You are on page 1of 6
INTRODUCAO O HOMEM estd assistindo, nos dias em que vivemos, ao acelerado processo de deterioracdo das dreas coloniais, surgindo Para o mundo, desde a ultima guerra, novas na- goes e, por conseqiiéncia, wma nova composigéo de fércas no campo internacional. Esse processo, no entanto, é muito antigo: teve inicio com a Revolugdo Industrial e transfor- mou o cendrio americano, fazendo surgir as nacées que constituem o nosso continente. Qualquer estudioso sabe, por outro lado, que o processo de deterioracdo das dreas coloniais a que estamos assistindo difere, fundamental- mente, daquele de que resultou a composicdo atual da América. Hoje hd um. contetido revoluciondrio inequivoco nos movimentos pela emancipacgdo. Na fase histdrica em que o Brasil conquistou a Independéncia, néo havia, pelo menos necessariamente, tal contetido. Era possivel alcan- car a autonomia mantendo estrutura anterior de produgéo e moldando as instituigdes segundo impunha aquela es- trutura, EB que o colonialismo encontrava na independén- cia de determinadas dreas, que se constituiam em paises mas nao em nagées, no rigoroso sentido do térmo, um pro- longamento natural. Transformava-se, apenas: de politico, caracterizado pela subordinagdo a uma outra Grea, que era metropolitana, em econémico. Deixava a nacdo, ou as na- cées, que passavam a funcionar como metrépoles, de su- jeitar-se ao 6nus do dominio: as Greas coloniais, agora configuradas como auténomas, tinham liberdade formal no campo administrativo, podiam gerir o territdrio. O presente trabalho néo se ocupa da fase de decom- posigdo final do colonialismo, de que participamos, no 11 zi nos permitirg 7 ovilizacdo ae ara a autonomig 2 ot, prasil, oqronomia Pent. A linhas eit ute ieg * li m as Ui 3 Tr > site gnido-Os pareceran oo a Revolu, ag ais do 7 realiZ que jvro Intro 1 Tasiye, & mecetl ve mostrar os reflexos, no Pensa 52, agus de ideologia elaborada pela Cxpan sa, ents ratanse de yma partir do século XVI. Pei,” brasilet europeids eae marcantes, verifica-se gq nialiste vege escrito jos mitos e preconceitos prepeene sue ideologia, io. nclusive revestindo-se de “rend i oie ha pases naturaimenie 4, cias cientifir 5 naturalmente destinados a suborgintdoe a dirigir e De forma esquematica, éstes Configny 0s primeiros. de ‘produgdo industrial ampla, ¢ aqua uma estrutu e devem mesmo permanecer, como Orne es ermanecem j ias-primas ou de produtos alimenticiog nl dores de ma por condigées ecoldgicas ou €condmicas os etn ou ndéo estdo interessados em Produz; pve viedo natural — que corresponde divistio do ing. batho no campo, especializando-se as zonas Gograficas ng produgéo de determinados bens de consumo — resulta 4 colonialismo, Do colonialismo, a sua ideologia, A ideologia do colonialismo comeca a aparecer a expanséo européia se define nas descobertas ultramarj. nas. Adquire suas dimensées mais amplas, entretanto, quando, com a Revolugaéo Industrial, determinadas Greas do mundo, a americana principalmente, emancivam-se de i S paises. Mantida a estrutura colonial de produgdo, tais paises deixam de gra- ntigas, para gravitar ssim, que regulam o ‘avés da ideologia do Que > Nao quando Predestin, a Preparagé, am as nov 12 assistindo, nesta fase de decom sob novas condigées. A transplantacéo ii pea OD docdo! servil ae mode atte & 3 imitagdo, a cépia, como no campo artistico, deriva de tudo ines @outice como penetra a ideologia do coloniali oe oe dinados nao a escolhem por um ato de no Os povos subor- ralmente conduzidos a recebé-la porque ae meen tutes que justifica a supremacia de 1 ue es tified, internamente, a supremacia ae lonizadoras, jus- que se beneficiam da subordinacd asse ou das classes econdmicas externas Sees cence an forces ee 1s que a impoem. Um povo comeca a t o direito de repudiar a ideologia do coloniali q “pl em conseqiiéncia de transformacées anita eee ee u urais no campo da produgdo interna, a sua sociedade nao define como pre- dominante, ou absoluta em seu dominio, a classe interes sada na subordinagdo econémica, quando as fércas econé- micas internas passam a exigir um lugar ao sol, passam a disputar uma posicéo. A opcdo pela ideologia do colonia- lismo sé entdo é um ato de vontade — e quando isto acontece, tal ideologia, entra em crise e comeca a desmoralizar-se. i Procuramos, pela escolha das figuras e das obras estudadas, mostrar o processo de desenvolvimento da ideologia do colonialismo, no caso brasileiro, e nao fot por coincidéncia que enfileiramos um economista da fase final do processo de autonomia. politica, Azeredo Coutinho, um romancista do inicio da segunda metade do sé- culo XIX, José de Alencar, um. critico do fim do mesmo século, com uma obra publicada no ano da Abolicéo, Silvio. Romero, um ensaista do inicio do século XX, e indicava alteragéo na estru- quando a mudanca de regim i tura econémica e social, Euclides da Cunha, e um intérprete da terceira década do século atual, quando comecam a definir-se os rumos novos a que obedecera 0 Brasil, Oliveira Viana. Para Azeredo Coutinho, é justo que o Brasil permaneca vinculado e subordinado a ead gal, embora veja com clareza 0 sistema extorsivo A taxacdo e o énus em que importava a posigao vaca ey ria que a metrépole mantinha nos negocios. Para José posicdo das dreas coloniais. 13 o indio o que existe de stO yalorizar 0 negro. 1 . n : Aleite ir 10 fig ju Coutinh en, g jus” seria de Azeredo Coutinho, parg dept e erario masil € Portugal, que o econo, Jini, se, 97.5 entTe o dos Para Silvio mero, Séo ini esfors" iagae ia uni ges econdmicas 7 ciais, bee e 2d relag' jalista, particularmente TN inens© das Lonialist®, 5, Ss framgerermirserigdes Oe nos fins do século xix"* de is di resi screve ia do colonialismo, eo,’ © 4% iystas Onaga. ideologia ; > Omer, ju de ito da uigoes. Em Euclides dq cust drama do sertanejo, Verificang? brutal que recebem ag a enamente a causa ge) "* e§ - tenda plen pie ela, injustica | nao dee ideologia do colonialismo, aa azelas, | cen problema de raca. E Oliveing 4 pr to 7 ; osiarmente que tipifica, ndo apenas o que aquela iden. Viana, por ltl’ wiger, mas, € principalmente, 0 cinog, de yas int ende 0 logia WTade de que precisa langar mao para manter.se de falsi de agonia. sk fase . r tolerante para com A jaem sud | w tudo isso, Se ze~ B preciso, po er @ circunstancia em reda Coutinho, compreend aquela em que Euclides de trabalhou Silvio ve hwicdes com incompreensées, comp Cunha alternow i obra indianista de José de Alencar é mcare varactertsticas de uma época escravocraia, oan com Oliveira Viana, entretanto, nao € preciso tole. rancia alguma — o seu tempo lhe permitia _Situar e compreender melhor os problemas, —, éle realizou uma opcdo deliberada. Aquéles que, internamente, permitiram a vigéncia da ideologia do colonialismo, veiculando as suas teses e con- tribuindo para manter os seus preconceitos e absurdidades, comecaram por aceitar a Ppostulagéo externa, supondo-a universal, Aceitavam-na, inclusive, porque isso distinguia, isto 6, assinalava y déncia, que loco ‘ma qualificagao intelectual. Dai a ten- externos a se generalizou, @ copiar os modelos ntagik iteratura, em Politica, em economia. A el quent @ introduzir, em organismo tea Meena @0s organismos metropoli- ™0, configurava uma deformacdo 14 colonial, aqui; tanos e¢ il > Por nguir-se. Escrever, dar-se or Par sd ‘ma de qualificar-se o individuo~ oa id aristocratico que o talento ainda ~~ CONSETDG, Tu 2 & que é um ranco do colonialismo: A andlise da ideologi anes poderosa capacidade tae ee autores mais destacados d ue se Chie care Oe ee a © nosso passado, termina com Oliveira Viana, que a levou a marcantes e i 7 3 xctremos. Foi propositadamente deixada de parte a fase atual, quando oO imperialismo se apresenta com formulagées ja ‘diversas, perfeita e nitidamente encadeadas com as anteriores entre- tanto. Hoje, jd é dificil difundir teorias de superioridade de raga, de clima, de posigdo geogrdfica. A resisténcia que elas encontram cresceu de tal maneira que j4 perderam a efetividade, deixaram de ser titeis aos fins a que se destinavam. Tornou-se imperioso substitui-las por outras, particularmente no campo econémico. Dat _assistirmos, agora, & rdpida transicdo delas para novos disticos. Mas parece perfeitamente claro que os pregadores da inferiori- dade brasileira quanto a possibilidade de explorarmos as nossas riquezas com os nossos préprios recurso e em nosso proprio beneficio, os que acreditam e proclamam que sé podemos nos desenvolver com a “ajuda” estrangeira, os que confiam apenas nos capitais externos para fomentar 0 nosso progresso, sao herdeiros diretos daqueles que pre-, gavam a superioridade racial, a superioridade climdtica, a superioridade geografica, da parte dos paises dominantes. E a nossa conseqiiente inferioridade. Os pessimistas de hoje, que véem o Brasil “| beira do abismo”, os que nao acreditam em povo, os que sd confiam em elites, em pre- destinados, em bemaventurados, os que nos supoem con- denados a perdigéo econdmica, os que se ee S “desatinos” do nacionalismo, séo herdeiros naturais dos qu 15 que teve tio lo prasileiro, % incapacidade do Tragos de classe, que pre-~ guica d a todo um povo. ‘0. brasileiro. proclamavam a pre; izar brasileiro, a cobica da tendiam e pre! Bste livro é je mazelas, portanto, desti- nado a mostrar que, muito ao contrario do que supunham alguns dos nossos antigos homens de pensamento, Oo Brasil rande nacéo. Podia vir os, agora, apesar dos podia progredir e tornar-se uma g a ser aquilo de que nos aproximam tuais da agonizante esforgos internos dos portd-vozes ideologia do colonialismo.

You might also like