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- ___ REVISTA Db ENSINO 79 2 Passa os dias na tas A esposa, com carinho, Vendo-oassim debrugadoao pe de um precipicio, Pede, ea filha tambem, que elle abandone 0 vicio, Mas dir-se-ia yencel-o a tentagao do vinho. Depois que da miseria entrara no caminho, Tornando-se-lhe a vida um longo sacrificio, Nada mais lhe abrandava esse infernal supplicio, * Que o levava da tasca ao torpe borborinho. Um dia, ao penetrar na habitual taverna, Aos embates febris da tempestade interna, Que em constante oppressao trazia 0 peito seu, A filhinha encontrou, chorando, a procural-o, E, ao vel-a, 0 pobre pae sentiu tao grande abalo Que a abragou solugando, e nunca mais bebeu Jovino Marques. “80 A ESCOLA Z Superstigoes populares Todos os povos tém as suas crengas supersticio- sas, mais ou menos modificadas segundo o grau de ci- vilisagao. Entre os povos antigos, em que dominava a casta sacerdotal, a sciencia era o privilegio exclusivo d’esta asta. Os guerreiros nao se occupavam de sciencia, e © povo vegetava na mais crassa ignorancia. Por isso, pode- se dizer que eram os sacerdotes os arbitros su - premos dos povos. _ Quando estudamos, por exemplo, a historia de Egypto, costumamos dizer que esta nacdo havia attin - gido um alto grau de civliisagao, e que os egypcios eram um povo verdadeiramente instruido. Engano ma- nifesto. A instrucedo ¢ 1 civilisagdo estavam adstrictas aos sacerdotes; mas 0 povo, completamente ignorante, ‘nao passava de um manequim, movido por impulso estranho. Nao tinha vontade propria, nem sabia o que era a liberdade. Por isso vemos 0 Egypto, ora sujeito por dous seculos ao jugo dos rets -pastores, ora curvan do-se a um governo de doze chefes, ora sujeitando-se inconsciente 4 conquista de Cambyses, de Alexandre Magno e do imperio romano. Os Egypcios professavam um naturalismo gros— s¢iro, pois consideravam deuses todas as especies de animaes, e até as proprias plantas. O boi Ais era um dos seus principaes deuses : era o deus popular. Refe- re a Historia que, quando elle completava 25 annos, 0s sacerdotes levavam-no em procissao ao rio Nilu e ahi 0 afogavam; faziam-lhe pomposos funeraes, embal- samavam-no, e€ 0 poro o pranteava depois em altos alaridos. _Em seguida iam procurar outro boi para substi- tuit 0 deus morto, e.quando o achavam enchiam 0 ar com gritos de alegria. REVISTA DE ENSINO Era uma pagodeira ! Um dos maiores crimes imputados a Cambyses, foi ter elle morto sacrilegamente 0 boi Apis: : E os oraculos ? Eis outro producto da ignorancia e da supersticao dos antigos. Em Delphos, segundo refere Bouillet, a resposta 4s consultas era dada por uma sacerdotisa; em Dodo- ne. ora por uma mulher, ora por uma pomba, ora pelo ruido das arvores; uo antro de Trophonius e em Epi- daure, o deus falava em sonhos aos fieis; em Roma consultavam-se os livros sibyllinos. Estas respostas eram sempre ambiguas, para po- derem explicar 0 facto por qualquer forma que se rea- lisasse. Exemplo: Consultavam os Gregos ao oraculo para saberem se ganhariam esta ou aquella batalha. Resposta do oraculo : A batalha sera ganha. Se os Gregos venciam effectivamente, todos pro clamavam sem sombra de diivida a infallibilidade do oraculo; neste caso a resposta ficava completa do se- guinte modo: A batalha seré genha pelos Gregos. Mas se ficavam vencidos, € os interpretes eram provocados a uma explicacao, respondiam : « Nao du- videis do oraculo; pois se este disse que a batalha se- ria ganha, nao declarou for guem: deverieis ter pert guntado a tempo. De modo que o oraculo, quer dissesse sim. quer dissesse a9, quer dissesse s’7 e nado ao mesmo tempo, _ era sempre infallivel. : E quem ria-se d'éstas babuzeiras eram aquelles grandes velhacos, que por traz das cortinas faziam gingar os manequins, ou falar as sacerdotizas, ou pro- duziam os ruidos mysteriosos que os papalvos tomavam como resposta ds suas perguntas. ‘ Nos hoje mettemos a ridiculo estas tolices dos antigos, e chamamos éraéos Aquelles povos, sem nos lembrarmos de que somos tao éruéos como elles, ou mais ainda. E senao, digam-nos : — Nao é verdade que acreditamos nos sovhos ou visdes nocturnas, NO curupira, na uyara, na matinta-pe~ _ reira, nas almas penadas, na colera diyina manifestan- ‘do -se nos trovoes, nos raios etc. ? : — Se temos um sarho feio, 0 nosso primeiro cui- dado quando acordamos é resar um Padre-Nosso e uma Ave-Maria 4 Senhora de Belem, para que o mes- “MO do sata certo. : —O nosso pesadelo nao é uma Oppre3sao que sen- _timos ao dormir; é wm preto com barrete encarnado que nos quer agarrar, e do qual so nos livramos arrancan- dothe o dito barrete. —Nao caminhamos susinhos pelos mattos, para nao sermos victimados pelo curupira. —Nao andamos em noites escuras por logares ermos. € até pelo interior das nossas proprias casas, pata nao sermos assombrados pelos trasgos, pelos ile- monios, pelos phantasmas e duendes... —Nao passamos 4 noite pelos cemiterios, com medo cde que os mortos se levantem das suas sepulturas para nos perseguirem ou levarem comsigo... —Se ouvimos piar um mocho ou esvoacar um passaro noctivago, cremos logo piamente que aquillo é um agoiro. ‘ —Se alguem adoece de hypocondria, ou softre qualquer outra molestia desconhecida para nds,—esté enfeitigado. : —Se padece de convulsoes, é porque foi assom- brado pelo bicho do fundo ou uyéra, e neste caso s6 um Pagé pode restituir-lhe a saude com o competente ci= garro de tauari. 5 —Se vemos 4 noite uma luzerna no cemiterio ou has circumvisinhangas, nao dizemos que é um fogo-ta- "REVISTA DE ENSINO 83 tuo, sim uma a/ma penada que anda vagapdo por este mundo, a a —Si se ouve de noite um assobio medonho, ¢ a matinta-pereira que anda no fado. E ha toleirdes que correm noites inteiras atraz do bicho- demenio-mulher... e nao o alcancam nunca! porque, dizem elles, é um espirito !— Espirito que corre ! espirito que assobia! espirito que tem, por con-* seguinte, pernas e bocca ! —- Ja se viu maior absurdo? Muitas vezes estas scenas de estupidez se des- mancham de um modo inesperado, e a matinta nao passa de um refinado ladrao de gallinhas, e as almas d’outro mundo nao sdo senao outra especie de ladroes, ainda mais refinados é perigosos que os primeiros, la- droes da honra das familias. Quantos factos nao se tém dado que servem para comprovar 0 nosso asserto ? —Si chove, ou troveja, ou relampaguéa, ou cae alguma faisca electrica, nao consideramos estes factos como phenomenos naturaes, sim como manifestagoes da ira de Deos, e agarramo-nos logo a Santa Barbara ea Sao Jeronymo, para fazerem cessar o estrondo da abobada celeste. ‘ — Se apparece um cometa, este cometa nao é um astro opaco e errante que gira no espaco, sendo visi- vel para nds quando esta no seu perihelio, isto é,-mais proximo do sol, cuja luz reflecte : é tambem um signal da colera divina presagiando castigos; e a cauda do astro representa a disciplina com que seremos flagel- lados, Tanto assim, que passa como um axioma da supersticdo o seguinte anexim : « Signal no céu, casti- go na terra. » - — Sise da um eclipse de lua, ih! isso entéo € um Deus nos acuda! E signal de castigo, é a lua que dor- me, € 0 bicho que esta comendo a lua, etc., etc. —E para conjurar o castigo, fag@m-se mil promessas as santos; e para acordar a lua, bate se 0 pilao, acai ‘se as almofadas de algod | para quem api $ esca - . tudo isto nao esta denotando que nds'somos — ainda muito atrazado em instruccao ¢ civili- Com toda a certeza. go, Mo temos razdo de nos rir das sipersti- 2 crencas absurdas dos antigos, pois as nossas a peores que as d’elles. « * Vinuena Aves. _ REVISTA i ENSINO HYNO A0 ESTUDG Nas batalhas serenas do estudo -sejao nosso phanal. . . a victoria; nossos livros que sirvam de escudo nas conquistas supremas da Gloria. Como os astros que brilham na calma destes limpidos céus do Equador, brilhe sempre vivaz, em noss’alma, da instrucgao esse intermino amor. Guerra eterna fagamos a treva, surja a luz que nos guie a vencel-a. . Da ignorancia a bandeira se eleva , . + nds seremos herées p'ra abatel-a. Piedade em noss'alma nao more, se a bandeira rasgarmos crucis; nossa fronte serena se enflore - dos mais bellos e eternos lauréis. GuiLuerMe pe Mrranpa, 86 A ESCOLA IGARAPE MIRY A festa de encerramento do anno lective, no erupo escolar, em 1904, «Cada festa de instruccao representa em minha consciéncia uma limpida esperanca que me alenta; tepercute em minha alma como um bello consolo que aviventa; porque nellas eu vejo sempre um rebate de clarins, tangidos pelos labios do patriotismo, nos arrai_ aes da democracia, onde, erguida, a bandeira da Repu- blica anuuncia ao monarchismo inpenitente a_ noticia de mais uma victoria bemfazejay, V.Carposo, Esta regencrada a mocidade de minha terra. Ba- fejou-a o calor official, e o sabio ¢ henemerito Governa dor do Estado, levando uma irreprehensivel orientacao, - dotou-a com 0 ideal que, hamuito, a afagava, n> horbori- nho meso preduzido pela indolencia, pela apathia e pela inaccao. No meio d’essa_ medonha confusdo, um raio de e>peranga sustava, de quando em quando, o animo do.desespero, Exulta. 6 mocidade de minha terra; cobre de bene aos a fronte magestosamente aureolada de Augusto Montenegro, 9 nosso coestaduano’ que nos geverna com a sciencia nas m4os ea perspicacia no espirito, adquirindo popular affeicao ¢ renome universal. Foi esse co'spicuo talento, esse inclicto e genial estadista que, provido deagudissima observacao, na complicada engrenagem governamental, comprendeu bem de- pressa que ainstruccao éa base da. felicidade d2 um pevo; ¢ comprehendendo isto, tem amparado, protegi- do ¢ ampliado o ensino publico em todo o territorio do Para, sem distinecio alguma, por isso mesm> que a accessibilidade da instraccao deve constituir-se em bem commum, tanto mais quanto € certo que «a ins- * REVISTA DE ENSINO trucedo. grutuita, diffusa; completa, nao é um favor, uma esmola que o governo prodigalisa; mas um dever inilludivel a bem da communidade e da defesa social», _ Eil-o, pois, repartindo, igualmente, esse bem esse dever, pela mocidade paraense; eil-o, por conseguinte, prodigalisando vida aos espiritos e fomentando a ener- gia da futura sociedade cuja regenera¢ao iniciou pelo estavel e solido desenvolvimento com que cunhoua nossa instruccao publica. Molecula da patria paraense, Igarapé Miry teve © seu quinhdo, na grande partilha, ¢ ergueu-se em seu solo, como intenso fansl, a creacdo de um grupo escolar—a melhor das organizagGes escolares. Ed’este instituto que, promissoramente, se’ erigiu na cidade de lgarapé-Miry, que vou mostrar a efficacia, tomando como penhor de minhas affirmaccoes uma curta porem proveitosa experiencia. — A * : Uma instituigao, nem por ser excellente, nem por merecer a confianga € 0 favor publico, pode, por si sé, firmar credito; carece de maoslabei , de abnegada dedicagao, de competencia firmada para dar-lhe o tim: bre essencial do fim a que é destinada. Por isso mes - mo o grupo escolar d’esta. cidade fora um todo inerte, se nao encontrasse vida sompre crescente no supremo esforco de seu director e de seus professores, bem com- penetrados todos de que, como diz Mer. Dupanloup, “enfant cest Uhome lui-mime avec tout son aventr renfermé duns ses premicres anneé Lenfant cest Vespe- vance de la famille et de la société: cest le genre hu main qui renait, la Patrice guise perpéetuc, cest comme le renouvellement de la socteté dans sa fleur». E, por isso, elevaram elles ao grau m verdadeiro sacerdo: cio «o dever de amal-a (a imperfeicoes, de respeita, contra a propria fraquez ficuldades inherentes 4 fortifieal-a, e, em uma p e-almay. Robusta concepcao, juizo calmo, séria aplicagao ao trabalho, illustragao, competencia e viveza d’alma e de coracao: cis o homem que dirige o grupo escolar de Igarapé Miry; cis a alma—mater d’essa casa, a forca impulsionadora da movimentagao e do brilho d’essa communhao espiritual da infancia. Nao ésem raz4o que concatenei estas considera goes, genuinas filhas de um espirito desprevenido ¢ deum coracao desapaixonado, antes de terir o as- sumpto principal. Falo no terreno“dos factos e ampa- .Fo-me com o testemunho da populacao d’esta terra. Deu motivo a est encerramento do an escolar. Foi uma real solennidadé dentro de outra solen- nidade; foi o scintillar de uma fé ¢ 0 raiar de uma espe- ranga doce e salutar dentro de outra fé e no seio de outra esperanca, qual a fé ea esperanca republicana que o dia 16 de Novembro desperta na alma paraense, _ 16de Novembro: eis a solennidade republicana que em nossos coracées accenie 0 fogo do civismo; eis o dia designado paraa festa do trabalho intellectual, no grupo escolar de Igarapé Miry. . A festas similares tenho assistido, j na capital, ja no interior do Estado; éme, porem, satisfactorio equeno escripcto a festa de tivo, no referido grupo * declarar que a nenhuma foi inferior a que se*effectuou, pela vez primeira, em minha querida terra. Ceremo- ‘nia de puro caracter infantil, pareceu, verdadeiramen- te, 4 numerosa assistencia que esse caracter peculiar foi a pedra de toque d’aquella sublime sessao litteraria. _ Eccreio bem traduzido esse modo de ver: a lit ratura infantil repassada de fina eszolha; as admiraveis evariadas exhibicoes da mocidade alacre, nos vivos transportes de enthusiasino, sedentos de glorias justi- ficadas pelos labores do anno, pelos meritos conquis- tados— tudo imprimiu ao conjuncto festivo uma pom: a: REVISTA DE ENSINO, idade e€ uma soberba. magnifi- -posa feicdo de infanti cencia > 5 ; -\ esse regozijo das intelligencias concorreram to das as classvs-sociaes. O chefe do executivo estadual ali estava na pessoado sr. Capitao Cassulo de Mello; re. presentava, mut dignamente, o Secretario da instrucgdo publica o illustrado Juiz de Direito d’esta comarca. dr. Julio Costa, que nesse caracter presiciu o acto; o go- verno ‘do municipio compareceu na veneravel figura do intendente, sr. Coronel Garcia. O programma do festival, comquanto extenso e yaria?o, foi fielmente praticado. Como prologo e epilogo, cantou a mocidade es- tudantina o hymno do estabelecimento com bom acompanhamento musical. A oragio official produziua © professor Delgado Leao. Nao se regatearam applausos geraes; nao se oc- cultaram, no auditorio, alegria e admiragao. ' Esteve tudo muito alem da expectativa. A presenga franca e desembaracada na tribuna, © porte simples e delicado, aamena declamacao, a compenetracao das idéas e dos conceitos expendidos -¢, finalmente, o garbo de precoces oradores, obrigam— me a citar os nomes de Anna‘Machado, Alzira e Vic- teria Caripuna, Raymundo. Garcia, Joao de Castro, Joanna ¢.Almeirinda Andrade. — eas © A comedia «A Professoray levada a scena por um, grupo de gentis alumnas, arrancou dos espectadores gostosas paimas e€ risos francos e saborosos. : Fez o director a annunciada entrega de certificados aos alumnos que concluiram o curso clementar, e dis- tribuiu, em um dos “intervallos, os premios merecidos pelos mais distinctos estudantes. a Nesta ribuicao foi observada a recommendada , moderacao, indispensavel criterio e a justicalque dao aos prem, o desejado valor estimativo, 0 meio de emulacao e estimulo. ‘Teve sobejas provas de estima e consideragai 99. a A BScOtA oe 4 Capitao Aristides, director do grupo, recebendo com: primentos e felicitagoes pelo éxito completo e subli- mado d’esse acto augusto e caracteristico. As pala- vras de um illustre orador : «sinto-me humilhado ei ao mesmo tempo, enthusiasmado deante da sublimi- datle d’esta festay fazem melhor aquilatar-se a pompa, a riqueza e a magestade da ceremonia. A serie de retratos que ornamentavam 0 vasto salao de honra—o proprio recinto d2 festa—e gue re- presentavam Augusto Montenegro, Paes de Carvalho, | Antonio Lemos, José Garcia da Silva e Julio Costa, tinha, naquella occasiao, bem pensada e significativa allusao: essas illustres e eminentes individualidades s40 outras tantas forcas creadoras e protectoras do grupo escolar de Igarapé Miry. , e Como chave de ouroa fechar mimtoso escrinio de finas joias, Shcerroua sessao 0 primoroso discurso pro- nunciado pelo illustrado. director do estabelecimento; discurso pejado de judiciosas opinides, magnifico € selecto repositorid de pensamentos € de verdades in— contestaveis, artisticamente burilado em bello estylo. . lIgarapé-Miry, 22 de Novembro de 1904. Jos Correa Pinto. 0 EGYPTO Mudo, sombrio, livido, tranquillo, O grave sacerdote a lei superna Ja gravar nos antros da caverna Onde se arrasta, lento, o crocodilo. E hoje o que resta ja de tudo aquillo ? Resta o silencio, qué a mudez governa, O vacuo, a solidao, a mumia eterna No deserto areal do sacro Nilo. A palmeira feliz nao mais avulta Na curva do horisonte dilatado, Onde a sombra da morte ora se occulta. Mas uma coisa fica: 0 genio ousado Que a mortalha do tempo nao sepulta Na grimpa das pyramides alcado, Assis Brastt. ee —e 92 A ESCOLA *— ESTOOOS QRANWATICNES . SUPERIOR, INFERIOR, ETC. Alguns auctores, entre elles Costa e Cunha (Ma- nual do F:xaminando), Leoni (Genio da lingua portu- gueza), Bento de Oliveira, Jodo Ribeiro, Carneiro e Condurt’ (Grommaticas), dao os adjectivos superior € imferior como comparativos, o primeiro de alto e 0 segundo de dazvo. Taes adjectivos sao positivos, pois nao se diz— Superior que, inferior gque—cono se diz—melhor gue, peor que—; mas sim—supertor a, inferior a. Esta con= sideragao € de Soares Barbosa, O mesmo ensinam Grivet, Maximino Maciel, José Alexandre Passos e outros. Neste caso se acham tambem os adjectivos avée- rtor, posterior, interior, ulterior @ citertor, os quaes, assim como aquelles, formam comparativos em latin mas passatam para.o portuguez como simples posi- tivos. : Grivet diz : «Se, por uma redundancia insoffrivel, é perfeitamente illicito dizer—dzo maior, lao menor, ou mats melhor, menos peor,—nao o é, de modo algum, em relacao 4s locucées—/ao superior, tao inferior, mais exterior, menos ulterior, etc. Portanto, sao de per si simples positivos». Passos (Dicctonrrio gramm.) «Hana lingua portugueza alguns adjectivos relativos que na signifi- cagaéo se assemelham aos comparativos, como spe- rior, inferior, anterior, posterior, aos quaes juntamos © complemento terminativo, v. g. Esta seda é supericr dquella que tu compraste, Este vinho é mferior ao de Lisbda; eas vezes se usam sem complemento algum, Hi v. g. Quero vinho superior. Estes adjectivos sao com- parativos No Latim, d’onde se derivaram...» REVISTA DE ENSINO 93 Monteiro Leite (Swédszdios) diz o seguinte : «Excepto as palavras—maior, menor, melhor, peor, superior, inferior, anterior, posterior, exterior, ul- tertor,—nao temos nas linguas neo-latinas adjectivos comparativos». Entretanto, logo no periodo seguinte a esse, de- monstra elle que, excepto 03 quatro primeiros, todos OS mais sao positivos : «Quando usarmos dos comparativos de superiori- dade ¢ inferioridade—diz—devemos ligar 0 segundo termo de comparayao'com o primeiro por a locugdo— do gue... Devemos ligar, nos comparativos de igual- dade, o segundo termo de comparacdo com 0 primei- ro--pelu conjunctivo como.» Ora, repito, ninguein diz—superior do gue, infe~ rior do gue,,etc,; nem—antertor como, etc. Logo taes palavras sao positivos, conforme a pro pria regra do sr. Leite. ; * Os sabios tambem dormitam, Maximino Maciel (Grammatica) diz : « O estudo € 0 cultivo dos classicos latinos con- tribuiu para que muitos comparativos em or é super- lativos em zo passassem para a lingua vernacula pEs- CLASSIFICADOS, isto é, perdendo as funcgoes de compa- rativos e tomando as de posttivos, ex.: anterior, poste- rior, interior, ultimo, ete.». Magistralmente. Taes adjectivos, passando para 9 Portuguez, foram pDrsciasstecapos, passando de comparativos a méros positivos. Nos apresentaremos exemplos, colhidos de opti- mos escriptores, cm que o adjectivo superior vem pre- - cedido dos respectivos adverbios, para formar compa- rativos. E ; Se esse adjectivo fosse ja de si comparativo, re pelliria 0 adverbio, assim como o repellem os compara- tives mazor, menor, melhor, peor, pois nao se.diz— mais maior, tko menor—como diz-se—mais superior, tao inferior, : . «Bem se vé d’aqui a opulencia d’este grande rei; € que se Nero fora a Pekin, bem o podia elle hospe- dar com tratamento e grandeza “a0 superior, como. 0 mesmo Nero hospedou a el-rei Tyradates em Romay. (Padre Manoel Bernardes.) _ «Mas ¢ dao supertor o juizo da Penitencia sobre o mesmo juizo de Deus (por excesso de misertcordia sua), que 9 que no juizo de Deus se condemna, no jui- zo da Penitencia péde:se absolverp, (Padre Antonio Vieira.) ‘ «Nunca a vaidade attingiu mats superiores limi- tes.» (Lopes de Mendonca—Memorias de litt. cont.) » «(O sr. Garrett) viu fecundado o seu engenho num ats vasto e superior theatro.» (Id. ibid.) _«.E todavia cremos que a litteratura moderna Nao possue monumento de mads superior e acabado molde». (Id., ibid.) e *~ «Ainda hoje, na phrase commum, a donzella Theo- dora é 0 typo da sabe‘oria feminina nats superior.» (Garret—Fret Luiz de Souza, drama.) «Virtude fo superior, que ninguem se lembra das batalhas de Locullo, mas das suas ceias». _ (Machado de Assis—//isto tas sem data.) Finalmente a opiniao emittida contirma-se ainda com 0 uso d’esses adjectivos despidos dos accessorios adverbiaes dos comparativos analyticos,—e mostrando simplesmente uma qualidade, como todos 0s adjecti- vos positivos. Exemplos : «Parece que 0 superior merecimento d’este grande e glorioso principe...» (Fr. Francisco de Sao Luiz, citado por Aulete)—Isto €: 0 subido merecimento. Ordem superior, Animaes superiores. Cursos su- Pertores. Planetas superiones, inferiores. (Aulete— diccionario.) it «Guy de Maupassant, discutindo o realismo, diz, ameu ver com superior ciiterio...» (José Verissimo wralista no Brasil.) —Isto é alevanta- do criterio, _ epee! «A razdo é a figura, ou, mais particularmente, as bochechas que lhe emprestam um certo ar superior». ‘Machado de Assis.)—Isto €: um certo ar distincto. < Vitiena ALvEs. ee _. Os pequeninos ~ Eu sinto que do peito um jubilo se evola, Mais suave do que um beijo em labios impollutos, Quando os vejo passar — a esses pequenos fructos Da arvore da vida— em caminho da escola. Brinca-lhes 0 prazer nos bregeiros e astutos Olhos. E entao eu penso, ao vel-os de saccola: — — Sao mendigos da luz ! Andam pedindo a esmola Do pao p'ra a imf€lligencia, alegres, resolutos.— uscando nao sei qual philosophal icos, divinos, — O sabios, que viv Fugitiva e subtil pe _ Em mundos ideaes, : Sabei que buscais long uillo que esta perto... O sonho que sonhais, sublime, esta por certo Na lucida instrucgado d’aquelles pequeninos. René Barreto. 96 A ESCOLA Periodas @ trechos para analyse e recitagia na que corresponde as injurias com beneficios é como a arvore, que da sombra e fructos aos mesmos ‘que a apredejam. ( Conselheiro Bastos. ) - —A multidao de livros em uma bibliotheca, é mui- jezes uma nuvem de testemunhas da ignorancia jossuidor. ( Bastos. ) —Quando a boa fé reina, a simples palavra bas- ; quando ella nado existe, é inutil o juramento, ( Bastos. ) -—O mal, que de tua bocca sae, em teu peito cde. (Bastos.) ~ _ —Uma cabeca vale mais, que cem bracos, ( Bastos. ) —Cada um, ém sua cabeca, edifica um pequeno mundo, de qué é centro. ( Bastos.) » —Os grandes caminhos sao, para um paiz, o que as arterias © as veias sdo para o corpo. ( Bastos. ) _—-O sabio conhece 0 ignorante, porque ja foi igno- rante ; o indouto nao conhece o douto, porque nunca 0 foi..( Bastos.) © * _—As mais bellas conquistas sao aquellas, que se fazem nos extensos dominios das sciencias. ( Bastos. ) _—As consolacées indiscretas irritam as grandes afflicgoes. ( Bastos. ) —Augusto estava inconsolavel pela morte de um sen amigo. Consolai-vos, grande Principe, lhe disse um cortezao; vossas. lagrimas nio podem restituir-lhe a vida. E isso mesmo que faz, disse Augusto, que. eu nao possa consolar-me. ( Bastos. ) —Aquillo que se escreve sobre 0 marmore e so~ bre 9 bronze, facilmente se desvanece; dura sempre 0 que se escreve nos coragoes. ( Bastos. ) _ Os fracos arengam, quando os fortes obram e dominam. ( Marquez de Marica. ) ° —Para quem nao tem juizo, os maiores bens da vida se convertem em gravissimos males. ( Marica. ) REVISTA DE ENSINO 97 _ Ter nome de prégador, ou ser prégador de noine, nado importa nada : as acc6es, a vida, 0 exemplo, as obras s40 as que convertem o mundo. ( Padre An- tonio Vieira. ) Lae Ha ignorontes tao altivos, que se despresam de pergunter, ou porque presumem que tudo sabem, ou porque se nao presuma que lhes falta aiguma cousa por saber. ( Padre ( Antonio Vieira. ) —Os grandes genios que no mundo appareeeram tragaram tao fundos sulcos do saber humano, que ain- da hoje somos guiados pelos claroes de sua brilhante luz. ( Padre Antonio Vieira. ‘ —Véde sahir a Christo do pretorio de Pilatos, acompanhado de grande tropél de justicas, e vereis na representacao d’aquella tragedia o que cada dia acon- tece no mundo: o Innocenté caminhava para o suppli- “ cio, 0 prégac dizia as culpas, o coracao levava as de- fesas. As culpas do prégao eram falsas, as detesas do coracao erain verdadeiras : mas, como no mundo o co- ragdo nao val testemunha, morreu crucificade a Inno- cencia. Quantos traslados d'este processo se formam cada dia no juizo humano ! — Por isso os innocentes pade- cem, € os culpados triumpham, (Padre Antonio Vieira.) A ESCOLA - Gonpre a easale Mamae me disse Que nao mentisse: — Que naoe naol.. Depois entao... (Nao foi por gosto Que ate meu rosto Diaili voltei...) NaGisei'. :.nao“seing < Hoje cedinho Passei pertinho De um prato cheio, Nao, pelo meio, De bons-bocados; E tao dourados Que foi sé ver E logo encher A boca d’agua! — Meu Deus, que magua |... Nem mesmo sei Como tirei Um so... nao, dois! Depois... depois Me arrependi! Mas ja comi.:. Que mais?... Mais nada; Fico calada, Ou digo entao.., — Eu nao fui, naol,, Mas mamaesinha Logo adivinha . REVISTA DE ENSINO 99 omo ha de ser ? h! vou dizer Tudo, certinho: ou-Ihe um beijinho Eella perdéa! —Mamae € béa!... ZALINA ROLIM, Janna d’Almeita Carvalho, Ex." Syr.t — Meus caros CoLecas. _A consciencia, a moral e mais virtudes, que con- tuem o bem da humanidade, criam-se e amadurecem dominio da escola, que é 0 segundo elemento ~ de perfeicao da alma ja inclinada aos bons principios pelos desvelos maternaes. ~ E quando, em occasides como esta, se verifica que o trabalho de um mestre fructificou, em recompensa dos esforcos de muitos dias passados em continuas luctas em beneficio da mocidade, esta deve sentir se cheia de prazer, porque ja pode seguir com seguranca o cami- nho desanuviado desua vida futura. se Esta casa de instruccao, como muitas outras, é um beheficio com que a rossa Patria doteu a intancia, que ) sustentaculo de sua honra e valor de seus cre- litgs no porvir. Mas, é necessario nao pararmos aos Primeiros passos por ella ensaiados; é preciso nao des- presarmos os livros, fazendo um invencivel baluarte contra a ignorancia, maldade que tanto avilta 0 carac- ‘ter do homem tornando-o incompativel com os bons sentimentos que elevam os cidadaos a um nivel supe- rior quelle em que nasceram, Os nossos collegas, que ainda ficam trabalhando pela sua instruccéo convem que nao desanimem, se- guindo com tenacidade 0 exemplo dos que hoje ssem preparados para a conquista de outros emprehendi mentos. i : Em nome da turma que termina o curso d’esta es- cola, tenho 0 prazer de agradecer aos empenhos com ¢ : 4 REVISTA 1) =NSINO tO que a nossa boa mestra se desobrigou da sua honrosa missao, e hypothecar-! -Ihe o nosso reconhecido amor, pois de outro modo nao podemos recompensar os seus devotados: sacrificios. Ao deixal-a, depois de tanto tempo pase ‘em tao boa associagao, fazemos votos pela sua prosperi- dade, e felicidade dos nossos companheiros que ainda ficam sob a sua proteccao. Ao terminar, meus collezas, saudamos 4 Patria brasileira incarnada na alta personalidade do nosso governo, que nos da os meios de educagao, e 4 nossa preceptora pelo muito que fez emhonra da sociedade e'das nossas familias. Tenho dito. 24 — Outubro — 1904.

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