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A ESCOLIOSE EM PEDIATRIA ‘Andeela Carta! , Surana Gama de Sous! , Arn Olvera © Pediatra depara-se, no quotidlano, com patolagia ortopécica, de que se destacam as éeformidades de colura, € da sua responsabildade o seu restreio com um exame cinco completo & cians Os autores propuseram-se a fazer uma reviséo teérice da escoliose em Peditria, abordan- do questées como a cassificecdo, a eiopatogénese os aspectos da hstériae exame objec tivo, o tratamentoe o prognéstco. Destaca:se a importincia de ume intervencéo precoce e oportuna do Pediatra com even tual orientagSo para Ortopedia, Palavras-chave: coluna vertebral, escoliose, instrumentacéo. Everycay, the Paediatrician meets with orthopaedic pathology, especially spinal deformities. Its screening is his responsibilty with a complete clinical examination to the chil ‘The authors made 2 revision of Scoliosis, broaching points such as classification, etiopat- hogenesis, clinical details, treatment and prognosis It’s important to emphasize an early and opportune intervention ay the Paediatrician with a probable orientation to an Orthopaedic Surgeon. Keywords: spine, scoliosis, instrumentation 1 Intema Canpemartar de Pecatia 2. Praessor Assent Hostal de Servo espe Gra! de Sarto tio 39 [As deformidades da coluna pertencem a um conjunto de patologias ortopédicas com que 0 Pediatra se depara no quotidiano. Neste contexto, a ovientagéo atempaca para uma con: sulta de Ortopedia assume particular importincia, j4 que permite uma intervenco preco- ce € pode impedir 0 agravamento da deformidade com a optimizacdo do tratamento. Escoliose idiopatica A escolose idiopdtica & a forma mais comum de desvio lateral da coluna, com uma preva léncia de cerca de 396 na populagéo em geral (1), ocarrendo em criancas saudéveis e neu rolagicamente normais, Esta deformidade pode ter repercussées estéticas e psicossociais fgraves, sendo responsavel também por alteragées da fungio pulmonar e degenerativas precoces da coluna (1,2). Por defiriglo, a sus etiolagia é desconhecida e a exclusio de cau- 28 secundérias é imperativa (3-6) Classificagao da escoliose idiopatica Na escoliose idiopética, 0s desvios da coluna ocorrem durante os anos de crescimento, € séo divididos em trés categorias (infantil, juvenil e adolescente), consoante a idade de iagnéstico, ou seja, 2 idade em que o desvio & notado pela primeira vez (7). A escolose idiopstica infantil clagnosticade até aos trés anos de idace, é mais prevalen te nos paises de Europa, nas criancas do sexo masculino, e é na maioria das vezes uma curva tordcica, com a convexidade para a esquerda, Pode classificar-se como resolvel ou progressiva, conforme a sua evolugso. A escollose idiopética juveril aparece entre os quatro anos e 0 inicio da adolescéncia (dez ‘anos de dade) e é mais frequente no sexo ferinino, apesar de entre os quatro e os seis ‘anos a diferenca entre os sexos ser praticamente nula. Ocorrem neste tipo de escoliose varios padrées de curvas, mas & consensual a curva torécica ter preponderantemente con vexidade para a dieita, [A escoliose idiopatica do adolescente ¢ notaca ands 0s dez anos de idade, durante a fase de crescimento da puberdace, e é 0 tipo de escoliose mais prevelente, afectando predo rminantemente 0 sexo feminino, podendo atingir uma proporséo de 10:1. E importante realcar que esta divisdo por idade de diagnéstico nao é estanque, e vamos naturalmente encontrar escolioses infantis que s6 se dagnosticaram apés os trés anos de Idade, assim como escolioses do adolescente que teréo surgido antes dos dez anos (8). Etiologia A etiologia da escoliose idiopétice € desconhecida mas parece ser multifactorial: ‘actores ‘enéticos, de crescimento, bioquimicos, mecénicos e neuromusculares parecem estar impli- 200s no desenvolvimento @ progressdo de curva da escollose. Parece poder haver uma pequena anomalia a0 nivel do Sistema Nervoso Central que é geneticamente determinada, 40 poder haver uma alteracio da viscoelasticdade dos discas, e com o crescimento a coluna torna-se menos estdvel e vulnerdvel as mudancas de equllbrio postural. A inter-relacdo de todos estes factores determina se @ curva seré ou no progressi- v2, € quanto ird progredir (1). A prevaléncia é maior nos adoles- centes com historia familar de escollose(2, 5, 6). ‘A escollose nao Idiopética pode ser congénita, ps-traumstica, tumoral, infecciosa, associada a ume doenca neuromuscular ou sindrome polimaiformativo (fig. 1), metabslica, do tecido conjun- tivo, ou outras (Quadro 1) (2,7, 9). Areferéncia a queixas agicas, a evolucéo répida da deformicade, a presenca de padres atipicos de curvature ou um exame neu- rolécico anémalo exigem investicacéo para despiste deste ipo de _ Fi. -Escalese en escoliose sindome poimaternatve ESCOLIOSE ESTRUTURAL DOENCAS REUMATOLOICAS NAIROMUSCULAR TRAUWATICA (acta, pesca, rica) Nesraigen COMTRACTURAS EXTRANEDULAR eri, senaei) Ture ter speron (OSTEOCONDAODISTROFIAS aries cesbra “narisne Degere-scdncl espnocerebloss Mcopotssacaraoses Serhgerieia + Rear “Tumor Taums media Outer eppivae eeia nota ifr INFecgho Ossea| Welt ves DDOENCA METABOLICA une, agate dros muscusr med Ostegéraseinpeteca elonentaseele uta - Deaueremia ALTERAGSES DA ARTICULAGAD LOMBOSSAGRADA inser Tumors Arropese Colts vertebral Dette muscuar Need = Mptarta conta consents ESCOLIOSE NAO-ESTRUTURAL Dette na fnaco (vies am ah, henvnesn)| = Ps Deft na segmentagio (sara uri itera) Miia estas Teagea€as anes nerosas (ri deal, ners) AeuaoFiBRoMArOse Diemessa cor membres enor DOENGAS D0 COLAGEMIO uacro 1 - clasieate a Exalse Sends ‘Avaliagio da crianga com escoliose Perante uma crianga com assimetria dos ombras, aparente desvio do tronco, béscula da bacie ou dismetria dos membros inferiores, é mandatério um exame clinico para despiste ée escoliose, (0 teste de Adams & um teste simples, barato ¢ sensivel para a detecgéo de escoliose (fig. 2): basta pedir & criance que se curve para a frente, com os membros superiores alinhados & 41 |sedde infantil 2002 24)1:39_4 ‘05 dedos em direccdo aos pés, 0 que permitira realgar a cur- vatura ¢ flexiblidade da coluna. Numa crianca com escoliese, ‘0 médico notaré uma convexidade lateralmente & coluna (giba paravertebral) Na altura da primeira observacéo de uma criange com escolio- se, vérlos aspectos da histéria e exame objectivo devem ser ‘apontados para que sejam excluidas outras causas de escolio- se e para termos uma idela dos factores de risco de agrava fig. 2- Tete de Adams em mento da curve: *e denies SEN Teade ga crianga - quanto mais nova, maior é a probabilidade de progressao, Por outro lado, as escolioses idiopéticas infantil e juvenil so menos fre- Aquentes, e por iss0 se deve dar particular atengdo ao diagndstico diferencial nestas idades, Estadio pubertério - as curvas progridem rapidamente curante a fase de crescimento da adolescéncia, sendo o ano anterior @ menarca ou do desenvolvimento do pélo axilar no rapaz, cucal, havendo uma maior probabilidade de estabilizacdo posterior (1,7) tipica (tordcica esquerda ou lombar direita) ~ a escoliose por si sé néo dé dor, e outras causas de dorsalgia devem ser pesquisadas perante este tipo de sintomatolagia (5). Exeme neurolégico completo, incivindo os refiexos abdominais - a sua auséncia ou diminuig8o pode ser o (nico sinal de patologia medular. Nas crlancas menores, seré importante avaliar o seu desenvolvimento psicomotor e a presence de hipotonia, € dever-se-d pensar na possibilidade de haver uma anomalia congénita da espinal medu- la associada (4). Outra patologia associada - averiguar a existéncia de sopros cerdiacos (cardiopatia congérita), malformacées renais, displa~ sia de desenvolvimento da anca ou presenca de hérnias ingul nis, mais frequentes em criancas com escoliose idiopatica. A presenga de miltiplas manchas café com leite, tufo piloso, bura~ co cego sagrado, malformacéo ou assimetria dos pés, ou histé~ ria de incontinéncia urinéria sugerem uma causa néo idiopatica de escolose. (© Pediatra deverd, apés solictar eventualmente uma radiografia ppéstero-anterior da coluna em cliché longo e em carga (fig. 3), orientar qualquer crianga com escoliose para Ortopedia, Fig. ~ Rem ele long Escoliose "dolorosa” ou curva Tratamento Como é evidente, as escolioses resolivels néo carecem de tratament © tratamento da escolose iclopatice progressiva vai depender de factores relacionados com ritmo @ 0 grau de progresséo da curva, que séo factores da prépra curva (magnitude da 42 curve, dupla curve versus curva inca, com as iimas a terem uma menor tendéncia para progredir, curva rilda/ flexvel)e factores relacionados com o potendial de crescimento da crianca, Outros factores que podem influenciaro tratamento so ainda o factor esttico efac- tores socias: ainda hoje uma erianca com colete & muitas vezes marginalized. Atitude expectante - Nas curvas de menor potencial de progresséo, com seguimento cin co € radiogréfico periddico pelo ortopedista Tratamento ndocirrgico - Nos lactentes e criancas mis pequenas, apleagdo de coletes ges- sados sucessivos, Nas crancas meiores e nos adolescentes,ortotese cervicotoracolombossa- arada (exemsio: colete de Milwaukee), ou toracolombossagrade (exemplo: coete de Boston). A criange deve ser encorajada a praticar desportos, sem rsco de agravemento da sua esco- liose. 0 colete pode ser retrado para tomar banho, radar, nas aulas de etucacSo fisice & tenquanto se praticam cesportos,e se jé os praticar(exemplo: skate, ténis), deve ser enco- rajada a fazé-lo com o coete, se possivel. Os desportos de contacto como o futebol deve ser praticados sem o colete, no porque a crianca se possa magoar, mas para proteger os outros participantes (1), © hordrio sem colete no deve ultrapassar o prescrito pelo mético, havendo posterior mente uma diminuigSo progressive de horas de uso/dia, até usé-/o apenas de noite. Outros tratamentos ro ciirgicos, como certos exercicios fisicos e 2 estimulacéo eléctrica dos misculos néo parecer influenciar @ histéria naturel da progressdo da curva, néo devenco por isso ser consideradas como op¢ies vélias (1). Tratamento crurgico (fig. 4) - se @ curva ndo poder ser controlade com os coletes, nomea- damente curvas com éngulo superior a 45°, néo hé outra opsio cue nao a correcsio € estabilizagéo cinrgica da deformidade: a) instrumentacdo sem fusSo b) fusBo da curva Ne escoliose nao idopdtice o tratamento paderd visar a causa da doenca subjecente e ir ex gir muitas vezes uma atitude mais intervencionsta, pois €frequente o agravamento da defor rmidade apés 2 adolescéncia, No caso da cianga com doenga neuromuscular néo nos deveros esquecer que ao restabelecermas o alinhamerto da coluna estamos a melhorar a funcéo res- » 8 Fg Tatarente eigen de aseaose opin do aeaesne Insiumentare fusi dssea~ Aspects cncs eadagréces. 43|Sedde infantil 2002 24)1:39_4 piratéria. Além disso, em certos casos, estamos 2 evitar a progressva perda de independén- cia (pela necessidade de usar os membros superiores para manter postura © ndo para os ta- balhes manuals, ou do intelecto ~ computador, por ex.),repondo também um maior conforto ‘¢autonomia ao doente (2). Embora se reconheca que em alguns casos, pode dftcultar certas ‘actividades (comer, por ex.) por aumentar a distancia & boce, apds a correcyéo cirtrgica, Prognéstico A escoliose idiopatica progressiva ¢ uma condicao passivel de tratamento e deve ser pre: cocemente diagnesticad, de forma a procura-se prevent progressio das curvaturas, com consequente dismorfia do tronco, Curvatures escoléticas com pequeno aia angular (Exemplo: até 30°) em doentes j4 com maturidade esquelética, ndo necessitam de qual- cuer tratamento 0 seguimento deve ser continuo até que se tenha atingido a refeide raturdade esqueltice, altura em que o risco de progresséo da curva diminu A resolugéo espontnea da escoloseiioptica infantil acare em cerca de 2/3 dos caso, atingindo 05 90% se surgi no primeio ano de vida (10). &escoioseidopética do adoles certe sb requer tratamento crraico em cerca ce 10% dos casos (7,11), Na escalose secundéra, 0 prognisticoestéevidentemente relacorado com a doenca de base Estudos recentes no apolam um restrelo messvo, nomeadamente as erangas em idade scala, dada a detecgo de uma grande quentidae de flsos postivos (2, 12-18) & pois crucial o pape co Pediatra,constando de ume simples ¢ oportuna intervengéo. 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