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185 A FORMACAO DO ESTADO NACIONAL BRASILEIRO Mauritio Rompatto' RESUMO, Opresente artigo versa uma discussiia sobre a formagio do Estado brasileiro, desde o perfodo em que se processou a independéncia do pats, isto é desde 0 contexto da vinda da familia real portuguesa (1808) estruturagdo do poder no segundo império (1840- 1889).Além da presenga do Estado portugués no Rio de Janeiro, de 1808 a 1821, outras questdes hist6ricas relativamente ligadas a formagdo do Estado Nacional, devem set analisadas, sdo elas a abertura dos portos (1808), a Revolugao Liberal do Porto (1820), a primeira Assembléia Nacional Constituinte (1823), a Constituigio outorgada ou imposta em 1824, a crise do primeiro reinado, a abdicagio de D. Pedro (1831), os governos. regenciais, a maioridade de D. Pedro II (1840), bem como a importincia do poder moderador para a centralizagio politico-administrativa no segundo reinado. Ainda que a anilise na integra dessas questdes esteja impossibilitada, devido aos limites impostos pela cestruturagZo de um artigo, elas devem ser mencionadas enquanto subsidios para a anise do que foi o processo de formagio do Estado Nacional. PALAVRAS CHAVES: Absolutismo, Brasil, Col6nia, Conservador, Imperialismo, Inglaterra, Liberalismo, Moderado, Escravidao, Portugal. ABSTRACT ‘The present article turns about the formation of the Brazilian State, from the period in that the independence ‘of the country was processed, that is, from the context of the coming of the Portuguese royas family(1808) to the structuring of the power inthe second empire ( 1840- 1889). Besides the presence of the Portuguese State in Rio de Janeiro, from 1808 0 1821, other historical subjects relative to the formation ofthe National State, should be analyzed: they are the opening of the ports(1808), the Liberal Revolution of the Porto(1820) the first National Assembly Consituent(1823), the granted Constituition cor imposed in 1824, the crisis of the first reign the D, Pedros's abdication(1831), the regency governments, the majority of D. Pedro II (1840), as well as the power ‘moderator’s importance forthe politieize-administative centralization inthe second reign. Although the analysis inthe entire of those subjects is unable, due to the limits taxes for the structuring of an article, they should be ‘motioned while subsidies for the analysis than it was process of formation of the National State. KEY-WORDS: Absolutism, Brazil, Colony, Conservative, Imperialism, England, Liberalism, Moderate, Slavery, Portugal INTRODUCAO AA parir de 1808, com a vinda da familia real portuguesa a0 Brasil, uma manobra da hibil politica inglesa para afastar Portugal das pretensies Brasil e Portugal formam um tnico pais, ‘guais na relagdo com outras nagées. Nao cexistia ainda aqui um sentimento de pertencimento & nado brasileira, mas a um Portugal transatlintico, umbilicalmente ligado € dependente dos interesses ingleses. Exemplo disso foram 0s tratados de comércio © navegagao, assinados em 1810, entre Portugal ¢ Inglaterra. Nesse tratado, entre outras coisas, foi estabelecido que a Inglaterra respeitando odieito natural dos povos (brasileiros e portugueses) e de seus govemantes garantiria 0 trono a familia de Braganca fem troca dessa abrir os portos da col6nia ao coméreio briténico com uma taxa alfandegstia baixa em relagio a0 coméreio efetuado com outras nagées. As cléusulas dos tratados mantinham a taxa de 15% para os géneros ingleses, estabelecia 16% para os produtos portugueses © 24% para os de outras nages. Portugal pagava mais do que a Inglaterra para comerciar com sua propria colbnia Os defensores do tratado salientavam que ele tinha um cariter de “reciprocidade”, dando-se também certas vantagens a Portugal no comércio com a Gri- Bretanha. Na realidade essa reciprocidade era, como diz Simonsen, “inteiramente aparente”, segundo ele “melhor aparelhada que a esquadra portuguesa, nio poderia esta enfrentar a concorréncia da marinha britinica”.'”Ademais, o tratado garantia presenga da marinha de guerra britanica nos portos brasileiros, "Prof: Do Curso de Histéria da UNIPAR - Universidade Paranaense Akrépolis, Umuarama, v9, 4, out/de2., 2001 (86 revelando o grau de dependéncia nao s6 econdmica, mas também politica em relagio a Inglaterra, Mais uma vez a soberania nacional era deixada de lado. ‘8 politica liberal tinha seus limites, se até a abertura dos portos era proibida qualquer manufatura na colénia, a partir dessa data estava revogada tal proibigao, Muito bom para os pougus manufatureiros brasileiros (Fabricantes de géneros {grosseiros) se no fosse a avalanche de mercadorias inglesas nos portos brasileiros, de menor prego e de melhor qualidade. A concorréncia assim “desleal” tomava impossivel instalar aqui a indistria nacional e afastar de ver a dependéncia econdmica do pats Essa foi a tnica da politica nacional mesmo depois de 1822, quando da independéncia politico- administrativa em relagio a Portugal. A Inglaterra continuou dando as cartas nas questdes econémicas até mesmo depois da proclamagao de Reptiblica, em 1889. Apesar de ter experimentado a descentralizagao politico administrativa, a RepGblica Velha mantinha o pais nas ‘mesmas condigdes anteriores, a de pais agro-exportador ‘edependente do capital internacional 1A Dificil Separagao ‘A ocupagio francesa e a guerra que se seguit a cla para a expulsio dos invasores deixou Portugal ‘economicamente arrasado: seus campos devastados & abandonados, diminuindo drasticamente sua producio agricola; a indtstria estagnada; 0 comércio e os portos paralisados. A abertura dos portos brasileiros atingiu diretamente a burguesia mercanti de Portugal, até entio garantida pelos privilégios de exclusividade que desfrutava no comércio entre a metrépole e a col6nia. Diferentemente da burguesia de outros pafses, a burguesia mercantil de Portugal nao tinha Forgas para dirigirum movimento revoluciondio liberal (© processo contra-revolucionério foi deflagrado logo apés a derrota de Napoledo, quando os pafses que compunham a Santa Alianga (Inglaterra, Ressia, Prisia Austria) reuniram seus representantes no Congresso de Viena, em 1815 para, entre outras coisas, decidir 0 restabelecimento das monarquias destitufdas por Napoledo Bonaparte, sobretudo Franga, Espanha ¢ Portugal. Em Portugal a restauragdo monirquica levantou opinides favordveis e também contrérias. Em vez da burguesia, foi a classe média, profissionais liberais © intelectuais, quem primeiro se levantaram contra esse estado de coisas, Somente em 1820, cinco anos depois do restabelecimento de um governo portugués é que sua burguesia com claros interesses monopolistas recolonizador vai se manifestar contra a demasiada demora de D. Jodo VI, em retornar do Brasil. Essa ‘manifestagao fez eclodir naquele ano a Revolugdo Liberal do Porto, Esta Revolugio se manifestou contraditéria a0, seu contetido liberal por revelar seu cardter recolonialista, Com a monarquia, a burguesia portuguesa esperava reconquistara exclusividade do comércio coma colonia, cexclusividade perdida em 1808, quando da abertura dos portos. Chegou a tramitar em uma comissdo especial das Cortes (do Parlamento portugués) um projeto radicalmente recolonizador do comércio, Em seu artigo 1.” estabelecia que “E permitido unicamente a navios de construgio portuguesa, fazer 0 comércio de porto a porto em todas as possessdes portuguesas”.’ O decreto também estipulava que o Brasil havia de consumit vinho vinagre exclusivamente do reino luso ¢ aumentavam as taxas de importagio de géneros que nio fossem portugueses. Apesar de nao ter tido tempo de ser aplicado ao Brasil o decreto de 16 de julho de 1821 servi para inflamar a participago dos parlamentares brasileios| aquela Assembléia, Cipriano Barata, 0 mais radical deles, fazia discursos extremamente irdnicos © inflamados; Hipélito José da Costa foi exilado na Inglaterra, A questio fuleral nao era ainda a separagio de Brasil e Portugal, para os brasileitos a maior preocupagio naquele dado momento era manter 9 reino tnido e comele o livre cambio. Para que o livre comércio fosse mantido seria necessério estabelecer um contrato entre Brasil e Portugal que assegurasse a uniao transatlantica das duas nagdes. O que somente uma representagio mondrquica parlamentar no reino poderia, assegurar. ‘As cortes de 1820 colocaram o problema da manutencao do império e rediscutiram as formas de integra-lo a partir da nocao da soberania moderna, com divisdo dos poderes, A fim de concretizar este redirecionamento no império, solicitaram, acolheram € — encaminharam as representagdes de deputados vindos das colénias, buscando repensar as redes de poder entre Brasil e Portugal ¢ 0 exercicio da legitimidade. Por isso, as Cortes converteram-se num forum privilegiado dos debates e decisaes a respeito dos elos entre ‘SIMONSEN, Roberto C. Historia Beondmica do Brasil - 1500/1820. Sio Paulo: Cia El. Nacional, p. 245. it, por Azevedo, J. Soares, Revolugiio portuguesa em 1820. Lisboa, 1944, . 152. AkrSpolis, Umuarama, v9, n°.4, out/dez.,2001 187 Brasil e Portugal, funcionando também como um aprendizado politico para a deputagao. A grande missdo das Cortes residia em nomear e estabelecer um contrato entre os homens liberais do império luso-brasileiro, € af resplandecia a nogao de contrato social.’ © pensamento ilustrado considerava direito natural dos povos e das gentes a monarquia cconstitucional como representagao politica, um direito ‘que, ao substituit 0 direito divino do rei absoluto pelo principio da soberania do povo, ndo anulava a presenga

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