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COLEGAO HISTORIA DO PARANA Parana: Ocupacao do Territério, Migragdes . Freel T Este livro trata da ocupacgdo e colonizagaéo na histéria do Brasil sob uma perspectiva regional, com a intengao de que se configure numa introdu¢ao possivel a Histdéria do Parand. Seu autor pretendeu condensar uma explicagéo histérica cujo problema basico constituisse a articulagdo entre a ocupagdo do territério, sua colonizagao e as migragées. E, ao se referir aos deslocamentos de populagao, procura evidenciar como esta historia revela uma historia social comportamentos, padré6es de relagées sociais, momentos de crise, fendmenos culturais... enfim, apontar como o viés das migracgées permite compreender os fatos humanos. Porque resulta de uma releitura anotada, espera- se que as reflexSes suscitadas conduzam o leitor a novas e velhas questées sobre a historia do Brasil e a histdria regional. Sobre o autor Sérgio Odilon Nadalin Professor no Departamento de Histéria da Universidade Federal do Parana; Mestre em Histéria do Brasil pela UFPR, Curitiba; Doutor em Histéria e Geografia das Populagées pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Paris; E autor dos livros “imigrantes de origem germanica no Brasil” (Aos Quatro Ventos) e “A demografia numa perspectiva histérica” (ABEP), SERGIO ODILON NADALIN Parana: ocupacao do territorio, populacao e migracdes 28 edicSo eletrénica Curitiba 2017 Sociedade de Amigos do Museu Paranaense Créditos Governadar do Parana Beto Richa Secretirio de Estado da Cultura Jodo Luiz Fiani Diretora-Geral da SEEC Jader Alves Coordenador do Sistema Estadual de Museus ¢ Diretor do Museu Paranaense Renato Augusto Cameiro Junior Editoragdo¢ preparagio ¢-book Roberto Guiraud — Designer Sociedade de Amigos do Museu Paranaense —SAMP Marionilde Dias Brepohl de Magalhaes Presidente Apoio Este livro foi reeditado com recursos do CNPq ¢ Fundagio Araucaria. Apresentacao da Colecao © presente exemplar integra wma colegio de 5 livtos que fbi ori- ginelmente publicada em 200] pela Secretaria de Edueacio do Estado do Parana, imtitulada Colegio Histéria do Parana. O objetive eva propiciar 20s educadores o acasso a conhecimantos e interpratacdas da Histaria Regional, abordando diversos aspectos que conferiram identidade ao Estado. Com o tempo, constatou-se que outros leitores se interessavam pela coleso: além dos professores, pesquisadores e estudantes, profissionais das mais diversas areas procuravam obtar os livros para saber mais sobre o Parana; sua formagao econdmica, a populagao que ocupou o tervitério, sua cultura, sua contibuigdo politica a nacido brasileiza. Esta foi a motivagSo que leven o Museu Paranaense, sempre de- dieado a difusie da Hictéria sob uma perspectiva cientifiea, 3 langar uma semunds edipio de material, qua ora 4 denominada ColapSo Parana- Textos introdutarios. Accoleso ¢ composta pelos seguintes titulos: Parana: Ocupacio do Territéric, populagio ¢ migragées, por Sargio Odilon Nadalin; Vida material, vida econémica por Carlos Roberto Antunes dos Santos; Cultura e edueagio uo Parana, por Ftelvina Maria da Castro Trindade e Maria Luiza Andrearza; Parana: politica e governo, por Marion Brepoll: Urbanizacie e Industrializacio do Parana, por Dennison de Oliveira. © leiter que apreciar estes contetides podera comhecer nao ape- nas os fates 2 as comjumias que revelam a tvajetoria social desta regio, mas também familisrizarse com uma rica bibliografia académica que orientow 2 aserita da seus autores, todos eles, professores da Universida- de Federal do Parana. Entetanto, longe de ser uma resposta definitiva, estes estudes ampliam as questées ¢ os debates em tomo do tema, procurando des- pertar a curiosidade intelectual de todos relativamente aos persomagens, experiéncias, institui¢des «movimentos socials que confizuram 3 singu- lavidade de nosso estado. Que a presente colecdo, ao sugerir fontes e métedos de estudos, estimulem trabalhos outros que venham a enriquecer a histéria como instrumento de conhecimento, de educago, de ensino Agradecimentos Agradacemos a Sociedada de Amigos do Museu Paranaense, 3 Funda¢do Araucaria 2 20 Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien- tifico e Teenoldgico - CNPq, pelos recursos destinades a esta publica- ga, a partir, respectivamente, da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura do Governo Federal e do Programa Niclee de Exceléncia — PRONEX, da Secretaria de Cigncia e Teenologia do Estado do Parana em pareeria com o Ministério de Ciéncia e Tecnologia do Governo Federal Colecio Historias do Parana Marion Brepobl de Magalhies Presidente da SAMP Renato Carneiro Jr. Diretor do Museu Paranaense Pesquisa Giovana Paola Zanicotti Revisio bibliogrifica Ligia Leindorf Bartz Kramer Editoragio Eletrénica ¢ Capa Amiraldo M. de Gusmiio Jr. Lilian Alcantara Soares Depésito legal junto 4 Biblioteca Nacional, conforme Lei n° 10.994 de 14 de dezembro de 2004 Dados Internacionais de Catalogagao na Publicagao (CIP) Bibliotecaria responsavel: Luzia G. Kintopp - CRB/9-1535 Index Consultoria em Informagao e Servigos Ltda. Curitiba - PR Nadalin, Sérgio Odilon NI27 Parana [recurso eletr6nico] : ocupagao do territério, populacao e migragdio / Sérgio Odilon Nadalin. — Curitiba : SAMP, 2017. Recurso on-line : PDF. ISBN 978-85-67310-25-1 1. Parana - Historia. 2. Parana - Migracao. 3. Parana - Colonizagao. I. Titulo. II. Série. CDD: 981.62 IMPRESSO NO BRASIL/PRINTED IN BRAZIL SUMARIO. 1 UMA HISTORIA DAS MIGRACOES... 1.4 POR QUE OS HOMENS MIGRAN? ..... 1.2 O DESENVOLVIMENTO DO TEMA ..... 1,3 O TEMA E.A ESTRUTURA DO LIVRO .... 14. PARA REMATAR UMA INTRODUCAO ... 2 NAVEGACOES, DESCOBRIMENTOS, COLONIZACAO EMERCANTILISMO: AVENTURAS DOS PORTUGUESES E MAMELUCOS NO BRASIL 2.1 POR QUE OS EUROPEUS? ......-.nseeoue 2.2 OS PRIMEIROS IMIGRANTES NO BRASIL: “MARGINALIZADOS SOCIAIS" E, OU, “AVENTUREIROS"? = 027 2.3 EA AVENTURA PORTUGUESA TOMA VULTO NAS COSTAS DA AMERICA DO SUL. ... wun O36 24 A COLONIZACAO E POVOAMENTO DOS “CAMPOS DE CURITIBA" E DAS “GERA ULOS XVHE XVII... 042 3 POR UMA ETICA DO TRABALHO. COLONIZAGAO, IMPERIALISMO E LIBERALISMO. A PROPOSTA DE UMA IMIGRACAO DE COLONOS BRANCOS, “MORIGERADOS E LABORIOSOS” » 053 3.1 A DECADENCIA DO COLONIAL MERCANTILISTA O54 3.2 AS MIGRAGOES EUROPEIAS NO SECULO XIX . 061 3.3 IMIGRANTES PARA CONSTRUIR UMA NOVA NAGAO.... 065 34 poctrick IMIGRATORIA PARA SUBSTITUIR O BRAGO: ESCRAVO .... = 3.5 E AS MIGRAGOES INTERNAS TORNAM-SE MAIS. IMPORTANTES DO QUE A IMIGRACAO DE ESTRANGEIROS ...... - O79 4 CONCLUSOES: AVENTURA X TRABALHO; LITORAL X SERTAO; RURAL X URBANO .......000 BIBLIOGRAFIA COMENTADA.... REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Parand: Oc do Territério, e 1 UMA HISTORIA DAS MIGRAGOES? © tema principal deste ivro, ocupagao ¢ colonizagio na historia do Brasil, nao ¢ original. Para se dar conta disto, basta examinar a historiografia, tanto regional como nacional. Referenciei na listagem bibliogrifica, por exemplo, os trabalhos de MARTIUS,' Jodo RIBEIRCY ¢ outros. No que concerne de forma mais espeeifica 4 histéria do Brasil Meridional ¢ a histéria do Parana, cu me apoici nas informagées de Romirio MARTINS! ¢ no 1° volume da “colegio” Histéria do Parana, cujos autores foram Aldva Pilani BALHANA , Brasil Pinheiro MACHADO ¢ Cecilia Maria WESTPHALEN.* No fundo, scgui a receita detalhada no clissico artigo “Fxhore de sna sinopse da bistéria regional do Parand”’ ¢, de mancira bem mais explicita, cnsaici repetir a tipologia proposta por Sérgio Buarque de HOLANDA- Finalmente, utilize’ exaustivamente um excelente instrumento diditico ¢ de pesquisa, 0 ltas Histérice de Panand, de Jayme Antonio CARDOSO." Com que objetivo? Renixifar o conteddo tratado por esses ¢ outros com a finalidade de condensar uma histéria do Parana que tivesse como problema bisico a articulagio entre a ocupapte do territério, a colonizupao € a8 migrayéer. Relagio evidente, diria © leitor. Mas, quero crer, nio objetivada de forma suficiente, apesar das diretrixes de ha muito ji propostas por Brasil Pinheiro MACHADO, no artigo ja mencionado! Ainda mais porque os seus angumentos podem ter como suporte tedrico a possibilidade de uma “histéria de deslocamentos populaconais". Dessa forma, além de um livro tematico, a minha pretensdo é de que o texto possa constituir-se numa intradugio possivel a Historia do Parana. No principal porque — ndo $6 revisita = trata-se de uma releitura anotada, ¢ as reflexdes resultantes, assim espero, poderiam conduzir o leitor a novas ¢ velhas questées sobre a histéria do Brasil ¢ sobre a histéria regional. Tendo em §1841:149-157, 21914, Yafde 1M). * 1969, * MACHADO, 1951. Republicado come “documento” na Revista Histina: Qmesties & Debates, 814/15), ©1963. * Com texto explicativo de Cecilia Maria Westphalen. Canno0 ac Weare, [9st * 1951 © 1987, 7 Colegio Histéria do Parand mente esta inten¢io, quero afirmar, desde logo, que nao tenho reccio das notas de rodapé.” Com a devida vénia, pretendo mesmo abusar delas, usando-as para observagdes que considero necessarias, chamar a atengio para certos textos ¢ documentos sobre o assunto em pauta e, anotando devidamente, colocar alguns problemas que mereceriam uma reflexio ou pesquisa paralela do leitor, Assim, se 0 tema nao ¢ propriamente original, a minha contribuigio seria a de refictir sobre um assunto que tem como denominador comum a formagio histérica dessas comunidades!” que, a0 se integrarem, constituiram a sociedade paranaense que conhecemos. Refiro-me a0 Parand meridional da criagio de gado, das invernadas, do tropeirismo, do mate ¢ da madeira. Ao Parana organizado em torno da cultura do café c, finalmente, a0 Parana do Oeste ¢ Sudoeste, da pequena propriedade, da suinocultura ¢ cultura de cereais. Evidentemente, um dos alicerees do meu trabalho seri fundamentado pelo fato conhecido de que a Histéria constiui a “versio” diaminica, © sobretudo “‘datada”, imersa no tempo, dos fendmenos sociais. Portanto, independente da definigio tedrico-metodolégica de uma Histéria Social, jeda a histona € “social”, por definigio. Parodiando Marc BLOCH, uma historia das migragdes 36 teri sentido se, a partir dos deslocamentos populacionais, pudermos apreender os homens. Para isso, o historiador deveri munir-se do seus aparatos metadoldgicos, assemelhando-se ao “mame dar lemela, Onde fecrepar caorme haere ¢ quot exh ca tout cogae™.)4 Em outros termos, uma historia de migragdcs, de deslocamentos de populagio, revela comportamentos, padrdes de relagdes sociais, momentos de crise... Traduz fendmenos culturais ¢, messes € outros aspectos, as migragées permitem-nos compreender os fatos humanos — entre outros, politicos, religiosos ¢ econdmicos. * Estow aqui respandendo 4 provocagio de um artigo publicado hi algum tempo na Botha eS. Paulo, intitulado “Yiem tem modo de rodapé?” (429, 26.07.1997, * Esse conccito € uniizado, neste livro, tal como foi utilizado por Brasil Pinheiro MACHADO em seus diversos escritos, e de acordo com a contribuigia de TONNIIS, no inicio do século, "BLOCH, Mare. Intrdapie d bintina, [Lisboa:] Europa-Américn, 1965. Paranda: do Territério, e 1.1 POR QUE OS HOMENS MIGRAM? Para nds, as migragdes esto, em geral, ligadas a fatos criados pela sidia, Todo o dia ouvimos ¢ lemos a respeito da miséria ¢ da violéncia nas grandes cidades € os problemas no campo. Engajados ma preocupagio ‘em compreender a associagio destes fendmenos, gedgrafos, socidlogos cc demégrafos, em especial, tém se debrugado na pesquisa, publicagio defesa de tescs a respeito.'’ Aprofundamo-nos um pouco no tempo quando estudamos, antropolégica ¢ sociologicamente, os nordestinos em Brasilia ou Sio Paulo, ou os “gatichos” no sudoeste do Parand. No miximo, nesse viés, chegamos a 1940, ano em que comecam os bons censos no pais, datagdo para quem quer fazer andlises demogrificas com ‘base em informagdes confiiveis sobre a populagao brasileira, Do Sudeste para o Sul, sobretudo, também associamos ao tema a imigragio de estrangeiros, tal a influéncia cultural ¢ populacional desses elementos nestas regides. Costumamos mesmo distinguir muigragao (interna) da émigragao (internacional), como se este fosse um cnténo bisico na classificagio dos deslocamentos populacionais. Esquecemo-nos, assim, que as migragGes sio fenmenos socials — ¢, por que nao? — eminentemente histéricos. Esquecemo-nos, também, que o ato de migrar esti associado a0 nosso cotidiano, a procura de algo melhor, sempre mais adiante. Pensando nos largos tragos que caractcrizam nossa historia do Brasil nestes dltimes 500 anos, este “algo melhor” esteve associado a busca de riquezas, metais ¢ pedras preciosas, ¢ de indios para prear no sertio; 4 procura de pastos suficientes ¢ superiores para engordar ¢ ampliar a cria¢io; @ extragio da borracha nos seringais da Amazénia; 4 busca de terras férteis © apropriadas para o plantio da cana-de-agdcar, do café ¢ de outeos produtos. De modo igual, para milhares de homens que foram os sujeitos de nossa histéria, 4 procura de um algo melhor associado & poste, reivindicagio ou aquisigio de terras — deslocamentos esses que, em iiltima anilise, construiram as nossas fronteiras e fizeram erescer nossas cidades. Pose, de mancira igual, de homens, escravos que “migravam” junto com scus senhores na conquista de uma regifio. 2 Todo o livro, este item em particular, € wiburisio das idéias que bascaram um texto “paradiditico” claborado anteriormente, cm oe com Maria Luiza ANDREAZZA , intinulado: “Danigranies mo Beasil: colsies « feroadsers™, 20000, 1 Ver, por exemplo, a Disscrragio de Mestrado de Marisa Valle MAGALWAES, 1996. 9 Coleciio Hiatéria do Parana Enfim, agio de migrar articulado 4 cata da riqueza facil, ou nipida; do triunfo, Portanto, da busca da aventura, c, ou, 4 procura de uma @ veneer", ou seja, a procura da riqueza obtida pelo erabalha.'4 O ato de migrar também se articula, muitas vezes, a0 ato politico c econémico do dominio, da inwasdo, por vezes da conguista; ¢, de modo igual, da predagem . Ou, a busca do risco, do perigo, do inusitado, em suma, do conhecimento — embora, nesses casos, talvez estcjamos saindo da csfera da migrago stride sensu, para entrar simplesmente no ato dos deslocamentos humanos enquanto viagens, peregrinagdes, ou vagabundagem.|* Nessa introducgao 4 Histéria do Parana, considera-se que o$ termos ocupagdo traduxem povoamento, ¢ cste implica uma forma de conquista do terrinério. Um territério que nao cra “virgem” ¢, ou, “vazio" do ponto de vista demografico — outra questio que merece ser consagrada nestas primciras linhas do texto, Na realidade, conquista, desbravamento, pianeirismo — ¢ o conseqiente Aerofsmo de 4 Hotanpa, 196319, \8 Destaco o “sentide” tomado por individuos ou parcelas populacionais errantes, A dificuldade de determinar tipologias migratérias é que se, de um lado ¢ num sentido bem estrito, migrar implica a mudanca da “residéncia", na fronteira do fendmena, podemos : : capitulos englobados como Mocimento de popalaéer, BEAUIEL-GARNIER, 1971. Grifo um trecho da introducio deta pane do livro: "Censideraremas em primeira lagar a migrayie de grande distimais ox imiernaciamal, em vepamdle at mencisnemton ome exisils menor, dentro das paives individualmrente comsidenadss ¢, emt terceiro, st smigrapies exilstinias que abrangem todas as morimentas mes quit 0 anigrante nde abandons 0 lugar de residéveciat, a tle retemancda pertedicamenie™ (ibid, 200). De qualquer forma, saliento a dificuldade de qualquer clssificagio, no limite de uma penspectiva histéries, quando cada migragio adguire uma especificidade dnica ¢ original, f. necessirio ainda grifar que, quanto mais nos trinportamos pant o passado, mais 0 conceito tradicionalmente cntendido como migragdo toma-se anacrdmico. Assim So ee ene Moderna podem ser incritos no fendmeno; entretanto, estes dedocamentos, sabemos, tim um sentido muito especial. Da mesma forma, 0 anfffico de excravas — em especial, pela importincia social ¢ demogrifica — dos africanos. Porque, no final das contas, incluir os "destocamentos forgados” de populagies cativas como “migragdcs” é, no minime, extremamente injusto pata com o1 objetos deste trifico, porque tende a escamotear ¢ a “dourar” o sofrimento coletive de milhdes de individuos que alimentaram tal comércio na Idade Moderna € inicio do Idade Contemporinea, no Ocidente. 10 Parand: do Territério, ® certos personagens de nossa historia — que tem muito mais a ver com a colonizagdo c com a historia que justifica ¢ legitima esse processo.!¢ A colonizagao fazia-se por meio de migragdcs — clas teriam sido “espontaneas”, “dirigidas” ¢, ou, “plancjadas”. Em ultima instincia, sob o olhar interessciro da metrépole portuguesa ¢, mais tarde, do novo Estado brasileiro. Nunca é demais frisar, em detrimento dos antigos habitantes da regio € seus deseendentes. + Nessa mesma linha, os termos smigragdo ¢ migragdes reterem-se igualmente ao processo de conquista ¢ ocupagio/povoamento do. territério por uma determinada populacio “branca","” isto é, constituida no ambito de uma civilizagdo colonial, luso-brasileira. Colonizagio que significou, no seu desfecho, a posse de um territério pela delimitagao das frontciras do império portugués ¢ do Brasil Ou seja, ocupagio que se revelou em anos de rivalidades, tendo em vista as ambicgées metropolitanas espanholas , depois, os interesses dos movas Estados que se formaram no proceso de independigapdo no século XIX. De mancira que, incluida nesse processo mais amplo, a historia do Parand, cm particular, no pode ser construida scm uma certa visio do ambiente demarcado pela historia do Brasil Meridional; c¢, numa Perspectiva mais dilatada, do come-sw/americano. © Icitor certamente notari que o texto deste livro foi tratado de mancira a mostrar as possiveis articulagdes de nossa histéria com a “historia moderna e¢ contemporinca” do Mundo Ocidental. Tal Preocupagio levou-me a fregiientes analogias c, de certa forma, 4 ampliagiio do cendrio em que nossos atores se moviam. Dal porque insist. ma demarcacio de um dos cixos deste trabalho, que se refere a historia da formagio dos impérios, da colonizagao ¢ das colonizagSes no Ocidente, bem como a marca dessa historia na historiografia, Finalmente, gostaria de ressaltar que, no processo dos deslocamentos populacionais, muitas vezes os homens espalharam a miséria, a morte, a doenga ¢ o édio, Mas, também, plantaram cidades ¢ verdadeciros “sistemas 8 Sobre a histéia que justifica ¢ legitima, ver FERRO, Mare, 1989. °° © ggifo refere-se ao fato de que a “cor da pele”, na tociedade colonial brasileira, articuilava a ampla gama de seqiclas de ums condicle social com

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