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Filed, linguis. port, n. 13(0),p. 17-49, 2011. ISSN 1517-4530 Novos Caminhos da Linguistica Textual: reflexdes teéricas sobre o conceito de tradig6es discursivas e os estudos diacrénicos no portugués paulista a partir de alguns géneros impressos do século XIX e XX Maria Lica da Cunha Vietrio de Oliveira Andrade! Fabio Fernand Lin Kelly Cristina de Oiveita Paulo Roberto Goncalves Segundo! Rafa Baraeat Ribies! RESUMO: © presente antigo tem como objetivo discuti o conccto de trades discursivas © apresentat parte das pesquians uc vésn sendo deseavalvias pelos itegeantes do PHPP dentro do subprojeto “Fradigiesdiscursivas: constituigo e mucanga dos gineros nara pers pectiva ditcrnica” Palavras-chave:traigiesditcursvas eatas do Tenor noicss editorial nero disearsiv, ABSTRACT: ‘This puper sims to diseuss the concept oF discourse tadtions and ro show some oF the resarch being developed by members oF the subproject within PHIPP carted “Discourse trclitions: constitution and change of genre from a diachronie perspective” Keywords: discourse traditions; reades' letters; news editorial: discourse gences, Professors da Arca de Filologa © Lingua Prtuguess~ FFLCH-USP Coordenadora do Subgrapo Trader dcrsina: emule ¢ madam ds gineee dcr mama erpeis bacrinice. Femail maluvictorio@uolcom.com bt Pesquisa de ps dourorad da Arex de Flog e Tinga Portuguese ~ FELCHLUSP « holsst FAPESP (proc 09/5445.) T-mai: fabiofernando(@uolcom be Doutorada da Arca de Flog ¢ Lingus Portuguesa ~FLCH-USP ebokista CAPES. E-mail kelly _eistioa_ol(@yahoo.com be a1 Doutoranda da Area de Flologia Lingua Portugues USP c holssta CAPES. E-mail: paulosegund(@uol.com be 5 Mestrinda da Area de Filologia ¢ Lingua Pormguesa — FFLCHL-USP ¢ bolsista PAPESP (proc, 08/55873.1), E-mail raftla haracat gral com 18 ‘Maria Lica da. V. de O. A, Fabio F. Lima, Kelly C. de Oliveira eal Introdugao conccito de tradigdes discursivas, nascido no imbito da Lin- guistica Textual alemi ¢, de modo especial, dentro da Linguisti- ca Roménica, da suporte para investigar como se constituiram 6 textos que circulavam ¢ circulam através dos tempos, em diferentes esferas sociais, revelando priticas sGcio-histGricas de uso da lingua- gem. Recentemente, esse conecito vem sendo utilizado como suporte teéri- co-metodolégico pelos pesquisadores do Proto Histria do Portugués Panlsta c, de modo particular, pelos integrantes do subgrupo “Tradigies discursivas: constituigao © mudanga dos géncros discnrsivos numa perspectiva diacrinica”. Fortemente influenciados pela tradigio da escola de Eugenio Coseriv, os linguistas alemaes fundamentam-se na distingio de trés niveis do falar, ou seja, trés aspectos da atividade linguistica cuja diferenga ¢ considerada impres- cindivel para qualquer questio do estudo da linguagem. Trata-se da distingo entre o nivel universal de falar em geral (primeiro nivel), comum a todos os seres humanos; 0 segundo nivel € 0 historico, relativo as linguas como siste- ‘mas de significagio historicamente dados, atualizados; ¢,em terceito nivel, os textos ou discursos concretos A partir dessa perspectiva, o conceito de Tradigdes Discursivas (TD) foi proposto por Peter Koch (1997), depois foi retomado por Oesterreicher (1997, 2001, 2002) c, mais recentemente, foi tratado por Kabatek (2001, 2003 © 2006). Os autores consi apresentam regularidades discursivas ow formas textuais ja prod pela sociedade, em momentos anteriores, que permanceeram ou se modifica- ram 0 longo de sua existéncia, Hssas regularidades configuram, em linhas getais, a concepgao do que se denomina TD. cram que os textos sio portadores de tradigées, isto fdas Buscando situar as TD na teoria linguistica, com base na proposta de Coseriu (1988), Oesterreicher (2001) relaciona os diferentes niveis da lingua- gem com os conceitos de fala © esctita. Ao nite universal, corresponde o falar entendido em seu sentido geral, como “atividade universal gencricamente ‘humana’”, Nessa atividade, as priticas orais ¢ escrtas seguem as exi imediatez. ou da distincia commnicativas entre os falantes, que permitem iden- tificar diferentes TD tipicas da oralidade e da escrita rncias da Corresponde, por sua vez, a0 nie! bistro, a lingua instituida social ¢ sistematicamente. Para Ocsterreicher, nesse nih do falar de acordo com uma dada tradigio historica © as Winguas historieas 1 atividade J, encontram-s Nove: Caminbesda Linguistic Tea: reflabestiricss sobre o concrta de tragic discursivas. particulares com suas variedades faladas € escritas. Trata-se, portanto, da du- plicagao do nivel historico coseriano para o acréscimo das TD nesse plano (CE Kabatek, 2003, 2004) as TD abarcam os modelos tradicionais de realizagio dos géneros literitios € ituadas nese dominio, na visio de Ocsterscicher, fo literirios, bem como dos tipos textuais, na medida em que ax concebe como quaisquer produgdes comunicativas estabelecidas dentro de grandes dominios discursivos (técnico, filos6fico, teol6gico, militar, cientifico ete), de- terminadas por coordenadas hist6ricas ¢ sociai Finalmente, a0 nite/ individual, corresponde a concretizacio da fala ou da escrita em uma determinada situacio de produgao, isto falar propriamente dita ou, ainda, a atualizacao do discurso individual, a atividade do Considerando a relagio entre esses niveis da linguagem e as manifesta- Goes linguistics, faz-se necessério estabelecer uma diferenciagio entre a his- toricidade da lingua ¢ a historicidade da TD, pois, segundo Kabatck (2004: 160), no 6 consenso entre 0s romanistas alemies “sobre onde verdadcira- mente as TD devam ser alocadas na teoria da linguagem”, Hi uma corrente que postula a duplicacio dos trés niveis; contudo, a mais difundida inelui as TD no nivel hist6rico, enquanto a outra as enquadra no nivel individual ‘Ao passo que a historicidade das TD diz respeito as manifestagées culturais ¢ linguisticas/os textos coneretos que estabelecem uma relacio de tradi¢ao com modelos textuais anteriormente realizados, a historieidade da lingua refere-se @ histoticidade do proprio homem, na medida em que é um sujeito histérico pertencente a uma comunidade a qual sio difundidos valo- res, saberes € crengas ‘A lingua tem, por sua vez, cariter «-bistin, Hla cria © recria, numa sucesso infinita, atos que nao tém um principio delimit ‘TD tém cariter histéria, pois, como qualquer outra tradicao cultural, sio “delimitiveis no cixo temporal” (Kabatels, 2001: 103). Dada essa historicidade, Kabatek (2006: 512) entende por TD “a repe- tigi de um texto ou de uma forma textual ou de um modo particular de escrever ou falar que adquite valor de signo proprio”. © autor afiema que o falante escolhe, num primeiro momento, no acervo linguistico, formas de falar ou de eserever presentes na meméria cultural de uma sociedade, Em segnida, filtra sua producao linguistica por meio das TD que Ihe fornecerio o géncro discursivo adequado a0 seu propésito comunicativo. Kabatek esclare- ce que esse processo refere-se a qualquer finalidade comunicativa encapsulada rel, Por seu turno, as 19 20 ‘Maria Lica da. V. de O. A, Fabio F. Lima, Kelly C. de Oliveira eal em formas de expressio, tais como: saudag >, agradecimento, reclamacao, instauradas em quaisquer meios de comunicagio. Para o referido pesquisador, as TD podem adaptar-se, em principio, cem qualquer variedade, bem como dar origem a uma nova tradigio e ser accita ¢ adaptada pela comunidade, Nessa perspectiva, |] uma prtncta abotdagem podetia entender at TTD coma moxdos tradicio- rls de dizer as cosas, modos que podem ir desde uma formula simples até um géaero ou uma forma lterira complexa. Agora, precisamente por essa relagio entreas'TD cos géneros tem-se entendido em alguns tabalbos como sindnima « nocio de “TD com a de genet, Mas se Fosse assim, «pri termo’TD ao seria mais do queum substtuto para alg estudado 3 exaustio pla lingistica de texto (Kabatel, 2006: 509). Em outras palavras, podemos dizer que toda producio textual requer 0 conhecimento, por parte dos ususirios da lingua, de modelos de realizagies discursivas (orais ou escritas) anteriormente produzidos pela sociedade, de- nominados tradigier dscursivas. Tais modelos revelam a recorréncia a certas fFormalas, atos de fala, estlos, que estabclecem, na construcao de um texto ou discurso, uma relagio entre o momento atual ¢ a tradicao. ‘O estado desses modelos discursivos gerais, que guiam o discurso indi- vidual, parte da convergéacia entre os estudos da Pragmtica © da Linguistiea Histéitica, bem como de uma proposta de Anilise do Discurso realizada sob tum viés diacrénico, A relagio essencial entre o estudo pragmitico ¢ a diacronia linguistiea é cenfatizada por Brigitte Schlicben-Lange, em obra de 1983, onde apresenta a proposta de uma Pragmitica Héstinca, para ressaltar que 0 percurso hist6rico das linguas no € independente do percusso histérico dos textos e de seu contexto social. Do mesmo modo, Sehimidt-Riese (2002) procura delimitar os procedimentos metodolégicos de uma Anilise do Discurso realizada segun- do a perspectiva hist6rica, observando os textos a partir de uma perspectiva diacromica, Para Schmidt-Riese (2002: 15-17), no estudo dos textos hist6ricos, & preciso que scjam levadas em consideragio as rcalidades linguisticas ¢ nio- linguistieas. A proposta da autora tem por base a coneepeio te (1966, 1969), para quem o dissuso equivale as “eondigées do falar sobre enti- dades potencialmente, mas no necessariamente coinci znadas priticas sociais”, assim como as condiges e eircunstincias que subjazem ea de Foucault emtes com determi- Nove: Caminbesda Linguistic Tea: reflabestiricss sobre o concrta de tragic discursivas. fis mesmas priticas, consideradas segundo os diversos setores da atividade social Para além dos estuclos filoldgicos, & preciso levar em conta também a pesspectiva sociol6gica, segundo a qual o falar & uma atividade social relacio- nada & representacio da realidad, Nessa perspectiva, 20 considerar a docu- mentagio eserita preservada como disease istiricn, Scheidt-Riese observa a importincia das condigdes de produgio relativas ao contexto de época de cada documento. Os textos conservados pela escrita auxiliam na reconstruc do mo- mento histérico © permitem recuperar as formas de pensar de um petiodo a partir de sua producio textual (Brando, Andrade © Aquino, 2009). Tais as- pectos apontam para significativas contribuigdes que a Anilise do pode trazer is demais areas das ciéncias humanas, a partir da observagio € anilise atenta dos escritos de época. Cabe, dessa forma, destacar que © principio universal de existéncia de modelos discursivos é decorrente do fato de que as tradigdes discursivas sio srangferves de ume lingua para outea, conforme afiema Kabatck (2003). A in- teefeséncia entre as linguas permite a troca de aspectos discursivos € culturais, Ievando a processos de inovagio linguistica, na medida em que a adogao de novas tradighes discursivas (intereninia positing) implica novas criagbes lingvis- ticas, O pesquisador aponta ainda sobre a possibilidade de haver uma infeé- ‘enc negatva entse as linguas, na qual nfo ocorre adocio, mas sim auséncia ou rechago de elementos linguisticos. ‘Além de estarem relacionadas possibilidade de tansferéncia de ele- mentos discursivos entre as linguas, as tradigdes discursivas estao ligadas as questies de camania linistica e de intertectualidade, pelo fato de sex “mais ceo- némico repetir um esquema textual guardado na memoria que criar um texto totalmente novo” e porque, em todo modelo textual que se repete, & estabelecida “uma relagio entre 0 texto € outros textos jé ditos ou escritos” (Kabatck, 2008: 45). If preciso destacar que as TD, pertencentes a0 Ambito da linguagem, apresentam as mesmas caracteristicas que outra tradicao cultural qualquer, configurando-se a partir da relacao entre os sujitos histéricos ¢ © mundo no qual eles se inscrem ¢ constroem. Lissa perspectiva indica como aspectos sociocultarais ¢ linguisticos esto cntrelagados, pois se observa na sociedade, por um lado, que existem épocas da histéria que sio mais conservadoras quanto 21 22 ‘Maria Lica da. V. de O. A, Fabio F. Lima, Kelly C. de Oliveira eal 4 introdugao de novas tradi histéricos. Por outro lado, ha Gpocas que se mostram mais inovadoras ¢ revo- lucionétrias com relagio 4 adogio de um novo modelo textual, de acordo com Kabatek (2003) ‘Ao partir da concepeao de que os textos se organizam ¢ sto regidos por modelos tradicionais de realizagio discursiva, é preciso observar as carac- tcristieas fixas presentes na estruturagio formal dos textos. Tornacse neces- sirio considerar, portanto, a existincia de um conjunto de tracos estilisticos e cesquemas textuais convencionais que constituem os géneros discursivos. Todo texto cfetiva-se a partir da materializacio de um géncro discursivo ce segue as coergdes determinadas por esse género, para que a interagao possa ser estabclecida adequadamente, Hse process demanda 0 reconhecimento, © emprego € a transmissio de modelos discursivos a0 longo do tempo que permitem, portant, a manutengio de caracteristicas basicas, sem que se des- lades de adequagio aos contextos de cada mo- mento historico. se conjunto de tracos que sto transmitidos pelas sucessivas geragies de uswirios que falam escrevem (as éradiesdinarssas)cefinem a unidade € a especificidade dos géneros discursivos, mediante a utilizagio de conteidos temiticos © de esquemas textuais na esfera das superestruturas de organiza- «20 linguistico-discursivas que so pertinentes & configuracao contextual dos gineros. Segundo Gomes (2005), motivadas pelos fatores sOcio-histéricos, que estio presentes na base de toda e qualquer atividade interacional, as TD po- dem madar ao longo do tempo. Entretanto, clas so constituidas em fancio dda permanéncia de tragos que garantem a continuidade de um; ao longo da sua trajetéria, possibilitando 0 reconhecimento e a identificagio das formas veiculadas em diferentes épocas. nero discursive estudo do ginero discursivo torna-se mais rico mediante 0 eonkeci- mento dos processos de sua formacio histériea, da qual fazem parte da sua configuracio certas tradigdes que © constituem ao longo do tempo € que possibiltam a comunicacio cficicnte entre os individuos de uma determinada comunidade ou grupo social Assim, as pesquisas a respeito das TD revelam-se essenciais para os trabalhos de claboracio de carpora diaerdmicos de andlise lingustica e para a organizagio de tipologias textuais. Como observa Gomes (2005: 87), tas es- tudos possbilitam o estabelecimento de diversas relagSes entre os dominios Nove: Caminbesda Linguistic Tea: reflabestiricss sobre o concrta de tragic discursivas. textual (relativo a0 uso) € linguistico (relative ao sistema), bem como estio intimamente ligados a0 movimento hist6rico de mudanca linguistica. Nesse sentido, conforme evidenciam diversas pesquisas reeentemente desenvolvidas, principalmente no Ambito dos estudos da Romanistica alema, © estudo comparativo de documentos pertencentes a épocas distintas pode revelar a ocorréncia de mudancas no 86 gramaticais, como também mudan- «as discursivas, relacionadas & propria constituigio do génerto discussivo. Neste artigo, produzido por cinco pesquisadores do PHPP do subprojeto de'TD, tem-se como objetivo apresentar parte do que ven seado desenvolvido pelos integrantes do grupo no que se refere aos textos jornalis- ticos impressos. 1. Cartas do editor Em pesquisa realizada no Ambito do subgrupo referido neste artigo, realiza-se um estudo diacrdnico a respeito das cartas de editor* na imprensa panlista, representada por trésjornais dos séculos XIX e XX—O Farol Pauistano, Correio Paulistana © A Provincia de S. Paulo! Fistado de S. Pane, Nessa pesquisa, procede-se a uma verificagao dos clementos constitutivos ¢ das regularidades discursivas encontradas nese géncro ao longo do periodo em questo’. Para tanto, busca-se na coneepeio das TD © suporte para a analise dos tragos de permanéncia © dos indicios de mudanea na trajet6ria do género discursivo focalizado, Com isso, visa-se conteibuir para as quest6es elaciona- das & historia desse géncto jornalistico, cuja abordagem pode favorecer 0 es- tudo do género ¢ de suas marcas linguisticas na realizagio atual, conforme aponta Zavam (2009). Assim, nesta segao, sero destacadas as influéncias que © géncro carta do editor teria recebido de outros géneros produzidos no jornal, bem como do desenvolvimento social, econdmico ¢ teenolégico. Ao tratar do per- curso da midia impressa, os estudos de Rizzini (1968; 1988) apontam que a © Pesquisa de Rafacl Baracat Ribeiro (2011), iva Trudie derias e madalidade mo fer carta deel dejar pankls da sea XIX aii do kala XX, so onic da Profi, Dra. Mara Lica da Cunha Vietrio de Ovens Andrade neste item, pontos desenvolsidos na distersgio de mestade de Ribito, Alefendida em marco de 2011 23 24 ‘Maria Lica da. V. de O. A, Fabio F. Lima, Kelly C. de Oliveira eal carta’ serviu de base para as gazctas manuscritas ¢ 4 gazeta impressa, dada a sua circularidade, periodicidade ¢ informatividade. Devido a essas caracteris- tieas, o autor sustenta que a fungo das cartas era a mesma de um jornal, uma ‘vez que copias de cartas ¢ relat6rios oficiais garantiam a divulgacio dos assun- tos de dentro ¢ fora das comunidades onde esses textos circulavam. Mesmo com a eriagio da tipografia no século XY, até 0 fim do séeulo XVIII ainda acordo com Rizzini (1988), a correspondéncia, akém de propagar as novida- des, escapava da censura com mais faclidade. Desse modo, essas eats, pos: intensa a circulagio de cartas ¢ jornais manuscritos, pois, de teriormente A fase da gazeta manuscrita e na etapa impressa, passaram a ser reconhecidas como folbas solants, folbas arubas ou papéis de noticias. Decortido 0 processo de constimicio e estabelecimento do jornalis- ‘mo, particularmente, no século XIX, no Ambito da imprensa brasileira, cvi- dencia- {que os jornais eram feitos de artigos marcadamente opinativos, nao hhavendo uma separagio clara entre informagio ¢ opiniao, Desses artigos, des- tacam-se os chamados artigos de fundo” que apresentavam maior engajamen- to social que os demais textos do jornal, conforme aponta Bahia (1990), Segundo © autor, no periodo do Império ¢ da Primeira Replica, 0 artigo de fundo é “pesado, solene, eloquente como o discurso parlamentar e (..) geral- ‘mente ocupa o espago nobre da primeira pagina ou da terceita pagina” (p.100) "Tragos dessa linguagem veemente, incisiva € panfletiria do artigo de fundo também sio reconheciveis nas cartas de redator de O Feral Paulistano, 0 primeiro jornal impresso paulista. Na pesquisa mencionada, verifiea-se pela linguagem empregada que as cartas de redator desse jornal apresentam certo _grau de panfletagem, na medida em que elas sio constituidas por textos con- tundentes ¢ doutrindrios cuja fungio & satirizar, polemizar e denunciar figuras piiblicas ou acontecimentos de ordem social ¢ politica, ‘Ao passo que se observam as semelhangas entre um © outro aspect ‘TD sendo retomadas na configuracio dos generos. Assim, © conteiido politico, critico © contestador de fatos ocorridos na socic~ dos textos, verifiea- Para Baverman (2006: 83), a cart, em contextos especfcos, “parece sr um mio Alexie! ‘80 qual muitas das Fungics, rclagics © priticas institacionas poder se descnvolvce — tornado aowos wos socialmenteintigives, enquanto permite que a forma de cornu copia eartinhe een owas diregies” Texto que publica a opinio do jornal, podendo ser assinado ou no, Fguvale a0 edito- fia. (CF Prbolato, 1985) Nove: Caminbesda Linguistic Tea: reflabestiricss sobre o concrta de tragic discursivas. encontrado nio s6 nas cartas do redator do século XIX. O alto dade pode ‘gran de crticidade ja era caracteristico das cartas/folhas volantes e dos pan- fletos"” e pasquins", que, por sua vez, também teriam influenciado os artigos opinativos produzidos nos jornais. Considera-se que na produgao desses géneros (cartas, paniletos, artigos) exista uma confluéncia de TD, particularmente em relagio & finalidade diseur- siva na medida em que parecem partilhar de um mesmo propésito commnica- tivo, Isso se fandamenta na concepgio de que os géneros discursivos no so inovagies absolutas, conforme afirma Marcuschi (2002), mas apresentam an coragem em outros ja existentes |Além desses aspectos, destaca-se a influéncia do desenvolvimento his t6rico-teenol6gico nas priticas sociais, Para Zavam, (2009: 3), “uma mudanea nas condigdcs de produgio acarrcta incvitavelmente mudancas nos géncros”. Em fins do século XIX ¢ inicio do XX, ocorreram alteragdes signif imprensa, que passa de uma fase artesanal para uma fase industrial, cujos interesses institucionais passam a sobrepor as questées politico-partidarias intensificadas no jornalismo novecentista, Devido a consolidagio da nova ingprensa de near, “o editor brasileiro iio poderia escapar & evolugio empresasial” (ef, Belteio, 1980:49). Com a reformulacao técnica ea divisao industrial pela qual passa a redacao jornalistica, quando € iniciado o si io opinativa passa a ganhar especificidades que dario novas facetas aos textos produzidos nesse espago (C£. Bahia, 1990) Scgundo Bahia (2009), a partir das inovagdes realizadas na redagio jornalistica, ocorse a separacio definitiva entre a noticia € os textos opinati- ‘vos, sendo rescrvado um espaco priprio para apresentacio da opiniio © da linha ideoligica do posicionamento de um meio de comunicagio, Nesse pro- cesso, © autor cita a altcragio do artigo de fundo pelo editorial. sivas na gema dee editores, a Sem que se mude basicamente a natureza, dando-lhe, porém, outro cariter, “o editorial remove os vincos personalistas © agressivos procedentes 8 Tiscrito de pequena extensio, strc ov polémico em estilo veemente. O terme reve origem no inglés pump, o gual ac refere 20 nome popular de certa comédia Iatna de século XII, denominada Paaphils soe de Amore, euito coneca por eausa da peeso- ‘ager representatva de velha alovitira (cf. Macha, 1950), “Polheto de inguager Hare, aninguca, de peridlicdade incertae roor andoraso de ata ques pessoas” (f. Gomes, 207 7. 25 26 ‘Maria Lica da. V. de O. A, Fabio F. Lima, Kelly C. de Oliveira eal do artigo de fando, ¢ atenua 0 tom contundente para em seu lugar estabelecer padrdes de objetividade e racionalidadc. Um novo estilo © uma nova lingua- gem atualizam a opiniio com 0 editorial” (Bahia, 1990: 103-4). No curso des- se proceso de renovacio, o artigo de fundo, que teria herdado tragos do panfleto, porém retirando seus exageros, “lega ao editorial uma copiosa exemplar teadigo critica”, conforme sustenta o autor (id, ibdem, grifo nos: so). Na visio de Gomes (2007: 116), tradigio discursi uma mesma tradigio discursiva passando por etaps acordo com a autora, o editorial manifestava-se, n0 so varia 0 “nfo significa a passagem de uma outta, nio se trata de duas tradigdes discursivas, © sim de transformagio”. De ‘culo XIX, em um espa- Jonal de textos de apresentacio designados por: editorial de apresen- taco, artigo de apresentacio, prospeeto, introducio, ¢ de textos opinativos designados por: artigo editorial, artigo comunicado, carta do redator, artigo de fando, Embora reccbam designacies diferentes, parece que esses textos cumprem a mesma fungio social, conforme destaca a pesquisadora, Partindo do que a perspectiva das TD propde a respeito das mucangas, cros podem sofrer, isto é, das transformagies ocotridas a partir da ancoragem em gineros ja existentes ou de fendmenos externos que levam os géneros a distanciarem-se de suas raizes, acredita-se ser possivel tragar um paralclo entre os chamados artigos de fundo e as cartas de redator do século XIX, publicadas por O Fare Pantstano,¢ nelas, por sua vez, encontrar aspectos tipicos dos textos combativos ¢ panfletarios. Do mesmo modo, ao analisar alguns clementos textais em exemplares dos jornais Corrio Panlistano © O Fistado de S. Pando, entre eles as marcas de autoria institucional, entende-se ser que os possivel estabelecer relagies entre a carta do editor ¢ 0 editorial, evando em conta que a opinifio do editor correspond e representa aquela proposta pelo grupo institucional, pelos chefes de redacio, pelo conselho editorial (cf. Belizio, 1980: 19). Nesse sentido, a observagio dos elementos linguisticos que permane- ccem ¢/on se modificam ikustra a pertinéncia do conccito de TD para a anise ch constituigao dos géneros discursivos, bem como propicia perceber como cos géneros podem apresentar umm enraizamento cm outros ja existentes, pro- ceesso n0 qual se verifica “um duplo movimento: repeticio e mudanea, isto é, 1uma tensio entre aspectos que pesmanecem, os quais possibilitam reconhe- cer 0 ginero, ¢ aspectos variéveis, novos, determinados por novas conjunta- sas (.)” (Brando, 2008: 33-4), [Noves Caminbes da Linguistica Tena reflexes wicas sobre conceit de aligbesdiscursvas.. 27 2. Bditorial de jornal de bairro: A imprensa de bairro brasileira” ¢, dentro dela, especialmentea paulistana, vem crescendo e pluralizando-se de modo tinico desde a década de setenta, Seguindo a tendéncia de “desmassificagio dos meios” (MEYER, 2004; SANTANNA, 2008) que acomete a contemporancidade, relacionada a um des- Jocamento cada vex maior do consumo de informagies do fimbito macigo © global para o regional e especifico, as midias especializadas ¢ loeais, voltadas para paiblicos mais homogéncos, tiveram seu campo de atuagio c recepeio au- mentados, garantindo um espago mais amplo no mercado simbilic. A imprensa paulistana de bairro destaca-se no fimbito dos jornais lo- cais, Com tiragens que superam a faixa dos 5 milhdes de exemplares por més, contando com cerca de 60 periédicos filiados AJORB (Associacao de Jor- rnais e Revistas de Bairro de Sio Paulo) — 0 que exclui outros periédicos exis- tentes, ndo vineulados A associacio a imprensa de bairro da capital paulista consiste na imprensa regional mais ampla e plural do pais © uma das mais diversificadas do mundo, Segundo Peruzzo (2006), lo abordada pela grande imprensa, quanto em assuntos mais globais, anali- sados partir de uma perspectiva regional, de modo que o olhar local se torna justamente 0 nicho de mercado de tais veiculos. Nesse sentido, trata-se de empresas de comunicagio que visam ao hicro tanto quanto outros tipos de midia, nao podendo ser confundidas com a midia comunitiria, de gestao mais democritica e participativa, que envolve o cidadio cm si na constracio daqui- lo que sora veicalado no periédico, nao objetivando, em geral, o Incto. midia local foca tanto na temitica regional Dornelles (2000: 106), por sua vex, destaca que o periddico local repre~ senta “uma grande série de atividades, valores ¢ aspiragdes presentes na co- rmunidade e que nao so expressas na imprensa diatia. Ele forne de noticias especiieas para ajudar na adapracio as instituigdes e comodidades da vida urbana e interpretar, num contexto significative € afetivo, os aconteci- ‘mentos externos que sao importantes para a comunidade alvo”. eum fluxo ‘Tal cariter afetivo ¢ regional earacterizam um modelo diferenciado de imprensa, que atualiza padres ¢ regularidades discursivas, gencricas eestilisticas Pesquisa de Paulo Roberto Goncalves Segundo, intiulada Trades dcarsivas em elias deimprena pankdan debra sol ovientasao da Prof Dra. Maria Lia da Cunha Vietdtio the Oliveira Andrade 28 ‘Maria Lica da. V. de O. A, Fabio F. Lima, Kelly C. de Oliveira eal relativamente diferenciadas em relagao 4 grande imprensa, Nesse sentido, & possivel verficar, pela configuragio das TD, de que mancira os textos produ- zidos pela imprensa de bairro repercutem modelos alternativos de producio textual, em menor ou maior grau. A propria div assumida pelos diferentes periddicos colaboram com o proceso de jficagao de tinalos e a diferente identidade institucional alternatividade, de modo que hé jornais cujas produgies textuais assemelham- se fortemente As da grande imprensa, enquanto outros se afastam intensa- meate dos modelos hegeménicos. ‘A anilise dos editoriais produzidos por essa imprensa permite, tendo cem vista o fato de esse géncro representar a vor institucional do periddico, depreender tanto aquilo que a organi opiniao © comentario para sua comunidade lcitora assim como a imagem que pretende construir de seu engajamenco naquela regio, como um agent jo considera relevante como alvo de :mediasio entre o consumidor textual e os meios decis6rios do poder politico. Nesse sentido, a partir de um corpascomposto por [1B editorizis,coletados a parti de dois periodos histdricos distintos — 46, pertencentes ao periodo que corresponde, grosso modo, 4 ditadura militar; 72, concernentes a0 século XX1 foi possivel depreender trés grandes modelos identitétios de jornal na im- prensa de bairro paulistana, focando em suas prioridades ternitieas" 1. Grupo A (imprensa local de abordagem global): jornais que priorizam a anilise sociopolitica a partir do olhar avaliativo regional, Eim geral, a tematica sociopolitica predomina, com atualizag ticas regionais, de eventos significativos ¢ datas comemorativas com significa- do politico claro. Ne cotidianas ss decrescentes em termos de tema sntido, minimizam a abordagem de tematicas 2. Grupo B (imprensa local de abordagem especifica): periddicos que privilegiam a abordagem local, com anilises ¢ comentarios avaliativos accrea tanto de eventos sociopoliticos quanto cotidianos relevantes na regio duran- te dado period, sem ausentar-se, no entanto, de também analisar a conjunty- 1a sociopolitica mais ampla, 3. Grupo C (imprensa local de abordagem plural): veieulos de comuni- cagio regional que apresentam uma abordagem mais plural da realidad, abar- © Deve-se essalvar que tal categoriario nde prctende possurcatiter exautiva c englobat, incquvocamene,tolos os perialcos da imprcnsa loa paulistana Nove: Caminbesda Linguistic Tea: reflabestiricss sobre o concrta de tragic discursivas. cando temas cotidianos, sociopoliticos € regionais, ¢ valendo-se da constru- a0 de uma maior aproximacao entre leitor ¢ petiddico, exponencializando a tendéncia de desmassificagio dos meios “Tendo isso em vista, buscou-se analisar de que modo os editoriais cram estruturados pela imprensa de bairro, especialmente no que se refere & nego- ciagio intersubjetiva processada entre a produgio € © consumo textual, uma ‘wer que a rela como variiveis relacionadas a poder ¢ autoridade discursivos, apresentam-se ‘a0 de autoridade, credibilidadc, intimidade ¢ distanciamento, de modo bastante idiossincritico nessa modalidade de imprensa Assim, denominou-se modo de negaciasio intersubjetiva (MNI) os subpotenciais semintico-discursivos que instauram padrdes probabilisticos de recursos linguisticos corrclacionados 4 metafungao interpessoal (HALLIDAY; MATHLESSEN, 2004), responsivcis pela filtragio de potenci- ais escolhas do componente da avaliatividade, modalidade, envolvimento © cxortatividade, que, atuando de forma compésita, compoem ¢ atualizam TD", Nesse sentido, procura-se mostrar, nesse artigo, de que modo a pers- pectiva de TD permite depreender padroes de regularidades nos textos ¢ tam- bém no seio dos préprios géneros, procurando desvelar os agentes organizadores da dinamicidade acional do ponto de vista discussivo-textual. Destacam-se quatro grandes MNI no carpurem questo: 0 critico € 0 exortativo — mais proximos aos modelos hegemdnicos de editorial -, ¢ 0 exaltativo € 0 informative = situados em uma relagio de alternatividade no que se refere 20 modelo hegemdnico, Vejam-se alguns trechos de editoriais de cada um desses MNI*: a Octavio Frias de Oliveira, 0 eterno exemplo do empreendedor Hi pessoas que nascem pata mostrar ao mundo que todos os mo- mentos da vida existem, para que levemos adiante projetos ideais. Deve-se restltar que uma abondagern Hngustica das eeguardades que compictn urna “TD reget uma abordagem Funcionalista da inguagem e, dependendo dos objeivos do analsta, uma aproximacio com tcorias discursvas © socio AL jas Neste atin, a base DAY; MATHIESSEN, 2004; fancionalist consiste na sistémico-funciona MARTIN; WHITE, 2005) (Os textos foram transertos de modo Fel As pubeagies origins, Nes sss dessins em ruagao 8 norma cults sio de responsabilidad do periion sentido, even 29 30 ‘Maria Lica da. V. de O. A, Fabio F. Lima, Kelly C. de Oliveira eal Encontear pela frente um novo desafio Ihes serve para despettar mente em busea de solucdes inovadoras. ‘Tais seres humanos sao pioneiros devido a uma visio especial das possibilidades de um ou outro empreendimento, Para eles, 0s obsticu los sio degeaus que os fazem aleancar a reaizacio de seus panos ‘Tornam se onipresentes pelo exemplo que dio ao se dedicarem 20 trabalho, buscando a proximidade da perfeigdo, Nao se pteocupam lem exercer atividades diferenciadas, pois é isto que os impulsiona ¢ Ihes di, a cada dia, uma nova visao de vida. Octavio Frias de Oliveima provou ser uma dessas pessoas, que se ‘comprometeu em aleangar o sucesso, no 86 para seu priptio bem, mas também de todos que, de alguma forma, estivessem ligados a ele [) ‘Até a idade em que Octavio Frias de Oliveira faleceu, 94 anos, prova a saa tenacidade em relacio a vida e suas realizacdes sempre servitio de exemplo, no 86 para empresirios ou jornalistas, mas a todos os seres humanos que lutam para aleangar seus ideais, alo im portando quais sejam, nem a idade © nem quando irdo se sentir moti vvados a busci-los. Com sua liglo de vida, aprendemos que o essencial estar sempre em busca de novos horizontes, pois sempre hi algo ‘nove a set aleangadlo, (SP Norte, 04 a 10 de maio de 2007 — a? 257) Note-se como a vor. autoral inicia o texto tecendo uma série de avalia- .gbes positivas, inscritas ¢ invocadas, acerca de um tipo especifico de indivi- duo, posteriormente identifieado como 0 ator social Octavio Frias de Oliveira, falecido naquela época e editor da Fath de S. Paulo, Repare-se que he todo um conjunto de julgamentos que exaltam 0 ator social, numa postura landatéria da realidade. A construcio da imagem do editor & exemplar, de modo que este & construido como um modelo a scr seguido pelos consumidores textuais. Tra- eum exemplar da TD exatiatva, muito comum aos editoriais que cons- tiem o corpus do século XX, no contexto da ditadura militar, mas também presente — em miimero reduzido ~ no corpus do XX1 Nesse MNI, a vor. autora institui para siuma forma de autoridade bem. idiossincs‘tica, uma ve2 que se constréi como aquele que reconhece um mo- delo ¢, portanto, inferioriza-se em relagio a cle, mas, por outro lado, iguala-se aos demais consumidores textuais no papel de potenciais diseipulos, diferen- ciando-se apenas pelo seu papel divulgador. Por conseguinte, as inscrigies afetivas — como mfiadas — tendem a scr compattilhadas com os keitores por formas de primeira do plural — gprendemns que -, mas 0 reconhecimento da autoridade tende a ser marcado de forma impessoal, ressaltando a exclusivi- dade da divulgagao. Nove: Caminbesda Linguistic Tea: reflabestiricss sobre o concrta de tragic discursivas. 2 Os intociveis © “caso” Renan Calheitos aio mais surpreende depois de uma série de siruagies parecidas que vemos continuamente estampadas 0s dois ttimos anos. Se nio surpreende, causa desconfosto para um povo assustado com a violencia e destespeitado pela corrupcio. Por esta impunidlace enraizada na “Famlia” formada por alguns politicos, os culpados de hoje tornam-se as vitimas de amanhi. ‘As desculpas de sempre: [i a imprensa que os persegue; sio os tetroristas opositores do governo, aqucles, da outra Familia, que cxiam armadilhas aos inocentes e incautos parlamentares, acusadon injusta :mente, que sempre dizem ter provas de inocEncia; So os fatos, colo” ceados de forma negativa, que sio habilmente manipalados, mas, se susam do mesmo recurso, esto sendo estrategista politicos, geralmenre usando alguma causa social para vender sua protegio em defesa de seus cleitores, ..] (SP Norte, 29 de junho a 05 de jullho de 2007 — 1° 265) Note-se que, numa oposicio diametral a0 texto anterior, a vor autoral assume uma postura condenatiria da realidad tematizada, de modo que so as avaliagdes negativas que se destacam na caractetizagao dos eventos ¢ atores sociais. Sio especialmente os julgamentos de sancio social — ligados a étiea e honestidade ~ € 0s afetos negativos que sio atualizados como forma de con- vencer 0 consumidor textual de dado posicionamento autoral diante do tema, sempre de (cor resistente ‘Tais textos, vinculados 20 MNI erin, apresentam, em geral, uma alta densidade argumentativa, moderada atualizagao de recursos de envolvimento, como oralidade coneepeional, por exemplo, além de minima exortatividade, uma vez que & 0 convencimento 0 foco desta tradigio. Assim, o editorialista constrdi para si uma autoridade baseada no e0- nhecimento € no engajamento, uma ver que atua como um agente de demtin- cia acerca de dada realidade, divulgando-a para os consumidores textuais. Nesse sentido, como agente de deniincia, a vor autoral de; ‘gem de propricdade positiva, no sentido de que seus valores devem, em geral, idemtificar-se aos da comunidade leitora, a fim de que esta admita o editorialista como uma vor dotada de credibilidade, De fato, os textos artcos apresentam tum baixo nivel de polemicidade em relag2o ay valores pressupostamente construidos da comunidade leitora, vineular 31 32 ‘Maria Lica da. V. de O. A, Fabio F. Lima, Kelly C. de Oliveira eal @) Tnaugurado em setembro de 2004, o Parque da Juventude ainda & uuma das grandes novidades da regio. Com 240 mil me, este parque piblico retine quadras poliesportivas, playground, pista de Cooper, uma grande area verde ¢ instalagies destinadas a atividades de edu ceagio € cultura, A entrega de todo o complexo em etapas diferentes foi ampliando o leque de opgies dentre esport, lizere cultura para a regito, Mesmo assim, a maioria dos moradores da Zana Norte ainda no 0 conhece om Frequenta. se fato foi comprovado por uma pesquisa recentemente realiza dla pela administracao do pargue, que pretende aumentar a frequéncia| cde 90 mal pessous por més pata 150 mil até o préximo ano. Além da divulgacio das atividades ja realizadas, a administeagio aposta em 90 ‘vas patcerias e implementagoes para integear o Parque da Juventude i populagio. Entre as principais agdes, est prevista a construgio de wm ‘novo estacionamento com 300 vagas, sendo esta uma das cart mais evidentes do local ‘A frequéncia, ainda baixa, do Parque da Juventude pode estar liga da A recente histéria da Casa de Detengio, que durante déeadas foi uma referencia de fugas, rebelides e violencia com repercussio em todo o mundo, Para o morador da Zona Notte, € comum a lembranea da antiga Casa de Detengio ao passar pela Avenida Cruzeiro do Sul e sentir uma certa “surpresa” ao defrontar se com os pavilhies agora totalmente transformados em espacos para educagio cultura, Conhecer o Parque da Juvennude ow participar das atividades gra tuitas é uma das melhores opgdes da regio neste periodo de féxias. [| (A Gazeta da Zona Norte, 7 de julhio de 2007 — n° 2266) IE possivel observar que, diferente dos outros textos, vor autoral as- sume uma postura analitza da realidad, descrevendo 0 objeto tematizado — Parque da Jenentude — por meio de apreciagées, informando o leitor acerca da realidade do local ¢apresentando as prowiveis causas para sua baixa frequéncia © 05 planos da administragio para a melhoria do parque. \Niio hi julgamentos positivos ou negativos que construam um modelo ‘ou um anti-modelo, nfo ha condenagio ou louvor da realidade. A vor autoral conste6i-se como uma autoridade por eonhecimento, demonstrando seu enga- jamento com a regido € recomendando aos consumidores sociais a visitarem © parque, numa atitude exortativa, No entanto, nio ha clara vinculagio afetiva, alta inscri¢io de recursos de envolvimento ou mesmo julgamentos para que se possa vincular tal texto a uma tradigao exortativa, ‘Trata-sc apenas de uma exor- Nove: Caminbesda Linguistic Tea: reflabestiricss sobre o concrta de tragic discursivas. taco relacionada ao eixo da recomendagio, nfo visando a. uma mudanga subs- tancial do situs quo, Nese sentido, tem-se um texto de cariter informativ @ Ei nos chegados novamente A realidade das coisas. No domingo p. passado, em memorivel janta, ficaram definitiva mente encerradas as lutas dt Copa-74. Diver se que o Brasil fer “papelao”,¢ injuste, Quando alguém par te para uma germ, onde defenders os valores e as tradicies de sua Pitria, ainda que com 0 coracio sangeando, segue para vencer. Nie guém admite a derrota. [a] Preparer os para a Copa 78, quando em campos da Argentina, aqui mesmo na América do Sul, mostraremos 0s nossos valores ¢, A verdade € quea presenca dos nossos atletas que nos representaram li fora, nessa ultima mararona, deveremos mostrar Ihes © nosso fespeito € 0 0880 catinho, pois eles também, quetiam set vitotiosos e tudo fizeram para conseguir uma vitoria que alo quis sorrie para as nossas cores desta ver, Vamos em frente. A vitoria é dos fortes, & dos que luram com tanto ardor e desprendimento que sabem, em ultima instancia, tans formar em vitdria até mesmo uma dertora. (Correia da Zona Sul, 12 de Julho de 1974) «quem sabe? poderemos trazer deli o suspirado “caneco” Note-se que a vox autoral, no caso, constroi uma situacti problema, idemtificada com a derrota brasileira na Copa de 74. A tal situagio, atrela solu ces © comandos para que essa possa ser superada. Q tiltimo parigrafo apre- senta os comandos propriamente ditos, associados & preparacio para a Copa seguinte, a mostrar carinho ¢ respeito aos jogadores, a ir em frente, buscando persuadir a comunidade leitora a agir de modo receptivo em relagio aos joga- dores, utilizando de argumentos que reconhecem o esforgo da equipe € minimizam sua culpa diante do ocortido, utilizando inclusive de inserigées afetivas e primeiea pessoal do plural inclusiva para vincular-se 20 leitor, A nccessidade de vinculagio decorre do fato de a vor autoral precisar construir um tipo de autoridade diferenciada para conseguir exortar e persu- adi o leitor a agit de determinada mancira. A construgio da intimidade © © envolvimento, relacionados tagio, de modo que os recursos de eavolvimento consistem em formas estra- solidariedade, constituem premissas para a exor- tégicas para obtengao de tal adeso, Nesse sentido, tem-se uma autoridade de vivéncia e de proximidade, comum 2 muitos textos exortativos, que se basci- 33 34 ‘Maria Lica da. V. de O. A, Fabio F. Lima, Kelly C. de Oliveira eal am no estreitamento da rel cio interpessoal como forma de embasar os co- mando: possivel observar, portanto, que a concepeio de TD, aliada a uma teoria funcionalista, permite depreender os diferentes padres constitutivos dos géneros, atentando para sua dinamicidade interna ¢ para os diversos mo- dos de instauracio da negociagio intersubjetiva nos textos 3. Cartas do leitor As cartas do lcitor estio relacionadas a assuntos vividos pela sociedade da época ¢ noticiados nos jornais ou a aspectos pessoais. Dai a motivagao para ‘crever no jornal, tendo a possbilidade de o leitor publicar sua critica, opi- io ou pedido pessoal, O earpucsclecionado para entre os anos de 1828 e 1893, nos seguintes jornais paulistas: 0 Farol Paulictano, Dinio de S. Panlo, A Provincia de S. Palo, simacdo em que as cartas se efetivam esti revelado no proprio texto, Tal reve- Jaco nao se di de uma forma mecéinica, mas por meio de um relacionamento sistemético entre o meio social, de um lado e a organizacio funcional da lin- gua, de outro. Correia Paulstano”. © contexto de A carta do Icitor é um texto que circula no contexto jornalistico em segio fixa de jornais e revistas, denominada comumente de cartas, cartas & redacio, carta do leitos, painel do leitor, destinada & correspondéncia dos leito- res. B utilizada em situagao de auséncia de contato im destinatirio, que nao se conhecem (0 ketor € a equipe editorial do jornal ou da revista) visando a atender virios propésitos comunicativos: opinar, agradecer, reclamas, solicitar, elogias,crticar, entre outros. [ uma TD de dominio pibli- co, de cariter aberto, com o objetivo de divulgar seu conteddo e possibilitan- do a sua leitura a0 paiblico em geral iato entre remetente € Pesquisa de Maria Lica da Cunha VitGrio de Olivera Andcide, itu Trader dcr sins crkt da iter pbcadas em jas pants do shal XIX. inn ds shale XX, patio os: trabalho deservolvios dentro do PITPP. Material oanizado por Atliba Castlo, Marcelo Modolo, Marika de Otivera © Verena Kewitz, epublicado em: BARBOSA, A.c LOPES, C (o1gs). Critias, Qucrrmese Byalaes sus Improma sina de Steals XIX. Cartas de Lats, UERRJ/PAPERY, Ride Jancio: 2006, Nove: Caminbesda Linguistic Tea: reflabestiricss sobre o concrta de tragic discursivas. Na atualidade, as cartas do leitor so divulgadas em jomnaise revistas de grande circulagao ¢ tratam de noticias ou reportagens de temas de interesse nacional, publicadas ni pelos leitores, pois & de facil acesso, revela um contato, por parte deles, com os fatos importantes € recentes da sociedade ¢ est escrito em registro formal ou semicformal do Portugues. Sabemos que nem toda carta do letor € publicada. Segundo Melo (1999: 28.29), ha sempre uma triagem para a selegio das cartas a serem efetivamente publicadas e entre aquclas que sio sclecionadas para publicacio pode: haver ainda uma edicio, como ocorre normalmente nos Jornais Fulhe de S. Paulo, O Pitado de S. Paul, Jornal da ‘Tarde ou nas Revistas Vea ou Foc, por exemplo, Por sazdes de espago da segio ou por direcionamento angumentativo, a8 eartas po~ dem ser resumidas, parafraseadlas ou mesmo ter informag&es eliminadas. O que configura, segundo Bezerra (2002, p. 211), “uma carta com co-autoria: © kitor, de quem partiu © texto original, ¢ 0 jornalista, que 0 reformulon”, Entretanto, ‘nos jornais do final do século XIX nio é bem isso o que se vé. Na verdade, nos velculos de comunicagio, ou de solicitagées feitas jomais selecionados as eartas sio apresentadas integralmente ¢ versam sobre os ‘mais variados e distintos assuntos: pedidos, reclamagies, comentirios, busca de contato com parentes ow amigos, entre outros, Nas cartas selecionadas, encontsamos um excmplo significative em que Co escrevente faz uso da estrutura narrativa para contar um didlogo que ouvira, quando estava descansando na ponte do ferrio, entre um senhor portugues © tum estudante brasileiro, Esta earta foi publicada no Faro! Panlstano, em 15 de marco de 1828, Vejamos um pequeno trecho: ©) “Senhor Redactor ~ Depois de cesar um pouco essa abundanre chuva, que desde 0 anno passado tem caido todos os dias sem inter ‘upei0, quis ver o estado da varzea do Carmo, ¢ se com effete tinha- se conseguido 0 fim d'esgoti-la, dirigi-me até a chamada ponte do ferrio, que foi entulhada e vio péso das aguas, que no respeita eran. des barrciras (.)De volta sentei-mea descangar na ponte fraca e af estavio talver ao mesmo fim dois sugeitos, um dos quaes era um Portuguez velho, ¢ Brasileiro novo, (..) Logo que chepuei encetavio clles uma conversacio,e por me patecer interessante apenas voltei a casa tracteri descrevé-la para me nio esquecer, e suppondo que possa. aise a ai erste ev par gue ede 35 ‘Maria Lica da. V. de O. A, Fabio F. Lima, Kelly C. de Oliveira eal Jia carta selecionada no exemplo (6) ~ publicada no Correo Paalistano, em 22 de julho de 1895 - é construida com base na descricao de um individuo. Observemos: (© Rio Verde Ha mezes que appareceo nesta cidade um individuo alto, corcun, dla, espadatido, meio careca; ao longe parece com eorvo mestre © ou tos disem que com o abestruz © eu me incline para quaesquer das dduas aves Disem chamar se “Cruz”, este antigo pa. tibole de malfei tores, emfim pelo nome no se perea, Disem tambem ser amphibio, porem nio parece pela pelle; que & ‘ongam hoje e outeos que é Reaejo por ter manivela, Ja ouvi tracal-o de. ganso e doider Scisimado, mas nao sei se attende por esses nomes. O {qve sei é que ja fi uz, cojas bravatas existem em eattorio onde exerceo esse cargo, despachando em um inquerito onde disem, era indiciado & hoje € representante da so ciedade, ‘Sci mais que scisma soffrer dos pulmdes © nem as pedras 0 con. vencem do comteatio. No jury tem vor aflautada e as vezes parece sguincho de vehiculo de duas rodas, © me affirmam mesmo que toca Fauta c flautim, Pretende, havendo mudanga de situagio set nomeado juz de diteito le wma Comarca visinha, O sew ar é de bibo e por isso muito esquive, Advinheme quem € o biagraphado Rio Verd, 15 de Julho de 1893. JOAO CALDAS. (Os emunciadores das cartas sclecionadas em nosso corpus sto pessoas «que viver na cidade de Sao Paulo e procuram, através do jornal,atingit pro- pasitos bem especificos e variados. Dentre as cartas levantadas, destacamese: pedido; reclamagio; desabafo; comentario sobre matéria publicada, comenti- rio ou critica a politicos, sobre as escolas piiblicas, as condigées das estradas, iluminagao piblica, impeza urbana; biografias confissio, Em algumas correspondéncias © propésito é explicitado pelo enuncia- dor, apatccendo em posigao de destaque logo no inicio do texto. Com fre= incia, o objetivo da carta no éindicado tio claramente, devendo serinferido. ‘Vejam-se alguns exemplos: (7) Escola do Aruja Passando pela freguezia do Arujé, tive oceasiio de ve funeeionando a escola publica regida pelo senbur Caetano Nunes de ali Nove: Caminbesda Linguistic Tea: reflabestiricss sobre o concrta de tragic discursivas. Siqueita, ha pouco para ali removide, Tem o | distincto professor matricolados sessenta e tantos ahimnos em Ingar tio insignificante, que muito tém aproveitado, e de entre os quaes alguns ja estio bem adiantados, comquanto para a mesmna escola entrassem sem coaheci ‘mento algum das materias que ali se ensingo.(..) (Diario de Sio Paulo, 23 de maio de 1874) (8) A Companhia de Navegagio Paulista mbores Redactores. Li por duas vezes, no jornal de ws, recla mages sobre a isregularidade dos vapores desta companhia e da desconsideracio com que se trarava os Paulista, deixando de os avisar das transferencias por meio de annuncios, etc (.) (A Provincia de S Paulo, 12 de marco de 1875) Na carta, seqiiéncias narrativas, descrtivas, argumentativas convivem harmoniosamente, por isso, muitas veres, & dificil delimitar as porges de cada tipo textual, que se sueedem numa progressio/transigio quase imper- ceptivel. Cabe lembrar que o estudo dessa mescla dos tipos de estruturas tex- tuais nao pode ser desvinculado do estudo da organizacio tpiea. (tema de cada carta) Accarta de letor é sem diivida uma TD que foi se alterando conforme as transformagies tecnolégicas que 0 jornalismo e a sociedade foram rece- endo, Trata-se de uma correspondéneia em que diversas estruturas podem estar na base de sua composigao. Seu propésito, porém, é basicamente 0 ‘mesmo: set um meio ou canal de interagio entre os leitores ¢ o jornal em que € publicada com o propésito de manter um dilogo relativo as priticas sociais de seu tempo. 4. Noticiério Nesta segio, sio apresentados aspectos de uma pesquisa de pés-douto- ado! que assume, como objetivo, investigar, analisar ¢ deserever as estrata- ras responsaveis pelo estabelecimento das relagdes interpessoais © as interscegées destas com a persuasio no notickvio dos jornais paulistas acerca Pesquisa de pris-dourorado de Fabio Fernand ima, inctuadla Pera conta de oor ma mie ingress sabre atcha oe NIN, XN e ND), proceso PAPI'SP a” 09/54845.6, 38 ‘Maria Lica da. V. de O. A, Fabio F. Lima, Kelly C. de Oliveira eal das 's compreendidos entre os séculos XIX, XX € XI, observando al manifestagio de ideologias © a busca pelo estabelecimento de determinados consensos. Paralelamente, levando em consideracio a diacronia do género textual sob andlise, busca-se descrever sua evolugio, regularidades ¢ transfor mages, apresentando, assim, as TD do noticiatio nos jornais paulistas. De acordo com os objetivos que norteiam este artigo em particular, 0 segundo ponto destacado no parigrafo anterior, que se refere & descricao das “TD do noticiério nos jornais paulistas, ganhari primazia sobre o primeiro, No que concerne ao material selecionado para esta pesquisa, propria mente 0 noticiétio sobre as eleigdes, cumpre dizer, em primeiro lugar, que cemerge de uma mancira bastante dif sa, permeando outros géneros discursivos do jornalismo impresso. Paralelamente, obscrva-se que, desde as eleigiies ge- sais de 1889 para a Cémara dos Deputados, a tltima realizada sob o império, pasando pela Primeira Repiiblica (1889 a 1930), os jornais adotam uma de- terminada posigio partidaria na arena politica, ¢ a argumentagio estabclecida nesses materiais visa claramente a obter a adesio do leitor a este mesmo pon- to de vista Na realidade, tais publicagSes ecoam os anseios da aristocracia de Sio Paulo da época, a qual passa a se expandir para o campo empresatial e politi- co-administrativo. Como pano de fundo, a Revolugio Industrial ¢ a necessi- dade de 5 Imperial cm satisfazer esta ¢ outras demandas, mesmo apés a abolicio da criar novos mercados consumidores. A dificuldade do Governo ceseravatura, abre espaco para um consenso, na arstoceacia, acerea da necessi- dade de substituigio do governo monarquico por um governo Republicano (€F. Veloso © Madeira, 2000). 0 trecho destacado a seguir, retirado do jornal A Provincia de S' Palo, dia 2 de agosto de 1889, ¢ilustrativo da maneira como as eleigdes eram trata- das nos jornais paulistas ao longo deste periodo: (0) Monarchicos e Republicanos As inconsequencias dos monarchicos «falta de fé nas insttuigtes| © o apoio condicional que muitos Ihes prestam mais por conveniencias pessoaes que por julgal-as necessarias utcs, levaram 0 paiz a este estado de ineetteza, de perturbagao e de anarchia. "Tomemos para exemplo a provincia de S. Paulo onde os tees part dlos se batem com mais moralidade ¢ cordura que em algumas outras. Liberaes, conservadores e republicanos disputam cangos da represen Nove: Caminbesda Linguistic Tea: reflabestiricss sobre o concrta de tragic discursivas. taco nacional e apresentam candidatos pelos novesdistrctos, O exe: plo aqui & expressive. Os liberaes, tolos gowernistas,dividem se entre ‘tanto em federalistas com ou sem corda, guatcladas as reservas mentaes. segundo 2 educacio jesuitica, federalistas sem a verdadeita significa ‘80 do termo techaologia politic, aptos para apoiar todas as nuancas do liberalismo.Representam © primeito os candidatos do 1° ¢ 6” listrictos e o segundo, todos os dos outros distrietos. ‘Mas aquelles mesmos nio disseram ainda as claras, com a precisa Jealdad, 0 que pretendem, uma vez eleitos, O do primeiro embrulha se em certas conveniencias partidarias e por abi val aravessando como sum bom governista (.) 6 as candidaturas republicanas trazem a luz a esse cahos em que se debater os monarchicos. [Basta terem por programa a Republica para expsimir uma nova ‘ordem de cousas, um systema de Federagio, 0 unico possivel, confor me o pensar de politicos eminentes como os sts. Ferreira Vianna, Andrade Figueira, Mendes de Almeida e outros. |\ luta $6 péde ser collocada neste terreno: ou federacio com a Republica ou descentralizacio com a monarchia: de umn lado republ ceanos e do outro monarchistas. Deixa, potem, de ter rario de ser a diversidade de candllatos ¢ portanto legitimidace da candidatara do sustentador da monstruosi Presi er effeito sob a sua dade que é ruina da monarchia e de um erro que o illast dente do conselho esti obrigido a nao deixar de responsabilidade de real monacchista. Como republicano, sim, & exe. dlove aeceitar a federago porque $6 assim traduzii a vontade sobera nna da nagio consultada livremente, (APSP, 02/08/1889) As marcas do(s) enunciador(es) claramente delineadas, aliadas & expres so de um determinado posicionamento a respeito do tema, confere ao texto uma naturcza mais préxima dos editoriais contemporineos que do proprio noticiério. No entanto, a0 longo de todo 0 processo eleitoral para as cleigdes gorais de 31 de agosto de 1889, é assim que A Prosincia de S,Paulo noticia os eventos relacionados cleigdes, imiscuindo visivelmente, em todas as edi- Hes, a narrativa dos fatos noticiados e toda a sorte de argumentos”, No techo em destague, observamos uma primazia dos argumentos que Perelman © Olbrechts-Tyteca (1996) denominam “pragmiticos”, espe- cialmente do tipo causa ¢ efeito (por exemplo, ar inanseguencias das manarcheos © No que se refere aos tipos de argumentos tomamos por pressuposto, nesta peu, © inventirio das “sccnicas argumentativas” apresentado por Perelman ¢ Olbrechts: (1996). 40 ‘Maria Lica da. V. de O. A, Fabio F. Lima, Kelly C. de Oliveira eal (..) leraram 0 paig.a este estado de inert), imiscuidos & fandamentacio do real pelo recurso ao caso particular (fomemas para exemple A Provincia de S. Paul), denire outros ‘A esse tipo de texto, acrescente-se, no que se refere a cobertura das cleigies, a publicagao diria do Bolt Republiano, em que ora sio publicadas cartas dos lideres do Partido Republicano Paulista, ora apresentada a lista de candidatos do partido para as cleigdes, ou ainda noticiadas adesdes de poli- ticos ao mesmo partido. Neste dlkimo caso, é constantea descrigao enaltecedora dos fcitos destes homens ao longo de sua vida piblica Raramente, obscrvamsc breves relatos mais caractcristicos do proprio noticiétio, os quais, muitas vezes, fazem uso do argumento de autoridade, como 6 que segue: (10) As eleigées em Botucatu Pessoa criterioza,chegada de Borvcaty informa-nos que ha naquella localidade uma forga destacada com o fim de impedir que as eleigde dle 31 corram livremente ‘Sera hom © governo informar-se a respeito. (APSP, 22/08/1889) ‘Ao longo da Primeira Republica, é possivel perecber um direciona- mento maior do noticitio sobre as cleigées para o cixo narrativo, além de algumas alteragdes no campo de sua estruturacao, especialmente no que concerne a subdivisio em segdes pré-determinadas, embora a mesma liga¢io com os partidos politicos possa ser observada. Assim, no Correo Paulistana, além da publicagio ditia da secio “Eleigdes Federaes”, em que € apresentada alista de candidatos do Partido Republicano, acrescida da desctigao dos “va- lores” de cada um deles, so encontradas segdes separadas em que se obser- ‘vam narrativas de fatos, ora dedicadas a enaltccer a campanha ¢ apresentar asgumentos favoriveis ao candidato do Partido Republicano, Julio Prestes, (ora apresentando fatos © argumentos desfavoraveis ao candidato do Partido 0, Getilio Vargas. No easo de O Fistada de S. Paulo, também obser ‘vamos a predominincia do género narrativo, mas com o wits politico contri tio, Os exemplos scguintes sio ilustrativos dese periodo: Democrit

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