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Digitalizado com CamScanner Capitulo 2 Didatica e democratiza¢ao do ensing A preparagao das criangas e jovens para 2 participacao ativa na vid; social é o objetivo mais imediato da escola publica. Esse objetivo ¢ atin. gido pela instrugao e ensino, tarefas que caracterizam o trabalho do pro- fessor. A instrucao proporciona 0 dominio dos conhecimentos sistemati. zados e promove 0 desenvolvimento das capacidades intelectuais dos alunos. O ensino corresponde as agGes indispensaveis para a realizacio da instrucao; é a atividade conjunta do professor e dos alunos na qual transcorre o processo de transmissao e assimilagao ativa de conhecimen- tos, habilidades e habitos, tendo em vista a instruco e a educacio. A Didatica e as metodologias especificas das disciplinas, apoiando-se em conhecimentos pedagégicos e cientifico-técnicos, sao disciplinas que orientam a ago docente partindo das situagdes concretas em que se rea liza o ensino. ; Ao realizar sua tarefas basicas, a escola e os professores estao cul prindo responsabilidades sociais e politicas. Com efeito, ao possibilitar pe cea dominio dos conhecimentos culturais e cientificos, 4 educr cognitiva: za o saber sistematizado e desenvolve capacidades S ¢ operativas para a atuagao no trabalho e nas lutas sociais pelt conqui: irei i io parante direitos de cidadania. Dessa forma, efetiva a sua contribu 0 ‘Mocratizagao social iti ci e politi ass Entretanto, rein lomo a abl ot 0 direito social de ae publica brasileira tem sido capaz de atender ° ‘8 as criancas e jovens receberem escolarizaga0 basi Digitalizado com CamScanner DIDATICA _ ca? Os governos tém cumprido a sua obrigagio social de assegurar as condigdes necessérias para prover um ensino de qualidade ao povo? O proprio funcionamento da escola, os programas, as praticas de ensino, 0 preparo profissional do professor, nao teriam também uma parcela da responsabilidade pelo fracasso escolar? Sabemos que milhares de alunos sio excluidos da escola jé na passagem da 1° para a 2° série e apenas cer- ca de 20% dos que iniciam a 1° série chegam a 4”. As escolas funcionam em condicées precarias, a formagio profissional dos professores é defi- ciente, os salarios sao aviltantes, o ensino é de baixa qualidade. E neces- séria uma reflexdo de conjunto para uma compreensio mais correta dos problemas da escola ptiblica. H4 um conjunto de causas externas ¢ in- ternas a escola que, bem compreendidas, permitirao avaliar mais clara- mente as possibilidades do trabalho docente na efetiva escolarizagao das criancas e jovens. Neste capitulo serao tratados os seguintes temas: * aescolarizacao e as lutas pela democratizagao da sociedade; * 0 fracasso escolar precisa ser derrotado; * as tarefas da escola publica democratica; * ocompromisso ético e social dos professores. Aescolarizacao e as lutas democraticas Proporcionar a todas as criangas e jovens 0 acesso e a permanéncia na escola basica, de 8 anos, no minimo, provendo-lhes uma sélida e du- radoura formagio cultural e cientifica, 6 dever da sociedade e, particular- mente, do poder ptiblico. A escolarizagao é um dos requisitos fundamen- tais para o processo de democratizagao. da sociedade, entendendo por democratizagio a conquista, pelo conjunto da populacao, das condigées materiais, sociais, politicas e culturais que lhe possibilitem participar na condugio das decisées politicas e governamentais. A escolarizagao neces- séria 6 aquela capaz de proporcionar a todos os alunos, em igualdade de condicdes; o dominio dos conhecimentos sistematizados e o desenvolvi- mento de suas capacidades intelectuais requeridos para a continuidade Digitalizado com CamScanner ionais, entre ag dos estudos, série a série, ¢ para as tarefas sociais ¢ profis quais se destacam as lutas pela democratizagao da Sociedade, Aose apropriarem dos conhecimentos sistematizados corresponden, tes as disciplinas do curriculo do ensino de 1 grau eao irem formandg habilidades cognoscitivas e praticas (como 0 raciocinio logico, a anstisg e interpretagao dos fendmenos sociais e cientificos, do Pensamento inde. pendente e criativo, a observacio, a expressao oral e escrita etc.), os alunos vao ampliando a sua compreensao da natureza e da sociedade, adquirin. do modos de agao e formando atitudes e convicgdes que os levam a po- sicionar-se frente aos problemas e desafios da vida pratica. Em um de seus livros, Guiomar Namo de Mello (1987, p. 22) escreve: Aescolarizacao basica constitui instrumento indispensével a constru- ¢40 da sociedade democratica, porque tem como fungao a socializacao daquela parcela do saber sistematizado que constitui o indispensdvel a formagao e ao exercicio da cidadania. Ao entender dessa forma a funcao social da escola, pressupde-se que nao é nem redentora dos injustigados e nem reprodutora das desigualdades sociais e, sim, uma das mediac6es pelas quais mudancas sociais em direcéio da democra- cia podem ocorter. (..) Uma tal concepgio sobre 0 papel da educacao (...) estabelece como objetivo maior da politica educacional a efetiva universalizagao de uma escola basica unitdria, de cardter nacional. S6 essa escola seré democratica no sentido mais generoso da expressio, Porque garantird a todos, independentemente da regio em que vivam, da classe a que pertencam, do credo politico ou religioso que professem, uma base comum de conhecimentos e habilidades. A escolarizacao tem, portanto, uma finalidade muito pratica. Ao adquirirem um entendimento critico da realidade por meio do estudo das matérias escolares e do dominio de métodos pelos quais desenvolvem suas capacidades cognoscitivas e formam habilidades para elaborar in- dependentemente os conhecimentos, os alunos podem expressar de forma elaborada os conhecimentos que correspondem aos interesses majoritarios da sociedade e inserir-se ativamente nas lutas sociais. rn ae oranto, que aescola Puiblica esta longe de atender essas naman Puiblico nao tem cumprido suas responsabilidades 'sa0 do ensino obrigatério e 8ratuito. Falta uma politica na- Digitalizado com CamScanner parm” cional de administracao e gestdo do ensino, os recursos financeiros $40 insuficientes e mal empregados, as escolas funcionam precariamente por falta de recursos materiais e didaticos, os professores dos, 0s alunos nao possuem livros e material escolar. O sistema escolar é usado para fins eleitoreiros e politico-partidarios. Apesar de ter havido, nas tiltimas décadas, um aumento de matriculas de alunos provenientes das camadas populares, ainda ha milhdes de criangas fora da escola e uma grande parte dos que se matriculam nao consegue continuar seus estudos. Dados recentes do Ministério da Educagdo mostram que, ainda hoje, na maioria das regides do pais, cerca de 50% das criangas matricu- ladas na 1° série repetem ou deixam a escola antes de iniciar a 2°. Anali- sando a evolucio das matriculas ao longo dos oito anos de escolarizacao, verifica-se que, no Brasil, de 100 criangas que entram na 1° série, 51 se matriculam na 2°, 35 na 4" e apenas 17 na 8" série. Dados do IBGE, colhi- dos em 1988, indicam uma taxa de 40% de analfabetos entre a populagao de 5a 14 anos. f evidente, assim, 0 descaso e a omissao do Estado em relagao a escola ptiblica. io mal remunera- ‘Além disso, dentro da prépria escola ha grandes diferencas no modo de conduzir o processo de ensino conforme a origem social dos alunos, ocorrendo a discriminacgao dos mais pobres. Estes, quando conseguem permanecer na escola, acabam recebendo uma educacao e um preparo intelectual insuficientes. Ha uma ideia difundida em boa parte dos edu- cadores de que o papel da escola é apenas o de adaptar as criangas ao meio social, isto 6, de ajusta-las as regras familiares, sociais e ao exercicio de uma profissao. Nesse caso, nao se pensa em uma educagao interessa- da na transformacao da sociedade; ao contrario, trata-se de desenvolver aptiddes individuais para a integracao na sociedade. Quando um aluno nao consegue aprender, abandona os estudos ou se interessa pouco pela escola, considera-se que sao problemas individuais dele, descartando-se outras explicagdes como as condicdes socioeconémicas, a desigualdade social e a responsabilidade da propria escola. Esta é uma visao conserva- dora da escola. Na verdade, entendé-la como meio de adaptagao 4 socie- dade vigente é acreditar que esta é boa, justa, que da oportunidades iguais a todos; que o sucesso na vida depende somente das aptiddes e capaci- dades individuais; que o aproveitamento escolar depende exclusivamen- te do esforco individual do aluno. Esta ideia nao corresponde a rea lidade. Primeiro, porque em uma sociedade marcada pela desigualdade social e Digitalizado com CamScanner i enos sao iguais as go sao iguals & ae ati revel 1 ort nao a acesso € tirar P io das econdmica aS OP ongmica " educacao nao depende apenas e i ° 1 tras da individualidade, ida cae ue, a oportuni esforgo i! ivi oa rabalho que interferem nas possibi- aaa ida e Z ig estao condicoes sociais de V! -Terceito, 2 escola nao pode ignorar due as s rendi scolar Fobstéculo a0 desenvolvimento huma- issao dos conhe- ocial vigente. adeum ensino de qualidade, tifica que possibilite a ampliagao as varias instancias de decisao da socie- de forae de dentro da escola. As forcas | au . | sociais que detém 0 poder econdmico e politico na sociedade, represen- | tadas pelos que governam & legislam, a0 mesmo tempo que se mostram s utas: sociais pe assim, que a P!O 0 cultural € cient cimentos & | Podemos verificat, posti voltado para a formaca' da participacao efetiva do povem dade, defronta-se com problemas omissas e negligentes em relagao 4 escola publica, difundem uma con- ajustamento a ord cepgao de escola como em social estabelecida. Por outro lado, se é verdade que os fatores externos afetam 0 funcionamento da escola, hd uma tarefa, a ser feita dentro dela, de assegurar uma organiza- do pedagdgica, didatica e administrativa para um ensino de qualidade associado as lutas concretas das camadas populares. Para a efetivagao dos vinculos entre a escolarizacao e as lutas pela democratizacao da sociedade, é necesséria a atuacéo em duas frentes, a pole ea pedagégica, entendendo-se que a atuacao politica tem caréter CE eric a ee pedagégica tem carater politico. A atuacao F onganivarbes eee educadores nos movimentos sociais ee F. Aescola ptiblica deve ser unitaria. O ensin - sok : a de todos os brasileiros e um dever d ee _ dade, cabendoshe a responsabilidade rape Pata COm A SOE -populacio. E unitaria porque deve = © assegurar a escolarizacaéo da intir uma base comum de conhe- Digitalizado com CamScanner pNDATICA Anecessidade social ¢ 0 direito de todos os segmentos da populacao de dominarem conhecimentos basicos comuns e universais de forma alguma implicam a exclusao ou o desconhecimento da cultura popular e regional. Aocontrario, é precisamente pelo dominio do saber sistematizado que se pode assegurar aos alunos uma compreensao mais ampla, em uma pers- pectiva de nacionalidade e universalidade, da cultura, saberes e problemas locais, a fim de elaboré-los criticamente em fungao dos interesses da po- pulacao majoritéria. Importa, pois, que o processo de transmissao e assi- milacao dos conhecimentos sistematizados tenha como ponto de partida as realidades locais, a experiéncia de vida dos alunos e suas caracteristi- cas socioculturais. Aescola ptiblica deve ser democratica, garantindo a todos 0 acesso e a permanéncia, no minimo, nos ito anos de escolarizacao, proporcionan- do um ensino de qualidade que leve em conta as caracteristicas especifi- cas dos alunos que atualmente a frequentam. Deve ser democratica, também, no sentido de que devem vigorar, nela, mecanismos. democra- ticos de gestao interna envolvendo a participagao conjunta da diregao, dos professores e dos pais. Aescola ptiblica deve ser gratuita porque é um direito essencial dos individuos para se constituirem como cidadaos. Isso implica reivindicagdes por maior compromisso do Estado com o funcionamento e manutengao da escola puiblica, ampliacao de recursos financeiros, definicdo explicita das responsabilidades dos governos federal, estadual e municipal ete. As propostas e reivindicagdes em favor da escola ptiblica democra- tica fazem parte do processo mais amplo das lutas sociais nas quais a classe trabalhadora esté envolvida. A transformagao da escola depende da transformagao da sociedade, pois a forma de organizacao do sistema socioeconémico interfere no trabalho escolar e no rendimento dos alunos. Em nosso pais, a distribuicao desigual da riqueza faz com que 70% ou mais da populagao vivam na pobreza. Nos grandes centros urbanos e na zona rural 0 povo é obrigado a viver em precarias condicées de moradia, alimentacao, satide e educagao. As familias vivem atormentadas pelo desemprego e o salario é um dos menores do mundo, apesar de o Brasil ser a oitava poténcia econémica mundial. Muitas criangas precisam tra- balhar em vez de irem a escola. A pobreza e as condicGes adversas de vida das criangas e jovens e de suas familias, sem diivida, geram dif culdades. Digitalizado com CamScanner jnoe aprendizagem dos alunos. Isso tudo sig. izagao do ens! , problemas da escola ptiblica dentro que coloca a necessidade da paraa orgam sindicais. ‘fica que devemo? © ee aromatic maior da ost ipagao dos educadores ds aconsciéncia politi lentro da esco! pulares se m mos com lutas politicas & ca dos professores deve convergir para 1a, Numeroso contingente de alunos atricula na escola e os proprios Jos estudando. Oensino é uma tarefa ue expressa 0 compromisso social e politico do professor, re yominio das habilidades de ler e escrever, dos conhecimentos Pals thcos da, Histéria, da Geografia, da Matematica . das ee é requisito para a participagao dos alunos na vida pre ae : ne ies politica e sindical, e para enfrentar situagoes, problemas : lesafios da vida pratica. Um ensino de baixa qualidade empurra as criancas, cada vez mais, para a marginalizacao social. Ha, pois, um trabalho pedagégico-didatico ase efetivar dentro da escola que se expressa no planejamento do ensino, na formulagao dos objetivos, na seleco dos contetidos, no aprimoramento de métodos de ensino, na organizaco escolar, na avaliacao. Ligar a escolarizacao as lutas pela democratizacao da sociedade implica, pois, que a escola cum- praa tarefa que lhe é propria: prover o ensino. Democratizagao do ensi- no significa, basicamente, possibilitar aos alunos o melhor dominio possivel das matérias, dos métodos de estudo, e, através disso, o desen- volvimento de suas capacidades e habilidades intelectuais, com especial i 3 aprendizagem da leitura e da escrita. A participacao efetiva ees is e nas instancias de decisao econémica e politi- . igregue nelas um numero cada vez maior de pessoas € senate do grau de difusao do conhecimento. £ verdade que acre- capaci eee supbe confiar no saber do povo e na sua mentos cientificos e técnicos 7 mie ieee verdade que os conheci- exigéncias a escola no sentido de reduzir ees acelerado, pondo to comum, popular, e a cultura entif stancia entre o conhecimen- ica. Dai a importancia de elevar 0 ensino ao mais alto nivi 7 el, contribui fica os problemas humanos, uindo para colocar de maneira cienti- ‘Ao mesmo tempo, as condicdes partici Entretanto, o trabalho que se faz provenientes das camadas PO] < ais fazem sacrificios para manté-) © traba] Ogi am io Pedagégico na escola requer a sua Sociais de origem, as caracteristicas individuais Digitalizado com CamScanner DIDATICA e socioculturais eao nivel de rendimento escolar dos alunos. A democra- tizagao do ensino Supoe 0 principio da igualdade, mas junto com o seu complemento indispensavel, o princfpio da diversidade. Para quea igual- dade seja real e nao apenas formal, o ensino basico deve atender a diver- sificagéo da clientela, tanto social quanto individual. Isto implica ter como ponto de partida conhecimentos e experiéncias de vida, de modo que estes sejam a referéncia para os objetivos, contetidos e métodos; implica que a escola deve interagir continuamente com as condigées de vida da populacao para adaptar-se as suas estratégias de sobrevivéncia, visando impedir a exclusao e 0 fracasso escolar. Na pratica, trata-se de o professor estabelecer objetivos e expectativas de desempenho a partir do limite superior de possibilidades reais de desenvolvimento e aproveitamento escolar dos alunos; a partir de um diagnéstico do nivel de preparo prévio dos alunos para acompanhar a matéria, conforme idade e desenvolvi- mento mental, estabelecem-se padrdes de desempenho para a maioria da classe, podendo-se dai para a frente exigir tudo o que se pode esperar deles. Em sintese, a escola é um meio insubstituivel de contribuicgéo para as lutas democraticas, na medida em que possibilita as classes populares, ao terem 0 acesso ao saber sistematizado e as condicées de aperfeigoa- mento das potencialidades intelectuais, participarem ativamente do processo politico, sindical e cultural. Uma pedagogia voltada para os interesses populares de transformagao da sociedade compreende o tra- balho pedagégico e docente como 0 processo de transmissao/assimilagao ativa dos contetidos escolares, inserido na totalidade mais ampla do pro- cesso social. E uma pedagogia que articula os conhecimentos sistemati- zados com as condigées concretas de vida e de trabalho dos alunos, suas necessidades, interesses e lutas. O fracasso escolar precisa ser derrotado Um dos mais graves problemas do sistema escolar brasileiro ¢ 0 fracasso escolar, principalmente das criancas mais pobres. O fracasso escolar se evidencia pelo grande ntimero de reprovagées nas series iniciais do ensino de 1° grau, insuficiente alfabetizacao, exclusdo da escola ao Digitalizado com CamScanner JOSE CARLOS Lehi longo dos anos, dificuldades escolares nao superadas que comprometem, 0 prosseguimento dos estudos. nee Vejamos a evolugao da matricula inicial no ensino te Brau no Brasil no periodo de 1977-1984, conforme dados percentuais do Minist, rio da Educagai 1" série em 1977 — 100 alunos 2° série em 1978 — 51 alunos 3" série em 1979 — 42 alunos 4 série em 1980 — 35 alunos 5* série em 1981 — 35 alunos 6° série em 1982 — 27 alunos 7* série em 1983 — 22 alunos 8° série em 1984 — 17 alunos Os dados mostram que a escola ptiblica brasileira nao consegue reter as criangas na escola. Ao longo dos oito anos de escolarizagao observam-se sucessivas perdas de alunos. Sabemos que esse fato deve ser explicado por fatores externos a escola, mas é evidente que a exclusio das criangas tema ver, em grau significativo, com aquilo que a escola e os professores fazem ou deixam de fazer. Uma pesquisa da Fundagao Carlos Chagas, de Sio Paulo, em 1981, investigou as causas mais amplas da repeténcia escolar. Sua finalidade foi a de explicar a repeténcia nao s6 pelas deficiéncias dos alunos, mas Por outros fatores como: caracteristicas individ: uais dos alunos, as condi- $6es familiares, o corpo docente, a interagio professor-aluno ¢ aspectos internos e estruturais da organizacao escolar. Apés 0 estudo dos dados coletados chegou-se 4 conclusio de que a reprovacio nao pode ser atri- buida a causas isoladas, sejam as deficiéncias Pessoais dos alunos, sejam os fatores de natureza socioeconémica ou da organizagao escolar. Mas, entre as causas determinantes da reprovacio (entre as quais as condicées de vida e as condigées fisicas e Psicolégicas), a mais decisiva foi o fato de aescola, na sua organizacao curricular e metodolégica, nao estar prepa- rada para utilizar procedimentos didaticos adequados para trabalhar com as criangas pobres, acabam discriminando 10 do ano letivo o profes- Sao muitos os procedimentos didaticos que socialmente as criancas. Por exemplo, ja no inici Digitalizado com CamScanner IDATICA at sor costuma “prever” quais os alunos que sero reprovados. Geralmen- te, essa previsdo acaba se concretizando, pois os reprovados no final do ano a0 geralmente aqueles j4 “marcados” pelo professor. Além disso, alunos com diferente aproveitamento recebem tratamento desigual, pois o professor prefere os que melhor correspondem as suas expectativas de “pom aluno”. Os objetivos sao planejados tendo-se vista uma crianca idealizada e nao uma crianga concreta, cujas caracterfsticas de aprendizagem sao de- terminadas pela sua origem social; ignoram-se, portanto, os conhecimen- tos e experiéncias, suas capacidades e seu nivel de preparo para usufruir da experiéncia escolar. Muitas vezes, inadvertidamente, os professores estabelecem pa- drdes, niveis de desempenho escolar, tendo como referéncia 0 aluno considerado “normal” — estudantes com melhores condigées socioeco- nomicas e intelectuais vistos como modelos de aluno estudioso. Crian- cas que nao se enquadram nesse modelo sao consideradas carentes, atrasadas, preguicosas, candidatando-se & lista que 0 professor faz dos provaveis reprovados. Essa atitude discrimina as criangas pobres, pois aassimilacao de conhecimentos e 0 desenvolvimentos das capacidades mentais dos alunos estao diretamente relacionados com as condicoes (econémicas, socioculturais, intelectuais, escolares etc.) de ingresso na escola, que é 0 verdadeiro ponto de partida do proceso de ensino e aprendizagem. £, também, muito comum os professores justificarem as dificuldades das criancas na alfabetizagao e nas demais matérias pela pouca inteligén- cia, imaturidade, problemas emocionais, falta de acompanhamento dos pais. E verdade que esses problemas existem, mas nem por isso é correto colocar toda a culpa do fracasso nas criancas ou nos pais. Ha fatores he- reditarios que determinam diferentes tipos de inteligéncia, mas a maioria das criancas sao intelectualmente capazes. Além disso, a influéncia do meio, especialmente do ensino, pode facilitar ou d ficultar o desenvolvi- mento da inteligéncia. Se 0 meio social em que vive a crianga nao pode prover boas condigdes para 0 desenvolvimento intelectual, 0 ensino pode proporcionar um ambiente necessério de estimulacao e é para isso que o professor se prepara profissionalmente. Também nao se pode jogar a culpa do fracasso na imaturidade do aluno. Digitalizado com CamScanner JOSE CARIC 2 aturidade seja algo que vem unicamente dg que depende s6 do tempo € que? Professor i fazer sendo esperar £ uma ideia equivocada. oO eee acidades mentais pode ser estimulado justa- ea a at e experiéncias sociais, pelas condigdes am. oe educativo organizado. As criangas tém, de fato, mas fazem parte das caracteristicas humanas e com conhecimentos adequados da Psicologia, da Biologia, da Sociologia, o professor pode aprender a lidar com : : Ha, também, deficiéncias na organizagao do ensino que decorrem dos objetivos e programas (muito extensos ou muito simplificados); da inadequacao a jdade e ao nivel de preparo dos alunos paraasua assimi- lagao; da sua ndo vinculagao com os fatos € acontecimentos do meio na- tural e social; das formas de organizagao da rotina escolar (por exemplo, em boa parte das escolas ptiblicas ha uma reducio do periodo de perma- néncia das criangas na escola, suspensa0 de aulas por qualquer motivo, substituigdo de professores etc.). Esse fatos, bastante comuns, comprovam que a escola, o curriculo, 0s procedimentos didaticos dos professores nao tém sido capazes de in- terferir positivamente para atingir 0 ideal da escolarizacao para todos. A inadequada organizacao pedagégica, didatica e administrativa face as caracteristicas sociais da maioria dos que frequentam a escola piblica tem levado a marginalizacgao e, assim, ao fracasso escolar das criangas mais pobres. Por nao conseguirem avaliar com clareza os efeitos da estrutu- 1a social sobre o trabalho pedagégico, as escolas e professores podem tornar-se, mesmo sem o saber, ctimplices da discriminacao e segregagao das criancas social e economicamente desfavorecidas. at 3 mi Essa ideia supoe quea dentro do individuo, a1g0 nao desenvolvime mente pelos CO! bientais e pelo proces’ problemas emocionais, E preciso enfrentar e derrotar o fracasso escolar se se quer, de fato, uma escola piblica democratica. Para isso, énecessério rever a concep¢ao | de qualidade de ensino. A qualidade de ensino é insepardvel das carac- terfsticas econdmicas, socioculturais e psicol6gicas da clientela atendida. S6 podemos falar em qualidade em relacao a algo: coisas, processos, fend- mens, Pessoas que sao reais. Isso significa que programas, contetidos, : conor de organizacio somente adquirem qualidade —elevam le ensino — quando sio compatibilizados com as condicdes Digitalizado com CamScanner piAnica 3 reais dos alunos, nao apenas individuais, mas principalmente as deter- minadas pela sua origem social. Deficiéncias e dificuldades dos alunos nao sao maturais, isso 6, NAO sdo devidas exclusivamente A natureza hu- mana individual, mas provocadas pelo modo de organizacao econdmica e social da sociedade, determinante das condigdes materiais e concretas de vida das criangas. Tais condicoes influem na percepgao e assimilacao dos contetidos das matérias, na linguagem, nas motivagdes para o estudo, nas aspiragdes em relagao ao futuro, nas relagées com o professor. Um psicélogo da educagao, David Ausubel, escreveu: “O fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem ¢ aquilo que o aluno ja conhece; descubra-se 0 que ele sabe e baseie nisso seus ensinamentos”. Ora, 0 que o aluno conthe- ce depende da sua vida real. Esta ¢ uma preciosa licdo, pois frequente- mente a matéria do livro didatico, as aulas, os modos de ensinar, 0s va- lores sociais transmitidos pelo professor soam estranhos ao mundo social ecultural das criangas, quando nao se vinculam as suas percepgGes, mo- tivagdes, praticas de vida, linguagem. O ensino contribui para a superacdo do fracasso escolar se os objetivos e contetidos sao acessiveis, socialmen- te significativos e assumidos pelos alunos, isto é, capazes de suscitar sua atividade e suas capacidades mentais, seu raciocinio, para que assimilem consciente e ativamente os conhecimentos. Em outras palavras: 0 trabalho docente consiste em compatibilizar contetidos e métodos com o nivel de conhecimentos, experiéncias, desenvolvimento mental dos alunos. Aescola e os professores tém sua parte a cumprir na luta contra 0 fracasso escolar. E, sem diivida, o ponto vulneravel a ser atacado nesse combate é a alfabetizacéo. O dominio da leitura e da escrita, tarefa que percorre todas as séries escolares, é a base necessaria para que os alunos progridam nos estudos, aprendam a expressar suas ideias e sentimen- tos, aperfeicoem continuamente suas possibilidades cognoscitivas, ganhem maior compreensao da realidade social. A alfabetizagio bem conduzida instrumentaliza os alunos a agirem socialmente, a lidarem com as situagdes e desafios concretos da vida pratica: é meio indis- Pensdvel para a expressao do pensamento, da assimilagao consciente €ativa de conhecimentos e habilidades, meio de conquista da liberda- de intelectual e politica. Digitalizado com CamScanner As tarefas da escola publica democratica de 1° grau 6 estimular a as: imilacio ematizados, das capacidades, habilidades e tendo em vista a preparagao para para o mundo do trabalho, A finalidade geral do ensin® ativa dos conhecimentos si necessarias 4 aprendizagem, 'en" 0 dos estudos série a série, paraa familia e para as demais exigencias da ie social. { responsabilidad, também, do ensino de1? grau, colocar 0s alunos em condigdes de continuarem estudando e aprendendo durante toda a vida e inculcar valores € convicgdes democriticas, tais como: sepee pelos companheiros, solidariedade, capacidade de participacao on ativi- dades coletivas, crenga nas possibilidades de transformagao da sociedade, coeréncia entre palavras e agoes € 0 sentimento de coletividade onde todos se preocupam com o bem de cada um e cada um se preocupa com 0 bem de todos. Como ja sabemos, 08 objetivos, contetidos e métodos da escola publi- cadevem corresponder as exigéncias econdmicas, sociais e politicas de cada época histérica, no que diz respeito 4 conquista de uma democracia efetiva para os grupos sociais majoritarios da sociedade. Ao delimitar as tarefas da escola ptiblica democratica é necessario levarmos em conta as caracte- risticas da sua clientela hoje, analisando criticamente a escola de ontem e aescola de hoje, a quem serviu no passado e a quem deve servir hoje. ‘Aescola de décadas atrds serviu aos interesses das camadas domi- nantes da sociedade e para isso estabeleceu os seus objetivos, contétidos, be re cepa ee ctual, aos pobres, o ensino profissional = 10 manual. Aescola pela qual devemos lutar hoje visa 0 So ee educacao geral, intelectual e profi ae cidadania, por intermédi0. $8 " profissional. atitud ° prosseguiment As tarefas da escola ptiblica democratica sao as seguintes: 1) Proporcios i a as a a oe) as criangas e jovens e escolarizagao basica & ae ae anos, assegurando a todos as condicées de ecimentos sistematiz. i : ados e a cada vol- vimento de suas capacidades fisicas e intelectuais. um o desenvol Digitalizado com CamScanner re psnica A democratizacao do ensino se sustenta nos prineipios da ig} aldade eda diversidade. Todos devem ter o direito do acesso e permanéncia na escola €, 20 mesmo tempo, 0 ensino deve adequa' as condigdes soci: de origem, as caracteristicas socioculturais e individuais dos alunos, 6 a de vida de enfrentamento da realidade que as classes populares pratic criam. 2) Assegurar a transmissio e assimilagio dos conhe lidades que constituem as matérias de ensino. cimentos e habi- A democratizagao do ensino supde um s6lido dominio das matérias escolares, com especial destaque a leitura e Aescrita, como pré-condicao paraa formagao do cidadao ativo e participante. Oensino das matérias € .s intelectuais contribuem para estabe- e entre a sociedade e 0 no mundo ‘9 desenvolvimento das habilidade: Jecer os vinculos entre o individuo ea sociedade, individuo. Amplia no individuo a compreensio de suas tarefas vnaterial ¢ social e alarga os seus horizontes para perceber-se como men humanidade, para além da bro de uma coletividade mais ampla que é at gua vivencia individual e regional nas comunidades rurais ou urbanas. as capacidades e habilidades in- 3) Assegurar o desenvolvimento d que formem 0 telectuais, sobre a base dos conhecimentos cientificos, pensamento critico e independente, permitam dominio de métodos e eeenicas de trabalho intelectual, bem como a aplicagio pritica dos conhe- cimentos na vida escolar e na pratica social. O desenvolvimento de capacidades e habilidades cogniti prescindivel para 0 dominio dos conhecimentos e estes imprescindiveis para aquele. Por outro lado, a assimilagao ativa de conhecimentos e ha- Pitidades através do estudo independente proporciona os meios para a mesmo apés concluida a formagao escolar aprendizagem permanente, sistematica. Isso quer dizer que mentos na forma de transferéncia da cabega do professor para a do aluno enem somente ao desenvolvimento e exercitagao das capacidades e ha- bilidades. Em vez de separar essas duas coisas, trata-se de entender 0 a transmissio pelo professor se com- o ensino nao se reduz a transmissao de conheci- ensino como um processo no qual bina com a assimilacdo ativa pelos alunos, pois os conhecimentos sio a base material em torno dos quais se desenvolvem as capacidades e habi- lidades cognitivas. Digitalizado com CamScanner a em que os processos i interna da escola a organizacao ‘0 democratica de todos os 30 e os de participasa i cee oler estejam voltados para o atendimen- 4) Assegurar uma 30 e administra envolvidos na vida escola! ° 50 basica da escola, 0 ensino- _ : cree aa gestao e administragao da escola implicam uma agao Os processos de ges rdenada da diregao, coordenacao pedagogica e professores, cada tit cae suas responsabilidades no conjunto da asao escolar. s proces- anes A emnocréticn incluem nao apenas 0 envolvimento cole- a a ee Ge decisdes, como também os meios de ee es- cola com érgaos da administragao do sistema escolar e com as fam 1S escola organiza, com base nos obje- seu plano pedagégico-didatico. fase do ensino de 1° grau Para a realizacao dessas tarefas a tivos e contetides das matérias de ensino, O niicleo de conhecimentos basicos da 1° compée-se das seguintes matérias: * Portugués —O ensino da Lingua Portuguesa tem como principais objetivos: a aquisicao de conhecimentos € habilidades da leitura e escrita; o desenvolvimento de habilidades e capacidades de producao e recep¢ao de mensagens verbais, em diferentes situagées da vida cotidiana; a com- preensao e a valorizacao das variedades dialetais da lingua. Oensino de Portugués é uma das mais importantes responsabilida- des profissionais do professor, pois é condicao para a aprendizagem das demais disciplinas, além de ser instrumento indispensavel para a parti- cipac4o social dos individuos em todas as esferas da vida: profissional, politica, cultural. Partindo da experiéncia linguistica adquirida pelas criancas no meio familiar e social, elas gradativamente sao estimuladas a dominar a norma-padrao culta da lingua. ° Matemiética — Cumpre dois objetivos basicos: 0 desenvolvimento de habilidades de contagem, cdlculo e medidas, tendo em vista a resolu- es Laces jeedos a vida Pratica cotidiana e tarefas escolares; 0 aplicagao dos contetitbs, a de eee onal mento i aioe pet lo a formagao do raciocinio e do pensa- — poeee ©, assim, instrumentalizando os alunos a ntos tedricos e praticos. ° Historiae — iscipli rt ne eaerafa Estas disciplinas visam estudar o homem como eee gind| juntamente na transformagao do meio fisico e social para facao de suas necessidades, construindo Pi ara si um mundo hu- Digitalizado com CamScanner pIDATICA mano. Através do estudo da vida human e do funcionamento da sociedade, os compreender como as relagdes entre os homens e entre as classes sociais vio levando a formas de organizagio socioespacial e econémica, umas criadoras de desigualdades e injusticas e outras mais igualitérias e mais propicias ao desenvolvimento das caracteristicas humanas, ‘a presente, das instituicdes sociais alunos devem ser incentivados a AHistoria estuda o homem nos diferentes tempos da sua existéncia enos lugares onde ele vive; como ele vai estabelecendo relagdes com os seus semelhantes Por meio do trabalho, como vao sendo criadas as insti- tuigdes sociais, como o homem vai resolvendo os conflitos entre os inte- resses das classes sociais. A Geografia estuda as relagées do homem com 0 espaco natural e como pode transformé-lo em seu beneficio e em bene- ficio da comunidade humana. O objetivo maximo dessas disciplinas é auxiliar os alunos no conhe- cimento da realidade fisica e social, a partir da realidade mais imediata, de modo a suscitar a compreensao do papel dos individuos e grupos na transformacao da sociedade, tendo em vista um mundo de convivéncia humana que assegure a plena satisfacao das necessidades materiais e es- pirituais de todos. * Ciéncias (Fisicas e Biolégicas) — O ensino de Ciéncias compreende o estudo da natureza e do ambiente; as relacdes do homem com o meio fisico e ambiental; a compreensao das propriedades e das relacdes entre fatos e fendmenos; a apropriagao de métodos e habitos cientificos. Visa também: 0 conhecimento e a reflexo sobre o uso social das tecnologias tendo em vista 0 aproveitamento racional dos recursos ambientais; forma- co dos alunos para a preservacao da vida e do ambiente; aquisicao de conhecimentos, habilidades e habitos relacionados com a satide e com a qualidade de vida; a superagao de crendices, superstig6es e preconceitos. © Educagao Artistica — £ um importante meio de formacao cultural eestética dos alunos, de desenvolvimento de criatividade e da imaginagao. Inclui atividades de expresso de emocées e sentimentos, de desenvolvi- mento da imaginagio e desenvolvimento da capacidade de apreciacao das diversas formas de expressio artistica (pintura, escultura, danca, miisica, poesia) populares e eruditas. © Educagio Fisica e Lazer — A Educacao Fisica contribui para fortificar orpo e o espirito, para o desenvolvimento de formas de expresso Digitalizado com CamScanner

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