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Hevellyn Cruz dos Santos

Fichamento do texto Aconselhamento Pastoral, de Christoph Schneider- Harpprecht

O autor relata que muitos consideram o termo “aconselhamento pastoral” uma expressão
problemática, pois sugere que somente ou principalmente o pastor ordenado possa aplicar
este aconselhamento.

O autor define a poimênica de ajuda da comunidade para seus membros e para outras pessoas
que a buscam na área da saúde através da convivência diária no contexto da Igreja. E o
aconselhamento pastoral é definido como uma dimensão da poimênica que procura ajudar
através da conversação e outras formas de comunicação. Ambos se baseiam na fé cristã e na
tradição simbólica do cristianismo.

O objetivo do aconselhamento pastoral é descobrir com as pessoas, o significado concreto da


liberdade cristã, independente da fase que ela está passando em sua vida. Ela não tem por
objetivo apontar os erros das pessoas com base nas Escrituras, mas, ajudá-las a superar seus
traumas e fraquezas constantes, em amor e oração.

Desta forma, podemos interpretar o aconselhamento pastoral e a poimênica como uma


expressão da vida em comunidade e não como uma tarefa reservada para pastores ou
especialistas da Igreja. A base do aconselhamento é a Koinonia, a convivência no contexto da
Igreja, que as Escrituras nos ensinam. A diaconia e o aconselhamento estão interligados, pois,
é impossível separar a ajuda psicológica e espiritual da ajuda concreta e social. Se as pessoas
estão famintas ou precisando de roupas, seria muito cínico de nossa parte apenas orar por eles
e lhes oferecer uma ajuda psicológica para superarem essas coisas. Num contexto de pobreza,
o aconselhamento deve ser integrado no trabalho diaconal da comunidade. A partir dessa
visão é necessário desenvolver na Teologia Prática a teoria de uma prática interdisciplinar do
aconselhamento pastoral que reflita a sua relação com as outras dimensões da vida
comunitária, bem como as ciências humanas (psicologia, psicoterapia, sociologia...).

Para Platão o ser humano não devia se preocupar somente com o dinheiro, a sua fama ou
honra, mas, com o melhor para sua alma, a cura de sua alma através do conhecimento e da
verdade. Para ele, o homem deve se auto examinar e conhecer a si mesmo. Platão divide a
alma em três partes, o lado racional que está relacionado com o verdadeiro ser das idéias, o
lado do sentimento e o lado da pulsão, que é mais relacionado com a realidade física e sensual,
determina o processo de autoconhecimento como fuga constante da mente para fora do
mundo físico, voltando-se para o mundo das idéias e de Deus.

No A.T e N.T encontramos uma concepção bem diferente de alma. Alma no A.T é semelhante à
vida. Ela é sinônimo da identidade do ser humano nas suas relações com Deus, consigo mesmo
e com o outro. Quando o homem se afasta de Deus, a alma se entristece, abate, segue o mal.
A antropologia do A.T não separa mente, alma e corpo e entende o ser humano como um ser
integral. O aconselhamento do A.T está centrado na luta do homem para resgatar a sua
relação com seu Criador. Os agentes do aconselhamento no A.T são os sacerdotes, os anciões
e juízes que tomam decisões em casos de conflito, os profetas, que desenvolvem a
admoestação e consolação individual e coletiva, e os sábios, homens do povo que transmitem
como pais de família os conselhos da sabedoria popular para os filhos. Os provérbios e o livro
de Jó nos indicam de que maneira a admoestação e consolação eram práticas de sabedoria
popular. Tinham o costume de visitar os enlutados, e mostrar com eles sua dor através de atos
como raspar e jogar pó de cinzas na cabeça, rasgar as roupas, sentar-se no chão como fizeram
os amigos de Jó, e ficar ao lado da pessoa mesmo sem dizer uma só palavra.
No N.T vemos a continuação de uma prática de cura que integra cura espiritual e física,
aconselhamento, culto, interpretação as leis divinas e sabedoria popular. O pensamento
apocalíptico era uma tentativa de manter a identidade dos cristãos. Ofereceu uma
possibilidade de superar o abismo entre o bem e o mal, entre a este mundo e a realidade de
Deus.

Mesmo sendo pobres e rejeitados, os seguidores de Jesus, encontravam refúgio e valor Nele,
em Jesus se sentiam amados. Os escritos joaninos visam uma transformação da pessoa a partir
da nova vida trazida por Jesus, após a morte, pelo Paráclito, o Espírito Santo como advogado. A
palavra paracalein, paraclesis, torna-se o conceito chave no N.T. Em Paulo ela significa a oferta
da salvação através da relação com Cristo que a pregação do evangelho leva até as pessoas.
Paraclesis pode possuir dois significados diferentes: admoestação e consolação. E tem como
fundamento a misericórdia de Deus que justifica e perdoar o pecador.

Dois aspectos no N.T são importantes para a futura historia do aconselhamento pastoral. A
mensagem da vida no reino de Deus e da ressurreição de Cristo transforma a antropologia e
abre a porta para a desvalorização da corporalidade e a espiritualização da vida que se
tornaram dominantes na medida em que o cristianismo abriu-se para o pensamento grego.
N Igreja antiga o aconselhamento dispunha mais do ato da penitência, para que com o
reconhecimento de sue pecado, houvesse contrição por parte do pecador, e este pudesse
regressar a comunhão com Deus e com a Igreja. Os eremitas procuravam a santidade se
isolando, indo para desertos.

A centralização do poder no monarquismo episcopal colocou a tarefa do aconselhamento


pastoral nas mãos dos bispos e presbíteros e lhes deu mais e mais um caráter jurídico. O meio
terapêutico dessa poimênica era o castigo, a exclusão do grupo social. Cabia ao ministro
examinar os fiéis para dizer se eles estavam de acordo com as regras da Igreja para uma vida
de fé ou não.

A Reforma Protestante se constituiu contra o abuso desse tipo de aconselhamento. Lutero,


através de sua própria luta contra tentações, descobriu na graça pura o fundamento para uma
reconstrução do individuo. Lutero tirou o peso do ato de penitencia e por outro lado tornou a
sua experiência quase que um padrão para os seus contemporâneos. Para Lutero
aconselhamento deve ser feito com conversa com membros de uma comunidade, que
compartilham suas dificuldades e erros em busca de um seguimento fiel dos mandamentos
dados por Deus.

Na modernidade é desenvolvido o pietismo. O enfoque na fé é pessoal, nas experiências de


conversão e na santificação caracterizava o aconselhamento pastoral pietista. Instalaram-se
pastores como capelães hospitalares que tinham na verdade, o objetivo de converter os
enfermos. No racionalismo, o aconselhamento rompeu com essa tradição, entendendo a
conversação pastoral como diálogo entre amigos em que o pastor tinha a tarefa de reanimar
as pessoas. Na América Latina a forma predominante de aconselhamento pastoral ainda
consiste no sistema de penitência e na poimênica sacramental. Sempre existiram fortes
tendências de religiosidade popular e de práticas de aconselhamento e terapia integral, como
a benzedura e rituais da religiosidade afro que minavam o aconselhamento como instrumento
do poder pastoral.

No modelo fundamentalista, o teólogo Norte Americano, Jay E. Adams promove a visão de que
aconselhamento só deve ser feito voltado para a Bíblia, seria um aconselhamento “noutético”
que critica de maneira radical o uso de qualquer psicologia. Para ele até as doenças psíquicas
tem sua raiz do pecado.
No modelo evangelical existe uma forte tendência de usar a psicologia para realizar um
aconselhamento mais efetivo. Segundo Gary Collins o “alvo ulterior e abrangente” do
aconselhamento é a “evangelização e o discipulado”.
Para o modelo holístico de libertação a poimênica é definida como o ministério amplo e
inclusivo de cura e crescimento mútuo dentro de uma congregação e de sua comunidade.
Aconselhamento pastoral, como uma dimensão de poimênica, é a utilização de uma variedade
de métodos de cura (terapêuticos) para ajudar as pessoas a lidar com seus problemas e crises
de uma forma melhor.

Uma teologia prática contextualizada não pode separar os aspectos antropológicos e


teológicos da poimênica e do aconselhamento pastoral. O ser humano é ser falante que vive a
partir da relação com os outros buscando satisfazer suas necessidades de auto-sustentação
física, psíquica e social. O ser falante vivendo em busca de um sentido que preencha a
experiência da carência de ser é a imagem de Deus.

A poimênica acontece onde as pessoas são ajudadas em nome de Jesus Cristo a expressar-se
livremente perante Deus, simbolizar as suas experiências, conscientizar-se sobre a situação,
lamentar-se e protestar contar o pecado e o sofrimento, formular expectativas de esperança,
buscar soluções de conflitos e procurar cura, apoio, orientação e consolação na tradição cristã
e nas diferentes formas de vida comunitária.

A teoria de sistemas ajuda a entender que o aconselhamento pastoral nunca lida com
indivíduos isolados. Eles fazem parte de vários sistemas, como família, trabalho, vizinhança... E
assim, o aconselhamento precisa ser feito com um olhar amplo de toda a situação.

A tarefa principal do aconselhamento comunitário pastoral é a interdisciplinaridade de leigos e


profissionais que organizem A acompanhem o trabalho, se preocupem com a capacitação dos
visitadores e líderes de grupos de aconselhamento.

A poimênica está aberta para uma variedade de técnicas terapêuticas que permitem um
trabalho criativo, como elementos da psicanálise, do psicodrama... No aconselhamento
pastoral busca-se todas as verdade bíblicas que Deus deixou para que nós pudéssemos
articular nossas relações de maneira que haja um convívio que traga paz para o mundo, para o
outro e para mim mesmo, assim, glorificando a Deus.

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