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Didatica Geral ORGANIZACAO: ANDREA RAMAL Digitalizado com CamScanner Uma Breve Historia das Formas de Ensinar Yideoas'® @pituio”™ Contextualizando Antepassado, de Carlos Drummond de Andrade $6 te conhego de retrato, nao te conhego de verdade, mas teu sangue bole em meu sangue e sem saber te vivo em mim e sem saber vou copiando tuas imprevistas maneiras. (...) Refaco os gestos que o retrato nao pode ter, aqueles gestos que ficaram em ti a espera de tardia repetigao, e to meus eles se tornaram, t4o aderentes ao meu ser que suponho tu os copiaste de mim antes que eu os fizesse. (...) Neste poema, Drummond fala sobre como nossos antepassados séo capazes de influenciar nossas atitudes, ainda que nao os tenhamos conhecido. Com base na leitura deste poema, reflita: © As formas de ensinar utilizadas no passado influenciam os métodos atuais? * E possivel existir um método de ensino que nao tenha sido influenciado pelos pensadores da educag&o do passado? ® — Existe algum método de ensino que seja totalmente livre da influéncia do con- texto histdrico? Digitalizado com CamScanner 2 Capitulo? Estudo de caso Proinfo — Ensino e Aprendizagem a Distancia ‘cional de Informatica na Edu- jogia integrar as formas de ensinar ‘a se expandiu e, atualmente, pecializagao quase integral- cago criow 0 Programa Na cial era fazer a tecnol 1m 0 tempo, 0 Program: realiza cursos de esi o Ministério da Edu Proinfo, 0 objetivo Fundamental e Médio. Co! iversidades, Em 1997 cago — nos Ensinos em parceria com algumas Uni mente a distancia (0 Programa atende ba: magao continuada do prof distantes dos grandes cent Durante muitos anos, he larga escala, Acreditava-se que nao e' um professor e, ao mesmo tempo, que supO! los ndo seriam capazes de substtur a relagdo diaria ‘aprendizagem. 0 tempo passou e o pals ja conta com mais nesta modalidade (dados do INEP, 2017). ‘Atualmente, especialistas na area educacional aprendizagem a distancia um caminho sem voltae vislumbram de grande magao das criangas de hoje sera realizada utilizando esta modalidade. rea educacional brasileira: for- que se encontram em cidades muito ros, o que as impede de comparecer UMA aula tradicional. vee enorme receio quanto ao uso da educagao @ distancia em ra possivel aprender sem a intermediagao direta de tes mididticos eficazes e processos adequa~ entre as pessoas no caminho da de quatro milhdes de vagas sicamente a duas necessidades na at fessor e formacio de pessoas ja consideram 0 processo de ensino € parte da for- i Je nossos avds pensariam se soubessem que era possivel rea- lizar um curso de graduagao e até de especializagaio on-line, integralmente. Aqueles que nos antecederam foram criados em uma época na qual o professor era o detentor do saber ¢ 0 aluno, de forma passiva, deveria ser capaz de absorver o maximo de conheci- yento possivel. mn a forme como as pessoas se relacionam com o conhecimento e, consequente- Se eee mudou. E, na esteira, mudaram também as formas de era se dado este processo? Quais as principai: ir aie comes ? Quais as principais formas de ensinar que toria do mi 6ri undo e, mais especificamente, na historia do Brasil? £ dificil imaginar o que noss| Conceitos para entender a pratica Diversos autores consideram Platao o primeiro Diversos autor educador de que ici a nase ne Gia ane or vata do ano de 427 a.C. De li ra aa tne eee eee se ae da educacao e, portanto, de historia das formas ee cnerar Provevemente. oc rae sobre a melhor forma de apoiar a construga0 de conhecimento do outro sofreu dversas mudangas que no foram registradas os noes Para qu possames ivr a questo Jo metodo Digitalizado com CamScanner ma Breve Histéria das Formas de Ensinar 3 veremos neste capitulo as principais teorias da aprendizagem, conheceremos as teorlas de ensino e identificaremos as correntes pedagdgicas brasileiras. Os objetivos deste capitulo sao: e —_(dentificar os métodos de ensino nas Idades Média, Moderna e Contemporanea ® Compreender como a didatica se consolidou como disciplina pedagégica. * Conhecer as principais teorias de aprendizagem e analisar seu impacto nos méto- dos de ensino © Diferenciar as principais teorias de ensino. © |dentificar, a luz das teorias de ensino, as principais correntes pedagogicas brasi- leiras. Formas de ensinar através dos tempos Como vimos no poema de Drummond que abre este. § capitulo, o conhecimento humano é cumulativo, par- tindo sempre de outro que o antecede. A Idade Mé- dia, desta forma, herdou grande parte de sua com- preenso das formas de ensinar da Antiguidade. Em algumas sociedades do passado, o pai possuia total responsavel pela educagao poder de decis&o sobre o que fazer com seus filhos. das criangas abandonadas. Ela As criangas podiam ser abandonadas ou vendidas, também cuidava da alimentagao sem algo que limitasse esse tipo de decisao. A disse- minagao do Cristianismo no Ocidente levou a Igreja a buscar uma forma de acolher as criangas abandona- das, surgindo desta forma uma verso preliminar da educacao infantil © foco principal das igrejas ao acolher as criangas abandonadas era garantir sua sobrevivéncia. Portanto, antes de educar, a preocupagao era alimenté-las e vesti-las. Atendendo a estas duas necessidades imediatas, as criangas eram entéo educadas por monges, que entendiam o ato de ensinar como o de fornecer subsidios e dar possibi- lidades para que a crianga se desenvolvesse, orientada pelo espirito cristéo. O ensino ofertado pelos monges, no entanto, nao era capaz de atender a todas as criangas das grandes cidades. Por isso, a formagao profissional, que era necessaria, ficava a cargo das corporagées. Na Idade Média, a lgreja Catélica nao era somente eda vestimenta dessas criangas. WXSCNSC Ei Corporagies, na Idade Média, eram associacdes de pessoas que exerciam uma determina- da profissao. Havia corporagGes de sapateiros, artesios, barbeiros, além de muitas outras. Digitalizado com CamScanner 4 Capitulo1 Para entrar em uma corporagao, o pai formalizava um contrato com o mestre, no qual eram estabelecidas Na Idade Média, as regras para o processo de ensino. O tempo para a as criangas aprend; formagao de um novo profissional variava de 2.12 junto comos adult anos e, ao concluir 0 programa, 0 novo profissional de- Nao existia um Mites, veria se associar & corporacéio i oe brocessg ‘A partir do século VI, a Igreja dedicou muita aten- le ensino diferenciad, que considerasse as Go a criagao de novas escolas no sentido de garantir a formagaio cristé das pessoas nas grandes cidades europeias. Mas nos séculos seguintes, principalmen- te nos séculos XI e XII, o controle da educagao formal criangas. foge das maos da Igreja. Pela necessidade de se ter ee pessoas com uma formagao adequada nas areas da mateméatica e da lingua, de forma a atender aos interesses comerciais, um curriculo minimo passa a ser exigido. Tal curriculo sé seria formalizado muitos anos mais tarde Surgem na Europa, no final do século XI e comego do século XI, as primeiras univer- sidades (Universidade de Bolonha, na Italia, e Universidade de Paris, na Franga). Essas universidades sao fruto das corporagdes comerciais, que s4o as primeiras a sentirem a necessidade de construgao de um conhecimento minimo que oriente a formagao de seus membros. Depois dessas duas universidades, muitas outras surgiram, principal- mente nas areas de direito, medicina, astronomia e ldgica. Na Idade Média, a crianga era posta entre adultos para aprender, sem nenhuma diferenciacao, a partir dos cinco anos de idade. Os jesuitas so os responsaveis pela transformagao desta situagZo na Idade Moderna, criando o conceito de seriagao, que nos acompanha até os dias atuais. £ possivel dizer, entdo, que as escolas, como co- nhecemos hoje, sao fruto da Idade Moderna, mais precisamente do século XVII. E nesta época, também, que a disciplina é introduzida no ambiente escolar. Isso porque nao bastava ensinar o contetido — era necessario também formar o espirito. E claro que, no século X\, jd era possivel encontrar algumas praticas escolares que separavam os alunos em grupos mais homogéneos, mas 0 século XVII con- _ da aprendizagem das solida este método, dividindo as turmas fisicamente e Somente no colocando professores regentes diferentes para cada éculo XVII grupo de alunos. No século XIX, a separagao em clas- See ses tornou-se comum e significou a superagao do sé- vamos encontrar 0 conceito de seriagao, ue culo anterior. O ensino passou a ser dividido em dois: ensino primario, ofertado as classes populares, e ensi- no secundario, também chamado de Liceu, oferecido divide as classes em grupos de a burguesia. alunos homogéneos. No final do século XIX e comeco do XX, ou seja, na Idade Contemporanea, os Estados percebem que a ———_—_—_— educagao é a melhor forma de garantir o desenvolvi- mento, pois gera uma cultura uniformizada. Por isso, a Digitalizado com CamScanner Uma fi ° Breve Historia das Formas de Ensinar 5 izagtio ava escolar Inga de forma extremamente rapida. A truida sobre as sequintes diretrizes: ‘8. Aescola contemporanea é cons- Espagos claramente definidos para educar. Hordrios rigidos para o ensino Selegao de contetidos apropriados para cada série Desmerecimento de praticas de ensino nao institucionalizada Obrigatoriedade de frequéncia, : 7 Avaliago e certificagiio da aprendizagem Como se pode notar, a forma usada para ensinar hoje tem suas raizes em métodos de ensino bem antigos. Mas nem sempre os pesquisadores da educagao se dedicaram a0 estudo desses métodos. A didatica, como disciplina que toma para si tal estudo, SO vai surgit apés diversos métodos terem sido testados. Afinal, como surgiu a didatica? Formagao historica da didatica Diversos autores associam 0 surgimento da didatica & consolidagdo do ensino como uma atividade planejada, Libaneo (1994) esclarece, contudo, que néo se pode falar de didatica até o século XVII, j4 que nao havia teorias de ensino consolidadas. 0 século XVI 6 utilizado como marco em referéncia & publicagéio da obra Didacta Magna, de Coménio (1592-1670), que, pela primeira vez, se propunha a criar prinofpios orientadores do pro- cesso de ensino. A ideia de Coménio era estruturar formas de ensinar que acelerassem o processo de aprendizagem, defendendo também a universalizagao do ensino ~ inclu- sive para mulheres ~, 0 que era um grande avango para a época Trecho de Didacta Magna ‘As escolas devem ser asilos comuns da juventude. 1.Que devem ser enviados as escolas nao apenas os filhos dos ricos ou dos cidadaos principais, mas todos por igual, nobres e plebeus,rcos e pobres, apazes e raparigas, fom todas as cidades, aldeias e casais isolados, demonstram-no as razdes sequintes: 1. Por que todos devem ser reformados & imagem de Deus 2. Em primeiro lugar, todos aqueles que nasceram homens, nasceram para o mesmo fim principal, para serem homens, ov seja, criatura racional, senhora das outras criaturas, imagem verdadeira de seu Criador. Todos, por isso, devem ser encami- Tihades.e, modo que, embebldoe seriamente co saber, da virtude © da religiBe: passem utilmente a vida presente e se preparem dignamente para uma future, Que, Digitalizado com CamScanner 6 Capitulo! das, Ele proprio 0 afirma constantemente, do espirito apenas alguns, excluindo og ticipam conosco da mesma nature. er conhecido, amado e louvado por E isso ser feito com tanto mais 10: ou seja, amamos tanto perante Deus, nao hd pessoas privilegia Portanto, se nds admitimos @ cultura outros, fazemos injiiria, nao s6 aos que par za, mas também ao préprio Deus, que quer S| todos aqueles em quem imprimiu sua imagem. E | fervor, quanto mais acesa estiver a luz do conheciment mais, quando mais conhecemos. Apesar das novas ideias de Coménio, suas teorlas nao tém registro de aplicagao. 0 ensino da época ainda é nte ligado . - era fruto da Idade Média, portanto profundamente lig: O ensino no século a religido e baseado em metodologias que valorizavam a repeticao como forma de aprender e a checagem da ca- XVII valorizava pacidade de reprodugdo como forma de avaliar. S6 um a repetigaoea século depois, Rousseau (1712-1778) retomaria os con- aprendizagem ceitos comenianos apresentando ideias que os comple- era checada mentavam. pela capacidade Rousseau pregava que a educagao deveria preparar deo aluno a crianga para a vida adulta tendo como estrutura as ne- i" cessidades reais. Também defendia que o processo de reproduzir o que aprendizagem é um processo natural, ligado ao desenvol- © professor dizi vimento bioldgico. Esse filésofo francés nao desenvolveu um método de ensino, que so viria a ser formulado mais. adiante, por Pestalozzi (1746-1827) Pestalozzi defendia a observacao e a andlise como formas de captar a realida levando a crianga a construir seus prdprios significados sobre os diversos fendmenos, que deveriam ser expressos e avaliados por meio da linguagem. Coménio, Rousseau e Pestalozzi influenciaram diversos pesquisadores da edu- cacao nos anos que se seguiram, mas, em especial, Herbart (1766-1841). Herbart tinha 0 objetivo de formular um método Unico de ensino que atendesse a todas as pessoas. Para isso, direcionava suas pesquisas para a compreensdo de como acontece a aprendizagem. A partir dai, acreditava ser capaz de estruturar o método jais adequado. Em sua teoria, o processo de ensino esta organizado em quatro lhecimento que 0 aluno ja tinha ao novo. hhecimentos novos com os conhecimentos 5 at Digitalizado com CamScanner Uma Breve Histéria das Formas de Ensinar 7 ‘A proposta de Herbart foi aperfeicoada por seus sucessores gerando a sequinte ura: Aaresentagto objetva Compreensto das Aplicago do novo ‘edreta do conteddo, caueas dos fendmenos tonhecimento a valorizando 0 uso de integragso a0 situagées prticas da recursos que ‘conhecimento prévio vida. estimulem os sentidos. ‘do aluno, Apresentagao da Compreensdo de como finalidade do novo ‘@ novo conhecimento cconhecimento e como responde a outros este serd utiizado na, problemas similares, vida do aluno. ccotidianos. O mais interessante na compreensao de Herbart sobre o processo de ensino é r que ele esta diretamente ligado a questao da aprendizagem. Este é o primeiro ento que se tem registro no qual se busca direcionar as agGes instrucionais pela 1a COMO as pessoas aprendem. Afinal, ensinar e aprender sao processos distintos. = Didética Anogdo de que ensinar e aprender s&o processos distin- faz com que muitos pesquisadores considerem Herbart o dadeiro “criador” da didatica, ainda que compreendam que ideias foram langadas bem antes, em Didacta Magna, de ‘se preocupa em ’nio. A didatica passa a ser vista como a area que se in- compreender o Sa por compreender como os atos instrucionais podem ponto de intersegao /at & aprendizagem. Situa-se, portanto, na intersegao entre entre ensino e Adidatica éa disciplina que ato de ensinar e 0 processo de aprender. aprendizagem. Digitalizado com CamScanner 8 Capitulo1 a tado pelo proceso de aprengiza. do ensino orien Herbart, ao trazer a discussao 0 . jem, volo uma nova questo para discussao: afinal comes hess Sas aprenden? A resposta a esta pergunta sé encontraria pesquisas interes: as em respondé-ia my tos anos depois. Vamos conhecer um pouco essas teorias para, : guida, analisar as concepgdes de ensino no Brasil em particular, de forma a identificar os métodos de ensino na historia de nosso pais. Teorias de aprendizagem “Tao importante quanto 0 que se ensina e 0 que se aprende € como se ensina e como se aprende.” (César Colt) As teorias de aprendizagem sao vistas, em diversas obras, como fruto das teorias de ensino. Trata-se de uma perspectiva que cré que a forma como as pessoas aprendem é oriunda da forma como se ensina em determinado tempo e local. Outras correntes acre- ditam no contrario: 0 método de ensino definira 0 modelo de aprendizagem. Indepen- dentemente da postura que se adote para analisar a relacdo entre ensinar e aprender, 6 Possivel perceber que as teorias de aprendizagem, de forma geral, podem ser agrupadas em trés grandes linhas: 0 Inatismo, 0 empirismo e 0 associacionismo. O inatismo parte do Principio de que a totalidade das caracteristicas que definem a8 pessoas esta presente desde o momento do nascimento. Com efeito, alguns esta- ‘nquanto outros, menos providos de heranga genética, Vocé sabia? De acordo com o dicionario Michaelis, ir inato quer dizer “aquilo que nasce Para os passaros, por exemplo, é uma atitude inata, conosco”. Voat, Digitalizado com CamScanner Se 0 processo educativo tem o objetivo de desenvol- raptiddes com as quais o ser humano ja nasceu, entao tismo cré que o desenvolvimento é responsavel pela ndizagem. Veremos mais adiante que outras formas encarar 0 processo de aprendizagem nao concordam esta compreensio. O inatismo, enquanto concepgao de aprendizagem, e ainda € usado com frequéncia no intuito de tentar stificar o nivel cultural de determinado grupo pelo foco sua genealogia. Significaria dizer que filhos de pais jis cultos tenderiam a ser mais cultos, ainda que vi- ssem em uM contexto diferente daquele no qual os is estivessem inseridos. Esta concepgado de aprendi- jem nao encontra muitos defensores entre os pes- jisadores da educagao na atualidade. Contudo, ainda possivel perceber sua manifestagdo em sala de aula, que se nota, por exemplo, pela justificativa docente de determinados alunos nao aprendem porque nasce- im “sem jeito” para isso. A maior critica realizada ao inatismo refere-se a possibilidade de mudanga. Ao afirmar que o poten- ial de aprendizagem de uma pessoa esta diretamente ado a sua heranga bioldgica, defende-se a crenga de ue tal potencial nado pode ser desenvolvido. Ou seja, 40 ha participac&o do meio na formagao das estrutu- s cognitivas da pessoa. Uma Breve Histéria das Formas de Ensinar 9 Oinatismo acredita que todas as caracteristicas que definem uma pessoa estdo presentes no momento em que esta pessoa nasce. Aprender seria, portanto, estimular caracteristicas que ja existem. Locke se opunha ao inatismo e pregava que o verdadeiro conhecimento surge da experiéncia real e concreta. Locke (1632-1704) estudou medicina e ciéncias naturais, mas entrou para a histéria mo um grande fildsofo da teoria do conhecimento. Uma de suas caracteristicas mais arcantes é a sdlida oposigao ao inatismo, pregando que o verdadeiro conhecimento de- tiva da experiéncia real e concreta. E famosa sua comparagao da mente humana a uma tabula rasa, postulando que nao é possivel que se criem ideias sem um ponto de partida e negando a separacao entre corpo e alma, que justificariam 0 acimulo de conhecimentos antes do nascimento. E atribuida a Locke a formulagao da doutrina chamada de empiris- mo. Além dele, outros fildsofos sao identificados com a formulagao desta concepg¢ao, que extrapola a educacao para se posicionar como uma forma de perceber o mundo. Sao ele: Francis Bacon (1561-1626), George Berkeley (1685-1752) e David Hume (1711-1776). Voce sabia Locke, no século XVII, utiliza a expressao "tabula rasa” para defender o empirismo. Contu- do, o termo é bem mais antigo. Ele ja era usado por Aristételes, que pregava que a mente nao nasce com nenhum conhecimento inato. Digitalizado com CamScanner TW vere | eS ee te do , sri do inatismo, Pt . 0 empirismo, 20 conto Oper absolutamente O empirismo fi le nascemos: 7 ~ Or oe des as estruturas necessarias para i acredita que nascemos nada f ert seja construido so edificadas le sem saber absolutamente oconhel ica ser correr dos anos Aprender, nesta teoria, SIGNIIC ede nada, e que construimos capaz de acumular o maior numero de ree nosso conhecin or nvertam em con! s ento forma que, no futuro, Se CO n r ar Oacuimulo de informagées sO seria possivel por meio xperiéncias, ste caso, aprendizagem parece eee da experiencia real. Ne i acompanhar 0 desenvolvimento em vez de sucedé-lo. ; : A palavra empirismo 6 oriunda do latim empiria, que significa experiencia. Tal periéncia, na concepgao de Locke, esta muito mais relacionada aquelas advindas d eentidos do que & aplicagdo de algum método de comprovagao ou refutagao de ui hipctese. Por exemplo, ao nascer, uma pessoa nao sabe 0 que é uma maga, mas c: a cor pela visdo, seu aroma pelo olfato, seu gosto pelo paladar, sua textura e forma 9 tato. Constrdi, com isso, seu modelo proprio do que vem a ser uma maga com base xperiéncias que estabeleceu com ela. final do século XIX, a ciéncia, nos moldes em que conhecemos hoje, se firma- ande dona da verdade em detrimento de outras formas de apreensao da tus foi construido, principalmente, partindo da crenga de que so a expe- le, Desta forma, é possivel perceber que a ciéncia moderna é es: 0 sendo incomum encontrar na literatura mengdes ao método busca-se esclarecer 0 que é a reali i alidade, e si Eee ee apreensao da ili é , & se tal experiénci é i sentidos Satis ue ultlizando osisentiaes como dferenciar ° et ea ee mera especula of enateeme €? Essa questo pode o Be ercebido pees quencias para < te eee No entanto, uma cuidadosa andlise neta Ea es — inar so enor ey jue as conse- que cabe ao outro © enormes. Se acreditarn 5 rink apenas descobri-la, entendemos que ae i i contabiie r é transmitir conteddo € aprender é “decorar". Si €, Por outro lad i Mos 0 ensino como a ori lo, acreditamos a ori A que a verdade é subjeti ubjetiva, percebe- Processo Unico e singular, que nao eae compreendido pelo aMos adiante um breve ime ae © quadro comparativo entre inati r cree eace nao areas Precede a aprendizager © aptiddes que precisam st ae abides ont hee 's0 das coisas (desenvots ene ee re ren es = rosa de viento ewer SO a experiéncia possibilita 4 ista pode ser excludente, ma mecldcot cecaie lida em que abole o empe- ima Digitalizado com CamScanner outro, Uma Breve Histéria das Formas de Ensinar 17 Inatismo Empirismo O conhecimento é oriundo da experiéncia, captado pelos sentidos. Oconhecimento € pré-formado e fruto do desenvolvimento biolégico, Armazenamento Alteragao de de informagées por meio comportamentos, da meméria, fruto da experiéncia. Controle do ambiente para levar 0 aluno a viver uma experiencia. Uso macigo da exposigaio de contetidos pelo professor. Mensuragao de respostas modificadas e comportamento alterado. Mensuragao da quantidade de informagées retidas pelo aluno. na formagao de alguém que no nasceu com “dons” para uma determinada area. © modelo empirista parece preconizar um método de ensino que se centra na apro- Gao da realidade por meio dos sentidos, valorizando a subjetividade. Neste ponto, sivel que surja uma duvida: onde entram as relagdes sociais estabelecidas pelas S0as? Qual o impacto que elas trazem para a formagao? No comego do século XIX, diversos pensadores comegaram a analisar 0 impacto s relagGes sociais para o ensino e a aprendizagem. Essas discussées, nao por acaso, mecam em paralelo a afirmagao da psicologia como uma disciplina aut6noma (antes, psicologia estava dividida entre outras areas do conhecimento, como a filosofia e a edicina). A nogdo de que existia uma relacao entre o meio no qual se vivia e o modelo le educacao que era oferecido levou a percepcao de que a relagao entre 0 social eo in- lividual ndo se resumia a uma mera coincidéncia, mas a uma relagao de causa e efeito. Essas teorias, chamadas de associacionistas, creem que a educagao é fruto de ma relacao de estimulo e recompensa. Na pratica, podemos citar diversos exemplos de aprendizagem por associacao. Pense, por exemplo, na forma como as maes costumam stimular seus filhos a cumprirem as obrigagdes escolares. E extremamente comum que sucesso escolar (aprovagao) seja recompensado com um presente; por outro lado, o in- sucesso tende a ser punido com um castigo. Este com- portamento das mdes faz com que os filhos estabele- Gam uma relacao de ganho ou perda buscando, como é Previsto, que a recompensa seja positiva. Inatismo, empirismo e associacionismo sao das entre as pessoas e destas com o meio. 0 exemplo } A teoria associacionista foi gerada com base nos correntes filoséficas que Pressupostos do positivismo e, por que nao dizer, do pré- postulam a forma como as prio empirismo. Trata-se de uma concepgao extrema- mente ampla, mas centrada no entendimento de que as pessoas aprendem. agdes humanas sao orientadas por relagGes estabeleci- Nao sao métodos de ensino. Digitalizado com CamScanner 12 Capitulo! ~u filho por conta do sucesso escola, spanqueuma mae orerece a0. guicitcd, cla vecornpensia at sev nt dost a inci, exemarmente meer yer fee Mas hd outros métodos que utilizar, reategins das para sina e que nao deixam de ser associacionistas, ss diversifieada® , ns div re oniamo so correntes filos6ficas que orientamy stabolece. Nao séo métodos. Os métodgg ir que o outro aprenda. pelo educador para garantir que 08 objetivos estateai D inatismo, oempitismo eC » gi que 0 conhe yminhos utilizade mento 5 fa forma como para garant ‘de ensino sho 08: Métodos de ensino so formas selecionadas educacionais sejam efetivamente atingidos. Com base nas trés grandes correntes, crengas na forma de ensinar mais focadas método foram desenvolvidas. As trés principais sé0 0 comportamentalismo, 0 cogni Mo € 0 socioconstrutivismo. uy mentalismo mo engioba diversas teorias que tem em comum dois pontos: a lento pode ser comandado por estimulos e a busca da afir- Hee i estuda o comportamento observavel, fugindo aval quest6es que nao podiam i am ¢ e ser obs! ciente e inconsciente). ere ‘ ‘m, os. instancias id, ego e Oprimeiro grande pes Pavlov (1849-1 quisador a ay F 1936). Sua c ‘presentar a relaga Jetivo de comprovar o le utilizavam animals 40 entre estimulo e resposta foi Iclonamento reflexo, Por ime ne aa ‘0 dessa teoria, Pavlov mostrou Digitalizado com CamScanner plo: sempre que ele apresentava um pedago de carne, 0 cao salivava. Em seguida, ele passou a apresentar um pedago de carne e tocar um sino simultaneamen- te. Algum tempo depois, apenas ao tocar 0 sino, 0 cao ja salivava. O grande feito de Pavlov foi mostrar que é possivel moldar o comportamento (pelo menos em animais) ), 0 que instigou pesquisadores da psicologia a buscar compreender se esta associagaio também seria pi elem humanos. continuidade ds pesquisas de Pavlov, Wat- 1958) publicou, em 1913, 0 artigo intitulado the behaviorist views it (Psicologia pela Mportamentalistas). Esse artigo da inicio ente chamada de comportamentalismo orismo, do inglés) classico, que nasce da que é possivel comandar todos os compor- s humanos, bastando para isso identificar 0 portamentalismo classico afirmava que omportamentos poderiam ser trabalhados estimulo-resposta. Diversos comporta- tudo, nao puderam seguir esta linha. Por isadores que sucederam Watson adapta- ite sobre os comportamentos observaveis. (1886-1959) defendeu que, entre o estimulo ta, haveria o peso do organismo. Isso sig- que o mesmo estimulo poderia gerar respos- intas dependendo do organismo com o qual jonasse. As pesquisas de Tolman o levaram sentar o conceito de aprendizagem por mapas 10 do organismo. Uma Breve Histéria das Formas de caso, a resposta dada a determinado estimulo dependerd fundamentalmente da O primeiro pesquisador aestudar 0 comportamentalismo foi Pavlov. Seus trabalhos comegaram com 0 estudo do comportamento de caes. Mais tarde, ele baseou-se nos processos analisados para estudar humanos. — —_— O comportamentalismo classico acredita que todos os comportamentos humanos podem ser comandados, desde que se identifique o estimulo adequado. Mapas mentais sao estruturas que orientam o comportamento. que sao estruturas mentais orientadoras do comportamento a ser mani- dependendo do objetivo. Eo que atualmente se chama de behaviorismo cog- A relagdo entre as duas palavras (behaviorismo e cognitivo) sinaliza que, além portancia dada aos estimulos, Tolman coloca a cognigao dentro da discussao. jull (1884-1952) complementa as ideias de Tolman, fazendo oposigdo apenas em 0 & questo da memaria. Para Tolman, a manifestagao da aprendizagem se dava lizagao de um comportamento que correspondia a uma experiéncia passada fendia que a experiéncia provoca alteragdes neurofisiolégicas e, portanto, nao se implesmente de um processo de aquisig&o de memoria. E possivel afirmar que Digitalizado com CamScanner 14 Capitulo! a ¢ de comportamento so capaze, forgo! os diversos re! aut daquele que éalvo do experimento. - ogia concepgao de aquisigao ou modulagao de compor- a sua Hull éo autor que mais we oor a ei da separagao entre corpo é mente, reforgg samentos pare 2 educagao. AO nto por meio da modulacao bioldgica, a questao d2 maodulagao do comport VEX EY da a formagao e a organizagio jonal, estuda o sistema nervoso viso do behavior! a propria morfofisio! ‘a da neurociéncia que est Jogia é a disciplin cia que heaectnas brais. Em sua dimensdo func biolégica das estruturas cere! humano. em 1945, Skinner (1904-1990) publica 0 livro ‘Science and human behavior (Ciéncia e comportamen- tp humane), dando inicio a uma nova corrente tratad@-—gkinner da inicio a uma por comportamentalismo radical. As ideias apresenta- . 7 das por Skinner no eram novas, mas ele teve o méri- nova corrente da psicologia evar 0 conceito as ultimas consequéncias. Para cognitiva, tratada por existia sim a separago entre 0 corpo € @ comportamentalismo mente representava 0 comportamento radical. Esta corrente decistio de como agir. Ao corpo se- é caracterizada pela modulagao do comportamento com base nas respostas i (e aprendizagem). Neste ofertadas aos estimulos. mulo € oferecido visando a 1 que Er é Ateoria de Paviov ee se seforgnc de punigao, Réarespostae _2¢reditava que a resposta Ed lo aa era fisiolégica. Para Perceba que a grande diferenga do condiciona- Skinner, a resposta pode mento radical para 0 condici ntecer i licionamento classi meted 0 Classico (de i ae Na etiologia do comportamento a ts tiva ee si ee a Pavlov, a resposta a um estimul ae aa 0 Consequéncia ck 2 ea a 10 proprio estimulo e era, na ordem fisiolégica. Em Skinne, §<——————— surge de um estimulo isolado, ; estimulo futuro, 3 Maioria das vezes, de mas da expectativa do Digitalizado com CamScanner Uma Breve Historia das Formas de Ensinar 15 ra compreender © condicionamento operante, é preciso ter clareza de dois ter- eforgo e punigao. forgo: estimulos que incentivam a ocorréncia e a repetigao de um comportamento. Inigo: estimulos que fazem com que um determinado comportamento seja evitado. O comportamentalismo nao é uma corrente exclusiva da educagao. Seu modelo compreensao acerca de como os comportamentos ocorrem é estudado também Para pensar Por que o comportamentalismo influenciou tanto a escolha do método de ensino? Quais 08 principais métodos associados & aceitagao dessa teoria? Quando se aceita que o comportamento pode ser modulado por estimulos e se per- ebe 0 processo educativo como a apresentagao de comportamentos aceitaveis peran- € 0 que uma sociedade, em determinado local e tempo, julga correto, entende-se que o processo de ensinar é oferecer ao educando os estimulos corretos, reforgando ou punin- do seu comportamento. Dessa forma, os métodos de ensino que mais se adéquam sao aqueles que relacionam o comportamento esperado com 0 estimulo oferecido. Alguns anos mais tarde outras teorias foram desenvolvidas alegando que a prendizagem se da pela relagaio entre o aprendiz e o meio. Portanto, ensinar deveria Digitalizado com CamScanner 16 Capitulo —_— do o profes- a relacionamento, agin ae ‘ret Sloe desta situacao. Skinner de- 0 er n media 2 ‘it cmon rei ioconornonsolcan exktepels conse ia que o simples a ; rendizage™ e que a cultura exige transmis ee ee ae ide conhecimento. Vemoss daqui, uma 60 7 > deen moe de ensino baseado \- : ; es foi causado pelo estimulo, iferenciagao NO portamentalismo & ciointeracionistas Em sala de aul dos métodos cognitivistas © SO- —— alismo se Ma- lizagao das mo contetido em uma sequéncia tal das. Os tipos de aprendizado Ja, 0 comportament: ifestou principalmente pela criagao € util Aquinas de ensinar. Essas maquinas apresentaval permitiam que o aluno chegasse aS respostas espera’ categorizados por Skinner em trés grupos: eflexo: como a dilatagao das pupilas diante da mudanga na in- le do comportamento. texto. E controlado jortamento Fé de da luz. Neste caso, 0 sujeito néo tem control mento operante: sao voluntarios, como escrever uM uéncias dos estimulos. ) respondente: similar ao comportamento operante, mas contro- los que o precedem, como correr para atender ao chamado de la histéria, diversas criticas tém sido feitas ao comportamentalismo. mM respeito, principalmente, a viséo mecanicista de compreensdo dos \sino e aprendizagem. Vocé sabia? experiments mais famosos d e le Skinner foi a cai, i ence nner foi a caixa de Skinner. Ti ra colocado um rato d :posecte oa Bel ciarca ae cy df ato de laboratério. A caixa i a ees ue quand Pressionada, liberava alimento para o ey i ee eram modelados, © que levou Skinner ena 08 organismos também poderia ser mod F co a jodulado, Uma das maiores crit foco na punigai criticas ao ensino basea - Solicitadas a ce nee 0 aprendiz oe estimulo-resposta 60 Posive. Cont, ag realizar ume is do que sua obrigagao, ta cumprir as atividades ne Punig&o esta presente. @ atividade que difere daquela ce nenhum refor¢o Eonar de educadores e je que se tinha expec tamentalista superada Digitalizado com CamScanner Uma Breve Historia das Formas de Ensinar 17 Jossivel encontrar propostas educacionais baseadas em reforgo e punigao, além senca de maquinas que se propdem a ensinar. A superagao desta visao de en- arece ser, com isso, uma expectativa nao concretizada. Esta suposta superagao ye, principalmente, ao surgimento de novas formas de perceber a aprendizagem, 0 cognitivismo e o sociointeracionismo (ou socioconstrutivismo). Digitalizado com CamScanner

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