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AÇÃO POPULAR
com pedido de liminar
em desfavor da UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, representada em juízo pela
Advocacia Geral da União, com sede em Setor de Autarquias Sul, Quadra 3, Lotes 5 e 6, Ed.
Multi Brasil Corporate, Brasília, DF, CEP 70070-030, na qualidade de pessoa jurídica em nome
da qual foi praticado o ato impugnado e de HÉLIO ANGOTTI NETO, Secretário de Ciência,
Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, com endereço
no Bloco G, Esplanada dos Ministérios, Brasília/DF, CEP 70058-900, na qualidade de
autoridade praticante do ato impugnado, com base nas razões de fato e de direito a seguir
aduzidas.
PRELIMINARMENTE
A) DA LEGITIMIDADE ATIVA
Ora, se a decisão proferida cuidava de Ministro de Estado, quanto mais não pode
tratar de secretário de uma das Pastas do Executivo Federal.
Para tal, o § 3º do art. 1º da Lei 4.717/65 exige a prova de que os autores populares
gozam da qualidade de cidadãos, que é feita por meio da apresentação dos respectivos títulos
eleitorais, ora juntados por meio desta exordial.
B) DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A Lei da Ação Popular, no caput de seu art. 6º, determina a inclusão no polo passivo
tanto das pessoas jurídicas de direito público em nome das quais foi realizado o ato a ser
impugnado, bem como das autoridades, funcionários ou administradores que tiverem
autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem
dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.
C) DA COMPETÊNCIA
No presente caso, como o ato lesivo praticado pelo Secretário de Ciência, Tecnologia,
Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde foi realizado no âmbito da
União, não restam dúvidas de que a competência para apreciar a presente demanda deve ser
atribuída à Justiça Federal, nesta Capital Federal.
1. DOS FATOS
No dia 20 de janeiro do corrente ano, o Sr. Hélio Angotti Neto, Secretário de Ciência,
Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, assinou a Nota
Técnica n. 2/2022-SCTIE/MS (“Fundamentação e decisão acerca das diretrizes terapêuticas
para o tratamento farmacológico da Covid-19 (hospitalar e ambulatorial).
Em referido documento, o ora requerido afirmou, em linhas gerais, que as vacinas
utilizadas contra a Covid-19 não têm efetividade e segurança demonstradas, ao contrário da
hidroxicloroquina, em total dissonância do que vêm defendendo a comunidade científica
internacional e as mais respeitadas autoridades sanitárias.
Através da Nota Técnica, o Sr. Angotti rejeita o protocolo aprovado pela Comissão
Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), o qual não
recomenda o emprego do Kit Covid para o tratamento de pacientes em regime ambulatorial.
Afirma o documento, a respeito das vacinas, que são amparadas em “dezoito ensaios
não finalizados, dos quais, oito ainda em fase de recrutamento, nove ainda não finalizaram o
seguimento e um finalizado, mas ainda em fase insuficiente para a avaliação de segurança”, ao
passo que a hidroxicloroquina vem de “treze estudos controlados e randomizados com direções
de efeito favoráveis à hidroxicloroquina, com efeito médio de redução de risco relativo de 26%
nas hospitalizações, altamente promissor para o uso discricionário e prosseguimento dos
estudos.”
Nesse sentido, confira-se o inteiro teor de tabela apresentada no seio da Nota Técnica:
Como se pode ver, a tabela acima reproduzida indica que a hidroxicloroquina é barata,
não tem estudos predominantemente financiados pela indústria, mas não é recomendada por
sociedades médicas. Por outro lado, a vacina é cara, tem estudos financiadas pela indústria e é
recomendada pelas aludidas sociedades.
2. DO DIREITO
Vê-se, dessa maneira, uma inequívoca relação entre a moralidade e a consecução dos
fins de interesse público. O conceito de moralidade administrativa ainda é vinculado por
consagrados autores como Hely Lopes Meirelles ao conceito de “bom administrador”,
considerando-se que “ao ato legal deve juntar o honesto e o conveniente aos interesses gerais”2
Outra previsão que reitera o caráter essencial da moralidade para o nosso sistema
jurídico e para o funcionamento da máquina pública trazida pela nossa Carta Constitucional é
a sanção a agentes públicos que incorrerem em condutas de improbidade administrativa.
Nesse contexto, não se pode permitir que continue ocupando o cargo de Secretário de
Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde,
cidadão que, na contramão de toda a comunidade científica internacional, vem colocando em
dúvida a eficácia da vacina contra a Covid-19 e exaltando a hidroxicloroquina, droga
reputadamente ineficaz para o seu tratamento.
Por essa razão, com base no já mencionado precedente que impediu a nomeação da Sra.
Cristiane Brasil para o cargo de Ministra do Trabalho, vale-se da presente ação popular para
requerer a imediata suspensão do Sr. Angotti de suas funções, com a posterior exoneração em
caráter definitivo.
Por um lado, verifica-se o fumus boni iuris diante da comprovação de que os termos da
Nota Técnica por ele firmada são inequivocamente falsos, ante a notória eficácia das vacinas
utilizadas contra a Covid-19 e a ampla rejeição científica da hidroxicloroquina para o mesmo
tratamento.
O periculum in mora se evidencia pelo grave prejuízo a ser suportado pela saúde pública
caso o Sr. Angotti permaneça na Secretaria promovendo políticas públicas negacionistas e
absolutamente contrárias ao que defendem as autoridades sanitárias e científicas mundiais.
Diante desses elementos, pugna-se pela concessão de medida liminar para suspensão
imediata do Sr. Hélio Angotti Neto do cargo de Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e
Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde.
4. DOS PEDIDOS