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a ; a ie PN eu eau eee pC ers) 365 Resumo © Forte de Sio Sebastiso, em Castro Marim, é um edificio militar que conheceu diferentes fases de constfuggo € reconstruct, Erauido durante as querras da restauracao (1641-1668), foi fortemente afectado pelo terramoto de 1758, 0 que terd suscitado intervencdes de reparacdo na segunda metade do século XVII. ‘Teve também um papel preponderante durante a Guerra das Laranjas (1801). Ainda no século XIX, entre os anos de 1819 e 1834, o edificio albergou o Batalhdo de Cacadores 4, que nele esteve aquartelado, Sabemos que no sitio onde se construiu, no século XVI, 0 edificio militar existia uma ermida dedicada a S80 ‘Sebastiao, ermida que se mantém ainda no local onde foi edificada, ainda que ocultada por aquele. 3 trabalhos de acompanhtamento de minimizagao de impactos da obra de recuperacéo, consolidacao @ reconstnucao do Forte dé Sao Sebastido permitiram compreender as diversas fases consirutivas, bem como perceber qual seria a sua configuracao original. Por outro lado, foi possivel datar, com preciso, muitas das alteracées, concretamente a construgdo da cortina do forte e as casamatas que o fecham juntamente com 0 Baluarte do Enterreiro e 0 Baluarte de Sa0 Sebastiao, criando assim a chamadia “cidadela do forte” Para além da “atqueologia da arquitectura”, os trabalhos de acompanhamento documentaram as ‘ocupacdes da antiguidade do «moro» que se ergue em frente a0 Castelo de Castro Marim, Para alem de ‘materiais arqueologicos dataveis da epoca romana republicans, foram encontradas estruturas que evidenciam que © local estava ja ocupado durante a Idade do Ferro. Abstract The fortress of Sao Sebastido, in Castro Marim, is a military building that knew different phases of construction and reconstruction. Raised through the “Guerra da Restauracao” (1641-1668), was strongly affected by the earthquake of 1755, which originated some interventions of rebuilding in the second half of eighteen century. This fortification was also an important quest in “Guerra das Laranjas* (1801), Yet in the Nineteenth Century, between 1819 and 1834, this stronghold shelted the “Cagadores 4“‘battalion We know that in the place were the military fortress was build, in seventeen century, existed alteady a chapel dedicated to “$0 Sebastiao”, which remains are visible, under the fortification. The archeological work carried out in the context of fortress’ re-qualfication allowed us to understand the several constructive phases of the building, as well as know his original configuration, So, its now possible to dated, with precision, many of the modifications, specifically the consttuction of the "cortina do forte”, that close the fortress with the “baluiarte do Enterreiro” and “baluarte de Sao Sebastiéo”, creating the “Cidadela do Forte” Beyond the “architectural archeology”, the archeological work showed the hills ancient occupations Beside the archeological objects dated af the Roman-Republic period, it was possible to find structures and materials of the iron Age *(UNIARQ — Centro de Arqueologis da Universidade de Lisbon) | XELB 8 | Actas do 5° Encontro de Arqueoiogia da Algarve, pp. 3658 395 As ccupagies antiga « mademas eo Forte de So Sebatio, Cato Masim | Ana Margarida Aeruda, Cale Paris LIntroducéo O Forte de Sao Sebastiao lacaliza-se em Castro Marim, frequesia e concelho de Castro Marim, strito de Faro (Fig, 1). Geologicamente, encontra-se implantado numa zona de depésitos do quaternario, entre 0s xistos do macico antigo a Norte, os calcarios Izcustres do aldgeno e as rochas eruptivas da orla, @ Oeste. O edificio encontra-se num cabeco sobranceiro 0 Castelo de Castro Marim, a Sudoeste do mesmo. Parece constituir uma edificacao estratégica, uma vez que fo’ efectivada em tempo de guerra, logo no inicio da Guerra da Restauracdo. O casario que, entretanto, 2 tinha desenvolvido fora das muralhas medievais estava agora desprotegido e a colina onde se focalizava a ermida de Sao Sebastiao constitula uma forte ameaca & seguranca do Castelo. Em situacdo, de ataque inimigo, era possivel, dal, bater e arrasar 2s muralhas daquele, pois a distancia de tiro directo era demasiado curta, embora o impacto dos disparos 1ndo fosse disperso, Assim, demonstrou-se imperioso a ocupacéo daquele cabeco, efectivando-se a construcdo de um edifcio militar que permitisse a continuidade da sequ- ranca do Castelo e da vila de Castro Marim (Fig. 2) Do forte de Sa0 Sebastiao conhece-se 0 estudo. sobre 0 seu faseamento construtivo e reconstrutivo, efectuado pelo Engenheiro Francisco de Sousa Lobo, estudo que, alids, integrou o projecto de empreitada para @ recuperacdo e consolidacéo do Forte de Sao Sebastiao (meméria descrtiva referente ao projecto Ne 469, Vol. ll, “Levantamento, diagndstico de patologias e projecto de intervencéo com vista & recuperacdolconsolidacao das muralhas e baluarte do Forte de Séo Sebastiao”). Em 2000, foi efectuada uma intervencao Fig. 1 -Localizacao de Castro Marim: arqueoligica na sala interior do forte, da responsa~ bilidade de um de nés (A.M.A) e de Artur Rocha, intervencao concretizada ja no ambito da sua recuperacao, uma vez que a remocdo das terras que al se encontravam obrigava a um acompanhamento arqueoligico (Arruda e Rocha 2000) 0s trabalhos de recuperacao e valorizacao do Forte de S30 Sebastido em Castro Marim, levados a feito entre 2005 e 2007 (projecto N° 469), foram devidamente acompanhados do ponto de vista arqueol6gico, tendo esse acompanhamento revelado importantes dados para a compreensao da sequencia arquitecténica do edificio militar seiscentista, € evidenciado ocupagdes humanas prévias a esta construcao (Fig. 3). 0s trabalhos arqueol6gicos realizados compu seramsse, nao apenas do acompanhamento de todas as accdes de obra, mas também da realizacdo, de sondagens de forma a minimizar os impactos negatives sobre 0 patriménio arqueolégico que a tecuperacéo iria, fatalmente, provacar. © Forte de So Sebastido, Castro Marim, fol construido, em meados do século XVII, sobre uma elevaséo fronteira ao Castelo, tendo sofrido varias remodelagdes durante o século XVII. xela 8 | 367 368 ‘As oupacoesantigase modernas do forte de SSo Sebastso, Casto Marim | na Margatia Arruda, Carlos Freica Fig. 3 - Decorrer dos tabalhos de acompanhamento arquedléaico, Il. O Forte de Sao Sebastiao: de 1640 ao século XIX Desde @ sua construcio, 0 Forte de Sao Sebas- ti8o, Castro Mari, desempenhou um predominante papel na estratégia defensiva militar da linha de fronteira do sul. Iniciada a sua edificag3o em Abril de 1641, num cabeco sobranceiro ao castelo, data que ‘se encontra perfeitamente documentada na epigrafe do arco de entrada, teve por objectivo impedir os aataques inimigos, mas também, e principalmente, o reforco das linhas de defesa fronteiricas Parece importante comecar por referir que © edificio conheceu diferentes fases de construcao © reconstrucgo. Tendo sido construido durante as (guerras da restauraggo (1641-1668), foi fortemente atectado pelo terramoto de 1755, 0 que tera susci- tado intervencdes de reparacao, tendo tido também um papel preponderante durante a Guerra das Laranjas (1801). ‘A sua construgao coincide com o desencadear da guerra da restauracéo, contexto que determinou que a sua execucao tivesse sido concretizada com pouca mao-de-obra © escassos. recursos, @ em condigées de clara dificuldade. | XELB 8 | Actas do 5° Encontro de Arqueologia do Algarve, pp. 365 a 395, ‘As ccupagbes antiga e modernas a Forte de Sto Sebasito, Casto Matin | Ana Margarida Arad, Cts Perera £5135 condicdes concretas justificarao 0 facto = 2 emida que existia no local, dedicada a Sd0 SS2ss250, nome que se manteve na designacao do =dfico militar, ter ficado ocultada no interior deste Em. 0 que comprova a emergéncia construtiva. ‘Compreensivelmente, ern periodo de guerra, a mao- debra disponivel ¢ muito escassa, e tudo 0 que seduzisse, em esforco e tempo, a construcao do forte 3 encarado como uma obrigatoriedade e nao como ane 00480. E talvez 0 es¢asso tempo disponivel para 2 construcéo explique por que raz0 0 edificio n30, compra as normas recomendadas nos tratados de Suitectura militar, como consta no relatério que Gatherme de Valleré envia ao Marqués de Pombal en 174 O contexto em que 0 Forte de Sa0 Sebastiao foi construido fica. também evidenciado pela aparente precaridade das estruturas, precaridade essa que pstificou, em parte, as reparagées € 05 reforcos, de sistema defensive de que foi alvo a0 longo do tempo, ainda que seja possivel reconstituir a sua configuracdo original, uma vez que os baluartes & cortinas do lado Este ndo aparentam um elevado lndice de reconstrucéo ou remodelacao. A fragilidade da construcdo seiscentista, que poderd também justificarse pelo facto de Castro Marim ter constituido um ponto excéntrico relativa- mente as areas de conflito directo (na zona sul, durante 0 século XVI, 0 esforco de guerra encon- trava-se concentrado, maioritariamente, na fronteira do Caia, na regiao de Elvas), tera sido responsavel pela forma como foi afectada pelo terramoto de 1755. Os estragos causados na estrutura defensiva pelo sismo podem ser avaliados na planta da vila de Castro Marim, datada de 1790, onde as muralhas esto, em parte, indicadas a tracejado, né@ podendo, ignorarse, neste contexto, 0 j citado relatério de Guilherme de Valleré, de 1774, onde é referido o aspecto degradado da construgao e se aconselha rapida intervencao (Fig. 4). Essa intervencdo, que implicou reconstrucdo e remodelacdo, tera sido efectuada na viragem do século XVIll para 0 XIX. O Forte de Sao Sebastido desempenhou ainda tum importante papel durante a Guerra das Laranjas (1801), comprovado por algumas remodelacdes & reconstrucdes efectuadas, concretamente as que se destinaram & adaptacdo a novas armas de fogo, Sitio das “Lizivias. Fig, 4 Planta da ia de Casto Marin (1790), base cartograica do Exérto Militar tendo-se tambem procedido a elevacao das paredes. Ainda no mesmo século, entre os anos de 1819 & 1834, o edificio albergou 0 Batalhao de Cacadores 4, que nele esteve aquartelado (Arruda 2000). Estas _remodelacdes alteraram em muito a ontiguracgo original do conjunto fortificado, de que se sallenta a construgéo da cortina do forte e das casamatas, que o fecham juntamente com o baluarte do Enterreiro e 0 baluarte de Sao Sebastiao, criando assim a chamada “cidadela do forte” (Fig. 5). A criacéo da Cortina do Forte anulou a util- dade da restante Cerca Abaluartada, 0 que justfica que 0 estado de conservacao dos baluartes do lado Este (Baluarte Cheio e das Lezirias) e do lado Oeste (Baluarte do Enterreiro e de So Sebastiéo) seja consideravelmente distinto. A partir deste momento, somente a Cidadela do Forte foi alvo de manutencao. xeL8 8 | 369, 370 ‘As ocupactes antigas emodenas do Forte de Sdo Sebastiao, Casto Matim| Ana Margarida Auda, Catlos Pee Fig. 6- Representacio do Castelo de Castro Marim por Duarte dAtmas (1505). Quando se deu 0 conflito com a Espanha (1641), © casario que se tinha desenvolvide fora das muralhas do castelo, que é visivel no livia das fortalezas de Duarte @Armas desenhado em 1509, estava agora desprovido de qualquer tipo de proteccéo, e a colina onde se encontrava a ermida dedicada 2 S80 Sebastiéo constituia uma forte ameaca & seguranca do recinto fortificado do Castelo ig. 6). Deste local, seria possivel atingir e arrasar as muralhas do Castelo medieval, pois a distancia, em tiro directo, era demasiado curta (Lobo 2003). Assim, 0 Castelo foi rapidamente readaptado @ anttharia caracteristica do século XVil, e, no local ‘onde se encontrava a ermida, foiedificado o pequeno forte de planta irregular, com quatro meios baluartes. ‘A pequena capela abobadada que ai se encontrava, que condicionou a planta e dimensdes do edificio militar, foi absorvida pela fortificagéo, tendo sido ocultada pela monumentalidade desta ultima, esquecida nos momentos de guerra. A cerca terd sido construida posteriormente, ainda no decorrer do mesmo século, com dois dis- tintos andamentos de muralha, que desciam a colina do forte e subiam simultaneamente a do castelo, e que, em nosso entender, esteve em funcionamento num curto espaco de tempo. Desta forma, a cerca passaria agora a abracar a totalidade do casario da vila, podendo ser defendida com mosquete, das cortinas, e artitharia, a partir das plataformas. Os dois pontos mais elevados (Castelo e Forte de Séo Sebastido) constituiam assim 0 ultimo reduto em situaggo de cerco da povoacao, Torna-se assim claro que, apesar das insuti- ciéncias, “a vila de Castro Marim foi, sem duvida alguma a partir do século XVII, a principal praca-forte do Algarve, enquanto um misto de defesa militar maritima e terrestre. Constituia @ primeira fortaleza no extremo Sul da franteira com o pais vizinho e, essa confrontac3o manteve a importancia militar da vila quase até ao século Xx" (OBO, 2003), Il © edificio militar seiscentista: os indicios arquitecténicos e arqueolégicos Forte de Sa0 Sebastiao em Castro. Marim € constituido actualmente por um Reduto Central, uma Cidadela e uma Cerca Abaluartada, tendo ficado claro que este conjunto ngo fol construlddo em simultaneo. ‘A andlise dos dados obtidos no terreno, bem como a informagao disponibilzada pelas fontes cartograficas disponiveis, permitem avancar com a hipdtese de o reduto central constituir a primeira construgdo, tendo sido erguido isoladamente antes a edificacdo da cerca abaluartads, Com efeito, dois dos meios baluartes do Reduto Central, virados para o interior da vila, seriam inoperantes caso a cerca estivesse j3 construida, como alids j8 referiu o engenheiro tenente-coronel Sousa Lobo (Fig. 7) Felizmente, foi possivel confirmar que as estru- turas da Cerca Abaluartada se encontram adocadas a0 Forte @ néo cruzadas entre si, como estariam necessariamente se a sua construcao tivesse ocorrido simultaneamente. Um outro elemento confirma a antiguidade do Reduto Central em relacdo 8 Cerca Abaluartada | XELB 8 1 Actas do 5° Encontro de Arquesiogia do Algarve, pp. 365 8 395 As ocupacées angus e madernas do Forte de So Sebas0, Casto Matim | Ana Magar Ars, Caos Pesera Crientagdo dos angulos de tro, que interferem com 3 cerca abalvartada se da ponte levadica, cujo sistema de elevacso 72 bastante simples e pratico. De um lado, era suportada pela escadaria do edificio, do outro encontrarse-ia apoiada em dois pequenos “pivots” de pedra, que se encontram ainda incutidos na muralha, imediatamente abaixo da soleira da porta Fig. 8 -Reconsttuigdo da ponte levadica, com base nos indicios Aarquitectonicos existentes ‘A sua elevacao era efectuada através de duas cordas, que, presas na ponte do lado da escadaria, passariam plas duas aberturas do topo do arco de entrada para assim serem puradas pelo lado de dentro, Contudo, rolariam ainda numa pequena roldana presente no lado interior do arco, acima da entrada, apoiada, de igual forma, em dois “pivots” (Fig. 8). No que se refere & Cerca Abaluartada, cons- truida como j8 se disse em momento posterior a0 Reduto Central, foram verificadas diferengas acen- tuadas na sua configuracéo. De facto, os baluartes do lado Este (Baluarte Cheio e das Lezirias) divergem dos do lado Oeste (Baluarte do Enterreiro e de Sao Sebastigo). Tudo indica que os primeiros se apresen- tam ainda proximos do tracado original, nao tendo sofrido remodelacoes ou reconstrucées. Pelo con- trario, 0s de Enterreito e de S80 Sebastiao, por terem sido mais tarde integrados na cidadela, apresentam sucessivas reparagies e reconstrusoes, as quais se tornam evidentes pela andlise da sua arquitectura € pelos dados arqueologicos. Estes baluartes apre- sentam uma maior espessura das muralhas, um parapeito muito mais largo, um passadico mais ‘amplo e uma cota mais elevada, quando comparados com 05 do lado Este (0 Cheio e o das Leziras) (Fig 9). A elevacdio dos baluartes de Sao Sebastido e do Enterreiro esta patente, quer na alvenaria quer no enchimento das muralhas (Figs. 11 € 12) 0 facto de os baluartes do lado Este do forte manterem 2 sua configuracéo original permite ter uma ideia do traado inicial do edificio, tarefa em que a cartografia do século Xvi também pode colaborar. ‘A constru¢ao da Cortina do Forte permitiu a ctiagéo de uma pequena cidadela fechada, limitada pelos baluartes do Enterreiro e de Sa0 Sebastiao, pela Cortina do Enterreiro, A definicdo deste espaco cercado ditou o fim da utilidade das. restantes estruturas defensivas, tendo os primeiros, como ja referimos, sido alvo de sucessivas construcdes ¢ reconstrugées que adulteraram a sua forma original infelizmente, nao é de todo possivel apresentar ma data precisa para este acontecimento, havendo, no entanto, dados que permite afirmar que a construcao da Cidadela, e a consequente desactiva- a0 da Cerca Abaluartada, devera ter ocorrido entre finais do século XVill e 0s inicios da centuria sequinte, xELB 8 | am AS ocupatesantiges modesmas do Fort de Sto Sebastio, Castro Mari | na Margarida Art, Catlos Perera Baluarte do Enterreiro antes dos Baluarte Cheloantes dos trabalhos derecuperasio trabalhos de recuperacio io Enterreiro apa: trabalhos derecuperagso Baluarte Cheio durante os trabalhos de recuperagzo Fig. 9 - Andie comparativa entre ox baluarte: de Enterreio © Cheio. “Planta da praga e quarteisde Castro Marim”, Joze Clemente dos Santos, Cap. M. Engenheiro, [1817- 1820] Euzebio de Souza Soares e T.te Coronel Marquez de Ternaj, [1797-1810] Fig. 10- Certogratia que permit obter uma bala cronolagica para a construcdo da cortina do forte 372 | XELB 8 | Actes do 5? Encontro de Arqueologia do Algarve, pp, 365 395 ‘as ecupagoes antgas © madernas do Forte de Sto Sebasdo, Casto Mari | Ana Margarida Azra, Caos Presa costere se deduz de duas plantas levantadas entre 57 = 1820 (Fig. 10) Este faseamento proposto, em linhas gerais, $220 Forte de Sao Sebastiao (Recinto Cental, Cerca A5susartada © Cidadela) merece ainda comentarios sspecicos, concretamente no que se refere a separacies e a reconstrucbes. & observacio das muralhas e dos respectivos Zearthhos ¢ técnicas de construgao, bem como as mdttiplss reparacées de que foi alvo, torna evidente Sapiidade do edificio, o que justificou os trabalhos, nem sempre faces de situar cronologicamente, que ws2vem restaurar trocos de muros desabados, ou em sco ce desabar, ou fornecer-lhes mais consisténcia Tal situacdo podera terse ficado a dever a0 ‘cto do tempo disponivel para a construcao inicial t= Sido relativamente diminuto e, por outro lado, 2 excassez de mao-de-obra. Face a0 surgimento = novas armas de fogo com maior capacidade Sestrutiva, era evidente a crescente necessidade de reforco das muralhas. De facto, se olharmos para 0 passado histérico do Forte, reparamos que as suas construgées foram levadas a efeito em momentos evidente dificuldade, o que confirma a fragilidade co eciicio, ‘As reconstrucdes. indiciadoras da referida fragiidade foram observadas no aparelho das paredes internas das muralhas, onde eram visiveis ois momentos construtivos, mas também no seu enchimento, que ocorreu em dois tempos distintos, mas coincidentes com os das paredes internas (Fia ie 12). Ainda no que se refere as reparacoes, deve dizerse que estas parecem ter sido concretizadas de forma apressada e sem que tenha havido um particular investimento na sua qualidade. Tudo indica que, uma vez mais, a mao-de-obra escasseava e 0 recurso a matéria-prima era dificil. Prova disso era 2 existéncia de paredes de taipa, quer nas paredes internas quer externas do edifico, sem que se tivesse utilizado, como reforco, a alvenaria caracteristica deste edificio. A queda de pequenos trocos de muralha obrigou a uma répida reconstrucao, realizada com © aproveitamento da pedra resultante de desmora- namentos, que, quando ndo era suficiente, se substituiu por taipa (Fig. 13). Também 0 friso ou cordao do exterior da Fig. 11 = indicio de eleracao das ruralhas no apareiha das estruturas, Baluarte de Enterrero. 12 - Indigo de elevacso das muraihas observado no cenchimento das estuturas, Baluarte de Enterreito. Fig. 13 = Cortina do Enterrero. Paramento interior com um ‘wogo de taipa. XELB 8 | 373 374 ‘As ocupaaes amigas € mocemas do Forte de So Sebasio, Casvo Mar | Ana Margaids Arruda, Cates Perera murallia, construldo de raiz exclusivamente com tijolos, foi reparado com pedra (Fig. 14). Infelizmente, nao foi possivel avancar qualquer tipo de proposta cronoldgicapara.asreparacoes, tendo em conta que estas terdo ocorrido em momentos de dificuldade, impossibilitando assim qualquer tipo de documentagéo. Sendo Castro Marim uma pequena vila que faz fronteira com o seu rival, era necessario reforcar ai as linhas de defesa, pelo que o Castelo nao era suficiente para travar 05 contingentes inimigos. Por outro lado, ‘O.cabeco que se encontrava a Sul deste constituia um local favoravel a um ataque que poderia ditar 0 fim do Castelo, Se as tropas inimigas se colocassem ai, facilmente alcancariam o Castelo com o disparo das suas atmas, colocando por terra a defesa do mesmo (Lobo, 2003). Perspicazmente, antes que tal sucedesse, procedeu-se 2 construgao, naquele local, de um edificio defensive, que asseguraria 4 continuidade da vila. Contudo, viviamn-se tempos conturbados, © 0 Forte tinha que ser construldo rapidamente e também com 0 menor esforco posslvel. Desta fase inicial, data 0 Reduto Central, tendo-se recorrido & matéria-prima existente na area envolvente para @ sua construcio, facto de que s30 ainda visiveis evidéncias, concretamente pedreiras localizadas a escassos metros (Fig. 15). O tempo era escassa e 0. sucesso defensivo estava dependente da rapidez de construcdo do Forte, que, par isso, foi construido sobre uma ermida dedicada a Séo Sebastido. A rapidez imposta pelas citcunstincias traduziu-se na pouca solidez construtiva, A cerca apresenta uma configuracéo que oderd corresponder 8 original. © seu periodo de utilizacao foi curto, cerca de um século, ou até menos, tendo em conta que a sua construcéo foi posterior 8 do Reduto Central, que, lembramos data de 1641, deixa de ter utilidade com a criacdo da Cidadela, que ocorre em torno aos finais do século XVIll. Tal situacéo explicard 0 baixo numero de reparos e 0 elevado estado de degradacdo, antes dos trabalhos de recuperacao. Sendo este um edificio militar, parece evidente a importancia da relacdo entre a evolucao construtiva eas técnicas defensivas. Patece importante voltar a refetir que, em 1774, Fig. 14 - Baluarte do Enterteio, Cordio apeesentando dois tipos de matéria-prima diferentes. Fig. 15 - Localizacao de uma das pedreiras ainda visive's no interior da cerca abaluarada, um felatério entregue a0 Marqués de Pombal por Guilherme de Valleré informa do aspecto degradado « fragil das murathas do Forte de Sao Sebastiao de Castro Marim, 0 que talvez tenha sido decisivo para as reconstrucoes oitocentistas. Tudo indica que as reconstrucdes de maior importancia, concretamente a construcéo da cida- dela e a consequente inutilizacdo da Cerca, ocor- | XELB 8 | Actas do $° Encontro de Arqueaiogia do Algarve, pp. 365 2 395 Se mo Fal do século XVIII e inicio do século Spee com 0 objectivo de fortalecer os muros Ses face 5 nova artilharia pesada As muralhas da Cidadela, mais tardias, encon- Sas vocaconadas para a defesa com canhées, sando inclusivamente canhoeiras nas deno: meocss cortinas, enquanto as caracteristicas da suze ds Cerca, anterior, apontam para uma S22 mists ponderada, com canhdes nos baluartes = mosquetes nas cortinas (Fig. 16) For Gitimo, nao poderiamos deixar de fazer stetnca &s plataformas de artiharia, ou de tiro, pestes 2 descoberto no Baluarte das Lezirias, Steqaimente construidas em alvenaria, o que ¢ raro neste tipo de estruturas, onde, geralmente, se utiliza 2 madeira. Nos restantes baluartes, a técnica de construcdo destas estruturas tera sido a tradicional, com madeira, 0 que parece claro dada a altura a que se encontra a boca interna das canhoeiras do Saluarte Cheio (Fig. 17). A inexisténcia de plataformas ou das suas endéncias, na Cidadela, compreenderse- pela ‘ modernas do Forte de So Sebati, Casto Marim | Ana Marcarda Amada, Carlos Perera Fig. 16 - Diferencas defensivas entre a cidadela © a cerca abaluartads, presenca do lajeado no passadico ou “caminho de ronda”, que tormava possivel as manobras de canhoes, dispensando assim as plataformas. No entanto, tal realidade nao invalida que tais estru- turas ai se encontrassem, sendo possivel admitir ig. 17 - Baluarte das Lezirias antes © apds a recuperacdo das plataformas de arilharia. Em cima e 8 dreita; plataformas para pecas de artiharia, de acordo com deserigéo em tratados de arquitectura militar. (In Mendonca de Oliveira, M. ~ As fortficacoes portuguesas de Salvador), XELB 8 4 375, 376 As ocupagbes antigas e modernas do Forte de So Sebastiso, Castro Marim | Ana Margarida Aruds, Carlos Prcra que tivessem sido simplesmente removidas aquando a reestruturacdo da Cidadela, s trabalhos arqueoléaicos de acompanha- mento da obra de reconstrugso e consolidagso das muralhas do Forte de $20 Sebastiso permitiram ainda confirmar a localizacgo, no local, da ermida epénima No topo do Reduto Central, verificouse a existéncia de terras vegetais concentradas numa mesma area, cuja remocéo forneceu dados impor- tantes sobre a presenca de um edificio religioso no local. De facto, a sua existéncia encontrava-se ja documentada, mas desconhecia-se 0 lugar exacto da sua implantacao. Neste momento, um conjunto de elementos arquitecténicos suporta a hipdtese de a ermida de Sto Sebastido ter sido absorvida pela construcao do Forte (Fig. 18) Referimo-nos a um friso e ao que terd sido a entrada principal da capela, entrada essa que estava j8 desprovida de pedra de cantaria, certamente aproveitada para o edificio militar seiscentista Atendendo as caracteristicas do friso, e admitindo a sua contemporaneidade em relacdo & construgao da capela, é possivel apontar uma cronologia para esta iltima centrada nos finais do século XVI, ou inicio do século sequinte, sendo Portanto pouco anterior ao Forte. Contudo, ¢ dada a impossibilidade de obter dados mais concretos sobre plantas, alcados, e construcao, nao atastamos, 2 hipétese de o friso corresponder a uma qualquer reparegao, podendo pois a capela ser anterior a tal cronologia. Considerando os dados expostos, parece possivel propor um faseamento construtivo para as configuracbes modernas do cerro de Sao Sebastio: 1. Num primeiro momento, talvez entre finais do século XVI e inicios da centaria sequinte, ¢ er guida uma capela, dedicada a Sao Sebastiao; 2. No inicio da década de 40 do. mesmo século, mais concretamente no ano de 1641, & construido um edificio composto por quatro meios baluartes ligados por dois panos de muralha, 20 qual se acedia por ponte levadica e que incorporou a antiga ermida. € 0 chamado Reduto Central 3. Numa fase posterior, que no podemos datar com precisio, é edificada a cerca abaluartada, constituida por cinco baluartes e cinco cortinas, a5 quais permitiam uma defesa mista de armas de grande porte e mosquete, 4, Na viragem do século XVIII para o século XIX, € criada a Cidadela do Forte, reduzindo o edificio militar a0 reduto central, Baluartes do Enterreiro e de Fig. 18 - Localizacéo do abatimento de ters no topo do “reduto central", ¢ dos elementos arquitectonicos da ermida de Sto Sebastis. | XELB 8 | Actas do 5° Encontro de Arqueslogia do Algarve, pp. 365 2 395 As ceupagbes ants & madenas do Forte de Sto Sesto, Casto Marim | Ana Margarida Arras, Cais Perera Se SSE, € Cortina que os une, que foi entao ‘SeSwSs Simultanesmente, as muralhas 580 espes- Se = devadas, 0 caminho de ronda ¢ alargado e Fess ce iajeado, facilitando o manuseamento dos emo Fig. 19) © As ocupacées antigas do Cerro de Sao Sebastigo ‘© ecompanhamento da obra de recuperacio = comsolidacdo do Forte de Sao Sebastido demons- oese ce grande importncia ndo sé para a deno- Timed “arqueologia da arquitectura”, mas também. 52 3 arqueologia propriamente dita. Assim, foi Sessvel obter tambem algumas informacdes de Fig. 19 -Faseamento construtivo do Forte de So Sebastio I - cart Corin fo fon ah a "del onca da a, ‘Sowinnans serine as pada oneness a relevo acerca do local ocupado pele ermida de S30 Sebastiso e, posteriormente, pelo edificio militar. No decorrer dos trabalhos, foram efectuadas cinco sondagens arqueolagicas manuais, duas no topo do Forte de Sao Sebastigo, uma na area nuclear da Cidadela, uma no terrapleno do Baluarte Cheio © uma junto a ele, mas no exterior da muralha, Tes delas justiticaram-se pelo desaterro previsto para 0 denominado Reduto Central e para o Baluarte Cheio, € a5 outras Guas relacionaram-se com a necessidade de averiguar a existéncia de ocupacoes antigas e de minimizar os efeitos do impacto da empreitada sobre 0 patriménio arqueolégico comprovado pela identificacdo de uma estrutura pétrea que carecia de uma datacao ¢ interpretacéo (Fig. 20) Fig. 20 - Pianta com 0 total das sondagens realizadas no Ambito da empreitada de recuperacio do ediicio XELB 8 | 377 378 ‘As ccupegdes antigas# mocernas do Forte de Sao Sebaslgo, Casto Mavi | Ana Margarida Amada, Caos Prcra Nas sondagens localizadas no topo do Forte, a realidade estratigrafica evidenciou estratos de arga- massa intercalados com estratos de terra. Registe- “Se, contudo, que um destes ultimos correspondia a0 plano de um Iajeado, cujos negatives foram detectados. ‘As mesmas sondagens do topo viriam também a Confirmar a existéncia de ocupagées antigas, com a recolha de materiais arqueoldgicos dataveis da Idade do Ferro e épaca romana, dos quais destaca- ‘mos um bordo de nfora de tipo Mafia Pascual Ad de producao gaditana, dois fragmentos de anforas itdlicas de tipo Dressel 1 © um freamento de téqula, todos provenientes de contextos de deposicao secundaria (Fig. 21 e 22). ors Send 0) Fig. 21 - Localizag30 das sondagens 1 € 2. A dieita; Perfil Norte da sondagem 1. A esquerda e em bsixa: Unidade correspondente 405 negativas de um anterior lajeado do forte. feracatos 2 ‘Sond. (101 fone ces send? 00) 2 ‘Sond. (109) a 6 = fonec tos Sond 16] Fig. 22 Malaria arqueologicos recolhidos nas sondagens 1 ¢ 2. 1) Anfora de tipo Manta Pascual Ad recolhida na sondagem 1; 2 @ 3) Antoras itdlicas de tipa Dressel 1 recolhidas nas sondagens 1 © 2; 4 e 5) Cerémica comum recolhida nas sondagens 1 € 2; 6) Tegula recolhida na sondagem 1 | XELB 6 | Actas do 5° Encontro de Arqueologia do Algarve, pp. 365 a 395 MGe cbstante, 2 quantidade de materiais SSS We 5 cumentar significativamente com o SSS co Reduto Central, que proporcionou um SSS conjunto de espilio que, infelizmente, = === ims vez, nso disponha de contexto Base seguIO. O conjunto era constituido ‘Sectnerente por cerdmicas de época republicana, sScetsrente Campaniense A, de “tipo Kuass”, = Berio de kalathos, um bordo de anfora de tipo Gee Meom 1, anforas Mafia Pascual Ad, anforas ‘Dees= 1 pera além de cerémica comum (Fig. 23) Fig. 23 - A cinzento, areas onde decorteu a remocio de fers. Mapa de levantamento topogrifico efectuado por (Oz — Geagndstico,levantamento € controlo de qualidade em cestruturas e fundagoes, La. Na “area 1", foram recolhidos nove fragmentos de anforas, das quais importa destacar um bordo de uma “Castro Marim 1”, produzida na area de Cadiz (Fig. 24, N21), trés bordos do tipo D de Pellicer, com 2 mesma origem (Fig. 24, N.° 2 a 4), dois da forma Mafa Pascual Ad, de igual proveniéncia (Fig. 24, N° 5 e 6) e um bordo de tino Dressel 1, de importacao italica (Fig. 24, N° 7), Na atea 1, foi ainda possivel recolher um fundo de Campaniense A (Fig. 24, N.° 8) e um fragmento de bojo de cerémica “tipo Kuass" de classificacéo impraticavel, mas que apresentava, no entanto, tipico engobe que the ¢ caracteristico. Da cerémica comum recolhica, damos especial destaque a um bordo de tigela engrossado inter- namente (Fig. 24, N.° 9) e ts fragmentos de potes! ‘3s ocupagbes angus e modernas do Forte de Sto Sebsstdo, Casto Marim | Ara Marga Armas, Caros Perea panelas de bordo em aba pendente (Fig. 24. N° 10 en) No entanto, foi na “area 2” que se recolheu @ maior quantidade de materiais arqueologicos, que alias evidenciavam uma, relativamente grande, diversidade. Destes, destacamos um bordo de Kalathos (Fig, 26, N.° 1), Convém ainda referir, neste Ambito, que foi nesta area que se recolheu a maior ‘quantidade de ceramica Campaniense A. Do material recuperado, foram passiveis de classificagdo. dois bordos de Anforas enquadraveis, ‘no tipo D de Pellicer (Fig. 25, N° 1 @ 2). Dos 13 fragmentos de Campaniense A, apenas quatro puderam representar-se graficamente (Fig. 25, N° 3 2 6), dois dos quais permitiram classificacéo tipolé- gica, integrando-se nas formas 2283 (N.° 3) e 2233 (N2 4) de Morel (Morel 1981), embora a ultima manifeste algumas diferencas substanciais em rela- 80 30 protétipo. © fragmento de ceramica de “tipo Kuass” (Fig. 25, N.° 7) corresponde a forma X de Niveau (Niveau 2003). 0 fundo de cerémica de paredes finas (Fig. 25, N.° 8) foi incluido na forma 1/2 de Mayet (Mayet 1975). Finalmente, da ceramica comum recolhida foram identificados seis fragmentos de tigelas de bordo aplanado (Fig. 26, N.°2 a 4), quatro fundos de pequenas tacas ou tigelas, um fragmento de bordo de lum prato de peixe (Fig. 26, N° 5), um fragmento de fundo da mesma forma, trés fragmentos de bordos de potes/panelas (Fig. 26, N.° 6 e 7), um fragmento de tampa (Fig. 26, N° 8) e dois fragmentos de alguidares, Importa referir que a cerdmica comum, recolhida 6, quase na totalidade, proveniente da érea de Cadiz, exceptuando um fragmento de bordo- de alguidar, de importacao italica, Nao obstante, comparando as duas areas, foi na “area 2” que se exumou a maior quantidade de materials, cerca de 55 fragmentos, © que leva a discutir a procedéncia dos mesmos. A maioria dos materiais presentes no enchimento do Forte poderdo ser provenientes da area mais proxima a este, uma vez que 0 edificia foi construido em periodo de guerra com mao-de-obra escassa, fazendo sentido defender que as terras que preenchiam 0 espaco entre 05 paramentos interno e externo das muralhas tivessem sido recolhidas em area proxima (Fig. 27). A reforcar esta hipétese esta o facto de, na zona XELB 8 | 379 ‘As ocuparses antiga © maces do Fote de Sao Sebasao, Casto Mar | An Margarids Arruda, Carlos Pereira 7 S 2 wh 6 on re Fig. 24 ~ Materiaisreclhidos na “scea 1 380 | XELB 8 | Actas do 5° Encontro de Arqueologia do Algarve, pp. 365 a 395 foaeenos Fone .M.06 wren e332 Fone nos 5 ‘rea 8336 7 Fortec. .06 hea? Fig. 25 — Materiais recolhidos na "area 2 ——— feiachos 2 ea} Fore M05 fees? nea Fortec m06 een? nome oo Fortecm.06 fren fies? nee dren provéva de rovenitels osmiteris decenlogaremana seutiana =mobente, 0 atloramento rochoso se encontrar, =e na totalidade, visivel. Contudo, nao descar- temes, de todo, que alguns dos materiais sejam ‘Provenientes de outras zonas proximas do Forte. Com a recolha destes materiais fortalecia-se 2 tese de que o cabeco onde se edificou @ forte de Sebastiao teria sido ocupado na antiguidade, f2z30 pela qual foi decidido que deveria ser realizada uma terceira sondagem arqueolégica naquela que poderia ser a area onde 0 subsolo se encontraria conservado, @ “cidadela”. Com efeito, a realizacao esta demonstrou-se bastante esclarecedora, tendo constituido a corroboracao dos dados auferidos até entao (Fig. 28). Esta sondagem trouxe outros dados sobre esta cocupacao antiga do cabeco onde se ergueu o Forte de Sao Sebastido, uma vez que foi possivel, por fim, associar materiais a estruturas A quase totalidade do espalio recolhido ¢ de cronologia coeva, com excepgdo de apenas dois fragmentos de cerdmica vidrada moderna, exumados. 0) ~ sonas onde serecoineuammaiora dos ‘matarins de cronologia romana republicans Aa cepagSes antiga © madera do Forte de So Sebustso, Casto Mari | Ana Marpac Arata, Caves Pera |mParederina |aUegsentiro |mKatsthor lacerisiea Cinzenta |mcerimsica Manna |mcertmicaPintads ig 27 — Quantificacso dos materiisrecolhidos por reas ¢ sua presumivel proveniéncia Fig. 28 - Localizagao da sondagem 3. no estrato de superficie. O conteudo do inventario dos materiais desta sondagem contabiliza um numero, proximo da centena, entre ceramicas e metais, cuja descrigao e caracterizagdo sumarias se apresentard de seguida xELB 8 | 383 384 ‘A ecupagoesantiges e madesmas do Forte de Sao Sebastio, Castro Mam | Ana Margarida Aud, Caos Pera Infelizmente, a area aberta conta com apenas © que dificulta a interpretacio e leitura dos dacos obtidos. Ainda assim, contribuiu de forma decisiva para a confitmacso da ocupacéo antiga do local, Foi detectada uma estrutura, ligeiramente inclinada para um dos lados, e que estava claramente associada a uma pequena lareira circular simples. A estrutura assentava directamente sobre 0 substrato geoldgico, o qual foi afeicoado num dos lados para que esta pudesse permanecer nivelada. Para a sua implantagao foi realizado um pequeno corte no substrato geol6gico, justamente no lada mais elevado € permitindo a detecc3o de uma vala fundacional, na qual se recolheu um fragmento de ceramica Campaniense A (Fig. 29). A unidade que se encontrava associada simultaneamente @ estrutura e @ lareira ofereceu um conjunto aprecidvel de materiais, entre os quais se contam: um fragmento de anfora de tipo indeterminado (Fig. 30, N° 1), um fragmento de bordo de ceramica de Paredes Finas (Fig. 30, N° 2) da forma il de Mayet (Mayet 1975), um cossoiro Fig, 29 ~ Perlis estratigraficos da sondagem 3 e imagem da estrutura elateira (Fig, 30, N° 3) € cerdmica comum com origem na rea de Cadiz. Neste ultimo grupo, verifica-se a presenga de tigelas de bordo espessado interna mente (Fig. 30, N° 4 a 6), tampas e potes/panclas (ig, 30, N27 e8). No poderiamos deixar de fazer uma breve referéncia a0 estrato [305], unidade que se encontra do lado Oeste da estrutura, onde se recolheram alguns materiais de relevo. Referimo-nos a um bordo de tigela de producéo gadiatana, um cossoiro, uma cavilha de cobre, um prego de bronze e duas léminas de ferro (Fig, 31), Como ja foi referido, alimitada rea aberta nao permitiu compreender qual seria 0 interior @ exterior do compartimento. Se tivermos em conta a presenca da lareira, o interior poderia corresponder 20 lado Este da parede. Contudo, se tivermos en consideracéo 05 materiais presentes neste Ultimo estrato, poderia corresponder 20 lado Oeste. Assi, 1ndo resulta facil compreender quais as dreas externas @ intermas, 0 que somente futuros trabalhos de escavagao poderso confirmar. © corte efectuado no substrato geolégico para a implantacao da parede observada neste local, que corresponde, de certa forma, a uma vala de fundacao, revelou-se de grande importancia, no que se refere a determinacao da cronologia desta ‘ocupacao. 0 fragmento de ceramic Campaniense A recolhido nesse contexto permite apontar para uma datacéo centrada entre o ultimo quartel do século 1 aC. € 0 primeiro da centdria sequinte, datacdo que aliés ndo difere da que é possivel deduzir do espdlio encontrado nas unidades que cobriam a estrutura (Fig, 32). A realizagdo. da sondagem 5 veio trazer outros dados sobre as ocupacdes antigas deste sii nomeadamente no que se refere a Idade do Ferto (Fig. 33). Também aqui, sob a muralha do Baluarte Cheio, e no seu exterior, foi identificada uma estru- tura de alvenaria, com uma altura conservada entre 10 e 40cm, que foi, infelizmente, truncada por uma vala aberta hd poucos anos (Fig, 34), Este facto, mas sobretudo a construcdo do forte, afectaram a conservacio dos estratos relacionados com esta parede, & qual pudemos, contudo, associar alguns matetiais, cronologicamente atribuiveis 8 Idade do Ferro. Referimo-nos a um fragmento de bordo de | X€18 8 | Actas do 5° Encontro de Arquesiogia do Algarve, pp. 365 a 395

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