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2019 PORTUGUES 12.° ANO www.exameport12.pt Pedidos a: email ~ prepararexame12@gmail.com telemével - 969 820 795 P,P. - 4,00€ ae Prdélogo A rigem da arte reside nos sentidas, na meméria e no mimetismo, Raymond Bayer, Historia da Estétien De acordo com o Programa e Metas Curriculares de Portugués do Ensino Secundario (PMCPES}, publica-se, pelo terceiro ano consecutivo, este auxiliar de preparac3o para 0 exame nacional de Portugués. Esta brochura néo é mais do que um caderno pratico, auxiliar e sintético destinado a todos aqueles que sentem mais dificuldades na interpretacdo, na expressao escrita ou na gramatica, no momento em que se preparam para enfrentar uma prova final de Portugués. Nao pretende, de forma alguma, formatar para o exame nacional. Alids, aos alunos 6 lancado o desafio inicial de interiorizagao, apropriacdo de modelos e capacidade de os superar, na linha de Aristételes, em que mimesis é utilizada no sentido de emulacdo, isto é, um sentido saudavel de rivalidade, que induz alguém a imitar outro ea tentar supera- lo na criacao. Publica-se, sem pretensiosismos, pois apresenta alguns tragos inovadores, na perspetiva dos seus autores. Comegariamos por referir o levantamento da tipologia das questées mais frequentes de resposta restrita, encontrada nos exames nacionais. O presente documento orienta, de uma forma pratica, na redacdo da resposta a questdes de interpretacao, no entanto, ndo se pretende, de forma alguma, que se sigam esquemas rigidos de escrita. Adiciona algumas orientagdes na resposta aos itens de selecdo ou de escolha miultipla. Identifica, além disso, alguns dos principais erros ortograficos e de acentua¢do cometidos pelos examinandos. No referente 4 gramatica, sdo elencadas as quest6es abordadas nos exames nacionais de Portugués — 12.2 ano, desde 2007 a 2018, organizando-as por Tubricas gramaticais, facilitando o seu estudo e apreensdo. Aconselha, assim, os discentes no estudo da gramatica, alertando-os para as questées mais frequentes, Porque consideradas essenciais no dominio da lingua. Apresentam-se sinteses de educagdo literdria que facilitam 0 acesso aos contetidos de obras e autores Propostos pelo Programa, bem como diversos exemplos de itens de resposta extensa, desde a exposicao 4 sintese. Este livro € complementado com uma versio digital exclusivamente com exercicios e algumas Provas-modelo, de acordo com as indicagdes do IAVE. Estes materiais ficardo acessiveis através de uma palavra-passe fornecida pelos autores @ quem adquirir 0 livro e solicitar o acesso a este apoio digital. Votos de que os seus destinatérios se apropriem de modelos e os superem com a sua criatividade. Para isso, sigam o lema do poeta: Para ser grande, sé inteiro: nada Teu exagera ou exclui. $€ tudo em cada coisa. Pée quanto és No minimo que fazes. Assim, em cada lago a lua toda Brilha porque alta vive. Ricardo Rels Ee A construgao de resposta a itens de leitura — resposta restrita Significado e importancia dos verbos de comando ou operatorios Através da andlise dos exames nacionais aplicados desde 2006, verifica-se que hd uma tipologia de questées que se repete sistematicamente. O objetivo desta rubrica é orientar o aluno na identificago das matrizes que estdo subjacentes aos questionarios, conhecer os principais verbos de comando ou operatérios e ensin- los a redigir uma resposta que esteja de acordo com o conteudo, estrutura¢ao discursiva e correco linguistica. Em geral, nos exames, recorre-se basicamente a trés categorias de questdes para a avaliacao dos conhecimentos. Em primeiro lugar, aquelas que se consideram mais simples, em que os alunos reproduzem o conhecimento adquirido, com base na memorizacao. Por outro lado, as questdes relacionadas com a aplicago de conhecimentos. O examinando pode recorrer 4 memorizacao, no entanto, tera de adequar os seus conhecimentos ao texto concreto em anilise. Por fim, e muito mais importantes so as perguntas que implicam inferéncias, processos cognitivos mais complexos ou raciocinios que pressupdem um pensamento proprio sobre as matérias questionadas. Sera esta tipologia de questdes, que implica recolha e tratamento da informagao, a que serd privilegiada nos préximos exames. Nas palavras do Diretor do IAVE, os alunos tém de ter a convic¢do de que o que é preciso para responder estd ali, & sua frente no enunciado (e no texto em andlise), pelo que ndo é preciso ir ao arquivo da memoria. (in Jornal Publico de 7 de agosto de 2018). Verifica-se que, quando se solicita aos examinandos que expliquem, raciocinem, o desempenho dos mesmos, em geral, desce. Um dos maiores erros dos alunos é ligar a informacdo que aparece no enunciado ao que memorizou, sem estabelecer uma relacdo concreta com 0 texto em andlise. O segredo de uma resposta consistente estaré na capacidade de mobilizar a informagdo presente no enunciado, relacionando-a, de forma fundamentada, com o texto em presenca. Vejamos alguns exemplos de questdes de itens de resposta restrita, uns mais bésicos, outros jé mais complexos: 1. Identifique sentimentos. Indique tragos caracterizadores de uma personagem. Descreva comportamentos. Identifique elementos que caracterizam a personagem. Indique qualidades dos herdis, Explicite valores humanos. Caracterize 0 estado de alma do sujeito poético. Relacione dois excertos textuais. Estabeleca relagées de sentido. Identifique sensagdes. Estabeleca inferéncias. Identifique um recurso estilistico eo seu valor expressivo. Divida o texto em partes e sintetize o respetivo contetido. NOVSWN 3 ) 8. Explicite valores simbdlicos. 9, Aplique conhecimentos prévios na andlise textual. 40. Identifique processos que marcam o ritmo ou a musicalidade do poema. Antes de sugerirmos modelos de analise e de resposta, o aluno deve prestar uma aten¢o muito cuidada aos verbos iniciais presentes nas questdes que séo teenicamente designados como verbos de comando ou operatérios, pois sio eles que condicionam decisivamente a construcgo de uma resposta e, logicamente, a organizacio do pensamento. Vale a pena refletir, de uma forma prévia, nesses verbos que contribuem para estruturar as operagées mentais essenciais para redigit adequadamente uma resposta. Assinale-se que é mesmo este advérbio que é expliitado no nivel 4 de desempenho, precedido do verbo de comando. Por exemplo, «Relaciona / explicita / interpreta, adequadamente (...)». Esses. verbos sempre presentes num enunciado indicam as acées complementares a serem solicitadas e, necessariamente, sujeitas a avaliacio. Explicitemos alguns dos mais frequentes. — Analisar: decompor um objetivo a ser analisado, tais como, factos, situacdes, espacos, personagens, processos, opinides, argumentos, a fim de examinar e identificar as partes, relacdes, ideias e os principios envolvidos que levam compreensio do todo. A partir dai, constréi-se uma reflexdo fundamentada em argumentos que a justifiquem. Esta deve partir dos efeitos para as causas, do particular para o geral, da parte para o todo, do simples para o complexo. - Caracterizar, identificar, indicar, explicitar, descrever: colocar em evidéncia sentimentos, qualidades, comportamentos, tracos caracterizadores de uma personagem, sensacées, situagdes ou, ainda, o espaco e o tempo. - Citar: é um verbo subentendido quando se solicita a fundamentacao da resposta com recurso a elementos textuais. Deve existir 0 cuidado no uso das aspas - («»). Caso se omita algum segmento textual, usar sempre reticéncias entre parénteses - (...) - @ jamais apresentar varias citagdes seguidas sem recorrer a um articulador ou, intercalar mesmo, um comentario pessoal. ~ Explicar: apresentar razdes e demonstrar, por palavras préprias, que se compreendeu uma determinada mensagem textual. Dar a conhecer ou expor factos, pontos de vista, interpretagées, afirmagdes, argumentos, fornecendo faz6es para as opinides emitidas, procurando a clareza de exposicéo numa sequéncia légica de raciocinio. Inferir ou deduzir: muitos dos verbos de comando pressupéem inferéncias, isto €, a capacidade de examinar as informacées concretas, para criar uma | Nova informacéo, deduzir sentidos implicitos que se possam encontrar indicados de uma forma muito subtil. € talvez a operacdo cognitiva mals ieee se comprovaré mais adiante._ in um deter, S*Por, com clareza objetividade, de acordo out ! objetivo i contexto, o sentido de factos, palavras, afirmagées, I ‘omprovar que se domina a compreensdo de um assunto. Se ~ Justificar: explicar acontecimentos, opiniées, interpretacées, decises, referindo as suas origens e o seu desenvolvimento, com a finalidade de comprovar a veracidade ou exatidéo de um ponto de vista. No fundo, & apresentar raz6es convincentes que comprovam a veracidade de algo. - Relacionar: no enunciado da questo solicita-se a capacidade de estabelecer ligagdes, semelhangas, diferencas ou de confrontar factos, situacdes, acontecimentos e ideias. - Sintetizar ou resumir: capacidade de distinguir as ideias principais de um texto das secundarias, conseguindo, deste modo, uma sintese que corresponde 2 compreensao do que foi lido. Nas ultimas provas, verifica-se que tanto se apela & capacidade de sintese como a operagdo mais acessivel de recurso a uma citagdo pertinente. 1, Identifique sentimentos, comportamentos, tracos caracterizadores, qualidades, valores, estados de alma (...) Analisemos uma das questdes mais habituais nas provas nacionais, a partir do Teste Intermédio — 2013. E talvez umas das questdes mais acessiveis nos exames. Inicia-se com um verbo de comando do género: caracterizar, identificar, indicar, explicitar, descrever... Releia 0 segundo pardgrafo. Explicite o contraste entre as diferentes emogdes sentidas por Artur durante a sua deambulacao por Lisboa. ‘Artur encolheu os ombros, furioso. De resto, observando os homens na rua, jé pensara que 0 seu fato de Oliveira era maltalhado e provinciano: por isso s6 saiu a noite, depois de aceso 0 gas. ‘Com que deleite pisou enfim as lajes ainda himidas dos passeios, respirou a friagem de inverno, © ar de Lisboa, que, depois do pesadume das ruazitas de Oliveira, the parecia ter a vitalidade ovigenada onde se dilatam as faculdades! Embasbacava para as vitrinas alumiadas das lojas; estacava, pasmando para os rostinhos pélidos das mulheres que passavam; voltava-se com admiragdo para seguir as carruagens de criados perfilados; e da claridade do gas, da vastidio das ruas, da multidgo sussurrante, vinha-lhe como que uma sensacao de atividades espalhadas, de paixdes, de grandezas vagas que o perturbava: era como se a atmosfera estivesse saturada das ‘emanacSes de uma vida rica, sabia, idealizadora e ardente! Mas sentia-se acanhado: apesar de Ihe apetecer prodigiosamente uma gravata azul que viu num mostrador, no ousou entrar na loja; 0 trotar das parelhas entontecia-o; 0 andar desenvolto dos homens, falando alto, dava-the um medo pueril de agressées; tinha vergonha do seu velho palet6, mais curto que as abas da sobrecasaca que trazia; sentiu-se mesmo agradecido a um sujeito que Ihe pediu lume, cortesmente, como se recebesse dele um ato de benevoléncia. O homem, depois de acender 0 charuto, disse para outro que esperava, assobiando: Para o Martinho, hem!? Ea de Queirds, A Capital, Porto, Lelio & Irmo, 1979 Uma vez que os sentimentos se prolongam no tempo, se relacionam com um estado interior e de caracter privado, dificilmente so observaveis. O aluno tera, na maior parte das vezes, de 0s inferir através de comportamentos, atitudes, gestos e palavras. Geralmente, nos textos literarios, predominam os de natureza disférica (negativa). a, | Alguns exemplos de sentimentos ou estados de espirito podem ser elencados de acordo coma lista seguinte: ansledade, apreensio, arrependimento, angistia, dor, magoa, tristeza, amargura, desencanto, desilusio, frustracao, inquietacao, perturbagao, curiosidade, surpresa, admiracdo, orgulho, magoa, perseveranca, tédio, dececao, édio, ressentimento, repugnancia, abulia, panico, vinganca, esperanca, exalta¢ao, plenitude, euforia, jubilo Por vezes, a questo sobre sentimentos ou estados de espirito 6 formulada de forma indireta em perguntas do género: explicite como 0 «eu» ou as personagens percecionam 0 espaco, a realidade circundante ou a passagem do tempo. Na questo em andlise, 0 aluno pode verificar que, na estrutura de superficie do texto, so evidentes alguns desses sentimentos ou emocées de que se pode apropriar, porque claramente evidenciados no excerto. Assim, ha aqui claramente duas dimensées a ter em conta: por um lado, as diferentes emogées vivenciadas pela personagem; por outro, agrupd-las em torno de dois momentos diferentes, uma vez que se regista um contraste no comportamento da personage. Na mesma linha desta pergunta, podem ser solicitadas qualidades de uma personagem. Sugerem-se algumas que, muitas vezes, aparecem associadas a figura do herdi: coragem, determinacao, persisténcia, espirito de sacrificio {abnegacio), pragmatico, ungido, imbufdo de uma dimensdo mitico-simbélica, sonhador (. Foquemos, agora, a nossa aten¢3o na formulacao da resposta. Na sua redaciio, devem ter-se particularmente em conta trés dimensées imprescindiveis: 1. contetido; 2. estruturacdo do discurso; 3. corrego linguistica (ortografia, acentuacdo, pontuacdo, concordancias sintaticas). Recorde-se que a cotacdo dos itens de construgao de resposta restrita atende 2 aspetos de contetido (com uma cotacao de 62,5%) e a forma (estruturacdo discursiva € correcao linguistica, com cotagao de 37,5%). Para além do contetido de ordem literdria, a construgao de uma resposta restrita pressupée a capacidade de construir um discurso organizado nos planos lexical, sintatico, seméntico, | Pragmiético, ortografico e de pontuagio. Relativamente as 6 questées de resposta restrita que configuram 0 novo modelo de exame desde 2018, uma delas pode ser valorizada apenas no plano do | conteido. Nas restantes, a estruturagdo do discurso foi reduzida a dois niveis de desempenho. O IAVE refere explicitamente que, exceto quando tal é expressamente requerido no item, as respostas nao tém de apresentar um Pardgrafo introdutério nem um parégrafo conclusivo; - apenas deve ser penalizada a auséncia dos pardgrafos inequivocamente necessdarios, ou seja, aqueles que decorrem da introdugdo de unidades de sentido claramente distintas das anteriores; ~ a progresséo e a clareza das ideias podem estar asseguradas através de diversos mecanismos (nomeadamente a pontuagdo e a repeti¢ao lexical), sem recurso obrigatério a conectores interfrasicos Este poderia ser um modelo de resposta: De ee 6 Durante a sua deambulac&o por Lisboa, Artur | Intredugio, _utllizando 0 experimenta diferentes emocées contrastantes, | ‘lscurso da questi, mas sempre pois tanto sente «deleite», atracio e curiosidade com algum valor acrescentado. como vergonha. Inicialmente, invade-o uma emogao de prazere | No desenvolvimento, atensdo de bem-estar, sentindo-se atraido e curioso por | 20 contetdo, citasées, coesdo tudo 0 que 0 rodeia e por aquilo que a sua | !scal_ (recurso sinonimia) imaginaco associa a esse espaco. Estas emocdes wslzagio de articuladores. do encontram-se no recurso a formas verbais do| género «embasbacavan e «pasmando» bem como ao nome «admiragiion, No entanto, neste ambiente urbano, sente-se | _ Num? Tesposta restrta, nto receoso, envergonhado, entontecido, una vez| tins concséo exsiste, pol que ainda nao esta integrado neste espaco. seria algo redundante. Nos itens de resposta restrita, uma das maiores dificuldades dos alunos é estabelecer inferéncias, isto é, analisar a estrutura profunda do texto ou proceder a uma avaliacdo da informacao. Repare-se que o verbo de comando inferir nunca aparece de forma explicita, mas, subtilmente, subentendido, transformando-se numa dificuldade acrescida sempre que se exige mais do que aquilo que esta explicito no texto e é necessario compreender a estrutura profunda do mesmo. Vamos recorrer a mais um exemplo transcrito do exame nacional de 2010 -2.2F. Considere o primeiro paragrafo do texto. Descreva o comportamento de Scarlatti imediatamente antes de ser iniciado no «segredo», fundamentando a resposta em trés citagdes do texto. O italiano abrigara-se 4 sombra fresca de um grande platano. Nao parecia curioso do que o rodeava, olhava tranquilo as janelas fechadas do palacio, a cimalha onde cresciam ervas, a caleira da dgua por cima da qual passavam andorinhas rasando, a caca dos insetos. O padre Bartolomeu Lourenco aproximou-se, trazia na mao um pano que tirara do bolso, $6 de olhos vendados se chega ao segredo, disse, sorrindo, e 0 miisico respondeu, em tom igual (..). Sem precipitacdo, to tranquilamente como antes estivera olhando as andorinhas, 0 italiano tirou a venda. José Saramago, Memorial do Convento ‘ente identifica sentimentos de tranquilidade que aparece explicitos. No entanto, pode sentir dificuldade em desconstruir o litotes (afirmar algo, negando o seu contrdrio) presente em «No parecia curloso» e inferir, pela positiva, 0 sentimento de indiferenga. O maior obstaculo sera a capacidade de proceder a uma inferéncia, ou seja, com base na sintonia do discurso entre as duas personagens, registar a idela de cumplicidade que as une. redo que envolve a maquina voadora, o musico Nesta questo, o aluno facilm Antes de conhecer 0 set expressa diferentes comportamentos. : De facto, antes de ser iniciado no «segredo», Scarlatti comeca por manifestar uma atitude de indiferenca, pois «Nao parecia curioso»; em seguila, revela calma porque «olhava tranquilo»; e, por fim, deixa transparecer cumplicidade 7 — ee quando o narrador regista a sintonia que existe entre as duas Personagens, partilhando o mesmo ponto de vista em «disse, sorrindo, ¢ o musico respondeu, em tom igual». como se pode deduzir a partir da redaco textual, deve existir um cuidado especial na introdugao das citagdes, comprovativas das teses defendidas. 0 aluno pode recorrer a varias técnicas; porém, a partida, deveria evitar o recurso. sistematico aos parénteses. No exemplo de resposta, privilegiou-se a introducio da citagdo dentro do préprio discurso, mas também se poderia optar por redigir uma pardfrase ou elaborar uma sintese. De qualquer modo, evitem-se citagdes demasiado extensas ou o recurso a varias citagées seguidas, sem qualquer comentario pessoal ou sem um articulador a ligar as diferentes citagdes, Apresentam-se, a seguir, varias formas de citacSo: transcri¢éo de um sé elemento, entre aspas; recurso exemplificativo aos parénteses; pardfrase do texto, intercalando-o no préprio discurso da resposta. Alguns exemplos F elucidativos de formas cuidadas de citacao: - entre «nds» e os elementos da Natureza («arvoredos», «vento» e «folhasn) estabelece-se uma relacao de identidade ou semelhanca; =a sensaco auditiva contribui também para confirmar essa ideia de um quotidiano feliz, pois as «As vozes (...) / Cantam sempre (...)». No exame de 2014 — 2.? F, solicita-se a identificacdo de tracos caracterizadores de uma personagem. Caracterize Manuel, tendo em conta quer as falas de Madalena, quer as decisdes por ele tomadas. MADALENA Meu adorado esposo, nao te deites a perder, nao te arrebates. Que fards tu contra esses poderosos? Eles j4 te querem tao mal pelo mais que tu vales que eles, pelo teu saber ~ que esses grandes fingem que desprezam... mas no ¢ assim, 0 que eles tém é invejal ~ O que fard, se Ihes deres pretexto para se vingarem da afronta em que os traza superioridade do teu mérito! ~ Manuel, meu esposo, Manuel de Sousa, pelo nosso amos JORGE : Tua mulher tem razdo. Prudéncia, e lembra-te de tua filha. MANUEL Lembro-me de tudo, deixa estar. - Nao te inquietes, Madalena: eles querem vir para aqui amanha de manha; e nés forcosamente havemos de sair antes de eles entrarem. Por isso é preciso ja. MADALENA ‘Mas para onde iremos nés, de repente, a estas horas? MANUEL Para a Unica parte para onde podemos ir: a casa néo é minha... mas é tua, Madalena. Almeida Garrett, Frei Lufs de Souso, Lisboa, Comunicaglo, 1982, pp. 120-121 A resposta deve contemplar tanto as falas de D, Madalena como as decises de Manuel de Sousa Coutinho. Assim, a partir do discurso das personagens, devem deduzir-se tragos de cardcter. Por outras palavras, procede-se a uma operacao que, tradicionalmente, era designada como caracterizacao indireta. Um exemplo pratico deste género de andlise: - Quando Manuel de Sousa afirma «e nds forcosamente havemos de sair antes de eles entrarem. Por isso é preciso jé.», podem inferir-se tragos de uma pessoa determinada e decidida. Por outro lado, quando propde uma alternativa de mudanca para outro espaco - «Para a Unica parte para onde podemos ir: a casa go é minha... mas é tua, Madalenay -, revela o seu sentido pragmiatico. Através das falas de D. Madalena e das decis6es do seu marido, é possivel inferir varios tracos caracterizadores de Manuel de Sousa Coutinho que fazem dele uma personagem modelada e 0 exemplo do herdi romantico. Assim, Madalena caracteriza o seu esposo como um homem culto e de mérito, invejado por alguns poderosos devido ao seu valor e saber. Além disso, defende «a superioridade» do «mérito» e valor do seu marido em relagdo a mediocridade dos seus adversarios. De igual modo, as decisdes de Manuel apresentam nao sé um homem de aco, firme e decidido, quando afirma de forma perentéria «e nds forcosamente havemos de sair antes de eles entrarem», mas também um homem pragmatico quando defende que a Unica alternativa é a mudanca para 0 palacio de D. Jodo de Portugal, primeiro marido de D. Madalena. Por ultimo, a sua corajosa decisdo revela o seu patriotismo, na forma como enfrenta os governadores espanhéis, bem como o desprendimento dos bens materiais, pois nao hesita em destruir o seu proprio palacio. No exame da 1.2 F de 2018, surgiu uma questao semelhante, mas o paradigma de exigéncia alterou-se significativamente, pois nao era suficiente caracterizar: o examinado tinha de fundamentar as trés caracteristicas do estado de alma do sujeito poético. As orientagdes do IAVE referiam explicitamente que o verbo de comando exigia que se caracterizasse 0 estado de alma do sujeito postico, por isso a mera enumeracdo de estados de alma ndo cumpria o solicitado no item, ainda que essa caracterizacio nao tivesse de a| presentar um elevado grau de desenvolvimento. Recorde-se que o aluno sé tem de recorrer a citagdes textuais quando isso é explicitamente solicitado no enunciado. Caracterize 0 estado de alma do sujeito poético, expresso nos seis primeiros versos. Screvo meu livro a beira-magoa. Meu coragao nao tem que ter. Tenho meus olhos quentes de agua. ‘$6 tu, Senhor, me das viver. 5 S6 te sentir e te pensar Meus dias vacuos enche e doura. Mas quando quereras voltar? Quando é 0 Rei? Quando é a Hora? Fernando Pessoa, Mensagem 0 sujeito postico sente dor, magoa, tristeza ou amargura devido a situa A presente de decadéncia. a0 ‘Alem disso, vive num estado de desilusio, desencanto e frustracio sentida relativamente a patria do presente. Por witimo, vislumbra-se uma convic¢éio na esperanga da vinda do «Senhorn, a qual vird preencher o seu vazio interior. qi 2. Relacione dois excertos textuais As questdes onde surge o verbo operatério relacionar so as que apresentam maior complexidade a0 examinado, pois pressupéem o recurso a mais do que uma operacao cognitiva. Explicitemos com um exemplo do exame de 2013 ~ 1.2 F (DE): Relacione a referéncia @ «chama, que a vida em nés criou» (verso 5) com 0 sentimento sugerido no verso 8. PRECE Senhor, a noite veio ea alma é vil. | Tanta foi a tormenta e a vontade! ; Restam-nos hoje, no siléncio hostil, O mar universal e a saudade. 5 Masachama, que a vida em nés criou, Se ainda ha vida ainda no é finda. 0 frio morto em cinzas a ocultou: ‘A mao do vento pode ergué-la ainda. Dé 0 sopro, a aragem — ou desgraca ou ansia —, 10 Com que a chama do esforgo se remoca, E outra vez conquistemos a Distancia — Do mar ou outra, mas que seja nossa! Fernando Pessoa, Mensagem Neste caso, o aluno precisa de recorrer a trés operacdes mentais: inicialmente, explicar, por palavras préprias, o sentido do verso (a forca que impulsionou os Portugueses para a realizacao de feitos gloriosos); posteriormente, identificar 0 sentimento (esperanca); e, por ultimo, estabelecer a relagao solicitada (alimentar, promover, estimular, impulsionar). A motivagéo («chama») que conduziu, no passado, Portugal 4 grande aventura dos Descobrimentos pode, de novo, ser alimentada pela esperanca de renovar esses feitos gloriosos no presente e mesmo no futuro. Com efeito, a «chama» que impulsionou os portugueses para @ concretizagao de feitos gloriosos e que ndo se encontra morta, mas escondida No «frio morto em cinzas» (v. 7), alimenta o sentimento de esperanga implicit no verso 8 ¢ a possibilidade de Portugal voltar a erguer «a chama, que a vida em nds criou» (v.5). 10 = | Fr | | | 3, Explicite relagdes de sentido uma das questdes mais complicadas para os alunos é aquela em que se solicita gestabelecimento de relac&es de sentido entre partes do texto. as relagdes de sentido basicas sdo, por um lado, as de identidade, semelhanga, comparacao, igualdade ou analogia e, por outro, as de oposicdo, gistanciagdo ou contraste, Todavia, outras devem ser consideradas, como, por exempl - apresentacao inicial de uma tese ou ponto de vista e a respetiva confirmac&io em argumentos e exemplos; - apresentacdo de uma ideia mais genérica, seguida de outra mais especifica ou particular que desenvolve a primeira; e, ainda, causa e efeito; hierarquia e categorizacao; a parte e o todo. De acordo com a especificidade da questo, outras relacdes de sentido podem ser tidas em conta, tais como as de amizade, afetividade, antagonismo ou mesmo qualquer outro género de relacao familiar. Observe-se 0 caso do exame nacional de 2009 — 2.2 F. Explicite a relacdo que se estabelece entre «nds» e os elementos da Natureza referidos na primeira e na segunda estrofes do poema. Antes de nés nos mesmos arvoredos Identidade entre «nds» e a Natureza Passou 0 vento, quando havia vento, E as folhas nao falavam De outro modo do que hoje. 5 Passamos e agitamo-nos debalde. Oposicgo Nao fazemos mais ruido no que existe Identidade Do que as folhas das arvores Qu os passos do vento. No poema, ha claramente relagées de identidade entre o «nds» e os elementos da Natureza, porém, é possivel detetar relagdes de contraste. Assim, a Natureza proporciona ao «nds» uma li¢So de vida relacionada com a efemeridade, a ataraxia, que aquele pode ou nao seguir, dai as relagdes de semelhanca e oposicao. Numa questo deste género, é essencial saber isolar os versos que vao servir de justificago a op¢ao assumida na resposta. Nesta situaco, optou-se por estruturar a resposta com uma introducao, desenvolvimento e uma conclusao. Entre «nds» e os «elementos da Natureza», podem estabelecer-se varias relagdes de sentido, quer de identidade quer de oposi¢ao. Por um lado, entre «nds» e os elementos da Natureza («arvoredos», «vento» © «folhas») estabelece-se uma relagdo de identidade ou semelhanca. Como “nés» passdmos pela vida, da mesma forma «passou o vento», quase sem causar Tudo, pois «Nao fazemos mais ruido no que existe / Do que as folhas das arvores», 1 Por outro, verifica-se uma relacdo de oposicao entre a agitaco do «nds», que é transitério, € tranquilidade visivel na Natureza, presente no vere, «Passamos e agitamo-nos debalde». Em conclusio, 0 esforgo humano ¢ iniitil e deve-se aprender uma licio de tranquilidade e impassibilidade com a Natureza. No exame de 2011 - 1.# F, solicita-se que 0 aluno seja capaz de identificar a arelagao que 0 sujeito postico estabelece com os outros nas seis primeiras estrofes do poema, fundamentando a sua resposta em referéncias textuais pertinentes.» Na casa defronte de mim e dos meus sonhos, Que felicidade hd sempre! Moram ali pessoas que desconheco, que jé vi mas ndo vi. So felizes, porque nao sao eu. 5 Ascriangas, que brincam as sacadas altas, Vivem entre vasos de flores, Sem duvida, eternamente. ‘As vozes, que sobem do interior do doméstico, Cantam sempre, sem divida. 10 Sim, devem cantar. Quando hé festa cé fora, hd festa Id dentro. Assim tem que ser onde tudo se ajusta — O homem & Natureza, porque a cidade é Natureza. Que grande felicidade nio ser eu! Alvaro de Campos Entre 0 sujeito poético e os outros sao estabelecidas diferentes relacdes de sentido. Inicialmente, pode verificar-se uma relagdo de identidade, quando se referem os «sonhos» (v. 1) do sujeito lirico e a «félicidade» (v. 2) que existe «Na casa defronte» de si. No entanto, predominam sobretudo diferencgas ou uma oposigao entre o sujeito poético € os outros, pois estes so felizes enquanto o «eu» nao é. Com efeito, o sujeito lirico considera-se a parte e diferente deles, como se exemplifica no verso 14: «Que grande felicidade nao ser eu!» 4, Identifique sensacées No exame de 2011 ~ 1.2 F, os alunos eram questionados sobre a identificagéo de sensagées. Nas respostas avaliadas, uma significativa parte de examinandos confundiu, erradamente, sensagées com sentimentos, registando-se opcdes baseadas no senso comum, tais como «sensacées de bem-estar, de felicidade ou de satisfacao», afastando-se completamente dos critérios propostos pelo GAVE. 12 ee oe es eee ve a Nao se compreende a opgio destes alunos, tendo em conta que, desde 0 10.2 ano, sao questionados sobre esta matéria; no 11.2 ano, estudaram Cesdrio Verde ea importancia da sua percegio sensorial; no 12.2 ano, a dicotornia sentir / pensar de Fernando Pessoa orténimo ou o sensacionismo de Caeiro bem coro 0 de Campos. Assim, é incompreensivel que a maioria no tivesse a perspicdcia de recorrer a sensac6es visuais, auditivas, (gustativas, olfativas e tacteis). De acordo com o relatorio do IAVE de 2017, a classificagdo média em relagao cotacao foi de apenas 34%, o que no deixa de causar alguma perplexidade, atendendo ao reduzido nivel de dificuldade da questo. As sensacdes do sujeito poético sio determinantes para a construcdo de uma certa ideia de quotidiano feliz. Identifique duas sensagées representadas nas quatro primeiras estrofes, citando elementos do texto para fundamentar a sua resposta. Na casa defronte de mim e dos meus sonhos, Que felicidade hd sempre! Moram ali pessoas que desconheso, que ja vi mas nao vi. Sao felizes, porque nao sio eu. 5. Ascriangas, que brincam as sacadas altas, Vivem entre vasos de flores, Sem duvida, eternamente. ‘As vozes, que sobem do interior do doméstico, Cantam sempre, sem diivida. 10 Sim, deve cantar. Alvaro de Campos ‘As sensagdes visuais e auditivas vivenciadas pelo sujeito poético sio determinantes para a construcao de uma certa ideia de quotidiano feliz. Com efeito, est presente, em primeiro lugar, uma sensago visual, como se pode exemplificar no verso 3, quando refere que «Moram ali pessoas que desconhego, que ja vi mas nao vi.» Para além disso, a sensa¢do auditiva contribui também para confirmar essa ideia de felicidade permanente, pois as «As vozes (...) / Cantam sempre (...)» (vv. 89). 5. Estabeleca inferéncias No mesmo exame, anteriormente citado, aparece umas das questdes mais complicadas para 0 aluno, como seja o estabelecimento de inferéncias a partir de citagdes textuais, pois implicam um processo de avaliacio de informacao; no caso concreto, identificar tragos caracterizadores do tempo a partir de comportamentos e do uso de advérbios. Caracterize o tempo da infancia tal como é apresentado na terceira estrofe do poema. FE As criangas, que brincam As sacadas altas, Vivem entre vasos de flores, Sem dtivida, eternamente, Alvaro de Campos A primeira parte da resposta é talvez a mais dificil, informacao supée um nivel de abstracdo de forma a co profunda do texto. Refira-se, alids, que uma das tentacdes dos alunos é simplesmente limitar-se a citagSes, sem inte captando a informagao implicita. A segunda parte da resposta é a mais acessivel, pois basta estabele, referéncia ao tempo, uma vez que a sua caracterizagio como «et encontra no poema. Neste caso, a facilidade da resposta esté ligada ao f mobilizar a localizacdo e a compreensdo de informagiio que esta ¢ explicita no texto. Pois a mobilizacae de mpreender a estrutura mais comuns por parte Tagir com 0 texto, nig cer uma femnon se acto de se laramente Na terceira estrofe do poema, o sujeito lirico procede a uma cara do tempo da infancia, numa perspetiva positiva. Antes de mais, este tempo é descrito como um ambiente de despreocupacéo e felicidade, sugeridos no ato de brincar, pois referem-se «ts criancas que brincam» (v. 5). Além disso, essa felicidade também se pode confirmar no facto de as criancas viverem «entre vasos de flores» (v. 6). Por ultimo, no tempo da infancia, nao existe consciéncia da passagem do tempo, pois 0 ato de viver é caracterizado pelo advérbio «eternamente» (v. 7), cterizacio Para além das inferéncias relacionadas com o tempo, outras devem ser tidas em conta, tais como: lugar, agente, acdo, instrumento, objeto, causa e efeito, problema e solucao, sentimento e atitude. : No exame de 2016-1. F, o aluno tem de descobrir inferéncias, a partir da questo: «Nas duas quadras, 0 sujeito poético reflete sobre os efeitos da passagem do tempo na sua vida. Refira quatro dos aspetos que integram essa reflexo.» Oh, como se me alonga, de ano em ano, A peregrinacao cansada minha! Como se encurta, e como ao fim caminha Este meu breve e vo discurso humano! 5. Vai-se gastando a idade e cresce o dano; Perde-se-me um remédio, que inda tinha; Se por experiéncia se adivinha, | Qualquer grande esperanca é grande engano. } Corro apés este bem que nao se alcanca; 10 no meio do caminho me falece, | mil vezes caio, e perco a confianca. Quando ele foge, eu tardo; e, na tardanga, | Se os olhos ergo a ver se inda parece, | da vista se me perde e da esperanca. | Luis de Camées, Rimas { | 14 Numa que: desta natureza, em que se apela a sintese e construgdo de inferéncias, 0 aluno deve evitar o recurso a citagdes e a parafrases do poema, construindo uma resposta totalmente baseada em inferéncias. De forma a orientar o procedimento, transcrevem-se versos e@ as respetivas inferéncias para, no fundo, proceder a uma avaliagdo da_informacdo, perfeitamente acessivel, dado que est4 explicita no soneto. [ Versos «Oh! Como se alonga, de ano em ano, /a peregrinacao cansada minha!» - «Como se encurta, e como ao fim caminha Jeste meu breve e vao discurso humano!» - «perde-se-me um remédio, que inda tinha;» = qualquer grande esperanca é grande engano.» Inferéncias / como o sujeito perspetiva a vida | ~ a vida € uma experiéncia longa e cada | vez mais penosa; = consciéncia da aproximacao do termo da sua vida; = falta de uma solugdo para as dificuldades que enfrenta; - perde qualidade de vida; a esperanca transforma-se em simples ilusdo. Como jé foi frisado, numa questao desta tipologia, evitem-se, na medida do possivel, transcrig&es, citacdes e pardfrases. Nas duas estrofes iniciais, 0 sujeito poético apresenta uma reflexio sobre a influéncia, claramente negativa, que a passagem do tempo provocou na sua vida. Comeca por perspetivar a vida como uma experiéncia longa e cada vez mais dificil; em seguida, consciencializa que a vida se aproxima do seu fim; manifesta, ainda, a perda de qualidade de vida; e, finalmente, confidencia que a sua esperanca se transformou em mera ilusao. No mesmo exame, surge uma questo em que o aluno tem de proceder a duas operacdes mentais — varias inferéncias e uma relacao de sentido. Relacione o sentido do verso «qualquer grande esperanca é grande engano» (v.8) com 0 contetido dos dois tercetos. ‘A resposta deve iniciar-se com uma inferéncia, explicando, por palavras proprias, o significado do verso 8 (cf. resposta anterior); em seguida, mencionar, de forma explicita ou implicita, a relagao de sentido (identidade, explicitagao, concretizagéo ou exemplificagéo), ao mesmo tempo que se estabelecem inferéncias para identificar o contetido dos tercetos. © verso «qualquer esperanca é grande engano» (v. 8) sugere que, para o sujeito poético, toda a esperanga acaba por se revelar iluséria, enganadora ou nao realizdvel. Esta mesma ideia coneretiza-se nos dois tercetos. Com efeito, 0 bem desejado é representado como um objetivo que se persegue; esse mesmo bem é identificado, metaforicamente, como um caminho em que o sujeito cai e se levanta; e, por ultimo, o proprio bem desejado é perdido de vista. Deste modo, no verso 8, apresenta-se uma tese sobre o valor ilusério da esperanca que se exemplifica na forma como 0 eu lirico procura, em vio, o «bem», 15 6. Expressividade dos recursos estilisticos Em relagio 2 mobilizagio de conhecimentos sobre recursos expressive, verificam-se trés tipologias de questées. Assim, a partir do exame de 2012, solicita-se a identificago do recurey expressivo nas questées de escolha miltipla / itens de selecdo ou, ainda, um comentério da respetiva expressividade. As figuras de estilo referenciadas sto 4 interrogagdo retrica, ironia, sinestesia, perifrase, andfora ¢ hipérbole, s alternativas (nao validadas), como a comparacio, acompanhadas de outra: hipdlage, metonimia, antitese, oximoro, paradoxo e eufemismo. Verifica-se que nos exames, a partir da 2.2 F de 2009, nos itens de construgao de resposta restrita, apenas se questionava a expressividade do recurso estilstico, Com efeito, os autores da prova identificavam 0 recurso e solicitavam a0 aluno que procedesse ao respetivo comentirio sobre o seu efeito expressivo, As figuras estiisticas questionadas tém sido as seguintes: interrogagio e exclamagio retéricas, enumera¢do, anafora, apéstrofe, antitese e metafora. No exame da 2.2 F de 2018, foi introduzida uma nova modalidade de questéo: transcrever apenas os recursos expressivos, neste caso, a metéfora e a anafora, depois de se explicitar a respetiva expressividade. Esta é uma das questdes em que os alunos sentem muita: limitam-se a definir, tantas vezes erradamente, 0 recurso estilistico, outros nem o § textuais e sé um grupo restrito consegue atingir 0 's dificuldades. Alguns identificam com elemento: nivel maximo de desempenho, comentando, adequadamente, a respetiva expressividade. No exame de 2016 ~ EE, pede-se que se «Explique 0 sentido da metéfora ‘Sao © pao quotidiano dos grandes’, tendo em conta o contetido do excerto», retirado do capitulo IV do SermGo de Santo Anténio, de Padre Antdnio Vieira, de que se transcreve um excerto: «A diferenca que hd entre 0 po e os outros comeres, é que para a carne, ha dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano; porém o pao é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come; € isto é 0 que padecem os pequenos. Sao 0 pao quotidiano dos grandes; e assim como © pio se come com tudo, assim com tudo e em tudo séo comidos os miserdvels pequenos, no tendo, nem fazendo oficio em que os no carreguem, em que os ndo multem, em que os nao defraudem, em que os ndo comam, traguem e devorem.» ‘A metéfora implica a identificagao de um primeiro termo com um segundo. A esséncia da metéfora esta em verificar tudo 0 que existe de comum entre um primeiro termo e um segundo. Assim, ao afirmar que os pequenos «so 0 pao quotidiano dos grandes», refere-se que 0 povo serve de «alimenton, ou seja, € explorado pelos poderosos e esta exploracao é continua, permanente, incessante. Deste modo, constata-se na metéfora uma tripla expressividade. Por um lado, 2 fragilidade dos mais humildes; por outro, a ganancia e ambi¢do insacidvel dos poderosos; e, por fim, enquanto «alimento», destaca-se a forma permanente como 0 povo sofre a exploraco por parte dos elementos com estatuto mais elevado na hierarquia social, Assim, no exemplo em andlise, coloca-se o valor expressivo em trés elementos: no povo ~ a sua fragilidade; no «pao quotidiano» - o alimento / a exploragao continua; nos «grandes» - os representantes da ambicdo desmedida e permanente, A metafora refere que «os pequenos» «So 0 pao quotidiano dos grandes», identificando, deste modo, as pessoas do povo, socialmente mais frageis, com o pao de cada dia. Assim, tal como o pio serve de alimento todos os dias, também 0 povo é alimento constante para os mais poderosos. Por meio da metdfora, 0 orador sublinha, por um lado, a exploraco incessante dos poderosos e, por outro, a fragilidade dos pequenos, vitimas de um abuso continuo por parte daqueles que ocupam o estatuto mais elevado na sociedade. De facto, a metdfora apresenta-se como um dos recursos estilisticos mais importantes e um dos mais complexos quando se solicita o seu valor expressivo. E fundamental que o aluno seja capaz de identificar 0 1.2 termo com o 2.2 € expresse, ainda, a capacidade de inferir o que existe de comum entre os dois. Nunca se deve referir que entre os dois termos ha uma comparagao, pois a metéfora 6 uma identificagdo de referentes e nunca qualquer tipo de «compara¢ao abreviada». Vamos exemplificar com uma metdfora retirada de Memorial do Convento, de José Saramago, precedida de uma comparacao: «A passarola, que parecia um castelo a levantar-se, ¢ agora uma torre em ruinas, uma babel cortada a meio voo». Na primeira parte da frase, estabelece-se uma comparagdo, através de uma relago de semelhanga, entre a maquina voadora, depreciativamente designada pelo povo como «passarola», com um castelo em construgdo, salientando-se, pelo menos, trés caracteristicas: a altura gigantesca, o facto de ser uma maquina inacabada e a sua aura misteriosa (o segredo que s6 trés personagens conhecem). No presente da narrativa, identifica-se também a passarola como uma «torre em ruinas», mais uma vez destacando-se a sua dimensdo extraordinaria, sublinhando-se a interrupsao da sua construgao. Por fim, a imagem da maquina encerra-se com uma segunda metéfora, identificando o engenho voador com a biblica torre de Babel (aquela construcao mitica com que os homens pretendiam atingir o céu e a divindade); nesta ultima metafora, mais uma vez se reitera a dimensdo vertical da maquina que se destinava a voar, todavia, devido a interrupsio do projeto, ela no consegue corresponder a misséo para que foi construida, 0 voo. Relativamente a outras figuras de estilo, como a andstrofe, nao é suficiente que 0 aluno se refira a alteragdo da ordem das palavras na frase, sendo fundamental explicitar que ideias ou palavras so colocadas em destaque, geralmente no Inicio ou no final da frase. Muitos alunos limitam-se a uma resposta superficial, assinalando que a andstrofe serve para «dar énfase», De facto, quando 0 recurso expressivo serve para colocar em destaque algo, é a7 i i Ree = fundamental que se explicite aquilo que se enfatiza, recorrendo a0 que se refere ici fe no texto, Seo no mesmo exame jé citado da 2.2 F de 2038, surge uma nova forma de abordagem a esta questo, com o objetivo de orientar os alunos « ajudar a ultrapassar esta deficiéncia na resposta. A chave encontra-se no préprio enunciado, pois solicita-se a expressividade de uma interrogaco retérica ¢ ay mesmo tempo a identificagio de comportamentos; a relagdo do recurso. expressivo com as atitudes dos «peixes» € claramente de destaque e de critica aos citados comportamentos. Esta forma de questionamento facilita a resposta dos alunos, Relacione 0 comportamento dos peixes, descrito entre as linhas 3 6, com as interrogacées retéricas presentes nas linhas 6 e 7. Outra cousa muito geral, que nao tanto me desedifica, quanto me lastima em muitos de wos, € aquela to notével gnordnciae cegueira que em todas as viagens experimentam os que navegam para estas partes. Toma um homem do mar um anzol, ata-Ihe um pedaco de pane Conado ¢ aberto em duas ou trés pontas, langa-o por um cabo delgado até tocar na dgua,¢ 5 em ovendo o peixe, arremete cego a ele e fica preso e boqueando, até que, ass suspenso no af, ou langado no convés, acaba de morrer. Pode haver maior ignordncia e mals remutade ‘Sequeira que esta? Enganados por um retalho de pano, perder a vida? Padre Anténio Vieira, Sermao de Santo Anténio Perante 0 anzol, constituldo por «um pedago de pano» (linhas 3-4), os Peixes delxam-se facilmente seduzir e enganar, ceguelra @ o engano que os conduz a morte. 7. Dividao texto €m partes e sintetize o respetivo contetido apenas uma vez, no exame de 2008, 2.2 F. No entanto, complexidade para os examinandos, uma vez que, n0 se encontrava a primeira parte e se iniciava a segunda. Dada a ‘anscreve-se apenas a parte inicial do excerto. De Montemor a Ev Partiram-se eixos, rachavam. rapidamente, 0 ar arrefecia, auxiliada pelo torpor emolient, auinhentos passos de estrada dedo gelado the tivesse tocad erepusculares, viu parado y caminho e atados uns aos oy Afirmou-se melhor espetéculo de gritheta: Primeiro pardgrafo, extensao textual, tr; ofa ndo vao faltar trabalhos. Voltou a Chover, tornaram os atoleiros, se como gravetos os raios das todas. A tarde cala & 2 princesa D, Maria Bérbara, que enfim adormecet®, © dos caramelos com que aconchegara o estémago € POT {om Buracos, acordou com um grande arrepio, comno se U™ 9 na testa, e, virando os olhos ensonados para os campos mM pardo ajuntamento de homens, alinhados na beirs 4° Suif9S Por cordas, seriam talvez uns quinze, 2 Blineesa, no era sonho nem delrio, e turbou-se de tao latinos? * £m véspera das suas bodas (..), nto José Saramago, Memorial do Conve! Divida © texto : 0 &m partes ldgicas e @presente, para cada uma delas, um? rase que sintetize o Fespetivo conteudo. 18 A tendéncia natural dos alunos fol a de identificar a primeira parte com 0 paragrafo inicial, no entanto, constata-se que esta coincide apenas com os dois primeiros periodos. Dois indicios permitem essa divisio: - na primeira parte, referéncia as condicdes climatéricas e aos contratempos da viagem; = _ na segunda, a presenca de uma personagem, a princesa D. Maria Barbara. Muitas vezes, a mudanga do tempo verbal, da pessoa gramatical ou de um conector frdsico ¢ indicio suficiente de uma nova parte textual. Oexcerto textual é suscetivel de ser dividido em trés partes Idgicas. Assim, a primeira parte coincide com o primeiro e segundo periodos do primeiro pardgrafo, em que se identificam os contratempos, de ordem climatérica, surgidos durante a viagem. A segunda parte inicia-se no terceiro periodo, quando se refere a curiosidade e perturbacio da princesa perante a visdo de homens acorrentados (...). 8. Explicite valores simbélicos Explicite os valores simbélicos do espago e do tempo em que ocorrem as recordages do passado. A explicitagao de simbologias relaciona-se, claramente, com o estabelecimento de inferéncias e de avaliacao de informagao. No caso em andlise, os simbolos da «noite» e da «lareira». Esta Ultima deve ser relacionada metonimicamente com a «casa». O maior erro dos alunos é relacionar simplesmente a «noite» com o «final do dia» e nao atender ao contexto que conduziria, por inferéncia, a identificagéo com a fase final da vida humana, concretamente, «a velhice». Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. Pouco a pouco o passado recordemos Nao florescem no Inverno os arvoredos, E as histérias contadas no passado Nem pela primavera Agora duas vezes ‘Tem branco frio os campos. 20 Historias, que nos falem 5 Anoite, que entra, nao pertence, Lidia, Das flores que na nossa infancia ida ‘O mesmo ardor que o dia nos pedia. Com outra consciéncianés colhiamos Com mais sossego amemos E sob uma outra espécie A nossa incerta vida. De olhar langado a0 mundo. Alareira, cansados nao da obra 25 E assim, Lidia, a lareira, como estando, 10 Mas porque a hora & a hora dos cansacos, Deuses lares, ali na eternidade Nao puxemos a voz Como quem compe roupas Acima de um segredo, 0 outrora componhamos E casuals, interrompidas sejam Nesse desassossego que o descanso Nossas palavras de reminiscéncia 30 Nos traz as vidas quando sé pensamos 15 (N3o para mais nos serve Naquilo que ja fomos, ‘Anegra ida do sol). Eh s6 noite ld fora, Ricardo Rels, Poesia 19 | i, | No poema, estéo presentes conceitos que se relacionam com o espaco e o tempo, ou seja, hé uma referéncia a «noite» (v. 5) e a casa, metonimicamente expressa pela «lareira» (vv. 9 ¢ 25). Assim, as recordagBes do passado ocorrem numa «noite» de inverno, que, metaforicamente, corresponde a velhice, identificada como a «hora dos cansacos» (v. 10), propicia a recordag3o e ao didlogo calmo e intimo. Além disso, a presenca das «flores» reenvia para o tempo passado da infancia e 0 gesto de as «colher» (v. 22) lembra a efemeridade da vida. Ha, ainda, uma alusdo espacial a casa, em particular, a «lareiran (vv. 9 e 25), simbolo de um espaco associado ao conforto, & protecao e a intimidade, 9. Novas questdes — aplicacdo de conhecimentos prévios A partir de 2011, so introduzidas questées que nao se reduzem a uma simples anélise textual, mas pressupdem uma aquisicao prévia de conhecimentos de ordem literaria. Alguns exemplos desta tipologia de questées: 1. Explicite tr€s dos aspetos que, nos versos 1a 12 do poema «A iltima nau», se referem ao mito sebastianista, fundamentando a sua resposta com elementos do texto. (2011 - 2.8 F) 2. Identifique, no poema, uma caracteristica do discurso épico e uma caracteristica do discurso lirico de Mensagem, citando um exemplo significativo para cada um dos casos. (2011 - 2.2 F) 3. Explique de que modo a ultima estrofe transcrita ilustra a mitificacio do herdi em Os Lusiadas. (2012 ~ 1.2 F) Assim, no exame de 2011 — 2.2 F, 0 aluno teria de conhecer as caracteristicas do sebastianismo [por exemplo, entre outras: 0 desaparecimento misterioso da figura real; a incerteza quanto ao destino do rei; a associag3o da morte do monarca a decadéncia do Império; a esperanca no regresso de D. Sebastiao; a crenga no regresso simbélico do «Desejado»; a valorizagio da dimensao simbélica e mitica de D. Sebastiio; a dimensdo de uma natureza profética, associada ao regresso do rei (...)] para poder responder a uma questdo deste género que envolve aplicagao de conhecimentos com base num texto literario. Explicite trés dos aspetos que, nos versos 1 a 12, se referem ao mito sebastianista, fundamentando a sua resposta com elementos do texto. Adltima nau Levando a bordo El-Rei D. Sebastido, E erguendo, como um nome, alto 0 penddio Do Império, Foi-se a ditima nau, ao sol aziago 5 Erma, e entre choros de ansia e de pressago Mistério. 20 Nao voltou mais. A que Ilha indescoberta Aportou? Voltard da sorte incerta Que teve? 10 Deus guarda corpo e a forma do futuro, Mas Sua luz projeta-o, sonho escuro Ebreve. Fernando Pessoa, Mensagem No poema, encontram-se varias caracteristicas do sebastianismo. Em primeiro lugar, o desaparecimento misterioso do rei surge associado 20 préprio titulo do poema - «A ultima nau» - e reforcado por expressdes como «No voltou mais.» (v. 7). Por outro lado, a associagao do desaparecimento do monarca a decadéncia e fim do império portugués esté presente nos versos 2a 4 - «E erguendo, como um nome, alto o pendao / Do Império, / Foi-se a ultima nau». Além disso, é evidente a incerteza quanto ao destino do rei, pois coloca-se a divida em «A que iha indescoberta / Aportou?» (vv. 7 e 8). E, por tltimo, a esperanca do regresso de D. Sebastiao é visivel na forma de interrogaco dubitativa - «Voltaré da sorte incerta / Que teve?» (w. 8 e 9) - confirmada numa resposta que deixa transparecer uma concegao messianica da Histéria, pois «Deus guarda 0 corpo e a forma do futuro, / Mas Sua luz projeta- 0, sonho escuro / E breve.» (vv. 10 a 12). 10. Processos que marcam o ritmo / musicalidade do poema Esta questo poderd ser muito pertinente nos préximos exames, dado que o PMCPES prevé o dominio de questdes relacionadas com a versificacao, presentes, em parte, na resposta a esta pergunta. Analisemos a questo colocada no exame de 2013 — EE. Indique quatro dos processos que contribuem para marcar o ritmo do poema, fundamentando a resposta com elementos do texto. TRAPO dia deu em chuvoso. ‘Amanha, contudo, esteve bastante azul. (0 dia deu em chuvoso. Desde manhd eu estava um pouco triste. 5 _Antecipacdo? tristeza? colsa nenhuma? IN&o sei: jd a0 acordar estava triste. O dia deu em chuvoso. Bem sei: a penumbra da chuva é elegante. ‘Bem sei: 0 sol oprime, por ser to ordinario, um elegante. 10 Bem sei: ser suscetivel as mudancas de luz ndo é elegante. Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante? Deem-me o céu azul e o sol visivel. Névoa, chuvas, escuros ~ isso tenho eu em mim. Hoje quero s6 sossego. 15 Até amaria o lar, desde que 0 nao tivesse. Chego a ter sono de vontade de ter sossego. No exageremos! Tenho efetivamente sono, sem explicacao. O dia deu em chuvoso. a I EEESOSE''S EEE, 20. Carinhos? afetos? So memérias... E preciso ser-se crianga para os ter... Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro! O dia deu em chuvoso, Boca bonita da filha do caseiro, 25 Polpa de fruta de um coracdo por comer... Quando foi isso? Nao sei.. No azul da manbia.. dia deu em chuvoso. Alvaro de Campos No poema, séo varios os processos estilisticos, sintdticos e relacionados com a métrica que contribuem para marcar o ritmo e a musicalidade do poema. Antes de mais, chama a tengo a repeticio do verso «O dia deu em chuvoso» (vw. 1, 3, 7, 19, 23 e 28), que funciona como um refrao. Na mesma linha repetitiva, recorre-se @ andfora no infcio dos wv. 8-10 - «Bem sein - reforcando o ritmo monétono da observacao da realidade. Do mesmo modo, 0 recurso as enumeracées reforca o conjunto de emocées de «tristeza», «Carinhos» e «afetos», em forma interrogativa, que a observacdo de «Névoa, chuvas, escuros» desencadeia no sujeito lirico. Além disso, verifica-se a presenca de repeticdes lexicais em final de verso, como é 0 caso dos adjetivos «triste» (vv. 4. 6) e «elegante» (vv. 8-11) ou do nome «sossego» (wv. 14 e 16). E, por fim, quer a irregularidade métrica quer a alterndncia entre versos longos e versos curtos, bem como as pausas no interior dos versos, marcadas pela pontuacdo, de que é exemplo «Antecipacao? tristeza? coisa nenhuma?», marcam uma cadéncia lenta no poema que acentua a monotonia da vivéncia interior. Bibliografia IAVE. Exames e Provas, Arquivo, URL: http://bi.iave.pt/exames/ (ultimo acesso em 13/10/2018). IAVE. —Instrumentos de AvaliagoExterna-- —‘Tipologia de itens. URL: http,//iave.pt/np4/file/42/Tipologia itens Dez 14,pdf (ultimo acesso em 13/10/2018). SOUSA, Helder Diniz (dir.). 2017. Exames Finais Nacionais ~ Ensino Secundério, Relatério Nacional: 2010-2016, URL: http:/fiave.pt/np4/file/337/Relat_ES_2010_2016_LV.PDF (ultimo acesso em 13/10/ 2018). 2 | cee acorrecio linguistica nos Itens de construgio de resposta restrita e de resposta extensa Nos exames de 2018, assistiu-se a uma ligeira desvalorizagiio da estruturago do discurso, enquanto se continuou a valorizar a corregdo linguistica nas questées de resposta restrita bem como da resposta extensa. Apresentam-se algumas orientagdes que podem ser titeis aos alunos. e Na ortografia, evitar - faltas de acentuagio muito comuns, sobretudo nas palavras graves, como, por exemplo, todas as terminadas em -I (fécil, dificil, possivel, nivel...) e nas esdruxulas, quer com acento agudo quer circunflexo (drvore, método, Iégico, lingua, ultimo, cémara, referéncia, céncavo); - distinguir as formas verbais: ele contém / eles contém; ele mantém / eles mantém / ha de / puderam / péde (pretérito perfeito do indicativo) / pode (presente do indicative) / pée / pdem/ deem /... erros ortograficos muito frequentes: - confuséo entre tem / tém; vem /vém / veem; substdncia / substancial; circunsténcia / circunstancial; ha / @; esséncia / essencial... - em palavras ou expressdes, como: privilégio, definir, definicdo, perspetiva, constroem, saem, deviamos, acerca de, hd dois dias, tem a ver com. utilizagdo incorreta das regras de translineacéio: abs-tra-to; op-tar; pro-fes- SOF. desconhecimento da forma de citar o titulo de uma obra (recorrendo as aspas ou ao sublinhado): ... em «Farsa de Inés Pereira» ou em Farsa de Inés Pereira; n’«Os Lusiadas» ou n’ Os Lusiadas... - citagao incorreta, ndo usando reticéncias dentro de parénteses quando se omite parte de uma citacao - ( Na pontuago, conceder uma especial atencao ao uso da virgula (cf. p. 27). Ao redigir uma resposta, para identificar o sujeito da enunciacao, deve ter-se em conta 0 género literario: . texto narrativo: 0 narrador; . texto dramatico: 0 dramaturgo; . texto poético: sujeito poético, sujeito lirico, eu poético, eu lirico, eu, poeta e Poeta. © Evitar uma «pessoalizacdo» da resposta, afastando o uso do «nds». Por exemplo, no exame de 2015 ~ 1.2 F, questiona-se a importancia da miisica na construgio da identidade do «eu». Ora, nao é aceitavel que se responda com algo do género: «A musica é fundamental na construgdo da nossa identidaden, mas antes «A musica é fundamental na construgio da identidade do eu. © Manter coeréncia no uso da mesma pessoa gramatical, * Na redacdo de uma resposta de interpretacdo textual, nunca usar expressdes do género: «o texto fala de...» 23 _——— eee, | * No grupo Ill, interiorlzar bem 0 tema solicitado, evitando afastamentos parciais ou integrals do mesmo. © E, por tiltimo, um cuidado especial na estruturagao do discurso, recorrendo, por exemplo, a conectores sequenciais: «em primeiro lugar», «em seguidan, «além disso», «por fim», entre outros. Para concluir e introduzir o capitulo seguinte, deixamos as sdbias palavras de Maria Helena Mora Neves (in A gramdtica - histéria, teoria e andlise, ensino): saber expressar-se numa lingua nao é simplesmente dominar 0 modo de estrutura¢to das suas frases, mas é combinar essas unidades sintdticas em pecas comunicativas eficientes, o que envolve a capacidade de adequar os enunciados as situagées, aos objetivos da comunicagao e as condicées de interlocugéo. E tudo isso se integra na gramatica. As quest6es de selecao ou de escolha multipla No grupo Il, a partir de um suporte textual, so apresentadas duas tipologias de questées: itens de selecao e itens de construcdo de resposta curta As sete primeiras questées referem-se a itens de selecdo ou de escolha multipla que visam avaliar capacidades de andlise e de interpretagao textual bem como aferir 0 dominio de conhecimentos gramaticais. Este mesmo objetivo, de avaliacao da terminologia linguistica, encontra-se nos trés itens de construcdo de resposta curta, presentes no final deste grupo. Nos itens de selecdo que se referem a interpretaco textual, é possivel fornecer aos examinandos algumas metodologias a utilizar no momento de proceder a seleco da alinea correta da escolha muitipla, pois, relativamente a gramatica, esta depende exclusivamente do dominio de competéncias por parte dos alunos. Em relacdo as primeiras quatro ou cinco questées, estas tém como objetivo a compreenséo de um texto. Vejamos um exemplo pratico da metodologia a utilizar, a partir do exame de 2017 - 1.2 F. Uma das respostas funciona como simples distrator e facilmente é invalidada. No caso concreto da primeira questo em anilise, as alineas A e D séo muito préximas do ponto de vista semantico, indicio de que sao falsas. © conceito de cultura clentifica € 0 mals vasto e o mals complexo. A cultura clentifica nfo | 1AX consiste apenas na capacidade de ler o mundo a nossa volta e de sabermos orientar-nos nele, | 10X ‘nem _consiste apenas na aquisicio de conhecimentos cientificos, como pretende o Public | 1BX Understanding of Science. A cultura clentifica € um capital que nos permite nao apenas ler, mas usufruir do mundo, no apenas conhecer, mas manipular as idelas produzidas pela ciéncia, perceber as | 18X Potencialidades ¢ os riscos e as limitagées da ciéncia, relacionar os conhecimentos da ciéncia com outros saberes e culturas e integra-los numa visdo coerente e enriquecedora do mundo, € encarar a cléncia sem a minima atitude de servidao ou sequer de reveréncia, mas apenas com curlosidade, emo¢8o e sentido de responsabilidade. A promosdo da cultura cientifica visa dar & cléncia o mesmo estatuto que possuem saberes como a literatura ou a misica: garantir_a todos a capacidade para o seu usufruto, as | 2D condigbes para a sua apropriagdo e as ferramentas para o seu controlo. 24 Ps 4, be acordo com os dols primeiros pardgrafos, o que permite distinguir a cultura ntifica das concegSes mals comuns de ciéncia é 0 facto de a cultura cientifica (A) permitir que 0 homem conheca o mundo. (8) se centrar na aquisicao do saber cientifico. (c) ultrapassar a dimensio puramente objetiva. (D) ajudar o ser humano a orientar-se no mundo. 0 aluno deve focar a sua atengdo nos dois pardgrafos iniciais. Apés a sua leitura, poderd tentar uma primeira resposta sem atender as alineas; em seguida, pode usar a técnica de exclusdo e invalidar todas as alineas erradas e confirmar a nica que esta correta, procedendo a uma andlise contrastiva e a uma sintese como se exemplifica na tabela acima. A resposta a esta questo torna-se complexa, uma vez que a mesma é apresentada ao longo de varios periodos e pardgrafos. Vamos usar uma metodologia inversa — técnica de inclusdo — relativamente a segunda questo, assinalando, claramente, a unica frase que valida uma das alineas. 2. De acordo com a perspetiva expressa pelos autores no terceiro pardgrafo do texto, a aproximacio a literatura e a musica _realca a ideia de que a ciéncia deve (A) propiciar uma viso subjetiva do mundo. (B) evoluir linearmente, sem desvios. (©) possuir um caracter disciplinar. (D) estar ao alcance do cidaddo comum. Na questo em concreto, as alineas invalidadas sio meros distratores. A resposta correta D esta claramente evidenciada no texto, ainda que expressa através de uma ideia semelhante ou, noutra perspetiva, hd um hiperénimo na alinea D e trés comportamentos que se apresentam como hiponimos («garantir capacidades de usufruto», «condigées de apropriagdo» e «ferramentas de Controlo»), ou mesmo a presenca de uma sintese na alinea correta relativamente a0 texto-fonte, Esta resposta é das mais acessiveis, visto que a informaco esta Perfeitamente localizada e explicitada num curto pardgrafo. Muitas das questées relacionam-se com subtis problemas de semantica, isto é, No significado de um vocabulo, encontra-se a chave da resposta. E 0 caso exame de 2009 - 1.2 F. Foi nesta data que Torga se meteu a viajar pelo Velho Mundo. O resultado dessa I viagem foi o seu primeiro livro em prosa, 0 Quarto Dia da Criagéo do Mundo. Um alarme 205 homens do seu tempo e um violento desafio a todos os que reputava seus tiranos, Imediatamente preso pela PIDE, foi encarcerado no Aljube. Ant6nio Freire, Lendo Miguel Torgo, Porto, Edigdes Salesianas, 1990 1.4 obra de Torga, «O Quarto Dia da Criago do Mundo», constitui um (A) elogio aos seus compatriotas. (B) desabafo dirigido ao povo. (C) alerta aos seus contemporaneos. | {D) apelo dirigido aos governantes. Le 7

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