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Feito pelo aluno Caio Bastos — UNIVESP — Etica, cidadania e sociedade Prof. Dr. Ronildo Alves dos Santos Etica e cidadania na histéria Semana 1 (do conceito de filosofia e ética): Percurso hist6rico para mostrar uma espécie de nticleo da filosofia, ou seja, uma certa constancia no modo de pensar, que moldou o Ocidente. A filosofia, essa filha da polis, em seu inicio, é uma relago politica, no sentido de que ela se dirige aos outros, é uma maneira de juntar homens com homens, gerando uma racionalidade publica que é exercida/discutida na dgora [principal praca publica nas cidades da Grécia antiga). £ esse o modo de pensar e a racionalidade que se poe em pubblico, que nos leva a discutir os fundamentos que nos propomos apresentar para temas tao essenciais como ética e cidadania, Para efeito desta disciplina, ética e moral sero considerados sinénimos "N6s somos seres passionais. Nés temos paixdes. Paixées como: o amor, a célera [violenta irritagdo contra 0 que nos contraria, fria, violencia], a vinganca, a tristeza, a alegria, a generosidade. Elas, atuam, agem sobre nosso cardter, sobre a nossa indole e produzem resultados terriveis. Nos colocam desorientados, na vertigem desvairados, dilacerados. Sem saber o que fazer. A imagem que os antigos usavam para mostrar 0 que eram as paixdes agindo sobre 0 nosso cardter, sobre o nosso ‘temperamento, era a de um barquinho solto no mar durante a tempestade, e 0 barquinho sobe com as ondas, vai para o fundo da dgua, é arrastado pelos ventos pra direita, pra esquerda. Fica sem destino. Fica 8 deriva, E & porque as paixdes fazem isso conosco que é preciso a educagio do nosso temperamento, do nosso cardter. E que é a educagdo da nossa vontade. A nossa vontade recebendo uma formacdo racional nos ajuda 2 escolher entre o bem eo mal, entre o vicio e a virtude. Aética, portanto, é nossa educacao da vontade pela razdo para a vida justa, bela e feliz a qual nos est destinado por natureza.” (Marilena Chaul) Educacdo pelo nosso proceso de criago, de crescimento, é a nossa interioriza¢ao das regras, dos principios e valores. Que so caracteristicos da nossa sociedade. So os principios que regulam as relacdo com os outros com a nossa sociedade. Ela ter um forte cunho social, mas também um forte cunho histérico. © nosso desenvolvimento critico ajuda na transformagao, a partir do momento em que nés questionamos esses mesmos valores, essas mesmas regras e esses mesmos principios. Aceitando-o5 ou no. “Amoral é um sistema de normas, principios e valores, segundo o qual so regulamentadas as relacbes mituas entre os individuos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um carater histdrico e social, sejam acatadas livre e conscientemente por uma convicso intima, € no de uma maneira mecénica, externa ou impessoal” (Adolfo Sanches Vasquez) O ato moral Os elementos do ato moral so: 1, Agente moral: é aquele moralmente responsdvel por alguma coisa, ou seja, digno de um particular tipo de reago — elogio, censura ou algo parecido ~ por ter feito ou falhado em fazer uma ago moralmente significante; 2. © motivo: aquilo que impulsiona a agir ou a procurar alcancar determinado fim; 3. O fim visado: consciéncia e a decisdo de realizé-lo, © ato moral implica na produc&o de um fim, ou antecipacao ideal de um resultado; Feito pelo aluno Caio Bastos — UNIVESP — Etica, cidadania e sociedade 4. Aconsciéncia dos meios: 0 emprego dos meios adequados no pode entender-se - quando se trata de um ato moral ~ no sentido de que todos os meios sejam bons para alcangar um fim ou que o fim justifique os meios. Os fins nao justificam os meios. Otimos fins, requer também, étimos meios; 5. Orresultado: o ato moral, no que diz respeito ao agente, consuma-se no resultado, ou seja, na realizagdo ou concretizacao do fim desejado. H- Socializagio: processo por meio do qual o individuo aprende a ser um membro da sociedade. Imposigdo de padrées socials & conduta individual. Mecanismo para a socializacao: 0 mecanismo fundamental consiste num processo de interacao e de identificag3o com os outros. Socializagdo: interiorizagao, consciéncia — é basicamente a interiorizacdo dos comandos e proibigées de ordem moral vindos do exterior. A socializa¢o configura a individualidade, mas nao pode configurd-la em toda extensio. A parte socializada da nossa individualizada, & 0 que nos dé o que chamamos de identidade, que é um certo pertencimento nosso a um grupo especifico. A socializagéo nunca termina. Consciéncia: a presenga interiorizada dos comandos e proibigdes de ordem moral vindos do exterior. Sociedade: agrupamento de pessoas que vivem em um territério comum, interagindo entre si, seguindo determinadas normas de convivéncia e unidas pelo sentimento de grupo social; coletividade. Para a teoria social, sociedade tem trés conceituagdes relevantes: ‘© Sociedade como estrutura; * Sociedade como solidariedade; © Sociedade como proceso criativo. Sociedade como estrutura: ressalta o primado [prioridade, superioridade, primazia] da estrutura social sobre a existéncia dos individuos e enfatizando © poder das normas socials na orientaao de suas condutas (Emile Durkheim, Karl Marx, Max Weber, Talcot Parsons). Sociedade como solidariedade: ressalta a forte integracio entre os membros que compartilham a vida social - senso de pertencimento a uma comunidade com a mesma linguagem e cultura (Alasdair Macintyre, Jurgen Habermas, Jeffrey Alexander). Sociedade como processo criativo: percebe a sociedade como maior fluidez, procurando formas mais criativas de participacdo. (Georg Simmel). Essas trés definigdes sofrem os desafios do mundo contemporaneo do século XXI, da globalizac3o, do desenvolvimento das novas tecnologias da informaco, da cria¢do e do estabelecimento das comunidades multiculturais. Termos como territorialidade e pertencimento, acabam se tornando problematicos dentro dessa nova realidade. Hoje jé se propde uma quarta ideia de sociedade: sociedade eldstica Sociedade eldstica: ressalta que as relagdes sociais transbordam seus espagos territoriais, e que sejam mediadas pelas novas tecnologias de informac0, as quais produzem efeitos nos planos social e politico. Feito pelo aluno Caio Bastos ~ UNIVESP ~ Etica, cidadania e sociedade As interagdes sociais transbordam os limites territoriais devido a tecnologia. Produzem efeitos tanto no plano social, quanto no plano politico. Cidadania: trés elementos/dimens6es: Status legal, definido por direitos civis, politicos sociais; © Considera especificamente os cidadaos como agentes politicos, participando ativamente das instituig6es politicas de uma sociedade; *Pertencimento a uma comunidade politica que fornece uma fonte distinta de identidade. Hé dois modelos de cidadania: Republicano: se define como ndo-dominagdo e se orienta pelo paradigma das virtudes civicas da cidadania. Democracia Ateniense Repiiblica Romana (Aristételes, Cicero, Maquiavel, Rousseau). 0 principio republicano ¢ 0 autogoverno civico, incorporado em instituigées e praticas classicas como a rotacao de cargos. Exercicio Politico; Liberal: Império Romano. (John Locke, Adam Smith). Cidadania é entendida principalmente como um status legal e ndo como um exercicio politico. Status legal Na perspectiva liberal, um autor cléssico é oT. H. Marshal, que diz: “a cidadania é um status concedido aqueles que sio membros integrais de uma comunidade.”. Marshal identifica trés elementos: civil, politico e social: ‘+ Elemento civil: composto pelo direitos necessérios 8 liberdade individual ~ liberdade de ir e Vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé, 0 direito & propriedade e de concluir contratos validos e 0 direito a justica; ‘+ Elemento politico: se deve entender como o direito de participar no exercicio do poder politico como um membro de um organismo investido da autoridade politica ou como um eleitor dos membros de tal organismo; ‘© Elemento social: se refere a tudo 0 que vai desde o direito a um minimo de bem estar econémico e seguranca, ao direito de participar, por completo, na heranca sociale levar a vida de um ser civilizado de acordo com os padrées que prevalecem na sociedade. Entrevista com a socidloga e educadora Maria Victéria Benevides realizada em janeiro de 2000, por Silvio Caccia Bava. Por que, para a sociéloga, cidadania € sindnimo de participacao? Que tipo de Participago? Por que ela prefere o termo “cidadania democratica” e como essa preferéncia aparece nna sua proposta de formagdo para a cidadania? Semana 2 Discussio de ética e cidadania a partir de um ponto de vista histérico, pasando pelas experiéncias grega e romana. Conforme Jaime Pinsky, ambas culturas esto na pré-historia da cidadania. Ainda servem de base para as discussGes sobre cidadania atualmente, segundo Norberto Guarinello. Sera abordado também a relacdo entre ética, cidade, cidadania e cidadéo, tendo o filésofo grego Aristételes nosso guia. A discussio serd a partir do ponto de vista da cidade como um todo. Cidadania na Antiguidade Classica Histéria da cidadania, com foco especial aquela que se desenvolveu do periodo arcaico a0 periodo Classico, nas regides do mediterraneo, particularmente na Grécia e em Roma. Cabe salientar que a Feito pelo aluno Caio Bastos — UNIVESP ~ Etica, cidadania e sociedade parte da Grécia em questo é a regiao Atica, especificamente a cidade-estado chamado Atenas, e nao a Grécia como um todo. As formas de desenvolvimento e relagdo de poder pertencentes a esse periodo da constituigio das polis so diversos. Além disso, as poles ou as cidades-estados, como so chamadas, so desenvolvidas no tempo. Portanto, quando, neste resumo, for abordado sobre democracia ou cidadania grega, estaré sendo abordado especificamente sobre Atenas. Polis A cidadania pode ser vista como “uma comunidade micro dimensional, juridicamente soberana e auténoma, de cardter agrario [que Ihe dé subsisténcial, dotada de um lugar central que Ihe serve de centro politico [estrutura administratival, social, administrativo e religioso [perspectiva religiosa com a Deusa Atenal, o qual é também, frequentemente, sua tinica aglomeracio.” (R. Duthoy). Um ponto relevante, é a forma como se exerce o poder, pois so 0s préprios membros da comunidade que criam instrumentos para a diregdo e tomadas de deciso dentro da propria comunidade, sem ascendéncia ao divino, ou seja, no sendo mais igual as monarquias, no qual apenas um tomava a decisdo e 0s outros eram os siditos; os cidadios, neste caso, so chamados a participar nas tomadas, de decisdo sobre os destinos politicos da comunidade, em especial, sobre a igualdade de direitos. Aigualdade do cidadao é naturalmente a igualdade sob a lei mais do que isso. isonomia), mas essencialmente é muito Nao era apenas algo passivo, mas sim uma participacao nas questées relativas as administrativas da poli Todos os cidaddos tém: o direito de falar (iségoria); todas as suas vozes pesam 0 mesmo peso (isopsephia); e todos tém a obrigagéo moral de falar francamente (parrhesia). Criago do espaco piiblico. As decisées que afetam assuntos comuns devem ser tomadas pela comunidade. Logo, a questo piiblico passa a ser tratado pelo povo e ndo mais pelo privado, que eram os casos das monarquias, Portanto, isso & a democracia direta, pois os membros das comunidades possuem representantes eles so quem participam das tomadas de decisao e dos destinos da prépria comunidade. Republica Sob a Repiiblica, ser cidadao é tanto um privilégio quanto uma ocupago. Apenas homens a partir de 21 anos que serviram na legido romana. Privilégio, porque os cidados constituem uma minoria, da qual so excluidas mulheres, idosos, estrangeiros, escravos e libertos. © cidadao goza de direitos politicos, que s4o 0 direito de votar, de ser eleito, de participar de sacerdécios (ritos religiosos publicos), de apelar em caso de julgamento. Ele também tem direitos civis que garantem sua propriedade, seu casamento e permitem que ele tome medidas legals. ‘A ocupacao do cidadao é exercida no Férum, durante debates ¢ eleigdes de magistrados civis e chefes das forcas armadas. Ser cidado exige, portanto, participacao e dedicagéo reais aos assuntos publicos (res publica — coisa publica). (Dominio etrusco - Apés 650 a.C (periodo monérquico) ~ A historia de Roma é dividida em trés momentos: Monarquico (753-509 a.C.); Republicano (507-27 a.C.); Imperial (27 a.C. - 476 d.C.),) Feito pelo aluno Caio Bastos ~ UNIVESP ~ ftica, cidadania e sociedade Por causa do dominio etrusco [relative a Etriria, antiga provincia italiana] sobre os romanos no periodo mondrquico (753-509 a.C.), Roma era dividida em duas classes: os patricios, que aqueles que basicamente dominavam toda a parte dos cargos e servicos puiblicos; e 0 restante da populacao que eram os plebeus. Com o desenvolvimento da prépria repiblica romana, os plebeus vao adquirindo o poder e por meio de uma série de reivindicacdes e de lutas eles conseguem, paulatinamente (gradual, progressivo, lentamente, feito aos poucos}, acesso a uma cidadania plena, que antes era apenas aos patricios. Uma grande conquista foi a legislacdo escrita, conhecida como Lei das XI! Tébuas (450 a.C.) Tébua Primeira Do chamamento a Juizo: Se alguém for chamado a Julzo, comparega; Se no comparecer, aquele que o citou tome testemunhas e o prenda; Se procurar enganar ou fugir, o que o citou poder lancar mao sobre (segurar) o citado; Se uma doenca ou a velhice o impedir de andar, 0 que o citou Ihe forneca um cavalo; Se nao aceité-lo, que fornega um carro, sem a obrigagao de dé-lo coberto; Se se apresentar alguém para defender o citado, que este seja solto; 0 rico seré fiador do rico; para 0 pobre qualquer um poderd servir de fiador; Se as partes entrarem em acordo em caminho, a causa estaré encerrada; Se no entrarem em acordo, que o pretor [antigo magistrado romano] as ouca no comitium ou no forum e conhega da causa antes do meio-dia, ambas as partes presentes; 10. Depois do meio-dia, se apenas uma parte comparecer, 0 pretor decida a favor da que est presente; 11, 0 pér do sol sera o termo final da audién Algo importante é que até entio as leis eram consuetudindrias [o que nao estd escrito e é s6 fundado os usos ou costumes], isso favorecia apenas a classe dos patricios. Com a derrocada da repiblica romana por meio da vitéria de Otavio Augusto sob o comando de Marco Anténio e Cleépatra, a questo da cidadania em Roma muda. Uma caracteristica desse novo perfodo que seré o Império (27 a.C. - 476 d.C.), & justamente a ampliac3o da concesséo de cidadania a todos aquele territérios que foram sendo conquistados pelas legides romanas, logo, houve um processo de ampliagao. Porém, essa cidadania que vinha com uma certa quantidade de direitos, veio também com a questdo da reducdo na representatividade e na participagdo nas decisées politicas, que acabam sendo centralizadas nas maos do imperador. Dessa forma, muda-se o sentido de cidadania, onde o imperador agora tem a tomada de deciso, como um monarca e os cidados passam a ser seus siiditos, “Quando digo que os gregos séo um principio para nés, quero dizer, em primeiro lugar, que eles nunca deixaram de pensar nessa questo: 0 que a instituigo da sociedade deve alcancar? E, em segundo lugar, que num caso paradigmatico, Atenas, eles responderam: a criagdo de seres humanos vivendo com beleza, vivendo com sabedoria e amando o bem pubblico.” (Cornelius Castoriadis). Relagio entre ética, cidadania e sociedade a partir do pensador grego Aristételes. Aristételes foi um filésofo do século IV a.C. e foi aluno de Platdo; fundou sua prépria escola chamada de Liceu (em homenagem ao deus grego Apolo Liceu, também conhecido como Apolo matador de lobos). Aristételes viria a se tornar professor de Alexandre [o Grande], o reio da Macedénia, o grande general, onde subjugava todos os gregos, indo para Asia menor e chegando até o Egito, Feito pelo aluno Caio Bastos — UNIVESP — Etica, cidadania e sociedade Segundo Mariela Chaui: “A ética 6 essa educacao da vontade pela razdo para a vida justa, bela e feliz, & qual nés estamos destinados por natureza.” ‘Aconcepcao de ‘bela e feliz’ tem uma grande concep¢ao ao pensamento ocidental, a ela esté atrelada aquilo que se convencionou a chama de ética eudaiménica [na concepgio aristotélica a nocdo de felicidade esté ligada intrinsecamente a ética e assim é caracterizada como "ética eudaimédnica", isto 6, felicidade possui papel central na ética. Em outras palavras a felicidade est no centro da ética aristotélica.) Arist6teles (livro Etica a Nicémaco): “Admite-se geralmente que toda arte e toda investigaco, assim como toda ago e toda escolha, tém em mira um bem qualquer; e por isso foi dito, com muito acerto, que o bem é aquilo a que todas as coisas tendem.” Aristételes identifica esse bem no homem como sendo a felicidade, assim, complementa Aristételes: “[..] quase todos esto de acordo, pois tanto 0 vulgo como os homens de cultura superior dizem ser esse fim a felicidade e identificam 0 bem viver e o bem agir como o ser feliz.” Aristételes identifica, ainda, a felicidade como o bem supremo do homem, ou seja, 0 fim dltimo de todas as ages humanas, aquele bem que é desejado por ele mesmo e nunca em vista a qualquer outra coisa. Segundo Aristételes, o homem atinge esse bem a partir do momento que ele segue os ditames da raz3o ou que haja de acordo com a virtude perfeita. Todavia, 0 préprio Aristételes diz que ninguém faz nada sozinho, ou seja, o homem & um ser que ndo se basta a si mesmo, ele é um animal que se necessita associar-se e cada tipo de associago cumpre uma funcSo diferente, tem uma certa importéncia para a vida humana. A familia, por exemplo, é um tipo de associago constituida para justamente suprir as necessidades do cotidiano das pessoas. A aldeia, formada por conjuntos de familias, tem como funcao suprir as necessidades comuns que no so as cotidianas. J8 a reunigo de diversas aldeias forma as polis, a cidade, que para Aristételes é 0 mais perfeito modo de associagao humana, pois nao serve apenas para a sobrevivéncia, mas acima de tudo para dar aos seus integrantes uma vida feliz. Dessa forma, para Aristételes, o homem torna-se homem, associando-se em comunidade e nesse sentido que um individuo isolado ndo se basta a si mesmo. No que tange a politica, Aristételes diz: “Ora, aquele que no pode viver em sociedade ou que nada precisa para bastar-se a si préprio, nao faz parte da polis; é um bruto ou um deus. A natureza chama, assim, todos os homens a se reunirem.” A polis 6, ainda, espago de aco para virtudes éticas, ou seja, é condi¢ao de possibilidade da sua prépria existéncia Aristoteles diz que temos duas virtudes: Uma virtude intelectual, chamada por ele de virtude dianoética [capacidades de conhecimento possiveis & alma racional], seriam as virtudes do pensamento, da racionalizacdo e uma virtude moral que ele vai chamar de virtude ética [virtudes referentes ao caréter do homem]. Avirtude intelectual nés obtemos por meio do estudo, do conhecimento e para adquiri-ta, leva-se um certo tempo. Jd a virtude ética e moral, nés adquirimos por meio do hébito, logo, fazendo ages boas, 1nés nos tornamos pessoas boas. Dessa forma, praticando as virtudes, é que nés nos tornamos virtuosos. O espaco de materializacao dessa acao da alma é justamente o espaco da polis, 0 espaco social, quando um homem tem relacao com outros homens, assim, os cidadao so chamadas a se conduzirem de forma nobre e virtuosa, pois 6 Feito pelo aluno Caio Bastos — UNIVESP — Etica, cidadania e sociedade somente assim, alcansarao a felicidade, que é tanto seu fim: Ultimo, fim-supremo da cidade. Ultimo, fim-supremo, quando 0 fim- E nesse sentido que o fim da ética aristotélica é a aco, a pratica da alma virtuosa no espaco da polis, no espaco politico, convertendo também no espago ético. ‘Apenas relembrando, hé dois modelos de cidadania: Republicano: Democracia Ateniense Repiiblica Romana (Aristételes, Cicero, Maquiavel, Rousseau). O principio republicano ¢ 0 autogoverno civico, incorporado em instituigées e praticas classicas como a rotacao de cargos. Exercicio Politico. Liberal: Império Romano. John Locke, Adam Smith. Cidadania é entendida principalmente como um status legal e ndo como um exercicio politico. Status legal. Semana 3 (histéria da cidadania no Brasil): 0 estudo histérico da cidadania o Brasil seré a partir da obra do cientista politico e historiado José Murilo de Carvalho, no livro Cidadania no Brasil © processo de construgao da democracia brasileira ganha um grande impeto com o fim do regime militar em 1985 e um sinal para esse impeto foi a dimens3o que assumiu a palavra cidadania. “Politicos, jornalistas, intelectuais, lideres sindicais, dirigentes de associacdes, simples cidados, todos aadotaram, A cidadania, literalmente, caiu na boca do povo. Mais ainda, ela substituiu 0 préprio povo na retérica politica. Nao se diz mais “o povo quer isto ou aquilo”, diz-se “a cidadania quer”. Cidadania virou gente, No auge do entusiasmo civico, chamamos a Constitui¢ao de 1988 de Constituigo Cidada.” E justamente essa cidadania que Murilo de Carvalho vai se propor a estudar, refletindo sobre seu significado, a sua historicidade e as perspectivas que séo pelas demandas da sociedade contempordnea globalizada. Capitulo 1: Primeiros Passos (1822 - 1930). 1822: declaracdo de independéncia do Brasil 1930: final da primeira republica. O titulo ‘Primeiros Passos’ é devido que até a independéncia do Brasil nao havia cidadios brasileiros e nem um patria brasileira, pois o Brasil era uma coldnia e 0 que aqui havia era 0 famoso latifindio monocultor exportador de base escravista. A pouco populagio livre que aqui havia, vivia em uma situagdo de vassalagem em relago aos senhores de terra. ‘A prépria independéncia do Brasil foi muito tranquila, se comparada a outros processos de independéncia que aconteceram em outras colénias da América Latina. Isso porque, ela foi uma independéncia negociada entre a elite, a coroa portuguesa e a Inglaterra. A ideia de se manter uma monarquia foi justamente na intenco de que se mantivesse a unidade de toda colénia, evitando que se aconteceu na América Espanhola por um lado, mas por outro lado evitando o que se chamava na 6poca de “Haitizacao”, ou seja, no Haiti os escravos se rebelaram, proclamaram a independéncia e expulsaram a populacao branca, Esse era um medo real que havia no Brasil Com a independéncia, 0 Brasil ganha sua primeira Constituico em 1824. Que estabelece os trés poderes basicos: Executivo, Legislative (Senado e Camara) ¢ Judicidrio, e criard o Poder Moderador, Feito pelo aluno Caio Bastos ~ UNIVESP Etica, cidadania e sociedade que € 0 privativo do Imperador. € considerada uma Constituigao liberal para a época, pois permitia a articipagdo de uma grande faixa da populacao e permitia o voto do analfabeto. Essa situago perdura-se até 1881 até que uma lei vem a restringir a participac3o popular nas eleicdes € protbe 0 voto do analfabeto, o que foi considerado um retrocesso de direitos poll A reducao da participa¢o popular é vista na prépria proclamagdo da epublica, onde nao houve a Participagio popular e foi um processo de transi¢ao tranquilo. © jornalista Aristides Lobo disse a seguinte frase: “O povo assistiu aquilo bestializado, aténito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada.” ‘A excluso da participacio do povo em momentos importantes para a histéria da nagdo foi uma constante durante do esse periodo. José Murilo de Carvalho disse que a Unica contribui¢do para 0 desenvolvimento da cidadania no Brasil foi a abolicao da escravidéo em 1888, Cabe lembrar que o Brasil foi o ultimo dos paises da América a eliminar a escravidao. José Murilo de Carvalho: “O povo nao tinha lugar no sistema politico, seja no Império, seja na Repiiblica. O Brasil era ainda, para ele uma realidade abstrata. Aos grandes acontecimentos politicos nacionais, ele assistia, ndo como bestializado, mas como curioso, desconfiado, temeroso, talvez um tanto divertido.” préximo periodo é 0 considerado de Marcha Acelerada (1930 - 1964). 1930: revolugo com a deposi¢ao de Washington Luis (governo: 1926 a 1930) e a ascenso de Getdlio Vargas (governo: 1951 a 1954) ao poder. 1964; interven¢o militar durante o governo de Joo Goulart (governo: 1961 a 1964), € um periodo agitado na histéria brasileira, considerado como um divisor de aguas. Agrande caracteristica desse periodo foi o desenvolvimento dos direitos sociais em detrimento dos direitos politicos e civis. Nesse periodo, houve avancos nos direitos sociai * Ministério do Trabalho, Industria e Comércio; ‘© Legislacao Trabalhista (CLT); © Aposentadoria (previdéncia social); © Sindicatos. Nacionalismo - 0 populismo deu a Getiilio Vargas o reconhecimento de ‘pai dos pobres’ ‘* Monopélio estatal do petréleo — tentativa de se criar uma Identidade Nacional. Porém, essas conquistas sociais foram dadas no ambiente de pouca participagao politica e de direitos civis. José Murilo de Carvalho: “foi uma legislagao introduzida em ambiente de baixa ou nula participagaio politica e de precdria vigéncia dos direitos civis.” Ou seja, 0s direitos sociais néio vém como uma conquista, mas como algo outorgado por uma ditatura, segundo o professor. Feito pelo aluno Caio Bastos ~ UNIVESP ~ ftica, cidadania e sociedade Passo atrés, passo adiante (1964 - 1985): 1964: interven¢do militar. 1985: Redemocratizacao do pais. © lema “Brasil, ame-o ou deixe-o” foi instituido pelo governo de Garrastazu Médici (governo: 1969 2 1974) Este perfodo é dividido em trés etapas: © 1964 a 1968: governo Castelo Branco — com baixo desenvolvimento econdmico; © 1968 a 1974: governo Garrastazu Médici ~ periodo com grande repressao politica, porém de grande desenvolvimento econémico, o que confere a Médici, grande popularidade; © 1974 1985: governo Geisel e Tancredo Neves ~ periodo da redemocratizacao. 1964 a 1985 foi o periodo do “Passo Atras” tem como caracteristica: Intervencdo Militar, onde os militares assumem o poder diretamente; ‘© Repressio Politica aos oposicionistas e com a edi¢o dos atos institucionais, sendo 0 mais famoso 0 ato institucional ntimero 5 (Al 5), que fecha o congresso nacional; Restrigaio dos direitos politicos e civis, como a escalha do presidente da repiblica e do parlamento. Neste perfodo houve grande consolidacao aos direitos sociais, sendo a criacao de: ‘+ Instituto Nacional de Previdéncia Social (INPS); *Fundo Rural (FUNRURAL) para o trabalhador rural; ‘+ Fundo de Garantia do Tempo de Servico (FGTS) para o trabalhador urbano; ‘+ Banco Nacional de Habitagdo (BNH) para permitir que o trabalhador pudesse comprar sua casa propria; * Ministérios da Previdéncia e Assisténcia Social. José Murilo de Carvalho: “A avaliaco dos governos militares, sob 0 ponto de visa da cidadania, tem, assim, que levar em conta a manutengo do direito do voto combinado com o esvaziamento de seu sentido e a expansao dos direitos sociais ern momento de restricgo de direitos civis e politicos.” Passo adiant 1974 a 1985: também conhecido como periodo da abertura pol gradual e segura para a democracia, ica que busca a transigdo lenta, Dois momentos merecem destaque: + Promulgacdo da Lel da anistia, que perdoa os crimes politicos no periodo da ditadura, 0 que faz com muitos exilados retornem ao Brasil e que também perdoa os crimes cometidos pelos militares; ‘+ Movimento pelas diretas, que segundo José Murilo de Carvalho: “O movimento pelas eleicdes diretas em 1984 foi o ponto culminante de um movimento de mobilizago politica de dimensGes inéditas na histéria do pais.” Apartir de 1985 0 pals comeca a viver o perfodo de redemocratizaco, onde o ponto de destaque é a promulga¢éo da Constitui¢do de 1988, que é considerada como a constituicéo cidad3, ou seja, a grande preocupasio dela é a garantia de direitos do cidado, onde a cidadania é um dos fundamentos Feito pelo aluno Caio Bastos ~ UNIVESP Etica, cidadania e sociedade que a Constituigo coloca para a republica brasileira. Este periodo também é marcado pela ampliago de direitos politicos, ampliago dos direitos sociais e restabelecimento dos direitos civis. Em A cidadania na encruzilhada, José Murilo de Carvalho diz: "Percorremos um longo caminho, 178 anos de histéria do esforgo para constituir 0 cidadio brasileiro. Chegamos ao final da jornada com a sensagao desconfortavel de incompletude. Os progressos feitos sao inegaveis, mas foram lentos e nao escondem o longo caminho que ainda falta percorrer.” desenvolvimento da cidadania no Brasil é posto da seguinte forma: Por José Murilo de Carvalho: “A pirmide dos direitos foi colocada de cabe¢a para baixo.” 1. Direitos Sociais; 2. Direitos Politicos; 3. Direitos Civis. Cabe salientar que o direitos sociais e politicos foram dados aos brasileiros em regimes ditatoriais, essa é uma caracteristica da historicidade da cidadania brasileira, ‘Thomas Humphrey Marshall diz: 1. Direitos Civis. 2. Direitos Politicos; 3. Direitos Sociais; Essa nocdo de piramide invertida de José Murilo de Carvalho nos direciona aos desafios colocados hoje para os desenvolvimentos futuros do Brasil. J foi visto que os questionamentos colocados pelo professor Norberto Guarinelo, que é justamente o exercicio de uma cidadania dentro de uma perspectiva global. Logo, ao passo que se tem que discutir 0 problema da nacdo brasileira, ao mesmo ‘tempo tem-se a necessidade de pensar em uma cidadania que extrapole a territorialidade brasileira Dessa forma, essa é a encruzithada que 0 José Murilo de Carvalho diz que o Brasil se encontra Praticas de cidadania so, no geral, as deveres que o cidadio tem para com o Estado, para com a comunidade, tals como exercicio do voto, o conhecimento e respeito a leis. Podendo extrapolar isso e fazer com que 0 individuo tenha participaco mais direta nas necessidades do Estado, nas necessidades da comunidade, com a redugo na desigualdade social, da fome, da violéncia, preservacao do meio ambiente etc. Indicagao de livro: Préticas de Cidadania — Jayme Pinsk. Neste livro, Jayme Pinsk coloca: * “Que importantes acdes, no sentido de estender a cidadania a todos, esto sendo executadas em nosso pals —e por quem?” © Estender a cidadania a todos refere-se a encruzilhada da cidadania atualmente. + “Quais os obstéculos que estdo sendo enfrentados para que essas ages se concretizem?” © Como estender os direitos a todos os cidadaos brasileiros. ‘+ “Quais 0s apoios recebidos e por parte de quem?” ‘+ “Que desafios ainda encontram pela frente aqueles que, abrindo mao de interesses pessoais, partem para a pratica cidad3, seja na condicao de executores das politicas puiblicas, seja na condigdo de gestores de entidades civis, seja, até, como simples cidadaos responsdveis?” O livro & composto por textos de varios autores, dentre ele, o Stephen Kamitz: 10 Feito pelo aluno Caio Bastos — UNIVESP ~ ftica, cidadania e sociedade “Cidadania nao é ajudar o outro. Este é uma concep¢io equivocada da cidadania que infelizmente est sendo cada vez mais difundida por pessoas leigas no assunto, e que muitos problemas tém trazido & causa da cidadania. Temos visto em enorme crescimento de pessoas e empresas ansiosas para ajudar 0s outros, como forma de se tornarem pessoas responsdveis ou empresas cidadas, sem saber 0 que tudo isso significa.” “Cidadania nao é ajudar o outro, e sem servir 0 outro. Ha uma enorme diferenca entre essas duas posturas. Ninguém no fundo que ser ajudado, é s6 observar a atitude de todo adolescente. Servir é colocar-se a disposic0 do outro. Lamentavelmente, diretores de marketing e jovens altruistas ndo pensam em servir os outros.” ‘A ideia no pensar o que eu acho que seja a necessidade do outro para eu ajuda-lo, mas sim, qual a necessidade dele para eu possa servi-lo. Explicago para as questées avaliativas da semana 3: Por conta das condigées geogréficas e climéticas, ou, na realidade, a combinacao destes dois fatores, a orla do mar mediterréneo foi composto por cidades-Estado, com certa independéncia. As condig&es do ambiente impediam relagbes muito préximas e a centralizacdo de cidades em torno de um sé Estado.Foi fundamental no desenvolvimento das Grécia e de suas cidades-Estado, a pratica do Cultivo Coletivo da Terra, conforme a peniiltima opco demonstrada na questdo.Esse cultivo coletivo, principalmente no periodo inicial, permitiu a expanso das comunidades de colonos e a formacao das cidades em sua exuberdncia e forca cultural, politica e militar. | Acidade-estado introduz na histéria uma concepso absolutamente nova. A celebragao de cultos personalistas aos deuses, sem a necessidade de adoragao de divindades coletivas é falsa, j4 que havia a possibilidade de cultos personalistas havia antes da organizagao de Cidades-Estado, e seria antes prejudicada que favorecida por sua ascensio. A possibilidade de escravizar seus integrantes por dividas nao pagas é falsa, algo que também acontecia antes da organizacdo em Cidades-Estado, e que era mais facil em sociedades centralizadas que nas Cidades-Estado, menores. ‘A incluso de mulheres na vida publica, com o direito de participacdo politica é falsa, ja que as mulheres seguiram exclu(das da vida publica e da participago politica mesmo nas Cidades-Estado. idade de um grupo de individuos dotar-se de seus préprios instrumentos de governo e de em todos os niveis é verdadeira, ja que um grupo politico poderia, por exemplo emigrar de uma regio, mudar-se para outra e, se estivessem em ntimero suficiente, Ié fundar uma nova Cidade-Estado, om Maria Vietéria Benevides, na entrevista que vocé leu na primeira semana, afirma: “Cidadania para mim hoje se resume a uma palavra, que é a participac30”. J4 Silvio Gallo comeca um dos capitulos estudados com o seguinte subtitulo: “Participac3o: palavra de ordem’. Esse destaque para a “participaao” na ideia de cidadania dos dois indica que a base que eles utilizam para a discussao sobre © tema da cidadania & a Feito pelo aluno Caio Bastos ~ UNIVESP Etica, cidadania e sociedade Aideia de cidadania enquanto sinénimo de participacao, parece nos revelar que s6 hi cidadania em modelos democraticos que se preocupam com os interesses dos individuos que compéem o coletivo da sociedade. Temos, portanto, que a cidadania nao pode ser vista como efetiva em um modelo baseado no absolutismo monarquico, que rejeita a participacio popular nas decisées. Também no pode ser vista no modelo neoliberal, porque a ndo interferéncia do Estado nao é suficiente para garantir a participacdo. O modelo republicano, com democracia direta, portanto, parece ser 0 modelo mais adequado, dado que dé espaco para a participaco dos individuos na sociedade, na politica e na economia, | Para T. H. Marshall, é correto afirmar que: +O desenvolvimento da cidadania é estimulado tanto pela luta para adquirir os direitos a ela relacionados quanto pelo gozo dos mesmos, uma vez adquiridos; ‘+ Acidadania & um status concedido aqueles que sdo membros integrais de uma comunidade; * Na Inglaterra, os direitos civis surgiram em primeiro lugar, os direitos politicos se seguiram 0s civis, ¢ 0s direitos sociais surgiram por ultimo. — Segundo Pedro Paulo Funari, em “A cidadania entre os romanos”, diferentemente dos gregos sempre restritivos, os romanos utilizavam o direito de cidadania para cooptar a lealdade de outros povos. Semana 4 (Etica e Cidadania Global): Artig Hé dois modelos de cidadania mais considerados atualmente: o republicano e o liberal. Se, por um lado, 0 liberalismo contribuiu para a formulacdo de uma cidadania universal, fundamentada na nogao de que todos sao livres e iguais, por outro lado ela reduziu a cidadania a um status legal, deixando de lado ideias essenciais como a de participagao politica, motivo pelo qual & fundamental resgatar a importancia da dimensdo republicana nas andlises sobre a cidadania na contemporaneidade, Da tradicao grega A concepsao aristotélica separa rigorosamente o dominio piblico do privado, como também a pélis do oikos [trés conceitos: a familia, a propriedade da familia e a casa {mais comuml}], as pessoas e das ages das coisas. Cada cidado pertenceria a duas ordens de existéncia, havendo diferenca entre o que Ihe seria préprio eo que seria comum ao grupo de cidadaos. Para adentrar a esfera piblica, o individuo teria de se emancipar do mundo das coisas, ingressando naquele da politica Na esfera publica, os homens, ao debaterem as questdes pertinentes a sua sociedade, poderiam ser vistos e ouvidos uns pelos outros, com diferentes perspectivas. E s6 quando algo pode ser visto por muitas pessoas, numa variedade de perspectivas, pode o mundo manifestar-se de maneira real. 12 Feito pelo aluno Caio Bastos ~ UNIVESP Etica, cidadania e sociedade O debate piiblico é préprio para lidar com temas de interesse coletivo que nio sio suscetiveis a regéncia dos rigores da cognicao e que ndo se subordinam, por isso mesmo, “ao despotismo [absoluto, tirdnico] do caminho de mao tinica de uma sé verdade” (LAFER, 2003, p. 317). Conviver no mundo significa ter um mundo em comum, o qual, ao mesmo tempo em que separa individuos, ou grupos, estabelece relagbes entre eles (ARENDT, 2003). Para Aristételes (385 a.C. a 323 a.C.), a democracia seria aquela forma de governo na qual o poder seria amplamente distribuido ou até despoticamente exercido. Tenderia a significar um sistema que pesaria mais a favor dos menos favorecidos do que a um pequeno grupo, mas num significado mais formal e preciso, seria um sistema governado por homens igualmente considerados, um sistema no qual todo o poder seria exercido por maiorias mecdnicas e numéricas. Assim, na tradicgo aristotélica, a participagdo na conducdo dos negécios publicos tenderia a prevenir, em tiltima instancia, 0 surgimento ¢ a afirmagao de regimes totalitérios, que teriam origem na apatia e no isolamento do individuo em sua vida privada. ‘A cidadania grega, pasando do oikos [casa] para a pélis [cidade], deixa de lado 0 mundo das coisas para um mundo de pura interagdo entre as pessoas, um mundo de palavras e discurso. Da tradi¢ao romana ‘A formula romana divide 0 universo entre pessoas, agdes e coisas. Em contraste com a concepcso aristotélica, hd a mudanga do enfoque do cidadao como ser politico para 0 cidado como ser legal Enquanto 0 pensamento aristotélico deixava as coisas no 4mbito do oikos [casa], de modo que na pélis [cidade] os cidadaos se emancipassem do cuidado com suas posses para entrar em contato direto com uma vida politica que seria um bem em si mesmo, segundo a tradico romana as pessoas agiriam sobre as coisas, e a maioria de suas aces seria dirigida & manutencao de suas posses. O mundo de coisas, ou res, era algado ao status de “realidade”, e esse seria 0 meio no qual os seres humanos vviveriam por intermédio do qual seria formada, regulada e articulada sua relaco com os demais {POCOCK, 1975, p. 35). © significado romano conferido ao conceito de cidad8o conceituava que suas acées seriam diretamente relacionadas as coisas (res). E sua relacdo com as coisas seria regulada pela lei. O cidado passa a denotar alguém livre para agir segundo @ lei, livre para pedir e esperar a protecdo legal. A cidadania torna-se um status legal, trazendo consigo direitos relacionados a determinadas coisas, posses, imunidades, expectativas (POCOCK, 1975, p. 35). De acordo com essa concep¢ao, o cidadio pode invocar a lei para Ihe garantir direitos, imunidades, privilégios e até mesmo autoridade. O ideal romano de cidadania passa a enfatizar um status legal, que é diferente de um status politico. © cidadao romano pode nao ter sido 0 responsével pela elaboracdo das leis pelas quais seré governado, pode ter delegado tal funcdo, e, como a cidadania & focada num status legal, ndo & necessério ser responsével pessoalmente pela elaboracéo dessas normas. A cidadania romana estaria relacionada a um mundo de coisas, pessoas e aces. A férmula sempre retorna sua atencao para 0 oikos [casa], e a posse esté no centro da cidadania (POCOCK, 1975, p. 40). Da tradicdo liberal e de suas tensdes com o republicanismo — da cidadania na contemporaneidade ‘Além da tensdo entre a concepgo legal (romana) e a concep¢ao politica (grega) de cidadania, 13 Feito pelo aluno Caio Bastos — UNIVESP ~ Etica, cidadania e sociedade Para a teoria aristotélica, a discussao politica seria um exercicio de escolha racional voltado para a conceituacao do bem comum, de modo que apenas os homens livres seriam capazes de proceder a essa escolha racional, a partir das alternativas propostas para efetivaco desse bem. Por esse motivo, as criaturas dependentes, tais como escravos, mulheres e criangas, estariam exclu(das da cidadania. Se, para a tradi¢ao republicana cléssica, a ago na esfera publica é fundamental, a concep¢ao liberal (e moderna) de cidadania passa a enfatizar o império da lei para garantir a seguranca das relagbes, contratuais No liberalismo, se o Estado garante sua propriedade e seus direitos individuals, 0 individuo pode ndo ter interesse na politica (IGNATIEFF, 1995, p. 58-59). Se, por um lado, o liberalismo contribuiu para a formulacao de uma cidadania universal, fundamentada na nogo de que todos sdo livres e iguais, por outro lado reduziu a cidadania a um status legal, deixando de lado ideias como consciéncia publica, atividade civica e participacao politica Apolitica seria uma profissdo, e os politicos tenderiam a sofrer sempre a tentacdo de tomar decisées de acordo com seus préprios interesses, e aqueles de poderosos grupos de pressio, Por esse motivo, © argumento republicano traria uma adverténcia que nao poderia ser ignorada: se as pessoas nao atuarem para impedir a corrupgo politica, priorizando as obrigagGes civicas em relagao aos direitos individuais, ndo se deverao surpreender se encontrarem seus préprios direitos individuals solapados [arruinados, aluidos] (VIEIRA, 2001), Isso significa que 0 homem de mercado, fruto da concepgdo liberal de cidadania, tende a ser um sujeito passivo, desinteressado da politica, e, por consequéncia, do coletivo. Se o Estado Ihe garante seus direitos individuais, ele nao precisaria ter papel ativo na arena publica. A apatia ou o desinteresse seria uma consequéncia da concepedo liberal de cidadania. Os cidados nao precisariam participar ativamente do processo de conducio dos negécios coletivos todo 0 tempo, no sendo apenas essa atuago a responsdvel pela realiza¢o plena do homem, tal como enfatiza a tradicio aristotélica. A maioria das pessoas poderia realizar-se de outras formas, mesmo s6 se envolvendo algumas vezes com as questées do Estado, desde que permanegam conectadas e responséveis. Para 0 autor, a vida associativa seria importante para manter as pessoas ligadas e fortalecer o senso de responsabilidade dos individuos, motivo pelo qual ela seria uma faceta significativa da cidadania da atualidade (WALZER, 1995, p. 170-173). Numa comunidade civica, a cidadania se caracteriza pela participacdo nos negécios puiblicos. E, citando Michael Walzer, enfatiza que “o interesse pelas questdes puiblicas e a devocao as causas piiblicas so os principais sinais de virtude civica”. Nesse sentido, o significado basico da virtude civica parece residir no reconhecimento e na busca perseverante do bem publico & custa de todo o interesse puramente individual e particular (PUTNAM, 1996, p. 101). Quanto mais civico 0 contexto, melhor o governo. Também ensina que “o contexto social e a historia condicionam profundamente o desempenho das instituigdes”, ressaltando ainda que “mudando-se as instituigBes formais pode-se mudar a pratica politica” (PUTNAM, 1996, p. 191). A tradigo romana (liberal), construindo 0 arcabouco [estrutura, capacidade] para enfatizar a cidadania como sistema legal, torna-se referéncia para a formulagdo de uma politica liberal. E, sob a contaminacao desse idedrio [coletanea de ideias] liberal, entendendo-se 0 individuo como sujeito de direito, dotado da prerrogativa de acionar as instdncias competentes quando lesado. A atuaco na esfera piiblica, determinada pela tradi¢go grega, fica em segundo plano, 14 Feito pelo aluno Caio Bastos ~ UNIVESP Etica, cidadania e sociedade Se, por um lado, a concepsao republicana cléssica (aristotélica — conceito grego) soa romantica e até inadequada a formulacao da cidadania contempordnea, por outro lado, o desenvolvimento de senso de responsabilidade pela conducao das questdes coletivas, bem como a existéncia de mecanismos que mantenham os cidadaos permanentemente ligados, ganha importancia para prevenit relagdes, verticais de autoridade e dependéncia e, até, em ultima andlise, o aparecimento de sistemas totalitérios (totalitarismo & um sistema politico ou uma forma de governo que proibe partidos de oposi¢ao, que restringe a oposigao individual ao Estado e as suas alegacdes e que exerce um elevado grau de controlo na vida publica e privada dos cidad3os.] Video aula | José Murilo de Carvalho, no livro Cidadania no Brasil, traz a cidadania no Brasil como um fenémeno histérico: “Quando falamos de um cidado inglés, ou norte-americano, e de um cidadao brasileiro, 1ndo estamos falando exatamente da mesma coisa.” Ou seja, a sociedade se desenvolve a partir do seu préprio tempo, a partir das suas caracteristicas préprias, a partir do seu contexto. Ele ainda complementa sobre Estado-nacao: “a construgio da cidadania tem a ver com a relagio das pessoas com o Estado e com a nacao (...). Da cidadania como a conhecemos fazem parte entdo a lealdade a um Estado e a identificago com uma nag.” Neste ponto, hd um peso forte sobre o ponto de vista da territorialidade e da soberania do estado. 0 socidlogo inglés David Held, define globalizagdo: “Processo (ou conjunto de processos) que engloba uma série de transformagées no modo como as relagées sociais se organizam espacialmente, gerando fluxos e redes transcontinentais ou inter-regionais de atividades, interagdes e poder”, David Held destaca quatro mudangas: 1. _Estende atividades sociais, politicas e econémicas através de fronteiras politicas, regionais € continentais [isso traz um desafio para a ideia de cidadania enquanto atrelada a um espaco geografico politico especifico, que é do Estado-nacéo]; 2, Intensifica nossa dependéncia um do outro [isso porque as relagdes comerciais, financeiras e culturais ou até mesmo as migragées, aumentam]; 3, Acelera 0 mundo [novos meios de comunicacao e transporte, isso significa que ideias, bens, informagées, capital e pessoas se movern mais rapidamente]; 4, Eventos distantes tém um impacto mais profundo em nossas vidas [uma doenga em um local remoto do mundo, se torna uma pandemia em pouco tempo] A globalizacao trata das conexées entre diferentes regides do mundo - do cultural ao criminal, do financeiro ao ambiental - e das maneiras pelas quais elas mudam e aumentam ao longo do tempo. Liszt Vieira diz que: “Os processos de globaliza¢o em curso esto desafiando as fundagées e principios politicos do Estado-nagéo (...)e, por extensdo, da propria democracia e cidadania (..). As conquistas da cidadania nacional, se encerradas apenas dentro do territério do Estado soberano, est3o ameagadas pelo crescente enfraquecimento do Estado nacional.” Se as conquistas da cidadania nacional continuarem presas ao espaco especifico do Estado-nagio, elas estaro ameacadas. Com base nisso, Liszt diz: “Tudo indica que a construgo do futuro tende a ‘transformar a cidadania nacional, surgida com os Estados territoriais modernos do ocidente, em forcas socials transnacionais, abrindo caminho para a cria¢do de uma sociedade civil global emergente.” Para a Organizagio das Nagdes Unidas (ONU), cidadania global é cidadania sem fronteiras, cidadania além do Estado-nacdo, cosmopolitismo e cidadania planetaria, Assim, cidadania global é “o conceit 15 Feito pelo aluno Caio Bastos — UNIVESP Etica, cidadania e sociedade de que a identidade de alguém transcende, mesmo que respeite, as fronteiras geograficas e nacionais, fe que nossas ages sociais, politicas, ambientais e econémicas ocorrem em um mundo interconectado.” Isso nao implica nenhum status legal, é mais um sentimento de pertencer a uma comunidade global como um todo, 2 partir de uma experiéncia de solidariedade, identidade, de responsabilidade coletiva em nivel global. Existem muitas ages de solidariedade que so trabalhadas em nivel global, visando a cidadania global, como por exemplo, a Organizacao das Nagbes Unidas para a Educagdo, a Ciéncia e a Cultura (UNESCO). ‘A UNESCO preconiza: “Nao implica um status legal. Refere-se a um sentimento de pertencer & comunidade global e @ humanidade comum, com seus membros experimentando solidariedade & identidade coletiva entre si e responsabilidade coletiva no nivel global.” € complementa: “Espera-se, gerar ages e engajamento entre seus membros por meio de acdes civicas em dominio publico para promover um mundo e um futuro melhores. Respeitando os valores universais de direitos humanos, democracia, justica, no discriminacdo, diversidade e sustentabilidade, entre outros.” “A educagao para a cidadania global visa capacitar os alunos a se envolverem e assumirem papéi ativos, local e globalmente, para enfrentar e resolver desafios globais e, finalmente, tornarem-se colaboradores proativos de um mundo mais justo, pacifico, tolerante, inclusivo, seguro e sustentavel.” © desafio da cidadania global: “como promover a universalidade (por exemplo, identidade comum e coletiva, interesse, participagdo, dever), respeitando a particularidade (por exemplo, direitos individuais)?” Portanto, cidadania global é 0 “engajamento por meio de agées civicas em dominio publico para promover um mundo e um futuro melhores. Respeitando os valores universais de direitos humanos, democracia, justica, no discriminacdo, diversidade e sustentabilidade, entre outros.” UNESCO. Video aula II: Dentro da sociedade civil global, a ética pode ser discutida a partir de duas perspectivas: ‘+ Conjunto de ideias éticas fundamentais (como a solidariedade, o respeito, a dignidade humana) que so aceitas globalmente e que estabelecem uma base sobre a qual as pessoas lidam umas com as outras no mundo; ‘© Conjunto de principios que surgem do desenvolvimento de um novo tipo de sociedade civil global interdependente, com oportunidades e perigos comuns. Esses principios, segundo a ONU, esto definidos em alguns pilares éticos: ‘+ Boa governanga e o respeito as leis, em nivel nacional e global; ‘+ Responsabilidade pelo planeta e clima, e nossas obrigagdes para com as geragGes futuras; + Responsabilidade humanitéria basica pelo outro em situacéo de vulnerabilidade; + Erradicacdo da pobreza extrema; * Compromisso contra as guerras e defesa da seguranca internacional; ‘© Eliminago de armas nucleares e outras armas de destruicdo em massa. Esses pilares tém como base os direitos humanos, que so direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raga, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religido ou qualquer outra condicso, 16 Feito pelo aluno Caio Bastos ~ UNIVESP — Etica, cidadania e sociedade A Etica Global, segundo a ONU: “Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da familia humana e de seus direitos iguais e inaliendveis o fundamento da liberdade, da justica e da paz no mundo (...) Artigo | Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Sdo dotados de razio e consciéncia e devem agir em relaco uns aos outros com espirito de fraternidade.” 0 filésofo australiano contemporaneo chamado Peter Singer, em seu livro ‘Um sé mundo’, diz: "No ‘termo ‘globalizacdo’, mais do que na designa¢do anterior de ‘internacionalizacdo’, esta implicita a ideia de que estamos a ultrapassar a era do estabelecimento de lacos entre os paises e comecamos a contemplar algo para ld do conceito existente de Estado-na¢do. Mas esta alteracdo precisa de encontrar eco em todos os niveis do pensamento, em especial na reflexéo sobre a ética.” Pontos abordados: 1. Um mundo em mudanga [devido a globalizagao]; Uma s6 atmosfera [emissao de gas carbénico {efeito estufa e protocolo de Kyoto} que atinge, principaimente, os mais pobres}; Um sé comércio [fungao da ONU dentro da regulacao do comércio internacional]; Uma sé lei {formacao de tribunais internacionais]; Uma s6 comunidade [ajudar aqueles em situacao de pobreza extremal; Um mundo melhor? Ainda sobre a pratica de uma ética global, a ONU elaborou ‘17 objetivos para transformar 0 nosso mundo’, Séo metas para serem atingidas até 2030, que aborda sobre relagées politicas, sociais, econémicas, culturais ete. “Conjunto de objetivos globais que atendem a integrago social, econdmica e ambiental do planeta.” 0 desenvolvimento sustentavel é aquele que supre as necessidades atuais, sem colocar em risco as futuras geracdes. “Etica Global Nés, chefes de Estado e de Governo e altos representantes, (..) ‘* Resolvemos, entre agora e 2030, acabar com a pobreza e a fome em todos os lugares; ‘+ Combater as desigualdades dentro e entre os paises; ‘+ Construir sociedades pacificas, justas e inclusivas; ‘+ Proteger os direitos humanos e promover a igualdade de género e 0 empoderamento das mulheres e meninas; e + _Assegurar a proteco duradoura do planeta e seus recursos naturais. Video aula II Diferenga entre direito e privilégio, por Lawrence Reed: “direitos so coisas que vém para vocé em virtude do seu nascimento, por ser um individuo Gnico, soberano e independente. Vocé vem a esse mundo com certos direitos, basicamente o de viver em paz contanto que deixe os outros viverem em paz. 0 privilégio nao é um direito, é algo que pode ser um favor especial s6 para vocé, talvez por causa de alguma conexdo politica que vocé fez. Os politicos tentam te manter feliz; ndo é algo que necessariamente serd dado a outra pessoa. f ai que o terreno se torna desnivelado e injusto. Entéo 7 Feito pelo aluno Caio Bastos — UNIVESP ~ Etica, cidadania e sociedade eu diria: se afaste dos privilégios e abrace os direitos. Pafses que fazem isso tendem a se sair bern economicamente e em todos os outros aspectos.” ‘Aqui no Brasil temos o problema de que em grande parte, é 0 Estado que define o que é direito e 0 que & privilégio: “ha um mito sobre o Estado em muitos lugares, e eu acho que esse é 0 caso do Brasil ‘também, onde vocé presume que, porque é o Estado, que ele é nobre, que ele sabe como fazer as coisas que ele est certo ou que ele é mais inteligente do que nés. Mas acho que o Brasil recentemente passou por momentos realmente horriveis, que devem fazer as pessoas entenderem que ndo hé nada de especial sobre o Estado. Fle é formado por pessoas que, como todo mundo, esto perseguindo seus préprios interesses, e que, algumas vezes, fazem isso de uma forma que ajuda a todos, mas frequentemente, 0 fazem de formas que prejudicam as outras pessoas. Entdo, nés precisamos disciplinar 0 Estado, deixé-lo menor e mais atento 8s pessoas. Mas, 20 mesmo tempo, deixar as pessoas livres e em paz, pois é assim que a riqueza é produzida. Nao por politicos e seus decretos.” Atividade avaliativa: Para Marco Mondaini a ideia classica de cidadania ganhou entre nés no sentido proprio e se refere cidadania patrimonialista: Para Marco Mondaini “o habito herdado do nosso passado colonial de uso privado das coisas piblicas enraizou-se de tal maneira do estado na sociedade brasileira que a prépria ideia classica de cidadania ganhou entre nds no sentido préprio”. E marcado pelo erro de discernimento entre o que é préprio do ambiente familiar, incluindo amizade, e 0 que é especifico do estado. Assim, defiro a cidadania patriménio a lista, quando as relagdes de carter privado se imp&em sobre as de caréter publico, ou seja, o critério para a cidadania brasileira, incide sobre nossos relacionamentos de conhecimento, familia e amizade, desse fazendo assim a igualdade como cidadao e privilegiando as relacdes pessoais. Semana 5 (direitos humanos, sua historicidade, relevancia e atualidade): Costurando: Partindo de uma ideia geral de direitos humanos, como: “direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raga, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religido ou qualquer outra condica0”, ‘Ao final da semana, vocé deve ser capaz de: © compreender a relacao entre direitos humanos e cidadania; * _analisar as relagdes étnico-raciais a partir da perspectiva dos direitos humanos; * _refletir sobre a construgao histérica dos direitos humanos. Texto: Direitos Humanos: desafios para o século XX! de Maria Victoria Benevides: “"Hé pouco mais de cem anos, viviamos, nesta terra dita de Santa Cruz, no regime da Casa Grande e Senzala, Nossos antepassados defendiam a escravidio como “natural”, pois acreditavam — ou fingiam acreditar ~ em falsas teorias sobre a “inferioridade” dos negros. Tinham, ainda, o apoio espiritual dos que invocavam a diversidade na criagio divina para justificarem as odiosas desigualdades entre seres humanos.” ‘400 anos de escravidao é uma heranga muito pesada. Os senhores fidalgos consideravam que o negro africano, e seus descendentes, nao tinham direitos porque no os mereciam, e nao os mereciam porque nao eram pessoas, mas sim “propriedade”, sobre a qual valia apenas “a lei” dos donos. Ou sela, prevalecia a nocdo de que “ser pessoa e ter direitos” ~ a comegar pelo direito a vida — dependia de certas condigdes, como o lugar onde se nasceu, a cor da pele e as relagdes de poder vigentes. 18

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