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HISTORIA ORAL; OS RISCOS DA INOCENCIA Michael M. Hall (+) A histéria oral estourou nos nieias académicos na década de 1970 como um novo feriémend metadologico e politico. Com uma certa fregiéncia. se ouviu af € como a historia oral seria uma contra-histd oum cleniento ou instrumento que poderia tornar possivel uma contra-histéris, ‘SO prOprio objeto pronto. Hoje cm dia somos todos um pouco menos génuos, me parece. € reconhecemos que 2 historia oral estd longe Ue ser : uma historia espontinea, nio é a experiéncia vivida em estudo puro. € que os relatos produzidos pels histéria oral devem estar sujeitos ao mesmo trabalho Eritico das outras fontes que os historiadores costumam consultar. Entende- ‘mos. mais precisamente, que as entrevistas dy histria oral mostra menos experiéncia direta dos informantes do que o resultado" do trabalho que meméria faz com essa experiéncia. Para complicar ainda mais a questo, infelizmente nio possuimos dados tmuito satisfatrios sobre como funciona a meméria humana. Como é. por exemplo, que lembramos de certos tipos de experiéncia com preciso ¢ esquecemos de outros? Como € que 0 envolvimento emocional altera lembrancus? Afinal, como € que a meméria se organiza e se modifica? © que podemos af n alguma confianca é que a meméria nio é um fendmeno exeTusivumente individual, mas resulta de determinagSes sociais complexas. Pensamos, lembramos ¢ exprimimo-nos em formas social e culturalmente determinadas — como, lids, os antropélogos reconhecerum fiz bastante tempo. Nio me parece necessirio insistir muito aqui nas vantagens que a hist6ria oral possa trazer para 0 trabutho dos historiadores. Todos entende- mos a cupacidade dessa tecnica para permitir a investigugdo de questies (€ cenadas sociais) geralmente pouco visiveis na documentagio escrita. ou me restringir hoje ’ tureta, tulvez antipstica, de levantar alguns aspecios problemiticos da histéria oral que no me parecem sempre receber x ‘tengo que merecem por parte dos historiadores, Muitas dessas observa ges certumente se aplicam as fontes escritas também, tulvez especialmente as memérias, autobiagrafias e dirios que apresentam problemas de interpre {ago bastante parecidos com as dificuldades dos relitos. produzidos peli” histéria oral, AA primeira constatagio € simplesmente 0 fato de a memBtia de muitos entrevistados estar extremamente falivel em relugio aos aconteciméntts especificos. € sobretudo sua segiiéncia. Anos atris, entrevistei um partici- - pante du greve geral de 1917 em Sio Paulo e, tendo na época um expectativa Tazoavelmente ingénua em relacio a entrevistas deste tipo. fiquei bastante decepcionado quando 0 entrevistado lembrou fatos da greve de 1919 como (7) terior, Dyparamene de His ds Go.So HALL, Madul M. tu: Aco Paulo (Gdads) Awultuia Merminpel ib tule. Dapntiweto Lo- Relniermnawud 1 inttica. if) diate oe wate ca MO t cladurmler Rio Rulo: AMNews HL, Dee ted ocd €SPecialmente com refers: oes oaUe. a meméria de “Ege” FASS BrOsseiras pelas experince, riedade de outras modifies, 140 misturou de propésito os ‘mos ignorar o problema de + OM politicos. do mas Vezes que o entrevitadhs esteja or Bramlos, escondendo suas area’? Go Bates. Entrevistel conta toy uma figura . afina aval 'e Seu papel nos aconteci, ge COS. Os eventuais exapen stad 0 MECeSSariamente 0 recah, ano Ge megalomania; as veses © entrevistado simplesmente Papel de outros Partidos ou individu dr € peculiar i hist nies por €OM aS atuais. No case’ Varios depoimentos ‘de ethos militantes, por exemplo, a Passagem ou nio do avalnis24® pelo Partido Comics i ‘valiagdo de sua carreira ponies 12m outro tipo de diffculdade

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