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PR-DF-00013748/2022

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO DISTRITO FEDERAL
8º OFÍCIO


​ PROCEDIMENTO PREPARATÓRIO nº 1.16.000.001844/2021-95

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​ ASSUNTO: Não aprovação das “Diretrizes Brasileiras para Tratamento Medicamentoso
Ambulatorial do Paciente com Covid-19”, elaboradas e recomendadas pela CONITEC – Comissão

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Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS. Portarias SCTIE/MS nº 04/2022 e 08/2022,
lastreadas pelas Notas Técnicas nº 2 e nº 3/2022-SCTIE/MS.

RECOMENDAÇÃO GAB–LLO/PRDF nº 4/2022

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pela Procuradora da


República que esta subscreve, no exercício de suas atribuições legais e constitucionais,
com amparo nos artigos 127, caput, 129, incisos II e VI, da Constituição da República,
artigos 1º, 2º, 5º, incisos III, “e”, IV e V, 6º, incisos VII, “a” e “d”, e XX, e 8º, inciso II, da
Lei Complementar 75/93;

CONSIDERANDO que ao Ministério Público incumbe a defesa da ordem


jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis e que o
Ministério Público tem como funções institucionais a promoção do inquérito civil e da
ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de
outros interesses difusos e coletivos, de conformidade com a Constituição Federal, artigos
127, caput, e 129, incisos II e VI, e Lei Complementar 75/93, artigo 5º;

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CONSIDERANDO que dispõe o art. 129, inciso II, da Constituição Federal

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ser função institucional do Ministério Público “zelar pelo efetivo respeito dos Poderes
Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição,
promovendo as medidas necessárias à sua garantia”;

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CONSIDERANDO que cabe ao Ministério Público a expedição de
recomendações, visando à melhoria dos serviços de relevância pública, bem como o
respeito aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando prazo
razoável para a adoção das providências cabíveis (LC 75/93, art. 6º, XX);

CONSIDERANDO que a saúde é direito social constitucionalmente


reconhecido (art. 6º da CF/88), e são de relevância pública as ações e serviços de saúde
(art. 197, CF/88);

CONSIDERANDO que, nos autos do Procedimento Preparatório nº


1.16.000.001844/2021-95, apuram-se as responsabilidades de agentes do Ministério da
Saúde no que se refere à defesa e recomendação de medicamentos sem comprovação
científica para o tratamento precoce de covid-19;

CONSIDERANDO que, em 20/01/2022, o Secretário de Ciência, Tecnologia e


Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, Helio Angotti Neto, publicou a
Portaria SCTIE/MS nº 04/2022, lastreada pela Nota Técnica nº 2/2022-SCTIE/MS, não
aprovando as “Diretrizes Brasileiras para Tratamento Medicamentoso Ambulatorial do
Paciente com Covid-19”, elaboradas e recomendadas pela CONITEC – Comissão Nacional
de Incorporação de Tecnologias no SUS;

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CONSIDERANDO que a referida norma e documento foram substituídos, em


26/01/2022, pela Portaria SCTIE/MS nº 08/2022 e pela Nota Técnica nº 3/202-SCTIE/MS,

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de praticamente igual teor, exceto pela exclusão da tabela de fl. 24, em que se afirmava
haver “demonstração de efetividade em estudos controlados e randomizados” de
hidroxicloroquina, mas não de vacinas para covid-19;

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CONSIDERANDO que a Nota Técnica nº 3/202-SCTIE/MS rejeita os
trabalhos que culminaram com a publicação do Relatório de Recomendação das
Diretrizes Brasileiras para Tratamento Medicamentoso Ambulatorial do Paciente
com Covid-19, lança dúvidas sobre a lisura dos procedimentos efetuados para sua
formulação/aprovação e sobre a própria integridade dos membros do Grupo Elaborador, ao
mesmo tempo em que defende a inclusão de estudos de baixa qualidade e/ou com
graves vieses metodológicos na avaliação dos fármacos1, permitindo, portanto, que o
Ministério da Saúde continue recomendando medicamentos como a cloroquina e
hidroxicloroquina para tratamento da covid-19;

CONSIDERANDO que a Associação Médica Brasileira, a Sociedade


Brasileira de Infectologia, a Congregação da Faculdade de Ciências Médicas da
UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas, a Sociedade Brasileira de Virologia, a
Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro, dentre outras entidades da área da
saúde emitiram notas de repúdio às Notas Técnicas da SCTIE em comento, ressaltando que
o documento “lança mão de argumentos que incluem: (i) a relativização do papel de
instrumentos clássicos e fundamentais do método científico; (ii) a afirmação de que ainda
pairam dúvidas e controvérsias sobre temas já pacificados na comunidade científica

1
Conforme esclarecimentos prestados ao MPF, em 25/01/2022, pelo Vice-Presidente da Sociedade
Brasileira de Infectologia e membro do Grupo Elaborador das Diretrizes Brasileiras para Tratamento
Medicamentoso Ambulatorial do Paciente com Covid-19, Alexandre Naime Barbosa, os estudos
mencionados na referida Nota Técnica não foram incluídos na análise do Grupo Elaborador por conterem
vieses e falhas metodológicas que tornam seus resultados menos confiáveis.

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internacional tais como a ineficácia da hidroxicloroquina no tratamento da COVID-19 e


o papel relevante das vacinas; (iii) a sugestão de que aspectos éticos e até ideológicos

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teriam influenciado o corpo de cientistas responsável pela produção das Diretrizes”, bem
como que “a pretensa argumentação que tenta fundamentar a decisão de não aprovação
pela SCTIE/MS dos referidos pareceres não tem a menor sustentação científica, e é
composta exclusivamente por pontuações falaciosas”2 e, “ao contrário do que diz a

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portaria da SCTIE/MS, no atual momento em janeiro de 2022 não há mais debate ou
dúvidas científicas sobre a não eficácia de Hidroxicloroquina/Cloroquina (HCQ/CQC) e
Ivermectina entre outras drogas em termos de benefícios clínicos à pacientes com
Covid-19”3;

CONSIDERANDO que as Notas Técnicas DCTIE nº 02 e 03/2022


basearam-se no Ofício nº 228/2021/DEGTS/SGTES/MS4 e requerimento anexo, cujos
termos haviam sido previamente reproduzidos em Despacho do Secretário Hélio Angotti
Neto, de 26/11/2021 (doc SEI nº 0024040478 - fls. 956/977 do processo SEI
00191.000779/2021-04), documento que traz a mesma tabela constante da fl. 24 da NT
SCTIE nº 2/2022, em que se afirma, sem apoio em quaisquer documentos científicos
sólidos, que “há demonstração de efetividade em estudos controlados e randomizados” de
hidroxicloroquina, mas não de vacinas para covid-19;

CONSIDERANDO que a Comissão de Ética Pública, após ser demandada


pelo Secretário Hélio Angotti Neto, acerca de supostos vícios processuais ocorridos ao
longo da definição das Diretrizes Brasileiras para Tratamento Medicamentoso
Ambulatorial do Paciente com Covid-19, apontou que não foram ofertados subsídios de

2
Trecho constante da MOÇÃO DE REPÚDIO à Nota Técnica 02/2022 da SCTIE elaborado pela
Congregação da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP.
3
Trecho constante do Boletim 007/2022: CEM COVID_AMB - Nota de Repúdio à Portaria SCTIE/MS nº
4 de 20/01/2022.
4
Cópia do Requerimento anexo ao Ofício nº 228/2021/DEGTS/SGTES/MS consta das fls. 927/955 do
processo SEI 00191.000779/2021-04.

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materialidade ou autoria do quanto alegado, tampouco sendo possível identificar “qual


autoridade teria, supostamente, agido de forma antiética” alertando, por outro lado, que

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“o gestor que, de forma dolosa, ignora alertas técnicos e adota decisões em conflito de
interesses, este sim, pode incorrer em falha ética”, in verbis:
“4. Dentre as ações de saneamento adotadas pela autoridade demadante, destaca-se
que já foi realizada consulta de juridicidade à AGU acerca da publicação de Diretrizes
Terapêuticas com uso de medicamentos em caráter off-label, que respondeu por meio

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do Parecer 00805/2021/CONJUR-MS/CGU/AGU (SEI nº 3073035), onde faz
apontamentos cirúrgicos acerca das ações a serem adotadas pelo Ministério da
Saúde e não aponta autoria ou materialidade de condutas antijurídicas, às quais
atribui a eventual identificação à Diretoria de Integridade do Ministério da Saúde.
5. Vale apontar que também não são apresentados pelo demandante a materialidade de
conduta a serem analisadas sob a perspectiva da ética pública; tampouco se identifica
qual autoridade teria, supostamente, agido de forma antiética.
(…)
9. Considero importante apontar que a ocorrência de vícios processuais
administrativos não é suficiente para a demonstração de atos de falta de integridade,
uma vez que a identificação e saneamento de tais vícios constituem-se demonstrações
do princípio da autotulela administrativa. Por outro lado, o gestor que, de forma
dolosa, ignora alertas técnicos e adota decisões em conflito de interesses, este sim,
pode incorrer em falha ética.
10. Ante ao exposto, a presente análise ocorre em termos abstratos, uma vez que não
são ofertados subsídios de materialidade nem de autoria que possam ser objetivamente
visualizados, à luz da ética pública.
11. Desta feita, determino que seja dada ciência do presente despacho ao demandante,
a fim de que, caso deseje, indique a autoria e materialidade do atos a serem analisados
à luz da ética pública, sob pena de arquivamento do presente feito” (fls. 1016/1017 do
processo SEI 00191.000779/2021-04);

CONSIDERANDO que o PARECER nº 00805/2021/


CONJUR-MS/CGU/AGU5 também não encontrou vícios ou nulidades nos procedimentos
de formulação das Diretrizes Terapêuticas para pacientes hospitalares e pacientes
ambulatoriais com covid-19, ressaltando que, “ressalvados os casos de nulidade absoluta,
no direito pátrio é comum a utilização do princípio pas de nullité sans grief , que traduz a
ideia de que não há nulidade sem prejuízo. Assim, neste momento, não se vislumbra a

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Cópia constante das fls. 978/ do processo SEI nº 00191.000779/2021-04.

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existência de vício ou nulidade do procedimento de incorporação ocasionada pela


divulgação de atos preparatórios no âmbito da Conitec, eis que não fora deduzida

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qualquer indicação objetiva de prejuízo pelo setor técnico”;

CONSIDERANDO que a Nota Técnica nº 3/2022-SCTIE/MS, ao listar


membros do Grupo Elaborador com possíveis conflitos de interesse, omite o nome do

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médico Flavio Cadegiani, diretamente indicado pela SCTIE e envolvido em estudos dos
fármacos hidroxicloroquina, ivermectina, proxalutamida, dentre outros;

CONSIDERANDO que o Supremo Tribunal Federal já se manifestou sobre a


necessidade de que as medidas de combate à pandemia sejam determinadas “com base em
evidências científicas e em análises sobre as informações estratégicas em saúde” e que
as decisões administrativas devam se sujeitar “aos princípios constitucionais da
precaução e da prevenção, que impõem juízo de proporcionalidade e a não adoção, a
priori, de medidas ou protocolos a respeito dos quais haja dúvida sobre impactos
adversos a tais bens jurídicos”, enfatizando que a desconsideração das evidências
científicas por opiniões técnicas constitui indício de erro grosseiro e de culpa grave do
gestor (ADIs 6421, 6422, 6424, 6425, 6427, 6428 e 6431);

CONSIDERANDO que, no julgamento do pedido cautelar da Ação Civil


Originária nº 3.478, de 03/03/2021, a Ministra Rosa Weber classificou de negligente,
omissa e de improviso a atuação dos gestores federais, na condução do enfrentamento da
pandemia, ao tempo em que reafirmou a necessidade de a conduta governamental se
pautar em critérios científicos e nas recomendações da Organização Mundial de
Saúde e, por fim, destacou a restrita margem de discricionariedade ao gestor público
na concretização das políticas de saúde coletiva, sobretudo em situação de emergência
sanitária, in verbis: “é de se exigir do Governo Federal que suas ações sejam respaldadas por

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critérios técnicos e científicos, e que sejam implantadas, as políticas públicas, a partir de atos
administrativos lógicos e coerentes. (…) Sem dúvida a programática constitucional não placita

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retrocessos injustificados no direito social à saúde. Especialmente em tempos de emergência
sanitária, as condutas dos agentes públicos que se revelem contraditórias às evidências
científicas de preservação das vidas não devem ser classificadas como atos administrativos
legítimos, sequer aceitáveis. No limite e em tese, as ações administrativas erráticas que traiam o
dever de preservar vidas podem configurar comportamentos reprimíveis sob as óticas criminal e

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do direito administrativo sancionador”;

CONSIDERANDO que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem emitido


diversos alertas desde o início da pandemia sobre o uso controlado de medicações
como a cloroquina e a ivermectina apenas para estudos científicos, tendo publicado
também guidelines atualizadas com base nas melhores e mais robustas pesquisas acerca
das medicações testadas para covid-19;

CONSIDERANDO que, em 02/03/20216, a OMS publicou recomendação


contra o uso de hidroxicloroquina como tratamento preventivo de covid-19, baseada
em fortes evidências científicas7 e que, em 31/03/20218, publicou um guia sobre as
terapêuticas estudadas para tratamento da covid-19, não recomendando
hidroxicloroquina e lopinavir-ritonavir com base em fortes evidências científicas; não
recomendando o uso do Remdesivir, com base em evidências de menor valor; não
recomendado o uso de ivermectina, exceto para fins de estudos científicos; e
recomendando, mais uma vez, o uso de corticoides na fase grave da doença, com base em
fortes evidências;

6
Disponível em
https://www.who.int/publications/i/item/WHO-2019-nCoV-prophylaxes-2021-1 Acesso em
26/04/2021.
7
Evidências de alta certeza, que dificilmente mudarão com a publicação de novos estudos.
8
Disponível em
https://www.who.int/publications/i/item/WHO-2019-nCoV-therapeutics-2021.1 Acesso em
26/04/2021.

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CONSIDERANDO que o estudo liderado pela OMS - “Solidarity

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Therapeutics Trial”910-, tornado público em 15/10/2020, constatou que os medicamentos
Remdesivir, Hidroxicloroquina, Lopinavir-ritonavirand e Interferon tiveram pouco ou
nenhum efeito na prevenção de hospitalização ou morte pela covid-19 e que corticoides
se provaram eficazes no tratamento de casos graves da doença;

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CONSIDERANDO que o CONASS – Conselho Nacional de Secretários de
Saúde e o CONASEMS – Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde emitiram
o OFÍCIO CONJUNTO CONASS CONASEMS Nº 004/2022, em 26/01/2022,
manifestando “total discordância com a Nota Técnica nº 2/2022-SCTIE/MS, republicada
por meio na Nota Técnica nº 3/2022-SCTIE/MS”, reconhecendo “o processo ágil, técnico
e transparente praticado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS
– Conitec, que possibilita ao nosso País prover acesso sustentável e seguro a novos
tratamentos em saúde, analisando com clareza as consequências sociais da
implementação de novas tecnologias no SUS e solicitando “a revogação imediata das
Portarias SCTIE/MS nº 05, 06, 07 e 08, de 25 de janeiro de 2022, e a tempestiva
publicação das Diretrizes Brasileiras que versam sobre o tratamento hospitalar e
ambulatorial do Paciente com Covid-19, elaboradas pelo grupo representativo de
especialistas convocados pelo Ministério da Saúde e aprovadas pela Conitec”, ante a
necessidade de “orientar seus profissionais e organizar os serviços de acordo com as
melhores práticas e tratamentos, com base no melhor conhecimento científico em
benefício da saúde da população brasileira”;

9
Disponível em
https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/global-research-on-novel-coron
avirus-2019-ncov/solidarity-clinical-trial-for-covid-19-treatments Acesso em 26/04/2021.
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O estudo "Solidarity" é ensaio randomizado “padrão ouro” que envolveu mais de 30
países e 405 hospitais.

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CONSIDERANDO que a defesa do chamado “tratamento precoce” pelas


autoridades públicas da UNIÃO não é nociva para o país apenas em razão dos possíveis

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efeitos colaterais das drogas mencionadas, mas também em função da falsa sensação de
segurança que transmitiu – e transmite - à população, que afrouxa medidas de
distanciamento social e uso de máscaras, confiando que o uso precoce do “kit covid” a
protegerá de manifestações graves da covid-19, conforme abundantes relatos de médicos

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da linha de frente do combate à pandemia;

CONSIDERANDO que as indicações indiscriminadas de medicamentos


ineficazes para covid-19 (inclusive por meio da NOTA INFORMATIVA Nº 17/2020-
SE/GAB/SE/MS) também implicaram dispêndio ilegal de verbas do Ministério da
Saúde e de outros órgãos federais com a aquisição, produção, distribuição e
propagação/promoção do referido “tratamento precoce”, sem embasamento legal, como
apontou o TCU em despacho do Ministro Relator de 22/01/2021, no bojo da TC nº
019.895/2020-8, sendo, por isso, danosas ao patrimônio público, além de nocivas à saúde
pública;

CONSIDERANDO que, ante a robustas evidências científicas e aprovação do


Relatório de Recomendação das Diretrizes Brasileiras para Tratamento Medicamentoso
Ambulatorial do Paciente com Covid-19 pela maioria dos membros da CONITEC - após a
realização de Consulta Pública -, é dever do Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde garantir, por meio das prerrogativas
previstas no art. 20, do Decreto nº 7.646/201111, que verbas públicas não sejam aplicadas
na aquisição e distribuição de fármacos ineficazes para covid-19, sob pena de restar
caracterizada a prática de ato de improbidade administrativa que causa prejuízo ao Erário,

11
Art. 20. Concluído o relatório da CONITEC, o processo será encaminhado pela Secretaria-Executiva da
CONITEC ao Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde para
decisão.

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nos termos do art. 10, caput, da Lei nº 8.429/92;

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O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, resolve, com fundamento no art. 6º,
XX, da Lei Complementar n. 75/93, RECOMENDAR ao SECRETÁRIO DE
CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÃO E INSUMOS ESTRATÉGICOS EM
SAÚDE DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, Sr. Hélio Angotti Neto, que: a) revogue a

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foram embasadas em critérios técnicos e científicos e não apresentam fundamentação
compatível com os princípios da precaução e da prevenção; e b) publique as Diretrizes
Brasileiras para Tratamento Medicamentoso Ambulatorial do Paciente com
Covid-19, elaboradas por grupo de especialistas convocados pelo Ministério da Saúde e
aprovadas pela maioria dos membros da Conitec, de acordo com metodologias e
evidências científicas reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde e por diversos
órgãos de saúde nacionais e internacionais.

Requisita-se, no prazo de 10 (dez) dias contados do recebimento do presente


documento, resposta do órgão destinatário acerca do acatamento desta Recomendação.

Brasília, 2 de fevereiro de 2022.

Luciana Loureiro Oliveira


Procuradora da República

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