Professional Documents
Culture Documents
REPRESENTAÇÃO
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/01/internacoes-de-bolsonaro-tem-informacoes-conflitantes-
sobre-gastos.shtml
2
https://www.rededorsaoluiz.com.br/unidades/star
6. A Secretaria-Geral, por sua vez, afirmou que "até o presente momento foi
apresentada a fatura da internação ocorrida no Hospital Vila Nova Star em
julho de 2021" - no valor de R$ 7.500. A referida fatura foi paga pelo Hospital
das Forças Armadas - HFA, ainda em 15 de dezembro de 2021, e o
ressarcimento pela Presidência "está em fase de instrução".
7. Cumpre destacar que a Secretaria-Geral não apresentou esclarecimentos
quanto às faturas de 2019 e 2020, se foram recebidas ou se estariam em
fase de instrução.
8. Sobre a última internação do Presidente da República JAIR BOLSONARO, a
pasta limitou-se a afirmar que "as despesas com as internações e os
tratamentos do Presidente da República são ressarcidas, após a
apresentação da fatura pelo hospital e sua validação pelo Hospital Forças
das Armadas, pela Presidência da República".
9. O HFA tem contrato com o Planalto que contempla assistência
médico-hospitalar a integrantes da Presidência, conforme portaria
interministerial nº 3.073, de 15 de setembro de 2020, a qual dispõe sobre a
assistência médico-hospitalar prestada pelo HFA à Presidência e à
Vice-Presidência da República (Anexo I).
10. De acordo com o art. 4º da referida Portaria:
11. Dessa forma, cabe ao HFA a realização de convênios ou contratos com entes
privados para a prestação de assistência médico-hospitalar especializada
para o atendimento do Presidente da República.
12. Apesar disso, não consta no Portal da Transparência informações sobre a
existência de contrato ou convênio firmado pelo referido órgão com hospitais
integrantes da Rede Hospitais Star Rede D’Or (Anexo II), situação que
reforça a falta de transparência apontada na matéria jornalística mencionada.
13. Não bastasse a falta de transparência sobre as internações mencionadas, a
última internação do Presidente da República envolveu ainda os custos com
um voo fretado para transportar a São Paulo o médico Antônio Luiz Macedo
que estava de férias nas Bahamas.
14. Até o presente momento, não foram disponibilizadas informações sobre os
custos do referido voo. Conforme a matéria do jornal Folha de São Paulo,
questionada, a Secretaria-Geral afirmou3:
15. De acordo com o Portal de notícias UOL, eles procuraram tanto o hospital
Vila Nova Star quanto a Secretaria-Geral da Presidência da República para
saber quem bancou a conta do avião, mas ninguém prestou informações
sobre o referido custo. De acordo com o referido Portal4:
16. Conforme divulgado pela Revista Veja, a aeronave utilizada para transportar
o médico do Presidente da República pertence ao CEO da referida rede de
hospitais. De acordo com matéria publicada pela revista5:
“(...)A verdade é que Macedo viajou no jato Gulfstream G550 de Paulo Moll,
o CEO da Rede D’or.
O avião PR RDD pousou em solo brasileiro no dia 4 de janeiro, 5h15 da
manhã vindo diretamente de Nassau.”
3
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/01/internacoes-de-bolsonaro-tem-informacoes-conflitantes-
sobre-gastos.shtml?origin=folha
4
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2022/01/13/bolsonaro-internacao-hospital-aviao.ht
m
5
https://veja.abril.com.br/coluna/radar/a-verdade-sobre-a-operacao-que-trouxe-o-medico-de-bolsonaro
-ao-brasil/
17. De fato, informações da Agência Nacional de Aviação Civil, o jato Gulfstream
G550, identificado como PRRDD6, utilizado no transporte do médico Antônio
Luiz Macedo de Bahamas para São Paulo, para fins de cuidados médicos de
JAIR BOLSONARO, pertence a Heráclito Brito Gomes e Paulo Junqueira
Moll, o CEO da Rede de Hospitais Star Rede D’Or7.
18. A Rede de Hospitais Star Rede D’Or e seus proprietários possuem uma série
de interesses que dependem diretamente de decisões do Presidente da
República e do Governo Federal, entre eles a composição da Agência
Nacional de Saúde Complementar - ANS, órgão responsável pela regulação
do setor de saúde suplementar, e as decisões do Conselho Administrativo de
Defesa Econômica, órgão responsável por autorizar as fusões e aquisições,
entre outras áreas, também na área de saúde.
19. Nesse sentido, de acordo com matéria publicada pelo Portal de Notícias
Metrópoles, dos quatro indicados pelo Presidente da República para compor
a Diretoria da referida agência em dezembro de 2021, dois possuíam
vínculos diretos com a referida rede de hospitais: Alexandre Fioranelli, que
trabalhava em dois hospitais da rede em São Paulo; e Francisco Antônio
Barreira de Araújo que trabalha em um hospital da rede no Rio de Janeiro 8.
20. Não bastasse o evidente interesse e a influência nas indicações à ANS, a
Rede de Hospitais Star Rede D’Or possui interesse direto na decisão que o
CADE deve tomar sobre a venda da Amil, gigante do setor de saúde que está
sendo colocada à venda pela sua proprietária, a UnitedHealth. Conforme
analistas apontam, a Rede de Hospitais Star Rede D’Or é uma das principais
candidatas à aquisição da Amil, mas vai depender da decisão do CADE em
razão do impacto da referida aquisição na concentração do mercado9.
6
https://sistemas.anac.gov.br/aeronaves/cons_rab_resposta.asp?textMarca=PRRDD
7
https://veja.abril.com.br/coluna/radar/a-verdade-sobre-a-operacao-que-trouxe-o-medico-de-bolsonaro
-ao-brasil/
8
https://www.metropoles.com/colunas/guilherme-amado/planalto-escolhe-quatro-diretores-da-ans
9
https://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,rede-dor-e-familia-bueno-disputam-compra-do-co
ntrole-da-amil,70003949792;
https://oglobo.globo.com/economia/negocios/venda-da-amil-pode-gerar-ate-20-bi-para-unitedhealth-s
egundo-bofa-operacao-fracionada-o-mais-provavel-25357187
21. Diante disso, a falta de informações sobre o custeio das internações do
Presidente da República nos hospitais da Rede de Hospitais Star Rede D’Or,
bem como sobre o custeio do voo que trouxe seu médico das Bahamas para
o atendê-lo durante a última internação, demonstram mais do que falta de
transparência e indicam uma verdadeira situação de conflito de interesses,
com a subordinação do interesse público ao interesse privado, o que também
aponta para indícios da prática de improbidade administrativa, conforme
passaremos a expor.
2) DO DIREITO
22. A Constituição Federal prevê, em seu art. 37, que a Administração Pública,
direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, obedecerá aos princípios
da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência,
probidade, entre outros princípios.
23. Decorrência lógica do referido dispositivo é a subordinação de todo aquele
que ocupa um cargo público, independentemente do nível hierárquico, aos
referidos princípios.
24. Dessa forma, o agente público deve agir de acordo com as competências que
lhe foram legalmente atribuídas e observar os limites impostos pela
Constituição e pela legislação para perseguir os objetivos e finalidades
inerentes ao cargo que ocupa.
25. Não há dúvidas de que ao não prestar contas sobre o custeio da assistência
médica que recebeu junto à Rede de Hospitais Star Rede D’Or, o Presidente
da República violou o dispositivo constitucional mencionado acima, uma vez
que o mesmo obriga o agente público a assegurar a plena transparência dos
seus atos públicos, ressalvadas aquelas hipóteses de sigilo previstas de
forma restrita na em lei.
26. Apesar da referida ilegalidade, os fatos narrados apontam para algo muito
mais grave do que a falta de transparência na prestação de contas sobre os
serviços contratados junto à Rede de Hospitais Star Rede D’Or.
27. Conforme relatamos, a referida rede de hospitais possui uma série de
interesses nas decisões do Governo Federal e há indícios de que parte já
vem sendo efetivamente contempladas pelas decisões do Presidente da
República, como foi o caso da indicação de dois Diretores para a Agência
Nacional de Saúde Suplementar que possuíam vínculo direto com hospitais
da referida rede.
28. Trata-se de situação que aponta para fortes indícios da existência de conflito
de interesses e, consequentemente, da prática de improbidade
administrativa.
29. Segundo o disposto no artigo 3º, da Lei 12.813 de 16 de maio de 2013, o
conflito de interesses surge quando um interesse privado do agente público
pode influenciar, de forma indevida, o desempenho de sua função pública ou
comprometer o interesse coletivo.
30. Nesse sentido, o conflito de interesses, em suas várias formas de
configuração, deve ser prevenido no cotidiano de quem ocupa um cargo
público, pois, se não são adequadamente reconhecidos e controlados,
podem minar a integridade fundamental de servidores, lideranças e decisões
governamentais.
31. A norma responsável por estabelecer os parâmetros para a definição de
conflito de interesses, leciona em seu artigo 4º:
(...)
…………………………………………………………………………(Grifamos)
(...)
………………………………………………………….……………….(Grifamos)
33. A norma ainda deixa claro que a prática dos atos que configuram conflito
de interesses configuram improbidade administrativa e devem ser julgados de
acordo com o que dispõe a norma sobre o tema. Conforme dispõe o art. 12 da
referida norma:
“Art. 12. O agente público que praticar os atos previstos nos arts. 5º e 6º
desta Lei incorre em improbidade administrativa, na forma do art. 11, da Lei
no 8.429, de 2 de junho de 1992, quando não caracterizada qualquer das
condutas descritas nos arts. 9º e 10 daquela Lei.
…………………………………………………………………………..(Grifamos)
3) DOS PEDIDOS
39. Nossa Carta Magna dispõe, em seu artigo 127, sobre a atuação precípua e
essencial do Ministério Público, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica e do
Estado Democrático de Direito.
40. Nesse sentido, compete ao Ministério Público investigar e representar tais
interesses, solicitando ao Judiciário a adoção das medidas necessárias à sua
preservação.
IVAN VALENTE