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Bonner. ‘i E guerra! JOVENS Governo e sociedade se unem na pth tee | contra a industria do tabaco Entenda como e por que eles sao fundamentais na questao Fumante passivo Quando a fumaga dos outros causa verdadeiras tragédias TESTE COMO PARAR DE FUMAR ¢ Saiba quais tratamentos estado a sua disposi¢ao * Veja depoimentos de quem abandonou o vicio * Descubra onde pedir - e encontrar - ajuda PANORAMA DO CONSUMO MUNDIAL » HISTORIA DO FUMO + LIVROS E FILMES SOBRE 0 ASSUI.. - Po ty Py GRANDES LIDERES DA HISTORIA Complete sua colecao e confira a trajetoria de teem ere ie me lac Laem Lie Lo) www.revistaonline.com.br | 3512-9477 A tit ante a bh al Pas Sots Beto ey Cas Cee Perse oes Eee Ardua batalha ‘Que o cigarro faz mal & satide, j& sabemos ha muito tempo. E, a cada dia, novas informagdes evidenciam as doencas que 0 consumo do tabaco cauisa nos humanos, sejam eles fumantes ativos ou passivos. Por isso, a absoluta maioria dos que fumam quer parar. Mas como? ‘Muitos conseguem com a autodeterminacao, a famigerada “forga de vontade”, e nada mais. Decidem que vao parar de fumar e realmente pa- ram, Mas nao pense que o processo é facil, Passam por momentos terrivels, especialmente durante as crises de abstinéncia Alguns fraquejam e, de- pois, retomam 0 caminho; outros, mesmo com o sofrimento, mantém-se firmes. E, no final das contas, todos saem vitoriosos, livres do vicio. ‘Que bom seria se a histaria de'todo ex-furante fosse assim: Mas nao é. Muita gente sofre com as doencas (suas proprias ou de parentes e amigos), passa por diversas tentativas fracassadas de abandonar o cigarro e se de- sespera. Fssas pessoas sabem quie precisam deixar o vicio, mas se sentem incapazes de conseguir isso sozinhas. Ainda bem que, ao mesmo tempo em que se intensificam as aces contra 4 indéstria do tabaco, multiplicam-se as opc6es de auxilio para quem quer deixar de fumar. Tratamentos médicos com remédios, terapias ndo-conven= cionais, grupos de ajuda e técnicas individuais séo algumas das alternativas ‘que esto & disposigao de quem deseja se ver livre da fumagae ter uma vida melhor e mais longa. E relatos que contam as marevilhas dessa nova vida nao falta Todos os ex-fumantes, sem excecio, sentem-se muito melhores agora. Seus depoi- mentos sao incentivos preciosos para quem deseja trihar o mesmo camino, ‘que, como se sabe, nao é facil, mas infinitamente compensador. Art igo \woeevisontine com) a0" Um grande abraco, HISTORIA DO CIGARRO 04 OVENS NO ALVO 3s Saba como surgiae se Envolsimento dos adolesoentes popular ese inimigo com o bagi e camps Su saide humana par afasti-los do vcio CONSUMO MUNDIAL 14 COMO PARAR DETUMAR 0 {Quem sto Famantes e quis so Tatarmentos,pesqusas € (os gastos que cls provocam depoimentos de 2x-fumantes FUMANTE PASSIVO, Is TESTE as (0s rssos de quem convive Para medi 0 gan de coma famaga dos outros dependenca avotina DOENCAS: 21 ONDE ENCONTRAR 49 Males que fam provoca ‘Onde ober informagbes aj pora parr de Yuma GUERRA CONTRAA INDUSTRIA ..0.29 as ages ¢ leis adotadas Livros 50 de cigares Pr votre o asso saber mi Como 0 tabaco em forma de cigarro se espalhou pelo mundo e se tornou um inimigo a ser combatido Por Wendell Guiducci “Um raro prazer” ou “uma questéo de bom senso"? Os dois slogans, utilizados em campanhas publicitérias de duas das mais famosas marcas de cigarros comer- Gializados no Brasil, nao fossem fruto de apurada técnica de manipulagao das von- tades pela propaganda, pareceriam dispa- rate se comparados aos dados cientificos coletados nas dltimas seis décadas e aos alarmantes numeros que comprovam a cada ano 0 que a industria do tabaco se esforgou durante tanto tempo para dissi- mular: cigarro é droga e mata CO tabagismo é o habito de consumir qual- quer tipo de produto que contenha tabaco, Cujo principio ativo é a nicotina. Na visao da Organizacio Mundial de Satide (OMS), 6 uma doenca, j4 que a nicotina causa de- pendéncia e provaca alteragées fisicas, emo- ionais, psiquicas e comportamentais. Esta nna Classificagao Internacional de Doencas: tabagismo é “uma desordem mental e de comportamento, decorrente da sindrame de abstinéncia a nicotina”. Esta “praga do sé- culo 20”, como denomina o médico Drauzio Varella em artigo veiculado em seu site ofi- cial, & considerada epidemia pela OMS. Segundo estudo publicado pela entidade no ano pasado, a epidemia global de tabaco jd mata 5,4 milhdes de pessoas por ano em todo o mundo. Pudera: o cigarro é uma dro- a com mais de 4.700 substancias quimicas, 60 ca cussion pee ere -e esta rela- ‘América Pré-Colombiana a inimigo pébii co niimero um no século 21, 0 tabaco foi moda entre a nobreza europela na forma de fumo para cachimbo ou rapé durante cerca de 300 anos apés a descoberta de Colombo. No século 19, 0 charuto fez fama entre os mais abastados. Tansformado em cigarro por mendigos espanhis, tornou-se produto industrial em 1880, foi distribuido a soldados durante a Primeira Guerra Mundial, absor- vido pelas mulheres apés a Segunda e, gla- morizado pelo cinema e pela publicidade nos anos seguintes, alastrou-se por todo pla- neta como uma epidemia da modernidade, Gracas as pesquisas cientificas que des- vendaram os males do tabagismo ¢ as agées de conscientizacdo e controle de entidades governamentais e ndo-governa- mentais que se sucedem, porém, 0 cigar- ro perde ano a ano o prestigio que teve outrora. A cada dia mais acuado, 0 taba- 0 encaminha-se a passos largos para um ‘gueto que pode ser também, no sonho dos antitabagistas, seu tamulo. UMA BREVE HISTORIA DO CIGARRO O tabaco nasceu na América, Quando Cristévao Colombo errou [4 seu caminho eae Naquele tempo, os indios americanos ja mascavam fumo ou consumiam tabaco em cachimbos e charutos, especialmente em ceriménias religiosas. Pelo torpor que cau- sava, a fumaca era relacionada as experién- cias espirituais e as epifanias das civlizacoes pré-colombianas. Especula-se que 0 tabaco seja cultivado ‘no continente desde 6.000 a.C.. O primei- ro registro pict6rico é um vaso de ceramica maia do século 10°, em que esté represen- tado um charuto feito com folhas e amarrado com barbante. No entanto, o fumo nao era exclusividade dos habitantes do Caribe. Nas excurs6es que se seguiram 2 de Colombo, em que os navios europeus aportaram no Brasil, nas Antilhas, no México, na Florida, em todos estes lugares havia tabaco, Embora tais civiizaces estivessem separadas por milhares de quilémetros, todas tinham o mesmo habito. Entre os astecas, 0 mais co- mum era queimar as folhas secas do furno em um pedaco de junco oco ou num tubo de cama. Na América do Sul e na Central ~e também no México -, enrolava-se o fumo, chamado de petum, em cascas de milho ou de outros vegetzis ‘A novidade foi transportada para a Europa rapidamente pelos integrantes das expedigées ao Novo Mundo. Primeiro, foi para a Espanha e, depois, para Portugal, Franga, Italia e Inglaterra, Ao fim do sécu- lo 16, a fumaca do tabaco cobria todas as cortes europeias. Cultivado nos jardins reais @ até no Vaticano, 0 fumo se disseminou pelo continente. Na Franca, um dos grandes responséveis pela popularizacao do produto foi o embaixador Jean Nicot, que, inclusive sugeriu a rainha Catarina de Medicis que usasse 0 petum para curar sua enxaqueca crénica. Fol um marketing e tanto para a “erva da rainha” E do nome de Nicot que deriva 0 termo nicotina. Em sua obra L'Histoire des Plantes, (© médico e agrénomo Jacques Delachamps chamou tabaco de "erva de Nicot”. Em 1737, coma publicacao de “Flora Lapénica”, primeira classificacao cientifica do botanico sueco Carlos Lineu, considerado pai da ta- xonomia, a planta foi oficialmente batizada de Nicotiana tabacum. Com a expansio do consumo entre to- das as classes sociais, 0 tabaco passou a ter ‘grande importancia na economia da Europa. A Espanha tentou estabelecer_monopd- fio no continente inteiro, mas nao resistiu as pressdes de Inglaterra e Holanda, que durante anos foram soberanos em materia de importacio e exportacao. Na Franca, 0 governo assumiu para si o controle total de limportagéo, fabricac4o e venda de tabaco, e chegou a executar muitos contrabandistas do produto. Portugal também criow mono- polio no século 17 ~ a legislacéo, inclusive, Vigorou no Brasil até depois da independén- cia, em 7 de setembro de 1822. Até 0 século 17, 0 mais comum era se onsumir a erva em cachimbos. Havia arte- faios bem simples, feitos de madeira ou ar- sila, outros bastante refinados, confeccio- Gunn 0 CIGARRO nados em materiais carissimos, objetos de troca de presentes entre reis e generais. A partir do século 18, foi disseminado também © habito de cheirar rapé. Entre os nobres, o fumo em pé eta guardado em tabaqueiras cravejadas de pedras preciosas. Enquanto iss0, nas ruas, aspirava-se 0 rapé nas costas das maos, cada vez com maior frequéncia. © século 19 viu 0 charuto se tornar po- pular. Seu consumo, no entanto, permane- ceu restrito &s camadas mais favorecidas da populacao ~ e ainda hoje é visto por mui- tos como sindnimo de status -, porque, em pouco tempo, o cigarro enrolado em papel, ‘numa forma bem préxima da que conhece- ‘mos hoje, virou febre, Uma febre mortal O NASCIMENTO DAINDUSTRIA £ impossivel precisar quando apareceu © cigarro na forma como é comercializa- do hoje em dia. O jesulta espanhol Juan Eusebio Nieremberg y Ottin registrou em seu livro Historia Naturae, de 1635, que, nas coldnias espanholas na América, o taba- o era enrolado em papel para ser furnado. Uma famosa tapecaria do pintor espanhol Francisco de Goya, de 1778, chamada La Cometa, 6 frequentemente citada como 0 primeiro retrato de alguém fumando cigar- ro, A obra faz parte do acervo do Museu do Prado, emi Madr, Mas, se ndo é possivel de- terminar quem enrolou o primeiro punha- do de tabaco em um tubinho de papel, pelo menos sabe-se que a mesma Espanha de Goya foi 0 palco em que este habito se tomou popular Foram os mendigos e pobretdes de Sevilha que deram inicio a moda. Como néo tinham dinheiro e tampouco pudor em re- virar 0 lixo e as ruas, passaram a juntar os restos de furmo dos charutos e enrold-los em papel. Este habito, que se tornou comum entre os europeus mais pobres nas primeiras, décadas do século 19, seria determinante na exploséo do consumo de cigarro em todo ‘© mundo, Para se ter idela, segundo Mario Cesar Carvalho, em O Cigarro (Publifolha), fem 1880, cerca de 59% do tabaco consu- mido era em forma de fumo de mascar. Os cachimbos € charutos eram responsaveis O perigoso prazer de fumar £m seu livio © Cigarro (Publifolha), 0 jomnalista Mario César Carvalho calcula que um fumante que consome um maco de 20 igarros por dia sente aproximadamente 73, mil impactos de prazer por ano. Este € 0 nlimero estimado de vezes que este usuario da uma tragada. A cada vez que faz isso, segundo artigo do médico Drauzio Varella, a nicotina interage “com receptores dos neurdnios situados nas areas do cérebro associadas as sensacées de prazer e de re- compensa e & busca da repeticao do esti- mulo que provacou o prazer” Nenhuma outra droga conhecida pelo homem pode causar tantas sensagoes de prazer no periodo de um ano como 0 ci- garro. Dal o fato de, segundo Carvalho, 80% das pessoas que tentam parar de fu- mar fracassarem em suas tentativas. Para Varella, largar 0 cigarro € mais dificil que abandonar qualquer outra droga, seja 0 lcool, a maconha, a cocaina, a heroina ‘uo crack. A nicotina age no cérebro au- a) CONHECER FANTASTICO mentando a producao de dopamina, um neurotransmissor assoclado ao prazer. O crescimento dos niveis de dopamina, de acordo com Carvalho, esta relacionado @ outros tipos de compulsdes, como por sexo, jogo ou comida, Comprovadamente, o cigarro causa pra- zer. © mesmo nao pode ser dito de outros beneficios alardeados pelo fumante e que no encontram respaldo cientifico. Nao ha nenhuma prova, por exemplo, de que o ta- baco acalme ou equilibre o humor. & falta de nicotina provoca ansiedade, que vem acompanhada de perda da capacidade de concentracdo e nervosismo. Para a maioria dos pesquisadotes, 0 que acontece & que, 20 acender um cigarro, 0 usuério simples- mente pée fim a uma crise de abstinéncia. E também por isso que o fumante normal- mente consome mais cigarras em episodios de grande excitacio e de grande depressio, porque as sensacdes nestes momentos sao muito parecidas com a da ansiedade por 19% do bolo cada um. O rapé ficava com apenas 3%, € 0 cigarro, com imtis6rio, 1%. Apesar da pouca popularidade, este di- timo era infinitamente mais pratico que os outros, fedia menos e néo exigia atencao total do usuario, Uma vez aceso e coloca- do entre 0s dedos, permitia que o consumi- dor fizesse praticamente qualquer tarefa a0 mesmo tempo em que dava suas baforadas. Tal praticidade se mostraria determinan- te na expansao do cigarto algumas déca~ das depois, Neste mesmo ano de 1880, um jovem do Tennessee (EUA) chamado James Albert Bonsack, com apenas 21 anos, inventou uma maquina que era capaz de enrolar de 200 a 212 cigarros por minuto. A criagao langou as bases tecnolbgicas do que viria a ser a miliondria industria do tabaco. Em uma jornada diéria de trabalho, a méqui- na de Bonsack podia fazer até 70 mil uni- dades. James Buchanan Duke, empresario que fabricava cigarros manualmente, ficou sabendo da existéncia da maquina e deci- diy usé-la em sua linha de producéo. Nas maos de um administrador competente, em 1884, funcionando a pleno vapor, 0 equipa- mento passou a cuspir até 120 mil unidades por dia. A partir dali, o mercado, que en- tao se dividia entre os mata-ratos vendidos a trabalhadores ¢ 0s cigarros refinados im- portados de Cuba e do Egito, nunca mais seria 0 mesmo. A marca Duke of Durham passou a ser comercializada pela metade do preco e com o dobro da qualidade de seus concorrentes. © avanco tecnolégico por si s6, no en- tanto, ndo seria suficiente para estabelecer a pandemia que assola 0 mundo hoje, Em 1900, 0 cigarro ainda respondia por apenas 2% do tabaco consumido. Duas grandes guerras mundiais foram necessérias. para que os ntimeros disparassem. DUAS GUERRAS , E CINEMA NOS PULMOES A guerra contra o cigarro 6 se intensi- ficou no final do século 20, quando a in- dstria do tabaco foi obrigada a admitir todos os maleficios devastadores que o uso do fumo pode causar a satide. Porém, nos Estados Unidos, agées antitabagistas j@ eram organizadas um século antes dis- 5 i = 2 3 i a é i 0, 56 que os motives que levaram a esta tomada de postura ndo passavam pelo vies da satide. © combate ao tabaco tinha fun- damentac6es principalmente teligiosas ¢ morais. No fim do século 19, George Task ctiou a Liga Antitabaco, promovendo a luta contra o que chamava de “pequeno diabo branco". Thomas Edison, criador da lampa- da elétrica, também era conhecido detrator do cigarro, bem como seu contemporaneo Henry Ford, criador da famosa fabrica de automéveis e responsavel pela maior revo- lucio da industria automobilistica. Ford, que ndo empregava fumantes, escreveu uma obra de quatro volumes chamada The Case Against the Little White Slaver (Acgumento Contra 0 Pequeno Tirano Branco), Outro combatente do fumo foi o adventista John Harvey Kellogg, responsdvel pela criacéo da dieta matinal & base de cereals — seu irmao, Will Keith Kellogg, fundou a Companhia Kellogg e popularizou o consumo de flocos de milho. Médico e cirurgiao, John Harvey defendia que 0 tabaco deixava as mulheres assexuadas a partir da degeneracdo de suas slandulas sexuais. Ele atribuia o bigode do estereétipo da mulher francesa a0 uso do ert cis eee eae Reon nee TCCUne Le | Transformado em cigarro por mendigos espanhois, 0 tabaco tommou- se produto industrial em 1880 e foi distribuido a soldados durante a Primeira Guerra Mundial CONHECER FANTASTICO 7 HZ) CONHECER FANTASTICO Divulgacioy Sory cigarro. A venda do produto chegou a ser proibida em oito estados americanos no ini- Gio do século 20. Mas todas estas manifestagoes antita- bagistas viraram fumaca quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial. De uma hora pata outra, organizacdes que combatiam 0 furno, como a Associacao Crista de Mogos 20 Exército da Salvacdo, se viram distribuin- do cigarros para os soldados nas trincheiras da Europa em 1917. Desde os tempos de Napoledo, mais de cem anos antes, os milita- res ja airibufam ao furno uma grande impor- tancia nos campos de batalha, pela sua ca- pacidade de sedar e distrair 0s homens num. ambiente de morte e destruicio. A Lasalle, general de Napoledo, é atribuida a frase "um cavalariano que nao furna é um mau soldado”. Comandante do exército norte- americano na Europa na Primeira Guerra, 0 general John J. Pershing fez coro e disse que, para vencer, seus homens precisavam “de fumo tanto quanto de balas”. E seu pedido foi atendido. Entidades governamental vis se mobilizaram para enviar os tais ‘quenos diabos brancos” € nao deixar que seus rapazes ficassem sem combustivel Enquanto isso, na América, como constata Mario Cesar Carvalho, “a urbanizagio ace- lerada, a criagdo do mercado de massa e a ‘expansio do mercado de trabalho” criavam ‘© ambiente propicio para a dissemninacao do habito de fumar cigarros, até bem pouco tempo reservado a uma populagio margi- nal formada por imigrantes, trabalhadores bracais, prostitutas e artistas. Entre 1900 € 4930, o consumo nos Estados Unidos saltou de 2 bilhdes de cigarros por ano para 200 bilhdes ~ um crescimento de 10.000% No fim da década de 1930, veio a Segunda Guerra Mundial e a hist6ria se re- petiu. O cinema de Hollywood tratou de completar o servico ao glamorizar o cigarro A partir dai, o que estava disseminado en- tre 0s homens virou hébito também entre as mulheres, mas potencializado pelo poder de sugestéo do cinema em escala mundial ‘As poucas que furmavam o faziam escondi- do. A partir da segunda metade da década de 1940, as mogas passaram a ostentar um vicio como arma de seducao. E classica a fotografia de Rita Hayworth no filme Gilda, de Charles Vidor, em 1946, soprando languidamente a fumaga de um cigarro, metida em um vestido tomara que aia justissimo, com 0 vapor subindo de sua boca e de seus dedos, alongando no ar as curvas sinuosas de seu corpo perfeito. A es- tonteante Audrey Hepbum segurando um suporte de cigarro em Bonequinha de Luxo, de Blake Edwards, em 1961, é outra ima- gem cléssica de uma mulher fumando. Qs atores também foram manequins para esta associacdo entre sensualidade e tabaco, como o duro Humphrey Bogart em Casablanca, de Michael Curtiz, em 1942 No cartaz de Juventude Tansviade, de Nicholas Ray, em 1955, um sedutor James Dean segurava o cigarro entre os dedos. Os homens queriam ser Humphrey e James, € quetiam ter Rita e Audrey. As mulheres, por sua vez, queriam ser Rita e Audrey, e ter Humphrey e James. E, para isso, nao basta- va falar, se vestir e andar como as estrelas. ra preciso furnar como elas. © que quase ninguém sabia até en- tao & que, para se parecer com aqueles astros, era preciso se arriscar como eles. Humphrey Bogart morreu de c&ncer no esbfago em 1957, as vésperas de comple- tar 58 anos, Audrey Hepburn morreu de cancer no célon em 1993, aos 63. As duas doengas so associadas a0 tabagismo. Em seu livro, Mario Cesar Carvalho lista va- Tias estrelas de Hollywood que faleceram fem decorréncia do consumo de cigart. Bette Davis, Lana Turner, Errol Flynn, John Huston, Gary Cooper, John Wayne, Robert Mitchum, Vincent Price, Walt Disney, Steve ‘McQueen, Clark Gable, Boris Karloff, Buster Keaton, Groucho Marx, Sammy Davis Jr. € Yul Brinner sao algumas destas vitimas desenvolvimento do mercado da pu- blicidade eo grande investimento feito pelas companhias de tabaco — além da manipu- lagéo quimica do fumo para aumentar sew potencial de causar dependéncia ~ foram outros responsévels pela explosao do cigarro no planeta apés a Segunda Guerra Mundial. s antincios jé eram violentos mesmo antes deste perfodo. Ha diversos exemplos de artes publicitérias explorando imagens de criancas, por exemplo. O inglés Player's foi um que, em 1926, utiizou imagem de uma crianga brineando com um maco de cigarros, com o slogan “O favorito do papai". Em 1938, a Philip Morris, fabricante da marca Marlboro, botou um assistente de Papai Noel para dese- Jar “um bom Natal e um feliz fumo” Depois da Segunda Guerra, com 0 terre- no asfaltado pelos fatores historicos € pela colaboragao de Hollywood e com o desen- volvimento das ferramentas de marketing, © aperfeicoamento das praticas de manipu- lacdo por meio da propaganda de massa € 0 boom de vendas de aparelhos de televi- so, 0 cigarro experimentou um novo peri- odo de expansdo acelerada, a exemplo do que ocorrera nas trés primeiras décadas do século 20, Estima-se que, hoje, cerca de 7 trilhées e 300 milhdes de cigatros sejam fu- mados por ano por 1 bilhiéo © 200 milhoes de tabagistas — isso representa um terco da populagéo mundial adulta. © periodo pés-guerra, porém, 20 pass. que representou um aumento mete6rico no consumo de cigarros, também marcou 0 inf- cio do combate mais efetivo & indistia do tabaco. Agora, os argumentos nao eram mais moral, 05 bons costumes ou a religiio: a éncia comprovou que o cigarro mata INIMIGO PUBLICO NUMERO 1 Desde 0 século 16, ha manifestacdes iso- ladas de combate 20 cigarro. A resisténcia cresceu no fim do século 19 e inicio do 20, mas logo foi bombardeada de forma impie- dosa pelas duas grandes guerras mundiais. © ano de 1964 & tido como um marco na hist6ria da causa antitabagista. Naquele ano, foi divulgado um relatério do Ministério da Satide dos Estados Unidos que relacionava de forma inequivoca o habito de furar ao cancer de pulmo. "Fumar tem relacio de causa e efeito com o cancer de pulmao nos homens; a magnitude do efeito do cigarro prevalece sobre todos os outros fatores. Os dados para as mulheres, apesar de serem menos amplos, apontam para a mesma di- reco", diz um trecho do relatério destaca- do por Mario Cesar Carvalho em seu livro, gue cita ainda a emblematica manchete do Jornal New York Herald Tribune: "E oficial ~ fumar cigarro pode matar voce" Antes, em 1962, 0 Royal College of Physicians, na Inglaterra, jé havia feito tal relacéo, mas sem o mesmo impacto. As pro- postas daqueles médicos, no entanto, se- fiam diretrizes basicas para a luta contra 0 tabaco trés décadas mais tarde. Ja naquele tempo, eles sugeriam a imposigéo de limi- tes para a propaganda, a restricao do fumo Desde os tempos de Napoledo, os militares ja atribuiam ao fumo uma grande importancia nos campos de batalha, pela sua capacidade de sedar e distrair os homens num ambiente de morte e destruigao Os homens queriam ser Humphrey e James, e ter Rita e Audrey. As mulheres, por sua vez, queriam ser Rita e Audrey, e ter Humphrey e James. E, para isso, nao bastava falar, se vestir e andar como as estrelas. Era preciso fumar como elas CONHECER FANTASTICO Ea Em 1999, a Philip Morris admitiu que “existe um consenso médico e cientifico de que o fumo causa cancer de pulmao, problemas no coragao, enfisema e outras sérias doencas”, que nado ha niveis seguros para 0 consumo de cigarro e que fumar vicia em lugares pablicos, 0 combate ao cigarro entre adolescentes e 0 aumento das tribu- tacdes sobre o tabaco. Também pediam que as companhias estampassem nos macos os niveis de alcatrao e nicotina. Sem poder desmentir os dados divulga- dos na década de 1960, a industria contra- atacou da maneira que péde, dissimulan- do, taxando a questao de “controversa” tentando ganhar tempo. Isso perdurou até 1999, quando a Philip Mortis admitiu. que “existe um consenso médico e cientifico de que 6 fumo causa cancer de pulmao, pro- blemas no coracio, enfisema e outras sérias doencas” que no hé niveis seguros para o consumo de cigarro e que fumar vicia. O relatério de 1964 tornou-se um mar- co porque fez que o Estado entrasse ofi- cialmente na guerra contra o tabagismo, estabelecendo politicas de combate a0 fumo, exemplo que foi seguido, em épocas diferentes, pelo resto do mundo. Em 1965, ‘05 macos de cigarros nos Estados Unidos comecaram a vir com a seguinte frase estampada: “Adverténcia: fumar cigarro pode ser prejudicial @ satide”. Um texto ameno perto das chocantes imagens que (© Ministério da Saude do Brasil obrigou os LINHA DO TEMPO 1492 —os europeus chegam a ‘América e tém 0 primei- 10 contato com o tabaco, que era cultivade aqui plas civilizagoes pré- -colombianas e fumado em rituais Século 16 — 0 fumo passa a ser cultivado e con- 1737 ~ Carlos Lineu dé o nome cientifieo de Nicotiana Tabacum a0 tabaco, inspirado pelo diplomaa francés Jean Nieot, um dos responsiveis pela propagagao do famo na Europa no séeuto 16 Século 19-0 charuto vira moda, mas perde rapida- ‘mente 0 posto para o cigarro, que nasce en- tre mendigos de Sevilha, na Espanta, que ‘enrolavam as sobras dos charutos em papel fabricantes a estamparem em seus macos a partir de maio de 2009 (veja pagina 13) —as imagens, menos contundentes no inicio, sio obrigatérias desde 2001 no pais. No mesmo ano de 1965, a propria in- distria do tabaco criow um Cédigo de Publicidade, com o claro intuito de con- fundir 0 usuario e dissimular suas inten- Ges. A principal intencao era rebater as acusagées de que a propaganda de cigar- ro seduzia adolescents. Jornais de escola, histérias em quadrinhos e programas de TV para menores de 21 anos deixaram de ser veiculo de publicidade de funo. Mas programas esportivos de televisdo, jor- nais de esportes e revistas de moda e de fofoca continuavam inundados de antin- ios. Foi neste perfodo, mais precisamente em 1964, que aquele caubéi tranquildo, bonito e saudavel, criado em 1961, pas- sou a usar o sedutor slogan “Venha para onde esté 0 sabor, Venha para 0 mundo de Marlboro" £m 1971, um novo marco na guerra con- tra 0 tabaco: os Estados Unidos proibiram © antincio de cigarros na televisdo, algo que o Brasil s6 viria a fazer 30 anos depois. Foi um tremendo baque para a inddstria, 1917 — 05 Estados Unidos entram na Primeira Guerra Mundial, © seus soldados passam a ser abastect por toneladas de cigarros, 1900 1930, o consumo nos EVA. cresce de 2 bilhdes para 200 bi- Thies de cigartos a0 ano 1946 ~ apds a Segunda Guera, dispara ‘9 consumo entte as mulheres. A. suid em ode Ee eeer Fee cacamctans ianeriien az Ria Hayworth funando wo ear ee ae file Gia emblems desta bos ou como furno inventa uma méquina que enrolava poe ional era bos ea yee de cine de Holywood ‘ 1965 — nox Estados Unidos, o& ane 1864 — 0 ibis da marca Duke of Se eee Duta polenta ch Seca. hibit de ieee “Advert fama ga chef rape ee poder jul sade 10] CONHECER FANTASTICO que investia 80% de sua verba para pu- blicidade em TV. Nos anos subsequentes, gastava USS 27 bilhdes por ano para tratar doencas relacionadas ao fumo, Em 1985, O desenvolvimento outras questdes relativas aos males causa- novo estudo, incluindo agora os gastos GO mercado dos pelo cigarro foram sendo exploradas, com a perda de produtividade no trabalho. re como « uae detarinuite ea doors cH Wreuds Ebigan, dei ace) 0G ene aaa do corac4o (relatério de 1967), no impac- 65 bilhdes as perdas anuais para a socie- € O Grande to sobre as mulheres gravidas (em 1971) dade norte-americana. © cerco comecou a i @ sobre os fumantes passives (1973), O se fechar de forma cada vez mais estrei- _nVestimento feito primeiro movimento pelas companhias de que se tem noticia I arespeito da restrigao de tabaco — além do fumo em espacos piiblicos ocorreu_no eievtine INES estado norte-ame- quimica do fumo ricano do. Arizona, emo zation en para aumentar muitas cidades dos seu potencial Estados Unidos, nem de causar na rua se pode furnar. ‘Com a conscienti- zagio feita, 0 govemo fhorte-americano come iy a a 0 des- 1964 — 0 Ministério da Saude dos Estados Unidos divulga relatrio offciali- zando st relagio entre 0 cigarro e o c&ncer de pulmiio, © jornal New York Herald Tribune estampe a manchete: “E oficial ~fuunar cigarro pode matar voce”, O Estado abre a guerra contra o tabaco 2000-0 Brasil proitea publicidad d= egaro na a8 insrigdes nos magos p'‘TV; no rid, nas revista ficam mais contundentes J internet eno estidivs do utebo! Brasil com as frases nieotina é droga ecau- sadependencia’e"Fumsr tenes inpoténca sexual" 4971 — 0s Estados Unidos proibem os aniincios de cigarro na televisio.. Aquela altura, 80% da verba de publicidade das eomparhias de tabaco eram investidos na TV 1996 2001 4 contrapropaganda co mega a ser usada de for- 2008 ima mais efetiva no Brasil, as embalagens de cigar ros passam a trazer fotos a Prefeitura de Rio de Janeiro profe 0 fumo fem recintes co- 1979 ~relatério aponta que o sistema de ‘side dos Estados Unidos gasta- 1999 a industria do ta- Se FL eu por tne ere buco, processada ue ilustram os males de- J Ietivos fechados, ee ues eee Conentesdo‘abagsmo | ssium cls pie 1988 — no Brasil, as companhias norte-america- blicos. ou priva- de tabaco sio obrigadas nos, aceita pagar 2003 — as marcas de cigar} 495: abrindo um 4 estampara a frase “O USS 246 bilhoes qo sto proibidas de) precedente para Ministério da Sade advert: de indenizacdo putrocinar eventos | —oulsas _cidades. Farah cach ced sees ao Estado, paree- Eulturais © export | #0 Paulo acom- nas embalagens de cigarro lados em 25 anos. sore Braal panha em 2009 ta sobre a industria do tabaco. Até 1992, as companhias se gabavam de nunca terem perdido uma tinica acdo movida por fumantes que haviam tido cancer de pulmao ou outras doengas relacionadas ao fumo. De 1954 até 1992, foram abertos 813 processos contra os : fabricantes. Nenhum deles resultou em vitéria FU LP Ner.\ TOXICA para a sociedade. — a ‘A coisa mudou quando, em vez de indi- ‘3 ‘ viduos, os estados norte-americanos resol- veram pedir indenizagio as companhias de tabaco para cobrir as pesadas despesas que . tinham todo ano em seus sistemas de satide Apartir de 2001, a para tratar fumantes. Gracas ao vazamento de informacées sigilosas proporcionado por contrapropaganda ‘ex-funcionérios das empresas — como retra- comecgou a ser tao filme O fnformante (1999), de Michael are Mann, com Al Pacino e Russel Crowe -, em utilizada de forma 4997" industria entrou em acordo com 0 mais drastica; poder publico norte-americano e aceitou pagar, em 25 anos, US$ 246 bilhdes pelo os macos de inal feito i No Brasil, o Estado entrou de vez na luta oy da r SSeS sue contra o fumo no século 21, com mais de SU eee ne) veiculavam 30 anos de atraso com relacéo aos Estados eens Anni: Unidos. Em 2000, 0 Ministério da Satide, cujo. sae i pete adverténcias iors pasta ot So, pss 4 leves desde vestir pesado em campanhas anttabagistas Em 27 de dezembro daquele ano, entrou em 1988, passaram Vigor a lei que baniu a publicidade de cigar. ro da TV, do rédio, das revistas, dos jornais, Beem ace cre ree an partir com frases de dali, s6 seria permitido divulgar as marcas nos pontos de vendas, através de painéis ou pés- alerta em todo teres. O patrocinio a eventos culturais (como S@U Verso = Free Jazz, Carlton Dance, Hollywood Rock) & esportives (como o Grande Prémio do Brasil de Formula 1) foram permitidos até 2003. A partir de 2001, a contrapropaganda co: megou a ser utilizada de forma mais drastica: ‘0s magos de cigarros, que veiculavam adver: téncias leves desde 1988, passaram a estam- par fotos com frases de alerta em todo seu verso. Em 2003, as imagens passaram a ser mais impactantes. Em 2009, beiram 0 maca- bro. No final desta década do novo século, 0 cigarro experimenta resisténcia jamais en- contrada no Brasil. Rio de Janeiro e Recife ja © baniram de ambientes coletivos fechados, publicos ou privados, em 2008, e S40 Paulo fez 0 mesmo em 2009, botando fim aos fa- mosos fumédromos. Outras atitudes simila- res nas esferas estaduais ¢ municipais esto sendo tomadas por representantes do poder publico no mesmo sentido. 1 Cree ener ern errs plore error cs PU ae) Divulgagio/ Ministévio da Sade 12] CONHECER FANTASTICO GANGRENA Xena. Cres rere et uta comer ror or Gira ar Pay Daa DISQUE SAUDE phoma J ype ni Poetry PoneiE barriers PRODUTO TOXICO Nt - Eco E at Ber emareerectere Sprereny ry Pee eiseerrnre sy pen eo ret Brana aidan aA @ je 2001, os macos de cigarros estampam fotos com frases de alerta em todo 0 verso, Em 200: i impactantes. Em 2009 (acima), beiram o macabro ConHECER FanTAstico if} VENENO ENROLADO Ao tragar um digarro, 0 fumante joga para dentro de seu corpo mais de 4.700 substancias diferentes. Confira algumas das mais nocivas. Fontes: wines gou br worm aet org br ‘Astigo: “Os compostos, do cigaro e seus maleficos a sade", Dra. Stela Martins fem wins ol com br 14] CONHECER FANTASTICO NICOTINA ~ grande responsavel pela sensacdo de prazer, leva de 9 a 10 segun- dos, em média, para agir no cérebro, pro- vocando a liberagio de dopamina. & uma velocidade compardvel com a da violenta agao do crack. A cocaina, por exemplo, leva de 10 a 15 minutos para agit. Considerada uma droga psicoativa pela Organizacao ‘Mundial de Satide (OMS) desde 1997, a ni- cotina pode causar aumento do ritmo car- diaco, infarto agudo do miocérdio, derrame cerebral, angina, elevacdo da fragao ruim do colesterol (LDL), menopausa precoce, gastrite, dlcera géstrica, enfisema pulmonar bronquite crénica, entre outras doencas. ALCATRAO - composto de mais de 40 substancias comprovadamente cancerige- nas, 0 alcatrao é formado a partir da com- bustdo dos derivados do tabaco. Entre estas substncias, estéo arsénio, niquel, benzo- pireno, cédmio, residuos de agrotéxicos, substancias radioativas - como o Polénio 210 —, acetona, naftalina e até fosforo P4/ PS, Grande parte das substancias toxicas do Cigarto esta sob a forma gasosa, no sen- do incluida como componente do alcatrac dando a falsa impressiio de que ele nao agride 0 organismo. E 0 alcatrao que pro- voca manchas nos dentes, nos dedos € nos pulmdes do fumante. MONOXIDO DE CARBONO (CO) ~ 6 0 mesmo gas que sai dos escapamentos dos carros. © CO é uma substincia toxica que prejudica a oxigenacéo dos tecidos do corpo e, assim como 0 diéxido de carbono (CO2), também presente no cigarro, inter- fere especialmente no desempenho do fu- mante em atividades fisicas. AMONIA - misturada ao tabaco, a am nia ajuda na vaporizacao da nicotina duran- te a queima do cigarro. £ 0 mecanismo que acelera a absorcao da nicotina por parte do cérebro. A aménia agrava o enfisema pul- monar € a bronquite crénica do fumante TOLUENO - gis toxico utilzado na fa- bricagao de borrachas, éleos, resinas, tintas, colas, detergentes e explosives, que pode ser encontrado em escapamentos de auto- méveis. Sua inalagéo a longo prazo provoca dor de cabeca, perda de apetite e alteragao nos ciclos menstruais, CIANETO - substéncia comprovada- mente cancerigena, 0 cianeto ¢ um gis fotmado a partir da queima do cigarro. Na indistria, est presente na fabricacao de plésticos, tintas e pesticidas. Inalado em grandes quantidades, leva a morte. Em pe- quenas quantidades, causa dor de cabeca, tontura e vomito, BUTANO - produto inflamével_utiizado como gas de cozinha e combustvel de iqueros Sua inalagdo preludica a capacidade respiratoria, CETONAS - produto entorpecente e in- ‘lamavel que causa irritacdo na garganta. Em grandes quantidades, pode levar a morte TEREBENTINA ~ substincia téxica utiizada como diluente de tintas a dleo Pode causariritagao nos olhos e lesoes no sistema nervoso XILENO - produto inflamével ¢ cancert- geno encontrado em tintas de caneta. Pode causar pneumonia, se ingerido. Inalado, provoca irrtacao nos olhos, tontura e dor de cabeca. Devido a sua alta periculosidade, a industria de canetas esté banindo o xileno de seus produtos. ACIDO LEVULINICO - produto util zado para reduzir 0 teor de alcatréo nos ci- garros (0 que nao altera em nada os males causados pelo fumo, jé que, geralmente, in- duz o usuario a dar tragadas mais profundas). ARSENICO - metal utiizado na fabri- Gace da ise tkies: Fabre rele ike do, rins, coragao, pulmées, ossos e dentes. CADMIO - metal pesado, toxico e cance- rigeno que provoca lesdes no figado, tins, pulmées e cérebro, além de céncer pulmo- nar, préstata, rins e estbmago. Pode perma- necer no corpo por até 30 anos. ACETATO DE CHUMBO - subsian- cia presente na formula das tinturas para cabelo. Deposita-se nos pulmoes, gerando falta de ar, enfisema e cancer de pulméo Provoca anorexia, dor de cabesa e pode causar cancer nos rins. FOSFORO P4 P6 - substancia alta- mente téxica encontrada em fertilzantes, raticidas e produtos de limpeza POLONIO — raro elemento radioativo que produz a alfa-radiacio, geralmenie bloqueada pelas camadas da pele, mas que, depositada nas vias aéreas, contamina as células & sua volta. NIQUEL - substancia usada na producéo de aco inoxidavel, ligas, moedas, galvar.o- plastia e pilhas alcalinas. Ataca o estémago 0s intestinos, e aumenta as chances de in- fecgdes respiratérias e cAncer. BENZENO - utilizado como pesticida e nna composicao do detergente e da gasoli- nna, 0 benzeno € cancerigeno, Produzido nna. queima do cigarro e levado até os pul- m6es, provoca enfisera, asma e leucernia Amaior parte ¢ absorvida pelo figado NITROSAMINA - uma das principais substancias causadoras de cancer em fu- mantes passivos. FORMALDEIDO - utilizado na con- servagao de cadaveres € na fabricagao de produtos quimicos para matar bacteria, fertizantes, corantes desinfetantes. Suspeito de ser cancerigeno, provoca do- enca respirat6ria e reacdes alérgicas (como asma e irritacdo nos olhos), além de dor de garganta e alteracao do sono. ACROLEINA - gés responsavel pela destruigao dos cilios pulmonares, funda~ mentais para a defesa das toxinas inaladas. ACETALDEIDO - utilizado em com- ustiveis, cola, tintas, plasticos, borrachas sintéticas, couro e espelhos, favorecs 0 po- tencial de dependéncia da nicotina. NAFTALINA - popular veneno para matar baratas, que pode provocar tosse, inritagio na garganta, néuseas, distirbios gastrointestinais, renais e oculares, além de anemia. CONHE! CER FANTASTICO cE Prec Dean Cee eet Pye eure) pO seid Caner rare) Os FUMANTES e seus estragos Um panorama do consumo mundial e dos gastos provocados pelo habito de fumar Por Wendell Guiducci epidemia do tabac pessoas em tc mais ébil as guerras do period 5 resultadd juntas. O maior causador de mortes evitéveis na hi ria da hum: lém de ser fator de rs para seis di ais causas de morte no mundo. Estima-se que algo entre um ter- 0 e metade dos fumantes morra em d cia do consumo d ao fumo nao MS € de que, no oas venham a ma 8 da OMS. A terceira é uma lu2 de esp sde pidemia de da popul mante do mundo vive em dez paises: Chi (que sozinha concentra quase um terc fumantes do planeta), india, Brasil Estados Unidos, Japao, Russia, Alemianha Turquia, Indonésia e Bangladesh, Na Europa, onde a média entre usuérios masculinos femininos sempre foi equilibrada, hoje em dia ha uma mudanca: 0 vicio esta crescen- fas € diminuindo entre os OMS teme pelo cr destes niimeros entre as adolescentes. Sudeste da Asia, onde ainda ha muitas cul- as mulheres s (© nimero de fumante sexo masculino 6 dez vezes maior do qu do sexo feminino. No Brasil, apés as medidas adotadas no inicio deste século, 0 niimero de fumantes sofreu uma queda considerdvel se compa- do inicio da década de a popu undo pesquisa entes, po- ntes: uma pes- isa de stio da ON indica que 17,2% dos jovens entre 13 e 15 ‘anos fumam, Na divisao por sexo, um triste equillbrio admitiram © A ia fumado pelo menos um cigarro nos ul- No Brasil, apds as medidas adotadas no inicio deste século, o numero de fumantes sofreu uma queda consideravel se comparado ao consumo do inicio da década de 1990. Naquela época, 35% da populagao adulta era fumante. Segundo pesquisa do Ministério da Satide, este numero caiu para 16,4% em 2007 NUMEROS NO MUNDO +5,4 milhdes de pessoas morrem anualmente em fungo do tabagismo, Isso significa 14,8 mil mortes por dia, ou uma pessoa a cada seis segundos +200 mil brasileiros morrem por ano por doengas relacionadas a0 cigarro. S40 aproximadamente 548 Obitos por dia * 1,2 bilhdo de pessoas: fumam no mundo.Isso representa cerca de 1/3 da populagéo adult Deste total, 200 milhdes ‘sao mulheres + 47% dos homens adultos do planeta fumam_ + 12% das mulheres de todo ‘© mundo so fumantes nos paises ricos, 24% das mulheres fumam (0 dobro em relagdo & média mundial) * 16.4% dos brasileiros adultos sao furantes, segundo pesquisa do Ministério da Saude +20,3% dos homens brasileiros sao fumantes (media de 16,9 cigarros por dia) + 12,8% das mulheres brasileiras so fumantes (media de dez cigarros por dia) timos 30 dias anteriores a data da aplicagao do questionério. Naquele ano, a pesquisa da OMS estima que 100 bilhdes de cigarros te- nham sido consumidos no Pais © Brasil, no entanto, mesmo tendo en- trado tarde na guerra contra 0 tabaco se comparado aos Estados Unidos, é um dos casos de exceéo no panorama global Pouquissimos governos tomaram atitudes tao efetivas no combate ao fumo, como banimento total da publicidade do cigarro, restrigdo do fumo em lugares publicos ou disponibilizacao. de servigos exclusivos de tratamento para dependentes do tabaco que querem largar 0 vicio. Para se ter ideia, ape- nas 15 paises, onde vivem 6% da populacéo mundial, adotaram a contrapropaganda nos macos de cigarros, uma das politicas mais simples de serem colocadas em pratica entre todas as que sao sugeridas pela OMS. GASTOS COM SAUDE PUBLICA De acordo com dados do Miinistério da Satide, 0 tabagismo gera uma perda anual de US$ 200 bilhdes em todo o mundo. Esta cifra refere-se aos gastos no tratamento de doengas relacionadas ao tabaco, mortes de cidadaos em idade produtiva, maior indice de aposentadorias precoces, aumento nas faltas ao trabalho e menor rendimento pro- dutivo. Estima-se que, no Brasil, 0 poder piblico gaste no tratamento de furantes duas vezes mais o que arrecada com os im: postos de cigarros. A tributacio ¢ das mais pesadas. Algo em torno de 80% do valor do maco & referente aos impostos embuti- dos — ha diferenca na tributacao entre mar cas mais baratas e mais caras ‘Mas, mesmo assim, o preco praticado no Pais € um dos mais baratos no mundo. Nos Estados Unidos, 0 custo médio de um maco de cigarros ¢ de R$ 11,70. Na Europa, o valor cai para R$ 10,70. No Brasil, despenca para RS 3,40. O iltimo aumento de impos- Re a at) tos sobre cigarro, em abril de 2009, elevou ‘© prego do mago em até 25% para as mar- ‘cas mais caras. O aumento nos tributos so- bre o tabaco € uma das politicas eficientes sugeridas pela OMS no combate ao fumo. Para o Instituto Nacional do Cancer (Inca, este iltimo aumento deve reduzir em até 4% o ntimero de fumantes no Pai Segundo pesquisa de 2005 da Fundacio Oswaldo Cruz, o cigarro causa um pre- juizo anual para 0 Governo brasileiro de RS 338 milhoes, algo em torno de 7,7% de toda a verba gasta pelo Sistema Unico de Satide (SUS) com internacées € quimiote- rapias. Relatério publicado no mesmo ano pelo Departamento de Desenvolvimento Humano — Regiao da América Latina e do Caribe — do Banco Mundial aponta que, no periodo de 1996 2 2005, o Brasil gastou aproximadamente R$ 1,1 bilhdo no trata- mento de males relacionados ao tabaco, como cincer, doengas cardiovascolares e pneumonia. Os homens foram responsd- veis por consumir RS 740 milhdes deste valor, ao passo que os gastos com mulhe- res foram de RS 330 milhdes. A pesquisa também mostrou que, no perfodo, houve aumento de 13% no numero de interna es de homens com cancer de pulmao, enquanto o crescimento entre as mulheres foi de 84% , 0 que prova o aumento da epi- demia do tabagismo entre elas. No final de 2008, o Inca divulgou um re lat6rio sobre os gastos do poder piiblico com ‘5 furmantes passivos, Terceira maior causa de mortes evitéveis do mundo, o tabagismo passivo custa aos cofres piblicos pelo menos RS 37,4 milhdes por ano, RS. 19,1 milhoes deste total s4o gastos com tratamentos e in- temagdes no SUS, € RS 18,3 milhdes com 0 pagamento de beneficios e pensées as fa milias das vitimas do tabagismo. Apesar de ter sido divulgado em noverbro de 2008, 0 relat6rio é baseado em niimeros colhidos em 2003, periodo em que foi registrada média de sete mortes por dia em decorréncia do furno passivo. rice eee er 31 DE MAIO DEM Tel Ues ti) Tabaco rey re ea tee cr ay ee cee ce ero ati! Mundial Sem Tabaco de acordo com eee eS) Mundial de Controle “do Tabaco. ea ee “Ambiente livre de cigarro ¢ dircto Peete eee ac do tabaco";e em 2009, “Adverténcias Se en Coe ence sts 2. OMS aproveita a data para articular Pee een on tes bros, Spara evidenciar as vitiasinter- enti a ee etn eee ees Pore ents eee 29 DE AGOSTO PIER ETCir reer re mal) ree meen ee eee ert Nacional do Cancer, a lei estabelece ee hor eee sg ene ns ee eos populagio, em partielar os adoles- centes ¢ adults jovens ~alvos prefe- EO ec eet arene ere Reece onc pirene ete erie secret Pen Tn aproveitaa data para premiarestados, Etre em ence Pree ene se destacaram no desenvolvimento de Peer eer ts eee Prine Eh Caer) Eee Moe eee aac ConHECcER Fantastico [19 Por Wendell Guiducci © Instituto Nacional do Cancer (inca) define tabagismo passivo como "a inalacao da fumaca de derivados do tabaco (cigar- ro, charuto, cigarrilhas, cachimbo e outros produtores de fumaca) por individuos nao- furmantes, que conviver com fumantes em ambientes fechados”. Uma pesquisa do Inca, publicada em 2008, em parceria com © Instituto de Estudos em Saide Coletiva da Universidade do Rio de Janeiro, apontou due sete brasileiros morrem por dia em de- corréncia do tabagismo passivo. ‘A fumaca liberada pelo cigarro e por seus usuarios tem um nome especifico, poluicao tabagistica ambiental (PTA), ¢ € formada por dois componentes: a fumaca que & tragada pelo usuario e depois expelida no ar, chamada de "corrente priméria”, e a fu- ‘maga que sai diretamente da ponta do ci- garro, “a corrente secundaria’. Esta ultima representa a maior parte da composigao da poluicdo tabagistica, ja que produzida em 96% do tempo total da queima dos deriva- dos do tabaco. A pior noticia nisso tudo é que a fumaga desta corrente secundaria é 20] CONHECER FANTASTICO m convive a FUMACA Os outros? O fumo passivo é considerado pela Organizacgao Mundial de Saude como a terceira maior causa de morte evitavel do mundo, perdendo apenas para o tabagismo ativo e o excesso de consumo de alcool justamente a mais venenosa, pelo fato de, diferentemente daquela tragada pelo fu- mante, nao passar pelo filtro do cigarro, “Resséncia do problema da poluigéo ta- bagistica ambiental é a fumaca do tabaco ser téxica”, explica Marina Seelig, consultora fem poluicao tabagistica ambiental e inte- sgrante da equipe de trabalho da Alianga de Controle do Tabagismo, organizacéo nao- governamental que trabalha na promogao de acdes de prevencdo € combate ao fumo. “Dos milhares de constituintes identificados na fumaca do tabaco, ao menos 250 séo comprovadamente t6xicos, como o ciane- to de hidrogénio, 0 mondxido de carbono, © butano, a aménia, o tolueno e 0 chum- bo, e ao menos 50 séo comprovadamente cancerigenos, sendo 1. comprovadamente ‘em humanos: 2-naftilamina, 4-aminobifenil, benzeno, cloreto de vinila, éxido de etileno, arstnico, bertlio, compostos de niquel, cro- mo, cédmio € polénio-210_(radioativo) ‘A fumaca que sai da ponta do cigarro & aproximadamente quatro vezes mais t6xi- ‘ca que a aspirada pelo filtro pelo fumante. Nao ha nivel seguro de exposicao a PTA’ alerta Marina, Em 1996, 0 Inca promoveu um estudo com cinco marcas de cigarros comercializa- das no Brasil e detectou niveis duas vezes maiores de alcatrao, 4,5 vezes maiores de nicotina e 3,7 vezes maiores de monéxido de carbono na fumaca que sai diretamente da ponta do cigarro do que na exalada pelo fumante. Os niveis de aménia na corren- te secundaria sao ainda mais assustadores: chegam a ser 791 vezes superior que na corrente primaria. A aménia, além de fa- cilitar a absorgio da nicotina pelo usuario, potencializando assim seu poder de viciar, € 0 componente mais irritante da furnaca do tabaco. Dai o fato de, quando o cida- dao esta naquele bar cheio de fumantes, os olhos comecarem a arder. fumante passivo esta sujeito a diver- 50s efeitos imediatos da poluicio tabagisti- a, e esta irrtacao nos olhos é apenas um deles. Outros séo: manifestagées nasais, tosse, dor de cabeca, aumento de proble- mas alérgicos (principalmente das vias res- piratorias), € aumento dos problemas car- diacos, especialmente elevacio da pressio arterial e dor no peito. Os efeitos a médio e longo prazo so mais preocupantes: redu- ao da capacidade funcional respiratéria (0 quanto 0 pulmao & capaz de exercer a sua fungio), aumento do risco de ter ateroscle- rose e crescimento do nimero de infeccoes respiratérias em criancas. VITIMAS INOCENTES Boa parte dos males a que os fumantes estao sujeitos afeta também os néo-fuman- tes expostos a poluicéo tabagistica ambien- tal. Os riscos, obviamente, variam de acor- do com 0 tempo de exposicéo & fumaca quanto mais tempo a vitima permanecer em contato com 0 ambiente insalubre, maiores sao as chances de sofrer com algum tipo de doenca. De acordo com dados do Inca, os adultos que se caracterizam como furnan- tes passivos tém risco 30% maior de desen- volver céncer de pulmao € 24% maior de ter infarto do coragéo do que os que nao so expostos & fumaca do tabaco, Entre as tiangas, € maior a frequéncia de resfriados € infecgdes no ouvido médio, e crescem as possibilidades do surgimento de doencas respiratérias, como pneumonia, bronquite € asma, Nos bebés, ha suspeita de que a exposicéo & fumaca colabore para a mor- te subita, mas ndo ha estudos conclusivos sobre esta relagao, Certo é que o risco de doencas pulmonares aumenta no convivio com adultos fumantes. AOMS estima que 700 milhdes de crian- as em todo o planeta sejam diariamente expostas a fumaca de cigarro. Isso & quase a metade da populacéo infantil mundial. No Brasil, estudo do Inca divulgado em 2008 entre fumantes passivos com mais de 35 anos aponta que domicilios ¢ locais de tra- balho s4o 0s principais lugares onde se é exposto a poluicao tabagistica. De cada mil mortes ocorridas no Pais, a pesquisa mos- trou que 25 sao decorrentes do tabagismo passivo em domicilio. A estimativa é de que pelo menos 2.655 nao-fumantes morram a cada ano no Brasil por doencas atribuiveis a0 tabagismo passivo. A maioria dos dbitos ocorre entre mulheres (60,3%). tabagismo passivo &, normalmente, relacionado a presenca de fumaca em luga- res fechados. No entanto, engana-se quem pensa que s6 é prejudicado pela poluicao tabagistica ambiental quem fica na mesma sala que um fumante. “Em termos de expo- sicdo, estar em um ambiente fechado com fumaga ou num ambiente aberto proximo & fumaga nao faz muita diferenca, pois voce inala a fumaca nas duas situagoes”, explica ‘Marina Selig. “O que ocorre é que afuma- ca & conservada mais tempo em ambien- tes fechados que em abertos. Numa sala, a fumaca se dispersa em um volume de ar definido, que tem troca lenta por ventila- io. Ao at livre, 0 volume nao & definido, € a troca € mais répida pela movimentagao natural do ar.” ‘Mesmo animais domésticos estao sujei- tos a contrair doencas em decorréncia da exposi¢ao a fumaca do tabaco. Um estudo publicado na edigao de agosto de 2002 da ‘American Journal of Epidemiology relacio- nna. surgimento do linfoma felino - uma forma mortal de céncer que acomete os gatos — ao tabagismo passivo. Entre e: animais, muitos ficam até mais em c to com a poluicéo tabagistica donos, pelo fato de pouco Outro artigo publica AOMS estima que 700 milhées de criangas em todo o planeta Como ele destroi a SAUDE De gripe a impoténcia sexual, 0 cigarro causa centenas de males ao organismo. Muitos deles, como diversos tipos de cancer e doengas do coragao, sao potencialmente fatais em casera 2 bere tea UC) Antes de 0 jomal New York Herald Tibune estampar em sua capa a manchete “E oficial — cigarro pode matar vocé", em 1964, outros estudos ja indicavam os riscos do tabagismo para a satide. Um dos mais antigos registros apontados por Mario César Carvalho em seu livto O Cigairo data de 1761, quando o médico londrino John Hill associou tumores no nariz ao uso de rapé & fumo em pd. Em 1859, 0 clinico francés M. Buisson relatou que, entre 68 pacientes com cancer de boca e labios estudados por ele, 66 fumavam cachimbo. Em 1885, 0 livro The Tobacco Problem, de Meta Lander, re~ lacionava o tabaco a diversos tipos de cén- cer, segundo observacdes de seis médicos. Em 1928, Herbert Lombard ¢ Carl Doering publicaram um estudo constatando que fu- mantes séo mais propensos a desenvolver Cancer do que os nao-furnantes. Porém, a pesquisa realizada pelo judew alemao Ernst Wynder, em 1953, nos Estados Unidos, é tida como um marco por ser 0 pri- meiro experimento de laboratério que com- provou a relacéo entre 0 tabaco e o cfncer. Durante dois anos, Wynder aplicou pincela- das controladas com uma substancia obtida da condensacdo da fumaca do cigarro Lucky Strike nas costas raspadas de 86 ratos cobaias. resultado foi que, dos 62 que sobreviveram a0s testes entre 1953 e 1954, 58% tinham desenvolvido tumores cancerigenos. A divul- aco do estudo de Wynder caiu como uma bomba na sociedade norte-americana. O consumo de cigarro chegou a cair 10% nos Estados Unidos em 1954, Mas, sem a regu- lamentacéo da publicidade, logo vottaria a ctescer de forma descontrolada © tabagismo causa inimeros males a0 corpo humano e é classificado pelo Cédigo Internacional de Doencas como um trans- tomo mental e de comportamento. Como o tabaco tem nicotina (que é um psicottépico) em sua composicéo, & considerado droga. E, oe como tal, 0 mais ébvio dos problemas que causa a salide € a dependéncia. A nicotina acelera levemente os batimentos cardiacos, a presséo arterial, a frequéncia respiratoria € 2 atividade motora. Atuando com 0 moné- xido de carbono, leva a doencas cardiovas- culares que resultam em infarto e acidente vascular cerebral, para citar os mais comuns ‘Mas ndo é apenas a nicotina a vila encapsu- lada em um maco de cigarros. Muitos dos outros componentes causam doengas. © al- atrdo, por exemplo, retine sozinho cerca de 48 substancias cancerigenas. Nada menos que 90% das mortes por cancer de pulmao so causadas pelo uso de cigarro, ‘A maior causa de mortes entre as mulhe res no Brasil sio as doencas cerebrovascula- res, Entre homens, as patologias isquémicas do coracao lideram o ranking. No panorama geral, segundo pesquisa da Organizacao Mundial de Sade (OMS), realizada em 2005, as doengas cardiovasculares formam © grupo que mais mata brasileiros (26,8% dos homens e 35,1% das mulheres). O ta- bagismo esta intimamente ligado a este tipo de mal. © fotdgrafo Roberto Fulgéncio, 50 anos, por pouco néo fez parte desta estatis- tica. Fumante desde os 16 e consumindo em média um maco de cigarros por dia, ele so- freu um infarto aos 40. "Comecei a me sen- tir mal 4 noite e fiquei assim até amanhecer, pensando que fosse ma digestao ou alguma coisa do tipo. Pela manha, fui com minha mulher para o hospital, € af comecou a correria. Foi neste momento que caiu aficha. eu estava morendo”, conta. Fulgéncio foi submetido a uma angioplastia, passou uma semana internado e, desde a noite em que se sentiu mal, nunca mais fumou, “Foi um susto to grande que, quando sai do hos- pital, nem me lembrava que existia cigarro ‘Me perguntam se sinto falta de fumar. Nao € nem questo disso: simplesmente nao lembro de cigarro." “Comecei a me sentir mal a noite e fiquei assim até amanhecer, pensando que fosse ma digestao ou alguma coisa do tipo. Pela manhé, fui com minha mulher para o hospital, e ai comegou a correria. Foi neste momento que caiu a ficha... eu estava morrendo”, Roberto Fulgéncio José Geraldo Nogueira O sofrimento causado pelo cigarro nao afeta apenas quem fuma. A dor dos momentos dificeis vividos por pessoas afetadas por doengas é compartilhada pelos amigos e familiares © comerciante José Geraldo Nogueira 46 anos, nao teve tanta facilidade para es- quecer 0 vicio, “Ainda hoje, sinto vontade de fumar. Ainda mais quando tomo uma cetvelinha. Mas sei que ndo posso e, entao, nao fumo", afirma. Em seus primeiros dias como ex-fumante, no entanto, Nogueira ndo teve nem como furar. “Fiquei uma se- mana internado em um hospital realizando exames, depois mais oito dias em outro e, finalmente, em um terceiro. Depois de ser submetido a um cateterismo, os médicos descobriram que eu deveria ser operado: foram quatro pontes de safena e uma ma- méria. Neste Ultimo hospital, fiquei inter- nado por 23 dias. Os médicos me disseram que eu nao poderia nunca voltar a fumar, porque cortia o risco de comprometer meu coracao novamente” relembra O motorists Jodo Carlos Fernandes, 51 anos, comegou a fumar com 14. "Naquela 6poca, ninguém falava que o cigarro fazia mal, que matava ou coisas assim. Pelo con- trério: éramos incentivados a fumar pelos comerciais de TV. Todos os filmes da época tinham os gals € as mocinhas fumando' lamenta. Fernandes furnou por quase toda a vida, até que, em 2003, um exame de rotina acusou enfisema pulmonar. "© médico, en- tao, me disse assim: ‘para logo, senao voce vai para um baldo de oxigenio'. Entao, reuni todas as minhas forcas, e 0 proprio medo me fez patar de fumar”, conta. Sé que af vieram a depressio e a sindrome do panico, ‘que gerou uma mudanga radical na vida de Fernandes. “Minha ocupacio, hoje, € brigar com o INSS para conseguir alum benefici, porque tomo remédios fortissimos por causa da depresséo e da sindrame do panico, que me dao muito sono e provocam outros dis- trbios que me impedem de exercer minha profissao. € nao posso fazer trabalho bracal, porque o pulmao nao deixa. Tenho intencéo também de entrar com uma aco na Justica contra as fabricas de cigarro”, desabafa sofrimento causado pelo cigarro nao afeta apenas quem fura. A dor dos momen- tos dificeis vividos por pessoas afetadas por doengas tabaco-relacionadas é compartilha- da pelos amigos ¢ familiares. A coredgrafa Adriana Wiermann, 38 anos, é um exemplo disso (veja quadro na pagina 26). Em 1997, uma oclusdo arterial levou seu marido, 0 também coredgrato Jorge Clementayme, a amputar um dos pés. "Ele parou de fumar no mesmo dia em que deu entrada no hos- pital. Foi muito diffeil para todos nés. Jorge ficou internado por mais de um més, pas- sou por quatro cirurgias e, depois, houve © periodo de adaptacio 4 nova realidade”, relata Adriana, que fez um curso técnico de enfermagem para poder cuidar do marido em casa. Hoje, Jorge jé voltou a dar aulas de danga, mesmo tendo seus movimentos limitados pela amputagéo - ele usa uma pré- tese. E, apesar de ter sido obrigado também a lutar muito para se livrar da dependéncia da nicotina, aos 60 anos, mantém-se afas- tado do cigarro. Ocupa seu tempo, além do trabalho, cuidando de uma ONG com seu nome no Rio de Janeiro, criada apés a doen- «a. “Realizamos agées sociais alertamos so- bre o mal que o cigarro faz, por experiéncia prépria, na esperanca de que outras pessoas ‘do precisem passar pelo que passamos.” Mulheres: vitimas preferenciais A indéstria dos cigarros sempre dedicou atengéo especial a mulher. O desenvolvi- mento da epidemia global do tabaco é mais ‘ou menos simultaneo as conquistas femi- nistas no século 20. As vitorias na luta pela igualdade dos direitos civis das mulheres, por condigdes de trabalho equivalentes as dos homens, pela liberaco sexual, tudo isso foi acontecendo & medida que a industria do furmo crescia. E, durante este crescimen- to, as companhias tabagistas trabalhavam para associar 0 cigarro a0 comportamento desta nova mulher que nascia, modema, dona de seu préprio nariz, competente, in- il telectualizada, profissional, que conquistara a independéncia financeira. De preferéncia, com um cigarro entre os dedos. (Os nimeros apresentados nesta repor- tagem mostram que o fumo tem crescido entre as mulheres do Ocidente, e que, embora uma pequena parcela das orien- tais seja consumidora de tabaco, a OMS teme pelo crescimento do indice de mulhe- res furantes & medida que sua submissao diante dos homens diminua ~ um fendme- no sociocultural previsivel, que @ Histéria ja mostrou ser inevitével. De acordo com informagées do Ministério da Satide, um estudo realizado em 1997 entre estudantes de dez capitais brasileiras mostrou que, em pelo menos sete capitais, as meninas ver experimentando cigarros em maior propor- do que os meninos. Em seu livro Obrigado por Nao Furar, 0 advogado Sérgio Honorato dos Santos des- taca o papel da publicidade no crescimento do numero de mulheres fumantes. “Esse aumento tem relacdo também com as cam- panhas publicitérias da indiistria furnageira. ‘As campanhas tinham os jovens como prin- cipal alvo, a partir das propagandas enga- rnosas que relacionavam boa saiide, sucesso profissional e ascensao social a0 habito de fumar. © fumo, no circulo feminino, atingiu © seu dpice gracas ao movimento de, diga- mos, liberacao da mulher, em que o cigarro passou a ser a peca que simbolizava liber- dade, sensualidade e feminilidade.” ‘Mulheres fumantes correm tanto risco de sofrer com diversas doencas quanto os ho- mens e, gracas as peculiaridades de seu or- ganismo, estdo até mais propensas a alguns males especificos. Um estudo divulgado em maio de 2009 na Conferéncia Europeia ‘Muttidisciplinar de Oncologia Tordcica, na Suica, afirma que as mulheres podem ser mais vulnerdveis que os homens aos fatores de risco relacionados a0 tabagismo. Uma raridade entre elas no inicio do século 20, 0 cincer de pulmao jé é a principal causa de morte de mulheres por céncer nos Estados Unidos, superando o de mama. O cancer de pulmao era responsével por 3% das mortes de mulheres por cancer em 1950, @ passou para 25% em 2000, um aumen- to de 600%. Sérgio Honorato dos Santos Cita 0 resultado de uma pesquisa conduzida entre 1981 € 1994 em seis cidades norte- ‘americanas, na qual ficou constatado que mulheres fumantes t8m 50% de chances a mais que os homens fumantes de desenvol- ver cancer de pulmao. Certas peculiatidades do organismo fe minino sao diretamente afetadas pelo fumo. As célicas menstruais, por exemplo, padem ser intensificadas por causa do tabagismmo. O cigarra também pode alterar o ciclo mens- trual, comprometer a fertilidade, a gravidez € 0 parto, além de provocar antecipacao da menopausa em até dois anos. O tabaco causa envelhecimento precoce, destruindo a elasticidade da pele e deixando-a ressecada além de tornar unhas e cabelos mais frageis, & um mal que afeta tanto homens como mulheres, mas, nelas, que tradicionalmente tém uma preocupacao estética mais acen- tuada, causa maior transtorno. Pelos danos que provoca no sistema circulatério do ser humano, 0 cigarro, no caso das mulheres, por terem este sistema mais delicado, acen- tua o surgimento de varizes e de trombose No caso daquelas que tomam anticon- cepcionais, a associacdo entre tabagismo € os horménios contidos na medicacao pode ser fatal. Segundo dados do Instituto Nacional de Cancer, “0 risco de infarto do miocérdio, embolia pulmonar e trombo- flebite em mulheres jovens que usam an- ticoncepcionais orais e fumam chega a ser dez vezes maior que 0 das que nao fumam € usam este método de controle da nata lidade". A Organizacao Mundial de Satide orienta as fumantes que utilizam drogas contraceptivas que deem preferéncia aque- las que contém apenas 0 hormdnio proges: terona. As pilulas combinadas — com estro- genio e progesterona -, aliadas & nicotina, tornam 0s riscos de infarto ainda maiores. 7. OS MALES DO CIGARRO O cigarro causa quase 50 doengas diferentes. Confira as principais delas: * Cancer de pulmao * Cancer de boca * Cancer de laringe + Cancer de faringe + Cancer de esdfago * Cancer de intestino + Cancer de figado + Cancer de mama * Cancer de pancreas * Cancer de rim + Cancer de bexiga * Cncer de colo de iitero *Angina + Infarto do miocardio + Aneurisma da aorta + Embolia arterial + Hipertenso + Insuficiéncia cardiaca + Isquemia cerebral + Trombose cerebral * Gripe + Tuberculose respiratéria +Asma * Bronquite + Enfisema + Ulcera do aparetho digestivo + Infecgdes nos rins + Arterites periféricas + Osteoporose + Inflamagao na gengiva * Degeneracéo dos dentes + Envelhecimento precoce da pele + Infertilidade + Impoténcia sexual + Complicagées na gravidez

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