You are on page 1of 22
HONORARIOS DE SUCUMBENCIA TRABALHISTA: busca de uma interpretacao conforme a Constituicao OCCUPATIONAL FEES: in search of an interpretation according to the Constitution GUIMARAES, Marcelo Wanderley’ Resumo: A nova legislacdo trabalhista regulamentou a aplicacdo dos honorérios de sucumbéncia na Justica do Trabalho. Como a principal caracteristica do direito do trabalho ¢ a protecéo da parte mais fraca na relacao contratual, isso se reflete no direito processual do trabalho, porque este é apenas instrumento daquele. A nova legislacao nao pode ser interpretada de modo a aplacar o direito fundamental de ado eo ‘acesso a justica nem ofender a dignidade do trabalhador. Palavras-chave: Reforma trabalhista, Processo. Honordrios, Advogado. Direito de acio. Abstract: The new labor legislation has established the payment of attorney's fees to the prevailing party at Labor Court. As the main feature of labor law is to protect the employee in his contract relations with employers, labor procedural law should be similar, because this is just a tool for the first one, Attorney's fees can't be interpreted as a way to ban the right of action or a barrier to access the justice either an offense to the worker's dignity Keywords: Labour reform. Process, Fees. Lawyer. Right of action. 1 INTRODUCAO A Lei n, 13.467/2017 - Reforma Trabalhista -alterou diversos dispositivos da Consolidacao das Leis do Trabalho (CLT), tanto normas de direito material quanto de direito processual do trabalho. A pretensdo das alteracdes ¢ de tal magnitude que até algu- ‘mas das bases principiolégicas do direito do trabalho e mesmo do direito Processual do trabalho podem ser questionadas e precisam ser refletidas. “Advogado. Mestre em Direito pela UFPR_ Pés.Graduado em Direto Empresariel © Dircito Processual Civil. Professor de. Direlto do Trabalho, Direito Previdenciério e Pratca Juridica Trabalhista no Centro Universitario Dom Bosca - UNIDBSCO. Revista do Tibunal Regional do Trabalho de 15* Region. 52, 2018 Para dar dois exemplos, basta citar 0 principio da norma mais favorével (art. 620 da CLT) eo principio da gratuidade do acesso a Justica do Tra- balho (art. 789, § 1°, ¢ art, 844, §§ 2° e 3%, da CLT), ambos integrantes de uma tede de protecdo do trabalhador nas relacdes material e processual trabalhista, que a nova lei pretendeu relativizar. Desde a sua origem, a CLT contempla o jus postulandi das artes, isto 6, 0 direito de as partes postularem em jutzo pesscalmente, sema necessidade de representacao ou assisténcia por advogado. A regra est4 prevista no art. 791 - que permaneceu inalterada pela Reforma - é tra- dicionalmente reconhecida como uma caracterfstica propria do processo do trabalho, que se insere na l6gica da facilidade de acesso a Justica do Trabalho. O trabalhador, independente de despesas com advogado ou pagamento de custas processuais, teria ao seu dispor um proceso sim- ples, informal e gratuito, por meio do qual poderia reivindicar direitos trabalhistas eventualmente ndo adimplidos pelo empregador. Com a capacidade postulatéria das partes e sem regulamen- taco espectfica na CLT, a jurisprudéncia trabalhista formou-se e consoli- dou-se negando a aplicacio dos honordrios de sucumbéncia no proceso do trabalho. Essa situacdo foi alterada pela Reforma Trabalhista ao disci plinar expressamente a materia, No entanto, imtimeras davidas surgem a partir dai, como a ossibilidade ou nao de aplicagao da lei aos processos em curso, ajuiza- dos antes da vigéncia da lei, a interpretacao dos dispositivos que determi- nam a aplicacao da sucumbéncia reciproca e o seu montante no caso de condenacao do reclamante, o momento adequado para se determinar a suspensdo da exigibilidade do crédito dos honorarios, entre outras. ‘Com 0 objetivo de contribuir com a interpretaco do tema, este estudo faz um relato do desenvolvimento hist6rico e da consolidacao da jurisprudéncia trabalhista a respeito dos honorarios no processo tra- balho, uma reflexio sobre o atual conceito de acesso a justica, para ent&o propor uma interpretacéo dos novos dispositivos legais e, quic4, buscar uma definicdo especifica e adequada ao processo trabalhista. 2 RELATO HISTORICO DOS HONORARIOS ADVOCATICIOS NA JUSTICA DO TRABALHO A Justica do Trabalho, em sua origem, atuava apenas como 6rgao do Poder Executive destinado a promover a conciliacao entre em- pregados e empregadores, mas desprovida da funcao jurisdicional e do poder de coersao. Wagner Giglio explica que: As Juntas tinham competencia para conhecer e dirimir dissidios individuais relacionados com o trabalho, mas Revista do Tribunal Regional do Tia fo, n.52, 2018, no tinham poderes para executar suas decisdea, 0 que deveria ser feitona Justica Comum. © mesmo autor esclarece que nao havia “independéncia para bem julgar”, pois os “juizes eram demiss(veis ad nulun” e qualquer processo poderia ser subtraido do conhecimento das Juntas pelas cartas “avocatorias“do Ministério do Trabalho, com as quais chamava para si 0 poder decisorio (GIGLIO, 2007, p. 3-4). Somente com o Decreto-Lei n. 9.797/1946 e com a Constitui- gfo de 1946 6 que ce admitiu expressamente, em texto legal, a Justica do Trabalho como integrante do Poder Judiciario. O referido Decreto cuidou de organizar a estrutura da Justica do Trabalho eo ingresso na carreira de Juiz do Trabalho, com a garantia aos Juizes do Trabalho da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos, inerentes e necessé- rias a independéncia do oficio de julgar, monopolizado pelo Estado. ACLT, por sua vez, nao continha regra especifica sobre os ho- norérios de advogado ou mesmo honorérios assistenciais, até porque, de acordo com a sua ldgica muito propria, proporciona que as partes recla- mem pessoalmente desacompanhadas de advogado. Nao se aplicava no processo do trabalho os honorarios de su- ‘cumbéncia, muito menos o principio da sucumbéncia recfproca ou parcial. Sob a égideda Lei n.1.060/1950, que trata da assisténcia judiciéria {gratuita aos necessitados, o TST editou a Sémulla n. 11! - atualmente cancelada = consagrando o direito aos honorarios assistenciais a parte que se enquadrava nos parametros legals, sto é, mediante requerimento dirigido ao juiz compe- {enlee demonstrasse a condizio econémica precéria (art.4”, Lein. 1.060/1950). ‘A situacdo se alterou por forca da Lei n. 5.584/1970, que este- beleceu a assisténcia judiciaria no ambito da Justica do Trabalho prestada “pelo Sindicato da categoria profissional a que pertencer o trabalhador” (art. 14). O que fez.a Lei n. 5584/1970 foi transferir ao monopélio sindical a assisténcia judicidria ampla antes prevista na Lei n. 1.060/1950. A jurisprudéncia trabalhista entio precisou ser teformulada A assist¢ncia judicidria, com direito aos honordrios assistenciais, passa- ria a ser uma prerrogativa do sindicato profissional do trabalhador. Por intermédio da Samula n. 21%, em 1985 o TST consolida o entendimen- to de que os honorarios seriam apenas os assistenciais, isto é devidos ao sindicato, na hipotese de assisténcia judiciaria, como previsto na Lel “assim alspunna a simula n. 13: Honorénos de edvogado. € inaplicavel na Justica do Trabalho 0 Aispostona art. 64 do Cédigo de Processo Civil, sendo os honcrérios de dvogado scmnente devides nos termos do preceituado na Lein. 1.050, de 1950. Disponivel em: . Acesso em: 22 jan. 2018, ‘'i'redago da Simul n. 219, de 19.6 1985, praconizava o segtinte: Honardtlos advacaticos Hipctece do eabimento Nea Jusipa do Tabalhs, 2 condenaglo em honorstios sdvocstieioe, nunca superioresa 19%, ndo decorre pura e simplesmente da sucumbencia, devencoa parte estar assi ‘ida Dor sincicato da categoria profssional e comprovar a percepcic de salérioinlerior 20 dobro inime legal, OU encentrarse em situaclo econémica que nzo the parmita demandar sem prejuizo do proprio sustento ou de respective femfla. Rovieta do Tribunal Regionsl do Trabstho da 152 Regiéo, n. 52,2018, n. 5584/1970, quando presente a condicéo de miserabilidade juridica e assisténcia sindical. O mesmo entendimento veio a ser confirmado pela sdmula n. 329, apés a vigéncia da Constituicdo Federal de 1988" OEstatuto da Advocacia, Lei n. 8.906, de 47.1994, tratou de exigir a participacio dos advogados na esfera trabalhista, na medida em que estabeleceu, em seu art. 1°, 1, que 2 postulagio perante “qualquer” Orgaio do Poder Judiciario seria atividade privativa de advogado. A pre- visio legislativa estava alinhada ao disposto no art. 133 da Constituicao Federal, que preconiza: “o advogado é essencial a administracaio da jus- tiga. Ter-se-ia por revogado 0 jus postulandi e nova reflexio e constru- ao jurisprudencial haveria que se erguer em relacio aos honorérics de sucumbencia no processo do trabalho, quica em fungio da necessidade de atuacao dos advogados particulares na defesa dos seus clientes nos processos trabalhistas. No entanto, o possivel debate jurisprudencial em torno dos honordrios de sucumbéncia foi solapado pelo ajuizamento da ADI 1127 ja em 69.1994, cuja liminar, proferida em 28.9.1994, suspendeu a eficécia do dispositivo no que diz respeito a Justica do Trabalho, Juizados Especiais e Justica de Paz. Prevalecia, assim, em vigor, a capacidade postulatoria das partes no Judiciario Trabalhista. Passados mais de 20 anos, lamenta- velmente, a causa até esta data nao tem deciséo definitiva, mantendo-se suspensa a eficécia do dispositivo'. Nova onda de pleitos de honorérios de advogado nas causes frabalhistas veio com a chegada do Cédigo Civil de 2002. Desta feita, 0 argumento principal repousou na teoria da reparacao integral do dano. Com fundamento no novo Codex, sabretudo nos arts. 389 e 404, passarama sustentar os advogados que a reclamada deveria ser condenada a indenizar oreclamante pelo valor dos honorérios contratados, porquantos6 assim tera sido reparado integralmente do dano reconhecido ao autor da causa. Como se percebe, a tese apoia-se no fato de que parte do dano permanece com 0 teclamante, na medida ena extensdo em que precisar subtrair uma parcela do crédito recebido para pagar as despesas com o advogado contratado. Todavia, mais uma vez o TST manteve firme o entendimento da Samula n, 21% € n. 329, sob 0 fundamento de que os dispositivos do 2WSimulan. 329 teve e sua redecio criginal pubicada pela Res. 21/1993 em data de 21.12.1993 ‘com o seguinte teor: Honorérios advocaticios. Art. 133 da Constituigio ca Reptilia de 1988 Mesmo apés » promulgacSo da Constiticdo da Republica de 1988, permanece vAlco 0 entencl- ‘mento consutstanciado no Enunciado n. 219 do Tribunal Superior da Trabalho. ‘Andamento processua disponivel na pégina do STF: , Acesso em 22 en, 2018, A tedacio da Simula n 219 passou por ataragSes no ano de 2016 (Res. 204/202, de 17.2.2016), ‘mas manteve as exigtrcias anteriores quanto aos honovdrlus assStencas: Honardrios acvocatt- os. Cabimento.I- Na Justia do Trabalho, a condenacao 20 pagamert deharordrios advocaticios ‘io decorre pura esimplesmante da sucumbénia, devendo 2 perts, concomitantererte: a) ester assstda por sindcato da categoria profissional b) comprovar a percepeso de salerio Inferior 80 obro do salrio minimo ou encontrar-se em sltuacSo econémica que nao he perma demandor ‘sem prejulze do préprio sustanta ou ds reepactiva fama, (arid, 6 10, da Lehn, 5.534/1070), Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15# Regio, n, $2, 20:8 Codigo Civil nao se aplicam ao processo do trabalho, haja vista a existén- Cia de legislacao especifica sobre o tema, sobretudo a Lei n. 5.584/ 1970 jé mencionada‘. Com a Emenda Constitucional n. 45/2004, que ampliou a competéncia da Justica do Trabalho e trouxe uma diversidade de lides de natureza nao propriamente trabalhista, no seu sentido estrito, o TST viu-se na circunstancia de revisitar o tema dos honorarios sucumbenciais, entre outras, em razao da chegada de grande volume de processos oriun- dos da Justica Comum. Na ocasizo, o TST editou a Instrucao Normativa n. 27 de 2005 e assim estabeleceu em relagio aos honorsrios: “Art, 5° Exceto nas lides decorrentes da relacgo de emprego, os honorarios advocaticios sio devidos pela mera sucumbéncia”. Ficou mais clara ainda uma evidente contradicio em prejutzo do trabalhador. Ora, nas causas em que a disputa se dava a respeito de direitos e valores decorrentes da forca de trabalho da pessoa humana, bem nessas € que os honorérios nao seriam devidos e que o trabalhador deveria retirar parte do resultado da demanda para pagar as despesas com 0 advo- gado contratado, Para concluir esta breve referéncia histérica, nao se pode des- prezar tambéma Lei n. 10.288/2001 e a Lein. 10.537/2002. A primeira tratou de acrescentar o § 10 ao art. 789 da CLT, com a seguinte redacao: O sindicato da categoria profissional prestaré assistén- cia judicidria gratuita ao trabelhador deaempregado.ou que perceber salario inferior a cinco salaries-minimos ou que declare, sob responcabilidade, ao possuix, em razdo dos encargos proprios ¢ familiares, condicdes econémicas de prover a demanda, (Ora, se a lei voltou a tratar da assisténcia judiciéria de forma diversa do que antes era tratado na Lei n. 5.584/1970, pode-se interpreiar que esta foi derrogada tacitamente. O citado dispositivo, porém, teve curto periodo de vigéncia, eis que em menos de 1 ano sobreveio a Lei n. 10.537 de 2082002 e deu nova redagio aos arts. 789 e 790 da CLT, desta feita revogando 0 § 10 acima ‘Neste sentido, o seguinte ulgado: Honoréris advocaticlos. Auséncia de assisténcia pelo sind cato da categoria. Raquisito essencial. A jurisprudéncia ax:4 cadimentada no sentido do que os arts. 389 e 404 do Céeigo Civil atual, 20 inclulrem os honoririos advocatiias na ecomposie80 de Perdas e danos, néo revogaram as disposicbes especiaiscontidas na Lei 5584/1070, aplcada _20 proceso da trabalho, consoante o art 28, § 28, da LINDB, Ast, pecmanece véldo o enter~ imento de que, nos termos do art. 14, caput e§ 1, da Len. 5.584/1970, a sucumbEncia, por si ‘59, nao justia 2 condenarzo ao pagemento de honoréros pelo patracinio da causa, ox qual, no {Embito do procosso do trabalho, so revertdos para osindicete de cetegoria do empregedo, com forme previsto no art. 16 da Lei n.5.584/1970, Se trabalhader néo esta assistido por adogado Credenciaco pelo sindicsto prefissional, conforme recomenda a Sdmulan. 228, doTST,Indevicos 10s honorérios advocaticos.Ressalvado relator quanto 2 ese de mérito, Recurso de revista conhe- ‘ido © provido. (RX-32500-29.2005.5.17.0008, data de julgamento 289.2016, Relator Minis: ‘Augusto César Leite de Carvalho, 6 Turms, data de publicago DLJT 7.102036) Revista do Tribunal Reglonal do Trabalho da 15® Regio, n. 52, 2018 transcrito. A questao da justica gratuita veio tratada pelo § 3° do art. 790, nao havendo nele expressamente a previsdo de assisténcia judicidria prestada por quem quer que seja, nem pelos sindicatos nem pelo Estado, tampouco por advogados particulares contratados. Do mesmo modo, 2 norma nao tratou expressamente de honorérios assistencizis. Ainda assim, considerando-se a sucesso de leis e regras sobre a justica gratuita, criou-se novo espaco de interpretacao e fundamentacdo de pedidos de condenacao das reclamadas no pagamento de honorérios advocatfcios de sucumbéncia e ou honoririos assistenciais para advoga- dos nio credenciados pelo sindicato da categoria. A Lei n. 10.288/2001, com a redacao que deu ao art. 789, § 10, da CLT teria revogado a assis- tencia sindical regulada na Lei n, 5.584/1970. Jé a Lein. 10.537/2002, com a nova redacao que deu aos arts. 789 e 790 da CLT, teria acabado de vez com a assisténcia judiciéria exclusiva dos sindicatos profissionais e aber- toa possibilidade de que a mera concessio da justica gratuita garantisse © pagamento dos honorérios assistenciais ao advogado, mesmo no cre- denciado pelo sindicato da categoria Nesce sentido: De consequéncia, outra conclusio nio resta: supri- mida a sistemética legal da assisténcia judiciaria pela entidade sindical proficsional, no subsiste 0 mono- polio des sindicatos profissionais quanto a assisténcia judiciéria, possibilitando, assim, opagamento de hono- rérios advocaticios a0 beneficidrio da justica gratuita (GUNTHER; ZORNING, 200-7). No entanto, no foi essa a interpretagdo que prevaleceu na jurisprudéncia. Novamente, o TST reafirmou a forca do verbete consoli- dado na Samula n. 219, que reserva aos sindicatos a prestacao da assis- téncia judicidria aos trabalhadores e o direito de receber os honordrios assistenciais’ (BRASIL, TST, 2017). Aqueles trabalhadores que optassem por contratar advogado particular, nfio credenciado pelo sindicato da ca- tegoria, mesmo quando beneficidrios da justia gratuita, restava accitar que deveriam subtrair parte do seu patrim6nio, no mais das vezes, oritn- da do crédito trabalhista recebido na aco, para pagar os honorérios do seu advogado. ‘Como se vé, a matéria estava bem sedimentada na jurispru- déncia. Mas a Lei n. 13.467/2017 alterou substancialmente o assunto, 0 que seré tratado nos préximos tépicos. Antes, porém, é importante resga- tar 0s principios da protecao e do acesso a justia, ambos de indole cons titucional e que constituem pressupostos necessérios para a interpretacgo da nova legislacao. "Aeérdo publcaco em julo/207 palo TST da lavra da Min. Dora Maria da Costa, com trechos ‘wanseitos do acérd regional proferide polo TTR, tra elucidate resumo carats. Autos ‘AIRR-1164-20 2014 5.09.0006 feviste do Tribunal Reglonal do Trabalho de 15# Regldo, 52,2018 3 O PRINCIPIO DA PROTECAO (NO PROCESSO) E 0 ACESSO AJUSTICA O direito do trabalho € reconhecidamente um campo do direi- toem quea lei atua para realizar a igualdade material. Parte-se da premis- sa de que 0 empregador encontra-se em posicio de vantagem em relacio a0 empregado e, assim, a lei atua com 0 objetivo de proteger a parte mais. fraca, garantindo-Ihe direitos minimos. A prépria crigem do direito do trabalho esté diretamente ligada a esse fato. E na construcao da doutrina ¢ regulamentacao juridica das relacoes de trabalho isso também aparece de modo vis(vel, pois o contrato de emprego € marcado pela subordina- go jurfdica. O trabalhador disponibiliza a0 empregador a sua fora de trabalho, para que seja dirigida e organizada de acordo com os interesses do proprietério, como assentado no art. 2° da CLT. Fica evidente, assim, a desigualdade que o contrato de trabalho oculta. No ambito do proceso nao é diferente. A desigualdade presente na relacdo material, na vigéncia do contrato de trabalho, nio desaparece 66 pelo fato de o trabalhador estar em juizo em busca de seus direitos. Ao contrério, no proceso vem a tona toda a desigualdade presentena vigéncia do contrato, desde antes da sua assinatura. O perfil das vagas e dos candidates, a elaboracdo das clausulas contratuais as quais 0 empregado adere simplesmente (no mais das vezes), a sua administracao e ‘execugao, tudo isso € realizado pelo empregador. E ele que faz a gestao das. relagbes de trabalho, que define as atribuigGes e fiscaliza cada empregado, a jornada de trabalho, o valor da remuneracdo e os beneficios, os critérios de promocao e, com frequencia, 0 término da relacdo de emprego. Def porque a douirina reconhece que o principio da protecio se expressa também na relagio processual trabalhista. Manoel Antonio Teixeira Filho prefere denominar de “princtpio da correcao da desigual- dade”, mas 0 conteddo € notoriamente a protecéo no émbito processual: Sem essa protecio estatal, destinada a corrigir a infe- rioridade ontoldgica do trabalhador, este seria presa fécil para o adversério que teria, no processo, um con- veniente aparato legal a sua disposigao, para conseguir eximir-se da obrigacéo de reparar as lesdes cometidas ‘nos direitos daquele. (TEIXEIRA FILHO, 2009, p. 99). ‘Wagner Giglio, por sua vez, esclarece que o “principio prote cionista” aparece no proceso do trabalho como necesséria e logicarnente decorrente do direito substantivo de que € instrumento. Segundo ele, Essas caracteristicas do Direilo Material do Trabalho imprimem suas marcas no direito instrumental, par- ticulermente quanto a protegio do contratante mais fraco, cuja inferioridade nao desaparece, mas persiste zo processo. (GIGLIO, 2007, p. 8

You might also like