You are on page 1of 15
5 Experiéncias clinicas de identificaga4o projetiva ELIZABETH BOTT SPILLIUS Sou grata a diversos colegas, em particular a John Steiner, pelas proveitosas dis- cussdes deste capitulo. Neste capitulo, fago uma sucinta descrigdo de como a introdugao do conceito de identificagao projetiva por Klein levou a desenvolvimentos da técnica. Discorro principalmente sobre o trabalho na Inglaterra, e em especial o de analistas kleinia- nos, ainda que o conceito tenha sem ditvida influenciado a abordagem clinica de muitos outros analistas e nao se possa dizer que “pertenca” a qualquer escola em particular. Vou me concentrar em minhas préprias experiéncias clinicas de identi- ficagio projetiva e no modo como essas experiéncias levaram-me a abandonar ex- pectativas fixas ¢ definigdes rigidas em favor de tentar estar preparada para experimentar quaisquer formas de projegao, introjecao ¢ contratransferéncia que ganham vida na sesso. Klein introduziu 0 conceito de identificagéo projetiva em 1946;-no artigo “Notas sobre alguns mecanismos esquizides”, sua primeira e mais importante rever conceitualmente 0 que chamou de “posi uizo-para- néide”, uma constelacio de ansiedades, defesas e relagdes de objeto caracteristicas da primeira infancia ¢ das camadas mais profundas e primitivas da mente. E-me impossivel fazer justi¢a 4 complexidade e sutileza das experiéncias que Klein des- creve nesse que € o mais seminal de seus artigos. A identificagao projetiva nao era de modo algum o tema central do artigo. Klein a descreve como uma dentre diver- sas defesas contra a ansiedade parandide primitiva, ¢ sua discussdo sobre isto nao vai além de umas poucas frases. Ela diz: Junto com os excrementos nocivos, expelidos com ddio, partes excindidas do ego sio também projetadas na mie, ou, como prefiro dizer, para dentro da Conferéncias Clinicas sobre Klein e Bion mie. Esses excrementos ¢ essas partes mas do self'sdo usados nao apenas para danificar, mas também para controlar e tomar posse do objeto. Na medida em que a mie passa a conter as partes més do self, ela nao é sentida como um in- dividuo separado, e sim como sendo 0 self mau. Muito do édio contra partes do self é agora dirigido contra a mie. Isso leva a uma forma particular de iden- tificagdo que estabelece 0 protétipo de uma relagao de objeto agressiva. Sugi- ro o termo “identificago projetiva” para esses processos. (Klein 1946: 27, tradugao brasileira) E mesmo essa definigo nao é inteiramente exata, pois Klein deixa claro no decorrer do seu artigo que o individuo tem fantasias de projetar os sentimentos bons tanto quanto os maus, de forma que o objeto passa a ser sentido como bom, e © bebé ou o paciente entao introjetam um objeto bom, que ajuda na tarefa de inte- gragdo. Mas tanto no trabalho de Klein como no de analistas que a seguiram, a én- fase estava na projecio de sentimentos maus que 0 bebé ou o paciente nao podem conter. Era opinido de Klein que a ansiedade mais basica e primitiva da posigao es- quizo-parandide é 0 medo de aniquilagdo a partir do interior da personalidade € que, a fim de sobreviver, 0 individuo projeta esse medo, como medida defensiva, para dentro do objeto externo. Na concepgao do bebé (ou do paciente), isto torna 0 objeto externo mau, ¢ é provavel entdo que 0 objeto seja atacado. Mas, freqiiente- mente, a nogio do objeto externo, um tanto distorcida por projegao, instala-se den- tro da personalidade, ¢ 0 bebé (paciente) sente entao que esta sendo atacado por um perseguidor interno. Klein afirma que na primeira infancia, e nas camadas mais primitivas da mente adulta, ha flutuagdes extremas entre bom e mau, com uma ten- tativa de manté-los separados. Cisao, projecio, introjecao ¢ negacao so as defesas principais do modo primitivo de funcionamento caracteristico da posigao esquizo- parandide. E claro que Klein considerava que a cisio normal a identificagao projetiva a ela associada sio partes necessarias do desenvolvimento, ¢ que sem elas a diferen- ciagio basica entre bom e mau e entre 0 se/fe 0 outro nao ficariam firmemente es- tabelecidas, de modo que a base para a posigio depressiva posterior estaria prejudicada, Na posigao depressiva, o self ¢ 0 outro vém a ser distinguidos com clareza, o individuo reconhece que a pessoa amada e a pessoa odiada ¢ atacada so uma ¢ a mesma pessoa, € comega a aceitar a responsabilidade por seus ataques. Klein fala amitide de uma identificagao projetiva “excessiva”, na qual o selfé esvaziado por esforgos constantes de livrar-se de partes dele, embora ela nao dé uma idéia muito clara do que exatamente leva a identificagao projetiva excessiva em alguns casos e nfo em outros. E claro também que ela pensava a identificagao projetiva como uma’ fantasia do paciente, Ela no considerava que 0 paciente lite- 4 Identificagao projetiva ralmente colocasse coisas para dentro da mente ou do corpo do analista. Era tam- bém sua opiniao que, se o analista era influenciado pelo que o paciente fazia a ele, isto era evidéncia de alguma coisa que o analista nao estava conseguindo enfren- tar, 0 que significava que ele proprio precisava de mais andlise. Ela tinha concep- Ges similares sobre contratransferéncia e nao reccbeu bem a ampliagao do termo, que indicava a resposta emocional do analista ao paciente, um uso que Paula Hei- mann introduziu em 1950. Klein pensava que essa ampliagdo abriria as portas para alegagées de analistas de que suas préprias deficiéncias eram causadas pelos pa- cientes. Ainda é de modo geral aceito, ao menos por analistas kleinianos ingleses, que a identificagao pi Pprojetiva é uma fantasia, ndo um ato conereto, mas se aceita agora que os pacientes comportam-se de modos tais que o analista acaba experi- mentando os sentimentos que o paciente, por uma ou outra razo, ndo pode conter dentro dé si ow nao pode expressar de qualquer outro modo, exceto levando 0 ana- lista a ter também a experiéhcia (cf. Rosenfeld 1971; Segal 1973; Sandler 1976a, 1976b, 1987b; Sandler e Sandler 1978; Joseph 1985, 1987; Spillius (org.) 1988: 81-6). Colegas de Klein, em especial Rosenfeld, Bion, Segal, Money-Kyrle ¢ Joseph, comegaram a usar quase de imediato a idéia de identificagao projetiva, embora 0 termo de fato nao tenha sido muito usado até por volta de meados dos anos 50 ¢ poucos artigos tenham sido. escritos especificamente sobre 0 proprio conceito nessa Soca (Para exemplos do uso do conceito, ver Segal 1950, Rosenfeld 1952, Bion especialmente, 1959.) O conceito oferece 1 Nos anos 50, numa brilhante série de artigos, acréscimos substan- ciais ao conceito ao estabelecer uma distingao entre identificagao projetiva normal € patoldgica (1957, 1958, 1959, 1962a, 1962b, 1970). Ele, mais do que Klein o fi- zera, trouxe 0 objeto — a mie ou 0 analista — para dentro da concepgio do pro- cesso de identificagdo projetiva. Seguindo Klein, Bion pensa que, quando o bebé se sente assaltado por sentimentos que nao pode governar, ele tem fantasias de evacué-los para dentro de seu objeto primdrio, a me. Se for capaz de compreender © aceitar os sentimentos sem que seu préprio equilibrio seja por demais perturba- do, a mae poder “conter” esses sentimentos e comportar-se em relagdo ao seu bebé de um modo que fara com que os sentimentos dificeis sejam mais aceitaveis para cle, que pode entdo tomé-los de volta para dentro de si numa forma com a qual pode lidar melhor. Se, no entanto, 0 processo da errado — e pode dar errado seja porque o bebé projeta de modo esmagador ¢ continuo, seja porque a me ndo pode suportar muito sofrimento —, 0 bebé recorre a uma identificagao projetiva 15 Conferéncias Clinicas sobre Klein e Bion cada vez mais intensa, e por fim pode virtualmente vir a esvaziar sua mente de for- ma que nao tenha de saber quio insuportaveis so seus pensamentos e sentimen- tos. A essa altura, ele esta a caminho da loucura. A distingdio que fad BionJentre identificagio projetiva normal.¢ patalégica sua formulagao do modelo continente/contido levaram a um consideravel desen- volvimento da técnica. Embora todos concordem com Kiein que o paciente nao deve ser culpado pelas deficiéncias de compreensio do analista, estamos agora muito mais preparados para acreditar que os pacientes buscam despertar no analis- ta sentimentos que nao podem tolerar em si préprios, mas que inconscientemente de de- sejam expressar e que podem ser compreendidos pelo analista como §omunicagio,) Bion dé um breve exemplo: ele sentiu-se atemorizado numa sessio com um pa- ciente psicotico e entao interpretou ao seu paciente que este estava empurrando para dentro do analista seu medo de matd-lo. A atmosfera na sessio ficou menos tensa, mas 0 paciente cerrou os punhos, e Bion disse que o paciente pegara o medo de volta para dentro de si ¢ agora estava (conscientemente) sentindo medo de que fizesse um ataque assassino (Bion 1955). De modo semelhante, Money-Kyrle ofe- rece uma descrigdo de um paciente que o atacava de um modo que ele nao podia compreender ¢ interpretar com facilidade, e s6 apés a sesso ele pode desenredar sua prépria contribuic&o da contribuigo do paciente, de mancira que na sessio se- guinte ele péde fazer uma interpretagéio apropriadamente “: ontinente” (Money- Kyrle 1956). Rosenfeld (1971; 1987), que estudou particularmente a identificacao projetiva em pacientes psicéticos e fronteirigos, enfatiza a importancia de desem- baragar os seus muitos motivos possiveis: comunicagio, empatia, evitagdo da sepa- ragdo, evacuagio de sentimentos desagradaveis ou perigosos, 0 tomar posse de certos aspectos da mente do outro. (Este tiltimo tipo foi mais tarde chamado por Britton (1989) de identificaco projetiva “aquisitiva” , e de “introjegio extrativa” por Bollas (1987). Riesenberg Malcolm (1970) descreve como ela se deu conta da fantasia perversa consciente de uma paciente ao sentir-se sob pressio para ser es- pectadora dessa fantasia ¢, assim, ser virtualmente participante dela. O’Shaughnes- sy, em especial num artigo intitulado “Palavras e elaborago” (1983), descreve como a identificagao projetiva pode ser um processo essencial de comunicagao de experigncias que o paciente nao pode capturar em palayras. Assim, ao contrario de Klein, nés estamos agora explicitamente preparados para usar nosso préprigs sentimentos como fonte de informagao sobre o que o pa- ciente esta fazendo, embora com a consciéncia de que podemos entender mal, de ) que 0 processo de.compreensio de nossa resposta ao paciente impde uma necessi- dade constante de trabalho psiquico por parte do analista (ver em especial Bren- man Pick 1985 ¢ King 1978) e de que confundir nossos préprios sentimentos com os do paciente é sempre um risco. Baseando-se nas idéias de Bion, Joseph acentua com mais profundidade 0 76 Identificagao projetiva modo pelo qual os pacientes buscam induzir sentimentos © pensamentos no} analista, e como tentam, muitas vezes de modo muito sutil e sem se darem con- ta disto, instigar igarp analista para que este aja de uma maneira compativel com a projecio do paciente (Joseph 1989). Compare-se também com 0 conceito de) Sandler de “atualizagao”, um termo menos coloquial para o mesmo processo (1976a). Joseph dé muitos exemplos detalhados. Um paciente masoquista, ten- do na fantasia inconsciente projetado para dentro de seu analista um aspecto sddico de si proprio ou de um objeto interno, agira de maneira que inconscien- temente procure induzir o analista a fazer interpretagdes ligeiramente sddicas Um paciente manifestamente passivo tentaré fazer com que 0 analista seja ati- vo. Um paciente inyejoso descreverd situagdes das quais se pode esperar que o. analista sinta inveja. O objetivo do analista é permitir-se experimentar e res- ponder internamente a tais pressdes do paciente, de modo suficiente a tornar-se, consciente da pressdo e de seu conteido para poder _interpreta-lo, mas sem ser impelido a uma_atuagao, grosscica (Joseph 1989). Entretanto, algum grau de ) atuagao por parte do analista é muitas vezes inevitavel nos estdgios iniciais da » tomada de consciéncia do que o paciente esta sentindo, um ponto que é mais profundamente enfatizado por O’Shaughnessy (1989). Nao tentarei descrever a grande proliferagao de artigos sobre identificagdo projetiva que se desenvolveu desde os anos 60, sobretudo nos Estados Unidos — Malin e Grotstein 1966; Jacobson 1967; Ogden 1979, 1982; Kernberg 1975, 1980, 1987; Meissner 1980, 1987; Grotstein 1981a; Sandler (org.) 1987a oferece uma série relevante de artigos sobre o tema, e Hinshelwood (1989) apresenta uma dis- cussao detalhada do uso kleiniano e dos usos posteriores. Grande parte da discus- americana diz respeito ao motivo da identificagao projetiva (evacuagao, obter controle, aquisicao, evitar separagéio) e a distingao entre projecio ¢ identificagao projetiva, embora eu pense que tal. distingda é impossiyel de ser mantida, bem como é impossivel assegurar um acordo a respeito. Na Inglaterra, como descrevi, penso que ha o que se poderia chamar de trés “modelos” clinicos de identificagao projetiva: o uso proprio de Klein, no qual o foco incide sobre 0 uso pelo paciente de identificagao projetiva para expressar,de- sejos, percepgdes, defesas; a formulagao continente/contido.de Bion; e 0 uso de Joseph, proximo ao de Bion, no qual o analista tem a expectativa de que os pacien- tes exercerfio constantemente pressiio para relacionar-se com o analista, as vezes de modo muito sutil, as vezes com grande forga, a fim de fazerem com que o ana- lista atue de uma maneira compativel com a projegao do paciente. Do ponto de vis- ta histérico, as distingdes entre esses modelos sao importantes, mas clinicamente nds agora esperamos que todos os trés modelos possam ser operantes ao mesmo tempo. Mesmo quando, por exemplo, o analista sente que é pouco afetado pela projegdo de seu paciente, uma observagao mais detalhada do material pode revelar 7 Conferéncias Clinicas sobre Klein e Bion expressGes que ele nao captou e pressdes a que ele nao estava de todo aberto. 0 analista é sempre em algum grau afetado pela projegdo de seu paciente, ha sempre algum movimento do paciente no sentido de empurrar o analista para a agio e, ine- vitavelmente, quase sempre ha alguma atuagio do analista, por mais insignificante que seja. A questo mais importante para o paciente ¢ para a interagdo analista-pa- ciente pode variar amplamente de uma ocasiao clinica para outra, e todos os mode- los de identificagao projetiva que descrevi podem ser importantes para se chegar ao cerne do problema. Tentarei agora ilustrar com o material de trés pacientes os trés modelos que descrevi, € mostrar como todos os trés modelos podem ser titeis na compreensio dos pontos cruciais de interag%o numa sessio. SRA Nessa sessao, eu estava usando a idéia de identificagao projetiva mais como penso que Klein poderia ter usado. Pensei que a percepgdo que meu paciente estava ten- do de mim era distorcida por sua fantasia inconsciente de projegao de aspectos de si proprio e de seus objetos internos para dentro de mim. Isto envolvia particular- mente sua incapacidade de usufruir de qualquer coisa para seu proprio bem. O Sr. A era o mais velho de trés filhos de uma familia catélica de um pais lati- no. Ele tinha um ressentimento duradouro por sentir que seus pais preferiam os ou- tros filhos, e de fato me parecia provavel que ele houvesse sido um tanto privado emocionalmente na infancia. Ele procurou andlise devido a dificuldades no traba- Tho e a uma sensagao de falta de sentido em sua vida. Depois de muito esforgo na anilise, ele completara seu primeiro projeto independente de pesquisa — ele € bid- logo —, ¢ este fora bem recebido por seus colegas. Mas, em seguida, ele comecou a sentir-se cada vez pior, dizendo que sua pesquisa na verdade nao era criativa ou original, que ele nao pertencia a lugar algum, sentia-se completamente inerte, esta- va farto de mim e da andlise por se sentir tao morto. Numa sessfo ele teve uma fantasia repentina, que descreveu como “grandiosa”, de ampliar sua pesquisa su- postamente pequena num empreendimento de vulto com uma bolsa dos Estados Unidos etc., etc. Eu disse que ele estava me contando esse plano de um modo que se destinava a induzir-me a fazer algum tipo de interpreta¢ao punitiva sobre a sua onipoténcia, como se ele quisesse que eu depreciasse ¢ ignorasse tanto a validade de sua pesquisa como 0 trabalho que tinhamos feito juntos para tornd-la possivel Ele prosseguiu falando sobre alguma outra coisa, como se nao tivesse escutado 0 que eu dissera — ele estava sendo, em outras palavras, to grandioso em relagao a mim quanto o era em seu plano de pesquisa. Na sessio seguinte ele relatou o se- guinte sonho: 78 Identificagao projetiva Ele estava voltando para seu proprio pais para passar férias. No caminho, pre- senciou um acidente, mas ninguém foi ferido com gravidade. Uma vez em casa, ele ouviu de um conhecido casual que seu amigo intimo Mario casara. Mario néo convidara 0 paciente para o casamento, ¢ ele se sentiu terrivelmente excluido. Meu paciente acordou com a sensagio de que a vida nao valia a pena. Ele era com- pletamente incapaz de obter prazer no que quer que fosse. Grande parte de suas as- sociagées centraram-se em torno de sua opiniao de que Mario era provavelmente incapaz de casar-se ou de ter qualquer tipo de relacionamento profando. Eu disse que pensava que Mario representava aquela parte dele mesmo que havia sido incapaz de qualquer tipo de relacionamento comigo, mas que nos ilti- mos meses esse seu aspecto Mario entrara cada vez mais em contato comigo, o que ele descreveu no sonho como um casamento. Esse casamento estava até mesmo produzindo “filhos”, na forma de sua pesquisa. Sugeri que a parte naio-Mério dele sentia-se terrivelmente excluida da alianga crescente entre Mario e mim e estivera tentando reafirmar seu controle sobre nés dois. Ele pensou sobre isto ¢ entdo disse que no conseguia ver por que deveria se sentir tio excluido por sua melhora. Depois de um breve siléncio, disse que a mae de Mario era uma mulher imaculada, atraente, muito agradivel com os amigos de Mario, ¢ de fato ela dera indicagées para o paciente de que desejava que Mario se assemelhasse mais com o paciente. Ele pensava que a mae de Mario queria que Mario se bem-sucedido ¢ se casasse, mas apenas para provar que ela era uma mae bem-sucedida, nao pelo bem de Mario. Eu disse que ele parecia estar dizendo que nfo se deveria confiar em meu relacionamento crescente com o aspecto Mario dele proprio, porque eu sé queria que Mario crescesse ¢ se desenvolvesse para que eu pudesse congratular-me por ser uma analista bem-sucedida. i Nas sess6es que se seguiram, ele foi sendo cada vez mais capaz, a0 menos ein parte, de reconhecer-se nas qualidades que atribuiu a mim e a mie de Mario — es- pecialmente em sua atitude ressentida em relagao @ sua propria e A minha fruigdo da analise e de seu sucesso. Na superficie, como eu disse, eu estava usando a idéia de identificagio proje- tiva na sessio mais do modo como Klein a define. Meu paciente estava projetando para dentro de mim sua propria incapacidade de usufruir seu sucesso, de modo que eu, assim como a mae de Mario, era percebida como querendo ajudé-lo para o meu proprio beneficio, nao para o dele. Achei isto facil de entender e nao senti muita mudanga em meu estado mental analitico costumeiro. Mas olhando para o material mais de perto, pode-se nele ver outros niveis, mais préximos ao tipo de fendmeno que Bion e Joseph descrevem. Recorde-se que na primeira parte do sonho ele viu um acidente, em que nin- guém foi gravemente ferido; ele estava voltando para casa em férias. Na sessio do 719

You might also like