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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA _ VARA FEDERAL

CÍVEL DE BRASÍLIA – SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

ALESSANDRO VIEIRA, brasileiro, casado, Senador da República, RG 811924 SSP/SE,


CPF 719.437.905-82, título de eleitor 018291022135, com endereço profissional na Praça dos
Três Poderes, Palácio do Congresso Nacional, Senado Federal, Anexo 2, Ala Afonso Arinos,
Gabinete 08, endereço eletrônico sen.alessandrovieira@senado.leg.br, TABATA CLAUDIA
AMARAL DE PONTES, brasileira, solteira, Deputada Federal, RG nº 43.866.416-4, CPF
388.483.198-40 título de eleitor 392700900159, com endereço profissional no Anexo IV da
Câmara dos Deputados, Gabinete 848, FELIPE RIGONI LOPES, brasileiro, solteiro,
Deputado Federal, RG nº 20.383.639, CPF 128.381.827-22, título de eleitor 031949681414,
com endereço profissional no Anexo IV da Câmara dos Deputados, Gabinete 846, RENAN
FERREIRINHA CARNEIRO, brasileiro, solteiro, Deputado Estadual na Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) (Doc. 03), RG 20762460-2 DETRAN RJ,
inscrito no CPF sob o nº 136.989.257-88, com domicílio profissional na Rua Dom Manuel,
s/nº, prédio anexo da ALERJ, gabinete 309, Centro, Rio de Janeiro/RJ, CEP: 20010-090,
endereço eletrônico renanferreirinha@alerj.rj.gov.br, JOSÉ FREDERICO LYRA NETTO,
brasileiro, solteiro, engenheiro, RG 4603678, CPF 330857158 78, título de eleitor
32202359019, com endereço em Rua 20, 81, apto 1302, Centro, Goiânia, GO, CEP 74020170,
vêm, respeitosamente perante Vossa Excelência, por seu advogado subscritor, com fundamento
nos artigos 1º, § 1º e 2º, parágrafo único e alíneas “a”, “c” e “e” da Lei nº 4.717/1965, propor
a presente

AÇÃO POPULAR
com pedido de liminar
em desfavor da UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, representada em juízo pela
Advocacia Geral da União, com sede em Setor de Autarquias Sul, Quadra 3, Lotes 5 e 6, Ed.
Multi Brasil Corporate, Brasília, DF, CEP 70070-030, na qualidade de pessoa jurídica em nome
da qual foi praticado o ato impugnado e de HÉLIO ANGOTTI NETO, Secretário de Ciência,
Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, com endereço
no Bloco G, Esplanada dos Ministérios, Brasília/DF, CEP 70058-900, na qualidade de
autoridade praticante do ato impugnado, com base nas razões de fato e de direito a seguir
aduzidas.

PRELIMINARMENTE

A) DA LEGITIMIDADE ATIVA

O art. 5º, inciso LXXIII da Constituição Federal, confere ao cidadão a prerrogativa de


ajuizar uma ação popular para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos
ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades
autárquicas, de sociedades de economia mista, de sociedades mútuas de seguro nas quais a
União represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos,
de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o Tesouro Público haja concorrido ou
concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas
incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de
quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.

Convém sublinhar desde já que recente decisão da Justiça Federal da Subseção


Judiciária de Niterói/RJ, por meio da qual foi liminarmente suspensa a nomeação e posse
da então Deputada Federal Cristiane Brasil Francisco para o cargo de Ministra do Estado
de Trabalho, em razão da prática de atos incompatíveis com a moralidade do cargo, foi
confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (0000132- 35.2018.4.02.0000),
criando-se importante precedente para o controle popular da nomeação, investidura e
exercício do cargo de Ministro de Estado, por intermédio da ação prevista na Lei 4717/65.

Ora, se a decisão proferida cuidava de Ministro de Estado, quanto mais não pode
tratar de secretário de uma das Pastas do Executivo Federal.
Para tal, o § 3º do art. 1º da Lei 4.717/65 exige a prova de que os autores populares
gozam da qualidade de cidadãos, que é feita por meio da apresentação dos respectivos títulos
eleitorais, ora juntados por meio desta exordial.

B) DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A Lei da Ação Popular, no caput de seu art. 6º, determina a inclusão no polo passivo
tanto das pessoas jurídicas de direito público em nome das quais foi realizado o ato a ser
impugnado, bem como das autoridades, funcionários ou administradores que tiverem
autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem
dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.

Seguindo o preciso comando do diploma legal, elencam-se no polo passivo a União e


o Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério
da Saúde, autoridade praticante do ato ora impugnado.

C) DA COMPETÊNCIA

Dispõe o art. 5º da Lei 4.717/65 que “conforme a origem do ato impugnado, é


competente para conhecer da ação, processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo com a
organização judiciária de cada Estado, o for para as causas que interessem à União, ao Distrito
Federal, ao Estado ou ao Município.”

No presente caso, como o ato lesivo praticado pelo Secretário de Ciência, Tecnologia,
Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde foi realizado no âmbito da
União, não restam dúvidas de que a competência para apreciar a presente demanda deve ser
atribuída à Justiça Federal, nesta Capital Federal.

1. DOS FATOS

No dia 20 de janeiro do corrente ano, o Sr. Hélio Angotti Neto, Secretário de Ciência,
Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, assinou a Nota
Técnica n. 2/2022-SCTIE/MS (“Fundamentação e decisão acerca das diretrizes terapêuticas
para o tratamento farmacológico da Covid-19 (hospitalar e ambulatorial).
Em referido documento, o ora requerido afirmou, em linhas gerais, que as vacinas
utilizadas contra a Covid-19 não têm efetividade e segurança demonstradas, ao contrário da
hidroxicloroquina, em total dissonância do que vêm defendendo a comunidade científica
internacional e as mais respeitadas autoridades sanitárias.

Através da Nota Técnica, o Sr. Angotti rejeita o protocolo aprovado pela Comissão
Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), o qual não
recomenda o emprego do Kit Covid para o tratamento de pacientes em regime ambulatorial.

Afirma o documento, a respeito das vacinas, que são amparadas em “dezoito ensaios
não finalizados, dos quais, oito ainda em fase de recrutamento, nove ainda não finalizaram o
seguimento e um finalizado, mas ainda em fase insuficiente para a avaliação de segurança”, ao
passo que a hidroxicloroquina vem de “treze estudos controlados e randomizados com direções
de efeito favoráveis à hidroxicloroquina, com efeito médio de redução de risco relativo de 26%
nas hospitalizações, altamente promissor para o uso discricionário e prosseguimento dos
estudos.”

Nesse sentido, confira-se o inteiro teor de tabela apresentada no seio da Nota Técnica:
Como se pode ver, a tabela acima reproduzida indica que a hidroxicloroquina é barata,
não tem estudos predominantemente financiados pela indústria, mas não é recomendada por
sociedades médicas. Por outro lado, a vacina é cara, tem estudos financiadas pela indústria e é
recomendada pelas aludidas sociedades.

Trata-se de evidente mentira com intuito de reforçar distorções já levantadas pelo


Presidente da República no sentido de que há interesses escusos na aprovação das vacinas.

Aponta-se ainda que não há demonstração de efetividade da vacina "em estudos


controlados e randomizados" nem de segurança "em estudos experimentais e observacionais
adequados", acrescentando que outros tratamentos contra a Covid não têm resultado, como
manobra de prona e ventilação não invasiva. Na tabela, a pasta diz que anticorpos monoclonais
funcionam.

O Secretário também questiona, na nota da Saúde, a metodologia utilizada pelos


especialistas, o rigor técnico dos estudos e até mesmo possíveis conflitos de interesse do grupo,
tendo rejeitado três capítulos da diretriz hospitalar da Covid, todos aprovados por unanimidade
na Conitec. Além disso, arquivou o texto sobre tratamento ambulatorial, aprovado por sete a
seis no mesmo colegiado.

Em um momento delicado em que a pandemia continua a produzir efeitos ainda


preocupantes, especialmente com a expansiva difusão da variante Ômicron, não se pode
admitir que uma autoridade como a ora representada permaneça em seu cargo em prejuízo
inegável do interesse público e da saúde da população.

2. DO DIREITO

2.1 DA LESÃO À MORALIDADE ADMINISTRATIVA

Há tempos que a doutrina pátria vem se debruçando sobre o conceito de moralidade


administrativa. Manoel de Oliveira Franco Sobrinho nos ensina que “não cabe à Administração
fazer o que quer, livre da tutela legal ou liberta do controle jurisdicional, indiferente a princípios
condicionantes”1, uma vez que essas motivações não encontram sustentação no interesse
público.

Vê-se, dessa maneira, uma inequívoca relação entre a moralidade e a consecução dos
fins de interesse público. O conceito de moralidade administrativa ainda é vinculado por
consagrados autores como Hely Lopes Meirelles ao conceito de “bom administrador”,
considerando-se que “ao ato legal deve juntar o honesto e o conveniente aos interesses gerais”2

A Constituição Federal não só menciona a moralidade como um dos princípios da


Administração Pública no caput de seu art. 37, como também oferece instrumentos para reparar
os prejuízos causados pela sua inobservância.

Tamanha é a importância que a moralidade possui para o nosso ordenamento que


através de um desses instrumentos, a ação popular, qualquer cidadão pode exercer o controle
de legalidade dos atos administrativos com o intuito de evitar ou reparar, entre outras, a lesão
à moralidade administrativa.

Outra previsão que reitera o caráter essencial da moralidade para o nosso sistema
jurídico e para o funcionamento da máquina pública trazida pela nossa Carta Constitucional é
a sanção a agentes públicos que incorrerem em condutas de improbidade administrativa.

Recorda-nos Odete Medauar que a probidade é uma decorrência do princípio da


moralidade administrativa, de modo que atentar contra os princípios da Administração Pública
constitui, inclusive, ato de improbidade administrativa, como estabelecido pelo artigo 11º da
Lei 8.429/92.

E segundo um dos maiores administrativistas do país, o Professor José dos Santos


Carvalho Filho, “o princípio da moralidade impõe que o administrador público não dispense
os preceitos éticos que devem estar presentes em sua conduta.”3

Também Maria Sylvia Zanella di Pietro4 apresenta lições de grande valia:

“Hoje a idéia se reforça pela norma do artigo 37, caput, da


Constituição, que inclui a Moralidade como um dos princípios a que a

1 SOBRINHO, Manoel de Oliveira Franco. O princípio constitucional da moralidade administrativa. 2. ed.


Curitiba: Genesis, 1993, p. 23.
2 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, pp. 79-80.
3 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 24. ed. Rio de Janeiro: Lumen

Juris, 2011, p. 19.


4 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2002, p. 124.
Administração Pública está sujeita. Tornar-se-ia letra morta o
dispositivo se a prática de ato imoral não gerasse a nulidade do ato da
Administração. Além disso, o próprio dispositivo concernente à Ação
Popular permite concluir que a imoralidade se constitui em fundamento
autônomo para a propositura da Ação Popular, independentemente da
demonstração de ilegalidade, ao permitir que ela tenha por objeto
anular ato lesivo à Moralidade Administrativa.”

Nesse contexto, não se pode permitir que continue ocupando o cargo de Secretário de
Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde,
cidadão que, na contramão de toda a comunidade científica internacional, vem colocando em
dúvida a eficácia da vacina contra a Covid-19 e exaltando a hidroxicloroquina, droga
reputadamente ineficaz para o seu tratamento.

Por essa razão, com base no já mencionado precedente que impediu a nomeação da Sra.
Cristiane Brasil para o cargo de Ministra do Trabalho, vale-se da presente ação popular para
requerer a imediata suspensão do Sr. Angotti de suas funções, com a posterior exoneração em
caráter definitivo.

3. DA NECESSÁRIA CONCESSÃO DA MEDIDA LIMINAR

Nos termos do § 4º do art. 5º da Lei 4.717/65, na defesa do patrimônio público, cabe a


suspensão liminar do ato lesivo que é impugnado.

Também com base no quanto decidido nos autos n. 0000132- 35.2018.4.02.000,


passou-se a vislumbrar a ação popular como ferramenta de controle da nomeação,
investidura e exercício de cargos no Poder Executivo.

Esse contexto, presentes os requisitos para concessão da medida liminar, autoriza a


pronta e imediata suspensão do Sr. Angotti da Secretaria que atualmente ocupa no Ministério
da Saúde.

Por um lado, verifica-se o fumus boni iuris diante da comprovação de que os termos da
Nota Técnica por ele firmada são inequivocamente falsos, ante a notória eficácia das vacinas
utilizadas contra a Covid-19 e a ampla rejeição científica da hidroxicloroquina para o mesmo
tratamento.
O periculum in mora se evidencia pelo grave prejuízo a ser suportado pela saúde pública
caso o Sr. Angotti permaneça na Secretaria promovendo políticas públicas negacionistas e
absolutamente contrárias ao que defendem as autoridades sanitárias e científicas mundiais.

Diante desses elementos, pugna-se pela concessão de medida liminar para suspensão
imediata do Sr. Hélio Angotti Neto do cargo de Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e
Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde.

4. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer-se:

a) a concessão de liminar, sem oitiva da parte contrária, para que seja


imediatamente suspenso do cargo de Secretário de Ciência, Tecnologia,
Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, o Sr. Hélio
Angotti Neto;

b) o julgamento de procedência da presente demanda para que, ao final,


confirmando-se a liminar, seja definitivamente exonerado o Sr. Hélio Angotti
Neto;
c) seja citada a parte contrária para que, querendo, apresente contestação no prazo
legal, sob pena de aplicação dos efeitos da revelia;
d) a intimação do Parquet federal para que, em respeito ao art. 6º, § 4º da Lei
4.717/65, acompanhe a ação;
e) a condenação da parte demandada a arcar com custas, despesas judiciais e
extrajudiciais, bem como com honorários advocatícios, nos termos do art. 12 da
Lei da Ação Popular;

Protesta-se pela produção de todas as provas em direito admitidas.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 para fins de alçada.

Nesses termos, pedem deferimento.


Brasília, 24 de janeiro de 2022.

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