria semeado em vio. CAPITULO I A Toga A primeira impressdo a quem assiste a uma aulana qual se debate um processo penal, é que certos homens, que operam nessa area, empregam um traje, tém uma “diviséo”. Esta tem sido sempre a primeira im- pressdo da Justica, entretanto nos anos dé minha infan- cia, quando, levado a presenciar cert cortejo das jane- las do Palécio onde tem sede o Tribunal de Apelagio de Florenga, na rua Cavour, avistei sair de uma sala um dosombargador em toga e fiquei de boca aberta. Por que os desembargadores e causidicos usam toga? Nao parece um traje de trabalho, como para os médicos o jaleco alvo. Em relagao ao quié tem que fa- zer, juizes e caus{dicos poderiam simplesmente nao se trocar ou nao cobriro traje habitual. Hi, de fato, alguns paises nos quais a toga nao é utilizada; bem como tam- bém se faz entre nés, para os graus inferiores da hierar- Guia judiciéria, Enido, de que se trata? So de uma ho- meuagem & iradigdo? Mas a tradic&o por qué, se esté constitufda? Creio que a resposta ven da pélavra em si Certamente, como pronunciei, a toga 6 uma “divisao”, As Misérias do Processo Penal 13, como a dos militares, com a diferenga que os magistra- dos e causidicos a usam somente em servigo, alids em certos atos do servico, exclusivamente solenes. Na Fran- ae, sobretudo, na Inglaterra, onde a tradicéo ¢ estvita- mente estigmatizada, o causfdico deve usar sempre a toga dentro do Palacio da Justiga. Interrogo-me por que o traje dos militares 6 chamado “divisa”, Divisa provom, expressamonte, do dividir, o que teria a vor o trajo militar a idéia de divi- sio? A surpresa 6 imediatamente consumida se 0 verbo dividir 6 substituido outro semelhante, discernir ou distinguir. Hé necessidade de separar os militares dos ivis, nao? A divisa 6 0 simbolo do senhorio. ‘Tenho razéo om dizer que a observagio das palavras ndo orienta rapidamente: na aula de justia 6 exercitada, por exceléncia, ao senhorio, entende-se que aqueles que e exercitam devem-se distinguir daqueles sobre os quais é exercida. & 0 mesmo motivo pelo qual também os eclesiasticos vestem uma “divisa”, e, ainda mais, quando solenizam as fungées littirgicas, sé0 pas- sados aos trajes sagrados. A divisa 6 também nomeada como uniforme. O significado desta outra palavra parece contradizer, todavia, o significado da primeira, posto que menciona a uma uniao em vez de uma divisao. Mas séo, no fun- do, dois significados complementares: a toge, verda- deiramente, como a veste militar, desune e une; separa magistrados ¢ causidicos dos leigos, para uni-los entre si. Esta alianga, vejamos, tem um altissimo valor. 1 Francesco Carnelutti ‘Auuniao dos juizes entre si, om primeiro lugar. Ojuizo, como se sabe, nem sempre 6 representado por um éinico homem: freqientemente, para ascausas mais graves, 6 formado por um colegiado, no entanto, diz-se o“juiz", também quando os juizes so mais de um, pro- cisamente porque um se une ao outro, como as notas emitidas por um instrumento se fundem 0s acordes. ‘Atoga dos magistrados nao 6, portanto, somente o sim- bolo do senhorio, mas também o da unio, ou seja, do vinculo que os liga entre si. Eno fundo, para 26s, uma concepgio de coro, que torna o ambiente também mais solene. Veja, por exemplo, a Corte de cassagao om sos- s6es conjuntas, onde se sontam, togados, pelo menos quinze desembargadores, vindo em mente uma reuniio om frades, quando cantam as completas‘e as matinas, emoldurados nos assentos do coro. Quem sabe como funciona a justica colegiada néo acharé estranha esta imagem de acordo e de coro. O conceito do uniforme serve para esclarecer a razio pela qual vestem a toga nao somente os juizes, mas também o Ministério Pablico e os causidicos. Em breve buscaremos entender a necessidade destas ou- tras figuras em toxno dos juizes, de qualquer maneira 6 bem sabido por todos que nao pertoncom dquelos que julgam senao que, pelo contrario, tambémestes sao jul- gados: a acusagio ¢ a defesa ouvem acerca do que di- zem, ao final, pelo juiz, se tiverem ou nao tazao, néo 6 isso ser julgado? Estao estes, em relagao do julz do ou- tro lado da barreira, Diz-se a, endo, se a toga 6 0 sfin- bolo do senhorio, que nao a deveriam usar; 6 ainda, se 60 simbolo da unio, por que enquanto oacordo reina As Misérias do Processo Penal iv enlze 0s juizes, 0 desacordo, néo tanto divide quanto deve dividir 0 acusador do defonsor? Em outras pala- ‘vras, onquanto 0 juiz esté ali para impor a paz, o Minis- tério Pablico e, os causidicos estao para declarar guer- ra. Justamente, no processo, é necessério fazer a guerra para garantir a paz. Ma, essa formula pode parecer pa- radoxal, mas néo chegaré o instante em que poderemos apreciar averdade que hé nela. A toga do defonsor edo acusador significa que aquilo que fazem é feito a servi- 0 do senhorio; em aparéncia esto divididos, mas na vertladle estio unidos no esforgo que cada um desponde para alcancar a justiga. Em conjunto esses homens com toga dao a0 proceso - especialmente ao processo penal - uma apa- rancia solene, Sea solenidade ¢ ofuscada, como ocorre infelizmente varias vezes, por negligencia dos causidicos e dos préprios magistrados, que nao respei- tam como deveriam a disciplina, isto vai em prejuizo da sociodado, No tribunal deveria estar recolhidos como na igroja, Os antigos reconheceram um caréter sagrado ao acusado porque, diziam, era desatinado a vinganga dos deuses; assim eles intufam uma verdade profunda. 0 jutzo, o verdadeiro, 0 justo juizo, o juizo que nao falha esta somente nas mao de DEUS. Se os homens encontram a necossidade de julgar, devem ‘Ter ao me- * nos a consciéncia do que fazem, quando julgam nas vezes de DEUS. A finalidade entre 0 juize o sacerdote nao 6 desconhecida nem entre os ateus, que falam a esse respefio de um sacerdécio civil. A toga, sem diivida, convida ao recolhimento. Infelizmente hoje em dia, sob este aspecto, a funcao Je. Francesco Carnelutti judicidria osté ameagada pelos opostos perigos da indi- ferenca ou do clamor: indiferenga quando a processos pequenos, clamor pelos processos célebres. Naqueles a toga parece um utensilio vao, nestes se assemelha, l- mentavelmente, a um traje teatral. A peblicidade do proceso penal, a qual corresponde nfo somente a idéia do controle popular sobre o modo de governar a justi- ca, mas ainda, ¢ mais profundamente, ao seu valor educativo, infolizmente degenerada em um motivo de desordem. Nao tanto 0 piblico que enche os tribunais. ao inverossimil, mas a irrupgdo da imprensa, que pre- code o persegue o processo com imprudéxcia, indiscri- 0, aos quais ninguém ousa reagir, tem destruido qual- quer possibilidade de juntar-se com aquoles aos quais incumbe o tremendo dever de acusay, défonder ou jul- er, As togas dos magistrados e cansidicos se perdem atualmente entre a multidao; Raros sao os juizes que tem a severidade necesséria para conter tal desordem. Aproximadamente cinquonta anes, que se dis- cute em Veneza um processo por homicidio, sobre 0 qual convergia a doentia curiosidade de todos, na ses- sio do Tribunal do Jiiri, incrivelmente lotado, quando levantou para ser interrogada, emergindo das grades em sua estuponda figura, Maria Nicolaevna Tarnovskij, ¢ ‘uma centona de sonhoras que ocupavam os lugeres re- servados, num salto pusoram-se em pé e assentaram sobre ela monéculos ¢ binéculos, Angelo Fuzinato, pro- sidente ilustre exclamou com contida indignacéo: “Ama- nha este espeticulo incrivel nao se repetira mais”. Mais que as medidas, que ele soube tomer e inflexivelmente manter durante o longo percurso do processo, me lem- ‘As Misérias lo Processo Renal 7 bro como as ouvi pronunciar, suas palavras memoré- vois: “Esto ospeticulo incrivel”. Era o mesiuo presiden- te, o que tolerava quo um causidico se comportasse no falar, vestir e gesticular, de modo conforme 8 dignida- de de seu oficio e, por outro lado, quando se deu con- ta, decidindo uma causa civil, de ter cometido um erro, nao teve tranqiiilidade até o momento que lhe foi pos- sivel fazer uma retificagéo pablica. Bis um magistrado © qual havia compreendido o valor 0 processo penal para agrado de um povo. Os causidicos de Veneza, para exaltarem o seu exomplo de firmeza, de dignidade, de abnegagio ornaram com seu busto o grande trio supe- rior da Corte de Apelacao e eu, nesta ocasio, quero Jembrar a sua figura quase para colocer sob sua prote- gao aquilo que estou dizendo em torno desta mais alta experiéncia de civilizagéo, que deveria ser 0 processo ponal, CAPITULO II O Preso A solenidade para néo se dizer magnificéncia dos homens de toga, se contrapde 0 homem na cela. Nunca me esquecerei da impressao em que tive na pri- meira vez em que ainda adolescente, entrei em uma cola de uma seco penal do Tribunal de'Turin. Aqueles, poderfamos dizer, acima do nivel dos homens, este, abaixo deste nfvel, trancafiados numa cela, como ani- mais selvagens, $6, pequeno, perdido, mesmo quando tenta parecer desenvolto, carente... ‘Todos nés temos nossas preferéncias, mesmo quando se trata de piedade. Os homens sao diferentes ‘uns dos outros, principalmente quando se trata de pie- dade, Também este 6 uma aparéncia de nossa influén- cia. Existem aqueles que compreendem a9 coitado com @ figura de um pobre faminto, outros com de um vaga- bundo outros com de um enfermo, para mim 0 mais, coitado de todos 6 0 preso, o encarcerado. Digo o encarcerado, veja bem, nao o transgressor, Digo o encarcerado, como fala o Senhor, nequele famoso discurso mencionado no capitulo vin- te e cinco do Evangelho de Sdo Mateus, que exerceu + quei parado, horrorizad: As Misérins do Proceso Penal 19 sobre mim um fascinio grandioso, e até ontem, poderia dizer; ecreditava que preso era sindnimo de criminoso, mas enganave-me e o erro foi um dos tantos episédios, aptos para demonstrar que nunca pensamos o bastante acerca dos discursos de Jesus. O delinquente, enquanto néo é encarcerado, 6 outra coisa, Confesso que o delingdente me repugna; em certas ocasiées me causa horror. Para mim, entre outros, 0 delito, o grande delito, ocorreu-me de presencié-lo, pelo menos uma voz, com os meus pr6- prios olhos. Os briguentos pareciam duas panteras; fi- contudo, bastou que viesse um dos dois homens, que tinhe derrubado o outro com apenas um golpe mortal enquanto os policiais, provi- dencialmente acudiam, colocando-lhes as algemas, para que do horror nascesse a piedade. A verdade é que, epe- nas algemado, a fera se tornou um homem. As algemas também 6 um simbolo do direito, talvez , se pensando melhor, o mais auténtico de seus ‘simbolos, muito mais expressivo que a balanga e a es- pada. £ preciso que o direito nao nos prenda as maos. Exetamente as algemas servem para encontrar o valor do homem, que , segundo um grande filésofo italiano, arazao ea funcao do direito. “Quidquid latet apparebit’, diz ele a cerca disto,com 0 “Dies irae”: tudo aquilo que estd escondido viré aluz. Aquilo que estava escondido, na manha em que vio homem Jangar-se contra o outro, sob 0 especto de fera, era o homem, ¢ logo ataram seus pulsos com acorrente, o homem reapareceu: 0 homem, como eu, com seu bem ¢ seu mal, com suas sombras & 20 Francesco Carnet Tuz, com sua incomparavel riqueza e sua miséria hor- ronda, Entao nasceu do horror a piedade. Nao estou, nosso momento falando, a respei- to do transgressor, do bem e do mal, da luze das trevas, da miséria e da riqueza, deixando-me levar pela litera- tura? Repreenderam-me tantas vezes, ainda por iltimo, na circunsténcia de uma infeliz batalha pela aboligéo da prisio perpétue, o que é definido por alguns como uma simplicidade. Quem dera fosse! A verdade 6 que Francisco, precisamente porque melhor. que qualquer outro interpretow Jesus. Chegou mais so fundo que qualquer outro no precipfcio do problema penal . ape- nas Francisco compreendeu , ao beijar o.l2proso, o que Jesus quis dizer com 0 convite @ visitar os presos. Os sabios, que consideram a pena, de acordocom uma for- mula famosa, como um mal que se faz com que 0 transgressor padeca pelo mal que causou, desconhecem ou esquecem o que Jesus diz sobre o deménio que nao serve para oxpulsar 9 doménio: nao sord com o mal que se vencerd o mal. Jé-Virgilio, antes que baixasse aos homens a luz de Jesus, havia cantadé:“omnia vincit amor”, 0 amor somente é sempre vitorioso. Nao se pode fazer uma divisdo nitida de homens bonse maus. Infe- lizmente nossa pequena viséo nao nos permite diferen- ciar uma semente do mal naqueles que chamamos de bons, ¢ uma semente de bem naqueles que chamamos do maus. E sta visio tio poquena 6 devido ao nossa inteligéncia que nao osté iluminado pelo amor. Basta tratar o transgressor em vez de fera, como um homem, para descobrir a incerta chama do pavio laminoso, que a pena, em vez de apagar deve reavivar. As Misérias do Processo Penal 21 Presenciei poucas vezes uma face pavorosa como aquela de um homicida, a quem dofendi a alguns anos frente a um Tribunal de assises da extrema Calabria: ela havia matado dois homens, de maneira premedita- da, acertando-ihes dois tiros de pistola pelas costas, nio vi naquele rosto, coberto por uma cabeleira de azevi- cho, nem se quer ui raio de luz. Defendida, juntamen- te com ele, também seu irmao, imputado por Ter insti- gado o homem a matar. Na conversa que tive com ele, tao pronto cheguei 14 embaixo, tive que dizer-lhe que paraele, infelizmente, nao havia esperanca além do que se poderia tentar, com os atenuantes gerais, converter a prisio perpétua em trinta anos de reclusao. Ele me ou- vin impassivel; depois disse: “nao se ocupe de mim, causidico; néo importa; cu sou um homem perdido: pense em salvar meu irméo, que tem nove filhos”. En- Go um raio de amor iluminou a sua fronte. No era a sua Tiqueza aquele amor fraterno, que o fazia esquecer até o seu terrivel destino? A vordade 6 que a somente do bem em quel- quer um denés, nao $6 nos transgressores, esté aprisio- nada. Hi aqueles que tém mais e os que tém menos, mas nenhum de-nés temos 0 espago que deveria. Todos ‘ns em outras palavras, estamos aprisionados, uma pri- 880 que ndo se vé mas que nfo pode deixar de sentir, ‘Tal amargura do homem, que constitui o motivo de uma corrante da filosofia moderna, de grande notéria e in- discutivel importincia, ndo 6 outra coisa se o sentido da priséo. Cada um 6 prisioneiro enquanto esteja fecha- do em si, na diligancia por si, no amor de si. O delito nada mais ¢ que uma explostio de egoismo, na sua raiz 22 Francesvo Carnetuti O outro ndo importa; o que importa, 6a si mesmo. So- mente abrindo-se com outro, o homem pode sair da prisio. E basta que se abra, para que entre pela porta aberta a graca se Deus, Quidquid Jatet apparebit, canta ¢ Dies irae. Poucas instituigdes sao mais felizes que a do fildsofo, que expressou Com este verso a eficacia do direito, Cela © as algemas, diziamos sao sfinbolos do direito e por isso revelam a natureza e a desventura do hoiem. O homem trancafiado ou acorrentado é a verdade do ho- mem, o direito nao faz mais que revelé-le. Cada um esta trancado em uma cela invisivel. Nos assemolha- mos aos animais por estarmnos numa cela, érbora este- jamos em uma cela porque nos assemelhamos aos ani- mais. Ser home néo significa nao ser, mas poder nao ser animal. Este poder 6 0 poder de amar, Quem imaginaria essas coisas quando vi, na sninha infancia, um homem em uma cela, na aula obs- cura do Tribunal de Turin? Quem imaginariaque aquele espeticulo, de um homem em uma cela, eu jamais es- queceria? & curioso como certos fatos, que parecem insignificantes, incidem incrivelmente sobre nossa men- te. Fato que ainda hoje, depois de baver visto tantos, 0 homem encarcerado tem um fascinio misterioso para mim. f esta a experiéncia que me abriu 0 caminho da salvagao. CAP{TULO II O Advogado Carlo Majno, atualmente um dos melhores causidicos de Milao que foi um dos meus discfpulos mais queridos naquela Universidade, deu me, precise mente no dia ei que eu deixava a Cétedra de Mildo pola de Roma, um [indo desenho a grafite do pintor Mentessi que representa as maos de um preso, amarra- das pelas elgemas. Mentessi nao tinha com certeza un conhecimento em particular do problema penal, porém, aquele desenho comprova a clarividéncia das percep- ‘ges de um artista: uma das maos, a esquerda, cafda, inerte, um ato de abatimento, a outra sobreposta, com a palma virada para cima, como a do pobre, que pedo osmolas. Est naquele quadro toda a psicologia do pro- 50, Arminha sorte 6 que vi tantas vezes, no decor rer da minha vida, estender- se para mim aquela mao aberta, esperando uma esmola. As pessoas avistam ao causidico como um técnico, ao qual se pede uma obra, que quem solicita ndo seria capaz de realizar sozinho, 6 visto no mesmo no mesmo plano do médico ou do en- gonheiro, isto também 6 verdade, mas nao ¢ toda a ver- 24 Francesco Carnelutti dade, o resto delas se descobre, porém pela experiéncia do preso. O preso 6, basicamente, um necessitado. A escala dos necessitados foi tracada naquele discurso de Cristo, ao qual jé tive a ocasiao de citar, mencionado no cepitulo vinte e cinco de Sao Mateus: com fome, sedentos, nus, mendigos, enfermos, presos, uma escala que conduzda necessidade fisica essencial ou, melhor, animal, & necessidade fundamentalmente espiritual: 0 preso nao tem necessidade de viveres nem de trajes, nem de casa nem de remédios, o tnico remédio para ele, é a amizade. As pessoas nia sabem, e nem sequer sabem os juristas, que 0 que é pedido ao‘causidico é a esmola da amizade, antes de qualquef outza coisa. préprio nome do causfdico sca. como um pedido de ajuda. Advocatus, vocatus ad;.chamado a socorrer. O clinico também 6 chamado a socorrer, mas somente ao causidicoé dado este nome, quer dizer que entre 0 servigo do médico eo servico do causidico existe uma diferenca, a qual, advertida pelo direito, 6 sem Giividas, descoberta pola estranha intuigéo da diccio. © causidico 6 aquele a quem se pede, em primeiro lu- gu, a forma essencial da ajuda, que ¢, precisamente, a amizade. ¥ também a outra palavra, cliente, que serve para denominar aquele que solicita a ajude, reforga tal interpretacdo: o cliente, na sociedade romana, pedia protegao ao patron, o causidico era também nomea- do de patrono, e a derivagao de patrono da palavra pater projeta sobre a relagao a Tuz do amor. As Misérlas do Processo Penal 25 O que tortura o cliente 0 lova a solicitar aju- da a inimizade. A antipatia ocasiona um sofrimento ou, a0 menos, um dano como certos males, os quais, @ um tanto mais quanto nao séo descobertos através da dor, minam o organismo, por isso, da antipatia surge a necessidade da amizade, a l6gica da vida é assim. A forma elomentar da ajuda, para quem se encontra em batalha, 6 a alianga. O conceito de alianga é a raiz da advocacia O imputado sente ter a aversdio de muitas pes- s0as contra ele. Nao é raro que, enquanto o transpor- “tam a julgamento, soja recebido pela multidéo com um coro de imprecagées , nao 6 raro que oxplodam contra ales ato de agressao, dos quais nao 6 fécil protogs-lo. Imaginam voces o estado de entusiasmo de Catalina Fort que, quando se apresentou em presenga dos jui- 208, todos a nomearam de fera? E preciso nao apenas refletir nostes casos mas também buscar envolver-se na batalha destes infelizes para compreender sua soli- dio espantosa e, com esta, sua necessidade de compa- nhia, Companheiro, de cum pane, 6 aquele que divide ‘onosco o pio, O companheiro se situa no mesmo pla- ho que aquele a quem faz companhia. A necassidade do cliente, principalmente do imputado, é a seguinte: do alguém que se coloque junto a ele, no tiltimo pata- Mar da escala. : A esséncia, a dificuldade, a nobreza da advo- ‘acta 6 esta: situar-se no ultimo patamar da escala, jun- to a0 imputado. As pessoas n4o compreendem aquilo que, no mais, tao pouco os juristas compreende, e ri, e 40 burla, e escamece. Nao 6 um trabalho que goza dos 26 Francesco Carnelutti favores do piblico o de Cirineo. As raz6es pelas quais. @ advocacia ¢ objeto, mesmo no campo literério e in- clusive no campo litirgico, de uma difusa inimizade, néo séo outras além desta. EaléManzoni, quando teve quo retratar a um causidico, perdeu sua benevoléncia e a Igreja deixou de introduzir no Hino de Sao Ivo, patrono dos causidicos, um verso afrontoso. As coisas mais simples so as mais dificeis de serem compreendi- das, Afirmamos com nitidez: 0 conhesimento do causidico tecai sob o signo da humithaga. £ cometo que vista a toga, coopete, desde entio, nd administra- co da justiga, mas seu lugar esta abaixo, e ndono topo. Ele compartilha a necessidade de pedir e de ser julgado. Est sujeito ao juiz assim como o imputadc, ‘Mas é justamente por isso que a advocacia 6 um exercicio espirituaimente saudvel. Pesa o dever de pedir, mas 6 proveitoso. Acostuma a rogar, 0 que mais 6, além de um pedido, a precede, e o orgulho é uma ilusio de poténcia. Nao hd nada melhor qu2 a advoca- cia para nos curar de tal iluséo. O maior dos causidicos sabe que ndo pode fazer nada frente eo maior dos jui- 2es, volta e meia, o menor dos juizes 6 aqueie que mais o humilha. Esté, assim como um pobre constrangido batendo a porta. E nem se quer esté escrito sobre a por- ta: pulsate et aperietur vobis. Nao poucas vezes cha- ma-so em vio. O conhecimento se torna mais doloroso e mais saudével. Acreditava-se ter razéo, se havia estu- dado tanto, se tinha suado tanto, ao contrécio.... E ne- cessério conhecer tais momentos para compreender. (8 Miséries do Processo Renal far Os romanos denominavam a atividade do caus{dico no procosso com a verbo postular. Juram os diclonérios que este verbo significa: Pedir aquilo a que 80 tem direito. Nao deveria haver nocessidade de pedir aquilo a que se tem direito. Em resumo, 6 necessério submeter o juizo proprio ao alheio, mesmo quando tudo permite acreditar que no haja razo para infligir a ou- tro uma maior capacidade de julgar. Isto significa, no plano social, colocar-se jun- 10 a0 imputado no éiltimo patamar da escala, um sacri Siclo, mas nao existe sacrificio que n4o possua um be- noficio. Por isso afirmei que nossa experiéncia é sauda- vol. O beneficio 6 obtido quando se comega a enxergar, na escuridao, uma chama do pavio luminoso. Um be- noficio, como ocorre sempre nas coisas do espitito, que ‘40 mesmo tempo se da e se recobe: se aquela chama & reavivada, seu calor néo aquece somentea alma do cli- ente, mas do patrono ao mesmo tempo. Pelo pouco bem que ou possa ter feito a algun destes desgracados, foi {monso 0 beneficio que deles recebi, do Senhor, enten- do-se, mas por meio deles, por isso, porque o Senhor disso o quanto se dé aeles 6 recobido por Ele, os pobres lo 08 delegados de Deus. O preso, niio sabe as pessoas e menos ainda labo ole, esté faminto e sedento por amor. A necessida- Mo de amizade vem da sua desolagao. Quanto maior for ‘desolacao, mais profimda e fecundada 6 a necassida- lo do amizade, Inconscientemente ele pede o que é in- Alaponsével a fim de que o defensor possa cumprit com dU oficio. O que o defensor deve possuir, antes de tudo, 28 Francesco Carnetuti para tal fim, 6 0 conhecimento fisico, mas o conheci- mento espiritual ‘Tomar conhecimento do espirito deur homem tomar conhocimonto de sua historia, ¢ conhecer uma historia nao 6 somente conhecer uma sucesso de fa- tos, mas encontrar 0 elo que os vincnla. Neste sentido, a historia é uma reconstrucao logica, nao uma exposi- ao cronolégica dos acontecimentos. Tudo isso nao sera possivel se o protagonista ndo abris, pouco a pouco, sua alma. Este tipo de protagonista, que séo os delin- qiientes, tem por definicao, almas fechadas. Ao mesmo tempo em que solicitam a amizade, opde a desconfian- Ga e a suspeita. Carregados de ddio, enxerfam-no mes- mo aonde nao existe mais que o amor. Sao como ani- mais selvagens, que apenas como infima delicadeza paciéncia podem ser domesticados. Alguém dird que eu vejo assim & advocacia sob o perfil da poesia. Pode ocorrer. A poesia de seu oficio 6 algo que um causidico sente em dois momen- tos da sua vida: quando veste pela priméirs vez.a toga ou quando, se propriamente néo a depés, esta por depd- Ja: no alvorecer ¢ no ocaso. No alvorecer, defonde a inocéncia, faz valer o direito, faz triunfar a justiga: esta 6 a poesia. Depois, pouco a pouco, caem as ilusoes, como as folhas da arvore, depois do brilho do verso, mas através do emaranhado de ramos, cada vez mais escassos, sorri o azul do céu. Agora estou jé seguro por nem ter defendido a inocéncia, nem ter feito valer 0 direito, nem ter feito triunfar a justiga, e, entretanto, se © Senhor me fizesse nascer de novo, comegaria outra vez. Néo obstante os fracassos, as aflicées, os desa- As Misérias do Processo Penal 29 pontamentos, o balango 6 ativo, se fago a andlise dele, me dou conta de que a partida capez de acumular todas. us doficiéncias consiste precisamente naquela humilha- iio de ter-me de encontrar, justo a tantos desgragados, contra os quais é desencadeado o vitupério e escdrnio 0 desprezo, no tilluima patamar da escala. CAPITULO IV O Juiz e as Partes No topo da escade esté 0 juiz, Nao hé um car- go maior que o seu nem uma dignidade mais imponen- te, Esta colocado, na Corte, sobre a cétedra; ¢ merece esta superioridade, A linguagem dos juristas enaltece o juiz com uma palavra, sobre cujo significado profundo os tas e tantos mais os {ildsofos, deveriam prestar, mas néo prestam, a atengao. Nés dizemos que frente ao juiz estao as partes, Denominam-se partes o sujeitos de um contrato: exemplo, ao vendedor e ao comprador, a0 arrendante ¢ ao arrendatadrio, aos séciosre igualnente, aos sujeitos de uma litis. O credor quer fazer-se pagar e co devedor nfo quer pagar; 0 proprietério quer a devolu- io de sua casa e o inquilino quer continuar a habiti-la; enfim, chamam-se assim os sujeitos do contraditério, ou seja, da batallia que desenvolve entre os dois defen- sores nos procassos civis ou entre Ministério Piblico ¢ o defensor nos processos penais, Estes todos sao deno- im porque estao divididos, ¢ « parte proce- de, exatamente, da divisdo: cada um possui um interes- se oposto ao do outro, o vendedor gostaria de entregar As Mistrias do Processo Penal 31 pouca mercadoria e receber em ceixa muito dinheiro, ‘enquanto o comprador que precisamente o contrério, cada um dos sécios gostaria de tomar a parte do ledo, dos dois causfdicos, se um deles vence, o outro perde, joga égua et seu moinho. 0s juristas por isso o nome de parte, mas 0 algnificado de parte 6 muito mais profundo, na parte convergem o ser ¢ o nao ser, cada parte éasi mesmoe nflo 6a outra, Mas , se 6 assim, todas as coisas e todos os homens sao partes; uma rosa é uma rosa‘e nao uma violeta; um cavalo é um cavalo e néo um boi; eu sou eu . @ nfo voce. E tal descoberta de ser homem nada mais guo uma parte é uma descoberta de inestimavel valor. Por isso 0s fildsofos deveriam dar mais créditos & lin- guagem dos juristas e prestar-Lhes mais atencdo. Entretanto, aqueles que estéo frente ao pata sorem condenados sao partes, quer dizer que 0 juiz nnflo 6 uma parte. De fato os juristas dizem que 0 juiz é supra parte: por isso ele esta no alto eo acusado embai- x0, sob ele; um na cela, outro sobre a cétedra, Semelhantemente o causf esta embaixo, em cote- Jo com 0 juiz; ao invés, 0 Mi . ele esté ao ado, Isto estabelece um erro, que com um maior en- {endimento em torno da mecanica do processo termi- aré por se corrigir. Entretanto, o juiz, que também 6 homom e se é homem 6 uma parte. Esté de ser parte © ‘80 tnesmo tempo de nao ser parte, 6 a contradicéo, na “qual o conceito do juiz se agita. O fato de ser o juiz um homam, e do dever ser mais que um homem, é seu dra- Mn, 32, Francesco Cat Um drama representado com insuperével maestria no Evangelho de Sio Jodo, ainda fico horro- rizado quando me volta a mente aquela representagao sublime de Benedetto Croce, aluda que seja do ponto de vista estético, tenha compreendido a grandeza de havé-lo chamado um “quadrinho fabuloso”: ‘Jesus de- pois foi ao monte da Olivoiras, mas ao amanhecer esta- va no templo, ¢ todo o povo recorria a Ele, e Ele sentow ese pos a ensiné-los; nessa ocasifo os escrihas e fariseus conduziam uma mulher que foi surpreendida em adul- tério; e, postando-a no meio, diziam a Ble: est mulher foi apanhada em adultério. Ora, Moisés, na lei, nos tem determinado que tais mulheres sejam apedrejadas. Tu, que nos dizes? E perguntavam-lhes isso para coloca-lo Aprova e Ter um meio de acusa-lo. Mas Jesus se cur- vou e com o dedo se pds a escrever na terra. Insistindo aqueles a interrogé-lo, levantou-se, respondendo: quem de vés estiver livre de pecado que atire a primeira pe- dra” (Jodo, VOI, D. Eide ficar estatico, sem palavras, “quem de vés estiver livre de pecado que atire a primejga pedra”! £ preciso, para se sentir digno de castigar, estar livre de pecado, portanto somente o juiz esta acima daquele que 6 julgado. E uma vez que o pecado no é nada além de nosso nao ser aquilo que deveriamos ser , 6 necessério ser plenamente, sem deficiéncias, sem sombras, sem Jacunas, em suma, 6 preciso nao ser parte para sor juiz. Nada de quadrinho fabuloso! O problema do juiz, o mais, arduo problema do direito e do Estado, est’ exposto aqui com uma clareza espantosa. a “AB Misairins do Processo Penal 88 Certamente, essim entenderam os Escribas @ Farlsous que tontaram confundir ao mestre, jé que 0 ‘Bvangelho continua narrando que Jesus “novamente se Anelinou ¢ escreveu na terra”. Esperava ole, pensativo, ‘Goleito de suas palavras. Entio Escribas ¢ Rariseus, “fo ‘Min embore, andando uma atrés do outro comegando “Polos mais velhos, até os altimos, restando apenas Je- itis @'a mulher, que estava no meio” (Joao VIII, 8) se Nenhum homem, s pensasse no que aconte- ‘G6,para julgar outro homem, aceitaria ser juiz. B, por- _ tanto, 6 preciso encontrar juizes. O drama do direito 6 Asto:Um drama que deveria estar presente a todos, dos Jiilees a09:judicados no ato no qual se exalta 0 proces- “AGED crucifixo quo, gracas a Deus, nas aulas judiciérias “Pinde ainda sobre a cabega dos juizes, seria melhor se ¢ colocada de frente a eles, a fim de que ali pudesse “Goh frequéncia descansar o olhar, este a oxprimir a in- Wguidade deles: e, nao fosse outra, a imagem da vitima ‘fits notdvel da justica humana. Apenas o senso de sua Afdignidade pode ajudar o juiz a ser menos vil, #5. Alei tentou todos os expediontes possiveis para ‘§iantir a dignidade do juiz. O mais obvio entre estos “8Ohinlato no jutzo colegiado: posto que o ato de julgar a mem exige que quem julga seja mais que quem. © que se faz julgar os varios homens juntos. jeira vista, o expediente parece ilusério, a digni- fio 6 alcangada com a adigao de mais indignida- ase verdade é uma coisa 6 a adigao de mais jui- ‘Outta @ unio deles. Nao se trata no colegiado, de center um juiz a outro como os algarismos de uma ot Francesco Cameluth adigéo, inas de “vertere plures in unum’, falariamos em latim, de faz6-los so convorterom om um 86. Esté de intermediario o misterioso conceito do acordo ou acor- de, clave na musica e clave do direi torioso por- gue ainda nao sabemos, € ymos nunca, como pode suceder que quando entre dois homens é gerada verdadeiramente a unio e, portanto, forme-sea unidade, assim correspondendo a cada um a ser 0 ou- ro, mas néo 0 no ser, o bem, mas nao o mal. Pode parecer que a associagdo de transgressores contradiga essa afirmagao, mas alguém ao raciocinar se dé conta de que os transgressores 840 mantidos juntos através do modo, trata-se de uma falsa unido como seria aquela do um feixe de galhos amarrados juntos, que nunca for- mam um galho s6, una semente do bem, qual pode sempre encontrar-se em volta 9 escosidida sob a casca do mal. Oinicio do colegiado judicial 6 verdadeiramen- te um remédio contra a insuficiéncia do juiz, no senti- do de que, se néo a elimina, ao mesmo tempo a reduz: em outras palavras, o juiz. colegiado esta mais perto do contradigao do quo o juiz aloance sua unidade, ou saja, de que entre os juizes singulares soja estabelecido 0 nao significa tanto identidade de opinioes quanto paridade de tensto em relagao a verdade. Atingi-se assim a raiz do problema. A humana nfo pode ser mais que uma justiga parcial, sua humanidade nao pode deixar de ser resolvida em sua parcialidade. © problema do direito e o problema do 2 GaMisérias do Processo Penal 35 fiulz 840 uma tinica coisa, O que deve fazer o juiz para “Ser melhor do que jé 6? A nica via que Ihe 6 aborta a fal fim 6 aquela de sentir a sua miséria, precisa senti- © N0M-60 pequonos para serem grandes. E necessario for a alma de crianca para entrarno reino dos céus, Bipreciso, cade dia mais, recuperar o dom da surpresa, B preciso assistir, a cada manha com a mais profunde -@tiogsio o nascer do sol. a cada tarde ao seu aceso, ‘preciso permanecer aténito ante o perfume de um ailm ou ante um canto de um rouxinol. E necessario + Gait de joelhos ante cada manifestacdo deste prodigio -Mticomparével quo 6 a vida, Diréo, outros, que o juiz para ser juiz, deve Gomplementar certos estudos, superar certos concur- 808; gubmeter-se a certos controles. Sobretudo, hoje se Mostra que, para scr juiz penal, 6 necessério estud: ‘aldm de direito, sociologia, antropologia e psicologia, / Gertamente oespirito 6 condicionado pelo compo o vice. ‘Yorse; perticularmente a psicologia 6 a ciéncia que es- -tuda estas correlagoes: mas, além deste, ha o campo ‘que sobretudo o juiz deve conhecer; ¢ tomo tanto que ‘pate o seu conhecimento nao contribuem nem a uni- ‘Yoreldade nem os institutos complementares. Narrauma Abula, que li em uma revista Argentina, que os protes- A09:dos anjos acerca da criacdo deste ser absurdo, meio moio esta, quo é o homem, o Criador respon- “ol hombre non és cuestion para congrosos de filo- fla”, 0 homem nao 6 questo que possa ser discutida 6 congressos; e acrescentou: “el hombre es cuestion :f¢ on el hombre". Desde que tive a oporiunidade de 14 anos, néo me foram da mente tais palavras. 36 Francesco Carnelusti ‘Também poderia se dizer que é questao de fé no homem e questao penal. Mas a fé no homem se con- quista somente amando 0 homem. Mais que ler varios livros eu gostaria que os juizes conhecessem varios homens; se fosse possivel, sobretudo santos © cana- Ihas, aqueles que estao sobre o mais alto ou omais bai- xo degrau da escada. Parecem imensamente distantes; mas no terreno do espirito acontece coisas estranhas. E necessério muito pouco para converter de canalha em santo: Cristo, como o exemplo do ladrao crucificada nos ensinou! Apés tudo basta que 0 canalha se enver- gonhe de ser canalha; pode também bastar que um santo se glorifique de ser santo para perder a santidade. Estas sao, verdadeiramente, as coisas essenciais, mas io sao encontradas em nenhum manual de psicologia. Embora sejam aprendidas na Igreja ou na penitencidria. Curiosa também esta aproximagéo, nao? Entre a igreja ea penitencidria, qualquer coisa como colocar juntos 0 inferno e 0 céu. Mas 0 erro, 0 tremendo erro esta no crer que aqueles que estao recolhidos na penitenciéria sejam malditos. = CAPITULO V Parcialidade do Defensor Diz-se: um homem, para ser juiz, deveria ser wn homem. Visto que no fundo é esta preci- lal idéia, a qual inspira aquele corretivo da in- ia do juiz que é o colegiado judictario. Mas ele infin Go tinico remédio que a experiencia tem sugerido. Para compreender, é preciso partir da parciali- » homem. Todo homem, afirmei, 6 uma parte. tixalamente por isso, nenhum homem chega a se apo- dorar da verdade. Aquilo que cada um de nés cré ser a vordada nao é senfo um aspecto dela; qualquer coisa mo wma mintscula faceta de um diamante maravi- Ihoxo. Gristo nos ensinou isto dizendo: “Eu sou a vei dinda’, Aleangar a verdade 6 alcancara Ele e nele. Aman- dlo-0 , podemos nos aproximar indefinidamente; mas fAloangé-lo nio, porque Ele ¢ infinito. A verdade é como fh liz ou como 0 silencio, que compreendem todas as oros @ todos os sons, mas a fisica tem demonstrado tio 0 nossa vista nao se vé & os nossos ouvidos néo s® Guvom mais que um breve segmento da gama das cores dos sons; estéo aquém ¢ além da nossa capacidade eT aces aoe sensorial as infra e ultracores, como os infra ¢ ultra- sons. Ho aqui e 0 de Ié. O juiz deve fazer sua escolba, {a8 para se escolher ele deve percorrer um ou outro Explica-se assim uma maneira de dizer, a qual, zo, 4 que de outra forma nao poderia ver onde para quem quer compreender esse importante fato so- letminam. Agora se compreende a que serve, para cial que 6 0 processo, tem uma importancia substanci- ‘0 defensor o por que, em frente ao defensor, se al. O juiz, quando julga, estabelece quem temrazéo, ou acusador; so aqueles que guiam o juiz no per- jue parte é a razio, Essa razio 6 nao pode ser dae duas estradas, a fim de que ele possa escolher mais que uma, como a verdade; alias, neste sentido se =the del equivalem tazéo e verdade. Dizer que um tem razé0 pes significa afirmar que a verdade esté de seu lado. Mas, » Acusador e defensor sfo, em iltima anilise, como se explica, entdo, se a razdo 6 uma s6, que, justa~ naadores: constroem e expoem as razées. O mis- mente no proceso, cada uma das partes exponha suas inar. Mas um raciocinio que exige razées? Aquelas que o ministério pablicé e o defensor § obrigatérias. Um raciocinio de um modo di- expdem, quando discutem, sdo as raz6es pelas quais 0 ‘daquele do juiz. Nao 6, talvez, facil de se com- primeiro pede a condenacio e o segundo a absolvicao. gnder; mas se tal nfo € compreendido, tampouco é Como se concilia a unidade da razao com a pluralidade ipreendido, tampouco é o processo, e mio basta que das razées? Como alguém conclui que errou, se diz que jtas compreendam, porque este 6 o ponto acerca expos suas razbes? $6 qual 0s loigos podem ter em relagéo a0 processo bes falazes e nocivas para acivilidade, Racioci- A verdade é que, tomando em,camparagéo,a 'gm palavras simples, colocar as premissas e tirar razéo 6 decomposta nas razies como a luz 6 decom- slusdes. O acusado confessou ter matado, logo posta em cores @o siléncio nos sons. Da mesma manei- , Na linha ldgica, primeiro vem as premissas ¢ aque nds nao podemos perceber toda a luz nem gozar a8 conclusbes. Assim procede o raciocinio i ncio, assim ndo podemos essegurar toda a | razao. As razbes sao aquela fragao de verdade que para | cada um de n6s parece ter sido alcancada. Quanto m: lofensor no 6 imparcial porque no se deve ser. E raz6os forem desvendadas mais seré possivel que, so- | 3% i o defensor, néo pode e nfo deve mando-as, alguém se aproxime da verdade /0 preco que se deve pagar para obler a No fundo quando o juiz se prepara pare julger, ydo Juiz, que 6, pots, o milagre do homem, enquan- vé-se diante de uma duvida: este é culpado ou inocen- jeguindo nao ser parte, supera assim mesmo. O te? Divida 6 também uma palavra cristalina: dubium 40 Francesco Carnelutti defensor e o acusadar devem buscar as premissas para amente como acusadar. No ordenamento chegar a uma conclusao obrigatéria. j ‘processo penal, o Ministério Pttblico nao 6 es- glmente um acusador; ao contrario, é concebido ‘Tudo isso pode parecer absurdo. B, semduvi- mente do defensor como wm raciocinador im- das, a chave do proceso est seria seo juiz ‘mas aqui, digo, hd um erro de construgio da contentasse com tal raciocinio: o imputado confessou Riuina, que também por isso funciona mal; de resto, ter matado, Portanto matou. Hé também casos nos quais ‘sobre dez, a légica das um homem confessa um delito que néo comete mos pais que se acusavam para salvar ao filho, ¢ tam- bém filhos que se submetiam ao mesmo sacrificio para salvar seus pais. Isto 6 to certo - e - nao somente pela razio que acabo de indicar - inclusive o cédigo penal pune aqueles que denunciam contra a verdade serem culpados de um delito. Isto quer dizer que, também , ida, que a propésito, nos convém observar que quando aqui temos provas limpidas da culpa ou da | mo dtivida, duelo vem de duo. No duelo 6 per- inocéncia, antes de condenar ou absolver, é pr daa dtivida, é como se no cruzamento de duas is valentées se digladia ggfo, As armas de que so u sozinho, nao conseguiria, Sou ajudante natural é 0 de- fensor, este amigo do imputado, o qual, naturalmente, possiti o interesse de buscar sum servir para demonstrar a inocénc' o defensor, um raciocinador coi \6rias, isto 6, um raciocinador parcii mmraciocinador | que traz a égua para seu moinho. ‘ Aacontece nos torneios, acabam por se apaixonar te jogo: esta é também, para o piblico, uma das £ claro, assim, que, desta maneira, o defensor tes atragdes do processo penal. Mas, diga-se P Pr ig 6m, 6 0 que dé-ao proceso penal o aspecto de Indalo, ¢ é exatamente por isso que as pessoas se porém inécuo? Contraposto a ele aquele ou- tem. E propri tro pensador parcial em sentido inverso, que é chama- | @iit}-a fama de fabricantes de sofismas. Em boa parte a do Ministério Piblico e que deveria ser denominado que ctesce excepcionalmente vigorosa contra nés, = 6 devida a uma maligna interprotagéo deste fenémeno. Nao se compreende que, quando o causidico fosse um raciocinador imparcial, néo somente trairia o propésito dever, mas contrariaria a sua razio de ser no processoe omecanismo deste sairia desoquilibrado. Sem duvida, isto acerca das duas verdades, a vordade da defesa e a verdade da acusacdo, é um es- candalo do qual tom necessidade o juiz a fim de que no soja um escandalo sou julgamento, E isto néo s6 Porque o juiz tem necessidade de que Ihe sejam apre- sentadas todas razées para encontrar a razio; 0 mais, se no apresentam mais é em aparéncia complicado, mas na realidade simplificado o seu cumprimento. Sob este aspecto, o duelo entre defensor e acusador parece 0 choque de duas pedras, do qual sai fafSca. As raz6es, j4 haviamos dito, estio para a razdo como as cores para a Tuz; as arengas do defensor o do acusador assemelham- sea uma girndola de cores; mas girando velozmente forma, a'vantagom que iz obtém disso, nao é somente em ordem a inteli- géncia. A verdade € que o contraditorio Jhe ajuda oxa- tamente porque é um escandalo: o escandalo da parci- alidade, o escéndalo da desavenga, 0 escdndalo da Tor- te de Babel. A repugnancia pela parcialidade se con- verte para 0 juiz na precisio de superéla, ou seja de superar, ¢ nesta precisao esta a salvagéo do julgamen- to. Bis que esta tentativa de anélise do processo penal no seumomentomals tocnicamente delicado per- mite, quicé, admirargo um resultado, que possui por si “Mi Mlasins do Processo Penal 43 Maha tmporténcla para a civilidade, Poderia so dizer, a ‘8810: rospeito, om reabilitacao dos causidicos. A ima- ‘Wott do causidico é talvez uma das imagens mais discu- fdas no quadro social, se poderia falar mais atormenta- da: Entre outras, munca, nom se quer nos momentos de mMalor convulsio his p ‘Ahddioos ou dos engenheiros, m: im certa ocasio chegou-se inck ‘Pole estes ressurgiram com rapidez. No fundo, o pro- ‘toate contra os caus! € um protesto contra a parci- ‘Widado do homem. Observando bem, esses sao os neos de sociedade: carregam a cruz por outro, eesta én nobreza. Se me pedisse uma diviséo para a ordem I tdvogados, proporia ovirgiliano sic vos non vobis", (08 aradores do campo d; Rittos. justica e nao colhemos os.

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