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1 A cultura das cidades emit ee ge tC (om tic titer [e) a bordo da grande nave, o planeta Terra, antes de mais nada devemos reconhecer CUCM tate ta ie etd imediatamente consumiveis, inevitavelmente COCR Moe CUCM t tute tom até agora, foi suficiente para permitir que continuemos nossa jornada, apesar de nossa ignorancia. Estes recursos, em ultima Meee CMM Cr Comm ed cL) adequados até este momento critico. Aparentemente, essa espécie de amortecedor Mp ehh Cat: i) Pee Me mm trl Fie MC MU Cm m CM Mott: ae dentro do ovo se alimenta do liquido envoltorio, necessario para uma etapa OOM mee PCO tL tem Lo um certo ponto. Tite Cie tem el Manual de Operacoes para o Planeta Terra & pagina anterior Atuacao do homem Vista do espaco, a evidéncia do impacto fisico do homem na superficie do planeta. Estamos, literalmente, dando forma a face do nosso planeta, Com 20 milhdes de moradores, a Grea metropolitana de Téquio constitui a maior cidade do mundo. Science Photo Library Em 1957, o primeiro satélite era langado na orbita da Terra. Isso nos oferecia uma posigao privilegiada, a partir da qual podiamos olhar para nods mesmos e assinalar 0 comego de uma nova consciéncia global, uma mudanga dramatica no nosso relacionamento com o pla- neta. Vista do espago, a beleza da nossa biosfera é fantastica — mas é fantastica também sua fragilidade. As manchas da poluigao, as feri- das do desmatamento, as cicatrizes da industrializagao e a expan- sao cadtica de nossas cidades so evidéncias de que, na nossa busca por riqueza, estamos sistematicamente espoliando todos os aspec- tos do sistema de apoio a vida do planeta. A sobrevivéncia da sociedade sempre dependeu da manutencgao do equilibrio entre as varidveis de populagao, recursos naturais e meio ambiente. O desleixo para com este principio foi desastroso e as conseqiiéncias, fatais para antigas civilizagdes. Da mesma forma, estamos sujeitos as leis de controle da sobrevivéncia, entretanto, somos os primeiros a constituir uma civilizagao global e, portanto, os primeiro que enfrentam, simultaneamente, a expansao da popula- ¢ao a nivel mundial, a destruigdo dos recursos naturais e do meio ambiente. Enquanto escrevo, cerca de 400 satélites equipados com instru- mentos de verificagado do tempo, estudo das zonas litoraneas, pro- cessos polares e maritimos monitoram constantemente a vegeta- ¢ao e a atmosfera, apontando os efeitos da poluigdo e da erosao. Os dados coletados tém um papel crucial, proporcionando corretas verificagées e constatagdes de padrées geolégicos em modificagao, aquecimento global e destruigao da camada de ozénio. Eles estado testemunhando a conformacao de uma catastrofe ambiental de uma magnitude jamais enfrentada pela humanidade. A longo prazo, os resultados dos niveis atuais de consumo ainda nao estao claros, mas devido a falta de precisao cientifica em relagdo a seus efeitos, meu argumento 6 que devemos usar o ‘principio da precaugao’ e tomar alguma atitude para garantir a sobrevivéncia de nossa espé- cie neste planeta. Ale Sem duvida, esta é¢ uma revelagao chocante, e sobretudo para um arquiteto, j4 que so as nossas cidades que ocasionam esta crise ambiental. Em 1900 apenas um décimo da populacao mundial vivia em cidades. Hoje, pela primeira vez na histéria, metade de toda a populagéo mundial vive em cidades e num prazo de 30 anos, esta proporgao podera atingir até trés quartos dos habitantes do planeta. A populagao urbana vem aumentando a uma taxa de 250 mil pessoas por dia — grosseiramente o equivalente a uma nova Londres a cada més. O crescimento da populagdo urbana, por todo o mundo, e os padroes, a grosso modo, ineficientes de moradia estao acelerando a taxa de aumento da poluicao e erosao. E uma ironia que as cidades, o habitat da humanidade, caracterizem- -se como o maior agente destruidor do ecossistema e a maior ameacga para a sobrevivéncia da humanidade no planeta. Nos Estados Unidos, a poluigao das cidades ja reduziu a produgdo das plantagdes em quase 10%. No Japao, o lixo da cidade de Téquio chega a um valor estimado de 20 milhées de toneladas por ano, lixo que ja saturou toda a baia de Tdquio. A cidade do México, literalmente, esta bebendo a Agua de seus dois rios secos, enquanto o grande congestionamento de transito de Londres causa hoje maior poluigdo do ar do que a queima de carvao, no periodo anterior a 1956, antes da lei pela qualidade do ar, por um ar limpo, 0 Clean Air Act. As cidades geram a maioria dos gases cau- sadores do efeito estufa e figuras respeitadas do establishment como sir John Houghton, presidente do comité sobre Mudangas Climaticas das Nagdes Unidas, adverte sobre os efeitos igualmente desastrosos dos atuais niveis da produgdo desses gases. Enquanto nao houver diminuigao no ritmo de crescimento das aglo- meracoes urbanas, o simples fato de morar em uma cidade nao deve- ria conduzir a autodestruigdo da civilizagao. Acredito piamente que a arquitetura, 0 urbanismo e o planejamento urbano possam evoluir ainda mais para nos proporcionar ferramentas cruciais para garantir nosso futuro, através da criagdo de cidades com ambientes sustentaveis e civilizados, Este livro tentara demonstrar que as cidades futuras podem Bilhdes a4 “| [] 2 o o ° 3 0 S a a a o a 4 a a Populagao rural @ Populagao urbana Crescimento da populagdo mundial ser o trampolim para restaurar a harmonia da humanidade com seu meio ambiente. A causa do meu otimismo vem de trés fatores: 0 aumento da cons- cientizagao ecolégica, da tecnologia das comunicagdes e da produ- ¢ao automatizada. Todas sao condigdes que contribuem para o desen- volvimento de uma cultura urbana pdés-industrial socialmente responsavel e ambientalmente consciente. Por todo o mundo, cien- tistas, fildsofos, economistas, politicos, urbanistas, artistas e cidadaos clamam pela integragao da perspectiva global nas estratégias para o futuro. O relatério das Nagdes Unidas, intitulado Nosso Futuro Comum (Our Common Future) propds o conceito de ‘desenvolvimento sustentavel’ como espinha dorsal de uma politica econémica global: atender as nossas necessidades atuais sem comprometer as futuras geracées e dirigir ativamente nosso desenvolvimento em favor da maio- ria do mundo — os mais pobres. O &mago desse conceito de desenvolvimento sustentavel esta na rede- finigdo da riqueza para incluir o capital natural: ar limpo, agua pota- vel, camada de oz6nio efetiva, mar sem poluicao, terra fértil e abun- dante diversidade de espécies. Os meios propostos para garantir a protegao deste capital natural sao normas reguladoras que, mais impor- tante ainda, devem fixar um prego adequado para uso do capital natu- ral, patrim6énio que anteriormente havia sido considerado ilimitado e, portanto, sem qualquer custo. O objetivo final do desenvolvimento eco- némico sustentavel é deixar para as futuras geragdes uma reserva de capital natural igual ou maior que nossa prépria heranga. Em nenhum outro lugar a implementagao da ‘sustentabilidade’ pode ser mais poderosa e benéfica do que na cidade. De fato, os benefi- cios oriundos dessa posigao possuem um potencial tao grande que a sustentabilidade do meio ambiente deve transformar-se no princi- pio orientador do moderno desenho urbano. Se as cidades estao destruindo o equilibrio ecolégico do planeta, nos- sos padrées de comportamento econdmico e social sao as causas prin- of Expansao urbana descontrolada 4A cidade de Phoenix, Arizona, ocupa agora um territério tao grande quanto aquele de Los Angeles. Sua populacdo, no entanto, é apenas 1/3 do total dessa cidade. David Hurn - Magnum cipais do seu desenvolvimento, acarretando desequilibrio ambiental. Tanto nos paises industrializados quanto nos paises em desenvolvi- mento, a capacidade das cidades esta sendo solicitada até o limite, sua expansao se da em tal indice que os padr6es tradicionais de aco- modacdo do crescimento urbano tornaram-se obsoletos. Nos paises desenvolvidos, a migragdo das pessoas e atividades dos centros urba- nos tradicionais para o sonhado mundo dos bairros residenciais dis- tantes levou a um enorme desenvolvimento dos suburbios, constru- cao de estradas, aumento do uso de automéveis, congestionamento e poluigdo do ar. Os melhores exemplos séo as cidades do oeste dos Estados Unidos, como Phoenix e Las Vegas. Enquanto isso, nas eco- nomias de crescimento rapido do mundo desenvolvido, novas cidades estao sendo construidas num ritmo e densidades fenomenais, com preocupacao infima em relagao ao impacto social e ambiental futuro. Por todo o mundo, ha uma migrac&o rural da populagao mais pobre para essas novas cidades, E em todos os lugares, a situagao da popu- lagdo pobre é amplamente negligenciada. No mundo desenvolvido, os mais pobres sao excluidos da sociedade de consumo, sendo aban- donacos e isolados em guetos nos centros urbanos, enquanto nas cidades em desenvolvimento eles sao relegados a miséria das fave- las sempre crescentes. Em geral, o numero de moradores ‘ilegais’ ou ‘nao oficiais’ extrapola os numeros oficiais. As cidades esto produzindo uma instabilidade social desastrosa e levando a um declinio ambiental adicional. Apesar do aumento glo- bal da riqueza, que ultrapassa em muito o aumento da populagao, cresce © grau de pobreza e o niimero de pobres no mundo. Muitos deles estao vivendo nos ambientes mais desfavoraveis, expostos a niveis extremos de pobreza ambiental, perpetuando, portanto, o ciclo de destruicgdo e poluicao. E as cidades estéo destinadas a abrigar parcelas cada vez maiores dessas populagdes. Portanto, uma vez que as quest6es sociais e ambientais estao entranhadas, nao deve- ria ser surpresa o fato de sociedades e cidades, caracterizadas por desigualdades, sofrerem intensa privagaéo social e causarem danos ainda maiores ao meio ambiente. ole Pobreza, desemprego, salide comprometida, ensino de ma qualidade, conilitos - em resumo, injustiga social em todas as suas formas — minam a capacidade de uma cidade de ser sustentavel do ponto de vista ambiental. Cidades que conviveram com guerra civil, como Bei- rute; com graus extremos de pobreza, como Bombaim; que aliena- ram da corrente principal da vida grandes parcelas de sua popula- gao, como Los Angeles; que buscam o lucro como motivagao maior, como Sao Paulo; cidades assim prejudicam o meio ambiente em detrimento de todos. Nao pode existir harmonia urbana ou melhoria ambiental real sem paz e garantia da aplicagdo dos direitos huma- nos basicos. No mundo desenvolvido, ha cidades que abrigam comunidades com intensas privagdes sociais, mas é nas cidades de crescimento rapido do mundo em desenvolvimento que essa crise esta se expandindo da forma mais rapida possivel. Se nada for feito, seus problemas ecoldgicos e sociais logo dominarao a cena mundial. A idéia de que os ricos podem continuar a dar as costas para a poluig¢do e a pobreza destas cidades, e agir em confortavel isolamento destes centros de desolagdo, 6 uma visao extremamente miope e distorcida. A falta de equidade basica 6 a forga que incessantemente mina as tentativas de harmonizagaéo da sociedade e humanizacdo de suas cidades. Além de oportunidades de emprego e riqueza, as cidades garantem a estrutura fisica para uma comunidade urbana. Nas ultimas déca- das e por todo o mundo, 0 dominio publico nas cidades, os espagos publicos entre os edificios, tem sido negligenciado ou dilapidado. Este processo aumentou a polarizagao da sociedade e criou mais pobreza e alienagao. Sao necessarios novos conceitos de planejamento urbano para integrar as responsabilidades sociais. As cidades cresceram e transformaram-se em estruturas tao complexas e dificeis de admi- nistrar, que quase nao nos lembramos que elas existiam em primeiro lugar, e acima de tudo, para satisfazer as necessidades humanas e sociais das comunidades. De fato, geralmente as cidades ndo con- seguem ser vistas sob esta dtica. Quando perguntadas sobre as cida- des, provavelmente as pessoas irdo falar de edificios e carros, em vez de falar de ruas e pragas. Se perguntadas sobre a vida na cidade, falaréo mais de distanciamento, isolamento, medo da violéncia ou con- gestionamento e poluigao do que de comunidade, participacao, ani- macao, beleza e prazer. Provavelmente diraéo que os conceitos ‘cidade’ e ‘qualidade de vida’ sao incompativeis. No mundo desenvolvido este conilito esta levando os cidaddos a enclausurarem-se em territérios particulares protegidos, segregando ricos e pobres, e retirando o ver- dadeiro significado do conceito de cidadania. A cidade tem sido encarada como arena para o consumo. A conve- niéncia politica e comercial deslocou a énfase do desenvolvimento urbano de atender as necessidades mais amplas da comunidade para atender as necessidades circunscritas de individuos. A busca deste objetivo estreito minou a cidade em sua vitalidade. A complexidade da comunidade foi desvendada e a vida publica foi dissecada em com- ponentes individuais. Paradoxalmente, nesta época global de demo- cracia em ascens&o, cada vez mais, as cidades estao polarizando a sociedade em comunidades segregadas. O resultado desta tendéncia é 0 declinio da vitalidade de nossos espa- ¢os urbanos. O cientista politico Michael Walzer classificou o espaco urbano em dois grupos distintos: espagos monofuncionais e multifun- cionais. O primeiro, como o nome diz, descreve um conceito de espaco urbano que preenche uma Unica funcao e geralmente 6 produzido como conseqUéncia de decisées tomadas por incorporadores ou planejado- res antiquados. O segundo espaco, concebido como multifuncional, foi pensado para uma variedade de usos, participantes e usuarios. O bairro residencial distante, o conjunto habitacional, o centro empresarial, a zona industrial, o estacionamento, a passagem subterranea, a rotaté- ria, 0 shopping center e mesmo o automével criam espagos monofun- cionais. Mas a praca lotada, a rua animada, o mercado, o parque, o café na calgada, todos representam usos do espaco multifuncional. No primeiro tipo de espaco, em geral, estamos apressados, no segundo estamos sempre prontos a olhar, encontrar e participar. ole As duas categorias tm um papel a desempenhar na cidade. Os espa- gos monofuncionais atendem ao desejo moderno de autonomia e con- sumo particular e sao eficientes sob este aspecto. Em contraste, espa- gos multifuncionais nos trazem algo em comum: retinem partes diferentes da cidade e desenvolvem um sentimento de tolerdncia, cons- ciéncia alerta, identidade e respeito mutuo. Contudo, no processo de planejar as cidades para atender aos padrées inexoraveis de demanda particular, acabamos vendo a primeira cate- goria eclipsar a segunda. O espago multifuncional deu lugar ao espaco monofuncional, ¢ em seu encalgo estamos testemunhando a destrui- cao da propria idéia de cidade abrangente. Atualmente, a énfase encontra-se no egoismo e na separacgdo, em vez de basear-se em inter-relagdes e comunidade. Nestes novos tipos de desenvolvimento urbano, as atividades que tradicional- mente se sobrepoem s@o organizadas com o objetivo de maximi- zar o lucro para incorporadores e comerciantes. Os negdcios sao isolados e agrupados em centros empresariais, as lojas sao agru- padas em shopping centers com ‘ruas internas’, as casas, por sua vez, sao agrupadas em bairros residenciais e conjuntos. Inevita- velmente, as ruas e pragas da cidade sao esvaziadas de sua vida comercial e tornam-se nada mais que uma terra de ninguém, toma- das por carros particulares encerrados ou pedestres apressados. Hoje em dia, as pessoas prezam sua conveniéncia, mas também anseiam por uma vida publica genuina, e as multiddes que lotam os centros urbanos nos finais de semana sdo testemunhas deste fato. O desaparecimento de espacos puiblicos multifuncionais nao é ape- nas um caso a ser lamentado: pode gerar terriveis conseqliéncias sociais dando inicio a um processo de declinio. A medida que a vita- lidade dos espacos publicos diminui, perdemos o habito de partici- par da vida urbana da rua. O policiamento natural ou espontaneo das ruas, aquele produzido pela propria presenga das pessoas, é substituido pela seguranga oficial e a prépria cidade torna-se menos hospitaleira e mais alienante. Logo, nossos espacos puUblicos pas- sam a ser percebidos como realmente perigosos e o medo entra em cena. Como resposta, as atividades tornam-se ainda mais divididas em ter- ritérios. O mercado da rua torna-se menos atrativo que o shopping. considerado seguro, a universidade transforma-se em campus fechado e, € medida que este processo se espalha por toda a cidade, o domi- nio do espago publico multifuncional sai de cena. As pessoas com mais posses se trancam ou mudam de cidade e, nestes espagos fecha- dos e privatizados, os pobres sao proibidos de entrar, ja que ha guar- das em todos os portdées de acesso. Aqueles que nao tém dinheiro podem ser comparados aos ‘sem passaporte’, uma classe a ser banida. Desaparece a cidadania — a no¢gdo da responsabilidade compartilhada por um ambiente — e a vida na cidade torna-se dividida, com os ricos situados em territérios protegidos e os pobres fechados em guetos ou favelas. As cidades foram originalmente criadas para celebrar o que temos em comum. Agora, sao projetadas para manter-nos afas- tados uns dos outros. As cidades dos Estados Unidos, em geral inchadas por suburbios, com seus inumeros guetos, bairros dormitérios da classe média for- temente policiados, grandes shoppings e centros empresariais, mos- tram de forma mais clara essa tendéncia de divisao. Na California, o escritor Mike Davis descreve como Los Angeles, palco de inumeros tumultos nas ultimas décadas, cresceu cada vez mais segregada e até mesmo militarizada. Nos seus arredores ha 0 chamado Cinturao Toxico, um grande aterro sanitario, depdsito de dejetos radioativos e poluentes. Em direcao ao centro, passa-se pelos chamados suburbios residenciais, com por- té6es de acesso rigidamente controlados e uma zona autopoliciada com residéncias de classe média, até chegar a uma area central de guetos e gangues. Aqui, a policia de Los Angeles investiga mais assas- sinatos do que qualquer outra policia local no pais. Finalmente, além desse setor situa-se o distrito empresarial. Nesse distrito. cAamaras fale ale de video e outros equipamentos de seguranga monitoram qualquer pedestre que entre naquela area. Ao toque de um simples botao, bloqueia-se o acesso, acionam-se vedacoes a prova de balas e venezianas antibomba. A aparéncia de ‘um certo tipo de pessoa’ da inicio a um panico discreto: camaras de video viram-se para ela e guardas de seguranca ajustam seus cin- tos. Enfim, emerge um novo tipo de cidadela, que nao se sustenta apenas em limites fisicos, cercas altas, grades e portées imponen- tes, mas sobretudo, em equipamento eletrénico invisivel. Em Los Angeles 0 carro transformou-se numa fortaleza movel. As jane- las, com filme escurecedor, mal deixam ver os passageiros; os vidros a prova de balas protegem seus ocupantes contra ataques armados; as portas podem ser travadas instantaneamente, criando um distan- ciamento e alienacdo ainda maiores entre o individuo e sua cidade. A situagao em Houston é quase tao perturbadora quanto em Los Angeles. Toda uma rede de ruas subterraneas — mais de dez quilé- metros — existe sob o distrito empresarial do centro da cidade. Este labirinto, ironicamente chamado de sistema de ligacao, é inteiramente privado. Nao se pode ter acesso a ele da rua, mas somente através de sagudes de marmore dos bancos e das empresas de petrdleo que dominam Houston. O resultado é a criag&o de um outro tipo de gueto urbano. As ruas repletas de carro sao deixadas para os pobres e os desempregados, enquanto os profissionais de grande poder aqui- sitivo fazem compras e fecham seus negécios com o conforto e a seguran¢a de um ambiente com ar condicionado. Embora as cidades inglesas e européias ainda nao tenham chegado a esse ponto, percebem-se tendéncias similares. Observamos tam- bém o deslocamento para bairros residenciais afastados e a pobreza crescente na area urbana central, a procura crescente pela segu- ranga privada e pelo transporte individual e a proliferagado de espa- ¢o0S monofuncionais. Qualquer tentativa de reverter a situagado deve depender da percepgao do individuo de que pertence a cidade e da mobilizagao de todos os habitantes. Este compromisso é absoluta- mente essencial para a concretizagao da nogao de cidade susten- tavel. A beleza civica 6 0 resultado do compromisso social e cultu- ral das comunidades de uma sociedade urbana. E uma forca dinamica que colore todos os aspectos da vida urbana até o projeto de seus edificios. Acredito piamente na importancia da cidadania e na vitalidade e huma- nidade que ela estimula. A cidadania manifesta-se em gestos civicos planejados e de grande escala, mas também em gestos espontaneos e de pequena escala. Juntos, eles criam a rica diversidade da vida urbana. As cidades permanecem sendo 0 grande ima demografico de nossos tempos, porque facilitam o trabalho e sdo a sementeira de nosso desenvolvimento cultural. As cidades sao centros de comuni- cagao, aprendizado e empreendimentos comerciais complexos. Elas abrigam grandes concentrac6es de familias, concentram e conden- sam energia fisica, intelectual e criativa. Sao lugares de atividades e fungdes muito diversificadas: exposigGes e manifestagdes, bares e catedrais, lojas e teatros. E fantastica sua combina¢do de idades, racas, culturas e atividades, a mistura de comunidade e anonimato, de fami- liaridade e surpresa, e até mesmo o senso de perigosa efervescén- cia. Admiro seus espacgos grandiosos, bem como a animagao que sim- ples cafés ou bares de calgada trazem as ruas. A vitalidade informal do espago publico é a mistura de espacos de trabalho, lojas e casas que torna os bairros vivos. Ao caminhar pelos grandes espacos publicos da Europa — a Galleria coberta em Milao, as Ramblas em Barcelona, os parques de Londres ou os espacos publicos cotidianos dos mercados e bairros — sinto- -me parte da comunidade local. Os italianos tém, inclusive, uma pala- vra especial que descreve a forma como homens, mulheres e crian- gas interagem com o espacgo publico da cidade a medida que cami- nham pelas ruas e pracas a noite: é a passeggiata. Quando as autoridades de Paris nos permitiram destinar metade da area inicialmente programada para o Centro Pompidou, para uma piazza al al publica, acabaram encorajando este tipo de cidadania. A idéia de inte- grar uma praga publica vibrante no projeto do Centro Pompidou ja sur- gira de nossa experiéncia com espagos publicos historicos, tais como Jamaa El Afna, em Marraquesh, Piazza San Marco em Veneza e o Campo, no centro de Siena, cenario da corrida de cavalos do Palio. Para minha grande satisfagao, a relagao entre edificio e espaco publico, entre o Centro e a Praga Beaubourg, criou um local vibrante, com efe- tiva vida publica e regenerou toda a area em seu entorno. Uma cidadania ativa e uma vida urbana vibrante so componentes essenciais para uma cidade e uma boa identidade civica. Para recu- perar estes aspectos, onde eles estejam desconsiderados, os cida- d&os devem estar envalvidos com o processo de evolugdo de suas cidades. Devem sentir que 0 espago publico é responsabilidade e propriedade da comunidade. Da ruela mais modesta até a grande praca civica, estes espacgos pertencem ao cidadao e completam a totalidade da esfera publica, uma instituigao com seus prdprios direi- tos que, como qualquer outra, pode aumentar ou frustar nossa exis- téncia urbana. A esfera publica é o teatro de uma cultura urbana. E onde os cidadaéos desempenham seus papéis, é o elemento que pode agregar uma sociedade urbana. As cidades s6 podem refletir os valores, compromissos e resolugdes da sociedade que abrigam. Portanto, 0 sucesso de uma cidade depende de seus habitantes e do poder publico, da prioridade que ambos dao @ criagao e manutengao de um ambiente urbano e humano, Os ate- nienses da Grécia antiga reconheciam a importancia da cidade e o papel que ela desempenhava no estimulo da moral e democracia inte- lectual de seu tempo. A agora, os templos, o estadio, o teatro e os espagos publicos entre eles eram, a um s6 tempo, expressao artistica grandiosa da cultura helénica e os catalisadores do seu rico desen- volvimento humanista. O compromisso com a Interdependéncia entre forma constru(da e os ideais foi compreendido no juramento feito pelos novos cidadaos: “Deixaremos esta cidade ndo menor, porém maior, melhor e mais bonita do que aquela que nos foi deixada”. A qualidade do ambiente urbano define a qualidade de vida para os cidadaos. A relagdo entre cidade e harmonia civica é bem definida. Vitrtivio, Leonardo da Vinci, Thomas Jefferson, Ebenezer Howard, Le Corbusier, Frank Lloyd Wright, Buckminster Fuller e muitos outros pro- puseram cidades ideais que, segundo acreditavam, criariam socie- dades ideais — que iriam estimular uma melhor cidadania e capaci- tariam a sociedade para superar seus traumas. Uma vez que tais visGes de cidade nao sao mais relevantes para a diversidade e complexi- dade da sociedade moderna, estas tentativas arquiteténicas no campo da Utopia poderiam nos lembrar que, numa época democratica, a arqui- tetura contemporanea e o planejamento deveriam estar sendo cobra- dos a expressar nossos valores sociais e filosdficos comuns. Mas de fato, as mais recentes transformagdes das cidades refletem o com- promisso da sociedade na busca de riquezas pessoais. A riqueza tor- nou-se um fim em si mesma, em vez de firmar-se como um meio de atingir metas sociais mais amplas. A construgao de nosso habitat continua a ser dominada pelas forgas do mercado e imperativos financeiros de curto prazo. Nao é de sur- preender, portanto, os tremendos e cadticos resultados produzidos. O que me deixa perplexo é que, em tantos lugares, o ambiente cons- truido continue sendo considerado como uma questao politica fortui- ta. As cidades so o bergo da civilizagao, os condensadores e moto- res de nosso desenvolvimento cultural. E muito grave situar a cultura das cidades em segundo plano na agenda politica, porque embora elas sejam lugares onde a vida pode ser bem precaria, as cidades também podem nos inspirar. Esta é a dicotomia da cidade: seu poten- cial para embrutecer e para refinar. Para responder as necessidades de uma cidade moderna, deve-se desenvolver uma nova forma de cidadania. E essencial ainda um for- talecimento da participagao do cidadao e das liderangas. O envolvimento da populacéo nas tomadas de decisdes pressupde que o ambiente cons- truido torne-se uma parte basica da formacao e um componente impor- tante do nosso curriculo nacional de educagao. Ensinar as criangas a ‘s 1 7 respeitar seu ambiente urbano cotidiano 6 uma forma de prepara-las para participarem do amplo processo de respeitar e melhorar a cidade, As proprias cidades podem representar uma grande ferramenta, um labo- ratorio vivo para a educagao. A nocao de cidade sustentavel em termos ambientais deve estar no Amago das disciplinas ensinadas, um tema ligando fisica, biologia, arte e historia. E nosso dever buscar recursos para interessar e informar o publico, ensinar uma boa cidadania aos velhos e aos jovens, @ ouvir os cidadaos. Muito de nossa futura quali- dade de vida depende de fazer tudo isso de forma correta. Para aqueles desanimados diante da tarefa aparentemente intranspo- nivel de obter controle democratico de suas cidades, acrescento que por todo o mundo ha exemplos bastante animadores. Em indmeros locais, a cidade ¢, em seus muitos aspectos - da ecologia a arquite- tura -, uma questdo eleitoral e de debate pubblico, num nitido contraste com a desconsideragaéo com que é tratada na Gra-Bretanha. O presidente francés Frangois Miterrand afirmou que ‘a cultura’, e par- ticularmente a arquitetura, era o quarto aspecto mais importante na ques- tao eleitoral na Franga (temo sé de pensar em que nivel os politicos britanicos colocariam a cultura). Na Gra-Bretanha, talvez estejamos cons- cientes apenas das maiores e mais importantes Iniciativas francesas recentes, como os Grandes Projetos de Paris, mas esta é apenas a ponta do iceberg. Na Franga, realizam-se concursos para cada edcifi- cio publico, seja um conjunto residencial, uma escola, uma agéncia de correios, uma praca local, um parque ou toda uma cidade nova. Todos os concursos locais de algum significado sAo decididos por um juri com- posto pelo prefeito, um representante dos usuarios, membros da comu- nidade local, especialistas no tema e arquitetos. Ha pequenos concur- sos previstos para encorajar os jovens talentos, além de concursos internacionais (frequentemente envolvendo o proprio presidente) para garantir que a Franga abrigue o melhor da arquitetura internacional. Vejamos 0 contraste entre esta situagdo e a da Gra-Bretanha, onde os contribuintes gastam 4 bilhdes de libras por ano, em seus edifi- cios ptiblicos, e contudo o governo federal nao tem uma politica de arquitetura. Em 1992, tivemos dez concursos ptiblicos de projeto enquanto que a Franga teve 2000. Os britanicos reclamam de sua arquitetura e, no entanto, eles tem uma geracgao de jovens e talen- tosos arquitetos que, quase sem excecdo, nado realizou qualquer tra- balho publico no pais. E lamentavel observar tantos talentos sendo desperdig¢ados hoje em dia e uma heranca arquiteténica mediocre sendo deixada para as futuras geracgdes. Gragas a participagdo publica e a lideres de visdo, Curitiba, cidade brasileira em rapida expansao, conseguiu lidar com seus problemas de crescimento e consolidagao. Como descreverei adiante, a cidade buscou implementar politicas para aumentar a consciéncia social e ambiental, englobando desde educacdo e comércio, até transporte e planejamento. Como resultado, os cidad&os sentem-se, de fato, como donos de sua cidade e responsaveis pelo seu futuro. Por sua vez, Roterda nos da um exemplo de harmonia entre acdées patrocinadas pelo governo e desenvolvimento orientado pela comuni- dade. Um plano estratégico global define as principais diregdes de cres- cimento escolhidas pela comunidade. A conversao de suas docas 6 assunto de estudos, discussées e colaboragdes continuas. A maioria da terra firme, na cidade e em volta dela, é propriedade publica e pode ser dada a comunidade quando e onde houver necessidade, em vez de sempre que alguém quiser ou puder comprar um local. A cidade almeja crescer como uma estrutura celular, dividindo-se e reproduzindo- -se em vizinhangas diversificadas, de trés a cinco mil pessoas com locais de trabalho, escolas, lojas e residéncias. Ao menos um terco de cada nova comunidade consiste no desdobramento dos nucleos vizinhos, que assegura a coeréncia social do todo. Roterda evita se dividir em zonas segregadas e comunidades isoladas. Na Espanha, ao final do periodo de Franco seguiu-se a eleig¢ao de prefeitos municipais e, em Barcelona, a lideranca do prefeito eleito e © grande apoio popular transformaram a cidade por completo: O pre- feito, Pasqual Maragall, e seu secretario, o arquiteto Oriol Bohigas, utilizaram o fato da cidade sediar os jogos olimpicos de 1992 como catalisador para uma reforma visionaria, que foi muito além da cria- ¢ao de equipamentos e instalagdes para os jogos. Incluia o estabe- lecimento de um plano diretor estratégico para toda a cidade, um novo mobiliario urbano para as ruas e, significativamente, a criagao de 150 novas pragas publicas. Foram selecionados alguns dos mais impor- tantes arquitetos do mundo para implementar o mais ambicioso plano de desenvolvimento urbano conhecido: a recuperagao de sua area industrial, entéo sem vida e deteriorada, que havia separado a cidade do mar. O resultado devolveu a cidade o mar ao longo de uma imensa faixa costeira. Além da implantagao de projetos especificos, Maragall criou uma estrutura em que o setor privado tem vontade de se adap- tar a lideranga publica, porque os incorporadores, ao mesmo tempo, véem os beneficios globais de melhorias a longo prazo na cidade e reconhecem a importancia do interesse publico, Através desse pro- cesso democratico, Barcelona transformou-se em uma cidade privi- legiada, onde as pessoas tém vontade de trabalhar, morar ou visitar. As cidades de San Francisco, Seattle e Portland inclufram a partici- pacao publica no processo de planejamento urbano em seu processo eleitoral. Durante as eleigdes locais ndo se escolhia apenas um can- didato, mas havia a oportunidade de decidir sobre o proprio contexto urbano: quanto espaco de escritdrio deveria ser permitido? Que plano de regeneracado seria melhor? Que estratégia de transporte deveria ser adotada? Com isso, os habitantes sentiam que tinham controle e envolvimento sobre os destinos de suas cidades. As praticas citadas ilustram como as sociedades urbanas estao desen- volvendo estratégias adequadas a sua cultura e necessidades espe- cificas. Em cada uma delas, ha uma pressuposto fundamental: os cidadaos querem interferir na conformagao de suas cidades. De forma enfatica, elas provam que a participagao popular aliada a um efetivo compromisso do poder publico podem transformar a estrutura social @ fisica de nossas cidades. Nos paragrafos anteriores, foram abordados alguns dos problemas que as cidades contemporaneas enfrentam e como o compromisso dos cidadaos contribui para melhorar essa situacdo. Paralelamente, deve-se buscar de forma ainda mais concreta o desenvolvimento da tecnologia e as inovagdes que protejam nossa ecologia e humanizem nossas cidades. O grande trunfo da humanidade tem sido sua capacidade de trans- mitir os conhecimentos acumulados de geragéo em geragao, de ante- cipar e resolver seus problemas. E espantoso e bastante inspirador que apenas algumas centenas de existéncias separem nosso tempo atual, capaz de construir uma cidade espacial, de uma época que contemplava as primeiras cidades, construidas as margens do Tigre e do Eufrates. A tecnologia e nossa habilidade em prever o futuro transformaram nosso mundo e, freqtientemente, diante de dados terriveis. Em 1798, 0 eco- nomista Malthus alertava que, de acordo com seus calculos, a taxa de crescimento da populacdo mundial estava excedendo a propria capa- cidade da terra de alimentar as geragdes futuras. Ficou provado que ele estava errado porque suas estimativas haviam sido feitas sem o notavel potencial da tecnologia. Nos cem anos seguintes 4 sua terri- vel predicao, a populacdo da Gra-Bretanha quadruplicou, mas os avan- gos tecnolégicos aumentaram catorze vezes a producao agricola. Atu- almente, a tecnologia se desenvolve ainda mais rapidamente e oferece oportunidades ainda maiores. Afinal, o espago entre a invengao da bicicleta e as viagens espaciais 6 de apenas duas geracgées, e menos de uma geracéo separa a invencao do primeiro computador eletronico e o desenvolvimento da rede mundial de computadores. Na sua andlise da modernidade durante os séculos XIX e XX, Marshall Berman nos lembra do desafio para os valores tradicionais sociais, econd- micos e religiosos que acompanharam essa evolugao tecnoldgica. Ele cita a condigao moderna descrita por Marx: “Todas as relacdes fixas, estanques, com seu conjunto de antigos e veneraveis preconceitos e opinides, sao varridas, e todos os novos valores tornam-se antiquados mesmo antes de se solidificarem. Tudo Bie que é sdlido desmancha no ar, tudo que é sagrado é profanado, e os homens finalmente sao forgados a enfrentar as reais condigées de suas vidas e as relac¢des com seus semelhantes”. Abrir-se a mudangas sempre acarreta incertezas e riscos. O poder de transformar e mudar o mundo ou nés mesmos define nossa con- dig&o moderna. A ansia que nos conduz é contrabalangada pela cons- ciéncia de nossa habilidade em destruir. Ser moderno, portanto, 6 viver esta vida de paradoxos — este é o acordo de Fausto, que Ber- man expds de forma tao brilhante. Neste redemoinho, as leis do mercado 6 que comandam o jogo. Mas a ‘mao invisivel’ do mercado nao é uma forga natural ou do homem. A sociedade, na forma de seus governos e outras instituicdes, tem a responsabilidade de concentrar a dinamica da vida moderna, de diri- gir a aplicagao de nova tecnologia, de confrontar velhos valores com os novos. A cidade é a corporificagao da sociedade, sua forma deve ser sempre vista em relagdo a nossos objetivos sociais. Os problemas das cidades de hoje nao sao o resultado de um desenvolvimento tec- nolégico excessivo, mas de uma excessiva aplicagao equivocada. Avelocidade das mudangas tecnoldgicas, e sobretudo sua amplitude de disseminagéo, empresta a sociedade moderna seu maior poten- cial. A agéncia de desenvolvimento da ONU estima que, nos prdoxi- mos trinta anos, o numero de pessoas buscando melhor qualificacao, através da educacao formal, sera o mesmo numero de pessoas que o fizeram desde o inicio da civilizagado. A robdtica situa nossa gera- Gao em uma posicao de colher os beneficios decorrentes de uma maior riqueza per capita com menos trabalho. Pela primeira vez desde a revolucdo industrial, o trabalho esta tirando menos de nossas vidas. Robotica, educagdo, medicina, comunicagado global — todas manifes- tagdes de nosso desenvolvimento tecnoldgico — proporcionam as con- digdes para o desenvolvimento de uma nova forma de cidadania cri- ativa, que gera riqueza para a sociedade, sem romper os limites de um ambiente sustentavel. O desafio que enfrentamos é mudarmos de um sistema que explora o desenvolvimento tecnolégico por puro lucro, para um outro que tem objetivo de tornar as cidades sustentaveis. E isso exige mudangas fundamentais no comportamento humano, na pratica do poder publico, no comércio, na arquitetura e no planejamento urbano. O empresa- rio que constréi apenas em busca de retorno financeiro, sem qual- quer compromisso com o meio ambiente urbano, ou com a qualidade de vida de seus cidadaos, esta fazendo mau uso da tecnologia. Tam- bém faz mau uso da tecnologia, um profissional que projeta uma via de trafego intenso pelo meio da cidade, sem qualquer preocupacao com questées sociais ou ambientais mais abrangentes. Sou aficionado pela tecnologia, mas nao pelo seu uso desvairado. A tecnologia deve ser utilizada pelo cidaddo para beneficiar 0 préprio cidaddo, deve buscar assegurar direitos humanos universais e garan- tir abrigo, Agua, comida, saude, educagao, esperanga e liberdade para todos. Acredito que uma cidade sustentavel pode proporcionar a estru- tura para a realizagao desses direitos humanos basicos. Este ideal é o fundamento de meu enfoque para uma cidade sustentavel: a mobi- lizag&o do pensamento criativo e da tecnologia para garantir o futuro da humanidade neste pequeno planeta de recursos finitos. E uma ino- vacdo que teria, na cidade do século XXI, um impacto tao radical quanto aquele da revolugao industrial sobre a cidade do século XIX.

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