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Geografias literdrias e culturais Espagos / temporalidades Léa Masina, Gilda N. Bittencourt Rita Terezinha Schmidt Onganizadoras G UFRGS abralie i EDITORA © dos autores [ediso: 2004 Dirt reservados desta igi Universidade Federal do Rio Grande do Sal (Cops: Ca M, Lust Revisis Lacane Lepmite Bitrate eleuOnia Fernando Pein’ Schmitt CHS Genpafarnerta ecu pgstonponia orp por Let ‘Maia, Gis N. Bien Ia Tra Schni~Tor Alege ers da UFRGS, 2004, Incl refrac Inu dois anigosem pul (Coligio promod pel Asi ral de Literatura Corp els ABRATIC cet de Let ds UFRGS eo 2005 1. Literatu compas 2 Canopy arora 3. (Geogr ner ceri 4 Cages eer ~ An Latina 5 Geopolitics ~ Adria Latina 6, Clr sctempones = Cosmoplsmos Nacionales 6. ivrmadens = Una ar ‘ade? Caopateta Cte erties Gi IIL, Schmie RsTeia, cou s2es1(0st.1) ‘CIP-Bel. Dado Inernaions de Catlogaso na Plas, (An Luca Wagner CRBIO1396) ISBN: 85.7025.755.8, SUMARIO Apresenagio/ 7 Deseritoriizcign, posdisiplinaieda y pslerturs 19 ‘Nave Aragjo Locagies tras do Moderno: a coreespondéncia centre Abgar Renaule Carlos Drummond / 35 Reinalds Marques Fronteirs mili, identidadesplaris/ 49 ‘Benjamin Abas Jinior Canografis¢ imagens: comentirio 3s comunicases apresentadse ‘oI Coléquio Sul de Literatura Comparada! Enconto Able 2003 / 59 ‘eal Antelo ‘Um teins po fonts / 67 Laure Caalante Padi Geopolitics lierarasy América Latina hacia una torizacin conteahegemsnica 79 Zalna Palermo Cosmopoltimes,nacionalismos, Tugares ¢n-ugaes na cultura contemporines / 93 ‘Renato Coders Gomes, Unidadeepluralidade do mundo p-modero: rotas sobrea tansigio do novo seule / 115 el Funds Vizetini eograias terriase cultura: espagostemporaidades / 125, ‘Buc Maria de Sue cspago esussimediagbes /129 (ft Roberta Ilias’ Remapeando a Amica Latina para uma nova carografiaiterdria no continent / 139 Eeuarde Contino Sobre cartografiss terse ecules / 149 Evelina Hotel “Tempespaso no onirodédsojoyiano / 157 Donalde Schiller Nota sobre autores 171 APRESENTACAO (Os trabalhos reunidos neste volume foram apresentados e debati- dos no Coldquio promovido pela Associacio Brasileira de Literatura ‘Comparada ~ ABRALIC ~ e pelo Instituto de Letra da UERGS, em PPorco Alegre, no final de julho de 2003. O tema escolhido foi “Geogra- fiasLiteririas e Culeurais: Fspagos!Temporalidades” em que se procirot dliscutie os eumos mais recente das priticastedrcasna dca dos extudos literdrios eculturais. Umas das conseqléncas dsse novo ditecionamen- + tebrico foi a desestabilizacio do pensamento lluminist pautado em realidadesfixas e nas certezasinerentes 20 racionalismo. Da mesma for- sma, as novas configuragées geopoiticase sociais, esultantes dos movie -mentos migratérios, dos deslocamentos préprios da mundialiagio e da temergéncia de nagdespés-coloniais,orginadas dos antigos Impéros, em fadas em teoras de locagdo, em que os temos «titcos sio buscados em conceitos espaciasetemporais, "Nese cendto,regsta-se a disseminacio de dscursos que se apdi- am em sropes como migrasio, exilio,difspora, viagem, nomadismo, li ‘minaridade, expatriamento, desenraizamento, desterttoriliagio,retr- 0 quanto a eoriaea consciéncia crtica esto sintonizadas com os processos econdmicos,hst6ricos,soci- ais eculturas,caracterizadores de novas experincias da mobilidade co- leriva edas transformagbes nos mapas geopolitcos. Assim, processm-se formassingulars de pensar o fenmenoliterivio a partir da reconceptu- alzagio de nogSes de espagoltempo.O espaco deixa de ser apreendido € dlefinido como uma zona univoca de referéncias reconhecidase identifi «ada com uma experiéneia fixa efisiea de huge O tempo, ccbido linearmente sob o signo do progress histérco, passa a abrigar temporaidades dstintas, pemitindo a compreensso ds coexisténcia de diferentes modos de produsio no campo lteiria, Os novos desenhos dle fronteras reas eimaginadas atualizam, dessa forma, uma nogio de ‘spagoltempo na qual se inscrevem configuragSes diversas de identifica- «Ho elou deestranhamentos. Conjugadas num exo paradoxal de descon- ‘inuidades e simultaneidades, tas configuragées geram estratégias mil- tiplas de reinvengéo social esimbélica, (Os textos que compsem esta coletinea, sob distintos vieses de abordagem, trazcm reflexes que gram em torno das questBes aponta- «das acima, considerando 6 novo mundo-espago de um tempo presente cde producto, Su leitura permite identficar uma visada predominan- temente latino-americana, que peoblematiza o estado atual da coria dla eritca,€ de seus modos de circulagio nos espagos académicos, € {questiona a disseminagio a-crtica de diferentes conccitas edricos de senraizados de seu contextos.Além diso,enfaizam, sob pontos de vista cultural, literirio ou ideolSgico, os novos sentidos que as nogBes de es- pagoe tempo assumem numa Geografia e numa Histria modificadas pelos processos de mobilidade geopolitcae pela velocidade vertigino- sada comunicagio planetiia Essa preacupagées com tas processos de mutacio jé podem ser ‘observadas no texto de Nara Arajo initulado "Desteritoralzagio, pos- dlisciplinariedad y posiveratura", em que a autors procura responder 2 _questessugerdas pelo tema da Coléquio. Diviido em quatro sgmen- 10s, 0 texto focaliza,inicialmente, a evolucdo dos estudos da literatura e _stsaproximagics com outros ramos do conhecimento nos séeulos XIX ‘°XX, chamando a atengio para o questionamento entre um conceito de literatura moderne e tradicional, dante do desenvolvimento da cultura cdemasea eda inclusio de formas antes desprezadas como "menores”. A seguir a autora mostra os rumos da reflexzo na e sobre a América Latina, ‘em contraste com or modelos culturaisimportados. Segundo els, no con texto geopolitica e cultural da aualidade, onde convivem migragses, sporas, destersitoralzasSes,reteritorialzasSes,entre-lugares¢inters: ticios, matcados pela contaminagio entre o local e o global, “0 espace Irxino-americano nose restringe a umn conceta fixo de googeai, rem a ‘uma temporalidade linear, mas a uma dispersio r2zamavea”. Discorre, igualmente, sobre posigao epistemol6gica do sueio latino-americano, como objeto ¢ como sujeto do pensar. Para ela, o Latinoamericanismo surgi como um “metarelato de emancipacic",com aconstrucio de um dliscursotebrico que se bifurea jd quea ftoneiraentrea teoria ea critica foi apagada. Nese sentido os intelectuaslatino-americanos produziram “reinvengdes tericas, diante de realdades de decomposisio politica e social eda necesidade de adagio de novos paradigmas. Muito antes do surgimento dos ‘subaltern studies’ e dos estudos de Edward Said, o ati noamericanistas produziram teorias questionadoras do diseurso coloni ale do pensamento etnocéntrico, com 0 intuito de problematizat e des- fazer conceitos dicotémicos. Retomando, mais adiante, 0 problema da rearticulagio de concepeées do literitio, Nara Aradja mostra que a no- <0 de frontira se amplia para as priticasinertextuais, uma ver que os grandes relatos foram cancelados e se valorizam hoje as ‘histrias locas. Nesse novo contexto, a autora vé, no comparatsme litertio e nos ripor de relagses que tem estabelecido 20 longo do tempo, as linkas hoje pre ddominances na eiticslterria e cultural ( texto de Reinaldo Marques, por sua ver, aceea-se do tema: tal pelo préprio titulo "Locagées ttdias da moderno: a correspondén- cia entre Abgard Renault e Carlos Drummond”, inspitado na pesquisa {quedesenvolve sobre correspondénciarocida durante ete décaasentce Carlos Drummond e Abgard Renault, Por e vincularem ao espaso dos acervos e arquivo lteririos, as cartassio vistas pelo autor como “loca- ‘o tardia do moderno”, a0 mesmo tempo em que cansituem encen: {Bes de “geografaslteririase culturas" além de biogficas ¢aetvas, Nessa mesma linha, o autor identifica, na escola, na universidade, no jot nal, na teibuna politica enos cargos administrative, os espagos passives dde ocupacio pelos intelectusislatino-americanos. A anise de wma das cartas de Abgard a Drummond, leva o autor a identificar, na toca de informagies entte 0s dois, a primazia do tempo sobre 0 espaco, da uagem sobrea Geogr, assim como um “istricisma desesp {°. Tal minimsizacio do espaso, porém,nio se reflete a arquivos pessoais, que eomportam ums dimensio expacializante,relaci- ‘onada 3 meméra individual coletiva,jé que constitugio de aquives © estudo das conespondéncias de esritores € recente no Brasil (anos 70.80). Nessecontexto, sio muito importantes os centros de documen- ‘agio ¢ meméria criados em Universidade brasileiras, que se cornarara locais relevantes de pesquisa e producio de conhecimenta, Para Reinal- cdo Marques, pesquinidor de Arquiva “natatvia” o sus dadosenfa- tizando sua dimensio temporal mas pode, 0 mesmo tempo, privilegiar ‘espago, através de sua “imaginagio construiva™, extabelecendo as art- culagies ¢ os nexos entre 0s documentos. Assim, os doi aspects co vvergem ‘para acentuara dimensio espacalizante das acevoslitersrios a distibuigio e contigidade dos objetos e documentos no espago, © a 1 inerente a trabalho com os reps compra en Em “Frotciran miki, idenviade pars", Benjamin Abdala Jniorembr quo xerestiposconstridos pla indi cura or ‘euamercana,principalmente strats do cinema vém sendorompidos, do mesmo meso como climinaram-sc as fronts diplnares, pre Zindo mesclagens bascadas ma interconetvdade, Nese end, se des- tac importinia do Vale do Sic (Califia), come fsragio do afsstamento de um model centalzadoreundireconale sa subst So pela produgioarclads em rede, Para Abla Jinan, a destegula -mentaso que impera nas ees igitisegue ia do capital interna ional, com interagdesandnimay,distantes vrai. Nese novo con tea plancirio, a defini de identidade pode ser sabelcia pa de reagbeseinteragdes mips, O lc para pensamento rico € 2 sociedad e suns comunidades. Ea quese rica identidad colt, tuma nova vst comparthada que tend a ser supranaionl Para au. tora pasture da dierenca rom seu correlate brs em nogbes ovina dosctlo XTX, como mestgagem sincttcncovdldade cde, mmoctacia racial. Como exempla de itoogiagio da condaiade bra Irs, Abdala nie sponta bra de Jonge Amado, cm que se neal zm as difeengas eos conflitos, através da cexistnca pata de opos: tos Paro autor, em frmor cultura o mando vm se ornando ada ‘ez mais meso abrndo-se& mistraeeformulages hbridas, Nese sentido, ao egemnicoconvém cooparncorporar deforma prod ‘as tenses eiferengan que sam intercabigvel, Nese moviment A atclagescommnitres upranacionis, hiro pode onsiut tama forma de democraizagio ede respeito iftengas, Benjamin Ab dala vé no “hibidsmo cultural” uma face slidria que tora pose himtoriciar ua mata constatvn, Raul Antlo em “Cartogefiasc imagens" dslga com os textos de Benjamin Abdals nore Reinaldo Marques, procurando exabelecer ne cles, ima liga epstemolica, sinteriada no ial qu dew a0 seu taba. Em Benjamin Abdsls, Anteloapont a dscusso sobre 9 oncit de hibridsmo que presupse"spoubiidade dese desenolve- ‘em ris maisativay, crite lives sem peconcitos, qu todos 16s no deiamos de ser hibridos ou meso Una desis pris daria através da “densidad hstriea do hibriiamo™ mostra por Ab dala 20 analsr os processos de superponiso e apropriagio usados por Jorge Amado na construsio da pesonagem Dona Flor, onde intetem tanto textos de variadas procedéncias, como as imagens no cinema das mulheres fais. Do texto de Reinaldo Marques, Raul Antelo detaca a intengio de focaizar a questio da imager, tomando por base os au ‘vositerdtosconsierados como “locagSestardias no modeena".Vslen- dovse das relagdes entre espagoe tempo inerentes 3s qustoes que 04> balho de arquivo pressupée, 0 ator comenta a madangas dos paad masda disiplna literatura, eradcionalmenteestudada sob o prsmahis- ‘6rieo, 0 que implica em dos principio epistmicos«analogia eas ‘cxsso, Para ee, 08 deslocamentos do eixo temoral para o exo espacial, present ina poesia modernise tarbémn nas arts plistias, posi taram a valorizasio da imagem numa expansio epstemoldgic inter ciplinar, permitindo, com isso, nova loages da cultura Laura C. Pailhasem "Um einsito de fronteiar,dscate os mo~ vimentos entre ocidenteenio-ocidente, nos expasosgeopoliticos de do- rminagio portuguesa na Africa, partir do qual define como aconteci- ‘mento reaficanizagi litera, proceso que ocorr paralelo&desco- lonizagio e independéncia das ex-coldnias, na segunda metade do sé- culo XX. lastando aqueles movimentos com refréncas i priticas de Vitios autores de Angola e Mocambique, Padilha identifica a presenga do clemento cultural aficano no espago da textualdade, lugae onde aquela provoca rachadutas, pois se a lingua € uma imposigio herdada pela dominacio politica e cultural, se reasnimida, pode se também um Instumento efieaz de contestagioe afirmagfo da existéncia especifica de identidads silenciadas. E no manuseio da lingua que se wavam as telagdesconfltivasenttea voze letra, o préprio o allico, entre fr. a da ancestralidade e a instiuigao ltersra de origem ocidental. Na Aiscussio dos ope que compen a cartogafa textual nscrita no ex «os dos vitos escritores, Paha idenifea a passagem ~ das margens parao centro ~ daidentidade que, resultado de uma conquista, firma 2 afticanidade como signo de sua emancipagao esa diferenga Em set posicionamento a partir da extiea pés-colonial onde busca subsidios para sustentarsua leitura,Pailha drige uma critica aosintelectuais que, «em suas posgbestedrcasavangadase priticas dias progressstas, ain ddase mantém reticentesquantose trata de questdesenvolvendoo con- tinente eas culeurasafianas Por sua vez, 0s impasses gerados pelo cosmopolitsmo na cultura contemporinea sie abordados por Renato Cordeiro Gomes que, inii- almente, recorte is idias de Antonio Candido para acompanhat a evo- lusao da vida espiricual brasileira, regida pela dialétca entre o local e 0

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