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Didatica organizagao do ele pedagogico na Peixoto Cor ino | Christiane Martinatti Maia Digitalizado com CamScanner te Didatica: origem e pressupostos Digitalizado com CamScanner (1.1) pistoricizando a didatica idatica € derivado da expressdo grega Texvi Biba, 0 didati nifica “arte ou técnica de ensinar”, No in, ematizagado & constituigéo como campo Z ivenciada de forma pratica. Surgiu com basy (a5g2-1670), que em SUB obra Didética magng O term ‘ (techné didaktiké) e sigr que antecedeu sua sist udos, a didatica foi v’ estt io nas analises de Coméni ems : (1657), propés a reforma da escola e do ensino e langou “as bases para uma pedagogia que prioriza a ‘arte de ensinar’ por ele denominada ‘Didatica’, em oposicao a0 pensamento p' ediagogico até entao” (Damis, 1998, p- 17), ou seja, © autor defendeu uma contraposi¢ao as ideias conservadoras da nobreza e do clero da época. |A didatica magna de Coménio tinha por fundamento ensinar tudo a todos. Esse tedrico, com sua preocupacao com a arte de ensinar, introduziu no cenario pedagégico a énfase nos meios e no processo, deixando em segundo plano a formagao de um homem ideal, 0 que, até entdo, era considerado o aspecto fundamental. O ENFOQUE NO ENSINO foi importante para a pedagogia e a socie- dade da época, uma vez que esta era caracterizada pelo inicio do sistema de produgao que daria origem ao capitalismo, no qual a ideia de desenvolvimento individual se fortaleceria. Cerca de um século mais tarde, surgem os estudos de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que, no contexto de sua nogao naturalista de ser humano, propés uma nova concepcao de ensino, fundamentada nas necessidades e nos interesses imediatos da crianca. Rousseau nao elaborou uma teoria de ensino, mas sua obra originou um novo conceito de infancia. Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) colocou em pratica as ideias de Rousseau, imprimindo pimeNsézs soctais 4 questo educacional. Conforme Castro (1991), o aspecto metodolégico da didatica propost@ Por Pestalozzi tem como foco o desenvolvimento harménico do aluno, € por isso funda-se a em principios, e nao em regras. Heme ereaae (964 Goo extudiogo Johann Friedrich ), luenciado pelos estudos de Coménio, Rousseau e Pestalozzi, “desenvolveu uma andlise do process Digitalizado com CamScanner -didatico de aquisigao de conhecimentos, sob a diregéo Herbart defendeu a ideia de educago pela instrugao, sim caracterizada: “A principal tarefa da instrucao tas na mente dos alunos. O professor é um psicoldgico: do professor”. que pode ser a: é introduzir ideias corre! ‘a mente. [...] Controlando os interesses dos alunos, 0 pro- arquiteto di construindo uma massa de ideias na mente, que por sua vez yao favorecer a assimilacio de ideias novas” (Libaneo, 1994, p. 60-61). Herbart criou, entao, uma metodologia tinica de ensino: o método que consistia em quatro passos didaticos a serem fessor vai dos PASSOS FORMAIS, seguidos com rigor (Libaneo, 1994): 1. CLareza — Preparar e apresentar as matérias de maneira clara e completa. 2. Assocracao — Relacionar ideias antigas e novas. Sisrematizacao — Agrupar conhecimentos visando a general Apuicagio ou MéTopo ~ Utilizar conhecimentos por meio de lizagao. atividades/exercicios. Mais tarde, seus seguidores aprimoraram essa proposta, a qual REPARAGAO, APRESENTAGAO, ASSI- passou a contemplar cinco passo: MILAGAO, GENERALIZAGAO @ APLICAGAO. Conforme Libaneo (1994), 0s pensamentos pedagégicos de Coménio, Rousseau, Pestalozzi e Herbart, entre outros, formaram a sustentagao do pensamento pedagdgico europeu, que posterior- mente se expandiu por todo 0 mundo, “demarcando as concep¢ées pedagdgicas que hoje sao conhecidas como PEDAGOGIA TRADICIONAL e PEDAGOGIA RENOVADA” (Libaneo, 1994, p. 61, grifo nosso). A peda- gogia renovada retine correntes que defendem uma evolugao nessa rea, opondo-se a pedagogia tradicional. Podem-se destacar como caracteristicas do movimento de renovacao da pedagogia: A valorizagio da crianga, dotada de liberdade, iniciativa e de interesses préprios e, por isso mesmo, sujeito da sua aprendizagem e agente de seu préprio desenvolvimento; tratamento cientifico do processo educacional, considerando as etapas sucessivas do desenvolvimento biolégico e psico- légico; respeito as capacidades e aptidoes individuais, individualizacao Digitalizado com CamScanner acing de aprendizagems; rejeicio qy re os ritmos propries es de de ex Hesgho de doensind ae favor da atividade & da liberdade de expressiio dq Itos em J modelos adull ‘ : 2) ‘anca. (Libaneo, 1994 P : crianga. ( ovagio da educacao foram atribuidos ‘ova, escola nova & pedagogia ativa, sa corrente desenvolveu-se no inicio ‘Asse movimento de ren ‘do n diferentes nomes: educagao Como tendéncia pedagdgica, es! do século XX. incipal representante de uma das -1952) foi o pr John Dewey (8591952) scolanovista (da escola nova). Esse tes advindas do movimento é : : “ no defendia a educacao pela agio; depara-se com situagdes capazes eriéncias que a motivem a desen- corrent fildsofo e pedagogo norte-americal a crianga, mediante esse método, de possibilitar que ela tenha exp* : volver suas potencialidades, suas capacidades, suas necessidades e seus interesses. Libaneo (1994) explica que 0 movimento escolanovista no Brasil desmembrou-se em varias correntes, entre elas a VITALIsTa, que teve como principal representante Maria Montessori, e a INTERACIONISTA, fundamentada na psicologia genética de Jean Piaget. (1.2) A didatica sob uma perspectiva atual Segundo Moraes (1997, p. 135, grifo nosso), atualmente, podemos refletir no seguinte sentido: somos cidadaos do temos o direit fahren mundo e ...] temos 0 direito de estar suficientemente 6 fi Para nos apossarmios dos instrumentos de nossa realidade cul- ural, para que possamos PARTICIPAR DO Preparados para elaborar as informa nossa vida como cidadiios e cidadas, Ainda de acordo com Mor tante dos avangos da ciéncia MUNDO, 0 que significa estarmos gbes nele produzidas e que afetant es (1997, p. 135), o conhecimento resul- : du ©as primeiras décadas do ee segunda metade do século XX Sko do mundo mais holistica, gh fam-nos “uma compree!! lobal, sistémi mica, que enfatiza o todo Digitalizado com CamScanner endo se limita as partes. Essa concepgao totalizante da realidade em que vivemos esta, também, ligada a uma visio ecolégica de mundo, que “seconhece a interconectividade, a interdependéncia e a interati- vidade de todos os fenémenos da natureza e o perfeito entrosamento dos individuos e das sociedades nos processos ciclicos da natureza” (Moraes, 1997, P- 135). Tal visio do mundo da origem a teorias e embasamentos que abrem espaco para didlogos de todos os tipos, “incluindo ai o didlogo amoroso do ser humano consigo mesmo, com a sociedade e com a natureza” (Moraes, 1997, p. 136). O sujeito produz conhecimento, rela- cionando-se com os outros e com o objeto desse conhecimento. Esse processo é chamado de conriEcIMENTO EM REDE, pois conecta todas as teorias e todos os conceitos entre si, fazendo-os crescer conjuntamente. O mundo de hoje é muito complexo, e entendé-lo pode ser uma tarefa muito ardua, em razao de alguns motivos elucidados por Moraes (1997, p. 136): Em vez da ordem, temos a desordem crescente, a criatividade e o acidente. Do caos, surgem a esperanga, a criatividade, 0 diélogo e a auto-organi- zagao construtiva. No lugar da estabilidade e do determinismo, temos a instabilidade, as flutuagées e as bifurcacdes. [...] Estamos imersos num universo menos previstvel, mais complexo, dinimico, criativo e pluralista, numa danga permanente. Tomando essa abordagem como ponto de partida, pretendemos enfatizar algumas reflexes que podem ajudar a nos situar no mundo em que vivemos, a pensar e agir a respeito da didatica, de maneiraa contribuir para a formacao/preparacao dos alunos e,em consequéncia, para a sustentabilidade da sociedade. Nossas reflexdes podem ser iniciadas com base em algumas ques- = tOes: Como e para que exercemos nossa docéncia? Como nosso “saber fazer” na sala de aula se concretiza? Como podemos deixar de lado metodologias rigidas, estruturantes e reducionistas e adotar meto- dologias mais dindmicas, vivas, flexiveis, globalizadoras, que pre- parem o aluno para viver e conviver com as rapidas transformag6es do mundo, em uma vida cheia de incertezas e imprevisibilidades? Digitalizado com CamScanner fio de responder a essas quest&es NAO pasya Some esafio d ° “ Ocess ys procedimentos de ensino, que ofere le novos cam my busca di ‘ofessore snc, ase cfaclitaro trabalho do professore a apren lizayem 4, rma def Pe ; pee também por uma abordagem da didAtica que Ultrapa passa tambe 15) ica e empreenda a busca de ym, Jes renovagio pedagdgica ¢ emp ume ant fan supere a perspectiva instrumental, fundamental, que supere a A didatica instrumental, segundo Candau (2001, p, 114), ; iil e conhecinentos lécnicos roby, é concebida como um conjunto de conh 1C06 bobre 9 ‘comy fazer” pedagdgico, conhecimentos estes apresentados de ‘forma y faze ws iver + desvinculados dos problemas relativn econsequentemente desvinculados dos problemas relative 50 Sentidy, aos fins da educagio, dos contetidos especificos, assim como do Contexty sociocultural concreto em que foram gerados, Jaa pivArica FUNDAMENTAL esta alicergada, con forme Canday (2001), na multidimensionalidade do Processo de ensino e aprendj. zagem, propondo a articulagéo das dimensdes técnica, humana ¢ politica. Nessa perspectiva, a competéncia técnica © 0 compromissy Politico nao se dissociam, mas se relacionam, “A dimensio técnica da Pratica pedagégica, objeto Proprio da Didatica, tem de ser pensada a luz de um projeto ético e Politico-social que a oriente” (Candau, 2001, p. 15). A acio do professor, Portanto, precisa estar embasada em uma estrutura que no separe os fins Pedagégicos dos fins sociais, Rays (2000, p. 47) sustenta com muita propriedade que “a ligagio fins-peda- 86gicos-fins-sociais deve ser implementada pela didética tomando-se Digitalizado com CamScanner uma concepgio de homem, de sociedade e de educagao que é sua base de sustentagao, Desse modo, o professor de Matematica, por exemplo, além de trabalhar 0 contetido especifico desse componente curricular, desenvolve um contetido implicit, com base em sua metodologia, ‘em sua concepcao de educagao, de mundo, de homem e de sociedade. Santos (2003, p. 33), por sua vez, afirma que “ao questionar os conceitos que conformam 0 modo de ensinar e ao elaborar novas respostas para as velhas interrogagdes~ 0 que é 0 ser, o que é 0 saber, oque é o aprender e 0 que é 0 educar ~ 0 professor ver o mundo de um outro modo”. Diante disso, 0 estudo dessas questées é essencial na educacao, pois pode oportunizar ao aluno uma nova possibilidade de leitura do mundo em que vive. Surge, entdo, uma questao importante a ser considerada: a percepcao de que a educagio necesita assumir uma fungao mais ampla, fundamentada em uma nova visdo de mundo e comprometida com a formagao humana em sua integralidade. Para Assmann (2001, p. 210), “educar pressupde que se acredite na edu- cabilidade do ser humano, pois sem isso educar nao teria sentido”. Esse autor enfatiza, ainda, que educar é salvar vidas, em um processo de autorreprodugio, de modo que as pessoas vao se construindo por sie pelos outros, em um movimento complexo. O ser humano, de acordo com Assmann (2001), encontra-se sempre em um vir a ser, admitindo, assim, avancos, sem se estagnar no estagio alcangado. Essa nova visio de educacao leva-nos a pensar na questdo ético-politica, nao somente no sentido de assegurar a preservacio da espécie humana e do planeta Terra, mas de ampliar as possibi- lidades de uma vida mais feliz para todos os seres vivos. O mu ndo 19 atual exige uma nova humanidade, e educar o ser humano para esse novo contexto requer uma abordagem de educagao e uma postura em sala de aula diversas das aplicadas na pedagogia tradicional, com vistas a expandir a fungio do professor para além do ensinar apenas os conhecimentos construidos pelo homem no decorrer da historia. ‘Charlot (2000, p. 53) corrobora essa ideia ao dizer que “nascer, des e processos que aprender, é entrar em um conjunto de rela Digitalizado com CamScanner . diz quem eu so sistema de sentido, onde se diz q M, quer, constituem um i \tros”. uem sao os out read : éo oorer a te nas escolas 0 direcionamento do aprender mba. Ainda é vigente # resto dos contetidos em PPePArAGTO CxCIUSivaMeny na transi | es sado dode trabalho, inserindo-se professor e aluno na logicg ca u parao mer iza que “é essencial no per, do mercado. Demo (2000, i nan As tomar de vista que conhecimento 4 Ce dos fins e dos valores’, Assim, cativo carece ae vr reconstrutde, colocando 02 contetidos eee ae de cada um e da sociedade, atribuindo-sp a educacao a fungao de formar seres ead Arroyo (2000) reforga tais pronunciamentos quando chama a aten. s0 para ofato de que a educacio deve ajudar e acompanhar 0s alunos na complexa arte de se tornarem humanos. O desenvolvimento de saberes, habilidades e competéncias é necessario, mas a educacio nao se esgota nisso. A acao de ensinar nao fica desprezada, entretanto, de acordo com o pensamento do autor, é preciso “reinterpreté-la na tradigao mais secular no oficio de ensinar a ser humanos” (Arroyo, 2000, p. 54), reaprender “que nosso oficio se situa na dinamica his- térica da aprendizagem humana, do ensinar e aprender a sermos humanos” (Arroyo, 2000, p. 53). Essa visdo, para Arroyo (2000), impulsiona o redescobrimento dos alunos como “gente”, endo somente como alunos, Reforca, ainda, que, enxergando os alunos dessa forma, também nos redescobrimos como “gente”, humanos ensinantes, tra Préprio conhecimento cientifico, Percebendo os alunos como pessoas, a ter como enfoque a totalidade do individuo e, com isso, 0 ato edu- cativo consiste na funcio de despertar a j me neato desenvolvimento das dimensées social, racional, representa se al Aico esstsdimensBes deforma integra A He (2000), uma nova forma de ver e viver a vida. Possibilita que as Pessoas tenham bettoiminsdofmetas de vida, clareza de talentos, percepes Cele ereee ay P40 de oportunidades, paixao & nsmitindo mais do que nosso © conceito de educagiio passa Digitalizado com CamScanner entusiasmo pelo que fazem, automotivagao para a superagio de difi- culdades, capacidade de contagiar positivamente os outros, de fazer relagdes entre conhecimentos aparentemente desconectados, atengao @ sabedoria em suas escolhas ¢ tomadas de decisio, responsabili- coeréncia entre suas crengas, seus pensamentos. zando-se por elas, © suas agées, capacidade de trabalho em conjunto e bom relaciona- mento com os outros, consciéneia da polaridade de seus sentimentos faculdade de usar a razao com discernimento positivos e negativos e consciéncia do que suas agdes agregam ao mundo. Segundo Rays (2000), a didatica fornece bases para que a agao educativa seja um momento pedagégico processual, ou seja, a agao sera sempre voltada para a realidade circunstancial, nado havendo mais tempo e espago para uma agdo educativa pautada pela repe- ticdo de técnicas de ensino. Cada situagaio do processo de ensino e aprendizagem é singular e precisa considerar suas caracteristicas. A respeito dessas questées didaticas, o texto de Edgar Morin a seguir é um interessante incentivo a reflexao sobre as complexas relagdes do pensamento. O que é 0 pensamento complexo? O pensamento simplificador elimina a contradig&o, porque recorta a realidade em fragmentos néo complexos que isola. A partir dai, a logica funciona perfeitamente com proposigdes isoladas umas das outras, com proposigées suficientemente abstratas para nao serem contaminadas pelo real, mas que, pre- cisamente, permitem exames particulares do real fragmento por fragmento. Que maravilhosa adequacao “cientifica” entre a légica, o determinismo, os objetos isolados e recortados, a técnica, a manipulagao, 0 real, 0 racional! Entao, o pensamento simplificador néo conhece nem ambiguidade nem equivocos. O real tornou-se uma ideia légica, isto 6, ideoldgica, e é esta ideologia que pretende se apropriar do conceito de ciéncias Digitalizado com CamScanner Opensamento simplificador julga obedecer a légica ao fazer obedecer a ldgica ao paradigma disjuntivo-redutor. Nao é a légica que controla o pensamento simplificador: é este que manipula a légica para simplificar. Ora, existe outro modo de utilizar a ldgica, que é coloca-laa servigo de um pensamento que quer dar conta das complexi- dades do real e, singularmente, da vida. O pensamento com- plexo parte dos fenémenos simultaneamente complementares, concorrentes, antagénicos, respeita as coeréncias diversas que se associam em dialdgicas ou polildgicas e, por isso, enfrenta contradicao por vias logicas. O pensamento complexo é 0 pen- samento que quer pensar em conjunto as realidades dialdgicas/ polildgicas entrelacadas juntas (complexos). FonTe: MORIN CITADO POR SANTOS, 2003, (1.3) Euncéo humanizadora da escola pela revolucao tecnoldgica, que tem transformado, em ritmo acele- rado, os cendrios socioeconémico e cultural e gerado a necessidade de globalidade, totalidade e complexidade, superando a visao pequena ou compartimentalizada de homem e de planeta. A desigualdade social - com 0 crescente aumento da pobreza -, a deterioracdo do meio ambiente e o aumento da alienacao e da vio- Téncia vém provocando, cada vez mais, maleficios a humanidade. Acrescenta-se a esses problemas a competitividade decorrente da globalizacao, que traz consequéncias como a desumanizacio € a fragmentagao dos individuos. Estes, focados nos beneficios pes- soais, acabam transgredindo principios, valores, afetos, tradigdes ¢ Posturas de carater ético. | Vivemos um momento historico de grandes mudangas provocadas | Digitalizado com CamScanner Mulsow (2003) salienta que, para haver prszNvotviMENTO HUMANO inrecRaL, 6 preciso que 0 progresso e a solidariedade estejam inte- grados, tendo como fundamento principal a érica. A autora afirma que um mercado mundial, se organizado com equilibrio e regulacao, pode desencadear o bem-estar e o desenvolvimento da cultura, da democracia, da solidariedade e da paz. Segundo Capra (2002, p. 267), neste novo século, dois fenémenos terdio “efeitos significativos sobre o bem-estar e 0s modos de vida da humanidade”: o primeiro é a ascensio do capitalismo global, rea- lizado por meio de redes eletr6nicas em que circulam velozmente fluxos financeiros e de informagao e que tem por objetivo “elevar ao maximo a riqueza e o poder de suas elites” (Capra, 2002, p. 268); 0 outro fenémeno é a criacdo de comunidades sustentaveis que, por meio de projetos ecoldgicos, elevem “ao maximo a sustentabilidade da teia da vida” (Capra, 2002, p. 268). Boff (2000, p. 91), por seu turno, nos diz que a lei do universo, que permitin que todos chegdssemos até aqui, éa da cooperacito de todos com todos. E a da solidariedade césmica, porque tudo tem a ver com tudo, em todos os pontos, ent todos os momentos, em todas as circunsténcias, numa rede de inter-retrodependéncia de todos com todos, nao permitindo que ninguém seja excluido (como faz nosso sistema social mundializado que exclui 2/3 dos seres humanos). Cada um sendo ctimplice e responsével pela vida do outro. Consoante o paradigma de disjungdo de Morin (2000), a evolu- co da humanidade ocorreu principalmente pela dualidade, que a separou em teoria versus pratica, sujeito versus objeto, corpo versus mente, pobre versus rico, matéria versus espirito, dissociando ta mbém o conhecimento e as estruturas sobre as quais se apoiam sua cons- truco e sua disseminacio, o que resultou na fragmentacao da vida. A nogo de disjungao esta muito presente na educagao de hoje. Recorrendo novamente a Morin (2000, p. 13), “ha inadequacao cada vez mais ampla, profunda e grave entre os saberes separados, fragmentados, compartimentados entre as disciplinas”, tornando invisiveis “os conjuntos complexos, as interacGes e retroacoes entre Digitalizado com CamScanner mensionais € 0S problemas a. jades multidirn erespecializacio frag.” partes 10 firma, ainda, Ue a hiperesp #20 fragments ciais".O fildsofo 4 aera impedindo de ver oglobaleo essenciy ch a : ‘, , to das disciplinas torna impossivel apreen, dey eque 1 igto 6, 0 complex© (Morin, 2000, P. 13). “Exis, lo 0S componentes que constituem um amico, 0 Politico, © socioldgico, 0 psicolégico , pardveis eexiste um tecido interdepen. ativo entre as partes € 0 todo, 0 todo e 1, as entid: dente, interativo & inter-retro: ” (Morin, 2000, P- 14). : a as partes” ( teforca o autor citado, insiste em separar as roblemas, reduzir 0 complexo e separar o focalizar sua a¢ao educativa no Osistema de ensino, disciplinas, dissociar 0S P! que esta ligado. Insiste também em : a0 desenvolvimento da raz4o, do pensamento linear, ldgico e analitico, emdetrimento da emo¢ao, da espiritualidade, da cooperagao, da afe- tividade e da criatividade (Morin, 2000). Em um contexto como esse, é importante que a escola possibilite 0 desenvolvimento do aluno de uma forma integral. Capra (2002, p. 149) corrobora tal pensamento e salienta que as situagdes nao podem ser entendidas isoladamente — “para resolver qualquer problema isolado, precisamos de um pensamento sisté- mico” ~, pois tudo na educacao esté interligado e é interdependente. Yus (2002, p. 26) sustenta que: O paradigma sistémico, com sua concepgdo holistica, pretende recompor mui i itas das rupturas geradas pelo paradigma mecanicista, buscando essa conexaic ane alo homem/natureza e mentelcorpo que haviamos perdido, para q' isso oe possamos reconectar-nos com o todo do qual fazemos par? l, comecar um novo tit fi : ipo de relagiio com mites @ com a nature em eral, G6 nossos semelhante Quando se refere a de globalidade da pe: Cooperagao, inclusao, ‘um ser i ectos integral, Yun (2002) contempla asp? Soa: espiritualidade, interrelagdes, equilibt experignc; Periéncia e contextualizacao Digitalizado com CamScanner Morin (2000, p. 89) complementa essa ideia apontando a necessi- dade de “substituir um pensamento que isola e separa por um pen- samento que distingue e une”. Desse modo, é preciso que pensemos em uma PROPOSTA EDUCATIVA que ultrapasse 0 ensino para 0 mercado, 0 ensino para o vestibular, o ensino para a certificagéo, avangando para uma diretriz que vise 4 formagao humana por inteiro. Aescola &, por exceléncia, 0 espago para discutir as questées educa- cionais. Por ser constituida de individuos que atuam sobre seu entorno, integrantes que so do todo em que vivem, toda reflexao sobre ela nao pode ser dissociada da vida e da sociedade. Consequentemente, 0 processo educativo que nela transcorre favorece a autoeducacao e, portanto, requer a intencionalidade do ato educativo. Exatamente por isso, é fundamental que os individuos que nela atuam percebam-se como sujeitos em sua integridade, pois s6 assim sao capazes de pos- sibilitar aos alunos o desenvolvimento de suas potencialidades em plenitude e uma formagao realmente integral. Isso implica considerar a globalidade da pessoa, 0 que nao signi- fica reduzir esse processo a uma série de competéncias e de habili- dades, mas concebé-lo em todas as suas dimensées, que, conforme Catanante (2000), sao constituintes do ser integral: social, emocional, racional e espiritual. Essas dimensées, desenvolvidas de forma equi- librada, tornam a aprendizagem algo pessoal e socialmente signi- ficativo para o aluno, prdpiciam um sentido para sua vida pessoal, profissional e comunitéria, possibilitando que ele se desenvolva e evolua como um ser integral. Permitir que o aluno se autoproduza de forma plena requer que o desejo de uma educagio integralizante ea aco necessaria para satisfazé-lo estejam presentes em todos os envolvidos no ato educativo. Digitalizado com CamScanner

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