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as climatologialdt| a oe = o = wn wn oO = S = a oC 2 ; uw Sumario & Para que serve o estudo da Climatologia? ... 218 11 Climatologia e Meteorologia. 14 1.2. Clima e tempo sun — 18 Os climas mudam? .. 19 2.1 O movimento de rotacao 1° 2.2 O movimento de transla¢o.. 20 Por que a temperatura do ar diminui com @ altitude?. 3.1 Composicao da atmosfera 3.2 Aestrutura vertical da atmosfera....... Por que é mais quente na regido proxima 8 linha do equador? .. 34 41 Natureza da radiacao solar. 34 4.2 Distribuicdo da radiacao ai 4.3 Radiagdo terrestre a 4.4 Radiagio atmosiérica e efeito estufe 44 4.5. Balango de radiagl0 ne anrsaesns smn 4.6 Balanco de energia da Terr... Qual o mecanismo que faz a asa-delta voar? 5.1. Fatores que influenciam a distribuigso horizontal da temperatura dO Af.wnnuntunnnnnnnnnennnnnnnnninn 5 5.2. Distribuigo espacial de temperatura média do arno planeta Terra Por que a grama fica molhada ao amanhecer mesmo que nao chova? 6.1 Umidade relativa .... 6.2. Inversbes de temperatura 63. Orvalho 2 nevoeira . 64. O que provoca a condensaggo na atmostera? 65. Precipitaco wnnennnnn : 7 6.6 Tipos de chuvas... : 78 6.7. Distriouigso espacial da chuva na Terra : 80 E verdade que, na Cidade de La Paz, a agua ferve a 90°? 7.1 Ventos. : seeennencne "7.2 Efeito de rotacdo da Terra. 7.3. Efeito da fora centrifuga 7A. Efeito do atrito com a superficie 8 Qual a diferenga entre furacdes e tornados? . 8.1 Como se formam os furacdes? 8.2. Como se formam os tornados? Como so formados os desertos? 9.1 Acirculacdo atmosférica global 9.2. Célula de Walker. 10 O que séo as ressacas nas praias © quais fatores as originam? 10:1 As massas de ar 10.2 Frentes 10.3 © fenémeno das ressacas Consideracdes finais: uma breve discusso sobre o aquecimento global Referéncias bibliogréficas 1 — PARA QUE SERVE O ESTUDO DA CLIMATOLOGIA? g B Quando aprendemos algo sem saber o porqué, principalmente na escola ou na faculdade, costumamos atribuir esse “porque” ao fato de a disciplina ser uma obrigacdo académica, o que se torna, muitas vezes, apenas algo mais a ser memorizado e depois esquecido. Porém, quando conseguimos vincular aquilo que aprendemos & nossa realidade, o interesse no assunto cresce e, segundo Costella (2007, p. 50): “ao substituir esquemas jé construfdos por reflexdes e novas construcdes de conceitos, nés somos incentivados a desenvolver um pensamento auténo- mo que desperta 0 desafio e a satisfagio do saber que vem da construc”. De fato, ao estudarmos algo que é por nés vivenciado, stio muito maiores as chances de o aprendizado tornar-se mais consequente. Imagine, por exemplo, o modelo esquemitico da circulagao geral da atmos- fera mostrado na Fig. 1.1, assunto que demanda bastante abstracdo por parte de um estudante, pois ndo podemos olhar pela janela e identificar as células de circulagio atmosféricas (células de Hadley, Ferrel e Polar) da mesma forma que podemos distinguir as formas de relevo. ta Pla ala Fig. 1.1 Modelo esquemético simplifcado da crculacio geralda atmostera Fonte: adapraco de Luigens eTarbuck (1995). oo 4 & inant Memorizar os nomes, a posicSo dos centros planetarios de presso atmos- férica (alta polar, baixa subpolar, alta subtropical e baixa equatorial), células de circulagdo e ventos planetérios (ventos alisios, ventos de oeste e ventos polares) pode nfo ser téo dificil, mas certamente, algum tempo depois, ‘voce no se lembraré mais desses nomes. Ao contrério, se vocé conseguir compreender a génese e as caracteristicas da circulacdo geral e, mais tarde, sua relagio com a diferenciacdo das paisagens no planeta Terra, o que é algo concreto e faz parte da realidade, a probabilidade de vocé nao se esquecer do esquema é bem maior, ‘A forma escolhida para a abordagem dos assuntos de Climatologia neste livro adota essa perspectiva, isto é, procura mostrar aos que pretendem aprender nogdes bésicas de Climatologia que, apesar de complexos, os conceitos néo sio de dificil compreensio se conseguirmos langar mao de recursos didaticos que nos facam transpor a barreira da abstracao e nos aproximar da realidade. ‘Além disso, facilita ter consciéncia de que vivemos os fenémenos da Climato- ‘ogia todos os dias da nosse vida, por exemplo, ao passarmos frio pela manba e calor tarde, ao reclamarmos da roupa que néo seca no varal ou ao ficarmos _presos em um engarrafamento por causa da chuva torrencial do fim de tarde. 1.1 Climatologia e Meteorologia Ao longo da histéria da humanidade, pessoas que necessitavam de infor- ‘mages sobre o tempo e o clima foram acumulando conhecimentos praticos que permitiram compreender melhor como eles variavam. Isso ocorreu porque o homem aprendeu a observar 0 céu, os fendmenos meteorolégicos ‘e suas consequéncias, procurando as relacbes entre os fendmenos ¢ estabe- lecendo algumas leis. ‘Até algum tempo atris, o estudo do clima e do tempo era restrito aqueles que trabalhavam diretamente com 0 assunto ou aos interessados nas condicdes climéticas de um lugar pera onde visjariam de férias, por exemplo. Hoje, assuntos relacionados ao clima e ao tempo estio diariamente nas paginas dos jornais, na televisio e no cinema. Podemos dizer que, apés a difusdo do tema aquecimento global na midia, o assunto tornou-se to popular a ponto de permear as conversas cotidianas. Pasaquesenecrstuno on Camaro.ocn? 15 ‘de de precipitacao). A atuacao dos diversos fatores faz com que 0s elementos do clima, ou meteorolégicos, variem no tempo e no espaco, Alguns elementos meteorolégicos podem atuar também como fatores. A radiacdo solar, por exemplo, pode ser considerada tanto um elemen- to, por ser uma varidvel que quantifica a disponibilidade de energia solar na superficie terrestre, como um fator, por condicionar, por exemplo, a temperatura do ar, a pressio atmosférica e, indiretamente, outros elemen- tos meteorol6gicos Esses elementos e fatores do clima séo estudados tanto pela Meteorologig quanto pela Climatologia, porém existe uma diferenca entre elas. Costuma-se definir © intuito dessa breve explicagao deixar claro que, embora a Climatologia esteja vinculada & Meteorologia, as duas apresentam diferencas de aborda- gem, e que esta obra traz os fundamentos basicos da Climatologia enquanto fenémeno geogréfico. Da mesma forma, é importante esclarecer a diferen- ga entre os termos “tempo” e “clima", pois muitas confusdes conceituais so derivadas do erro recorrente de pensar que “tempo” seja a mesma coisa que ‘clima’. 1.2 Gimae tempo Certamente vocé jé passou por esta experiéncia: saiu para trabalhar pela manhi sentindo frio. Ao chegar a hora do almoco, vocé se desvencilhou de seu casaco, pois estava fazendo o maior calor. Mais tarde, um colega seu comentou que naquele dia o clima foi muito esquisito, pois de manha tinha feito frio e, a tarde, calor. Esse é s6 um exemplo de que as pessoas, em geral, no sabem a diferenca entre “tempo” e “clima’, Na grande maioria das vezes, observa-se que, no 16 cinatdeiattt Pode-se citar como exemplo um trecho de uma matéria jornalistica em que isso ocorreu: “Apesar de receiar [sic] as consequéncias do clima desértico [grifo nosso], © atleta Klesst Roberto ndo dispensou sua corrida didria no parque Sarah Kubitschek" (Baumgratz, 1988, p. 1). No trecho, percebe-se que a intenggo do articulista era dizer que, mesmo durante o perfodo seco em Brasilia (DF), 0 atleta treinava no parque da cidade. Onde se lé “clima desértico”, deveria ser utilizado o termo “tempo seco”, >, como seré visto no Cap. 6. | Por isso, acreditamos que a primeira coisa a ser esclarecida, quando se inicia o estudo da Climatologia, é a diferenca entre os termos “tempo” e “clima’, para que equivocos como o citado anteriormente deixem de acontecer. Para esses profissionais, o tempo & omo a iminente ocorréncia de ‘uma tempestade mostrada na Fig. 1.2. Jé no &mbito da Climatologia estudada como um ramo da Ciéncia Geogré- fica, a nogfo de “tempo” é mais vasta. Pa npo refere partindo da aceitacao dos pressupostos tedricos de Max Sorre, estudioso que criticou tradicionais conceitos de tempo e clima. Essa nocdo nos leva a adotar outro termo para designer o que entendemos ser 0 tempo atmosférico: a nogio de “tipos de tempe”. Um tipo de tempo ¢ édelaborde, 1970). Segundo Sorre (1951), em cada instante, a combinagio dos elementos meteo- rolégicos forma um conjunto original - 0 tempo -, e a sucessio dos tipos de tempo € regida por leis da meteorologia dinamica, das quais podemos extrair 0 conhecimento dos mecanismos da génese dos climas. ‘-Panaurscorsonexcunava F Fig, 1.2 Paro um dado local, estado da atmostera pode ser descrito em termos Instantaneos, defnindo uma condicdo atual. Nesse caso, condicéo atual é@ iminente ocorréncia de uma tempestade ares Eee eae no mapa de ma TREES a classificagdo de Arthur Strabler (Fig. 1.3). Entretanto, para o ge6grafo, considerar o clima como sendo o resultado de Jo em uma generalizag&o. Por isso, a definigao de O conceito de Sorre (1951) considera os estados da atmosfera em sua totali- dade, e néo inais o seu estado médio, englobando ‘soda a sériedesses estados @ 2 sucessao dos tipos de tempo, inclusive os tipos atipicos que sd sca rados pelas médias. Sant'Anna Neto (2001) chama atengio para o fato de que Sorre pretendia demonstrar que somente essa perspectiva poderia amparar uma andlise geogréfica do clima, interpretando seu dinamis- mo na dimenso da organizagio do espaco geogréfico e no cotidiano das " diferentes sociedades. _———————___ 18 Final , gz ‘Topical BB topcsemiio Bh vars Bh swrepctamie rig 13 staré ave oxi condoms do gests ara rl Osea tpes cin 72s demtiicados por Strahleremm 1951 possuem um grau de generalizacaoelevado\em relacto d grande textensdo dos terit6rios aos qual sa0 arbuidos 0 professor Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, geégrafo brasileiro, foi o | precursor da utilizacio do paradigma do “ritmo” ~ 0 “encadeamento, suces- sivo e continuo, dos estados atmosféricos suas articulacdes tendo em vista o retorno gos mesmos estados" (Sorre, 1951, p. 22) - nos estudos de clima no Brasil. Depois dele, muitos outros pesquisadores vém trabalhando com essa abordagem dentro da Geografia, Para aqueles que tiverem interesse em aprofundar-se no assunto, sugerimos a leitura de Monteiro (1999), Zavatint (2000) e Sant’Anna Neto (2003) ‘Agora que voct jé sabe que os termos “clima” e “tempo” nao sdo sindnimos, ‘ndo vai mais confundi-los e cometer 0 erro de afirmar, quando amanhe- cer chovendo e a chuva impedir sua ida ao clube, que o “clima’ naquele dia estava péssitho. 2-Os cumas muoam? & 19 m? Essa é uma pergunta recorrente entre as pessoas, print ‘palmente apés a divulgagao em massa de noticias a respeito de mudangas ‘cEméticas e aquecimento global. Ea resp¢ Os climas esta SRRORMSIBE'CLtia! mas sim inimeros tipoe, que, por sua ver criginamae relacdo funcional que existe entre a Terra eo Sol. a variagdo pode ocorrer a curto ou a longo prazo. Sendo assim, haveré ‘wariagio nos elementos meteorolégicos tanto a curto quanto a longo prazo. ‘Yamos iniciar 0 capitulo com os movimentos que determinam variagoes de ‘curto prazo, ou seja, os movimentos de rotacdo e translacéo da Terra. ‘Compreender com facilidade esses movimentos nao ¢ tarefa fécil, uma vez, que nos movimentamos com a Terra e temos @ impressdo de que ela esté parada. Muita observacao, deducao e comprovacao tiveram que ser feitas para que os movimentos da Terra hoje conhecidos fossem aceitos. Omovimento de rotacao sharnado de eixo terrestre ou eixo polar, que passa pelo seu centro de polo a polo (Fig. 2). Esse movimento ocorre de oeste para Teste em umn) Arotagio em torno de seu préprio eixo faz com que todas as partes do plane- ta Terra, exceto os polos, se movam em circulo ao redor do eixo terrestre, (@ horas = 15° por hora) é constante em um dado local. A razao pela qual ‘nao experimentamos sensagéo de movimento é a primeira Lei de Newton 20 sinatsiial {inércia), uma vez que estamos em cima de um sistema girante, a Terra, e nos deslocamos com ela. a superficie terrestre, que, por sua vez, faz com que qualquer local da Terra experi- mente uma variacdo didria em suas condicdes meteorolégicas, especialmen- te na temperatura do ar, na umidade fe nos ventos. Esse movimento nos dé Fig, 2.1.4 Terragira de oeste para este em um eixo de ‘mento aparente do Sol no sentido leste- rota¢ao que éinclinado em relacdo dverticalco plano ~oeste. dda ecliptca, em quese localzam 0 Solos planetas ° ‘Tomemos como exemplo a rotina diéria de uma pessoa que mora em Brasilia ¢ se desloca para o trabalho a pé. No miés de agosto, ao sair de casa, pela manha bem cedo, sente frio. Na hora do almoco, quando volta para casa, 0 Sol esta alto e ela sente calor. No fim do dia, 2 caminhada torna-se agradével, pois volta a esfriar. Essa variagéo na temperatura do ar foi regida, primariamente, pela incidéncia diferenciada de radiacdo solar ao longo do dia, Isso prova que sentimos as consequéncias da aa senses a . — 2.2. O movimento de translacéo ‘Ao mesmo tempo que a Terra realiza o movimento de rotacio, ela gira a0 érbita (nome dado 4 trajetoria dos planetas em torno do Sol) da Terra é completada em 365 dias, 5 horas € 48 minutos (aproximadamente um ano) tem, hoje, um formato oval, chamado de elipse. Nao devemos esquecer que 0 exo da Terra possui uma inelinagéo em relagéo & sua orbita m isto €, determina uma variacao nas condicées de tempo atmosférico ao longo de um ano. Essa variagio anual das condicdes meteo- rolégicas-também é facilmente percebida pelas pessoas, particularmente por quem vive fora dos trépicos. 2-Osamsmnn? F 2 AsFigs. 22¢23apresentam esquemas epresentativos do movimento de trans- ago da Terra com a mudanca no circulo de iluminagio solar e as estagées do ano sob a perspectiva dos polos Norte e Sul, respectivamente. Observe a incli- nagio e o paralelismo do eixo terrestre em relagdo & mudanca das estagdes. fa Terra (plano da O hemisfério Sul inclina-se para longe do Sol durante o nosso inverno e em direco ao Sol durante 0 nosso verio. Isso significa que o Angulo de eleva- do do Sol acima do horizonte, também conhecido como altura do Sol, para uma dada hora do dia, varia ao longo do ano. No hemisfério de verdo, as Fig. 2.2 “Vistace cima“da marcha das estagbes do.ano sob a perspectva do polo Norte Fonte: aclaptado de Trewartha e Hora (1968). 2 F inate Fig, 2.3 “Vista de cima" ce marcha das estegBes do ano soba perspectiva do polo Sul Fonte: edeptado de Trewartha eHHorn (1968). ccurtos ¢ hé menos radiacéo solar. Nos solsticios, 0 fotoperiodo, ou seja, o comprimento de um dia, é mais longo em um hemis- fério e mais curto no outro. Na linha do equador, o fotoperiodo é sempre de 12 horas. | 2-osamsmione F 2B ‘ico Polar Anco \ verdona hemi su Fig 2 Sb deve nema deiner ra heise Nor) —ocarenomalnerte sodia 21 ov 2/12 sendoesseo inicio do vero. Nea data, fetoperodo ¢ mals onge no hemsério Sul 2h] emai curta no hemisiro Norte 12h). Nalinhado equador fotoperiodo€ ual @T2h veraonofemisto Norte Fig. 25 oie denvene amis ae wrt hen Nere-ocare nome cia 22/5, endo ese oni do invem, Nessa data, foteperodo é mals longo no hemistéric Norte 12h) emai curio na hemi Sul (12h. Naina do equadorfotoperiodo€ ual T2h a 24 & inal as especiais nfo so fixas por causa ‘tos. As datas dos solsticios e equinécios variam de ano para is e dar dos anos bissex' ano pelo fato de o periodo de translacéo néo ser exatamente 365 dia origem aos anos bissextos. Call ico “Trp de Cer Fade “Wipe de Caprio Chel P nto Fig. 2.6 fequinécio de outono no hemistéro Su, sendo lequindcto de primavera no hemisteio Sul) énessa data o inicio da puimenera, Nessas dots, fotoperiodo é gual 12hem todas a latitudes do globo terestre Porém, existem variacées de longo prazo que nao podemos acompanhar e nem sentir os seus efeitos, Essas variagSes esto associadas @ outros pardmetros planetarios que serdo descritos 2 seguir. 2-Osamasmvoan? F 15 Como visto anteriormente, os movimentos de rotacdo e translacdo deter- minam uma variagao de insolagao (diria e anual, respectivamente) que 6 ). Isso porque \davia, so de grande importdncia para o entendimento das variacdes dos climas: embora pouco afetem o fluxo de energia solar que incide na superficie terrestre, mudam bastante a sua distribuicdo, o que exerce uma crucial influéncia sobre os controles climaticos do Planeta. Os parametros orbitais que vocé vai estudar agora se constituem em impor- tantes fatores que fazem com que as condigdes meteorol6gicas mudem com ‘tempo, porém no mais na escala didria e anual, e sim na escala de milha- res de anos, o que corresponde a uma variacdo natural de recebimento de energia solar de longo prazo. ma da 6rbita da Terra, variando de corresponde a natureza irregular da for 0.2 0,067 (Fig. 2.7). ‘anos. Essa mudanca, regular e previsivel, do formato da érbita da Terra, Maislipteo Fig, 2.7 Representacdo esquemdtica da excentrcidade da 6rbitaterestre ‘eaneiiorteszeetta,om sulazio. 20 planady Orbita (Fig, 2.8). Atualmente esse angulo ¢- de 23,5', mas pode variar de 21,5° a 24,5", _ com um ciclo de 40 a 41 mil anos (Aragio, for 2009) As variagées da obliquidade afetam os gradientes térmicos _latitudinais. fo do r e Fig. 2.8 Representagdo esquematica da obliquidede comrelacao aecliptica ‘Também equivale a uma variacdo natural do recebimento de energia em longo prazo. lembre-se de que a intersecio da ecliptica com o plano do equador é a dos equinécios. A intersecdo da linha dos equinécios com a ecliptica gera dois pontos, que correspondem ao equinécio de primavera e ao equinécio de outono. Embora as datas dos solsticios e dos equinécios sejam quase constantes a0 Jongo de uma vida humana, a orientago da inclinacao da Terra em relagao aos outros astros varia durante milénios. Isso ocorre em decorréncia da forca gravitacional do Sol e da Lua sobre a convexidade equatorial da Terra. Como consequéncia, a Terra oscila lentamente como se fosse um pido, fazendo com que os circulos polares desenhem um cone com um angulo de 23,5" no espaco (Fig. 2.9). Esse movimento, chamado de precesso, tem uma periodi- cidade de 19 mil a 23 mil anos. 0 movimento de precessao da Terra & conhecido também como precessao dos equinécios porque, por causa dele, os equinécios se deslocam ao longo raCeoamnacae F 7 da eclfptica no sentido de ir ao encon- tro do Sol, fazendo com que os dias dos equinécios acontecam, acada ano, ‘em momentos um pouco diferentes. 0 actimulo dessas diferencas se reflete nas mudangas nas datas da passagem do Sol pelas constelagdes. Fig, 2.9 Representardo esquematica da precessiio dos equinécios estard invertida e, em cerca de 21 mil anos, o ciclo se completara. Da mesma forma que 0s outros dois movimentos, esse também equivale a uma varia- do natural do recebimento de energia em longo prazo. Observa-se, assim, que os pardmetros orbitais descritos esto sempre se modificando: variam néo s6 a disténcia entre a Terra e o Sol, como também 2 inelinacao ei relag&o ao plano da ecliptica e a orientac&o no espaco do eixo x terrestre, Esses trés pardmetros obedecem a ciclos de periodos diferentes, eas mudancas descritas fazem com que haja variagdo na quantidade de energia que chega do Sol, o que causa resfriemento e aquecimento natural da Terra 28 & inatloel fre names mais dite Teams Sass a outros fenémenos, como os ciclos de manchas solares (Leroux, 2010) € as modificagdes na composicio da atmosfera terrestre, desencadeiam glacia- Ges, interglaciagdes ¢ mudanca nos climas. mudarplaggptumalinerte. Essas variagdes afetam de modo complexo as trocas de calor entre as varias latitudes, assim como a circulacdo geral da atmosfera, que, como veremos ‘no Cap. 9, é primordial para a dinémica do tempo e do clima na Terra. ar 3 — POR QUE A TEMPERATURA DO AR DIMINUI COM A ALTITUDE? 4 29 Certa vez um aluno fez a seguinte pergunta: se 0 topo de uma montanha esté mais perto do Sol do que a sua base, entéo por que faz mais frio no alto das montanhas do que 20 nivel do mar? Bem, para responder a essa pergun- ta, primeiro é necessério conhecer a atmosfera para, depois, estudar como ela € aquecida. ‘tos. Ela possui importéncia inegével quando tratamos da sua interagao com — eaaubrnpntiran darterias 3.1 Composicéo da atmosfera Entre os gases que entram na composigo da fina camada da atmosfera, destacam-se jo, 0 oxigéni e te jumes aco de a térmica. A quantida- de de vapor d'égua pode variar de muito pouca, em regides aridas, até cerca de 3 a 4% (Ayoade, 1986) da massa total da atmosfera, na regiéo tropical, onde é gerada a maior parte da chuva na Terra. (GageNuMRMERUSEERRY. Gove phn forma-co ecb infincia Go faxo de radiacao ultravioleta (UV), que é maior nas regides equatoriais. Na presenca da UV, as moléculas do gés oxigénio se rompem (0 + 6 + 6), e os dtomos separados se combinam entre si, formando 0 ozénio (0 + 02 + 02). Como 0 fluo de UV é pequeno nas regides de latitudes altas por causa do Angulo solar, hd pouca formagao de 03 nessas latitudes. Entretanto, o trans- porte de 03 pelos ventos estratosféricos faz com que as concentragées de 03 sejam maiores nessas latitudes do que nas tropicais, 0 diéxido de carbono (CO;) tem origem principalmente pela ago bioquimica 30 Final Outros gases fazem parte da composigéo da atmosfera, mas o nitrogénio, © oxigénio € 0 argénio compéem praticamente a totalidade da atmosfera, como mostra a Tab. 3.1. Tab. 3.1 Composicao média da atmosfera seca abaixo de 25 km a temperatura de 15°C e presséo de 101325 Pa Simbolo Volume (%) No 78,084 (=78) “Oxigenio Oz 20,9476 (=21) Argéri Ar 0934) “Didxidode carbono Op __ 0.0314 variével) Nednio Ne oooisis Hallo He 0.000524 Ozéni0 03 (00006 Hidrogénio He 0.00005 Cripténio Kr 0.000114 Xenénio Xe 0,0000087 Metano CHa 0002 Fonte: Lide 2008). Além dos gases relacionados na Tab 3.1, © ar atmosférico sempre contém vapor agua, variando sua quantidade conforme a temperatura, regido, estacéo do ano etc. Esse vapor mistura-se com o ar atmosféi coe passa a fazer parte de sua composicao. Tambémhé quantidades varidveisdeaeros- s6is na atmosfera. Aerosséis sao partictlas "é_ Tao importante quanto conhecermos a composicéo da atmosfera é termos em mente que a presenca desses gases possui uma fungao. Veremos no cap. 4 que os gases presentes na atmosfera e as nuvens promovem uma atenuagéo da energia que vern do Sol em direcao ao nosso planeta. 3.2 Aestrutura vertical da atmosfera Esta seco trata das caracteristicas gerais da atmosfera na sua extensio vertical com relacao aos padrées de temperatura, press4o e composicao. 3-Porcuea renrunano mous con aautmuoe? 4 31 0 Temperatura (0) Fig. 3.1 Perfil vertical da atmosfera, de acordo com as mucancas da temperature do vapor d’agua e dos aerosséis. E é em funcdo da presence que esta é consi ienida CE 1 a camada da atmosfera que estabelece as condi- Ges do tempo, sendo de importdncia direta ao homem e outros seres vivos. ‘Também é conhecida como atmosfera geografica. ‘Nessa camada, a temperatura do ar diminui com a altitude porque oar absor- solar. Um grande porcentual da energia emitida pelo Sol é rvido pela superficie terrestre antes de ser repassado para a atmosfer no 0 ar no é um bom condutor de calor, a temperatura cai conforme nos O limite superior da troposfera é denominado tropopausa. Caracteriza-se pela condigao de inversao térmica, 0 que limita as atividades do tempo ausa é a “tampa” da troposfera. A altura da tropopausa varia de acordo com a temperatura, 0 lugar € a época do ano, mas observa-se que sua altitude é mais elevada no equador, aproximada- 32 & cinasietcl vy, 0 em um forte aquecimento de sua parte superior. Lembre-se de que a maior concentragao de ozénio encontra-se em torno de 25 km, embora o oz6nio seja formado entre 40 e 50 km. £ na estratosfera que se localiza a chamada camada de ozénio. A estratosfera contém pouco ou nenhum vapor d’agua, e nela hé ocorréncia marcante de mudancas sazonais, provavelmente ligadas as mudancas de temperatura e & circulagdo na troposfera. O limite superior dessa camada é denominado estratopausa, evidenciada por uma inversio de temperatura, A atmosfera superior ainda é pouco explorada, se comparada & atmosfera inferior. Localiza-se a partir da estratopausa até onde a atmosfera terrestre se funde com a atmosfera solar (ou heliosfera). Geralmente séo reconhecidas as camadas denominadas de mesosfera, termosfera ¢ exosfera. ago (i éculas e étomos provocada pela radiacao), Nessa camada, a atmosfera é muito rarefeita, jé que a densidade do ar é muito baixa. é forteme! a pe da uma velocidade de até 2 milhées de km/h (Time Life Abril Colegées, 1995) e formam uma nuvem de plasma, conhecida como “vento solar”. Quando 0 3-Poraveaeezarune co axowinas coma ssrnune? 33 vento solar se aproxima da Terra, as particula slo capturadas pelo campo Elas descrevem trajetérias espiraladas ao longo das linhas do campo magnético da Terra, movendo-se para a frente e para tras, entre os polos magnéticos sul e norte. Esses elétrons e protons aprisiona- A termosfera nao possui limite superior definido. Ela vai se misturando gradualmente com a regio conhecida como exosfera, parte exterior da atmosfera e muito ténue, que vai desaparecendo aos poucos na heliosfera. ‘Acomposicao da atmosfera também varia com a altitude, mantendo a razio de mistura dos gases uniforme com a altura. No capitulo seguinte, veremos como a atmosfera influencia a génese dos 34 g 4 — Por QUE E MAIS QUENTE NA REGIAO PROXIMA A LINHA DO EQUADOR? Pense em uma cena tipica de inverno, Para muitos, a primeira coisa que vem € cabeca sao criancas fazendo bonecos de neve nas cidades frias de paises do hemisfério Norte. Porém, em certas regides proximas da linha do equador, ;maginar essa cena ndo épossivel pos oimverno équene. Na verdade,aregiap > Em decorréncla da distrimuigéo desigual de terras e oceanos nas dis hemisférios, 0 equador térmico nao coincide exatamente com 0 geogrifico, mas apresenta posicao média a cerca de 5° de latitude norte, Nessa regio, néo se registra sazonalidade térmica, ou seja, o calor é permanente. Essa diferenca climética tem uma explicagao astronémica que esté relacionada & incidéncia de radiaco solar na Terra. Vamos ver como isso funciona, © Sol é a ‘nica fonte importante de energia para a atmosfera terrestre. As outras estrelas também irradiam energia, porém estio muito longe para afetar a Terra. Compreender o papel da radiacao solar na diferenciacao climatica do Planeta requer que vocé compreenda trés pontos fundamentais: a natureza da energia emitida pelo Sol; o efeito da radiagio solar no siste- ma Terra-atmosfera; e as mudancas que a radiacdo solar sofre ao atravessar a.atmosfera. 4.1. Natureza da radiacéo solar aquecimento do ar e para a dinamica dos ecossistemas. Essa energia é um tipo de radiagio eletromagnética (REM). Entende-se por repetiggo da onda, 6 OU OS cavados sucessivos da onda (1), que pode ser medida em micrémetros (um) (1 4 Ponauce ns cLeNTE NAREGHO PMMA ALMA DoEcUCON? 35 e Comprimento deonéa isa Caio Fig. 4:1 Coracteristicas de uma onda eletromagnética © espectro eletromagnético é continuo. Tem inicio com as ondas de menor comprimento de onda, como os raios gama, e termina com aquelas de maior comprimento de onda, como as de radio e TV. Cada faixa do espectro rir 300 30 300 / pa Figs 4.2 Espectroeletromagnetico com oespecto daradiocdo sola em destaque Fonte: adaptado de Ferrel (2006) 36 & climes recebe nomes diferentes em fungio de sua utilidade e seus efeitos. Nossos olhes detectam uma pequena faixa do espectro eletromagnético chamada de faixa do visivel, enquanto sentimos outra parte do espectro em forma de calor. Essa parte é conhecida como radiacao infravermelha. rta, Por ser um corpo extremamente quente, 0 Sol emite radiaco em comprimentos de onda menores que 4 ym. Assim, convencionou-se dizer que 0 Sol emite radiacao em ondas curtas £ importante ressaltar que nao hé limites rfgidos entre as cores. A transi¢ao entre cores vizinhas ocorre de maneira gradual, como se pode verificar em a um arco-fris, 4~Por ave nas aver waecto acim Aunnia oocaunoon? 37 materializagdo da esfericidade da Terra. O fluxo de radiacao solar recebida depende da altura do Sol {éngulo formado entre o raio solar incidente ¢ a superficie horizontal local). Como a Terra é curva, a altura do Sol varia com a latitude, como mostra a Fig. 4.3. Fig. 4.3 Variagdo da altura do Sol com a latitude. Quanto maior 0 angulo formado entre raio solar Incidente ea superficie horizontal, maior a concentracdo de energia Em primeiro lugar, a altura do Sol, com relagio ao horizonte, influencia de duas formas’o fluxo da radiacdo solar (quantidade de energia que atinge uma érea unitéria por unidade de tempo, medida em Wim?) quanto maior a altura do Sol, tanto mais concentrada seré a intensidade da radiacao por unidade de érea (fluxo), conforme a Fig, 44; e quanto menor a altura solar, mais espalhada e menos intensa seré a radiacdo (Fig. 4.5). A altura do Sol __diminui com a latitude por causa da forma esférica da Terra. 38 & inayat _ ne Ang deinen 91) ince (0) Smee 7 ‘reada suprise Arend sperice Fig. 4.4 Variogdes na alturado Sol causam variagBes Fig. 4.5 Quanto menor a altura do Sol, como nos ‘no fluxode energia solar que atingea Terra.Quanto polos, mais espalhaca e menos intensa é.aradiagéo ‘matora altura, como.na linha do equador, maiora ‘energiarecebide, ou seja, quando 0s raiossolares otin- ‘gerva Terra verticalmente eles sd mais concentrados Em segundo lugar, a altura do Sol influencia a interacdo da radiacdo solar com a atmosfera. Trataremos dessa questo mais a frente. do local. Ela varia com a latitude ¢ com a estacao do ano. No equador, dias e noites tém duragio quase igual durante o ano. A durago do dia aumenta ou diminui com a latitude, dependendo da estagio. escuras surgem e pra 11 anos (Leroux, 2010). 0 re vel de a 4~Por aut nas Queue NA cto Pro Aun DO EaUNDOA? B39 Os fatores descritos anteriormente produzem um padrao de recebimento de energia solar. Porém, esse padrao é alterado sobre a superficie terrestre em razio da presenga da atmosfera terrestre. (também ra, tais como as moléculas dos gases ¢ impurezes. as direcées. A radiacao solar que é espalhada chama-se radiagio difusa e & responsével pela claridade do céu durante 0 dia e pela iluminagao de areas que nio recebem iluminacéo direta do Sol. da radiagao solar esta contida na faixa espectral do visfvel, e como a luz azul tem comprimento de onda menor que a luz vermelha, aquela é mais, espalhada que esta, Assim, o cfu, longe do disco do Sol, parece teracor azul; Ao observarmos o espectro da luz visivel, verificamos que a luz violeta tem ‘um comprimento de onda menor que o da luz azul. Partindo do principio de que as moléculas da atmosfera difundem melhor as ondas com pequenos ‘comprimentos de onda, & inant (1999), a resposta esté no fato de que a energia contida na faixa do violeta é muito menor que a contida na faixa do azul, e porque oolho humano é muito mais sensivel & luz azul do que a luz violeta. Vocé conhece 0 dito popular “pér do sol avermelhado é sinal de bom tempo no dia seguinte’? Segundo Maia e Maia (2010), os ditos populares relacio- nados a previsdo do tempo e do clima frutos de observacao empirica e repassados de geracdo para geracdo, Muitas vezes sao comprovados cientifi- camente, como é 0 caso do que se refere ao por do sol avermelhado A explicacéo é simples: quando o Sol se aproxima do horizonte (na aurora’ @ no crepiisculo), a radiacao solar tem de atravessar um caminho maior da atmosfera e colide, na sua parte mais baixa, com obstéculos como poeit pequenos cristais de sal e poluicéo. Essas particulas espalham as feixas’™ das luzes laranja e vermelha, avermelhando gradativamente o horizonté” (embora o resto do céu continue azul). Esse fendmeno pode ser bem observado em condigées de inverno, nas quais a inversao térmica de subsidéncia (assunto tratado no Cap. 6) retém a poeira ea poluicdo do ar perto da superficie, o que torna o por do sol ainda mais vermelho™ que habitual, como 6 o caso da Fig. 46. Como o inverno, principalmente na Regifio Centro-Oeste do Brasil, é caracterizado por um perfodo de seca, podemos dizer que esse dito popular é verdadeiro, pois o tempo do seguinte um pér do sol vermelho frequentemente é de céu claro, ou seja, tempo bom. (Quando a radiagSo 6 espalhada por particulss cujos raios se aproximam off ‘excedem em aproximadamente até oito vezes 0 comprimento de onda da ™ radiacZo, o espalhamento ndo depende do comprimento de onda. A radiaca 6 espalhada igualmente em todos os comprimentos de onda. Particulas que Foto: Valdir A. Steinke Fig. 4.6 Por do sol emum dia de nverno de 1999, em Brasilia (OF) 4— Pon cute uns auare narecito moun sine cocaunoon? B41 éssit ’e acordo com McKnight « Hos (2002), umm simples exemplo dese principio & a existncia de neve ‘Vimos que 0 fluxo de radiagao incidente sobre 0 topo da atmosfera da Terra nao é simétrico e depende de trés fatores: latitude, periodo do ano e perfodo do die. Lembremos que a altura do Sol influencia a interagao da radiagdo solar com a atmosfera, Sea altura do Sol decresce, 0 percurso dos ros solares 3 Radiacao terrestre Aradiagao solar atinge a superficie terrestre de forma desigual, dependen- do da latitude, dia do ano, duragio e hora do dia. Ao atingir a superficie terrestre, a radiago solar, dependendo das caracterfsticas da superf{- cie e do Angulo de incidéncia do raio solar, sera mais absorvida ou mais refletida. ad fet " “acordo com as propriedades do objeto e é dado em valor porcentual, de 0a 2 & cincoatsi Tamanho ds atmos FR queostas sles petcarem a aos! Fig. 4.7 Variagdo da altura do Sof com a latitude. Se a altura do Sol for pequena, os raos que atingem a Terra percorrerdo distancia maior na atmosfera No Cap. 3, foi mencionado que a atmosfera aquecida a partir da super- ficie terrestre, e nao pelo Sol, diretamente. Isso ocorre porque, na superficie, a radiagio solar absorvida é transformada em energia térmica, que a aquece ¢, assim, ela se torna uma fonte de radiaco de ondas longas, pois 2 maior parte da radiacéo emitida pela Terra encontra-se na faixa espectral do infravermelho, ou seja, calor. Essa energia & conhecida como radiacao terrestre e est representada graficamente na Fig. 48 pelas setas vermelhas continuas. A radiagio terrestre também pode ser chamada de radiagio noturna, pois ela & a principal fonte radiativa de energia A noite. Vale lembrar, contudo, que a radiacdo infravermetha no é somente terrestre, uma vez que 0 Sole a atmosfera também irradiam energia nessa faixa espectral. Além disso, & a qua ‘la 86 predomina durante a noite porque, nesse perio- do, nao existe radiagdo solar (Ayoade, 1986). 4=Ponauee mas avteNAREcKoPeoumA ALUMNA Do caurooe? 43 > aiosdest — Rasiago terete Fig. 4.8 Radiagdo terrestre,representada grofcamente pelassetas vemethas continuas. © processo deaquecimento de atmosfera éindlreta:0 Sol aquece superficie terrestree 0 calritradiado aquece aatmosfera Essa é a explicagdo astronémica para afirmarmos que nas proximidades da linha do equador as temperaturas so mais elevadas. Essa explicago também serve para responder a uma pergunta interes- sante: j4 que 0 calor ven da superficie, por que, ao se expor ao Sol, uma pessoa queima a parte do corpo virada para o Sol, e ndo a parte virada para De acordo com Leroux (2010, p. 86] vem a Todavia, varios autores, como Moran (1974), Fleagle e Businger (1980), Gerli- ch e Tscheuschner (2009) e Leroux (2010), para citar alguns, acreditam ser Os autores afirmam 10 Robert W. Wood jé havia apontado 4-Ponaucenns avons nnscaso monn unsncosavsocs? B45 Embora a atmosfera e a casa de vegetacdo nao sejam comparaveis, Leroux (2010) chama a atenc&o para o fato de que o termo “efeito estufa’ jé foi incor- porado 20 vocabulério em detrimento do termo mais apropriado, que seria “efeito atmosférico’, sendo muito tarde para corrigir a expressio. Entretanto, nem todos os estudiosos do clima concordam com essas afirma- nitida pela segundo Molion (2011), . Porém, essa contribuicdo é muito pequena, indetectavel pela instrumentacio existente hoje, pois a concentraco de CO, é infima quando comparada com a desses outros gases. ‘A absorcéo de radiacéo pelos gases de efeito estufe teria um papel minori- taro. ser mn a trarradiacao formar terrestre e reirradié-la de volta, Isso explica por que em noites secas eclaras 46 & natal a superficie se resfria bem mais do que em noites com nuvens. 4.5 Balango de radiacéo A diferenca entre os fluxos totais da radiacao incidente e da radiacao *perdi- da’ (emitida efou refletida) por uma superficie - medida, normalmente, em plano horizontal - é chamada de balango ou saldo de radiagéo, que repre- senta a energia disponivel aos processes fisicos e biologicos que ocorrem na superficie terrestre, No Cap. 5 veremos como os processos de transfe- réncia de calor ocorrem durante o dia e & noite. Essas variagdes didrias dos termos do balango de radiaco ocorrem, entao, em funcio da trajetéria didria do Sol. Podemos representar graficamente esses comportamentés utilizando um diagrama de fluxos de radiacéo obser- vados sobre a floresta amazénica préxima a Manaus, elaborado por André et al. (1988) (Fig, 4.9): durante o periodo em que o Sol esté acima do horizonte, a radiacio solar global (radiagéo de onda curta incidente do Sol e da atmosfera) é absorvida pela superficie. A perda de radiacéo de onda longa da superficie terrestre 6 negativa durante todo o dia e maior por volta das 13h, horério em qué a temperatura da superficie é maxima. Esse balango de radiagao 4-Ponquce mas quairenn acco mana Aunva oo curoon? 47 da superficie terrestre governa o 100 aquecimento ¢ o resfriamento do are condiciona a sua temperatura | zm» = = aol po 2 am of WE ote eNRUK HDD ‘Termpo {horas} shee —t Fig, 4.9 Variocéo dria dos fuxos de radiagéo sobre « forestaamazénicapréxima ¢ Manus para um dia com baixa nebulsidade estado chuvosa). Br: sldo de radiaé; :saldoderadiagao de onda long; Sv: radio star global Fonte: edaptado de André eto. (1988) Na verdade, esse padréo geral é mais complexo ¢ tem consequéncias na circulagao geral da atmosfera, como veremos no cap. 9. 4.6 Balanco de energia da Terra 0 balanco de radiacio difere do balanco de energia uma vez que o primeiro tem por finalidade quantificar a fracao da radiac3o efetivamente disponivel em um ecossistema, enquanto o segundo diz respeito ao destino dado a essa energia radiante. Como vocé ja sabe, a radiacao solar, ao atravessar a atmosfera, sofre os processes de reflexio, difusao ¢ absorgio. Esse fato promove a atenuacio da 48 & cinauiositl cenergia solar que atinge o topo da atmosfera (1.368 W/m? ~ constante solar) considerado como o total de energia que entra no sistema Terra-atmosfera, ou seja, 100%. Uma parte da radiacio solar atinge a superficie diretamente e é denomi- nada de radiagio solar direta (Qa); outra parte atinge a superficie apés a difusio e 6 denominada de radiacao solar difusa (Q.). Esses dois fluxos de radiagio representam o total de radiacdo que atinge a Terra, que é a chama- da radiacéo solar global (Q,). Acompanhe a descricéo da Fig. 4.10, que representa um modelo simplificado do balanco de energia. a 21 aed plane) mp {rete (eda pelo siete) (esplhaments) peas nuver nals Steamaa . | Perda para almostera | se | wy fe cr = Sy tots nnn] 9 23 /mesta)anse) (toro pela | ial | Z posces Seteee (Nbsongd0, | se sem) | | f oe Z | a | gl 2 3| | Hata 3 L a See earn on, | gs, rene (ioe tnlidoem featnde pease prosper) — | ong ong (dct) (Ondo) Paces) Fig. 4.10 Modelo simpliicado de balanco globalde energia 4-Ponaucenascuesrennreciiorocnn aun ooeanoor? 9 mantivesse, ele seria responsével por um constante aquecimento da super- ficie, fato que no se verifica. Sendo assim, das 100 unidades de energia inicial que entram no sistema ‘Terra-atmosfera, so devolvidas para o espaco 31 unidades (-23-4~4=-31) na parte das ondas curtas e 69 unidades (-6~-63 = ~69) na parte das ondas longas. co global de energia vale para o sistema Terra-atmosfera, mantendo sua temperatura média aproximadamente constante, porém nao é aplicado para cade latitude separadamente, 5 — QUAL 0 MECANISMO QUE FAZ A ASA-DELTA VAR? 51 Imagine planar @ alguns milhares de metros de altura. Embora o ar, nessa altitude, seja muito frio, a vista é interessante. Para viver a experiéncia do voo livre com asa-delta, 0 piloto deve buscar por correntes de ar ascenden- tes, chamadas de termais ou térmicas, para manter-se nas alturas por horas. A térmica, nada mais é do que uma imensa bolha de ar quente subindo na atmosfera, Antes de aprender como ela é produzida, vejamos como 0 calor é transferido da superficie para a atmosfera. ‘eto, Tomemos como exemplo a experiéncia cléssica de colocar a extremidade de uma barra de ferro em uma chama. As moléculas do ferro nessa extremidade absorverdo calor; essa energia fard as moléculas vibrarem mais rapidamente e se chocarem com as moléculas vizinhas, transferindo-Ihes a energia. Essas moléculas vizinhas, por sua vez, passaro adiante a energia calorifica, de modo que ela sera conduzida a0 longo da barra para a extremidade fria. Observe que, na conduct, o calor passa de molécula a molécula, ou seja, bem lentamente. Na conduct, 0 calor flui do ponto das temperaturas mais altas para o ponto das temperaturas mais baixes. Cada substncia tem uma capacidade diferen- 52 citi Arquente Fig, 5.1 Representacdo esquemdtica do processo de condugao Fig. 5.2 Representagdo esquemética doprocesso de ‘convecgdo térmica Uma asa-delta, uma vez nas alturas, pode subircomas térmicas. Os pilotos de asa-delta experientes podem decolar de uma rampa ou de um topo de montanha e voar por horas. Eles procuram pelas térmicas encontradas sobre lugares que recebam bastante incidéncia solar. As vezes, voce pode localizar essas corren- tes ao observar os passaros. No Estado de Goigs, existe um local muito apropriado para a pritica de ‘asa-delta: a rampa do vale do Parana. Essa rampa esté localizada a aproximadamen- te 90 km do centro de Brasilia e @ 1.300 metros do nivel do mar. A temporada de ‘woo comega em julho e vai até o inicio de setembro, pois é a época em que néo chove e as térmicas sdo bastante fortes, Fig. 5.3 representa o trajeto dos pilotos

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