1.perini (2006)

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PERINI, M. A. Niveis e unidades. Principios de lingtiistica descritiva. SA0 Paulo: Parabola, p. 93 — 103. 2006. CAPITULO —> NIVEIS E UNIDADES L1L1. PALAVRA, LEXEMA, SINTAGMA uuando um lingtista examina le de certo modo sabe 0 que procurar: 4 teria Ihe formece muitos ontos de referéncia, de maneira que ele néo precisa come- gar do zero, Por exemplo, ele sabe de antetndo que as pal- ‘ras sto unidadesrelevantes para a anise; que as palavas ‘ sgrupam em unidades maiores (chamodes sintagnas); que os sintagmas se agrupam em oragies tc. Neste capitulo, vou apresentar defnir as principals tunidades normalmente uilzadas na andise gramaticl, mostrando o modo como elas se attculam para formar unidades de nivel cada vez mais alto ‘A palavra nds todos conhecemos: la € marcada na escita através de espagos em branco antes © depois. Na fala no hé espagos, e as palavras se pronunciam todas grudadas, o que as vezes apresenta clfculdades de ané- lise que nao podem ser discutidas neste livro, Para efeitos da presente exposisio, vou partir da palavra (escrita), dando-a como couhecida, ica, € importante distinguir palavra 5, que s0 no entanto confundidas forma individual, com uma repre- sentacio fonolégica ou grifica nica; um lexema & uma classe de palavras ‘relacionadas de determinada maneira. Por exemplo, flor e flores sto duas palavras, mas pertencem ao mesmo lexema, Varias palavras pertencem a um lexema tinico quando elas se relacio- ‘nam gramaticalmente de maneira muito sistemtica ¢ regular. Flor e flores sto formas do mesmo lexema, porque & muito sistematico na lingua um ‘nominal ter singular ¢ plural. J4 flor e florista pertencem a lexemas diferen- tes porque essa relagio (com o sufixo ~ista significando “pessoa que traba- Tha com”) s6 ocorre em alguns casos, ¢ de maneita pouco regular: temos ial emnsncroste se misica ¢ muscista, mas sapato € sapatir, mecanicn e mecinico, medica © ‘médico;¢ para casa nao temos nada semelhante (caseiro nfo é uma “pessoa que trabalha com casas"; € “casivia nio existe), nem para parede, céu ou ‘minkoea, Mas (quase) todos os nominais tém plural, e todos os verbos tm infnitivo, presente do indicativo e primeira pessoa do plural — eazio pela qual beber, bebo © bebemos sio trés palavras que pertencem ao mesmo lexema; mas bebida ow beberiio sio lexemas independentes. ‘ina palavea ¢ formada de um saemos que falago &formada de far parte do’ verbo rmorferna -¢to tem 0 «xemplo € desmatamento, onde des- di uma idia de “evento opost €0 mesmo morfema que se encontra em mata e matagal, ¢~ “asio ow processo”, Gata pode ser dividido em gat, que veicula a ideia basica de “gato e a, que af denota o sexo feminino, Ba palavra serypre io pode ser dividda, sendo formada de um sé morfems, is morfemas: por exemp is lo, Fala- & um morfe e encontra também em filava, © estudo da formasao das palavrs se denomina morfologia, ¢ nio é abordado neste livro. Basta, por ora, fer uma idéia bisica do que € um tmorfem, e de como os morfemas se agrupam para formar palavras. Aqui ‘vamos partic do agrapamento das palvras em sintagmas. O estudo dos sintagmas, sna composigio e sua estruturagio em unidades maiores faz parte da sintaxe © sintagma & wm constituinte (como definide no capitulo 3) menor do que uma oragao, ¢ composto de uma ox mais palavras, Assim, na frase Ti. Weus daisies vio mada pa 6 Wo de Janel algunas seqitcis de pulavas que nos fo e senso de grupos naturais, ¢ outros que néo dao essa sensacdo. Assim, preferimos a segmentagio [2] & segmentagao (3): [2] (Meus dois [3] IMeus dois] 1408) [vo mudar} [para 0 Rio de Ja mBos vio] [mudar pare o} [Rio de} Ba "Ou, mais exatame uma seqiéncia de dois movers, que © - ial geralnente sana. como “yoga tema” Nivasenees . [As partes de [2] parecem ter, cada uma, um significado claro, 20 passo {que & sogmentagao iustrada em (3) nos a impresso de pedagos desconesos, Isso € porque em [2] a frase foi dividida em seus sintagaas (ou constituintes) 20 passo que em (3} @ divisio dos sintagmas nao foi respeitada’ Pode-se testar a nogio intuitiva de sintagma perguntando a qualquer falante do portugués se existe na lingua a seqtiéncia trabalho o. Ele prova- velmente vai responder que no, que o que existe é 0 frubalho. No entanto, 4 seqiiéncia trabalho o ocorre normalmente em portugués, como em [4] Sem trabalho o dia custa muito a passar. A seqiiéncia trabalho 0 nao & percebida como {5} Sem trabaiho} fo dia] [eusta muito a passer). Como se vé, as duas palavras, rabalho ¢ 0, fcam em con separades. Por isso sua seqiéncia no € sentida como uma tendemos a dizer que ela nao ocorre na lingua. Esse carter int divisto em constituintes € muito importante para a andlise,¢ se relciona com o fato de que cada um deles tem um significado coeso. ‘Vamos examinar mais algumas propriedades dos sintagmas. Uma das mais importantes ¢ que os sintagmas nao sio todos do mesmo tipo; outra € que eles se encaixam uns dentro de outros, como bonecas russas, Vamos examinar essas duas propriedades nas segoes seguintes. 11.2. Tiros pe snvracaas tamento gramatical di ‘ou menos!) como os © ocupando posigoes Os sintagmas, como as palavras, ttm co ferenciado, Alguns sintagmas se comporta nominais, podendo ser semanticamente ref tipicas de nominais na sentenga. Por exemplo, o sintagms meu vizirho da frente pode ocorter na oracao nas mesmas posigies que Fred: r viginho da frente] estuda medicina 2 estuda medina, a * Bm ger entends- por sintagma um copstuinte frmade de pelo menos uma palavra, mas menor do que uma oracao. 7 seruunnesoa oes Imeu vizinho d ‘frente (compl. da prep. com) (compl. da prep. com). Um sintagma nominal pode ter composigdes bastante variadas, como -mostram os exemplos abaixo: (Fred) meu vizinho da frente} To gato} [o livro que voce comproul sus slo apenas quatro das muitas possiblidades de estraturasio de tum sintagma nominal B fil verificar que todos eses sintagmas podem ‘ocorrer nas trés fungies citadas, ¢ todos eles podem ser usados para se referit a coisas! ibm pode ser peeicativ, mas esta nao € uma iad, inci sere vivo inclusive pesoas. Nresenoois o Note-se que os sintagmas se encaixam uns dentro dos outros; por exemplo, em [17] o sintagma adjetivo (que voce co Meu carro iquase todo Isso ¢ bastante claro, © problema com os sintagmas adverbiais € que im sabe a0 certo 0 que é um advérhio — tudo indica que essa classe nal de palavras encerra virios tipos muito diferentes de itens, senda provavelmente um conjunto de classes, ndo apenas uma clase’, Hi ainda outros tipos, como o sintagma verbal, que corresponde 20 “predicado da gramética tradicional: Finalmente, é bom observar que a orasio é também um tipo de sintagma, pois € uum dos consttaintes da sentenga (do perfodo). O que se disser do sintagma em geral vale, portanto, também para as oragies. A nogio de sintagma ¢ byisica em todas as toorias lingifsticas. Na gra- matica tradicional, ela é usada mas no explicitada, de maneiza que soa * Muitossintagmas adverbs também mui funconalmente, mas apenas uma expresso conveniente que se ws quando a dase do sintagint nfo € daa, ou quando mao importa para x dseseio do momento. oe onuaamosoe ase 4 anise sintiica tradicional atribui fungi a mew carro (sujito), rae todo da (adjunto adverbial), quase tad dia euiga no contro aa cite (peedicodo) ete, Mas as seqigncias carro quase dia enuiga no tm Fangio nena na omagio — justamente porque nto constituem sintagmas. Neste ponto, todas 2 teoras esto de acordo: somente os sintagmas (e as palaras) st unidades sintiticas, podem pertence a classes ¢ ter fungdes, ¢ somente esas seqléncas pretagio semantic’. As outtas seqléncas, como carro que, dia enguiga, contro da et, no tém nenhum status na gram ¢ inclusive, como vimos, tendem a ser ignoradas pelos flantes. Ou, em outras palavrs, as nas) sehncias de palavras, ¢ no podem los Sto seqlincias de constituintes, estruturados aneira que veremas na préxima ses, ‘Quando dizemos que ha virios tipos de sintagmas, estamos dizendo que lasses, exatamente como as palavras. As classes ‘pronomes ete.) s2o apenas um caso especial lasses de formas, que inchuer classe (como as palavras de um: — por exerplo, ocorrem em posigdes senelhantes na oragio e seu signifi cado tem alguma coisa em comum, No caso dos sintagmas nominais, todos reciprocs é sempre verdad vasernananes 98 1 }. ASSOCIAGAO DOS SINTAGMAS Os sintagmas se associam para compor estruturas maiores. Assim, podemos juntar um sintagma nominal a um sintagma verbal para formar uma oragio: (22) (Meu carro} [enguica todo domingo]. oe Sint. verbal Esse processo de encaixamento pode chegar a um grau bastante alto de complexidade. Por exemplo, a seqincia marcada em (24) [24] Estou trabathando [com um amigo do pai 100 rman de uss 5) Teom Tom amigo 12 pat We te, esté dentro de [cont unt amigo do pai de Bia. Se eliminarmos a palavra Bia de qualquer desses sntagmas, ele fica incompleto: a seqiénca o pai de nfo & um sintagma (como alids nos di si palevra ov qualquer outra forma pode perk sos sintagmas — no hé nada de incoerente nisso (pode-se comparar essa io 4 da cidade de Brasilia, que fica dentro do Distrito Federal, © também dentro do Brasil, dentro da América do Sul ete). A lista dos Siotagmas nominais de (25] € a seguinte um amigo do pai de Bia| ai de Bla} LA, SINTAGMAS: UNIDADPS DE FORMA B DE SIGNIFICADO (Os sintagnnas tém coeséo semantica ¢ formal. Sermantica porque nos dao 4 impressto de alguma coisa que “faz sentido’, e essa impressio pode ser cexplicitada com certa claeva, E formal porque, em geral, podem ocorrer em detetminadas posigoes sintiticas bem definidas, com funcio especifica. Por inka prima & um sintagma nominal. Essa mesma de palavras se encontra em diversas posigSes na frase, como: * Além disso tudo, st também deat da oragto completa Shoerinanors on [26] TA minha primal t [27] Voce vai encon Nadia & que & [a 29] 0 carro dle minha px # coma se esse grupo de palavras fosse carregado daqui para ali, sem se desintegrar. Agora, se pegarmos em [29] a seqiencia carro da minha, mae veremos o mesmo tipo de coesio: fica dificil utilizar essa seqiéncia (sem 0 antes e prima depots, claro) em diversas posigbes em diversas sentences. E aque carro da minka no forma um sintagma, Pacalelamente, a rina prims (uma pessoa, no caso), a0 contrario de carro da 0 de dois pedagas que nao se ligam. Em resumo: uma frase se estrutura em unidades, sintagmas, oragées, que podem ocorrer umas ao lado das outeas e inch tumas dentro de outras. Essas unidades tém valor formal (sto pecas zadas na montagem das seqitncias) e valor semantico _magao passada pelo emissor ao receptor, € que permite a este stim cons: teuie 0 significado final das sentcasas). 11.5, ESIRUTURA SINTAGMATICA E A MONTAGEM DO SIGNIFICADO Pocemos agora voltar & frase vista no capitulo 3, a saben, [BO] A casa de Sandrinha é verde, Ela se segmenta nos seguintes sintagmas: outros sintagmas esse lvro, papagaio ox aguele carro due voce queria comprar. De Sandrinha pode ser substituide por sintagmas que fica em cima do morro ow cont muites janes. E em ocorténcia a sintagmas verbais como pegou fogo, tem ote quarts. fica na esquivia soz Insravnrosce aan Mas no € s6 iso: a segmentaglo ¢ fundamental para a interpretagio semantic, isto & para o processo pelo qual o receptor deriva o significado da estrotura, Assim, a case de Sandrinha é manera usada nessa frase para luazer & mente do receptor uma entidade (uma casa determinada); é verde € usado para atribuir a essa entidade uma qualidade (“verde”); ¢ de Swndrinha restringe a casa mencionada, de maneira que ficamos sabendo que ndo € toda e qualquer casa que ¢ verde, nem alguma casa nto cspeciticada, mas uma casa identificivel como sendo a de Sandrinha Yor outro lado a frase contém a seqiéacia Sandrinha é vel, mas, como essa seqiéncia no & um sintagma, ndo recebe interpretagdo semantica, Con- seqjenternente, 0 significado “Sandrinha é verde” nfo faz parte do significado dessa frase: 0 receptor no entende que Sandrinba é verde, ¢ na verdade nii0 fica sabendo nada sobre as eventuais qualidades de Sandrinha. 180 mostra como a estruturacao em sintagmas € essencial para a compreensio. {6, PROPRIEDADES DOS CONSTITUINTES Os constituintes sG0 bisicos para 2 andlise gra ical, € importante saber idenificé-los com seguranga Sem els, nenhuma andlise gramatical faz sentido. Por isso, & bom conhecer suas prepredades gramaticas (formals ¢ lescrigbes gramaticais. A seguir dou algoms py {que 0s distinguem de seqiéncias que nao formam constituintes, ;, uns dentro dos outros wiedades & a possibilidade tes, Vimos alguns exem- plos acima; agora vamos retomar © tépico. Por exemplo,sabemos que a casa de Sandra & um sv, € que contém outro st, a saber, Sandrinhas (A casa de (Sandrinhel) E sabemos que esse ss a case de Sandrinka pode ser, por exemplo, sujeito de uma oragior (33) [A casa de Sandrinha] € muito pequena, Novas apes © ‘Mas por que € que o sujeito de é muito pequena é a casa de Sand «eno apenas Sandrinha (que, como vimos, 6 lado semantico da pergunta, por que € que sabemos que (33) afitmsa que 4 casa € que € pequena, € nio a prOpria Sandvinha? te de determinada classe, 0 maior € 0 A resposta € que, quando temos um consti classe (digamos, um ss) dentro de outro da mes ico que vale para qualquer relagio gramatical, seja formal seja semén- fica, com out tos da urea. Assim, para efeitos de determinacao da fungao sintitica de [32] na oragdo, s6 se leva em conta o sintagma ma.or (a casa de Sandrinha). O sintagma menor (Sandrinha) s6 fancione para efeitos de relagbes internas ao s maior — assim, podemos dizer que inka € complemento da preposigio de. Outro exemplo € o sintagma adjtivo de janelas de peroba, na frase {B4] Comprei uma casa [de janelas (de perobal), fanto, o modifcador de casa € de janelas de perobas €, no que diz 0 significado, entende-se que a casa tem janelas de peroba, mas sa € de peroba. 0 sadj de peroba s6 Janelas, ndo de cast, ou sefa, seu ambito de val do sintagma a que pertence, Esses exemplos ilustram cariter hierar tuintes: cles se encaixam uns dentro 0s menores, porque pode haver virios) fu dominio mais restrito. apenas dentro de seu 11.6.2. Const tes € 0 contexto sintatico ‘Uma observagao que deve ser feta € que uma sequiénci

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