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Valéria Cristina Pereira Furlan (Organizadora) SUJEITO NO DIREITO: historia e perspectivas para o século XXI EDITORA CRV Curitiba — Brasil 2012 Copyright © da Editora CRV Lida, Bditor-chefe: Railson Moura Diagramago e Capa: Edita CRV Revisio: Os Autores Conselho Kaltorial: nbn Sin Qumbu Saan(UNR-RO) Pe DeLee Sn Ra UR Tr shot aaa UFR) et De Lae sata) Panbs Cae fecoDentgesas(@X8-D) Pua ee OD Pot brcamen Tovrea CNR“ AO) Fo ea em Cn NBO) Pore Gatocamrseat~ ef rus ova Q20FAL= 0) ob Fate Lin ree a ives~ Pe Nise oe ee OF) com pet: begotten gad) PDFs Cs F0C) et Scare tna) nin Oana Lavon Pre Se at ef eG ces AD el BeAweAdsen Cap ie -S%) ‘Pa Day di NR-20) Fol manearsa ure) CCIP-BRASIL. CATALOGACAO-NA-FONTE SINDICATO NACIGNAL DOS EDITORES DE LIVROS, RI S04 Suelo no dito: hstra © perpetves para o Eco XXI Varia Cistina Pereira Fis (org) 1-ed~ Cut, PR: CRV, 2012. ‘sp Intl bibogneia ISBN 973-85:9002-595-6 1, Dire tturo. 1 Furlan, Vara C.P(Vléis Cristina Poreia). 129256, (cpu: 34381.753 wade 2 on6s2 Foi feito o deposito legal cont Lei 10.994 de 14/12/2004. 2012 Proibida «reproduplo parcial ou total desta obra som autorizngdo da Editora CRV “Tad os direitos dostaedigo reservados pela: Editor CRV Tel: (41) 3089-6418 wovweicorarv.com.br mil: aue@oditoruer.com.br APRESENTACAO presente trabalho deita suas rafzes nas tertilias académicas realizadas entre ‘estudiosos da Faculdade’ de Direito de Sao Bernardo do Campo interessados em co- Jaborar para a implantacio de um instituto de pesquisas cientificas nesta tradicional insttuigdo de ensino, com a convicgdo de que isso poderia ser realizado de forma ‘mais adequada e eficiente se somassemos esforgos, habilidades, conhecimentos ¢ @ vontade de compatilhar objetivos, decisdes e responsabilidades. © passo seguinte direcionava-se & apresentagdo de trabalhos em nossas reu- nides de estudos com vistas & elaboragdo de artigos para compor uma obra coletiva ue, para nosso deleite, foi prestigiada com a honrosa participago de professores e pesquisadores de diversas instituigbes de ensino. A definigio da linha geral “Sujeito no Direito: historia e perspectivas para o Séeulo XXI” levou em conta sua aptidio para abragar temas das diversas éreas para © desenvolvimento de estudos cientificos, com tradigao investigativa habil a ense- Jar projetos de pesquisa com fins semelhanies nas respectivas disciplinas e, acima de tudo, seu potencial para assegurar uma proficua visio interdisciplinaé de temas juridicos, considerando-se que € da diversidade de conhecimentos e habilidades que se aprimora o trabalho individual em prol do coletivo. Nesse compasso, a obra em apreyo compreende os seguintes temas: Fabiana Cristina Severi busca elementos na psicologia social de Theodor ‘Adorno para abordar 0 sujeito de direito na ern da liquidacto do individuo ¢ da excegiio, ¢ destacar sua nova complexidade em face do cariter de excepcionalidade dos Estados Democriticos de Direito contemporiineo. Mireio Henrique Pereira Ponzilacqua, sob a perspectiva filoséfica de das ‘eminentes pensadoras da primeira metade do século XX, Simone Weil e Edith Stein, considera a nogio de comuunidade elemento fundamental pera a construgdo de ex- presses integrais da subjetividade e intersubjetividade no século XI. pois o bem ‘comum remete para a ontdlogia humana que é relacional. Ao final, destaca as ages _no Ambito sociojuridico que precisam ser aleancadas em prol do bem comumn. ‘Annie Dymetmani expe a necessidade do Direito encontrar novos ramos para os novos tempos ¢ tece um estado do sujcito de direito em face da transmedia- ‘p80 de conflitos, que se distingue das outras formas alternativas de mediagio no que pode ser considerido o seu amago, que é a forma pela qual ela define e/ou considera 2 ideia de confito e controvérsi. Luciano de Camargo de Penteado retoma a discussio que esti na ordem do dia, qual seja a familia como sujeito de direitos e tem em conta que o sujeito de direitos, sob a ética da teoria geral do direito privado, é um dos elementos da rela- Wa gana Faeusoa cette de Sto Berta do Camp 6 une au mero com eno rete ‘sam fins roe. Reson ots squat sas de usa OMS Racor aro en 20", 208 207 © {tele Ocendor Adagson de Brae ad ras mes rere onéhossperar ee sh camp con 0 eo creas esc eonproties con ereaperablece cho multe, 6 20 juridiea, Analisa, outrossim, a crianga como pessoa em desenvolvimento, sob ‘a premissa de que pessoa é conceito formal, portanto, dependente de ordenamentos jjuridicos historicamente constituldos, Destaca as técnicis legislativas trazidas pelo hove CC e a CF, a importincia do conceito de dignidade da pessoa humana, assim ‘como da mediag30 como forma alternativa para a solucdo de controvérsias. Eliane Agati Madeira ressalta a importincia da heranga juridica lusitane para 1 formagio do direito brasileiro e tece uma andlise da condigdo juridica da mulher no direito tuso-brasileiro a partir da perspectiva das Ordenagdes Filipinas. ‘Ania Paula Martins Amaral dedica-se & andlise do arcabougo juridico constru- {do pelo DIDH (direito intemacional dos direitos humanos) para resguardar a0 Jado dos direitos humanos in abstracto, também a protecdo de grupos especiais, antes des- conhecidos ow nao citados nas deciaragbes como mulher, crianya, doentes, idosos, portadores de necessidade especiais, migrantes, em especial os socialmente excluidos “Marcelo Benacchio dedica-se a0 estudio do sujeito de direito na verteate hu- rmanista, neste inicio de milénio, em que a intensificasdo da sociedade da informa- Glo e da globalizaso tora evidente, em algumas situagdes, 0 descompasso entre 8 previsdo legislativa (como processo de procugo da norma juridica) e 0 Direito éenquanto obra do bom e do just. ‘Valeria Furlan anslisa 0 sujeito passivo de obrigagSes tributirias como sujei- to de direito no nosso atual Estado Demoeritico de Direito ¢, neste contexto, apre- ‘senta 0 imposto sobre a renda como um dos instrumentos estatais habeis a assegurar o respeito & dignidade da pessoa humana ¢ a promover a concretizasa0 de direitos fundamentais dos idosos ¢ dos portadores de deficiéncia ou doengas graves. ‘Omara Oliveira de Gusmio estuda os sujeitos do poder de tributar na fede- ragio brasileira com 0 escopo de instigar novas reflexdes sobre a reparticfo de com- peténcia, partindo-se das distorgdes que comprometem a autonomia dos sujeitos da federagao, fincadas nas diversidades existentes, na insuficiéncia de crtérios utiliza- dos na parila dos impostos, no descompasso entre as fontes proprias de recursos & 2s incumbéncias deferidas, ¢ na crescente tendéncia centralizadora, acentuada pelo surgimento de noves contribuig6es sociais e interventivas. ‘Carlos Alberto de Moraes Ramos Filho realiza um estudo do Estado como sujeito ativo da ativideds ceonémica ¢ trea 05 contornos do regime juridico apli- cfvel as empresas. estatais que exploram tal atividade, seja em regime de exclu sividade (monopélio), seja em regime concorrencial, isto é, 20 lado da iniciativa privada atuante no mesmo segmento.” entre os autores Omara Oliveira de Gusmao Claudio do Amaral Prado que constam na Apresentago. ‘Claudio do Prado Amaral analisa a evoluga0 historica e perspectivas sobre © cencarcerado no Brasil como sujeito de direitos, onde destaca que, & época do abso: Jutismo era urgente efetivar liberdades, em fins do século XIX e durante todo 0 sé- ‘culo XX, o mundo precisou comecar a aprender a igo da igualdade, e no presente século XXI reserva-se & humanidade 0 aprendizado ¢ efetivasio da terceira ligdo da Revolugdo Frances: a solidariedade, ‘Maximiliano Roberto Ernesto Fuhrer enfoca 0 sujeito de direito, espe- cialmente, como sujeito de Direito Penal, em um mundo fomentador do respeito 'SUJEITO NO DIREITO; hlatefo 9 perapoetvas para o sbculo XX! 7 8 dignidade da pessoa humana, onde ¢ inadmissivel punir ou agravar a punigto de alguém em razao da conviegto religioss, postura moral, modelo preferido de terno, comportamento social, corte de cabelos, gosto musical ou por envolvimento crimi- nal de anteontem, pois todos so iguais perante a lei, vedada a distingaio de qualquer natureze (art. °, caput, da Constituigao Federal). Ricardo César Franco apresenta 0 acusedo e os tribunos como sujeitos de direitos, mediante a andlise da produedo da prova no processo penal, em conformi- dade com a teoria dos jogos exposta por Johan Huitizinga em Homo Ludens e por “Marcio Pugliesi, em Teoria do Direito. Flavio Roberto Batista analisa 0 sujeito de direto, individuo e coletivida- 4c, com o objetivo de apresentar algumas reflexdes acerca dos problemas teéricas ‘envolvidos na transposigao do conceito de autonomia privada para o ambito des relagDes coletivas de trabalho e, neste contexto, tece apontamentos criticos sobre 0 principio da autonomia privada coletiva no direito sindical Natilia Bertolo Bonfim dedica-se ao estudio das cooperatives de trabalho ‘como instrumento de inclus8o social, isto é, como uma das alternativas vidveis a «tise do desemprego, estimulanco o resgate da autoestime dios sujeitos e de sua di nidade, valor este supremo no Estado Democratico de Direito brasileiro deste sécu- o XX1, marcado pela substituicdo dos seres humans pelas méquinas, cujo grande desafio & garantir 0 pleno emprego e evitar a precarizagio dos postos de trabalho, elementos estes que, se nfo observados, trazem sérias consequéncias econémicas, sociais e politicas para o pais. Andrea Lasmar de Mendonca Ramos examina a pessoa juridica como sujei- to ativo dos crimes ambientais ¢ sua responsabilizac2o penal em face da necessida- de de se estabelecer novas maneiras de protegao com vistas & garantia do Direito e, por consequéncia, & garantia da qualidade de vida em sociedade. Tiago Cappi Janini tece uma anilise das relagées entre direito e ciberespago, tendo em conta que os comportamentos sociais produzidos em um ambiente eletr6- nico nao ficam livres de conflitos, com o fim de abordar questdes sobre como deve set geridos os conflitos ocorridos no ciberespago. O diteito pode regulamentar 0 ciberespago? Como & feita 2 intervengto do dirsito no ciberespago? © eiberespago também tem 0 condo de infuenciar 6 direito? Como os sujeitos do direito devem aplicar as normas juridicas no ciberespaco? ‘André Felipe Soares de Arruda faz um breve estudo sobre a identidade ét- nice e cultural ¢ da relevancia da pluralidade cultural na sociedade contemporiinea. Deste breve panorama, infere-se que a presente obra oferece a possibilidade de um democritico didlogo entre estudiosos que almejam, sob um enfoque multi- disciplinar, conhecer 0 “sueito no direito” 20 longo da historia — seja como coisa, pessoa, sujeito de direito, de direitos e obrigacdes, sujcito de direitos fundamentzis, de direitos humanos ~ ¢, assim, desvendar as perspectivas para o século XX Valéria Furlan PREPAC ninemenesnsnrns sevens A SUJEITO DE DIREITO NAERADA sams DO NON DUO E DAEXCECAO. Fabiana Cristina Sover 13 INTERSUBJETIVIDADE E DIREITO NO SECULO Xx 4 contribuigdo de Simone Weil e Edith St0iN .....0nninnnemesenninnnnn 29 Marcio Henrique Pereira Ponzilacqua TRANSMEDIACAO DE CONFLITOS: fim do sujelto de direit0? wae cne nS Annie Dymetman AMULHER NO DIREITO LUSO-BRASILEIRO: uma anélise a partir da perspectiva das ordenagées fillpinas Eliane Agati Madeira 59 APROTEQAO DA CRIANGA EM SITUACAO DE EXTREMA \VULNERABILIDADE NO DIREITO INTERNACIONAL .. ‘Ane Peuta Metin Amaral AFAMILIA COMO SUJEITO DE DIREITOS EA. SRINGA TOMO, PESSOA EM DESENVOLVIMENTO .... Luciano de Camargo Penteado © SER HUMANO COMO SUJEITO DE DIREITO: 08 direitos humanos .....99 Marcelo Benacchio ‘SUJEITO NO DIREITO TRIBUTARIO: néo incidéncia do imposto sobre a renda como medida de efetivagaio dos direitos fundamentais e humanos dos idosos, dos portadores de deficiéncia fisica e dos Portadores de doencas graves ... : 119 Velera Furlan OS SUJEITOS DO PODER DE TRIBUTAR NA FEDERAGAO BRASILEIRA: competnciairbut, assimetrias e perspectivas 187 Omare Olveire de Gusméo © ESTADO COMO SUJEITO ATIVO DA ATIVIDADE ECONOMICA.......183 Cros Alberto de Moraos Ramos Filho 4 EVOLUGAO HISTORICA E PERSPECTIVAS SOBRE O. ENCARCERADO NO BRASIL COMO SUJEITO DE DIREITOS ........--204 (Ciéudio do Prado Amaral DIREITO PENAL DA IDADE DA PEDRA: o homem como sujeito e direito - 213 Maximiliano Roberto Emesto Fahrer BREVE APANHADO SOBRE A\ PRODUGAOT DAPROVA EM PROCESSO PENAL .. Ricardo César Franco 219 APESSOA JURIDICA COMO SUJEITO ATIVO DOS, CRIMES AMBIENTAIS ‘Andrea Lasmar de Mendonca Ramos SUJEITO DE DIREITO, INDIVIDUO E COLETIVIDADE: apentamenio cis Sobre o Principio da Autonoa Prvada Coletiva no Direito Sindical.. vee DAB: Fiévio Roberto Batista AS COOPERATIVAS DE TRABALHO COMO INSTRUMENTO DE INCLUSAO SOCIAL 00sec ees BST ‘Natalia Bertofo Bonfim ANALISE DAS RELACOES ENTRE DIREITO E CIBERESPAGO ......0 273 Tiago Cappi Jenin AIDENTIDADE ETNICA E CULTURAL NA SOCIEDADE CONTEMPORANEA 285 André Felipe Soares de Arruda SORRF 8 ALITORES. 299 PREFACIO E sempre uma grata satisfagdo para todo aquele que estuda e trabalha com 0 Direito ter a oportnidade de constatar a dedicasto de pessoas que se dispBem a contribuir para o aprimoramento da doutrna, Este 6 precisamente o caso do grupo de estudiosos que comple esta obra, 20 abordar 0 tema do sujeito no Direito,histSeia e perspestivas para o século XXI. ‘Vé-se que se esmeraram em produzir textos que, sob uma dtica maltidisiplinar, analisam o sueito no Direito em seus varios aspectos,e nos diversos ramos do Direito filosofa, direitos humanos, histéria do dieito, direito de familia, direito da crianga e adolescente, dreizotibutério diceito penal, dreto processual,dreto do trabalho e tan tos outs, permitindo consttar que o tema central foi esmiugado de forme abrangente, ‘que se toma ainda mais relevane se considerar serem poucas as obras neste assunto, Mais do que iso, ha que se destacar estar a obra voltada para a frente, ema que © tema é abordado com as perspectivas de futuro, de moda a se ter uma visto do Direito ndo apenas como ele se apresenta, mas principalmente o que dele se espera Sto caractersticas que se somam para tomar a obra fonte de consults indis- pensivel a todo aqucle que pretenda conhecer com mais profundidade 0 assusto, ‘qualquer que seja sus drea de interesse Trata-se de uma iniciativa altamente elogidvel, cujos méritos eabem ini- ialmente & organizadora, Professora Valéria Furlan, docente e pesquisadora que ndo se satisfaz em estudar 0 Direito em sua drea especifica de atuego, 0 Direito Tributétio, mas procura ampliar 0s horizontes para as demais ércas. E © elogio necessariamente hé de se estender a cada um dos autores, por trazer aos leitores esta visio de um assunto que, além de ser da maior relevancia, 6 visto s0b todos os ingulos, de modo a nfo se ter uma nocio direcionada e, portanto, parcial, a partir de uma tinica érea do Dieito, como costuma ocorrer na generalidade das obras juridicas. (Os autores mereceriam elogios individuais, para cada um dos textos que integram esta coletinea, o que por certo estenderia demais esta apresentagao, © ndo € 0 caso, com téhtos textos interessantes, tomar 0 precioso tempo do leitor antecipando 0 contetido dos artigos que merecei ser lidos na integra. Mais ainda considerando-se, ¢ verd 0 leitor a0 apreciar este livra, que os textos tém 2 qualidade de nao serem longos, seguramente jé se antecipando ao futue fo que se avizinha, em que a escassez do tempo exige objetividade ~ ¢ desde Jf registre-se mais este elogio a este obra. Sdo textos elaborados de forma ‘cuidadosa, o que se pode constatar com facilidde, evideneiando em cada um dos autores a vontade de trazer contribuigdes que sejam efetivamente iteis ao leitor. Fica, como no poderia deixar de ser, um elogio a todos que se uniram para produzir esta obra coletiva que sem diivida contribuiri em muito pare enriquecer nossa doutrina SUJEITO DE DIREITO, INDIVIDUO E COLETIVIDADE: apontamentos criticos sobre 0 Principio da Autonomia Privada Coletiva no Direito Sindical Flavio Roberto Batista 0 objetivo do presente ensaio ¢ apresentar algumas reflexes acerea dos pro- ‘blemas tedricos envolvidos na transposigdo do conceito de autonomia privada para ‘© dmbito das relages coletivas de trabalho. © contexto de tal problemética ¢ conhecide pela doutrina com o nome de luralismo juridico do diretto do trabatho™, ou seja, para os fins relevantes nesse estudo, » earacteristica do direito do trabatho segundo a qual nto s6 o Estado como também os agentes sociais envolvidos na produgdo, coletivamente reunidbs, con- sensual ov confitivamente™, criamn normas juridieas gereis e abstratas para regular suas relagdes ¢ condiedes de trabalho. E exatamente por esse motivo que a doutrina, 4uise & unanimidade, identifica como um dos prineipios mais importantes do direito Coletivo do trabalho, ao ado da liverdade sindical, a awtonomia privada coletiva.® O principio da autonomia privada coletiva, portanto, comporta a ideia de que as coletividades envolvidas nas relagGes de trabalho —no Brasil, nominadamente, a3 ‘categorias profissionais e econdmicas ~ podem criar normas para si pr6prias, como aponta a propria etimologia grega do tetmo aivtonomia. Trata-se, evidentemente, de uma transposicao da mesma légica que rege o direito dos contratos, e que é conhecida na doutrina do direito privado com o nome Si Boson Gavacs que apes aie una ata plsica, Sue ssp mals die no melo ‘scarieo propa on eso do arg. Boon de Sosa Sate aetna, ns aaa crocs, ‘nacre ria pa 8 eta ent (SAUTOS, Bonvrina de Soe Nao sre esr ice soa Fasten SOUTO, Cis FALOAO, ean gs), Sociologia Dats Sa Pade Pome. 28.7 “17 Ni 8 deo que ata an como epoca na aia expla om Geicsea-wcalnecabo rac au ee rcs dan oeament au Dratodo Tab co sro cortogs Sofie ica: ego arora wide cores dura prafste ce rere: tantin Se ure pied {ee net Sot dhe os kos, artes Gt Eel creo paras eae nora aoe ‘rataits: SLY, Wake Lopes Rao, Aerema pada casa, Fx CORRELA, Wears Okon Goan’ SSOUTO NAIOR Je Lz ep} Corse rt dora. S80 Pu: 08 ‘389 Ferme rgosaro casa do tatoo, euando on aso comers etna sea, pro te [rover send pote naman ca st Tato aga 18, $820 de Crtlapo Fete, 380 Pervnstndén cererirado hon da catia oles 4 egoeapa cout. hatha MAT NE Lusano, Curso dno do tabi. "od So Pas: Sara 201 gp. 2-60; GARCIA, Gln Fige Soon ‘urs crete do rabto. o.oo Jana: een 2012p 1207-08, BRTOFLAG, es Deo oe 4 Deo shel, "eo Puc: i 2008». 35, HO, Harve Vote. Beale de tabahe oe) le Seve, 208 pp 2-2, DELGADO Maso Goo Curso de de de abel es Ste as 220, op 127-1228. nimers cuts aranplspecoa er alsseecen, mae creel ser ae anerabra eet. . 7 Hae «de autonomia privada: em toda matéria sobre a qual nfo houver disposicao legal impositiva, por vezes denominada de ordem piiblica, cabe aos sujeitos de direito doterminar livremente as disposigBes que regerdo suas relapses privadas, manifes- tnndo suas respectivas vontades dai porque ndo faltarem autores que denominar © prinefpio em questdo de autonomia da vontade™" -, constituindo obrigagdes para si préprios, a que cocresponderio direitos da parte adversa e, de outro lado, a qe po- ‘dem corresponder obrigagiies reciprocamente assumidas por essa mesma parte, con- i ‘retizando a ideia conhecida no direito contratual como sinalagma”’, ou pode mio ‘sorresponder qualquer obrigaeio, concretizando-se, assim, um contrato unilateral. ‘O surgimento do principio da autonomia privada é controverso, principalmen- te tendo em conta que ele se artcula muito intimamente com algumas outras nog6es constitutivas da teoria geral do direito contemportinea — como as de sujeito de direito 2 de diteito subjtivo~, as qua, estas sim, sube-se que somente foram integralmen- te aperfeigoadas com 0 advento da modemidade e de seu pensamento jurfdico””. Desse modo, muito mais relevante que perquitir sobre sua origem nos albores do direito privado romano, importa considerar que sus arquitetura conceitual contem- porinea, envolvendo a intima articulagao entre sujeito de dieito, dreito subjetivo e utonomia privads, remonta ao pensamento juridico modemno e, portanto, & conclu: silo do processo multissecular que leva & construgo da individualidade.™ ‘SUJEITO NO OIREITO:histéra 8 perspectives para o século XX! 27 ——<—— ee ee ‘Em outras palavras, o que se pretende aqui destacar & que, no intervalo apro- ximado entre os séeulos XVI e XVIIL, constituiu-se paulatinamente uma ideia de autonomia privada essencialmente individualista, ligada a afirmaggo do individuo Promovida pelo iluminismo, expressio filoséfica das ideias politicas e econdmicas dda burguesia industrial nascente, Nao é 4 toa que pesquisa recente conduzida na Fa- culdade de Direito da Universidade dé Sao Paulo por Celso NaotoKashiura Hinior logrou identificar precisamente a vinculagdo intrinseca entre a ideia de sujeito de direito © o modo de produsto capitalista, por meio de seus arautos ~ Kant e Hegel foram os escothidos, por seus méritos filoséficos ~ ¢ de seu critica mais radical: ‘Marx. Confira-se a respeito 0 significative excerto: No niicleo da flosofia moral kantiana reside uma formulasio do stjeito au ténomo, submetido apenas a si mesmo ns medids em que submetido sponas ‘40 comando da razo— que, ao mesmo tempo, € a Sua razdo (porgue atibuto 4o préprio sujeito) e & a razto universal (porque transcendente). O que agui se encontra é, em suma, « humanidade como fim em si mesmo, autéaoma Porque submetide to somente & normatividade que, por uma racionalidade transcendental que the & também imanente, dé asi propra.”* ‘Na formulago kantiana da idein de sujeito de dircito— que, se nto £0 Spice da ideotogia burguesa sobre o assunto™, consegue ao menos sitetizar brilhamemente as diversas correntes flosGficas que buscavam responder teoricamente aos desafios préticos impostos pela tansipfo do modo de produgio feudal ao capitalist?” —n3o 86 fica patente o vineulo indissolivel entre sujito de direito, autonomia privada e individuo, como tal condigio ¢ algada & categoria de dogma fundante da sociabili- dade e do Estado. Nesse sentido, o trecho acima transcrito deixa claro como & pos- 1381 “Tadioratnente, desde o dieliororeno, as pessoas séo fives para contalar Essa iberdade sbrange 0 deo de Ghat mgncon cur sueer tama run en sect esa Ste spo hon the suanas’s nas Sats prc x aon orace Stunts ra arp bce so potest Supt sh eistoniorrs deacon joc. COANES, Ct Raa eso sto a2 es slr Sema 2p saz "Sonus nce regu ctg pe nto cata commas sm ba 0 sivel encontrar na formulago kantiana do sujeito de dreto a essondncia do que se i nop esi a a BOR convencionou chamar de contratualismo: a teoria politica que vicejou nos séculos sas Maken nee eat qua atrdaro thai econ noel arena de cute ep =a So XVII e XVIT, pela pena de Hobbes, Locke e Rousseau, segundo a qual o individuo ‘arti rst ru ew een ore ee sueito de direitonasceilimitedamente live, es6 nfo écapaz de exercer tl liberda- Sharan cen ee Oto rata Sune 4eiimitada porque, num hipotética estado de natureza historicamente remoto, ten rie cr Rv dealing Del Gnade Se Pau, Sh Ps , ovata “Buen ine eee alienado parte de tal liberdede ao consttir, com os demaisindividuos, por rnelo de 29 Twos rapt rig de ids: ap eu a ppt a iain lum contrato socal, iso & no exercicio de sua atonarsia privada,o Bstaso, ‘prtone en duselanie dara dese une qdee ania eine onus reside dum cao pees scoblago dave oa er huang Un Toran Sa ceeavanet cool uae cnsogaros rar ren, tno nace fo so a sl Sates en peper, atin asia st vera taal 3 giasesbcohstocenert cetrvindn sa rivaldos Funan dbo oo se Ser eegearera Ceheae ro sne dtae ene pogo iia soi como thas a souecacebuguis roma ‘elas una catego cant os Sr dormer como denen de ta, se no necesla cet eco" LKACS, Oey Prolagmencs para uma oroiogl do sr sci to Palo: Baten, 206 p12. A reno piss em datrate mance‘ jo reso esa, prnaraary, suo ato, BS [Retianco am saeedad ~ por soo panto departs & atraher, a posi dos wdcies soxalmero Ainda outro fato também merece destaque na construgdo de nosso raciocinio, Como vimos anotando, os findamentos da construgo conceitual contemporinea da autonomia privada so dados entre os séculos XVI e XVII. Passou-se, portanto, ‘um século mais antes que 0 diteito pudesse deparar-se com o que hoje conhecemos Por direito do trabatho™, ttlarinase O corde 0 porsicehguns o athe. pee quae conocan Sith © Rann paroneom 8 {uate dxyonsi foals masons ao soso XVI uses uo oo fama agua exrester, come nega ox heaters toy, sopeomele une aaa an sao de afumaroe un rera a una we ‘eal natenandae, | Tateas, 9 cane di arses ce ‘saccade Bogue oe ca oowe ces 9 evo Xi gun, 0 sfc 70, de ages passe pues aie. Nea sete de econ, 9 Ir apreos cesta cos aos rsa ta, en épres cas ans, o fat um acess de Um eam nara coerivac tate, Acs pas edu Xl sore is atrs Snho Rear ‘the panera, 0d sel XM pred, por uo dso mes an {eas gr adr ab re fos pets csowaes dado ea YM = eps come wm ieee 385 We a7 0 tice srs ro peste No como ar ashton com pane Pr de Niet do ‘gral MAB. Ka, Gruss: manures econdnees de 857-188 Ske Pun. Baro 201 Fee, ASR, ia es Sete cota eatin Tee nfo) Saas USP.A12. 8 eer pp. 611 J eos opruras sare cic o amar aaron BATISTA, io Robes Cis tecnologia dos eos seca: ua conto mati Netorcedltin, Tee corns) So Paul Sh 20", ezecaane po 2258, Corr, pr ws, pode Mauro Gade Dade: "0 Oso do Taba den mode rao tic she Xa cas conden ects, so eas rove DELGADO Mise Godse Curso dail Investigando mais de perto a questo do direito eoletivo do trabatho, que nos interessa diretamente neste ensaio, « doutrina espoctalizada divide a histéria deste amo, para fins didéticos, em trés fases sucessivas: proibigio, tolerdacia e reco- nhecimento™. Assim sendo, ¢ ficil observar que somente se pode falar em incor- porago das entidades sindicais & ordem juridica a partir de 1871, ano em que @ Inglaterra edita, de forma pioncira no mundo, 0 rade unionsact, regulando a vida © ‘a existéncia das entidades sindicais, Portanto, é somente no final do século XIX que 0 efeitos dos atos das entidades sindicais tomam-se um problema relevante ‘Nao basta, entretanto, para dar contomos precisos ao problema, identificar a corigem remota do reconhecimento juridico das entidades sindicais.1ss0 porque, como se sabe, 0 reconhecimento juridieo do fendmeno sindical, como processo hist6rico, inicia-se por aqules paises europeus, notadamente a pioneira Inglaterra, em que, sté haje, a ideia conhecida contemporaneamente por liberlade sindical vieeja em sua mde xiona expresso, de modo que cada entidade sindical ser responsdvel inica e exclusi- ‘vamente pela representagio dos interesses de seus proprios trabalhadores fliados.*” Perceba-se que, nessas condiydes, nlo existe a necessidade da estrutura con- ceitual da autonomia privada coletiva para solucionar o problema das negociagdes coletivas de trabalho havidas entre os sindicatos de trabalhadores eo patronato, ‘Com 0s efeitos restritos aos filiados, a negociagZo coletiva de trabalho pode ser per- feitamente comportada pela categoria da personalidade juridica, forma jé bastante antiga e simples encontrada pelo direito para lidar com o fenémeno das coletivida- des: igualando esta coletividede a um individuo isolado™*, Dai porque o sujeito de direito serd sempre uma pessoa, seja cla fisica, isto ¢, fazendo eoincidir o sujeito de diceito com o individuo humano, seja ela juridica, composta por uma coletividade de individuos humanos unidos em prol de um objetivo comum: as sociedades ou ‘associagées. Atente-se ainda para a circunsténcia de que, constituindo-se a partir dal o sujeito de dreito como um polo organizador de direitos e obrigagbes, & evo- lugto conceitual da ideia de pessoa juridica permite que até mesmo conjuntos de bens patrimoniais, sem qualquer ser hurmano envvolvido, podem ser algados a esta categoria, como ocorre hoje, no direito brasileiro, com as fundagbes*. No limite, © proprio Estado é assimilado a ideia de pessoa juridica para permitir seu adequado tratamento pelo direito.** Nesse quadro, portanto, a autonomia privada coletiva toma-se um verdadeiro problema teérico somente a partir do momento em que passam a existic ordenamen- ‘Go iabalie of SSoPaue AU pS $99 BRITO FILHG, st Cau nso gu De Sines, to Pal LF, 208, p54, “80 Clisem 6-7 7-81 Ct aie ANTUNES, Rear Os settee do rab a Pal: Botan, 188g. 5140. 491 "0 dria no pcan esses wnifadescltas, cats pla sue Nia cu pla vera des hanons, pase eto a cles psa ce pasa prcpar da vai co sete Ge dts, xenlo cos sons ara lansoas, fa eve fc pronto propre”. GONGALVES, Cats Raters Do eM bea Od. Sinan Sasa, 2012p 218 Posi coma cpnraia apron, aooto tise ‘edema, gn a ec todos os aman (Gan & wade tana exo clades Glas ‘past oar ce todo ean. (9.95. er op 220 aa erepectvas para ostevlo XXI 249 ‘SUIEFTONG DIREITO: stor tos juridicos nos quais as entidades sindicais adquirem o dircitode representar um conjunto de individuos mais amplo, a categoria. Ou, inserindo a questao na proble- ‘itica até aqui desenvolvida, quando s40 constituidas duas coletividades diferentes, ambas relevantes para o direito coletivo do trabalho: as entidades sindicais, coletivi,

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